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segunda-feira, 20 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19808: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXX: Viagem, de regresso, do Gabu a Bissau, em 26/2/1968: no 'barco turra', a partir de Bambadinca (I)


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 2



Foto nº 7


Foto nº 6


 Foto nº 5
Foto nº 5A


Foto nº 8

Guiné > Comando e CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 26 de fevereiro de 1968 > Viagem de regresso a Bissau, atravessando as Regiões de Gabu e de Bafatá, em coluna militar, e depois de barco, a partir de Bambadinca. Até ao Xime e foz do rio Corubal ainda era região do Bafatá.  Jabadá já ficava na região de Quínara, na margem esquerda do rio Geba.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)


CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:


T046 – A VIAGEM DE REGRESSO DO GABÚ A BISSAU

1 - DE COLUNA MILITAR TERRESTRE, DE NOVA LAMEGO A BAMBADINCA

2 - DE COLUNA FLUVIAL, DE BAMBADINCA ATÉ BISSAU, NOS BARCOS TURRAS



REGRESSO DAS TROPAS EM 26FEV68  - O BATALHÃO DE CAÇADORES 1933  NO RIO GEBA (1)


I - Introdução do tema:


Continuação da série de Temas para Postes, relativos à chegada do Batalhão à Guiné, as viagens para Gabu pelo Rio Geba acima, as colunas militares por estrada, as festas de despedida no Gabu com batuques e roncos à mistura, o regresso pelo mesmo caminho, Bambadinca, até Bissau, antes de partir novamente para o novo destino, São Domingos, Rio Cacheu acima, sem fotos.

Após as despedidas no Gabu, chegou o dia do regresso, em colunas militares, por terra, até Bambadinca, e por via fluvial, no Geba, até Bissau.
A viagem correu normal, nada havendo a assinalar, excepto as más condições da viagem, e juntos com a população civil, que precisava também de boleia. 


II - Legendas das fotos: 


F01 – Saída da coluna militar de Nova Lamego, rumo a Bambadinca.  A bordo da viatura, de chapéu de abas, comendo um pouco da ração de combate. Foto captada na saída de Nova Lamego – Gabú – no dia 26 de Fevereiro de 1968. [Não de reproduz, em formato grande, por falta de qualidade... LG]

F02 – No barco turra, já em plena viagem no Rio Geba, alguns militares do meu batalhão.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F03 – Passagem da coluna fluvial pelo Mata Cão (?), empoleirado no barco, como se estivesse a fazer um cruzeiro de férias.  Acho que estamos na zona do Rio Geba Estreito, pois as margens estão perto, mas não sei.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.  

[Trata-se de Bambadinca, porto fluvial no Rio Geba Estreito, donde saiu a embarcação...No Mato Cão, o rio ainda era mais estreito, e metia mais "respeitinho"... LG]

F04 – Em plena viagem pelo Rio Geba, uma imagem do mastro com a bandeira nacional, e eu posando para mais uma recordação.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968. [Deve trata-se de Bambadinca, porto fluvial no Rio Geba Estreito, donde saiu a embarcação...A avaliar pela postura descontraída do Virgílio Teixeira....LG]

F05 – Passagem da ‘coluna fluvial’ por um aquartelamento algures no caminho de Bissau, [, na margem esquerda do rio Geba].  Está escrito no verso da fotografia que se trata de ´Jabadá’. Foi alguém que o disse.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F06 – Continuação da viagem Rio Geba a baixo, aproveitando o tempo para ‘tocar viola’.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F07 – Na hora da refeição, tomando o petisco, as rações de combate, nada mau.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F08 – Mais uma foto do aquartelamento de Jabadá, algures no nas margens do Rio Geba.  Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.


Direitos de Autor:

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM.  Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI 15, Tomar,  CTIG/Guiné de 21 Set 67 a 04Ago69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos,».

Acabadas de legendar, em  2019-03-19

Virgílio Teixeira

[Continua]

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Nota do editor:

terça-feira, 6 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18385: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXII: As deslocações do batalhão ou "os meus cruzeiros azuis do Douro": (ii) 26 de fevereiro de 1968: Rio Geba, Bambadinca-Bissau, vindo de Nova Lamego


Foto nº 51 A


Foto nº 51


Foto nº 48A


Foto nº 48


Foto nº 49A


Foto nº 49 B

Guiné > Rio Geba > 26 de fevereiro de 1968 > BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S- Domingos, 1967/69)  > Viagem de Bambadinca a Bissau, vindo de  Nova Lamego 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

Assunto - Tema T032 – As deslocações do Batalhão Caçadores 1933: "Os meus cruzeiros azuis do Douro"

(i) Anotações e Introdução ao tema:

Uma parte do meu batalhão – BCaç 1933, CCS e 2 Companhias – , chegaram no navio T/T Timor a Bissau em 3 de Outubro de 1967. Eu já estava lá à espera, tinha ido a Nova Lamego em 24 de Setembro de 1967 e regressei a Bissau no dia 1 de Outubro, em serviço da minha área de especialidade [SAM].

Por isso o comando, a CCS e uma companhia operacional desembarcaram, passaram o dia nos Adidos em Brá, e às 04h00 da manhã estávamos a entrar nas lanças e nas barcaças civis rumo a Bambadinca, rio Geba acima. [Fotos já publicadas no poste anterior] (*).

Aquilo era uma confusão, pois havia que dar ‘boleia’ aos civis que queriam ir também para as suas terras e não havia outro transporte. Eram homens, mulheres, crianças, bebés, bagagem e animais domésticos. Era, como já disse, tudo ao molho em fé em Deus. [Fotos nº 51].

