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segunda-feira, 2 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18801: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXVII: Mascate, sultanato de Omã, onde a água pode ser mais cara do que o petróleo...




Muscat (ou Mascate, sultanato de Omã ) > A grande mesquita, mandada construir pelo sultão Qaboos bin Said Al Said (n. 1940)



Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu(2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu.

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 220 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e
Pedro. Vive no concelho de Cascais. Deu recentemente, em 20 de junho passado,  uma longa entrevista (c. meia hora) ao canal Sporting TV, programa Conversas na Lua, sobre a sua história de vida, a sua obra literária e a sua "relação especial" com a China e a cultura chinesa. Vd. aqui o vídeo em You Tube > Sporting Clube de Portugal.

Hai Yuan e António Graça de Abreu

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias" (*)

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimamos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vi) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(vii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29/10/2016, à cidade de Melbourne, Austrália; visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e a esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(viii) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);  Phuket, Tailândia (12-13 de novembro); Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

(ix) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estão em Goa, seguindo depois para Bombaím (20 e 21 de novembro de 2016);

(x) com 2 meses e 20 dias, depois da Índia, os nossos viajantes estão Dubai, Emiratos Árabes Unidos, passando Muscat, o sultanato de Omã, em data que já não podemos precisar, de qualquer modo já estamos em finais de novembro ou já  princípios de em dezembro de 2016; a viagem vai terminar em Roma.


Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Muscat, sultanato de Omã [s/d, finais de novembro de 2016] (pp. 17-19], da terceira e última Parte]


O António, tendo atrás o forte de Muttrah
Muscat, sultanato de Omã

Desde o mar, vários fortes, tipo castelo, plantados em montes escalavrados, pontilham o horizonte quase circular da baía de Muscat. Foram construídos em finais do século XVI pelos inevitáveis portugueses, aquela gente aventureira e doida de quem herdei o sangue e que um dia resolveu ir lavrar o mar, e deixar na vastidão do mundo um padrão, uma cruz, um pendão soluçante.

O forte de Muttrah, assim como os outros próximos, de nome Al Marani e Al Jalali (São João) - estes dois agora encaixados nos espaços de um dos palácios do sultão de Omã -, estão impecavelmente restaurados e conservados. Todos fechados ao público, o forte de Muttrah funciona ainda hoje como instalação militar e, no alto, é bem visível uma bateria de modernos canhões apontados à entrada da baía.

Muscat [, em português, Mascate]foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1507 e desde então funcionou como um lugar estratégico para os portugueses nas rotas entre a Índia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. Hoje, este sultanato de Omã, três vezes maior do que Portugal, conta com 4,5 milhões de habitantes, metade dos quais são imigrantes, muitos deles sazonais.

A maior parte do território estende-se por inóspitos desertos aparentemente esquecidos. Mas é aí, sob milhões de toneladas de areia, que descansam imensas jazidas de petróleo e gás natural, o ouro vermelho escuro e os hidrocarbonetos incolores que enchem de dólares os cofres do sultanato. 

O sultão Qaboos bin Said Al Said está no poder desde 1970, é senhor de uma enorme fortuna, tem já setenta e seis anos de idade, mas aparece em fotografias espalhadas por tudo quanto é sítio aparentando uns quarenta [, foto à direita]. Possui três palácios na Europa, em Marbella, Espanha, na Inglaterra e na Alemanha. 

No porto de Muttrah, Muscat, em frente ao nosso Costa, estão ancorados três grandes iates que lhe pertencem e dizem-me que tem mais dois navios para se passear, atracados noutros portos de Omã. Conta também com sete palácios no sultanato, onde reside alternadamente, saltitando de um para outro. Ninguém costuma saber exactamente em que palácio se encontra o sultão que, só de longe em longe, se dá à vista de quem quer que seja, mas que me dizem ser um benemérito para o seu povo, estimado pela maioria dos omanis, os cidadãos do sultanato. 

Nos quarenta e sete anos de poder do sultão Qaboos, o território de Omã mudou muito. No passado, eram conhecido como entreposto de escravos, terra de pescadores e plataforma de venda de armas brancas, sobretudo adagas, punhais e cimitarras de variados tamanhos, e de eficácia garantida, comprovada. A descoberta do petróleo em 1964 veio alterar, por completo, o estatuto e as realidades de Omã. O actual sultão - quando jovem educado em Inglaterra e na Alemanha -, tem acompanhado inteligentemente o crescimento da região, retirando daí os benefícios a que acha ter direito e, com tantos dólares a inundarem-lhe os palácios e os iates, melhora também as condições de vida da população.

Muscat, que cresceu, a partir de Muttrah neste espaço da baía, vive do turismo e dos pequenos negócios. Recomendo a ida ao souk, o mercado e zona comercial, não muito diferente dos souks de outros países árabes, onde se vende de tudo, de ouro a babuchas, de especiarias às adagas, de perfumes aos estilizados vestidos de seda, mais toneladas de quinquilharia, a preços baratos. E como são vaidosas algumas mulheres muçulmanas! Sob o niqab negro, a túnica que lhes cobre todo o corpo, excepto a fresta dos olhos, usam roupa de costureiros franceses, à venda também neste souk, garante-me o guia local.

Por detrás da baía e dos montes de pedra acastanhada, que delimitam Muttrah, a sul e a oeste, abre-se a grande Muscat com quase um milhão de habitantes. Partimos em busca da maior mesquita do sultanato de Omã, a uns quinze quilómetros de distância. Trata-se de um conjunto arquitectónico recentemente concluído, com uma torre e quatro minaretes, pouco capaz de encher o olho ao turista em viagem mas que será, por certo, um excelente lugar para os muçulmanos rezarem a Maomé e pedirem as generosas bênçãos de Alá. 

