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terça-feira, 17 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10160: FAP (69): Aterragem em grande estilo (António Martins de Matos)

1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos*, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, actualmente Tenente-General (R), com data de 8 de Julho de 2012:

Caros amigos
Aqui vai uma pequenina história.

Abraços
AMM


Aterragem em grande estilo

A manhã tinha sido calma, apenas uma missão de bombardeamento, 2 bombas de 200 e 4 de 50 quilos algures na Guiné, alguém devia ter ficado com dores de cabeça. Seguiu-se o almoço, já não me lembro onde, se na messe da FAP (comia-se mal), se nos Pára-quedistas, a comida era melhor mas não era a nossa casa, a derradeira solução era no bar dos pilotos, umas francesinhas, duas rodelas de pêssego em calda e uma bica.

Depois do almoço passei a estar de alerta ao DO-27, para alguma eventual evacuação. De referir que à chegada à Guiné tinha zero horas em tais aeronaves ou, por outras palavras, nunca tinha posto o cu em tais máquinas. Que tal situação não tinha sido problema, o Tio Brito tinha-me explicado como aquilo funcionava, não havia TO nem Checklist mas também não era importante, primeiro tinha aprendido a pôr em marcha e descolar, depois a aterrar na pista de Bissau, logo tínhamos ido fazer o circuito operacional, Bula (pista média), Binar (curta) e Biambe (rasca a valer),... já está, em 5 voos tinha passado a operacional de DO-27.

O pedido de evacuação acabou por chegar já ao fim da tarde, através do intercomunicador alguém gritou... “ALERTA AO DO-27”. De imediato fui às Operações, a fim de saber o que me esperava, uma evacuação ( Y) de um militar, em Bissorã, pediam igualmente médico para acompanhar o ferido, em termos práticos significava enfermeira a bordo, já que os médicos... nicles. Os DO-27 vulgarmente conhecidos no meio do pessoal terrestre como as “avionetas”, apesar de parecerem todos iguais não o eram, havia 2 modelos, o A-3 e o A-4, independentemente de outras diferenças que agora não vêm ao caso, o A-4 tinha rodas maiores, travavam melhor mas, por serem mais altos, eram mais instáveis nas aterragens.

Passei junto do pessoal da Linha dos DO-27, lá me indicaram o avião de alerta, um A-4. Com a chegada da enfermeira à placa logo partimos para Bissorã, igualmente acompanhados de mecânico, não era necessário mas neste voos curtos eles gostavam de voar connosco e sempre davam uma ajuda, nomeadamente na manipulação das macas.

O António Martins de Matos, então jovem Tenente Pilav (BA12, Bissalanca, 1972/74), junto a um DO 27. 

Foto do blogue do nosso camarada Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74. Com a devida vénia.


Voo sem história, 15 minutos depois estava aterrado na pista do quartel. Trouxeram o ferido, um jovem soldado acidentado, uma das pernas apresentava uma fractura exposta digna de realce. Lá o pusemos na maca e posteriormente na aeronave, com todos os cuidados já que o rapazito gritava que se fartava. Voo de regresso foi igualmente sem história, a enfermeira vinha lá atrás junto ao paciente, devia ter-lhe dado algo para as dores que o evacuado vinha calado, o cabo mecânico ao meu lado a admirar este piloto bem esgalhado.

À chegada a Bissau e a pensar na fractura exposta do doente disse para o cabo: “Vais ver como aterram os pilotos dos jactos, isto vai ser com a maior suavidade, tipo ziiiiiip, nem vais dar por tocar no asfalto,... vais ter que ligar prá Torre a pedir confirmação que aterrámos”. Apontei à pista e tudo correu bem até ao momento de fazer o tal ZIP, só que.... esqueci-me que este DO-27 tinha rodas maiores, dei uma trancada na pista, a que se seguiu outra, e outra,... a pior aterragem da minha vida.

Logo naquele avião se formou um coro a três vozes, o doente lá atrás aos gritos, a enfermeira calada mas com ar assustado, o mecânico a amaldiçoar a hora em que tinha solicitado a boleia e o piloto a rir da situação caricata a que tínhamos chegado. “Ao doente de Bissorã, estimo as melhoras da perna e desculpa lá o mau jeito”.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9991: (Ex)citações (183): Comparandos os dois G, Guidaje e Guileje... (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9906: FAP (68): O Óscar e os meus relógios (Miguel Pessoa)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9958: Facebook.. ando (17) : Alexandre Leites, de Sandim, V.N. Gaia, ex-1º cabo enfermeiro, CCAP 122/BCP 12 (1971/73)


António Alexandre Lopes Leites, ou simplesmente Alexandre Leites: segundo a sua página no Facebook


(i) estudou na escola da vida

 (ii) é casado (desde 1974), 

(iii) tem, dois filhos, Sónia e Luís; 

(iv) faz anos a 25 de novembro; 

(v) é católico; 

(vi) fez o serviço militar em 1970; 

(vii) esteve na Guiné, como 1º cabo enfermeiro da CCP 122/BCP12, em 1971/73; 

 (viii) mora em Sandim, Vila Nova de Gaia (, quando for à Madalena, prometo ir beber um café com ele à praia)... 

Citações favoritas:(a) Não julgues para não seres julgado nem condenes para não seres condenado: (b) Errar é humano, perdoar é divino. 

Email: alexandreleites3@gmail.comalexandreleites3@gmail.com 


Disponibilza, na sua página do Facebook, alguns dezenas de fotos... Podiam ter melhor resolução e ganhavam muito se tivessem legendas... De qualquer modo, o nosso muito obrigado pela partilha. Recuperámos algumas legendas a partir de comentários do autor e dos seus amigos...





O 1º cabo enfermeiro nem por isso descuidava a sua defesa pessoal...




À espera do heli para a evacuação de  um ferido, "no mato"...  



Evacuação de um ferido, "no mato"... A CCP 122 tinha acabado de cair numa emboscada.