Eu e alguma malta – eu, alinhei sempre com os soldados e cabos condutores do meu batalhão, quase todos os furriéis milicianos e um ou outro alferes como eu. E dei-me bem, pois foram eles que me ensinaram a conduzir e assim tirei a carta lá em Bissau. E foram eles que fizeram a maior parte das festas e petiscos, para os quais eu era sempre convidado, tudo feito nas suas casernas. Tenho dezenas de fotos que são um espanto, algumas até me envergonho delas, pelo meu estado geral…

Mas correu tudo bem, apesar das piadas que eram dirigidas aos periquitos, pelos mais velhos, numa tentativa de amedrontar os mais novos, com a farda camuflada ainda limpinha, lustrosa, e hirta. O rio é medonho, os mosquitos infestam tudo, as margens de tarrafo ficam muito perto em alguns sítios, os crocodilos vão se vendo aqui e ali, e a mata que ladeia o rio é densa e nada se vê. O calor, a humidade no fim da época das chuvas é terrível, e casas de banho nem vê-las.

Os que vieram nas LDG [, lancha de desembarque grande,] parece que a coisa era bem pior, disso não me posso queixar. Estranhei que os barcos que nos transportavam eram rebocados por um pequeno barco de dois motores, tenho fotos disso. Ia a acompanhar esta coluna fluvial, uma LDM [, lancha de desembarque média,] ao largo, da qual tenho algumas fotos. Também se viu os caça-bombardeiros T6 a passar por cima numa manobra de protecção. Era tudo muito estranho.

Lá fomos comendo a ração de combate [Foto nº 48] – eu já tinha tido essa experiência, na deslocação por avião militar DC6 desde Figo Maduro até Bissau, não era uma primeira experiência. Também na recruta e especialidade já tinha tido contacto com as rações de combate.

Lá chegamos ao destino, Bambadinca, porto de rio, que voltei a visitar várias vezes, para ir ao Pelotão de Intendência nas colunas de reabastecimento. Deviam ser 12 ou 13 horas. (Voltei lá em 1984 e 1985 nas minhas viagens de visita e negócios pela Guiné. )

Então começa a faina de transportar tudo para os camiões da imensa coluna militar.

Vamos estrada acima, não era boa nem má, tinha algum alcatrão até Bafatá. Depois uma parte da coluna sai para Fá Mandinga, e o restante segue para Nova Lamego, em terra batida.

Chegamos ao cair da noite, e ficamos em sobreposição durante quase 2 semanas com o Batalhão que fomos render, era uma confusão total, cada um a procurar o melhor sitio. Eu já lá tinha o meu, pois tinha lá chegado em 24 de Setembro e tive tempo de arranjar o lugar.

No dia 25 de Fevereiro de 1968, passamos o último dia em Nova Lamego, de madrugada [, já a 26, ]  fizemos o percurso inverso[, fotos a publicadas acima, neste poste],  mas já tínhamos outro calo, os camuflados já estavam bem batidos nas pedras pelas lavadeiras lá do sítio.

Ficamos em Bissau uns 30 dias em quadrícula, aquartelados nos Adidos em Brá, e em finais de Março de 1968 lá vamos novamente para os barcos, agora fazendo o percurso Rio Cacheu acima, até São Domingos. Acho que já foi mais agradável, pois a paisagem era menos feia e medonha do que no Rio Geba [, em especial no troço do Geba Estreito, entre Bambadinca e o Xime], ou foi apenas por ser o primeiro percurso.

Nunca tivemos qualquer situação de perigo, e tudo correu bem.

Não cheguei a fazer a viagem de regresso em directo [, de Nova Lamego,] para o T/T Uíge, pois já estava em Bissau, a minha missão tinha acabado dois meses antes e fiquei encostado, primeiro no 600 em Santa Luzia, e depois nos Adidos.

Estas foram as deslocações feitas por mim em conjunto com o meu Batalhão. Junto algumas fotos, mas falta ainda muita coisa para digitalizar.

Virgílio Teixeira

Em, 29-01-2018
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Guiné 61/74 - P18382: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXI: As deslocações do batalhão ou "os meus cruzeiros azuis do Douro": (i) 4 de outubro de 1967: Rio Geba, Bissau-Bambadinca, a caminho de Nova Lamego


Foto nº 46A


Foto nº 47A



Foto nº 52 A


Foto nº 50A 


Foto nº 50B


Foto nº 50C 


Foto nº 45 A


Foto nº 45 


Foto nº 45 B

Guiné > Rio Geba > 4 de Outubro de 1967 > BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S- Domingos, 1967/69)  > Viagem de Bissau a Bambadinca, a caminho de Nova Lamego 


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)


Assunto - Tema T032 –  – As deslocações do Batalhão Caçadores 1933: "Os meus cruzeiros azuis do Douro"



(i) Anotações e Introdução ao tema: 

Uma parte do meu batalhão – BCaç 1933, CCS e 2 Companhias – , chegaram no navio T/T Timor a Bissau em 3 de Outubro de 1967. Eu já estava lá à espera, tinha ido a Nova Lamego em 24 de Setembro de 1967 e regressei a Bissau no dia 1 de Outubro, em serviço da minha área de especialidade [SAM]. 

Por isso o comando, a CCS e uma companhia operacional desembarcaram, passaram o dia nos Adidos em Brá, e às 04h00 da manhã estávamos a entrar nas lanças e nas barcaças civis rumo a Bambadinca, rio Geba acima. 

Aquilo era uma confusão, pois havia que dar ‘boleia’ aos civis que queriam ir também para as suas terras e não havia outro transporte. Eram homens, mulheres, crianças, bebés, bagagem e animais domésticos. Era, como já disse, tudo ao molho em fé em Deus. [Fotos nº 45, 46 e 47].