Atravessamos a zona dos ministérios e vastos complexos habitacionais, mais uma zona de stands de automóveis, Porsches, BMWs, Bentleys, Rolls-Royce. O dinheiro do petróleo, e dos subsequentes negócios, dá para dez mil extravagâncias. Mais adiante, deparamo-nos com uma instalação enorme onde se procede à dessalinização da água do ar. Enormes depósitos guardam a, agora, água doce. A propósito, dizem-me que em Muscat chove em média cinco dias por ano, apenas em Dezembro e Janeiro, por isso a água, fundamental para todas as vidas, pode ser mais cara do que o petróleo.

(Continua)

terça-feira, 19 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18755: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXVII: Dubai, Emiratos Árabes Unidos, os luxos que os petrodólares permitem...



Itália > Veneza >  Terminal de Cruzeiros > 9 de junho de 2018 > O Costa Luminosa (construído em 2007-2009 em Itália, nos estaleiros de Fincantieri - Cantieri Navali Italiani, nas instalações de Marghera, 92, 6 mil toneladas brutas , 294 m de comprimento, 32,25 m de largura, 21,6 nós de
velocidade de cruzeiro, 2826 passageiros, 1050 tripulantes, 14 andares, pavilhão italiano) visto do MSC Poesia (construído em 2006-2008, em França,  nos estaleiros de Saint Nazaire, 92,6 toneladas brutas,  c. 294 m de comprimento, 32,2 m de largura, c. 60 m de altura, 21,6 nós de velocidade de cruzeiro, 3223 passageiros, 1039 tripulantes, 16 andares, 13 para hóspedes, pavilhão do Panamá) no momento da partida do nosso editor, Luís Graça, para um cruzeiro pelo mar Adriático e pelo mar Egeu, de 8 a 17 de junho de 2018, que o levou de Veneza a Bari (Itália), Katakolon (Grécia),   Mykonos (Grécia), Pireu / Atenas (Grécia), Sarande / Butrint (Albânia), Dubrovnik (Croácia) e Veneza (Itália)...

Estes gigantes do mar são 10 vezes maiores do que os nossos T/T Niassa e Uíge onde fizemos os... "cruzeiros da nossa vida" (Lisboa-Bissau e Bissau-Lisboa, entre 1961 e 1974). São navios para custaram c. 450/500 milhões de euros... E a sua "peugada ecológica" é enorme... Estão a matar Veneza e todo o Mediterrâneo, o "mare nostrum" que foi o berço da nossa civilização... Eu já posso dizer que sobrevivi a um destes "cruzeiros", com cinismo e falta de pudor... Ao meu lado, a tragédia que não pára dos refugiados de África e do Médio Oriente... Atenas tem 150 mil negros, diz a guia que me levou à Acrópole e que não esconde o seu ressabiamento em relação aos europeus de carteira grossa e aos tecnocratas sem alma de Bruxelas...

Veneza "afunda-se", física e simbolicamnente, com 30 milhões de turistas /ano... A "gentrificação" da cidade (18 mil euros o metro quadrado uma casinha com 3 ou 4 séculos, em ruínas)... e a massificação do turismo estão a gerar protestos dos 40 mil habitantes que ainda resistem, nesta antiga "república dos castores", como lhe chamou Goethe em 1786... Mas o turismo é o "pão para a boca" de muita gente: 14% do PIB da Itália, o nosso "petróleo branco", diz.me a guia veneziana, num português impecável...

Mas o que farão estes "gigantes do  mar" sem Veneza ou sem a "pérola do Adriático" que é o Dubrovnik que sofre os mesmos problemas ? Por enquanto há milhões de asiáticos, africanos e sul-americanos (, muito brasileiros!) a trabalhar 12/14 horas por dia em troca de um punhado de dólares... nestes "luna-parques" marítimos que são os cruzeiros... agora democratizados!... Há cruzeiros, a prestações e para quase todas as bolsas!... (LG)


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 1



Foto nº 4



Foto nº 6


Dubai, Emiratos Árabes Unidos > Novembro de 2016 

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Dubai,  s/d [novembro de 2016] (pp. 12-17], da terceira e última Parte)



Oceano Índico

Levamos dois meses e vinte dias de viagem. Tanto mar, a singularidade de tanta terra, a habituação e o cansaço de vivermos durante meses e meses num navio, rasgando as águas dos mares do mundo. Não faço muitos amigos dentro do Costa, há a Rosa e o Paulo, um excelente casal de Curitiba, Brasil, os jantares sempre entusiasmantes na mesma mesa com a Isabel e o Jorge, meus quase vizinhos na Parede, Cascais. E pouco mais, com o avançar dos anos sou cada vez menos sociável, converso mais com o sol poente [Foto nº 1] e com os livros do que com as pessoas. Valem sobretudo os lugares visitados, as estadas sempre céleres nos cem recantos de quatro continentes, a imersão possível/impossível nestas terras, tentar compreender onde estou, fincar os pés em estranhos solos, e caminhar.

No Costa, depois daquela tremenda epidemia de gripe, ainda há gente a tossir e a pôr uma velinha no altar a Nossa Senhora de Fátima, na capela do navio, pedindo um feliz regresso a casa. Temos um padre católico italiano que acompanha a viagem e todos os dias diz missa. Lá vai ajudando, levando mais umas tantas almas ao Céu.

O Oceano Índico é outro mar imenso que nos limitamos a bordejar, desde o sudoeste da Austrália. Tem estado pacífico. Gostaria muito de o cruzar num grande veleiro, com bom mar, das costas de Moçambique às Seychelles, de Zanzibar às Maldivas, de Java a Madagáscar. Tudo ideias para próximas reencarnações.


