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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18638: (D)outro lado do combate (29): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte II (Jorge Araújo)



Citação: (1965-1973), "Juramento de bandeira dos militares do Corpo do Exército 199 A-70 do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_44137 (2018-4-20) (com a devida vénia).



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM >  DESERÇÕES E BAIXAS NO "CORPO DE EXÉRCITO" 199-B-70  > A MORTE DO CMDT DO BIGRUPO ANSÚ BODJAN (1944-1971) (Parte II)


1.  INTRODUÇÃO

Neste segundo fragmento, de um conjunto de três (*), continuamos a percorrer alguns dos trilhos que ficaram na história do conflito armado no CTIG [1963/1974], tendo por protagonistas elementos dos dois lados do combate, dos individuais aos colectivos.

Como já referido anteriormente, as narrativas que tenho vindo a partilhar no blogue são corolário de um interesse pessoal na pesquisa histórica sobre um período da minha vida (das nossas vidas) e que, naturalmente, nos marcou a todos… mais ou menos, e do qual temos, ainda, muitas "memórias".

No caso presente, a temática mantém-se a mesma da primeira parte – P18551 – onde foram adicionadas outras informações avulso obtidas de cada um dos lados do combate, que insistimos em coleccionar, no sentido de ampliar e/ou reconstituir essa história com mais dados.

O "balanço dos combates entre as NT e o PAIGC" continua, pois, a ser o tema central deste fragmento, com destaque para as ocorrências negativas contabilizadas pelo Corpo de Exército 199-B-70 – deserções e baixas – registadas no relatório elaborado pelo seu principal responsável, o Cmdt Braima Bangura, respeitante ao período de um ano (dez'70-dez'71), o primeiro desde a sua criação.

De referir que é neste ano de 1970 que o PAIGC evolui para um novo modelo de organização militar, adaptando as suas estruturas a uma nova visão da sua luta armada. Partindo do conceito "bigrupo" e da união com mais unidades deste tipo, de infantaria e artilharia, são criados os "Corpos de Exército" identificados com o "n.º 199", ao qual lhe foi adicionada uma letra do alfabeto latino (A, B, C, D) e o ano da sua criação, conforme se indica no ponto seguinte, e se observa na foto abaixo tirada aquando do juramento de bandeira do Corpo de Exército 199-A-70.


2. CONTEXTOS E UNIDADES ENVOLVIDAS

Recorda-se que os episódios referidos na narrativa anterior foram utilizados para contextualizar a questão de partida da investigação, tendo por base as actividades operacionais desenvolvidas pela Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533] e pela Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14], em particular nas situações de combate com os elementos do PAIGC que actuavam no Sector de Farim, nomeadamente o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, um dos quatro bigrupos de infantaria do Corpo de Exército 199-B-70, este liderado pelos Cmdt's Braima Bangura, Joaquim N'Top e Benjamim Mendes.


No mapa acima [Frente Norte], a seta a vermelho indica o território onde ocorreram os dois combates entre as NT e o PAIGC, localizados no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo a CCAÇ 14 (30Dez1970).

Os três restantes bigrupos eram dirigidos pelo Cmdt Cambanó Mané, nascido em 1940 em Ioncoiá; pelo Cmdt N'Benfaé N'Tudo, nascido em 1939 em Patché, e pelo Cmdt Sambú Mandján, nascido em 1940 em Sulcó. Para além da infantaria, este Corpo de Exército dispunha, ainda, de uma bataria de artilharia, com morteiros e canhões sem recuo, o primeiro do Cmdt Quintino N'Dafá, nascido em 1935 em João Landim, e o segundo do Cmdt Armando Bodjan, nascido em 1943 em Mansoa.

Para além de outras ocorrências registadas neste sector, os diversos "Corpos de Exército", criados em 1970 por Amílcar Cabral (1924-1973), estiveram envolvidos, dois anos depois, na estratégia de isolamento de Guidaje iniciada em Abril de 1973, culminado com a "Batalha de Kumbamory", que ficará gravada para sempre na História da Guiné como «Operação Ametista Real», realizada em 19 de Maio de 1973, onde as NT contabilizaram uma das maiores capturas e destruições de material da Guerra de África.


"Croqui do plano de operações da Op Ametista Real, planeada e executada sob o comando do Ten Cor Almeida Bruno, para pôr fim ao cerco de Guidaje. Foi uma das mais curtas, sangrentas e brutais batalhas travadas durante a guerra da Guiné. Acabou por aliviar a pressão sobre Guidaje. Tratou-se de uma operação em solo senegalês, tendo como objectivo a destruição da base de Kumbamory, o que foi conseguido na manhã de 20 de Maio de 1973 [faz 45 anos]. O número de baixas foi elevado para ambos os lados: 67 mortos, do lado do PAIGC (que sofreu, além disso, a destruição de 22 depósitos de material de guerra), 25 mortos, do lado das NT (incluindo 2 alferes), e 25 feridos graves (incluindo 3 oficiais e 7 sargentos)". 

In P2786 (com a devida vénia). [Mais detalhes sobre a Op Ametista Real em: P1316, P9898 e P9939].

No contexto desta narrativa, dá-se conta da constituição das forças do PIAGC envolvidas nessa operação:

Corpo de Exército 199-B-70, com quatro bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; Corpo de Exército 199-C-70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia, grupo de foguetes da Frente Norte [GRAD], com quatro rampas; Corpo de Exército 199-A-70, com três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bataria de artilharia, deslocados de Sare Lali, na zona Leste; um pelotão de morteiros 120 mm e um grupo especial de sapadores.

Indicam-se, de seguida, os principais operacionais responsáveis pela estrutura político-militar acima referida:


Citação: (1970), "Acção Política FARP - Honório Fonseca", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40452 (2018-4-20), (com a devida vénia).

A propósito da formação dos "Corpos de Exército", enquanto novo modelo de organização da guerrilha do PAIGC, em 13 de Janeiro de 1971 Amílcar Cabral (1924-1973) envia uma carta a Osvaldo Vieira (1938-1974), na qualidade de Cmdt da Frente Norte, dando conta da sua satisfação por essa decisão, nos seguintes termos:

Caro camarada [Osvaldo Vieira],

Acuso a recepção da tua carta-relatório e dos mapas relativos aos CE [Corpos de Exército] e à distribuição de tecidos aos combatentes.

1. - Corpos de Exército - foi uma boa coisa termos formado os CE como previsto. O atraso é normal dadas as dificuldades que nós todos conhecemos, mas eu penso que a reorganização foi feita a tempo. Tanto mais que o camarada "Nino" esteve doente e tiveste tu que te dedicares a mais esse trabalho.