Eu e alguma malta – eu, alinhei sempre com os soldados e cabos condutores do meu batalhão, quase todos os furriéis milicianos e um ou outro alferes como eu [Fotos nºs 46 e 47]. E dei-me bem, pois foram eles que me ensinaram a conduzir e assim tirei a carta lá em Bissau. E foram eles que fizeram a maior parte das festas e petiscos, para os quais eu era sempre convidado, tudo feito nas suas casernas. Tenho dezenas de fotos que são um espanto, algumas até me envergonho delas, pelo meu estado geral… 

Mas correu tudo bem, apesar das piadas que eram dirigidas aos periquitos, pelos mais velhos, numa tentativa de amedrontar os mais novos, com a farda camuflada ainda limpinha, lustrosa, e hirta. O rio é medonho, os mosquitos infestam tudo, as margens de tarrafo ficam muito perto em alguns sítios, os crocodilos vão se vendo aqui e ali, e a mata que ladeia o rio é densa e nada se vê. O calor, a humidade no fim da época das chuvas é terrível, e casas de banho nem vê-las. 

Os que vieram nas LDG [, lancha de desembarque grande,] parece que a coisa era bem pior, disso não me posso queixar. Estranhei que os barcos que nos transportavam [Foto nº 52] eram rebocados por um pequeno barco de dois motores, tenho fotos disso. Ia a acompanhar esta coluna fluvial, uma LDM [, lancha de desembarque média,] ao largo, da qual tenho algumas fotos [Foto nº 50]. Também se viu os caça-bombardeiros T6 a passar por cima numa manobra de protecção. Era tudo muito estranho. 

Lá fomos comendo a ração de combate – eu já tinha tido essa experiência, na deslocação por avião militar DC6 desde Figo Maduro até Bissau, não era uma primeira experiência. Também na recruta e especialidade já tinha tido contacto com as rações de combate. 

Lá chegamos ao destino, Bambadinca, porto de rio [Foto nº 50], que voltei a visitar várias vezes, para ir ao Pelotão de Intendência nas colunas de reabastecimento. Deviam ser 12 ou 13 horas.  (Voltei lá em 1984 e 1985 nas minhas viagens de visita e negócios pela Guiné. )

Então começa a faina de transportar tudo para os camiões da imensa coluna militar. [Foto nº 45]

Vamos estrada acima, não era boa nem má, tinha algum alcatrão até Bafatá. Depois uma parte da coluna sai para Fá Mandinga, e o restante segue para Nova Lamego, em terra batida. 

Chegamos ao cair da noite, e ficamos em sobreposição durante quase 2 semanas com o Batalhão que fomos render, era uma confusão total, cada um a procurar o melhor sitio. Eu já lá tinha o meu, pois tinha lá chegado em 24 de Setembro e tive tempo de arranjar o lugar. 

No dia 25 de Fevereiro de 1968 [, fotos a publicar no poste seguinte], passamos o último dia em Nova Lamego,  de madrugada fizemos o percurso inverso, mas já tínhamos outro calo, os camuflados já estavam bem batidos nas pedras pelas lavadeiras lá do sítio. 

Ficamos em Bissau uns 30 dias em quadrícula, aquartelados nos Adidos em Brá, e em finais de Março  de 1968 lá vamos novamente para os barcos, agora fazendo o percurso Rio Cacheu acima, até São Domingos. Acho que já foi mais agradável, pois a paisagem era menos feia e medonha do que no Rio Geba, ou foi apenas por ser o primeiro percurso. 

Nunca tivemos qualquer situação de perigo, e tudo correu bem. 

Não cheguei a fazer a viagem de regresso em directo para o T/T Uíge, pois já estava em Bissau, a minha missão tinha acabado dois meses antes e fiquei encostado, primeiro no 600 em Santa Luzia, e depois nos Adidos. 

Estas foram as deslocações feitas por mim em conjunto com o meu Batalhão.  Junto algumas fotos, mas falta ainda muita coisa para digitalizar. 

Virgílio Teixeira 

Em, 29-01-2018

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Nota do editor:

domingo, 20 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17686: O segredo de... (29): João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Porto-Gole 1966: uma aventura no Rio Geba, para nunca mais esquecer... uma daquelas que nos poderia ter custado a vida!


Guiné > Região do Óio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) > c. 1966 > A nossa “jangada” feita supostamente para pescar, mas que acabou por servir apenas de brinquedo recreativo… Na foto, aos remos eu e o João (???)  ( natural da zona do oeste, não me lembro exactamente, mas creio ser do  Ramalhal, Bombarral) que era o “padeiro” do destacamento. Alguém sabe do paradeiro dele? E o outro tripulante… há alguém que o possa reconhecer? Eu definitivamente "estou a ficar mesmo velho” … que já a muitos dos meus colegas não consigo reconhecer e lembrar...


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ  1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) > c. 1966 > O  “cais” de Porto Gole funcionava assim: o "barco de abastecimentos” (e outros) tinham de chegar quando a maré estava cheia. E depois de devidamente seguro (a uma árvore ou a um poste ) esperava-se pela maré vazia quando o barco ficava em seco para fazer o descarregamento, como se pode verificar na foto…. Como havemos de esquecer coisas destas?

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)

Data: 17 de agosto de 2017 às 21:58

Assunto: Porto-Gole 1966: uma lembrança / história para não esquecer...

Caro Luís Graça,

Ainda estou na Eslovénia; tenho aproveitado para dar umas voltas para conhecer as "redondezas": Croácia, Montenegro e até dei  um salto (5 dias) a Roma para matar saudades; tanto a Vilma como eu tínhamos estado lá em tempos passados  (quando ainda não sabíamos um do outro) e de repente apresentou-se uma oportunidade que não quisemos perder.