Dubai, Emiratos Árabes Unidos
Foto nº 2


Já conhecia o Dubai mas esta segunda estadia não teve muito a ver com o déjà vue. Resolvi avançar para o que havia ficado por concretizar em Setembro de 2014 quando, chegado da China no voo dos Emirates, fiz escala durante 24 horas e dormi uma noite nos anexos desta megalómana cidade. [Foto nº 2]

Desta vez, com tempo, meti-me em cavalarias mais ou menos elevadas, indo a reboque de um grupo de gente endinheirada e fui gastar quase 200 dólares US, oferecendo à minha companheira e a mim próprio, um sumptuoso almoço no hotel de sete estrelas Burq Al-Arab, mais a subida ao Burq Al-Kalifa, o edifício mais alto do mundo, ambos ex-libris da cidade do Dubai-

O hotel, Bur Al-Arab, concluído em 1999, tem todas as semelhanças com a torre – também hoje hotel --, que temos em Lisboa na zona da Expo 98, lembrando a grande vela de uma nau ao vento. Assente numa ilhota conquistada ao mar, o Burq Al-Arab, com 321 metros de altura é um exemplo refinado de bom gosto, à mistura com lampejos faiscantes do inevitável novo-riquismo que abunda no Dubai. À entrada, temos escadas rolantes ladeadas por dois enormes aquários com inúmeros peixes, peixinhos e peixões, para todos os gostos, cores e formatos. Até tubarões têm. Entre as escadas, dança um conjunto de repuxos saltitantes. Este átrio interior do hotel alcança, numa espiral, os 180 metros de altura. Nas paredes do cone do edifício estão encastrados os quartos de hóspedes, todos, do outro lado, voltados para as praias e para o mar. Custam apenas a pequenez monetária de 1.900 euros por noite, mas explicam-me que estou no mais luxuoso hotel do mundo. Tive pena de não ter ficado numa dessas suites de conforto e prazer, e de, após a dança do ventre, adormecer como um abastado sultão num leito de penas e perfumes. Ficará para próxima ocasião.

Voltas e mais voltas por shoppings e malls, mais a Dubai Marina com arranha-céus sempre a crescer, uma mesquita, e eis-me finalmente no Burq Al-Khalifa, cá em baixo com um lago onde as águas dançam ao sabor da música. Com 828 metros de altura e 163 andares é o edifício mais alto alguma vez construído ao de cima da terra. Um elevador pressurizado, que sobe a dez metros por segundo, leva-me num ápice até ao 124º. andar, a quase 600 metros do solo. São seis da tarde, a noite cai e a luz natural começa a ser substituída pela incandescência crescente da progressiva iluminação da cidade. Cintilam os arranha-céus em volta, faíscam as ruas e avenidas, os milhares de habitações espalhadas por um vasto horizonte circular. Fantástico o horizonte, a contemplar do cimo da mais elevada torre do globo. A noite está límpida, de um lado, a orla sombreada do mar, do outro, a escuridão dos desertos, no meio, para norte e para sul, uma imensa cidade na mescla das cores e luzes do anoitecer. []Foto nº 4]

No alto do Burq-Al-Khaifa quase podemos tocar a cidade com a mão, mas nem tudo serão rosas de jardim ou flores do deserto nos lares de cada um, em edifícios gigantescos que entram por dentro do céu junto a mares embevecidos de cristal. Mais de 80% da população do território é estrangeira, com imensos contingentes de indianos, paquistaneses, filipinos, etc., que por aqui têm trabalhado até à exaustão, como operários e empregados, auferindo muitos deles magros salários, na construção destes arranha-céus, contribuindo para o crescimento do Dubai. Gente que não se lamenta dos suores derramados, porque está tentando fugir aos ciclos de pobreza e fome existente nos seus países.


Foto nº 3
O almoço foi um excelso buffet na grande sala do 58º. andar. Meteu paredes decoradas a ouro, mais talheres de prata, iguarias de estranhos sabores e sobremesas de surpreendentes texturas. A cerveja, ou o vinho, eram extras não incluídos no pacote da refeição, uma imperial ou fino custava apenas 22 dólares US. Bebi uma Coca-Cola zero a preço zero. Do alto envidraçado do Burq Al-Arab pude contemplar, pela primeira vez, de cima para baixo, o conjunto da gigantesca Palmeira artificial de Jumeirah construída em aterros sobre o mar, onde, abertas nos ramos da árvore, para um lado e para outro, pululam centenas e centenas de vivendas super luxuosas, todas com praia privativa. A coroar a Palmeira, lá longe, o hotel Atlantis, com 1.700 quartos, a transbordar de originalidade e novo-riquismo. [Foto nº 3]

Foto nº 5
Estamos em terras de imigração, mas quantos problemas de inserção e relacionamento humano entre tão diversas pessoas numa grande cidade que escalda e ferve, não apenas nas temperaturas elevadíssimas durante grande parte do ano? Como são os quotidianos destes trabalhadores, portugueses incluídos, que emigram para o Dubai? O dinheiro do petróleo, e outros dinheiros, não compram tudo. Haverá valores, a luta honesta pela vida, a paz de espírito, o estarmos de bem connosco e com os que nos são próximos. É possível? Nesta cidade contam-se milhares e milhares de apartamentos vazios, centenas de milhares de imigrantes a viver amontoados em espaços reduzidos, duas dúzias de metros quadrados para oito ou nove pessoas, muitas histórias que o turista de passagem não conhece.