O que é preciso agora é fazer tudo para tirar o máximo rendimento dos CE, da sua grande força. Dar mais duro nos grandes centros e quartéis dos tugas e liquidar os campos mais fracos e isolados. O ataque a Empada foi bom, e eu penso que pudemos fazer mais: pôr os tugas fora e destruir todas as instalações. Claro que devemos evitar, como sempre, grandes perdas.

Escrevi ao "Nino" uma longa carta sobre a nossa acção e no próximo correio te enviarei uma cópia. Os CE devem agir duro e ter grande mobilidade, muita iniciativa e não parar muito numa área. […]


Citação: (1971), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_34521 (2018-4-20), (com a devida vénia).


3. AS DESERÇÕES NO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70

O fenómeno das deserções em contexto de guerra é considerado normal, ainda que pontual e de percentagem reduzida. O caso da Guerra Colonial não foi, com efeito, excepção. Por isso não é de estranhar a existência de exemplos em cada um dos lados do combate.

Na situação presente, chamou-me a atenção o facto do relatório elaborado pelo Cmdt Braima Bangura, divulgado no primeiro fragmento desta narrativa, fazer referência à deserção de cinco elementos deste Corpo de Exército, mas omitindo os seus nomes.


Citação: (1971), "Relatório da acção do CE [Corpo de Exército] 199-B70, desde a sua formação, em Dezembro de 1970, até ao final do ano de 1971.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40099 (2018-4-20), com a devida vénia.

Idêntica referência tinha já sido objecto de denúncia no relatório elaborado por Osvaldo Vieira, a propósito da sua "missão de inspecção à actividade das Forças Armadas no Norte".


Citação: (1971), "Relatório de missão de inspecção à actividade das Forças Armadas no Norte", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_ 40059 (2018-4-20) (com a devida vénia).

Entretanto, uma outra situação de "deserção" ocorrera com o grupo "GRAD", do Cmdt Manuel dos Santos "Manecas", fazendo fé no conteúdo da carta enviada por Aristides Pereira (1923-2011) a "Nino" Vieira (1939-2009), em 19.12.1970, solicitando a "lista dos camaradas que estavam com o camarada Manecas e fugiram para o sul".


Citação: (1966-1974), "Relatório remetido por Nino Vieira a Amílcar Cabral expondo a situação na fronteira com a República da Guiné, designadamente os ataques entre Kebo e Guileje", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_40775 (2018-4-20), p.55, (com a devida vénia).


4. O BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971)

Em busca de uma eventual identificação dos "desertores", a hipótese formulada partiu da variável "local de nascimento" (naturalidade), uma vez que em todos os documentos se refere que as "fugas" seguiram direcções concretas, ou para o Norte ou para o Sul.

Nesse sentido, seleccionámos duas amostras (bigrupos): a do Cmdt Ansú Bodjan, por ser aquele que serviu de base à elaboração desta narrativa, cuja lista se apresenta abaixo; e a do Cmdt Cambanó Mané, outro bigrupo do Corpo de Exército 199-B-70, para efeito de comparação estatística e complemento sociodemográfico.


Quadro 1 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-30)


Da análise ao quadro 1, verifica-se que em 30% dos casos (n-9) não foi possível identificar o sector da naturalidade dos indivíduos, situação impeditiva de tirar conclusões. Ainda assim, podemos referir que 56.7% (n-17) nasceram na região do Oio, situada mais a Norte; com 10% (n-3) na região do Cacheu e 3.3% na região de Tombali, um caso, sendo este o mais a Sul.

Quadro 2 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Cambanó Mané (n-27)


Da análise ao quadro 2, verifica-se a mesma situação do observado no quadro anterior, em que 25.9% dos casos (n-7) não foi possível identificar o sector da naturalidade dos indivíduos. Ainda assim, os resultados são diferentes do quadro 1, em que 25.9% dos sujeitos (n-7) têm origem na região de Tombali, situada mais a Sul do território. A região do Oio, com 22.3% (n-6) surge em segundo lugar como origem de naturalidade. As regiões de Bissau (n-1), Bafatá (n-2), Bolama (n-1), Cacheu (n-2) e Quinara (n-1), não têm expressão estatística.

Perante estes resultados, não nos é possível tirar grandes conclusões.

5. AS BAIXAS NO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70 (1970/71)

Segundo o relatório elaborado em 24 de Dezembro de 1971 pelo Cmdt Braima Bangura, um dos responsáveis militares do Corpo de Exército 199-B-70, e membro do Conselho Superior de Luta e do Comité Executivo da Luta, o número de baixas desde a sua fundação (um ano completo) foi de treze.

A principal baixa vai para o seu adjunto do CE, Cmdt Benjamim Mendes, ocorrida em 11 de Agosto de 1971, o mesmo acontecendo a José N. Cus, Chefe de Grupo. Dois dias depois, mais duas baixas, as de Conko Seidy e Sana Sano. O Cmdt do bigrupo, Ansú Bodjan (1944-1971), morreu em 14 de Novembro de 1971, o último nome da lista abaixo.


As restantes baixas constam dos quadros apresentados na primeira parte.

Continua…

À vossa consideração.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
02MAI2018.
_________________

Nota do editor:

Último poste da série >  23 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18551: (D)outro lado do combate (28): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte I (Jorge Araújo)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18551: (D)outro lado do combate (28): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte I (Jorge Araújo)



Citação: (1963-1973), "Coluna de guerrilheiros do PAIGC avançando por um trilho", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43531 (2018-4-20), com a devida vénia





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494  (Xime-Mansambo, 1972/1974).



Mensagem do Jorge Araújo, com data de 21 do corrente:

Assunto - Balanço dos Combates entre as NT e o PAIGC - CE 199- B-70. Parte I 


Caro Luís,

Boa tarde.

Anexo mais um texto com um duplo sentido... 1.º; para o incluir na minha série «(D)o outro lado do combate", e , 2.º; como documento a publicar no âmbito do 14.º Aniversário do Nosso Blogue, caso estejas, naturalmente, de acordo.

Até breve. Bom fim-de-semana.