Ontem  no decorrer duma pequena "excursão  guiada" a várias ilhas (de um dia apenas), às ilhas Elifati, ao longo da costa  da Croácia, encontrei-me num barco pequeno (daqueles com o  motor no meio como algumas das traineiras de pesca que eu conhecia quando ainda jovem, na nossa terra) e  a curiosidade levou-me a meter o nariz na portinhola do motor: isso  fez-me lembrar um barco semelhante (mas bem mais pequeno), "palco" duma  experiência extraordinária que tive quando estive em Porto Gole.

Como tu no teu/nosso blogue falas e incentivas os camaradas da Guiné a que partilhem as suas memórias, não só porque isso nos faz reviver esses tempos, mas também para que fiquem "registadas" para a posteridade, lembrei-me de pôr em papel o que ainda me lembro dessa experiência. Como dizes e bem, não sendo assim essas experiências de cada um  ficam só mesmo para cada um de nós e "quando formos para o outro lado", para quem cá fica  é como se nunca tivessem acontecido.

Devo avisar/esclarecer que a memória me falha já em muitos detalhes; tenho pena de o não ter feito antes. O que se segue não terá mais o interesse que teria se eu me lembrasse  melhor  dos pormenores. Vou descrever o que ainda me lembro sem qualquer intenção de aumentar ou florear; é mesmo possível que já comece a  confundir e trocar coisas e circunstancias e a ordem/sequência do acontecido. Se tal sucede não é com essa intenção; se alguém  do grupo que estava comigo em Porto Gole onde isto aconteceu ler o que se segue e com melhor memória  me quiser corrigir e emendar, só fico agradecido.

Não lembro em que altura do ano foi, mas sei que foi em 1966. A nossa companhia, CCAÇ 1439, sediada em Enxalé tinha os destacamentos de Missirá e Porto Gole sob a sua  alçada. Revezávamo-nos em temporadas (em princípio devia ser de um mês cada pelotão mas isso nunca sucedia certo… houve casos de um pelotão ter ficado destacado no mesmo sítio mais de três meses!).

O destacamento de Porto Gole não era dos piores sítios: de alguma maneira a sua situação junto ao rio Geba proporcionava "vantagens" que faziam a estadia aí mais amena e diversificada: barcos de abastecimentos e outros passavam e muitas vezes atracavam no "cais"; havia algum negócio, especialmente de arroz, o que trazia ao local muita gente das redondezas, especialmente " bajudas" cuja simples presença era suficiente para tornar a vida menos aborrecida a muitos dos aí destacados (ou desterrados, como dizíamos só pelo prazer de nos queixarmos do que quer que fosse…).

Havia até  um representante da Casa Gouveia que fazia do local a sua estadia quase permanente. Havia um posto de administração e era a sede do poderoso e famoso (e saudoso também)  régulo Abna Na Onça (com as suas 10 mulheres, sobrinhas e não sei que mais que davam vida ao local e seus "habitantes'); lembro-me bem dele: um indivíduo enorme para quem autoridade e mandar era coisa natural e que, se não controlava  completamente os balantas da região - como te deves lembrar os balantas eram na maioria favoráveis ao "partido oposto" - mantinha pelo menos muito respeito e controle nas muitas tabancas das redondezas.

Entre os "habitantes temporários" que apareciam de vez em quando vindos de Bissau houve um indivíduo já bem entrado na idade - o clima por vezes ocasiona a que nos enganemos, mas eu creio que estava nos seus setentas, já bem "queimados" pelo sol e outras razões que desconheço mas de efeitos evidentes - que apareceu e ficou por lá uns tempos. Disse-me ter sido, quando mais jovem,   capitão dum barco, não me lembro de mais detalhes; que estava reformado há muitos anos e que as saudades do mar o tinham levado a comprar um barco que era agora toda a sua vida ...

Não sei onde estava  hospedado, mas aparecia de vez em quando. Um dia, quando eu lhe disse que tínhamos feito uma espécie de "jangada" (em forma de  quadrado com 4 bidões vazios, um em cada canto, ligados entre si, e com dois  remos enormes para locomoção), convidou-me para dar um passeio no barco dele no Geba, ocasião que eu podia aproveitar para pescar se quisesse.

Não tinha visto o barco, mas como ele disse ter vindo nele de Bissau com alguns tripulantes "indígenas locais", e também que estava armado e  tinha meios de se defender, eu pensava que era um barco de tamanho razoável e teria com certeza alguém como  ajudante, empregado permanente. E aceitei logo o o convite, não sei mesmo se para o dia seguinte. Sei que para não ir só (isto foi antes de encontrar e conhecer o alferes  Henrique Matos, que esteve em Porto Gole mais tarde) disse a um dos soldados nativos para me acompanhar e que trouxesse com ele os dois "pescadores" da tabanca.

Estes tinham uma canoa (daquelas feitas dum tronco de árvore) e  vendiam-nos pescado quando havia. Por vezes porém não traziam nada - que "não havia peixe nenhum nesse dia" - antes de descobrimos mais tarde que a razão de em certos dias não haver peixe era porque propositadamente e de livre vontade ou porque a isso eram forçados o peixe desse dia tinha ficado nas mãos dos "turras" como eram na altura chamados os nossos oponentes no conflito.

No dia seguinte com o soldado nativo falado e os dois pescadores (que avisados pelo soldado nativo já tinham deixado a "rede de pesca"no cais - uma rede bem pequena, mas era o que tinham, disseram - , lá fui para o cais. Fiquei surpreso que o barco fosse tão pequeno e não houvesse mais ninguém com o velhote, nem sequer um nativo como  seu ajudante. Mas não quis dar parte de fraco: sempre era maior do que uma canoa e tinha um motor… a ideia de quebrar a monotonia com umas voltas pelo Geba era mesmo aliciante. E quem sabe, talvez voltasse com meia dúzia de peixes para o jantar.