Recordo o meu almoço no Burq-Al-Arab, a subida a este mais do que monumental Burq-Al-Khalifae, já agora, o Mercado do Ouro, no quarteirão antigo do bairro de Deira onde o precioso metal amarelo se vende às toneladas a uma clientela, quase toda constituída por mulheres muçulmanas, que compra cordões grossos como bananas, pulseiras mais gordas do que os braços, anéis que até escondem os dedos ou ouro em barras do tamanho de tijolos. Recordo o vil metal amarelo nas lojas dependurado em ganchos como carne nos talhos. O petróleo, um sujo ouro negro, por vias estranhas e surpreendentes, transforma-se no melhor ouro do mundo, cravejado de ostentação e pedras preciosas. E logo ao lado, muita pobreza escondida na outra margem das vidas. [Foto nº 5]

Para o último dia tivemos a visita ao deserto, que ficara distante na estada de 2014. Vir a estas terras e não ir ao deserto, não beber um chazinho com os beduínos e não andar de camelo, é muito mais grave do que visitar Roma e esquecermo-nos de ir ver o Papa. Ao lado do Dubai, a areia é omnipresente e basta darmos uns passos para estarmos solitariamente semi-perdidos entre dunas ondulantes que parecem conduzir a lugar nenhum. [Foto nº 6]

Entro num poderoso jipe Toyota, de seis lugares, e fazemos 60 quilómetros desde o Dubai. Saímos do asfalto da estrada, paramos para o condutor esvaziar parcialmente os pneus, o que facilita a condução na areia e aí vamos, a alguma velocidade, subindo, descendo montes e dunas com a adrenalina e a emoção a crescer. É só areia, por todo o lado. Chegamos a um acampamento que me dizem pertencer a beduínos mas que terá sido montado sobretudo para entreter turistas. Há grandes tapetes, almofadas e esteiras espalhadas pelo chão em espaços abertos limitados por vedações em vime. No meio existe uma espécie de palco onde todas as noites, à luz de archotes, ousadas e gentis bailarinas executam, a primor, a dança do ventre, carregada de erotismo.

Curiosos estes muçulmanos, tapam os corpos das suas mulheres com trajes escuros que, pudicamente, tudo escondem, da cabeça aos pés, e depois cobrem as bailarinas de lantejoulas e despem-nas gloriosamente. Nas mesas baixas do acampamento temos taças com caju, amêndoas, tâmaras, e, num barzinho ao lado, café, chá e uns refrigerantes esquisitos. Quem quiser, pode subir para um dromedário e dar uma voltinha no camelo de uma bossa só, e imaginar que parte numa magnífica cavalgada, ou camelada, à solta, pelos desertos da Arábia.

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu. 

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.
Hai Yuan e António Graça de Abreu


2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias" (*)

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimamos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

(xiii) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estão em Goa, seguindo depois para Bombaím (20 e 21 de novembro de 2016);

(xiv) com 2 meses e 20 dias, depois da Índia, os nossos viajantes estão Dubai, Emiratsos Árabes Unidos.
________________

Nota do eidtor:

Último poste da série > 14 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18741: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXVI: Bombaim ou Mumbai, Índia: De Catarina de Braganca a Mahatma Gandhi


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18671: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXV: Goa, Índia: "um adeus no entardecer dos dias, e uma lágrima, para sempre"...


Índia > Goa > Velha Goa > A basílica do Bom Jesus

[A Basílica do Bom Jesus (em concani Borea Jezuchi Bajilika) é uma Basílica Menor, situado em Goa Velha, na Índia. É uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo e faz parte do conjunto arquitetônico de Igrejas e Conventos de Goa, Patrimônio da Humanidade pela Unesco, sendo um dos melhores exemplos da arquitetura de origem europeia no país. Foi construída entre 1594 e 1605, uma obra considerada rápida para os padrões da época (...) Em seu interior repousa o corpo de São Francisco Xavier, considerado O Apóstolo do Oriente.] (Fonte: Wkipedia > Basílica do Bom Jesus)



Índia > Goa > 18 de novembro de 2016  > O nosso camarada Antónioo Graça de Abreu e a esposa, na piscina do hotel


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Goa, Índia, 18 de novembro de 2016 (pp. 5-6, da terceira e última Parte)


Goa, Índia


Goa, um pé em Mormugão,
todo o olhar em Vasco da Gama.

Goa, do velho Afonso de Albuquerque,
espadeirando pelas costas do Malabar,
na aventura insana de conquistar o Oriente.

Goa, dos grandes vice-reis e senhores de outrora,
hoje em lápides enegrecidas pelo tempo.

Goa, de Bardez a Salsete, o pó resplandecente da fé,
e sinuosos silêncios.

Goa, de cem mil cruzes diante de cem mil lares,
braços de Cristo abertos para o mundo,
cemitérios de cristãos unindo céu e terra.

Goa, uma Roma Oriental cintilando na basílica do Bom Jesus,
cinco séculos a acastanhar a pedra,
e São Francisco Xavier, benfazejo e amigo,
num túmulo de prata, pedrarias e cristal.

Goa, da velhíssima Sé Catedral,
maior igreja da Ásia, imaculadamente branca,
no altar-mor, dois jovens, mais uns tantos amigos,
todos humildemente descalços,
um casamento em língua portuguesa.

Goa, da igreja de S. Caetano,
semelhante à basílica de S. Pedro,
para enlevar corações, levá-los a Roma
ou talvez ao paraíso.

Goa, da orgulhosa Pangim,
do bairro colonial das Fontaínhas,
onde se baila o corridinho,
e um cônsul português sorri e dança.

Goa, de especiarias e perfumes,
na carregação das naus,
para inebriar os dias e as noites.

Goa, da doce e formosa Manteigui,
nas palavras de Bocage “puta rafada”,
cujos “meigos olhos, que a foder ensinam
até nos dedos dos pés tesões acendem”.

Goa, dos breves companheiros de jornada,
o André, o Edgar, a Maria, o Reis,
dos Gomes Market, do Faria Heaven, do Santosh Garage,
tantos ramos florescendo da cepa lusitana
entretecidos pelo perpassar dos séculos.

Goa, das últimas famílias indo-portuguesas
entrecruzando sangue e afectos,
laboriosas gentes nas confusões do presente,
com as pedras e o coração no passado, construindo o futuro.

Goa, dos fortes de Tiracol ou da Aguada,
velhos canhões, há séculos disparando pedaços de nada,
para a águas do Mandovi e do vazio,
e um velho farol, o primeiro iluminando os mares da Ásia.