Ab. Jorge Araújo.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > BALANÇO DOS COMBATES ENTRE A CCAÇ 2533 E CCAÇ 14 E O "CORPO DE EXÉRCITO" 199-B-70 [PAIGC]  NO SECTOR DE FARIM - A MORTE DO CMDT DO BIGRUPO ANSÚ BODJAN (1944-1971) - (Parte I)



1. INTRODUÇÃO


No momento em que se comemoram catorze anos de existência do Blogue da «TABANCA GRANDE», a 'mãe' de todas as «TABANCAS», período de tempo equivalente a sete comissões no CTIG, constata-se que os fundamentos que levaram o camarada Luís Graça à sua criação continuam actuais. Não é, pois, necessário gastar muito tempo na defesa desta afirmação. Basta consultar os números referentes a: membros, postes, comentários, fotos, visitas/visualizações e reuniões anuais em Encontros Nacionais. O "XIII" é já no próximo dia 5 de Maio, em Monte Real.

Foi (e continuará a ser!) neste espaço virtual de partilha que a partir de 23 de Abril de 2004 algumas centenas de ex-combatentes se encontram diariamente, desde os mais veteranos até aos mais "periquitos", dando o seu contributo na reconstituição do maior puzzle da memória da guerra colonial, na Guiné, transmitindo por escrito, e com imagens, as suas vivências e experiências, independentemente da época, do lugar ou do contexto.

Numa retrospectiva histórica e cronológica, a grande maioria das narrativas foram escritas na primeira pessoa, intercaladas com a divulgação de factos, feitos e resultados grafados nas brochuras elaboradas pelas respectivas Unidades. Agora, com o acesso público ao espólio documental de Amílcar Cabral (1924-1943) existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares, passou a ser possível "circular" entre os dois lados do conflito, cruzando as diferentes versões no sentido do seu aprofundamento factual na busca da verdade possível, como é o presente exemplo.

Pelo acima exposto… envio ao aniversariante os meus PARABÉNS!

Para o seu criador vão as minhas felicitações e apreço, pela persistência, pela resistência e pela competência, ou seja «PRC», a sigla biopsicosocial que faz prolongar o sucesso.

Agora, para o colectivo tertuliano, apresento o resultado de mais um trabalho de pesquisa, nascido da adição de informações diversas obtidas de cada um dos lados do combate, título com que baptizei estas narrativas específicas, cujos episódios estão a uma distância de quase meio século. Trata-se de reconstituir a história com mais (outros) dados.

2. CONTEXTOS E UNIDADES ENVOLVIDAS


Os episódios que me propus partilhar, hoje, no fórum, e que constam nesta narrativa como objecto central da pesquisa, inscrevem-se no quadro das actividades operacionais desenvolvidas pela Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533], de origem metropolitana, e pela Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14], de Recrutamento Local.

Esses factos, que serão identificados por ordem cronológica ao longo do texto, ocorreram no Sector de Farim, situado na margem Norte do Rio Cacheu, na Região do Oio [ver mapa abaixo], dizem respeito aos combates travados pelas duas Unidades das NT, na sequência de duas emboscadas montadas pelo "Corpo de Exército" 199-B-70 [PAIGC], a primeira a 14 de Dezembro de 1970 (2.ª feira) e a segunda a 30 do mesmo mês (4.ª feira), tendo-se verificado baixas de ambos os lados.




No mapa acima [Frente Norte] a seta a vermelho indica o território onde ocorreram os combates, localizados no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo a CCAÇ 14 (30Dez1970), tendo do outro lado da "barricada" o bigrupo do "Corpo de Exército" 199-B-70, liderado pelo Cmdt Ansú Bodjan.

As setas a azul correspondem aos locais de penetração das forças do PAIGC vindas das bases existentes em território da República do Senegal, em particular os corredores de "Lamel" e "Sitató".


2.1. A EMBOSCADA DA CCAÇ 2533 – A 14DEZ1970

Da consulta realizada às "Histórias" desta Unidade, encontrámos uma referência a este episódio no P13390, escrito pelo ex-alf Armando Mota, do 1.º Gr Comb, ao qual deu o título de «ENCONTRO EM LAMEL».

Pelo valor historiográfico no contexto da guerra e, como suporte documental deste trabalho, decidi transcrevê-lo na íntegra.

A esse propósito, Armando Mora disse:

"Naquele dia 14 de Dezembro de 1970, o 1.º Pelotão fora escalado para transportar e fazer a segurança de um grupo de africanos que iria fazer a capinagem junto à estrada em Lamel, dado que se verificava que aquele corredor estava a ser muito utilizado para a infiltração do IN no território, e o capim ajudava a esconder a seu presença.

"O 3.º Pelotão partira antes, para fazer a picagem da estrada até ao local dos trabalhos. Eram 8h10, após fazermos a chamada do pessoal da capinagem, distribuímos os trabalhadores pelas viaturas e partimos.

Passados alguns 15 minutos chegámos ao Bolumbato, onde avistámos a equipa de picagem. Decidi que a coluna esperaria ali, pois era mais seguro do que seguir em andamento lento atrás do pelotão da picagem.

Toda a gente desmontou das viaturas, montámos a segurança como habitualmente e ficámos por ali, descontraidamente, lembro-me de tirar uma foto ao soldado Guilherme [João Bento Guilherme] do Batalhão de Farim [BCAÇ 2879], condutor da minha viatura, a Berliet que seguia à frente.

Só próximo do fim da recta que antecede a rampa para Lamel, avistei o último dos elementos do 3.º Pelotão que nos fazia sinais para encostar. Pedi para parar e entrar no mato à direita pois o IN estava a atacar do lado esquerdo (Norte).

Ouvi perfeitamente 3 ou 4 tiros na nossa direcção, que não nos atingiram, saltei para o chão, atravessei a estrada e instalei-me enquanto o resto do 1.º Pelotão estacionava e tomava também posições. Ouvi uma rajada bastante próxima e perguntei quem tinha feito fogo… o fogo não era nosso. Íamos começar a avançar quando o Fonseca me disse que o soldado Guilherme [condutor] estava caído e ferido. Arrastámo-lo para estrada, inconsciente e logo me apercebi que era sério.

Como estava de pistola, pedi a G3 emprestada ao Fonseca e fui buscar o nosso enfermeiro que me confirmou que era muito grave. Decidi evacuá-lo imediatamente para Farim. Desloquei-me à 2.ª viatura para conseguir ajuda no transporte do ferido, mas ao aperceber-me do drama e para facilitar, o soldado Solipa ofereceu-se pois não tínhamos condutor, para conduzir a viatura dali para Farim, e corremos os dois para junto do grupo que protegia o ferido. Ainda debaixo de fogo, o Solipa manobrou a Berliet e carregámos o Guilherme já inconsciente. Partimos, eu o enfermeiro e mais três soldados rapidamente para Farim. Recordo-me de lhe segurar a cabeça para não se magoar no chão da viatura, enquanto com a outra mão me segurava à estrutura do banco corrido. No outro extremo o Evangelista segurava-lhe as pernas, também deitado e agarrado ao banco com uma mão. As minhas pernas já iam fora do estrado da viatura e era difícil manter a posição dada a velocidade da Berliet e as irregularidades da picada.