Mais um  evacuação algures, "no mato"...  Na foto, vê-se uma enfermeira paraquedista




O "Lobo Mau" (helicanhão)


Mais uma helievacuação...


Um bivaque dos páras, algures na Guiné... 


"Instrução dura combate fácil uma máxima dos Para-quedistas muito importante e valiosa"



Mesmo nos páras, era preciso fazer pela vidinha... "O bar que tinha em Teixeira Pinto com o meu sócio, também enfermeiro, Paiva, de Viseu".

Fotos: © Alexandre Leites (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos


2. Comentário de L.G.:

 O Alexandre é nosso amigo no Facebook. Fica desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande. Como já temos aqui fotos dele, bastava dizer-nos algo mais sobre os bons e os maus momentos que passou no TO da Guiné, entre 1971 e 1973. Por exemplo, será que esteve em Guidaje e em Gadamael, em maio e junho de 1973 ?  Espero que ele nos leia e aceite o nosso convite. Um abração, 
Luis Graça.

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Nota do editor:

terça-feira, 22 de junho de 2010

Guiné 63/74 – P6629: FAP (50): A Associação dos Deficientes das Forças Armadas homenageou Força Aérea Portuguesa (Carlos Vinhal)

Com a devida vénia ao Correio da Manhã, damos destaque a uma notícia inserta naquele jornal de domingo, dia 20 de Junho de 2010, dando conta de uma cerimónia de homenagem à Força Aérea Portuguesa promovida pela Associação dos Deficientes das Forças Armadas.

O título da notícia "Nunca nos deixaram" é sugestivo, justo e verdadeiro.

É evidente que mais que ninguém, os nossos deficientes estarão reconhecidos aos militares nossa FAP, porque muitos deles, não fora os inestimáveis serviços de evacuação, muitas das vezes nas piores condições de segurança, não estariam vivos.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de20 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6620: FAP (49): Pista da época (Como a fruta) (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) 

domingo, 25 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6249: Estórias avulsas (85): Como foi assassinado o Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51 (Fernando C. G. Araújo)




1. O nosso Camarada Fernando Costa Gomes de Araújo* (ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74), numa das nossas conversas contou-me que, na sua Companhia, foi assassinado em Julho de 1973, um Alf Mil OpEsp/RANGER, do Pel Caç Nat 51.



Solicitei-lhe então que, quando pudesse, nos contasse o que se lembra sobre este infeliz crime, dado que eu ouvira já duas versões sobre esta morte. Uma delas era atribuída a um acidente e outra que ele fora assassinado na parada do quartel de Jumbembem.


O Araújo acabou de me enviar o seu relato dos factos, com data de 23 de Abril de 2010, e que passamos a expor:


O assassinato do Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves Costa do Pel Caç Nat 51
16JUL1973 – 08h00/09h00 - Jumbembem - Estava eu no meu quarto, quando ouvi, nas traseiras da instalação, três disparos de G3.


A primeira coisa que pensei foi que o alferes Açoriano (cujo nome não me lembro) se tinha suicidado, pois, nos últimos tempos, vinha a dar sinais evidentes, não só de estar farto de permanecer em Jumbembem, como de graves complicações psicológicas.
Desloquei-me rapidamente para o local de onde ouvira as detonações, dando a volta às instalações do dormitório do meu quarto, cujas traseiras davam para as traseiras de outro edifício com quartos e fiquei muito surpreendido…
Ao contrário do que eu estava a pensar, não fora o alferes dos Açores a vítima dos tiros, mas sim o Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves Costa do Pel Caç Nat 51 e que jazia no chão gravemente ferido, pois tinha sido ele o alvejado com as três balas.
A sua imagem ali tombado a esvair-se em sangue, mortalmente, ainda hoje a retenho no pensamento.
Motivo da morte:
O Alf Mil Costa tinha aplicado como castigo (não sei a causa), um reforço a um nativo do Pel Caç Nat 51. O homem não conformado com a punição, foi à porta do seu quarto e disse-lhe:
- Alferes, eu não fazer reforço.
Ao que ele retorquiu:
- Já te disse que vais cumprir o reforço.
Foram trocadas mais algumas palavras de que eu já não me lembro.
O nativo tornou a reclamar:
- Alferes eu não fazer reforço.
- Já te disse que sim e não se fala mais nisso!
Acabado este diálogo, o nativo deslocou-se à tabanca em busca da G3 que lhe estava atribuída.
Passado algum tempo, talvez 30 minutos, regressou novamente para junto do quarto do alferes.
Pousou a G3 à porta e, chamando-o novamente, disse-lhe:
- Alferes eu não fazer reforço.
O alferes voltou a afirmar que ele tinha de cumprir o castigo, com que o tinha sancionado.
Presumo que o alferes devia estar deitado. Deve ter-se levantado e foi nessa altura que o homem pegou na G3 e, traiçoeiramente, disparou três tiros à queima-roupa sobre o oficial português.
Este último ainda foi levado para a enfermaria, onde se prestaram os primeiros socorros, ao mesmo tempo que foi pedido, com a maior urgência, a sua evacuação aérea.
Como estava a perder muito sangue, foi pedido sangue e, voltou a ser pedido insistentemente, o máximo de urgência na sua evacuação, que tardava em aparecer.
E tanto tardou que o alferes não resistiu aos ferimentos e faleceu, sem que aparecesse qualquer meio aéreo para o socorrer. Esta situação indignou todo o pessoal da companhia, desde o soldado até ao comandante.
O nativo foi preso com arames nos pulsos, atrás das costas, enquanto os próprios elementos do Pel Caç Nat 51, bem como a milícia queriam fazer justiça pelas próprias mãos (linchá-lo).
Valeu-lhe o nosso comandante, que ordenou:
- Não lhe toquem!
Mas, mal ele virava as costas, alguns militares mais revoltados descarregavam a sua ira em cima do assassino, que foi depois colocado na casa do motor (gerador), que se situava ao lado do tanque da água.
Ali permaneceu o prisioneiro até meio da tarde, altura em que o nosso comandante, penso que por causa da evacuação não se ter efectuado e achando que o comandante em Farim teve alguma culpa nesta falta, resolveu ir a Farim levar o corpo do alferes em sinal de protesto.
Deslocamo-nos então numa coluna motorizada (já não sei quantos nem quais pelotões), com o corpo do defunto numa viatura “Berliet” e uma bandeira nacional a cobri-lo, até Farim (sede do Batalhão 4512).
A coluna fez-se sem fazer a habitual picagem, tal era a revolta, desagrado e excitação que grassava em todo o pessoal da Companhia. Um risco acrescido, mas justificado pela hora tardia para o fazer.
Viam-se aqui e ali soldados e graduados com as lágrimas nos olhos, chocados com um desfecho fatídico que o alferes assassinado não merecia, porque todos eram conhecedores e concordantes de que ele era boa pessoa e bom para os nativos do Pel Caç Nat 51. Talvez bom demais ainda hoje o penso e digo!
Segundo ouvi dizer na altura, ele, quando isso lhe era solicitado, inclusive emprestava dinheiro aos militares do seu pelotão.
A coluna chegou à entrada de Farim, abrandou mais um pouco e continuou a sua marcha, enquanto os militares que a compunham saltaram para o chão e acompanharam as viaturas a pé.
Ao passar defronte ao edifício de comando, estava em posição de sentido e continência um graduado (ou era o comandante - Ten Cor Vaz Antunes -, ou o 2º comandante Major Menezes, já não me lembro bem).
Este é o relato com que fiquei gravado no pensamento desse dia.
Também trouxemos o nativo assassino que, pelo caminho fora na viatura onde seguia, alguns soldados, em certas alturas do percurso, continuaram a dar-lhe o “tratamento especial”, tendo o mesmo chegado a Farim num estado físico muito debilitado.
Disseram-me posteriormente que ficou preso em Farim e depois seria enviado para a “Ilha das Cobras”.
Para substituir o comando do Pel Caç Nat 51, foi destacado o Alf Mil At Inf Francisco Silva (Madeirense), que apareceu na 2ª Companhia do BCAÇ 4512 logo após esta tragédia.
Com o meu pedido de desculpas por eventuais lapsos de memória, que poderão sempre ser corrigidos, mas esta é a visão dos factos que ainda mantenho hoje, passados +/- 36 anos.

