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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4238: Blogpoesia (40): A tua última emboscada, irmão (José Brás)

1. Mais um belo texto do poemário do José Brás, alentejano, reformado da TAP, vivendo hoje em Montemor-O-Novo, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura) (*):




Irmão

de valor carecem
as palavras
que eu queira construir
sobre
o mistério grande
do teu corpo agora
inerte

tu que alongaste os dias
cruzando o mar
na memória
da voz quente
das cidades
nem ouves aquelas
à tua volta
sussurrando espantadas
sobre as glórias que tiveste
o costume do sorriso ou
simplesmente
a trivialidade da morte

da tua última emboscada
ninguém dirá
que a perdeste
ou que a ganhaste
se não é
ainda dado
a humano
ler na paz definitiva
que te vara o rosto
seguro é
nos companheiros
todos
da travessia
que por dentro de nós
fizeste
o futuro guardará
a palavra
irmão

José Brás

[Revisão / fixação de texto: L.G.] (**)
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

(**) Vd. a lista completa dos postes desta série (Blogpoesia):

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4112: Blogpoesia (37): Para fechar o dia dos poetas da guerra colonial, celebrado hoje, aqui e em Coimbra... (Alberto Branquinho)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)

30 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4100: Blogpoesia (34): Regressei um dia / lavando a alma na espuma das lágrimas... (António Graça de Abreu)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3672: Blogpoesia (28): O Menino Jesus chinês (António Graça de Abreu)

25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)

11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3178: Blogpoesia (24): A minha pequenez é que era uma tristeza (Rui A. Ferreira)

4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).

[Por lapso, houve um salto na numeração, de 10 para 22]

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2589: Blogpoesia (9): Sangue derramado (José Manuel, Mampatá, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

7 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro

16 de Outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

23 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2125: Blogpoesia (4) : A morte do pássaro de areia (Luís Graça)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador ? Mineiro ? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)

18 de Julho de 2007 > Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P3003: Blogoterapia (58): Que o País os beije antes de os deitar fora, e lhes peça desculpa (António Lobo Antunes / A. Graça de Abreu)


Reprodução da capa da edição do semanário Visão, de 27 de Setembro de 2007, em que o escritor António Lobo Antunes deu uma notável entrevista a Sara Bela Luís sobre "A Vida Depois do Cancro".

Fonte: Cortesia de Site Não Oficial sobre António Lobo Antunes (2008)

1. Mensagem do António Graça de Abreu, também escritor, tradutor e investigador, e nosso prezado amigo e camarada, com data de 20 de Junho:


Que o País os beije antes de os deitar fora, e lhes peça desculpa
por António Lobo Antunes/ António Graça de Abreu

Caríssimos tertulianos, camaradas e amigos:

António Lobo Antunes, enorme escritor, foi alferes médico no leste e centro de Angola, de 1971 a 1973 (1). Na sua crónica na revista Visão, ontem, quinta feira, a 19 de Junho de 2008, escreve:

(…) Todos os anos a minha companhia lá da guerra faz um almoço com os que sobejam da miséria em que andámos. Não neste último almoço, no penúltimo, o furriel Firmino Alves começou a anotar os telemóveis dos nossos camaradas para os contactos da refeição seguinte, até que chegou ao Pontinha. Pontinha é a alcunha do ordenança da messe de oficiais, que morava na Pontinha. Como a cabeça dele era grande (continua a ser grande), chamavam-lhe também Porta-aviões, porque dava para os aviões aterrarem.

O Pontinha, como muitos dos soldados, vive com dificuldades. Ao fim de semana engraxa sapatos para equilibrar o orçamento.
(…) Falar dos meus camaradas comove-me: a expressão irmãos de armas é tão verdade. Enquanto nos aguentamos por cá. Mesmo depois. Zé Jorge, continuamos irmãos de armas. Cabo Sota: admiro a tua coragem até ao fundo da alma. Sozinho com a Breda, uma metralhadorzeca, aguentou um ataque. E vive mal, percebem? Como se deixa viver mal um herói? Ao acompanhá-lo ao táxi em que voltava, doente, ao Alentejo, avisei o condutor:
- Você leva aí um grande homem, sabia, um dos maiores homens que conheço

e, como todos os grandes homens da guerra, de uma infinita modéstia, bondoso, sereno. Não lhe chego aos calcanhares. Cabo Sota, tu mereces a continência de um general. O Zé Luís, oficial de operações especiais que em matéria de coragem não necessitava de aprender com ninguém:
- Eram duros

expressão que constitui para nós o supremo elogio. Adiante. Contava eu que o furriel Firmino Alves anotava os telemóveis até que chegou ao Pontinha e como fizera com os outros perguntou:
- Tens um telemóvel, Pontinha?