Acreditávamos que ia valer a pena…

Foi um esforço em vão, inglório. Marcou-nos a todos também… Aqui destacou-se o soldado Solipa ex-condutor e condenado por indisciplina, pelo comando de Bissau, a "fazer a tropa connosco" no mato.

O soldado Solipa foi louvado pela atitude de solidariedade com um camarada, debaixo de fogo. Enviei à família do soldado Guilherme uma nota de sentimento com a foto que lhe tirei vinte minutos antes de falecer, descrevendo a acção onde caiu. Não obtive resposta e nunca mais comunicámos".

[O camarada João Bento Guilherme era natural da Vila de Fazendas de Almeirim, Município de Almeirim].

Ass. Alf. Armando Mota, 1.º Pelotão



2.2. A EMBOSCADA DA CCAÇ 14 – A 30DEZ1970Depois de concluída no CIM. (Centro de Instrução Militar), em Bolama, a sua formação/instrução em finais de Outubro de 1969, a Companhia de Caçadores 14 [companhia das etnias mandinga e manjaca - ex-CCAÇ 2592] rumou nos primeiros dias de Novembro para a zona operacional que lhe tinha sido destinada – CUNTIMA, mesmo junto à fronteira com a República do Senegal.



Cuntima. Tabanca juno à fronteira com o  Senegal. Foto do álbum do camarada Humberto Nunes (ex. alf mil Cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael Porto e Cuntima, 1972/74) – P10340, com a devida vénia.



Para caracterizar a actividade operacional da CCAÇ 14, recorremos aos depoimentos do camarada ex-fur Eduardo Estrela (Cuntima, 1969/71). No P11365, ele refere: "Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente dois ou mais grupos de combate, por períodos de quarenta e oito horas. A guarnição de Cuntima, normalmente composta por duas companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escoltas às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.


As colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. (…) Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do BCAÇ 2879 sofreu algumas baixas, entre mortos e feridos".

Por ausência de testemunho escrito relacionado com esta emboscada sofrida pela CCAÇ 14 no dia 30 de Dezembro de 1970, apenas podemos acrescentar que neste combate aquela unidade das NT registou dois mortos, um do recrutamento local e outro do contingente metropolitano, a saber:




2.3. A ACTIVIDADE OPERACIONAL DO "CORPO DE EXÉRCITO"  199-B-70 (1970/1971)

No âmbito deste trabalho, apurámos que o "Corpo de Exército" 199-B-70 foi criado durante o mês de Novembro de 1970, na Frente Sul, tendo Nino Vieira (1939-2009) tomado a iniciativa de enviar uma carta, de Kandiafara , a Aristides Pereira (1923-2011), datada de 18 desse mês, informando-o desse facto.




Citação: (1966-1974), "Relatório remetido por Nino Vieira a Amílcar Cabral expondo a situação na fronteira com a República da Guiné, designadamente os ataques entre Kebo e Guileje", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40775 (2018-4-20), com a devida vénia.



Como fonte de informação oficial, e por isso importante para melhor se compreender o contexto e as dimensões das actividades subversivas do PAIGC na Frente Norte, particularmente na avaliação e controlo dos diferentes factores com elas relacionadas, localizámos um documento elaborado por Osvaldo Vieira (1938-1974), à época membro do Conselho Superior de Luta e do Comité Executivo da Luta, de 9 de Agosto de 1971.

Partindo da análise do conteúdo, circunscrevemos as partes que melhor se enquadram na presente temática, não deixando de reproduzir o texto na íntegra.

Osvaldo Vieira refere que, após realizar a sua missão de inspecção no Norte [Frente], concluiu que a situação era razoável, embora a falta de homens e de munições eram um problema bastante sério, principalmente na Região do Canchungo [ex-Teixeira Pinto] e outros Sectores como Naga e Morés. Para além disso, as actividades das Forças Armadas eram consecutivas e a maior parte delas com bastante êxito, e que nos últimos tempos têm causado ao inimigo [NT] duras perdas em homens e em materiais de guerra. Quanto ao comportamento dos camaradas em geral era bastante bom e com maior disciplina.



Aquando da sua entrada em território da Guiné, somente se encontrava um "corpo do exército", o n.º 199-C-70, que fazia as suas actividades na Frente Nhacra-Morés. Os restantes "corpos de exército" encontravam-se na linha da fronteira com a República do Senegal, exercendo as suas missões naquela área.


Quanto aos outros dois "corpos de exército", 199-A-70 e 199-B-70 [aquele que nos interessa] encontravam-se na linha de fronteira a fazer missão e logo que ela esteja cumprida, irão para o interior do país [Guiné], segundo a determinação de Amílcar Cabral [SG]. Em relação às forças locais [FAL] encontram-se estacionadas no Cassu, S. Domingos, Camparada, Ingoré, Sano, Cumbamore e Faiarte. Também existe um grupo no Ermancono, na linha de fronteira, que tem como tarefa apoiar a entrada de munições e tudo o que se refere a necessidades do exército. Tem havido certas fugas [deserções] no seio do "corpo de exército" dos camaradas que vieram para o reforçar, especialmente os oriundos do Sul. Quanto à fuga em direcção à fronteira [Norte] tem havido muito raramente, que, segundo ele, é devido à organização que se nota no interior do exército.





Citação: (1971), "Relatório de missão de inspecção à actividade das Forças Armadas no Norte", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40059 (2018-4-20), com a devida vénia.



2.4. BALANÇO DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DO "CORPO DE EXÉRCITO" 199-B-70 (1970/1971)


 Para concluir o primeiro fragmento desta narrativa, importa agora dar conta do que consta no relatório, tipo "caderno de apontamentos", manuscrito pelo responsável militar do "Corpo de Exército" 199-B-70, Cmdt Braima Bangura, também ele membro do Conselho Superior de Luta e do Comité Executivo da Luta. O documento foi elaborado em Ziguinchor [República do Senegal] com data de 24 de Dezembro de 1971.








Citação: (1971), "Relatório da acção do CE [Corpo de Exército] 199-B70, desde a sua formação, em Dezembro de 1970, até ao final do ano de 1971.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40099 (2018-4-20), com a devida vénia.