Breve anotação na minha agenda/diário, no dia 16 de Julho de 1973, da morte do Alf Mil RANGER Costa
Um abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512
Emblema do Pel Caç Nat 51 de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
_____________
Notas de M.R.:
1. No dia 25 de Abril de 2010, dadas as dificuldades do Fernando Araújo em obter o nome completo do alferes assassinado, enviei um e-mail ao pessoal de que tenho contacto solicitando o auxílio nesta área, tendo obtido resposta do nosso camarada Santos Oliveira, que passo a citar com os devidos e melhores agradecimentos:
Caros,
Respondendo ao apelo de ambos e necessidade particular do Fernando Araújo, cá vai o que sei:
Alf Mil Op Esp 16207170 - Nuno Gonçalves Costa, natural de Campos de Sá – S.Jorge - Arcos de Valdevez – Mobilização CIOE para o Pel Caç Nat 51 / da 2ª Compª do BCaç 4512/72 (Guiné), morto em Acidente com Arma de Fogo, a 16/7/73 e sepultado em Igreja (freguesia Natal).
Espero tenha sido útil.
Abraços, do
Santos Oliveira
2. Vd. último poste desta série em:


25 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6245: Estórias avulsas (84): O lírico, ou com a ditadura não se brinca (Mário Migueis)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5560: FAP (43): Parteiros à força... (Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, 1969/70)


Guiné > Bissalanca > BA12 > O ex-1º Cabo Esp MMA (1968/69) junto a um heli Al III. (*). Estve na Guné de Março de 1969 a Dezembro de1970.

Foto: © Jorge Narciso (2009). Direitos reservados




Amigo Manuel [Amaro]

Este teu poste  fez-me relembrar uma também "não estória" aparentada,  que vivi na Guiné.

Tendo como actividade primeira a de mecânico dos helis, "tirocinei" também numa semi-especialidade (empírica,  pois sem qualquer preparação prévia) de auxilio à enfermagem, com o apoio necessário às enfermeiras páras, com quem realizávamos evacuações.

Pôr a soro, fazer pensos, executar e manter garrotes, massagens cardíacas, transfusões,etc. etc. foram infelizmente acções com as quais me familiarizei.

Mas partos, era coisa que para além do meu próprio (de que não me ficou nenhum registo) estava completamente fora do meu quotidiano.

Porém um certo dia é solicitada uma evacuação (sem enfermeira) para a ilha de Unhocomo (que em conjunto com a de Unocomozinho eram as mais longíquas nos Bijagós).

Usufruindo, no voo de ida, da sempre agrádavel imagem daquele belo arquipélago (e do mar envolvente, onde pululavam quantidades enormes de tubarões, que bem se viam lá de cima) e finalmente aterrados numa paradisíaca ilha, quem nos surge para embarque ?

SÓ (Ai, Ai) uma GRÁVIDA em fase final de parto!

Embarcada a parturiente e enquanto pensava como se iria desenrascar o, talvez, primeiro mecânico/parteiro, ponderei as envolventes:

(i) Quase uma hora de voo até Bissau;

(ii) A parturiante não só não dava mostras de entender (ou não estava para aí virada) patavina do que lhe ia tentando dizer, nem dos gestos de consolo que ia ensaiando;

(iii) O olhar do Piloto era ainda mais estupefacto e aflitivo que o meu próprio e talvez mesmo que o da citada.