E lá zarpamos Geba abaixo, aceitando como válidas as afirmações do "capitão" do barco que conhecia bem o Geba e ia a lugar onde havia sempre peixe. Quando a viagem me pareceu ficar mais longa do que eu antecipava (já navegávamos há uma hora e não via sinal de ele chegar ao tal lugar bom para pesca), disse-lhe que queria estar de volta em Porto Gole antes do cair da noite. Ao que ele acedeu imediatamente: que já estávamos perto, que o tal lugar era um pouco mais abaixo, mas que  ali mesmo já havia muito peixe; e parou o motor dando instruções aos pescadores para começarem a pescar…

Eles lá lançaram a tal rede e passados cerca de dez minutos disseram que não havia ali peixe nenhum. E eu disse ao capitão que o melhor era voltar e tentar lançar as redes um pouco mais acima, já no caminho de volta. Ele ligou o motor mas o motor parou  logo.

Tornou a ligar, uma e muitas vezes e nada: a rede tinha-se embrulhado na hélice, assim me explicou, e por mais que ele quisesse nada havia a fazer antes que a hélice estivesse livre; era preciso cortar a rede para a libertar. Disse a um dos pescadores para o fazer, mas este negou-se a saltar para a água. "que sabia nadar muito mal", e o outro disse-me a mesma coisa. O soldado nativo esse que não sabia nadar mesmo nada… Embora eu não fosse grande nadador (ainda hoje, apesar de mais tarde ter pago umas lições para aprender melhor a nadar, mal consigo nadar o comprimento duma piscina e quando o consigo fazer  chego sempre exausto e aflito), vi que não tinha outra solução senão deitar-me à água para cortar a rede.

Quando eu disse da minha intenção ficaram todos apavorados: "Alfero" não pode fazer isso!; que tínhamos que  que esperar que passasse barco dos fuzileiros e então eles nos rebocariam  até Porto Gole. Nem pensar nisso, pensei eu. Deus sabe quando é que um barco dos fuzileiros ia passar por ali… podiam ser dias antes que passasse um barco, de fuzileiros ou não; nós não tínhamos  água nem provisões.. e eu tinha dito ao pessoal em Porto Gole que estaria de volta antes de escurecer!…

E comecei a despir as calças para em cuecas me atirar à água.  Mas os pescadores começaram aos berros: "não, não altero, não pode mesmo alfero".  O capitão, esse não dizia nada, e eu ignorando as "teimosas súplicas" que eu não compreendia, atirei-me à água e comecei a cortar a rede da hélice, enquanto os dois pescadores com uma expressão de ansiedade, senão mesmo de terror, olhavam  à volta do barco, de trás para a  frente; eu atribuía essa ansiedade a que estavam a ver se a rede não saía muito danificada...

Finalmente  consegui cortar as cordas e libertar a hélice. Para surpresa minha os pescadores não se importaram nada com o reaver a rede; que não valia a pena e que arranjariam outra; mas pareceram  ter ficado  mais calmos quando me viram de novo dento do barco. Foi-me explicado mais tarde que naquele sítio havia " manga de jacarés"… mas a sorte esteve comigo nesse dia; talvez porque a maré estava a esvaziar rapidamente eles não andavam nas redondezas...;  aliás eu não estaria agora a lembrar agora essa tarde de pesca…

Depois de liberta a rede, o "capitão" pôs o motor em marcha e começávamos o regresso a Porto Gole; não demorou muito que o barco parasse outra vez: a maré tinha baixado e o fundo do barquito  bateu no lodo e não havia mesmo nada a fazer, senão esperar que a maré subisse outra vez. Fiquei apavorado, preso no meio do rio; depois de ter ouvido tantas histórias sobre o macaréu do Geba …Pois se os próprios barcos dos fuzileiros - assim  contavam - tinham por vezes de fazer manobras para se defenderem do macaréu, o que nos ia suceder a nós numa casquinha de noz?

E ali ficamos esperando, coração nas mãos… não me lembro se pedia ajuda aos santos ou não, mas acredito que o devo ter feito pois que me lembro de ter requerido o favor dos céus em outras ocasiões apertadas…

Quando esperávamos pelo tal macaréu que, esperançadamente sem nos virar o barco, trouxesse com ele água suficiente para prosseguir a volta, vi ao longe bem alto dois "bombardeiros" [T-6]  que regressavam a Bissau, depois de terem feito a "entrega do correio", como nós costumávamos dizer. Passaram por cima de nós e daí a pouco voltaram para trás, desta vez voando mais baixo na nossa direcção. Passaram  perto e depois voltaram outra vez, um atrás do outro…

"Mas que que é que estes malvados querem?" - pensei eu - …"Querem lá ver que pensam que somos terroristas?!... E como eles começassem a passar bem perto do barco, a uns escassos metros que me aterrorizavam - eu podia ver a cabeça deles como se estivessem a tentar ver o que estava dentro do barco - eu tentava fazê-los compreender quem éramos, eu pondo-me ao lado do  pobre velho capitão que tremia, mostrando-lhes a minha jaqueta e a minha G3 e com os dedos a fazer sinal sobre os meus ombros para que compreendessem que eu era um "oficial"…

Mas eles viam também os três outros, não brancos, e deviam estar pensar talvez que "éramos ou tínhamos passado para o lado deles" e não nos deixavam… revezavam-se, um atrás do outro… no momento em que um passava por nós o outro já estava a vir na nossa  direcção, pronto  a desfazerem-nos em bocados se o quisessem fazer a qualquer momento; e de repente apercebi-me  que "pescadores" se queriam  deitar à água  para fugir (pelos vistos sempre sabiam nadar!…), eu vi o caso perdido: se eles se deitassem à água então os pilotos concluíam imediatamente que éramos todos "terroristas"… e tive de lhes dizer que nem pensassem em se deitar à agua, pois se o fizessem eu espetava imediatamente um tiro em cada um… Foi a única vez que eu me lembro de ter  ameaçado alguém; e  se eles o tivessem feito …eu estava mesmo decidido a fazê-lo, que  a gente em tais situações nem sabe o que fazer nem pensar…

Depois lembrei-me de tentar fazer aos pilotos sinais de comunicações, fazendo com os dedos sinais de argolas e com gestos a apontarem a direcção de Porto Gole… eles devem ter compreendido:  um deles subiu bem alto e ficou a fazer círculos lá no alto por cima de nós, e o outro desapareceu na direcção de Porto Gole como eu tinha indicado. Passado um bom bocado voltou e junto com o outro foram-se embora os dois e nós continuamos no meio do rio.