Continua…

À vossa consideração.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

21ABR2018.

_______________

Nota do editor:

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18512: CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Bajocunda, Copá e Canjadude (1966-1968): Subsídios para a reconstituição da sua história (Jorge Araújo) - Parte I





Guiné > Bissau> Cais > 9 de Maio de 1968 > Preparativos para o regresso à metrópole da CCAÇ 1586 a bordo do T/T Niassa (fotos gentilmente cedidas pelo camarada ex-fur trms Aurélio Dinis, da mesma unidade).


Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018; 
criador da série "D(o) outro lado do combate"




Companhia de Caçadores 1586, "Os Jacarés"  (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Balocunda, Copá e Canjadude ((1966-1968):  Subsídios para a reconstituição da sua história - Parte I



1. INTRODUÇÃO

Com algum atraso, mas ainda a tempo de cumprir com os objectivos de partida, o presente trabalho surge na sequência da publicação no blogue de dois postes: o P18149 e o P18158, ambos em memória do Alferes QPAugusto Manuel Casimiro Gamboa [, foto à esquerda, cortesia da Academia Militar[, pertencente à CCAÇ 1586 (1966/1968), e da referência à emboscada que o vitimou, em 14 de dezembro de 1967, na estrada entre Canjadude e Nova Lamego.

Ele é também, por um lado, um modesto contributo escrito (subsídio) visando ajudar na reconstituição da História desta Unidade (a possível) e, por outro, a concretização da promessa feita em comentário ao segundo texto, uma vez que, de acordo a informação dada pelo nosso colaborador permanente José Martins, especialista em Arquivo Histórico Militar do Exército (Guerra do Ultramar), "no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] não existe História da Unidade".

Não estando expressas as razões da ausência documental da sua História no AHM, não é difícil presumir como uma forte possibilidade, , quiçá a mais provável, que ela teve como principal causa a divisão física e logística permanente dos seus efectivos e as responsabilidades que lhes foram atribuídas em cada um dos locais onde esteve instalada, num total de oito, como se indica em título e como se assinala no mapa abaixo.

Para além desta probabilidade (suspeita), que naturalmente não podemos comprovar, uma outra variável poderá ter influenciado também a sua não transcrição para o papel, na justa medida em que estamos perante um colectivo militar metropolitano que muito sofreu ao longo dos vinte e um meses da sua comissão (de agosto de 1966 a  maio de 1968), fazendo fé nos factos que conseguimos apurar, entre eles os seus mortos e feridos.

Será que foram estas as principais causas?

Ainda assim, admitimos a hipótese de terem existido outras razões/causas para além das que acima presumimos. Mas só o saberemos, em definitivo, se algum elemento da CCAÇ 1586 tiver a resposta certa a esta questão. Vamos esperar que tal aconteça ou que no aprofundamento deste projecto de investigação possamos chegar lá.

Porém, perante a caracterização sumária do quadro supra, compreende-se (compreendo) perfeitamente as dificuldades em se estruturar/organizar as suas memórias, pois foram, certamente, muitos os factos e ocorrências que mereceriam ficar gravadas como testemunhos históricos da sua presença na região do Gabu, situada a Leste do território da Guiné, e que não foi possível centralizá-las ou juntá-las, passando-as a escrito, devido à dispersão dos seus efectivos nas diferentes frentes das muitas missões.

Lamentamos que assim tenha sido.

Porque não fazemos parte desse colectivo de camaradas (ex-combatentes), estes sim fiéis depositários das suas memórias durante aquele período ultramarino, enquanto principais personagens fazedores da sua história, esta narrativa não podia deixar de não ser corolário da consulta realizada a diferentes fontes de informação, escrita e oral, onde cada referência encontrada e relato obtido dos directamente envolvidos, se considerou relevante para a concretização do objectivo geral, ou seja, o início de um processo de reconstituição da História da CCAÇ 1586.

Dessa análise global e da sua triangulação, como metodologia da investigação, procurou-se caminhar na busca do que considerámos fidedigno, idóneo, exacto ou válido, enquanto sinónimos do mesmo valor, deixando à reflexão de cada leitor o que se pode considerar, inquestionavelmente, genuíno ou, pelo contrário, uma trapalhice (propaganda), uma vez que circulámos por ambos os lados do combate.

Em função do já pesquisado e dos resultados obtidos, decidimos dividir o trabalho em diferentes partes, sendo esta a primeira, onde se divulgam aspectos relacionados com a sua mobilização, locais das principais actividades operacionais e quadro das baixas em combate.


2. MOBILIZAÇÃO E LOCAIS DAS MISSÕES NO CTIG


Mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2] , em Abrantes, a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de julho de 1966, sábado, zarpando rumo a Bissau a bordo do N/M Uíge, numa altura em que a cronologia da guerra registava já três anos e meio.

Aí desembarcou a 4 de agosto, 5.ª feira, sendo destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo a 8 do mesmo mês a responsabilidade do subsector de Piche, substituindo dois pelotões da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o destacamento da Ponte do Rio Caium com um pelotão, até 21 de setembro de 1966.

A partir desta data assumiu, também, funções de unidade de intervenção na zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, entre elas:

(i)  Nova Lamego, de 10 de outubro de 1966 até princípios de dezembro desse ano;

(ii) Béli, de 25 de janeiro a 15 de abril de 1967;

(iii)  e Madina do Boé, de 10 de fevereiro a 1 de maio de 1967.


A 6 de abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um pelotão, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de outubro e 4 de dezembro de 1967, integrou, com um pelotão, o sector temporário de Canjadude.

Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso à metrópole, a 9 de maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M Niassa, com a chegada a Lisboa a acontecer a 15 de maio, 4.ª feira, ou seja, seis dias depois [adap. do P3797, José Martins, ex-Fur Trms CCAÇ 5 (1968/1970), nosso colaborador permanente].


 3. MAPA DOS LOCAIS ONDE A CCAÇ 1586 DESEMPENHOU AS SUAS DIFERENTES ACTIVIDADES OPERACIONAIS


No mapa abaixo, sinalizadas no interior de elipses, encontram-se os locais onde a CCAÇ 1586 desempenhou as suas diferentes actividades operacionais.


Infografia: Jorge Araújo (2018)



4. QUADRO DE BAIXAS DURANTE A COMISSÃO


No âmbito da pesquisa realizada, foram identificadas e agrupadas por datas as baixas contabilizadas pela CCAÇ 1586 durante a sua comissão, cujo quadro se apresenta de imediato.