Enfim e abreviando argumentos, já que a viagem essa parecia nunca mais acabar, já sem ilhas, nem mar, nem tubarões, todos ora resumidos e concentrados naquele corpo/ventre que cada vez mais se contorcia, felizmente, mais para mim que, coitada, para ela, lá se aguentou até ao Hospital Civil de Bissau (na única vez que ali aterrei) onde finalmente presumo terá dado à luz o seu rebento.

Os restantes 5 minutos de voo, no regresso a Bissalanca, foram para mim e para o Piloto, como a nossa própria "renascença".

Um Abraço

Jorge Narciso

2. Comentário de L.G.:

Jorge, deves estar a referir-te ao actual Hospital Nacional Simão Mendes, herdeiro do Hospital Civil de Bissau, do nosso tempo (mas de que não temos falado aqui, no nosso bloue)... Por outro lado, julgo - se a memória não me atraiçoa - que o nosso comum amigo Humberto Reis, em viagem de Bambadinca para Bissau, de heli, à boleia, viu-se na mesma situação que tu... Só que ele terá sido mesmo parteiro à força, já que o parto se consumou em pleno voo...  (O Humberto tinha a especialidade errada: acho que ele teria dado um belo piloto de helis, a avaliar pela frequència  com que apanhava boleias vossas para uma escapadela até Bissau...).

Nenhum de nós, militares,  estava preparado, técnica e culturalmente,  para estas delicadas missões de apoio à população civil, e muito menos para assistir a um parto de emergência... Também eu estive, conpletamente isolado, em tabancas em autodefesa, sem enfermeiro, sem caixa de primeiros socorros... As NT, na Guiné, não estavam preparadas para missões de paz... Mesmo assim, montámos escolas e postos sanitários,  fomos médicos, enfermeiros, parteiros, professores, fizémos reordenamentos, fomos engenheiros, carpinteiros, pedreiros...

Situações como estas deveriam ter relativamente frequentes, a partir do momento em que foi posta em marcha a política spinolista da Guiné Melhor, e os vossos helis eram aproveitados, no regresso à base, para dar boleia tanto a militares como a civis... Dizia-se que um heli custava por hora 15 contos, não sei quem pagava (se é que pagava) à FAP missões civis específicas, como esta que tu nos descreves...

A tua história merece ficar na montra do blogue, tal como já tinha acontecido com a alegada "não-estória" do Manuel Amaro, esse, sim enfermeiro, e na ocasião parteiro... à força.  Um bela história, afinal, de solidariedade humana, diga-se de passagem.  Não tenho dúvidas que tu farias o teu melhor, se a criancinha tivesse mesmo decidido sair do "bem bom" do ventre materno, enquanto o teu heli sobrevoava o mar infestado de tubarões...Enfim, hoje poderias acrescentar ao teu currículo de vida mais esta faceta, ao mesmo tempo divertida, a de aprendiz de parteiro... à força.

Continuação de boas festas, apesar da tragédia que se abateu sobre a nossa bela região oeste, na véspera de Natal. Espero que esteja tudo bem contigo. Luis.
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/70

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5420: FAP (38) : O helicóptero Alouette II ou uma arrepiante viagem na 'montanha russa' até ao HM 241 (Jorge Félix)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) >  O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).

Fotos: © Alberto Pires (Teco)./ AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Jorge Félix (2009). Direitos reservados.



1. Mensagem do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli Al III, BA 12, Bissalanca, 1968/70,

Caro Luís,

Li com algum espanto o P5417 (*).

Não vou tecer qualquer comentário  por respeito aos milhares de combatentes que deram o que podiam na Guerra do Ultramar .

Como o teu Blogue, já nosso, tem antes de mais, a qualidade de recordar para tratar, vou falar do Heli onde aprendi a pilotar os "zingarelhos" e está numa foto deste P5417.

A foto do Alberto Pires [Teco] era a BW [preto e branco] e eu dei-lhe uma coloração para se perceber melhor.

O heli era o Alouette II (dois). O que está na foto já tem rodas, os que conhecia eram todos com Patins. Nesta altura, os feridos eram transportados no "caixão" que eu destaquei a amarelo. Podes imaginar como arrepiante seria vajar, amarrado e bem amarrado, naquele cubículo do lado de fora da carlinga...

Cada um de nós teve o pior da guerra, (eu felizmente tinha whisky servido de bandeja à chegada na placa), mas um ferido evacuado num Heli Al II, deve ter tido a pior experiência da sua vida.

Como é que de um Blogue  tão extenso fui dar importância a este pequeno acontecimento?

Um abraço

Jorge Félix
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Nota de L.G.:

(*) 7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4991: FAP (34): A heli-evacuação do malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar em 18/2/1970 (Jorge Félix)


Reprodução da caderneta de voo do ex-Alf Mil Pil Heli Al III, Jorge Félix, do mês de Fevereiro de 1970: no dia 18, fez um transporte de evacução (TEVS) da zona operacional (ZOPS) de Susana, para Bissau (BS) ... TEVS -BS - ZOPS - SUSANA - BS, com 4 aterragens...


1. Mensagem de Jorge Félix, com data de 17 de Setembro:


Caro Luís, como vai a nossa malta ?

Tenho andado um pouco afastado, assuntos relacionados com o meu Pai, Senhor com 90 anos...

Passei os olhos por o nosso Blog e li o P4962 (*). Não estou com jeito para narrativas.

Junto uma foto da minha caderneta de voo do dia 18 de Fevereiro de 1970 onde consta uma evacuação á Zops de Susana. Foi há 39 anos ....

Se achares conveniente envia ao Miguel Vilar a imagem que te enviei. Estou sem jeito para contar seja o que for.