Goa indiana, pois claro,
com templos hindus para venerar os deuses,
Shiva, Brama, Vishnu, Krishna,
e pequenas divindades descansando no fundo do vale,
no recato sombreado dos palmares.

Goa, das praias de infindáveis areias,
Calangute, Dona Paula, ou Benaulim,
para humedecer o corpo e respirar o sol.


Goa, um adeus no entardecer dos dias,
e uma lágrima, para sempre. 



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu-

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.


2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;


(xiii) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estão em Goa, seguindo depois para Bombaím.

____________

Nota do editor:

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18643: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIV: Cochim, Índia, 17 de novembro de 2016...cinco séculos depois de Pedro Álvares Cabral ter aqui aportado, com 4 navios


Foto nº 5 > Índia > 17 de novembro de 2016 >  Cochim > o  autor e a esposa. junto à catedral-basílica de Santa Cruz


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu-

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

(xiii) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estarão em Goa.

3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Índia, Cochim, 17 de novembro de 2016 (pp. 1-5 I e última Parte)

Cochim, Índia

A Índia de Mahatma Gandhi, de Nehru, dos nossos Afonso de Albuquerque e Vasco da Gama, na imensa lista de países que faltava conhecer.

Arribo a Cochim, tenho dois dias de estadia e decido perder-me pela velha Kochi (Cochim) associada a uma vetusta presença portuguesa. Foi Pedro Álvares Cabral o primeiro português, com quatro navios, a aportar a Cochim, em Dezembro de 1500. Após ter chegado ao Brasil em Abril do mesmo ano, as naus de Cabral continuaram viagem para Oriente pelo Cabo da Boa Esperança e pelo Índico, só tendo regressado a Portugal em Junho de 1501.

Cochim era já então um importante porto de mar e a missão de Pedro Álvares Cabral, para além da descoberta oficial do Brasil, tinha também a ver com o reconhecimento das terras da velha Índia. Logo depois, em nova viagem, Vasco da Gama desembarcou em Cochim e, em 1504, Afonso de Albuquerque aqui arribou tendo mandado construir uma fortaleza de que resta hoje apenas um pequeno troço amuralhado debruçado sobre o mar.

Éramos os indomáveis, destemidos e pouco ajuizados lusitanos de quinhentos. Com a inevitável decadência portuguesa pelo Oriente, Cochim acabou por passar para a posse dos holandeses em 1663 e mais tarde, a partir de 1795, seriam os ingleses os senhores do lugar.

Segui para a parte histórica de Cochim após discutir o preço da corrida com um dos muitos condutores de tuk-tuk que esperavam os turistas à saída do Costa. Paguei dois dólares por cerca de quinze quilómetros de caminho, com a premissa de primeiro ser levado a uma loja onde estive quase a comprar um belíssimo elefante em prata. Pediram-me 500 dólares US, ofereci 200, o preço desceu até aos 350, insisti nos 200, e o elefante ficou com o mercador de Cochim



Foto nº 1

Chego a Fort Kochi, a verdadeira Cochim antiga. Tudo casas baixinhas, de um ou dois pisos, algumas em arquitectura colonial muito elaborada [Fotos nº 1 e 2]. O restaurante “Oceanos” anuncia Portuguese Cuisine, Indo-Portuguese Cuisine, Old Fashion Christian Cuisine. São dez da manhã, não dá para almoçar ou jantar, mas que delícias gastronómicas se esconderão na cozinha deste restaurante?

Foto  nº 2 



Foto nº 3


Entro numa escola primária, católica, dirigida por freiras. As duas salas de aula têm as portas abertas para os rapazes verem os turistas estrangeiros, e vice-versa.

São só miúdos, de rosto aberto e bem disposto, vestem todos de igual, umas camisas aos quadrados vermelhos, brancos e pretos e saúdam-nos alegremente num inglês macarrónico. [Foto nº 3]



Foto nº 4

Logo adiante encontro as salas das raparigas, separadas do sexo masculino, que estão na hora de saída e usam um uniforme em vermelho e azul. [Foto nº 4]

 São bonitas estas crianças indianas, quase todas elas, dizem-me, de famílias católicas há muitas gerações. Em Montancherry, aqui ao lado, haveria de encontrar ao longo da estrada algumas igrejas e cemitérios cristãos e uma ou outra loja, ou casa, com os nomes Sylva, D’Cruz, Fernandes. Serão os descendentes dos soldados e casados portugueses dos séculos XVI e XVII que guarneciam as fortalezas e entrepostos junto ao mar, iam ficando por estes lugares, misturando-se com mulheres indianas ou até, mais raramente, de casamentos com as chamadas “órfãs d’el rei”, mulheres pobres portuguesas, filhas de soldados mortos nos muitos combates da época, ou senhoras de moral algo duvidosa, enviadas para a Índia para casarem até, se possível, com um nobre indiano, e constituírem família. Deixaram filhos, netos, etc., que hoje, creio, ainda com algum orgulho, usam o nome do tetravô lusitano.

Na Vasco da Gama Square, entro na igreja de S. Francisco, o primeiro templo católico europeu a ser construído pelos portugueses na Índia, em 1503. Lá dentro, no meio de muitas lápides e sepulturas de gente da nossa pequena nobreza, encontra-se o túmulo onde esteve o corpo de Vasco da Gama. O almirante-mor dos mares da Índia veio três vezes às terras indianas, em 1498, 1502 e 1524. A última viagem já não teria regresso. Velho e doente, com malária, Vasco da Gama morreu em Cochim, em 1524. O corpo permaneceu nesta igreja de S. Francisco até 1539 quando os seus restos mortais foram transladados para Portugal, pelo seu filho. Uns brasileiros de passagem recente resolveram deixar, ao lado do túmulo vazio, um galhardete preto e branco da sua querida equipa de futebol, o Clube de Regatas Vasco da Gama, exactamente o conhecido “Vasco da Gama”, do Rio de Janeiro.