A organização do quadro, segundo esta metodologia, corresponde à ordem da descrição dos factos conhecidos sobre cada causa ou ocorrência, e que daremos conta ao longo das próximas narrativas.


Infografia: Jorge Araújo (2018)

Sitografia consultada:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terreweb.biz/ (com a devida vénia)

(Continua)
______________

Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
16JAN2018.

PS - Este é o primeiro dos textos que estavam em atraso, o da CCAÇ 1586, na medida em que me comprometi a dar uma ajuda na reconstituição da sua HU, que não existe. Entretanto, fui convidado para participar no seu Convívio Anual que se realiza em Abrantes, a 19 de maio de 2018. Já lhes pedi um cartaz para fazer a sua divulgação na «Tabanca».

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16815: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (2): As más notícias de Amílcar Cabral, no início de 1969: o caso das baixas do PAIGC no ataque a Ganturé, no dia 6 de janeiro

1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte mensagem. 

(D)O OUTRO LADO DO COMBATE
AS MÁS NOTÍCIAS DE AMÍLCAR CABRAL NO INÍCIO DE 1969
- O CASO DAS BAIXAS DO PAIGC NO ATAQUE A GANTURÉ -


1. – INTRODUÇÃO

Quando em narrativa anterior [P16662], a propósito do terceiro fragmento da entrevista ao médico-cirurgião Virgílio Camacho Duverger (1934-2003), fiz referência às notas manuscritas por Amílcar Cabral (1924-1973) classificadas por si de «más notícias», e comunicadas, como conteúdo para reflexão, a todos os dirigentes do PAIGC durante o mês de Janeiro de 1969, prometi voltar a elas, em novo enquadramento historiográfico, pois havia excluído o seu primeiro ponto por não ter, então, qualquer pertinência temática.

Relembro que nesse memorando, escrito pelo punho do secretário-geral, estavam em destaque duas “más notícias”; a primeira relacionada com o número de baixas contabilizadas pelos seus guerrilheiros no ataque a Ganturé, em 6 de janeiro de 1969, a segunda lamentando a inacreditável fuga do Daniel Alves, desertor do exército português, ocorrida em Dacar em finais de 1968 [o ponto abordado anteriormente].


2. – AS MÁS NOTÍCIAS DE AMÍLCAR CABRAL NO INÍCIO DE 1969

Em conformidade com a questão de partida, resgato agora a primeira “má notícia”, transcrevendo na íntegra a primeira página desse memorando.

“Depois de sair daí [passagem de ano de 1968], tive más notícias que são as seguintes:

No ataque do dia 6 [de janeiro de 1969] contra Ganturé [CART 2410], o qual corria muito bem, porque os camaradas atingiram o paiol [?], houve erro da nossa parte face aos aviões que intervieram. Tendo repelido a 1.ª vaga de aviões, os camaradas não se retiraram nem tomaram medidas de segurança, pelo que, duas horas depois, nova vaga de aviões os atacou quando estavam concentrados elementos de artilharia e de antiaérea. Perdemos 16 camaradas e 1 companheiro cubano [Pedro Casimiro], tendo mais 12 camaradas sido feridos. Um desastre devido a erro imperdoável, mas a guerra.

Estive na fronteira [Sul] com os camaradas, o moral não está mau e há que continuar a luta, tanto mais que o inimigo está mal. Mas há necessidade urgente de canhoneiros e morteiristas além de gente para AA [artilharia antiaérea]. Por isso tenho de vos pedir para mandarem urgente 9 dos canhoneiros formados na URSS e incluídos no Corpo de Artilharia. Devem também fazer vir urgente 6 dos morteiristas que eu disse para irem esperar em Madina [do Boé], porque não estavam incluídos no Corpo de Artilharia”.



Citação:
(s.d.), Sem título, CasaComum.org, Disponível http:
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34366 (2016-11-8), (com a devida vénia).
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07197.166.017

Assunto: Perda de 16 combatentes do PAIGC e 1 cubano (Pedro Casimiro) na resposta aérea ao ataque desencadeado pela artilharia do PAIGC a Ganturé. Instruções para o destacamento de canhoneiros e morteiristas, entre outros.

Remetente: Amílcar Cabral
Destinatário: [Responsáveis do PAIGC]
Data: s.d.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondência.


No centro das “más notícias” para o PAIGC, que Amílcar Cabral diz ter recebido, pois não presenciou nenhuma das duas ocorrências, emerge a pergunta sobre o modo como e quando delas teve conhecimento, uma vez que omite a respectiva fonte? Por outro lado, como funcionavam as comunicações em contexto de ataques, pois não tenho memória de alguma vez se ter referido a captura desse equipamento específico?

Admitindo a probabilidade de terem-se verificado alguns ruídos semânticos, entre o emissor e o receptor, na comunicação dos factos significantes relacionados com a primeira notícia [ataque a Ganturé], procedemos à triangulação de outros elementos obtidos em informantes privilegiados, nomeadamente nos arquivos da Fundação Mário Soares, nos depoimentos de alguns dos actores das NT envolvidos naquela missão [Força Aérea e Exército] publicados em blogues e na literatura consultada, tendentes a encontrar pontos convergentes vs divergentes relacionados com este caso. 


2.1 – O que diz a literatura [La Historia Cubana en África]

“No primeiro dia de janeiro de 1969 haviam começado as acções na Frente Sul contra o quartel de Tite. No dia 6 foi atacado por forças de infantaria e artilharia do PAIGC o quartel de Ganturé. Nesta acção participaram três cubanos. Nesse dia a aviação portuguesa entrou em combate e surpreendeu os guerrilheiros, destruindo-lhes vários equipamentos de artilharia e causando-lhes elevadas baixas: dezasseis guerrilheiros mortos e vários feridos.

Nessas baixas estavam os três cubanos que haviam participado na acção. O primeiro-tenente Pedro Casimiro Llopis, de 29 anos (1940-1969), morreu ao ser atingido pelo fogo da aviação, enquanto o primeiro-tenente Marcelino Araújo Pina e o soldado Plácido Veja Ramirez ficaram feridos durante o bombardeamento”. 

[In: Ramón Pérez Cabrera, “La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba” (edição de 2005), pp. 154/155, tradução do castelhano. [Consult em 25/11/2016. Disponível em


2.2 – Relato dos acontecimentos - Depoimentos da Força Aérea

A poucos dias de completar quarenta e oito anos, eis uma síntese [análise de conteúdo] sobre o ataque a Ganturé, elaborada a partir da narrativa intitulada «Um ataque com “olhos azuis”», da autoria do Tenente-General PilAv José Francisco Fernando Nico [José Nico], hoje na situação de reforma, publicada no blogue da “Tabanca Grande” [P15035-I Parte + P15038-II Parte] e no blogue “Operacional”, em www.operacional.pt.