Um abraço Jorge Félix

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4962: In Memoriam (31): Cap Cav Luís Rei Vilar, meu irmão e meu herói (Miguel Vilar)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4493: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (1): Estes sons que ainda mexem connosco (Luís Graça)

Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande
Tínhamos marcado encontro às 11h15, frente ao Portão do Forte do Bom Sucesso, ali em Belém, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar... Neste pequeno vídeo, vemos e ouvimos a passagem de três helicópteros que, quase magicamente, nos fazem transportar para o cenário da guerra da Guiné...

Estes sons ainda hoje mexem connosco: havia o do helicanhão, que nos tranquilizava, nos aliava o stresse do combate; e havia os dos helis que vinham fazer evacuações Ypsilon... (in)confidências: Se não tivesse sido piloto de Fiat G-91, o Miguel Pessoa, aqui ao lado, queria ser piloto de helicanhão...

Estes sons são também familiares às nossas duas enfermeiras pára-quedistas, Giselda e Piedade... No vídeo ainda se vê o nosso camarada António Pimentel, da Tabanca de Matosinhos, e que esteve na Guiné, na CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá, 1968/70)

Vídeo (26''): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, 2.º Srgt Grad Enfermeira Pára-quedista (Guiné, 1972/74)

Giselda Antunes, 2.º Srgt Grad Enfermeira Pára-quedista (Guiné, 1972-74)

  1. Temos o prazer de receber entre nós, como tertuliana, a senhora Enfermeira Giselda Antunes Pessoa, ex-Enf Pára-quedista (1970/74), que prestou serviço em Moçambique no ano de 1971 e na Guiné entre Janeiro de 1972 e Abril de 1974. 

 Homenageando a senhora D. Giselda queremos honrar também todas as suas companheiras, que nos três teatros de operações, mas principalmente na Guiné, desempenharam a mais nobre missão que se pode ter num conflito armado. 

Os Serviços de Saúde eram demais importantes, quer na prevenção e tratamento de todo o tipo de doenças, como no socorro e acompanhamento durante as evacuações solicitadas por ferimentos em combate ou doenças. À nossa nova tertuliana pedimos também a sua colaboração, pois terá algumas histórias, não das trágicas, essas porventura quer esquecer ou já esqueceu, mas das que ainda retém na memória e que podem ser revividas e contadas.

 Durante as suas andanças pelo mato teve concerteza momentos pitorescos e experiências que jamais viveria se não fosse naquelas circunstâncias. Como já aqui foi contado no blogue, tanto a Giselda como o marido, Cor Pilav Ref Miguel Pessoa, foram alvo de mísseis Strela no CTIG mas felizmente estão cá para nos contar essas peripécias e outras, na primeira pessoa do singular ou do plural. 

 Aproveitamos o ensejo para reafirmar o seguinte: ficámos satisfeitos ao constatar que o almoço de homenagem da ADFA - em princípio dirigido só aos Pilotos e Mecânicos da FAP - vai ser alargado às nossas queridas Enfermeiras. Elas merecem o nosso eterno agradecimento e os deficientes (ou quem por elas foi assistido e se encontra hoje livre de qualquer mazela) são os primeiros a sentir e manifestar esse reconhecimento.

Giselda Antunes, algures na Guiné.


A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais. Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.

Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Antunes Pessoa entre os despojos do Império Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados. 

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Nota do editor CV: 

 Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71) 

 Sobre as enfermeiras pára-quedistas ver poste de: 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3615: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (1): Corrida com triste fim

1. Mensagem do nosso camarada António Paiva, ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 30 de Novembro de 2008, contando uma história que esperamos seja a primeira de muitas.

2. Corrida com triste fim
António Paiva

Rompe a manhã, como tantas outras, daquele domingo de 26 de Abril de 1970.
Muitos acordam, só com uma ideia em mente… ver o jogo. Soltar de dentro de si, naquele dia, um grito de alegria e felicidade, que o tempo de comissão lhes ia comprimindo.
Às 15 horas, ia realizar-se o jogo entre Clube Ténis de Bissau e o Sporting Clube de Braga a contar para a Taça de Portugal, era a final, no campo do UDIB sito em Benfica.
Eu não ia, mas um condutor que fazia serviço à Base, das 13 às 19 horas, pediu-me na véspera para eu lhe fazer o serviço, ele queria ir ver o jogo, não lhe tirei esse prazer, só lhe disse:

- Vai descansado, à volta pagas uma cerveja.

Depois de almoço, pelas 12,30, pego na ambulância e sigo para a Base a render o outro condutor que lá se encontrava desde as 7 da manhã. Na Base faziam-se 2 turnos todos os dias, das 7 às 13 e das 13 às 19. Lá chegado, estacionei a ambulância no sitio habitual e fui até ao bar, não sei se beber uma bica ou uma cerveja. Podíamos lá estar, porque assim que viesse uma evacuação éramos informados pelo altifalante.

Quando lá cheguei, reparei que faltavam 3 avionetas de alerta, se a memória não me atraiçoa era assim que se dizia, logo concluí que ia ter trabalho.

Por volta das 14,30, mais ou menos, sou alertado para a chegada de uma avioneta com evacuação. Dirigi-me ao local onde ela tinha parado, e é-me entregue uma menina de 7 anos. Quem a vinha a acompanhar diz-me:

- Condutor, o tempo é pouco, já sabe o que tem a fazer.

Arranquei, levando comigo uma criança em sofrimento que tinha sido atropelada. Rolei o mais rápido que pude para o Hospital Civil. Ao chegar a Teixeira Pinto, 1.ª rotunda com esse nome, e vejo a multidão que se encontrava em Benfica, junto ao campo do UDIB, a tapar a rua toda, eu respirei fundo… ó Deus. O sinaleiro, que estava no seu pelourinho, penso que saltou…, a multidão abriu alas, lembrou-me quando o mar se abriu nos 10 Mandamentos, sempre em frente, praça do Império, Santa Luzia e Hospital Civil.