E o Pontinha logo a mostrar serviço:
-Não, mas a minha mulher tem um microondas.


(…) Boaventura, Nini, Licínio, vocês todos, caramba, como a gente somos irmãos. Unamuno, que muito respeito, tem páginas admiráveis sobre a valentia dos portugueses. Tens razão, Zé Luís, eram duros. Ganas de explicar às mulheres deles, aos filhos deles, o orgulho que tenho em ser amigo dos pais, em que os pais sejam meus amigos. Não: irmãos de armas. Não: irmãos. E bons como o pão. Ao lado disto que maior elogio se pode fazer? Ao menos que o País o beije antes de os deitar fora e lhes peça desculpa. E há mais anjos para além dos padeiros, de arma nas unhas mata fora. Nenhum deles é banqueiro, claro. Nem administrador. Nenhum deles joga golfe. Jogaram golfe num campo de um só buraco onde não é a bola que cai. É um rapaz de vinte anos.

E acabo aqui, antes que seja tarde para marcar o número de um microondas.


Camaradas de Portugal e da Guiné, depois de ler este texto, duas grossas lágrimas correram-me pelo rosto. Que o nosso País nos “beije antes de nos deitar fora e nos peça desculpa”. Que a vossa Guiné-Bissau vos beije também, “antes de vos deitar fora e vos peça desculpa.”

Sem complexos nem traumas de colonialista, sem complexos, sem traumas de colonizado, vamos ler outra vez o texto do António Lobo Antunes.

Depois, vamos adormecer em paz.

Um abraço,
António Graça de Abreu
S. Miguel de Alcainça,

20 de Junho de 2008
Ano do Rato
______

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes de:

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)

9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)

23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2205: Humor de caserna (1): A sopa nossa de cada dia nos dai hoje (Luís Graça / António Lobo Antunes)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

1. Mensagem do Hugo Guerra (ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, na reforma, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (1):

Caros Camaradas:

Que comece um bom ano para todos nós, são os meus votos.

Estou a escrever só para pedir que façam uma importante correcção no meu currículo da Guiné (1).

Em São Domingos o meu Pel Caç Nat era o 60 (e não 50, como erradamente indiquei). As minhas desculpas a todos, especialmente ao pessoal dos Pelotões visados.

À pala desta minha incorporação no blogue já comecei a receber telefonemas e emails de malta que já não vejo há 38 anos…. E a sensação é óptima. Vamos ver se este ano dou a volta por cima e começo a conviver.

Já agora uma pergunta com água no bico.

A Guerra na Guiné não tinha Comandantes de Companhia, Batalhão, Sector etc? Ou foi só mastigada pela rapaziada miliciana, desde soldados a alferes?

Esses senhores não estavam lá ou querem continuar a desenfiar-se como quase sempre fizeram? (2)

Salvo as honrosas excepções dos nossos 3-4? Tertulianos que eram Capitães na altura, os demais continuam a enviar pra frente, agora da Net, dois Pelotões para evitar as idas pró mato, como faziam lá???

Só a partir de 3 Pelotões era moralmente obrigatória a chefia do Comandante de Companhia, salvo erro…..

Um abraço e até um dia destes

Hugo Guerra
_______________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts do Hugo Guerra:

22 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(2) Do ponto de vista estatístico pode-se dizer que os oficiais superiores, na reforma, sobretudo do Exército, estão bem representados no nosso blogue... Mas poucos são os que, com a patente de capitão para cima, dão hoje a cara... Parabéns aos que são a excepção e que nos honram com a sua presença... E aproveito para sublinhar, mais uma vez, que a nossa Tabanca Grande não tem arame farpado nem porta de armas (nem, muito menos, messe de oficiais, messe de sargentos e refeitório de praças).