Entretanto fez-se noite e nós esperando o macaréu… e, já escuro como breu, comecei a ouvir o ruído roncoso, mas não muito forte (era quase um sussurro) do macaréu que pouco a pouco se aproximava. Felizmente, talvez porque a maré não era uma maré viva, o macaréu era bem pequeno e passou por nós sem grande sobressalto, como sucede com os barcos nas praias  ao entrarem no mar.  E passados uns minutos, já com as águas calmas e suficiente calado recomeçamos a nossa volta.

Estava escuro, não se via um palmo à nossa volta e lá íamos andando, eu confiado na experiência do velho capitão para nos  fazer chegar a Porto Gole sãos e salvos. Mas as aventuras desse dia ainda não haviam acabado: eu sentei-me no chão, tentando refazer-me do susto dos aviões, quando de repente um dos pescadores sacudiu-me dizendo: "alfero, é bandido ... , manga de bandido"… Eu não via nem ouvia nada mas disse ao capitão para parar o motor imediatamente. E comecei depois a ouvir ao longe um ruído mas não fazia a mínima ideia do  que quer que fosse. O pescador então disse-me ao ouvido no seu crioulo/português mal falado, que aquela zona era um lugar onde os "turras" faziam cambança, passando armas, mantimentos etc. duma margem para a outra do rio e que eles estavam a "fazer cambaça".

Fiquei outra vez sem saber como me desenrascar; não fazia ideia se eram muitos ou poucos se estavam armados ou não… "O que é que eles vão fazer connosco se nos descobrem?" - pensei eu. Entanto lembrei-me que os fuzileiros de vez em quando faziam emboscadas  na aquelas redondezas e lhes caíam em cima durante estas "cambanças"… Se eu pudesse fazê-los suspeitar que tinham sido detectados, eles com certeza fugiam e nós  estávamos salvos… e se o pensei logo o pus em prática: cochichei que não fizessem um pio, e que quando eles estivessem perto a gente os pudesse começar a ver, eu gritaria "FOGO"!.. O capitão devia pôr o motor a trabalhar e bem alto e todos deviam berrar ao mesmo tempo, enquanto eu, depois de ter tirado o tapa-chamas da minha G3 faria tiro cadenciado, tentando imitar uma das metralhadoras pesadas dos fuzileiros.

E assim fizemos. Quando o barulho já estava perto e comecei a discernir um vulto duma jangada que deslizava na nossa direção, berrei e todos fizeram o que eu tinha dito: uma grande barafunda no nosso barquito com o motor a todo o vapor e o capitão disparando a sua pistola de bolso, - que era o que ele chamava "estar armado" - e o soldado nativo disparando a sua Mauser. A minha G3 fazia o seu trabalho e como era noite cerrada quem quer que fosse deve ter mesmo pensado que era emboscada de fuzileiros.

O que eu sei é que não se ouviu  nem mais um pio e passados uns minutos passou mesmo em frente ao nosso barquito uma jangada vazia levada ao sabor da  corrente. O factor surpresa tinha mesmo funcionado como eu tinha desejado.

Passada uma semana foi à nossa" enfermaria" para tratamento uma mulher balanta com uma ferida/rasgão numa coxa (como maneira de criar boa vontade entre a população nós dávamos alguma assistência em casos simples ao nosso alcance"). Foi-me depois contado que isso tinha sido resultado duma "emboscada de fuzileiro" no rio Geba: a história dela foi que estavam a fazer cambança de arroz; que fuzileiro pensou que era bandido e atacou; e eles para se safarem da emboscada de fuzileiro deitaram  tudo e todos ao rio; com a pressa a canoa voltou-se, quando ela já estava na água e apanhou-lhe a perna…

Quando cheguei finalmente ao destacamento estava tudo em pé de guerra, guardas duplas e toda a gente preparada para o que desse e viesse, esperando um ataque… e "ainda por cima eu ainda não tinha voltado e não sabiam nada de mim"...que um bombardeiro  os tinha contactado; que havia movimentos suspeitos no rio, e que eles tinham dito ao bombardeiro que o alferes tinha ido pescar mas ainda não tinha voltado…

Depois de umas duas horas achei que "o perigo" tinha passado; que não havia mais razão para alarme; que eu ficaria ainda mais uns tempos de pé, mas que as sentinelas passassem a ser simples (não dobradas) e que toda a gente devia voltar ao normal.

Isto é o que me lembro: se alguém do meu pelotão que estava lá e se lembrar disto, por favor contactem-me por e-mail - jcrisostomo@earthlink.net - para combinarmos falar pelo telefone ou mesmo pessoalmente se puder ser. Gostaria imenso de poder relembrar mais e falar desta tarde de aventuras (e de muita estupidez minha que poderia ter tido consequências graves) com alguém que porventura ainda se lembre disto.