Começa o inesperado. Estaciono onde devia para levar a menina para dentro, mas que tristeza, não se encontrava ali ninguém que me desse uma ajuda para levar a maca e sozinho era impossível. Entre 5 a 10 minutos depois, aparece uma rapariga que me ajudou a levar a maca com a menina.
Azar a mais, o médico não estava. Perguntei por ele e dizem-me que deve estar no 1.º andar. Subo a escada de 2 em 2, passado algum tempo lá o encontro. Viemos para baixo directos ao posto de socorros, entramos… O Anjo tinha subido ao Céu.

Senti uma pancada no peito, lágrimas nos olhos, como era linda a menina.
Revoltei-me, não sei se comigo próprio ou com o sistema, minha missão não tinha sido perfeita. Onde errei?

Ao chegar cá fora, o que não estava à espera, para me prestarem homenagem tinha 2 cálices de sangue venoso transportados na bandeja que se encontrava estacionada atrás da ambulância, um alferes e um soldado da PM. Diz o alferes para mim:

- Então condutor, vem doido ou quê? Depois da porrada que vai apanhar nunca mais corre.

Só lhe disse:

- Corri para salvar uma criança, acabou por morrer.

Ligou pouca importância, mas depois de tirar os apontamentos necessários para me oferecer a medalha, deixou-me ir embora.

Voltei para a Base. No fim do serviço voltei para o Hospital, fui ter com o médico de dia e contei-lhe o ocorrido.

No dia seguinte, o Director, Dr. Felino de Almeida, mandou-me chamar, contei-lhe o sucedido e ele mesmo tratou do assunto, não levando castigo.

Agora dirijo-me aos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras

Os pilotos, nunca chegam a saber como os evacuados acabam, mas este recorrendo-se da sua caderneta de serviços, saberá o triste fim duma evacuação que ele começou.
Será que chego a saber quem foi esse piloto?

Um abraço a todos
António Paiva
______________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70

24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)

domingo, 21 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3221: Em busca de... (40): Major Inf Abel Carvalho de Almeida, Mansabá, 1969 (Jorge Félix)


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, 1968/70 (1), com data de 8 de Setembro de 2008.

Caro Carlos,
Não te assustes com o tamanho do email, depois da explicação podes fazer delete.

Como sabes tenho andado a incomodar vários tertúlianos que escrevem no Blogue e estiveram na Guiné na mesma data que eu. Uns respondem outros não. Vem de longe o desejo de encontrar um Combatente que eu tivesse transportado para o Hospital.

Como podes ver nesta troca de Emails com o Raúl Albino, que esteve em Mansabá em 1969, indica-me o nome do Major Inf Abel Carvalho de Almeida (2.º CMDT), que ficou sem um pé e foi evacuado no dia 8 de Abril de 1969.

Os meus registos indicam que no dia 8 de Abril fui fazer uma evacução (TEVES) a Mansabá.

Este é o primeiro homem que consigo encontrar, agora falta saber por onde ele pára.

Conseguiremos encontrá-lo na nossa tertúlia? Agora que estou tão perto, espero me ajudes.

Se achares opurtuno podes postar os nossos email, ou delete com eles.

Fico à espera de boas noticias.

Um grande Abraço
Jorge Félix

2. Comentário de CV

Caro Jorge
Claro que as tuas mensagens e as de qualquer outro camarada não são apagadas... às vezes ficam esquecidas entre o montão de correio que aqui cai diariamente. Fora a publicação de postes há que responder a diversas solicitações que nos são feitas via email.

Fica desde já feito um apelo, em teu nome, à tertúlia e aos leitores em geral, para te ajudar a encontrar, o então, Major Inf Abel Carvalho de Almeida, a quem desejamos desde já a melhor saúde.

É natural que queiras saber daqueles que socorreste, quando mais precisavam de ajuda. Como bom militar que foste, tendo uma missão a cumprir, que implicava evacuações nas condições mais difíceis, não quererás agradecimentos. Sentirás sim uma ponta de orgulho pelo dever cumprido e por teres contribuído para salvar alguns infantes da morte certa.

Mansabá > Chegada de uma Operação helitransportada

Mansabá > Um Alouette na Placa

Fica agora a troca de correspondência entre os nossos camaradas Jorge Félix e Raúl Albino.

3.
De Jorge Félix para Raúl Albino

Caro Raúl Albino:
Quando li a História da CCAÇ 2402, pedi o teu email para tirar umas dúvidas sobre umas datas.

Fui piloto de helis entre 1968 e 1970 na Guiné, e tenho os registos de todas as operações que fiz.

Em Abril de 1969 fui dois dias a Mansabá e como a primeira data era 8 de Abril de 1969, fazer uma "Tves" (evacuação), fiquei na duvida se não terias trocado 0 3 pelo 8 por serem números parecidos.

Leio agora num outro poste da tua autoria P3156 que no dia 8 de Abril o rebentamento de uma mina fez dois feridos.

Nesse dia eu fui a Mansabá fazer uma evacuação.

No dia 24 de Abril também estive em Mansabá e pelos meus registos deve ter havido bastante movimento,pois fui 6 vezes à Zops.

Se tiveres alguma memória deste dia gostaria de saber.

Vou ficar atento aso teus posts,
um abraço
Jorge Félix

4. Resposta de Raúl Albino, com data de 3 de Setembro de 2008

Caro Jorge Felix,
É interessante a vantagem de pertencermos ao blogue. Aos poucos, cada um de nós vai construindo um puzzle sobre a nossa vivência e intervenção na Guiné. Dando algum desconto às nossas falhas de memória, mesmo assim podemos ficar com uma panorâmica bem alargada do trabalho daqueles que passaram pelos mesmos locais que nós, antes e depois.

Folgo imenso em saber que o Jorge também passou por Mansabá, na meritória função de evacuar os nossos feridos para o hospital, dando-lhes alguma esperança de vida. Vou tentar dar alguma ajuda.

No dia 8 de Abril de 1969 o rebentamento da mina A/P provocou 3 feridos: o major que ficou sem um pé, e mais dois feridos ligeiros, sendo um deles oficial sub-alterno.