Há duas explicações para este fenónemo da ausência dos nossos antigos comandantes na nossa Tabanca Grande:

(i) há um problema geracional: em geral os capitões do QP, no meu tempo (1969/71), eram mais velhos cerca de 15 anos, do que os seus soldados, furriéis e alferes milicianos; isso pode torná-los, por exemplo, menos à vontade para chegar à Internet e a um blogue como o nosso; claro que há excepções: cito, a título de mero exemplo, o nosso saudoso capitão, na reforma, Zé Neto (1927-2006);

(ii) a ideologia (elitista) da corporação: os oficiais da Academia foram formatados de acordo com o figurino da segregação sócio-espacial... A palavra camarada não cola bem na pele de um oficial do QP, e sobretudo de um oficial superior, a menos que a sua origem não seja a Academia Militar (como era o acso do Zé Neto, ou dos oficiais superiores que vieram de milicianos, como o A. Marques Lopes ou o Hugo Guerra, por exemplo)... Claro, há as honrosas excepções, no nosso blogue (não preciso de citar nomes);

(iii) há um pudor imenso em falar, publicamente, de uma guerra tão longa e dolorosa como esta, que implicou também para os militares de carreira (oficiais e sargentos) pesados sacrifícios, a nível de saúde, de qualidade de vida pessoal e familiar... É bom não esquecer isso... A este propósito leia-se o post do nosso camarada
Pedro Lauret, Capitão de Mar e Guerra, na reforma, antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73):

13 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)
(...) Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961, ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.

A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.

Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.

A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique (...).

(...) Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné. (...)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2267: Inquérito online: O que é um camarada



Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

1. Dos editores do blogue:

Assunto - Sondagem (semanal):

Concordas ou discordas da definição de camarada que dá o António Lobo Antunes (médico, psiquiatra, escritor e ex-alferes miliciano médico, em Angola, no leste, em 1971/73) ?

"Camarada não é bem irmão, amigo, companheiro, cúmplice... é uma mistura disto tudo com raiva, esperança, desespero, medo, alegria, revolta, coragem, indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (António Lobo Antunes, 2007) (*)

Período de votação: de 8/10 a 14/10/2007.

Escolhe uma das cinco respostas possíveis (na coluna do lado esquerdo da página principal do blogue):


Discordo totalmente (1)
Discordo (2)
Não sei / Não discordo nem concordo (3)
Concordo (4)
Concordo totalmente (5).

Houve 70 respostas válidas. A grande maioria dos respondentes (87%) concorda ou concorda totalmente com a belíssima definição do António Lobo Antunes.

3. Primeiros comentários dos nossos camaradas:


(i) J. L. Vacas de Carvalho:

Claro que concordo. Nunca uma definição de camarada, como nós a entendemos, foi tão bem descrita. E ainda hoje, 35 anos depois, sinto exactamente isso. Poderá não ser uma lágrima, mas é um abraço, poderá não ser uma revolta, mas é uma recordação, poderá não ser um desespero, mas é uma amizade. Para todos a minha camaradagem. Zé Luís.


(ii) Joaquim Mexia Alves:

Também eu concordo. E acrescento, (se é possível acrescentar ainda mais), é uma entrega: Confio-te a minha vida, e tu confias-me a tua!
Abraço camarada do



Joaquim Mexia Alves

(iii) Torcato Mendonça:

Camaradas: CONCORDO! Gostei das respostas do Vacas de Carvalho e do Mexia Alves. Quando vi, já noite dentro, o post, ia responder. Cansado, entreguei-me a Morfeu. No outro dia escrevi quatro folhas de A5. Abuso e não passei à tecla. Talvez um dia vire escrito...tem a ver, também, com a beleza e qualidade dos escritos e temas do Blogue, nas semanas que estive fora. Foram lidos e digeridos qual ruminante.

Esta definição é, quanto a mim, a cereja em cima do bolo. Sublime. Tenho a crónica do Hospital colada no Livro D'Este Viver... e esta já a colei No Meu Nome É Legião.