A Cochim portuguesa é, por todas as razões, deveras entusiasmante. A uns quinhentos metros da igreja de São Francisco fica a catedral-basílica de Santa Cruz. [Foto nº 5, ao alto]

Edificada em 1550, foi demolida pelos ingleses em 1795 e reconstruída, de raiz, em 1888. É por isso, um templo mais moderno, todavia com mil histórias para contar. Ao lado funciona uma grande escola secundária católica que dá pelo nome de St. Mary’s School. São quatro horas da tarde. As alunas, só raparigas em traje azul e branco, saem da escola às centenas e centenas. Esperam-nas não sei quantos tuk-tuks para levar as meninas para casa, e dezenas de pais que vêm buscar as filhas, de mota. É um susto vê-las partir, enganchadas no pequeno banco das motorizadas, às vezes duas moças atrás e o pai conduzindo. Ninguém usa capacete e avançam às curvas pela estrada escalavrada.



Foto nº 6

Em Fort Kochi, junto ao mar, encontro um grande cemitério holandês com túmulos dos séculos XVIII e logo adiante aparece um conjunto de redes semelhantes às usadas na pesca tradicional no sul da China [Foto nº 6]. Curiosamente, também terão a ver com os portugueses que, fixados em Cochim, decidiram trazer este tipo de redes de Macau e que, com meia dúzia de chineses de permeio, ensinaram os indianos a usá-las. As redes estão presas a uma armação de canas de bambu ligada a uma longa vara que as faz subir e descer. Manejadas desde um passadiço em madeira, as redes mergulham no mar e lá permanecem entre cinco a vinte minutos. Toda a estrutura de bambu é depois içada, e a rede molhada faz uma concavidade no fundo do qual vem sempre algum peixe que os pescadores vendem logo ali. 

No jardim, junto ao lugar da pesca, existem uns mal-amanhados restaurantes onde os peixes podem ser fritos ou grelhados. Não me aguçaram o apetite até porque o lixo em redor, nas ruas, no jardim, na praia, nas águas do mar é mais do que assustador. Os indianos que me desculpem a opinião mas, em geral, estas gentes não primam pela limpeza e serão necessárias várias gerações para se melhorar a higiene e salubridade deste país.

Mais dois quilómetros, e estou no bairro de Montancherry. Um casarão decrépito assume o título de Palácio dos Holandeses. Foi outrora residência de nobres portugueses à deriva pela Índia. Depois vieram os homens dos Países Baixos. Meio museu, meio coisa nenhuma, delapidado pela passagem do tempo, o pobre palácio evidencia a inclemência dos séculos. E estava fechado, não deu para visitar.

Mais a sul temos a Sinagoga de Cochim e o quarteirão judaico, com umas tantas cruzes de David na fachada de velhíssimas habitações e lojas. Desde o século XI que existem judeus em Cochim mas esta sinagoga, única em toda a região, data de 1568, é visitável e tem toda a sobriedade de um lugar de reunião e de culto com, no salão, um conjunto notável de candelabros em vidro e o chão revestido com azulejos chineses do século XVIII. 

Esta parte da velha Cochim albergou também durante centenas de anos franjas de judeus que fugiam das perseguições na Europa. Chegavam a Cochim, vindos da Holanda, de Espanha, condenados a um distante exílio definitivo. No que nos diz respeito, recordemos o nosso Garcia de Horta que por aqui andou, viveu durante umas dezenas de anos em Bombaim e faleceu em Goa. Dizem-me que, com a fundação do estado de Israel, em 1948, a maioria dos judeus de Cochim partiu para Israel. Hoje viverão neste antigo bairro judaico apenas uma meia dúzia de judeus.

Há uma cidade nova de Cochim, do outro lado do braço de mar, que vista do alto do nosso Costa, parece limpa e organizada. Mas é nos quarteirões antigos deste burgo que o meu coração melhor pulsa e o sangue melhor circula.

(Continua)
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18502: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIII: Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou "Taprobana", 15-16 de novembro de 2016

domingo, 8 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18502: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIII: Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou "Taprobana", 15-16 de novembro de 2016


Foto nº 1 > Colombo >  O emblemático edifício da Cargills  Ceylon Limited, fundada em 1844.



Foto nº 2 > Colombo, mesquita muçulmana


Foto nº 3 > O CR7, Cristiano Ronaldo

Foto nº 4 > Na. Sra. Fátima e os Três Pastorinhos



Sri Lanka ou Ceilão > Colombo > 15 e 16 de novembro de 2016


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, 
Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; 
(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;
(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;
(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro); 
(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;



3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Sri Lanka ou Ceilão, Colombo,  15-16  de novembro de 2016 (pp. 53-53-56, da Parte II)


Junk ceylon sete vezes referida na Peregrinação [, de Fernão Mendes Pinto]


Colombo, Sri Lanka ou Ceilão

Uma abordagem acelerada a Colombo, capital do Sri Lanka, não dá para tirar quaisquer tipo de conclusões sobre este país que, oficialmente, tem um nome curioso, República Democrática Socialista do Sri Lanka. Para o nosso Camões, há cinco séculos atrás, logo no Canto I, na estrofe inicial de “Os Lusíadas”, esta terra era a ilha da Taprobana.

Hoje, República Democrática, não sei, e será Socialista em quê?

Caminhei pelos mercados de rua na zona de Pettah [, Foto nº 1,]  com imensa gente pobre e milhares e milhares de lojas por tudo quanto é sítio, vendedores de toda a espécie de quinquilharia, comida, roupa, tapetes, electrodomésticos, entrei em dois hotéis de cinco estrelas, o Kingsbury e o Hilton. Neste último, à noite, havia um espectáculo com o Engelbert Humperdinck, um cantor canastrão e fora de moda, exactamente como eu que não canto, mas escrevo. Os hotéis correspondem ao mundo dos poucos muito ricos.