Guiné - Imagem inserida no texto referente a um Fiat G-91 descolando de Bissalanca nos finais dos anos 60. “Em breve estará sobre o inimigo. «… O carrocel de ataque estava em marcha e com reacção ou sem reacção antiaérea tinha era que acertar com as bombas no alvo, o maior de todos os alvos que atacou durante toda a comissão. Não falhou como não falharam os outros…»”.



De referir que o Tenente-General José Nico foi piloto de aviões de caça, e entre 1967 e 1970 cumpriu uma comissão de serviço na Guiné. Neste âmbito, afirma que das muitas missões que desempenhou na Força Aérea Portuguesa, “a comissão na Guiné, porém, sobrepôs-se a todas as outras e marcou-me indelevelmente para o resto da vida”.Como introdução recorda que, mesmo não tendo tomado parte directa na acção de apoio às NT, por estar envolvido noutras missões, aquele dia 6 de janeiro de 1969 nunca o esqueceu, pelo muito que se comentou na Base [BA12] e pelos resultados obtidos, acabando por dar lugar à elaboração desta sua narrativa historiográfica.

Naquele dia 6 de janeiro de 1969, por volta das oito horas da manhã, a guerra no CTIG continuava bem viva com o PAIGC a ter a iniciativa de atacar, uma vez mais com os seus canhões Zis-2 AC 57 mm, o Aquartelamento de Gadamael Porto, sede da Companhia de Artilharia 2410 [CART 2410].

Da sede da Unidade é solicitado apoio aéreo a Bissau, com o comando-chefe a encaminhá-lo para a Base Aérea n.º 12 [Bissalanca] a fim de procederem em conformidade. Os dois pilotos da parelha de alerta [Fiat G-91], que naquele momento estavam a tomar o pequeno-almoço, logo apanharam o equipamento e meteram-se no jeep de apoio em direcção da linha da frente.

Os dois Fiat’s estavam prontos e configurados com tanques de combustível externo, 8 foguetes 2,75” e 4 metralhadoras 12,7 mm, sendo o ex-tenente Balacó Moreira um dos pilotos, o qual está na base de muita da informação obtida nesta missão. Esta teve início por volta das nove horas, uma hora após o início da flagelação, tendo constatado, depois, que o ataque visava objectivamente Ganturé, situado a curta distância de Gadamael Porto, onde se encontrava destacado o 4.º Gr Comb da CART 2410, para além de um pequeno núcleo populacional.

Numa primeira fase os rebentamentos estavam a ser espaçados e compridos, com as NT a responderem com morteiro 81 mm, operado pelo ex-furriel Luís Guerreiro [imagem ao lado]. A frequência/intensidade dos disparos do PAIGC ia aumentando com o correr do tempo mas sem consequências, pois as granadas passavam sobre Ganturé explodindo no contacto com o arvoredo existente muto para além da área do quartel.

Entretanto, a parelha de alerta que se encontrava em rota solicita mais informações do solo tentando sinalizar o local. Ao seguirem em direcção a Bricama, a cerca de dois km a SW de Gadamael Porto, qual não foi o espanto dos pilotos quando avistaram, no perímetro do antigo aquartelamento de Sangonhá, abandonado pelas NT em 29 de julho de 1968, num espaço completamente aberto e sem qualquer espécie de camuflagem, um numeroso grupo de indivíduos, que só poderiam ser os guerrilheiros responsáveis pelo ataque que se estava a verificar contra Ganturé.

Lá do alto era possível identificar a presença de três armas com rodado, sendo uma delas, colocada entre o perímetro do aquartelamento e a antiga pista, uma antiaérea ZPU-4 [tubos com quatro bocas] que, de imediato, abriu fogo contra os aviões [G-91] obrigando os pilotos a entrarem num circuito alargado para manter uma distância de segurança. No interior do perímetro do aquartelamento, no meio dos destroços das antigas instalações, estavam duas peças de artilharia com um cano relativamente comprido e na picada que saindo de Sangonhá se dirigia à Guiné-Conacri [talvez na direcção da base de Sansalé], viam-se algumas viaturas incluindo uma ambulância.

Esta situação levou o ex-tenente Balacó Moreira a confessar que da sua experiência em operações quase diárias no teatro de operações da Guiné nunca tinha dado de caras com o inimigo numa situação tão vulnerável. Porque os aviões da parelha de alerta não estavam equipados para intervir naquele cenário atípico, cujo sucesso impunha disparos a uma distância mais curta do alvo, o Cmdt da parelha decidiu abandonar a área e regressar de imediato à BA12 para que a situação fosse ponderada e tomada uma decisão adequada às circunstâncias. Tinham decorrido trinta minutos.


Citação:
(1963-1973), "Combatentes do PAIGC deslocando uma peça de artilharia anticarro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43454 (2016-12-2) (com a devida vénia). (Será que está relacionado com este ataque?).


Ao decidir regressar à BA12, o Cmdt da parelha [capitão Amílcar Barbosa?] entrou em contacto com o CCOA [Centro Conjunto de Operações Aéreas] dando conta do que vira e que o ataque continuava a partir da pista de Sangonhá. Era necessário decidir o que fazer no menor espaço de tempo, uma vez que ao serem detectados, a guerrilha poderia desmobilizar e desaparecer rapidamente. […] 

Da reunião entre o tenente-coronel Costa Gomes, Cmdt do Grupo, e o Cmdt da Zona Aérea, coronel PilAv Diogo Neto, visando encontrar a melhor solução para o problema que tinham em mãos, as hipóteses encontradas de modo a dar sequência à missão ficaram reduzidas aos G-91 e a quatro pilotos: os dois da parelha de alerta e os dois comandantes, o do Grupo Operacional e o da Zona Aérea, respectivamente tenente-coronel Costa Gomes e o coronel Diogo Neto.

Entretanto, o comandante-chefe do CTIG já tinha sido informado do que se estava a passar e quis falar com o coronel Diogo Neto. Este de imediato deslocou-se ao Forte da Amura onde explicou ao brigadeiro Spínola o que lhe parecia ser o mais razoável e eficaz. Este tinha preferência para o emprego dos “páras”, mas depois de ouvir as explicações da Força Aérea deu o seu aval ao “plano de acção” apresentado. […] 

Depois dos mecânicos e do pessoal de armamento se terem esforçado para aprontarem os quatro aviões o mais rápido possível, eis que estes descolam por volta das onze horas, ou seja, duas horas após a primeira missão ou três horas em relação ao início do ataque a Ganturé.