Transformou-se o Lobo Antunes; entende melhor quem sofre, sabe hoje a infinidade de uma noite num hospital e, na entrevista ora dada, abre-se...bem eu gosto de o ler. Não devo é escrever e chatear com uma tão longa e parva resposta. Basta dizer – CONCORDO!
Abraços Camaradas do, Torcato Mendonça



(iv) Paulo Santiago:
Numa destas quintas-feiras à tarde (compro a Visão no Sábado) uma amiga,disse-me:
- Vem uma crónica do Lobo Antunes a falar de ti e dos teus amigos.

Achei estranho,acabando por comprar a Visão com antecedência de dois dias. Fiquei tocado com aquela definição de camarada, é tudo aquilo que penso mas, não saberia descrevê-la com aquela simplicidade do autor de Fado Alexandrino.

Tal como o Zé, também me isolei, nos últimos meses de comissão, em Contabane, escapando-me às bravatas do tonto do Lourenço.
Um abraço de amizade e camaradagem
Santiago

_____________

Nota dos editores:

(*) Vd. post de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)

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Visão, 4 de Outubro de 2007 > Crónica do António Lobo Antunes (com a devida vénia à revista e ao autor...).

Imagem digitalizada por Zé Teixeira. Alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem, com data de 5 de Outubro de 2007, enviada pelo nosso querido amigo e camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70), actualmente residente em Matosinhos, bancário, reformado:

Caríssimos editores

Na revista Visão desta semana vem este extraordinário artigo sobre a morte de um camarada que o escritor António Lobo Antunes escreveu (1).

Creio que com a devida vénia merece ser dado a conhecer a todos os antigos camaradas.

Devo dizer que quem mo trouxe foi o meu filho, com o seguinte comentário:
-Trago-te um artigo sobre a morte de um antigo combatente que me fez chorar (2) (3).

Bom fim de semana

J. Teixeira
Esquilo Sorridente
__________

Nota dos editores:

(1) Vd. post 6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)
(2) O escritor reencontrou os seus camaradas do Leste de Angola 34 anos depois do regresso a Lisboa. Nesse espaço de tempo, morreu um dos seus grandes amigos desse, o coronel Melo Antunes (1933-1999).
Vd. o seguinte recorte de imprensa:

António Lobo Antunes reencontra camaradas de há 34 anos
Ana Vitória
Jornal de Notícias, 19 de Novembro de 2005
"Estes são mais que meus amigos. São meus camaradas". Visivelmente emocionado, o escritor António Lobo Antunes abraçou, um a um, chamando-os pelos nomes, cada um dos seus companheiros da comissão de serviço militar obrigatório que desempenhou em Angola, entre Janeiro de 1971 e Março de 1973. Há 34 anos que não via muitos deles. Ontem, juntaram-se todos na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, a mesma de onde, há 34 anos, partiram, a bordo do navio Vera Cruz para a Guerra Colonial.
O momento do encontro, carregado de emoção e com lágrimas mal contidas, teve como pretexto o lançamento de "D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas da guerra", uma compilação das cartas que António Lobo Antunes, quase diariamente, escreveu na época à sua mulher que ficara em Lisboa.
"Temos todos uma ligação muito forte. Só quem passou por aquilo pode compreender. Partilhamos muita solidão, muito sofrimento, muitos silêncios - e muito medo. Por isso o que nos liga a todos é indestrutível. Este livro é também uma homenagem a cada um dos meus camaradas. Aos vivos que aqui vieram, e aos que já não estão entre nós", disse António Lobo Antunes.
Muitos dos camaradas de guerra que ontem o acompanharam no lançamento do livro, organizado pelas duas filhas do escritor, Maria José e Joana Lobo Antunes, pisaram pela segunda vez o átrio da Gare Marítima de Alcântara. "Só estive aqui há 34 anos, quando parti para Angola e isto era um mar de gente com lenços brancos e lágrimas a despedir-se de nós; e a agora, para o lançamento do livro. Ainda estou um bocado atordoado. Voltar aqui é como reabrir as feridas que a guerra, de uma maneira ou de outra deixou em todos nós, mesmo nos que por ela passaram sem serem feridos". As palavras são de Luís Oliveira, que se tornou conhecido em Angola como o Pontinha (porque morou lá perto) e que ontem mereceu particular atenção por parte do "senhor Dr. Lobo Antunes", que insistentemente reclamava a sua presença.
"Na tropa acabei por ser cozinheiro. Era eu que preparava as refeições do senhor Dr. Cozinhava-lhe uns petiscos, tirava-lhe as espinhas do peixe. Deixava o prato impecável, como ele gostava. Levava uma hora a comer a sopa e hora e meia a saborear o conduto. Sabia que ele escrevia mas nunca nenhum de nós leu esses escritos".
Nestas "Cartas da guerra" agora editadas, como sublinhou João Paixão, da editora Dom Quixote, o que perpassa de uma forma mais marcante é "a força dos silêncios e das ausências". E como diria a filha do escritor, Maria José, "publicar estas cartas é recusar o esquecimento".