Não tenho a certeza mas parece-me que quem estava lá comigo como furriéis eram o António Lopes, o Bonifácio (o "passarinho") e/ou o Farinha ou o Neiva, não me recordo qual, (que por uma razão ou outra por vezes havia mudanças temporárias)…

João Crisóstomo




Guiné > Mapa geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor: localidades da margem direita do Rio Geba por onde andou a CCAÇ 1439, e aqui assinaladas a zul: Porto Gole (destacamento), Enxalé (sede), Missirá (destacamento)... Mas também por onde passou, na margem esquerda (aquartelamentos assinalados a verde: Xime e Bambadinca). Finete, em frente a Bambadinca, na margem direita do rio Geba, era um destacamento de milícias, no regulado do Cuor.  

Até ao início de 1969, o PAICG controlava largamente as duas margens do Rio Corubal, entre a mata do Fiofioli e a foz do rio Corubal. Os pontos de cambança nos rios Corubal e Geba  eram absolutamente fundamentais para o abastecimento das regiões do Óio, Norte e Leste, a partir do sul (Quínara e Tombali). As colunas, apeadas, do PAIGC, para reabastecimento do norte, centro e leste da Guiné, a partir do "corredor de Guileje",  foram verdadeiras epopeias a que temos de render homenagem. A homenagem é a um povo extraordinária, capaz de enormes sacrifícios, como os guineenses. Do corredor de Guileje até à margem esquerda do rio Geba, as colunas podiam ser feitas em dois dias, com escolta!... LG

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017).
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Nota do editor

Último poste da série > 23 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16123: O segredo de... (28): Domingos Ramos e Mário Dias, dois camaradas e amigos da recruta e do 1º CSM (Bissau, 1959), que irão combater em lados opostos... No último trimestre de 1960, Domingos Ramos terá sido vítima do militarismo e racismo de um oficial português quando foi colocado no CIM de Bolama, como 1º cabo miliciano

terça-feira, 20 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (78): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

1. Duas mensagens, a primeira do nosso editor Luís Graça, com data de 13 do corrente; e outra, a resposta, enviada a 16 do corrente pelo  nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro,  ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália desde 16/1/2013, e agora também em Malta [foto, acima, de 2013; cortesia da RTC - Radiotelevisão Caboverdiana].

(i) Mensagem do nosso editor LG, com data de 13 do corrente, enviada a Manuel Amante da Rosa:

Assunto - Madeireiro "amgo" do PAIGC? Fausto Teixeira, deportado para a Guiné em 1925... Um barco dele é atacado no Rio Geba c. 1970.

Manuel: Como vais tu na "Roma eterna"? Com muitas saudades da "nossa terra, Cabo Verde", imagino!,,,

Preciso de um favor teu, mais um esforço de memória... Este homem, Fausto Teixeira,  foi contemporâneo do teu pai, era madeireiro, tinha barco(s) que fazia(m) o Geba... Ajudou o Luís Cabral a fugir para o Senegal...

Se achares conveniente, não te cito... Em todo o caso, não me parece que haja qualquer inconveniente... Era um "tuga", e possivelmente teria duas famílias, uma em Palmela e outra em Bafatá... No final dos anos 60, hospedava-se no Hotel Portugal e tinha uma companheira cabo-verdiana, muito mais nova do que ele, de nome Agostinha...

Esta história diz-te alguma coisa? Um xicoração... Luís

PS - Andamos a ajudar na exposição sobre o escritor Manuel Ferreira (1917-1998), autor de "Hora di Bai", contemporâneo do meu pai, Luís Henriques (1920-2012), em São Vicente, na II Guerra Mundial... Casou com a Orlanda Amarílis (1924-2014). Eram colegas do Liceu Gil Eanes, no Mindelo, em 1944. O Amílcar Cabral foi da turma da Orlanda...

(ii) Resposta do Manuel Amante da Rosa:

Data: 19 de junho de 2017 às 09:48

Assunto: Re: Madeireiro "amigo" do PAIGC? Fausto Teixeira, deportado para a Guiné em 1925... Um barco dele é atacado no Rio Geba c. 1970...

Meu caro Luís, estou numa reunião sobre as secas e desertificação. Novas abordagens!

Aproveito um "break" para te dizer o que ainda a minha memória não apagou.

Este Senhor, Fausto Teixeira, era uma figura distinta na Guiné. Um empedernido opositor ao regime de Salazar, por vezes incómodo, e permanentemente seguido pela PIDE/DGS.

Conheci-o através do meu Pai, de quem era amigo. De baixa estatura, conversador, rijo apesar da idade e pertinaz em todas as opiniões que proferia.

Era originário de Setúbal e teria sido deportado para Bissau em finais de 40 ou inícios de 50 do século passado.


Fonte: Anúncio comercial. In: "Revista de Turismo", jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné






O meu Pai [, António Amante Rosa, que em 1956 era comerciante, em Belim, Fulacunda, e mais tarde armador] comprou-lhe o último navio que ele levou para a Guiné nos inícios dos anos 70.

Registou o navio, um antigo "cacilheiro", com o nome de "O Amanhã". Nessa altura, [o Fausto Teixeira] estaria já nos seus 70 anos e denotava esperanças em tudo o que fazia ou dizia.

O meu Pai conservou o nome e ele fazia carreiras regulares para o Xime diariamente. Eu fiz muitas viagens nele, não só para o Xime como para os Bijagós.

Julgo que o Sr. Fausto terá vivido o seu amanhã com o 25 de Abril ainda na Guiné e terá morrido anos depois na sua terra natal. Aqui não estou bem precisado.

O meu abraço de sempre.
Manuel Amante da Rosa


2. Comentário de LG:

Caro dr. Manuel Amante da Rosa, meu caro Manuel: estou-te muito grato pela rápida resposta e pela tua partilha de memórias sobre a terra que te vou nascer e crescer... Afinal, o Fausto Teixeira era teu conhecido e era amigo do teu pai, com quem teve negócios....