Cumpridas as instruções técnicas dos ataques aéreos, escolhida a rota mais aconselhada no caso em presença e após passarem sobre o rio junto à povoação de Cacine, é que foi possível perceber alguma coisa do que se passava no solo. O tenente Balacó Moreira recorda-se que a quantidade de pessoas que avistou na zona do antigo aquartelamento de Sangonhá era muito menor do que da primeira vez (duas horas antes) e que havia viaturas em movimento. Contudo, “era impossível falhar um alvo daquele tamanho”.

Na sequência do carrocel de ataque e dos bombardeamentos efectuados por cada um dos pilotos, os quatro aviões reencontram-se à vertical do objectivo, circulando à altitude de ataque. Em baixo, Sangonhá ficara obscurecida pelo fumo e pelos detritos projectados pelas explosões dando a impressão, lá do alto, que tudo tinha sido arrasado, pois nada parecia mexer.

Porque nenhum dos aviões tinha sobreposto o tiro ao dos outros e as dezasseis bombas tinham produzido uma cobertura relativamente densa, não era possível determinar se o ataque tinha sido eficaz em termos de baixas ao inimigo. Depois de ficarem sem armamento nada mais havia a fazer e o Cmdt da formação deu ordem para abandonar a área e regressar à BA12.


2.3 – O reconhecimento a Sangonhá – CART 2410

A 9 de janeiro de 1969, três dias após o ataque a Ganturé, um efectivo da CART 2410 constituída por cerca de cem elementos, entre militares, milícias e caçadores nativos, executou um reconhecimento a Sangonhá, comandado pelo ex-Alf. Mil. Albino Rodrigues, Cmdt do 1.º Gr. Comb., a qual contou com apoio aéreo em determinados momentos da sua marcha apeada.

Ao longo do percurso até Sangonhá não foram detectados trilhos novos, nem foram encontrados os habituais invólucros de granadas de morteiro ou de canhão s/r que os guerrilheiros deixavam espalhados no terreno após as flagelações. Após terem passado o vau do rio Queruane/Axe, a uns duzentos/trezentos metros à frente, numa pequena elevação do terreno, foram encontrados os restos de uma fogueira, feita durante a noite, junto a uma árvore alta com vestígios de ter sido utilizada como posto de observação. 

Três ou quatro metros depois encontraram fio telefónico que foi seguido até ao respectivo carretel vazio. Por isso se concluiu que naquela árvore teria estado um observador avançado munido de linha telefónica para orientar o tiro dos canhões AC estacionados em Sangonhá.

Em determinado momento da sua progressão, que consideraram como um sinal de estarem próximos do objectivo foi dado pela grande quantidade de abutres, uns pousados nas árvores, outros voando em círculos. A este sinal, um outro se adicionou transmitido pelo cheiro nauseabundo de corpos em decomposição. A partir daquele momento o avanço foi feito com muitas cautelas até que descobriram algo que nunca pensaram encontrar.

Sobre esse macabro achado, o ex-Alf. Mil. José Barros Rocha, Cmdt do 2.º Gr Comb., e membro da nossa Tabanca Grande,  refere o que viu e sentiu da seguinte forma: “na antiga pista de Sangonhá, armas destruídas e pedaços de corpos de negros e brancos e treze sepulturas. Uns dias depois tivemos a informação de trinta e seis mortos confirmados e muitos feridos. (…) O aspecto do local era medonho! A terra, cuja cor natural é avermelhada, tinha a cor cinza! O intenso cheiro a putrefação! (…) Recolhemos três carretéis carregados de fio telefónico e um vazio, uma mina A/P, uma ferramenta de aperto de rodas, invólucros de granada de canhão AC 57 mm, meia pistola, munições intactas da AA de calibre 14,5 mm, bonés, chapéus tipo colonial, uma bandeira, uma caixa de ferramenta, e algumas bugigangas…”.

Depois de ter permanecido em Sangonhá cerda de duas horas, a força chegou a Gadamael por volta das três horas da tarde, sem mais ocorrências.


3. – CONCLUSÕES

Em primeiro lugar, aproveito para vos confidenciar de que desconhecia, em absoluto, esta história (como desconheço, seguramente, outras que ocorreram antes, durante e depois da minha presença no CTIG). Não podemos ter a pretensão de, alguma vez, ficarmos ao corrente de tudo o que aconteceu naquele território durante os treze anos do conflito. Daí a partilha de memórias que todos os dias se dão a conhecer neste espaço plural.

Quanto ao que nos propusemos analisar, são convergentes os relatos das NT e o escrito por Amílcar Cabral, com relevância para a referência às duas missões efectuadas pela Força Aérea [G-91] e os intervalos entre cada uma delas [duas horas].

Sobre o número de baixas, um assunto sempre difícil de abordar ou quantificar, constata-se uma dupla situação. Os referidos por Amílcar Cabral são convergentes com os publicados no livro de Ramón Cabrera. Estes, quando comparados com o depoimento resultante do reconhecimento a Sangonhá [CART 2410], existem diferenças, uma vez que foi referida a existência de treze sepulturas [recentes ou antigas?] e ainda pedaços de corpos de negros e brancos espalhados no solo. Mais tarde, por informação exterior, foram confirmadas trinta e cinco mortes.

No que concerne a baixas entre o contingente cubano, são referidas três, a totalidade dos elementos envolvidos no ataque, ainda que no texto se indique, também, tratar-se de um morto e dois feridos [mas que seriam muito graves, vindo a falecer].

Neste sentido, e por curiosidade, apresentamos um quadro das baixas contabilizadas no contingente cubano, entre 3 de junho de 1967 e 6 de janeiro de 1969 [18 meses]. Estes números foram escrutinados a partir do livro acima citado. 

Quadro estatístico de JA

Fonte: Adapt de Ramón Pérez Cabrera, op.cit.

Por último, resta-me levantar a seguinte hipótese:

Será que o pedido de nove canhoneiros e seis morteiristas “requisitados” no memorando, num total de quinze elementos, destinavam-se a substituir aqueles que tombaram neste ataque a Ganturé? 

Com um forte abraço e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

25 de novembro de 2016. > Guiné 63/74 - P16758: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (1): Amílcar Cabral e os desertores portugueses: os casos dos 1ºs cabos Armando Correia Ribeiro e José Augusto Teixeira Mourão