Atravessei avenidas com grandes bancos nacionais e internacionais, deambulei entre comandos militares alojados em edifícios com vedações altas de arame farpado e soldados de Kalashnikov à porta, tive a sensação plena de estar num país do terceiro mundo cheio de problemas, onde ainda haverá tanto por fazer.

Colombo mexe, serão 600 mil habitantes industriosos e activos, há arranha-céus a crescer, a linha junto ao mar está sendo reconstruída, mas a desorganização na cidade é imensa. Um trânsito poluindo, conspurcando, atravancando tudo, mas que lentamente funciona, com autocarros meio decrépitos, táxis, motoretas adaptadas a tuk-tuks espalhando-se por tudo quanto é beco, travessa, praça, rua ou avenida.

Faço quilómetros e quilómetros a pé por dentro de Colombo. Na rua principal do bairro de Pettah, encaixada entre os edifícios do pequeno comércio, levanta-se uma original mesquita muçulmana revestida a tijolos e ladrilhos pintados de vermelhão e branco, em curiosa geometria colorida.[Foto nº 2].

Mais adiante, numa rua transversal, aparece um templo hindu com as figuras do costume, bonecos encavalitados uns sobre os outros, guerreiros de enormes bigodaças, damas de seios capitosos, uma misturada de gentes e animais subindo barrocamente pelas paredes externas do templo. À entrada, três cidadãos, de pernas cruzadas sentados no chão diante de uns cestos, pedem-me um dólar. São encantadores de serpentes. Recebida a nota norte-americana, destapam os cestos, tocam uns pífaros e umas bem mandadas cobras-capelo erguem-se no ar.

No enfiamento da rua, chama-me a atenção um painel da Khazana Sports (que empresa é esta?) com uma grande fotografia de um jogador de futebol com a bola nos pés, equipado de branco. Pois, tinha de ser, Cristiano Ronaldo, vestidinho à Real Madrid [Foto nº 3].  É o quarto português que encontro na passeata breve aqui por Colombo, capital do Sri Lanka. Os outros foram Jacinta, Lúcia e Francisco, os três pastorinhos de Fátima rezando diante de Nossa Senhora, com estátuas em tamanho natural, voltados para a rua na entrada da igreja católica de St.Mary’s, não longe do centro da cidade. [Foto nº 4].

No caminhar por Colombo, descubro também umas tantas tabuletas em lojas ou empresas propriedade de pessoas de apelido, Borges, Pereyra, Soyza, nossos primos afastados descendentes de lusitanos que há quinhentos anos aqui se fixaram e mesclaram as vidas com as gentes destas paragens do Ceilão, criando famílias e infindáveis histórias, muitas delas ainda por contar.

Sei que espalhados pelo Sri Lanka, esta “lágrima da Índia”, existem centenas e centenas de prodigiosos templos, sobretudo budistas, a visitar em demorada estadia. Convertido à excelente doutrina de Buda, regressarei um dia, de bigodes ao vento, montado num cavalo branco.

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Nota do editor:

domingo, 25 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18457: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXII: Phuket, Tailândia, 12-13 de novembro de 2016


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Tailândia > Phuket > 12 e 13 de novembro de 2016

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, 

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; 

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro); 

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro).

3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Phuket, Tailândia,  12-13 de novembro de 2016 (pp. 48-53, da Parte II)


Imaginava Phuket como uma praia, ou uma sucessão de praias bordejadas por hotéis e resorts para turista abancar e mergulhar em mares de tom azul turquesa. Afinal trata-se de uma ilha grande com 600 mil habitantes e 580 quilómetros quadrados, quase o dobro de Malta, no Mediterrâneo.

Chegámos à baía de Chalong, com a cidadezinha e a praia do mesmo nome, ao fundo. Não existe cais para a acostagem de navios de cruzeiro e o Costa ficou a descansar aí a uns dois quilómetros de terra, tendo o transfer dos passageiros sido feito por lanchas, tipo mini-cacilheiro.

Passeio por Chalong. Hotéis baratos, restaurantes de estranhas comidas e uma praia com água nem sempre limpa a que não dou mais de três estrelas. Sentados em bancos altos, em cafés e esplanadas na avenida à beira mar, há uns tantos travestis, homens façanhudos transformados por mil artifícios em esbeltas damas, de grossos lábios vermelhos, seios protuberantes e rabos empinados. São as, ou os ladyboys que sorriem até às orelhas, até à nuca, na procura simpática de clientes. Centros de massagens também enxameiam a malha urbana de Chalong. Dizem-me que se a massagista não estiver pintada, trata-se de massagem de verdade, se a rapariga ou o travesti aparecer para o trabalho decorado a preceito, haverá massagem e depois um final feliz.

De autocarro, passo para o outro lado da ilha para assistir a um nada entusiasmante espectáculo de música e dança à moda da Tailândia. Os bailarinos são desconchavados e feios – por onde andarão as tailandesas bonitas?  –, as marcações do bailado são elementares, a música é para ouvir e esquecer. Ao sair do teatro, há um grande grupo de turistas chineses à porta da sala aguardando a entrada. Não lhes gabo o gosto. Penso que a pesadona dança tailandesa, a funcionar em sessões contínuas, não agradará aos filhos do dragão que vão levar outra vez com aquelas figuras de pechisbeque, meio coloridas, tipo bonecos de cera em movimento. Jamais se devem tirar conclusões apressadas, sobretudo numa aproximação célere a realidades que desconhecemos. Alguém me explica que os turistas chineses vão assistir a algo completamente diferente, um show erótico apresentado por travestis, esfuziante de ritmo e movimento, a culminar com nus integrais e talvez sexo ao vivo, coisa nunca vista nos teatros em terras da China.