Só um detalhe biográfico, se me permites: o Fausto Teixeira já estava na Guiné desde o final da I República, mais concretamente desde julho de 1925. Foi deportado, não pela Ditadura Militar / Estado Novo (1926-1974), mas pela República (1910-1926), sem julgamento, por suspeita de pertencer à temível "Legião Vermelha".

Esta organização revolucionária (para outros meramente terrorista...) era, ao que parece, de inspiração bolchevique (e não anarcossindicalista, que era então a corrente dominante no movimento operário português,  e na Confederação Geral do Trabalho, de vida curta: 1919-1927)... 

O fantasma da "rede bombista" da Legião Vermelha seria usado como arma de arremesso da propaganda salazarista, anos mais tarde...  [Vd. documentário da RTP disponível no You Tube].




"Parte da retórica estado-novista foi construída e mantida capitalizando o fantasma da Legião Vermelha, concentrando em si toda a ideia de desordem política e social da I República, como se vê n[este] cartaz, presumivelmente, saído do Secretariado de Propaganda Nacional nos anos 40".

Fonte: Pinto, Ana Catarina Simões Mendonça - A luta de classes em Portugal (1919:1926) : a esquerda republicana e o bloco radical. Lisboa:  RUN [Repositório da Universidade NOVA de Lisboá. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH). Departamento de HistóriaTeses de Doutoramento, 2015, p. 339 (Com a devida vénia...).
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Nota do editor:

Últmo poste da série > 18 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (84): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"


Foto nº 1 


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto  nº 2B

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem esquerda (do lado de Finete e Missirá)...

Parece que a grua do nosso tempo (novembro de 1969, a autogrua Galion)  terá sido substituída (?)... Ou então não aparece na foto... È possível que, com o aumento do tráfego fluvial, o porto de Bambadinca se tenha modernizadio em  termos de equipamentos... A grua, com cabine, era mais potente que a Galion (?)... Pelo menos parece ter um braço maior....


Foto nº 2 C


Foto nº 2 D

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem direita

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do extenso e valioso álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, com família do lado materno na Lourinhã (Miragaia e Marteleira), hoje bancário aposentado, cicloturista, o Luís Mourato Oliveira esteve na Guiné, em rendição individual de 1972 1974. Foi, portanto, um dos últimos "guerreiros do Império"... 

Foi, seguramente, o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão em agosto de 1974. Também visitava Bambadinca (a cujo batalhão estava adido) e Fá Mandinga e dava a devida importância aos convívios (entre militares e entre estes e a população).

Em meados de 1973 (por volta de julho), o Luís Mourtao Oliveira veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, para fazer formação específica antes de ir comandar, em agosto, o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá, subunidade que era composto maioritariamente por fulas. Enfim, terras que vários de  nós conheceram bem, do "alfero Cabral" ao Beja Santos, do Joaquim Mexia Alves ao Henrique Matos.

Recorde-se que a missão principal do destacamento do Mato Cão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. As condições de alojamento e segurança eram precárias.

Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime.

O Luís Mourato Oliveira conheceu os dois últimos batalhões de Bambadinca, o BART 3973 (1972/74) e o BCAÇ 4518/73 (que "fechou  a guerra").

Pelas fotos acima publicadas, fica-se com uma ideia da dimensão (e importância) do porto fluvial de Bambadinca que, a par do Xime, era o grande porto de entrada de abastecimentos do leste. O porto fluvial de Bambadinca eram sobretudo demandado pelas embarcações civis, fretadas pela Intendência. Os lendários e heróicos "barcos turras", como a tropa lhes chamava, que tinham passar por pontos sensíveis como a Ponta Varela e o Mato Cão, no Geba Estreito... . Na foto nº 2C são visíveis as amplas instalações (armazéns) do pelotão de intendência de Bambadinca.

Ao Xime aportavam sobretudo as LDG (Lanchas de Desembarque Grande) com homens e material (incluindo viaturas, armamento, equiamentos mais pesados, etc.) que depois seguiam a estrada (alcatroada) do leste que, no final da guerra, ia praticamente até à fronteira com a Guiné-Conacri: Xime, Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche, Buruntuma...
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Nota do editor:

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14943: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte IX: Os meus rios, Geba e Udunduma



Foto nº 1 > Setembro de 1969 > Rio Geba:  cambança entre Bambadinca e Finete (margem norte)


Foto nº 2 > Setembro de 1969 > Rio Geba:  cambança entre Bambadinca e Finete (margem norte)


 Foto nº 3 > Setembro de 1969 > Rio Geba:  cambança entre Bambadinca e Finete (margem norte)


 Foto nº 4 > Setembro de 1969 > Rio Geba:  cambança entre Bambadinca e Finete (margem norte)


 Foto nº 5 > s/d > Rio Udunduma, afluente do Rio Geba


Foto nº 6 > s/d > O alferes mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 2046, num "barco turra" (que fazia ligação Bambadinca-Bissau-Bambadinca)


Foto nº 7 > s/d > Ponte do Rio Geba, em Bafatá

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Continuação da publicação do magnífico  álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968/fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1913 e BCAÇ 2852) (*):

[foto atual à esquerda; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]




Quadro óleo s/ tela, 60 cm x 50 cm, a partir da foto  nº 4. tirada em Bambadinca. em setembro de 1969.  Autor:  Jaime Machado. (**)

Foto (e legenda): © Jaime Machado (2014). Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  22 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14914: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VIII: População: de Porto Brandão a Cansamba

(ªª)  Vd- poste de 7 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12943: Os nossos seres, saberes e lazeres (70): Pinturas a partir de fotos com mais de 40 anos (Jaime Machado)