No dia 24 de Abril não tenho qualquer acontecimento reportado pelo batalhão. Tenho sim registo de duas flagelações do IN às NT na zona dos trabalhos de estrada, uma a 19 e outra a 26, de curta duração e sem consequências.

Sempre ai dispor para qualquer esclarecimento,
um abraço,
Raul Albino

5. Mensagem de Jorge Félix dirigida a Raúl Albino

Caro Raul Albino,
Grato pela resposta.

Uma das normas do nosso Blogue é o tratamento por tu, por isso o meu à-vontade.

Quando entrei nesta troca de mensagens, tinha a esperança de um dia encontrar um combatente que tivesse transportado naqueles dias longínquos.

Hoje parece que estou perto de encontrar dois. Será posivel saber o nome e contacto desses companheiros evaquados no dia 8 de Abril de 1969? Fico à espera de novas.

No dia 24 de Abril de 1969 tenho registadas em Mansabá e Zops, 3 horas e 55 minutos de voo com TMAN (transporte Manobras) e Tger ( transporte geral) e DESP (deligência especial), que podia muito bem ser o transporte do Comandante Chefe António de Spinola.

No dia 24 de Fevereiro de 1969 também fiz uma TVES, com passagem por Farim. Fui duas vezes a Farim nesse dia e Canjamba.

No dia 3 de Maio fiz um TGER para Mansabá. O tempo da viagem entre Bissalanca e Mansabá era de 30/35 minutos. Tão perto e tão longe, não?

Voltei lá no dia 27 de Maio 1969 com outra DESP.

No dia 22 de Agosto de 1969 lá voltei a fazer "pó".

No dia 6 de Novembro de 1969 deve ter havido algo especial pois voei 5 horas e 45 minutos, fui 10 vezes às Zops e voei 35 minutos de noite.

Não mais voltei a Mansabá.

Caro Raúl, estas datas estão na minha caderneta de voo, as histórias sabe-as tu. Fico atento ao correio para saber novas.

Um abraço
Jorge Félix

6. Resposta de Raúl Albino com data de 4 de Setembro de 2008

Caro Jorge Felix,
Ajudas que eu posso dar:

No dia 3 de Maio houve de facto uma Operação com uma Companhia de Páras e outra de Caçadores normal. Terá sido abatido o chefe de um bi-grupo IN. Também nesse dia o CMDT do COP6 (Mansabá) deslocou-se ao Olossato, possivelmente de helicóptero.

No dia 22 de Agosto houve uma flagelação IN a uma coluna de reabastecimentos, onde um militar fracturou um pé ao saltar de uma viatura. Possivelmente terá sido evacuado. Em Agosto eu já estava no Olossato.

No dia 5 para 6 de Novembro, tenho registo de uma Operação grande a partir de Mansabá. No entanto não estão reportados feridos, porque não chegou a haver contacto com o IN o que quer dizer que a Operação foi um tiro de pólvora seca.

No dia 8 de Abril o major que ficou sem um pé terá sido o Maj Inf Abel Carvalho de Almeida, 2.º CMDT. O outro ferido ligeiro poderá ter sido um alferes, mas não sei o nome dele nem do outro militar.

Espero ter dado alguma ajuda sobre algumas datas. A minha passagem por Mansabá foi de facto muito curta.

Um abraço e até um dia.

Conto assistir à divulgação do 2.º livro do Beja Santos em Novembro. Talvez aí nos encontremos,
Raul Albino

7. Mensagem de Jorge Félix para Raúl Albino

Caríssimo Raúl Albino,
Grato por tudo o que me informou. Agora vou procurar saber onde pára o Maj Abel Carvalho de Almeida.

Vou tentar encontrá-lo através do nosso Blogue, para isso preciso de autorização da tua parte, para publicar esta nossa troca de emails.

Nos dias 5 e 6 de Novembro de 1969 não tenho assinalado TVES. Tenho 10 idas às ZOPS com a indicação TMAN e no dia 6 tenho DCON-Zops, já não sei o significado.

Em Dezembro de 1969 no dia 27 estive no Olossato. Um DESP, deligência especial, com passagem por Ingoré, Barro, Olossato, (com paragem em Olossato).

Depois levantei para uma localidade que não consigo decifrar, ANdoriNHA (?), ANtotiNHA (?)- as letras maiúsculas estão certas mas as outras não sei.

É natural que nesse dia tivessemos bebido um copo juntos. Eu não perdoava; uma pró caminho , outra pra viagem, e outra para o que der e vier!

Fico à espera de novas, desta vez do Olossato.

Como é que um acontecimento que se passou em 1969 pode hoje ter a indicação de novas? A relatividade do tempo.

Um abraço
Jorge Félix

8. Resposta de Raúl Albino, com data de 8 de Setembro de 2008

Jorge,
Está a autorização dada para a publicação no blogue e boa sorte na pesquisa a ser efectuada.

O nome a que te referes como sendo uma localidade situada perto do Olossato, não me diz nada, pelo que não te posso ajudar. No entanto fico a matutar e se me surgir alguma ideia, escrevo-te a informar. Em breve começarei os relatos das peripécias da CCAÇ 2402 no Olossato.

Fico sempre ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

Um abraço,
Raul Albino
________________

Nota de CV

(1) - Vd. postes de:

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

sábado, 15 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)



Cópia de duas páginas da caderneta de voo do Alf Mil Piloto Aviador de Helicóptero Alouette III, Jorge Félix (Guiné, BA12, 1968/70).

1. Duas mensagens do Jorge Félix (1), com data de ontem:


(i) Caro Luís, o nosso Blogue entranha-se. Já é um vício com muitas horas de leitura.

Antes que se esgote Gandembel (2), gostaria de entrar em contacto com o Idálio Reis, morador em Gandembel numa altura em que lá fui.