Mudando completamente de objectivo, o nosso destino é agora o templo budista de Chaithararam ou Wat Chalong, nos arredores sul da cidade de Phuket [Foto nº 1]. Os cinco pavilhões que constituem o âmago do templo são todos do início do século XIX e foram recentemente restaurados. Aqui venho encontrar, creio, o que de melhor identifica a arquitectura budista tailandesa. Os pavilhões estilizados, impecavelmente trabalhados, com colunas brancas ou creme sustentando os telhados sobrepostos, muito inclinados e levemente revirados, os budas dourados em oração em nichos e balaustradas no frontispício dos edifícios, a harmonia das cores no equilíbrio da brisa, tudo no fundo de um vale verdejante. Um fim de tarde mágico. Dentro do pavilhão principal, há mais budas e arhats, estes os discípulos de Sakyamuni, e guerreiros, e mestres sábios, divindades femininas de mãos postas em oração. Quatro budas jazentes aguardam, à beira da morte, a iluminação suprema. As figuras estão pintadas em dourado forte contrastando com as paredes brancas onde aparecem painéis multicoloridos com figuras associadas à vida de Buda, com os fundos verdes e azuis de florestas, rios e lagos.

No segundo dia, a Haiyuan quis ficar na praia de Chalong e para mim é tempo de partir à desfilada, cavalgando os mares da Tailândia.

Quase uma hora de autocarro, de novo para o outro lado da ilha até chegar a uma cuidada marina onde nos esperam lanchas rápidas que nos vão levar oceano fora até prodigiosos destinos. A barca está pronta para partir, leva quinze passageiros todos espanhóis, excepto eu, companheiros do cruzeiro, e conta com três motores Honda de 225 cavalos cada um [Foto nº 2].

Saímos da marina e logo estamos em pleno mar. Vou sentado na popa da lancha junto aos três motores que trabalham quase na rotação máxima. A barulheira dos hélices mais a larga esteira de espuma branca levantada pelo barco fazem-me pensar que participo, por especial graça, num grande prémio de motonáutica. A lancha salta e voa sobre as ondas a uns setenta quilómetros por hora. Que sensação boa, galopar um rapidíssimo corcel do mar sobre a prata e turquesa das águas, depuradas e limpas! Rodeamos ilhas rochosas plantadas ao acaso por deuses de tempos imemoriais, por certo em dia de grande desorientação. Há ilhas espalhadas por tudo quanto é horizonte. Numa delas, a lancha abranda, quase pára, para nos mostrarem a erosão do mar e uma espécie de estalactites gigantes caindo sobre as águas.

 Mais alguns quilómetros, ou milhas marítimas, e estamos ao lado de outra ilha em volta da qual passeiam turistas em pirogas manobradas por um seguro remador tailandês. Algumas canoas desaparecem ao entrar por grutas escavadas pela natureza no interior do monolito calcário.

Os motores aceleram de novo, mais uns dez quilómetros desembestados pelo mar e chegamos à ilha de Panyee, motivo para alguns assombros e uma bonita fotografia de uma avó com a sua neta [Foto nº 3]. 

Há mais de duzentos anos, algumas famílias muçulmanas abandonaram a ilha de Java, num barco, e acabaram por se fixar neste lugar, na pequena enseada onde decidiram continuar as suas vidas. Porque o terreno de Panyee era quase inexistente, construíram um amontoado de casas sobre plataformas de madeira apoiadas em troncos a funcionar como pilares cravados no fundo do mar, uma espécie de sistema de palafitas. A aldeia cresceu, os muçulmanos, quase todos pescadores, multiplicaram-se. Serão hoje umas centenas largas de pessoas, têm escola, uma clínica, até um pequeno campo de futebol e, claro, uma mesquita porque todas as pessoas que habitam na ilha são muçulmanas. Jamais havia visto um aldeia assim, mas creio que existem pequenas povoações semelhantes na baía de Halong, no Vietname. De resto, estas ilhas tailandesas têm parecenças com as que enxameiam Halong.

Partimos céleres para outra ilha, de nome Kao Tapoo mas conhecida, para entreter o turista, como “James Bond Island.” O nome advém-lhe de aqui ter sido rodado, em 1975, parte do filme “O Homem das Pistolas de Ouro”, com o então, ainda em bom estado, Roger Moore a fingir de James Bond. A ilha, muito visitada, é um lugar sombreado por algumas magias, tudo meio surreal, a vegetação trepando pelo alcantilado das encostas, pedra e grutas recortadas no interior da falésia. Diante da pequena praia, com águas cristalinamente verdes, há um enorme rochedo que parece crescer no mar, na base gasto pela erosão dos séculos, encalhado na luminosidade de terra, água e céu. Muita gente aproveita para o banho, para caminhar pelas veredas pedregosas que circundam a ilha, para tirar fotografia [Foto nº 4].

Partimos outra vez no desenfreado galope pelas águas. Mais umas dezenas de quilómetros e estamos na ilha de Lawa. Há um almoço buffet de razoável comida tailandesa à nossa espera num improvisado restaurante com cadeiras e mesas que quase entram pelo mar. Um banho, umas braçadas valentes na leve ondulação do oceano azul. Petisco as iguarias numa mesa na companhia de dois casais de Valhadolid e Madrid que argumentam bem sobre a qualidade de vida em cada uma das cidades. Olham para mim, esperam a minha opinião mas eu sorrio e permaneço calado quase até ao fim da conversa. Para espanto dos quatro que quase caem das cadeiras, de surpresa, digo que sou português, não entendo tudo o que dizem mas que “me gusta las dos ciudades.”.

Depois de almoço, dou um passeio ao longo da praia. Poucos turistas, a imensidão do céu estendendo-se triunfante sobre o verde do mar, o branquear das nuvens, um pobre português que às vezes quase fala espanhol, feliz, de passagem.

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