(3) Para saberes mais sobre o escritor e o homem:
Blogue Orgia Literária > Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes
Portal da Literatura > António Lobo Antunes (n. 1942)
Site não oficial sobre António Lobo Antunes > Biografia
Wikipédia > António Lobo Antunes

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P792: Todos camaradas, mas uns mais do que outros? A propósito do assassínio de Amílcar Cabral (João Tunes)

Texto de João Tunes, de 23 de Maio último:

Caro Luís,

Julgo que a lista dos fuzilados pelo PAIGC que lutaram, ao nosso lado, pelo Portugal do Minho a Timor, não se deve esgotar nos actos pós-independência.

Porque os crimes contra a humanidade nunca prescrevem. Houve mais fuzilados pelo PAIGC sem julgamento decente. E, na minha opinião, eles devem entrar na lista que porfiamos em recordar para memória futura e homenagem retroactiva.

Em 1973, os mandos de Portugal (comando militar e PIDE) conseguiram o feito de assassinarem Amílcar Cabral, o turra-mor. Foi uma operação urdida com sucesso (ao contrário da Operação Mar Verde). Nesta operação, a PIDE conseguiu infiltrar o PAIGC e explorando os ressentimentos de alguns combatentes guineenses contra os seus camaradas caboverdianos, levou a bom termo a sua missão: Amílcar caiu em Conacri, fuzilado sem julgamento e pelas balas de combatentes ressentidos, preparados e pagos pela PIDE ao serviço de Portugal.

E só por uma unha negra, o sucessor de Amílcar, Aristides Pereira, não foi entregue em Bissau, então nossa, provavelmente para o competente e juridicamente assistido julgamento. Amílcar Cabral foi assassinado mas daí pouco se passou. Nada mau, como saldo. Acontece que os nossos aliados, os nossos infiltrados, ao nosso serviço, ao serviço de Portugal do Minho a Timor, nossos camaradas portanto, falhado o clímax da operação (a liquidação de todos os caboverdianos, o controlo do PAIGC pela facção guineense e a sua integração na Guiné Melhor), foram apanhados pelo aparelho de segurança interna do PAIGC e fuzilados (sem julgamento). Terão sido 50 (cinquenta) esses nossos camaradas em missão de infiltração e aniquilamento que caíram sob as balas da justiça revolucionária, iníqua porquanto não precedida de julgamento segundo as regras da civilização cristã e ocidental que espalhámos pelas sete partidas.

Segundo depoimento de Mário Pinto de Andrade (que, em tempos, publique no meu blogue) terá sido Vasco Cabral (dirigente do PAIGC e homem de Estado da Guiné-Bissau, falecido há pouco tempo e que não era caboverdiano nem familiar de Amílcar) que investigou a conspiração, a desmantelou e depois assassinou todos esses nossos queridos e saudosos camaradas. No mínimo, seria injusto não lhes recordar, pelo menos, os nomes e a missão em que tombaram.

Julgo de elementar justiça que os nomes destes nossos 50 camaradas fuzilados sem julgamento (talvez o Leopoldo, o Jorge e o Pepe nos ajudem a encontrar a lista dos seus nomes), renegados do PAIGC mas combatentes por Portugal, se juntem, na mesma homenagem e recordação, à lista dos comandos, outros militares, milícias e agentes e informadores da Pide caídos em fuzilamentos selvagens na pós-independência às mãos dos mesmíssimos facínoras e gente com aversão a julgamentos juridicamente assistidos.

Ou uns são mais camaradas que outros? Por mim, nem pensar.

Abraços com saudações patrióticas do
João Tunes