Vou juntar umas fotos da minha caderneta de voo onde se podem ver as duas evacuações [ TEvs] que fiz, nos dias 20 de Outubro de 68 e 29 de Outubro 68. No dia 10 fui duas vezes a Gand [embel] e no dia 19 de Outubro voltei a fazer TGer [Transporte Geral].

Gostaria de com ele trocar umas falas sobre estas datas para ver se se recorda de alguma coisa, antes que Gandembel acabe.

Um abraço
Jorge Félix




(ii) Luís, não fui ao Guileje, mas mato saudades de outro modo. Moro em Gaia onde há uma Rua da Guiné. Gosto daquela Rua. Segue testemunho.

Jorge Félix

Fotos: © Jorge Félix (2008). Direitos reservados.

2. Comentário de L.G.:

O Idálio Reis vai adorar falar contigo. Ele vive em Cantanhede. Não pôde ir connosco ao Simpósio Internacional de Guiledje por razões de saúde. Manda-lhe um email, a pedir mais detalhes sobre essas datas em que foste lá... Sei que os páras (o Bação Lemos, o Avelar de Sousa, o Almeida Martins, o Terras Marques e outros....) andaram por lá, em Agosto / Setembro de 1968, e houve porrada da grossa... É que Gandembel / Balana ficava mesmo em pleno corredor do povo (ou da morte, como dizíamos nós), o que não dava muito jeito ao PAIGC... Não sei se em Outubro os páras ainda lá estavam.

O Idálio e os seus Dragões Dourados (a CCAÇ 2317) estiveram menos de nove meses em Gandembel e no destacamento da Ponte Balana, de Abril de 1968 a Janeiro de 1969, como tu sabes. Não tenho tido notícias dele. De qualquer modo, ficamos todos muito sensibilizados com a informação que nos mandas e que publicamos de imediato. Gandembel, seguramente, que não se vai esgotar tão cedo... E a propósito, já ouviste o Hino de Gandembel ? Um dia destes tens que conhecer a Casa Teresa, em Matosinhos, junto ao Porto de Leixões, que tem funcionado como sede da minitertúlia do Norte...

Um Alfa Bravo. Luís

_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:

28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)

(2) Vd. poste de 14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel

sábado, 1 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas (Rui Fernandes)

Mensagem do Rui Fernandes:

Caro Virgínio Briote

Em anexo segue uma notícia do Notícias Lusófonas publicada em 29-2-2008.
Com os meus cumprimentos,


Rui Fernandes

__________


Transcrição da notícia. Sublinhados da responsabilidade de vb.
Corpos de soldados portugueses mortos em Guidaje vão ser exumados

A Liga dos Combatentes de Portugal vai, após sucessivos adiamentos, proceder à exumação dos corpos de dez militares portugueses sepultados em 1973 em Guidaje, norte da Guiné-Bissau, disse hoje à Agência Lusa o vice-presidente daquela associação.

Segundo o general Lopes Camilo, a operação, prevista para o primeiro trimestre do ano passado, decorrerá de 07 a 21 de Março próximo e envolverá uma dezena de elementos, entre militares, antropólogos, arqueólogos e geofísicos.

Uma primeira missão militar, composta por três oficiais e um sargento, parte a 07 de Março para o terreno, seguida, uma semana mais tarde, pela delegação técnica, que integra quatro antropólogos, uma arqueóloga e um operador de radar (geofísico), indicou Lopes Camilo.





Mapa (ver legenda abaixo) do cemítério militar de Guidaje, fornecido pelo Estado Maior da Força Aérea. A imagem foi-nos gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Rebocho.


Foto: © Manuel Rebocho (2006)

Os corpos, incluindo os de três pára-quedistas, estão sepultados num "cemitério militar provisório" próximo de um antigo aquartelamento português em Guidaje, no norte da Guiné-Bissau e já próximo da fronteira com o Senegal.

O vice-presidente da Liga adiantou que os restos mortais dos dez militares portugueses, mortos em combate durante a guerra colonial na Guiné-Bissau (1963/74), serão transportados para um local "mais digno" em Bissau, no quadro dos projectos que a associação criou no país.

Os corpos dos sete militares (*), entre elementos do Exército e "comandos africanos", serão transferidos para um cemitério em Bissau e os dos três pára-quedistas serão, posteriormente, trasladados para Portugal, numa missão desenhada por familiares e financiada pela União dos Pára-Quedistas Portugueses (UPP).

O plano tem já luz verde dos ministérios da Defesa dos dois países, sendo, porém, um projecto pensado inicialmente pela família de um dos soldados, que deveria ter partido para o terreno a 16 de Fevereiro de 2007.


O projecto remonta a Setembro de 2005, quando um antigo Sargento-Mor dos Pára-quedistas portugueses, Manuel Rebocho (ver nota, em adenda), que combateu também na então província da Guiné, apresentou a tese de doutoramento intitulada "Sociologia da Paz e dos Conflitos", na Universidade de Évora.





Foi, então, montada uma missão civil para resgatar os três corpos, delegação liderada pelo próprio Manuel Rebocho e que envolvia mais oito pessoas, algumas delas familiares, entre elas a irmã do soldado António Neves Vitoriano, natural de Castro Verde, falecido no teatro de operações em Maio de 1973.

Em declarações hoje à Lusa, Conceição Vitoriano Maia, irmã de Vitoriano, arqueóloga, residente em Évora e que integra a missão civil que se desloca à Guiné-Bissau, disse estar satisfeita por a operação, em preparação há quase dois anos, ir agora por diante.

Além de Vitoriano, que faleceu aos 21 anos, dois outros soldados da Companhia de Caçadores Pára-Quedistas 121 (CCP-121) acabaram por ser enterrados em Guidaje: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos e natural de Vila do Conde, e José Jesus Lourenço, 19 anos, de Cantanhede.

Dado que a área envolvente às sepulturas dos três pára-quedistas contém os restos mortais de pelo menos sete militares do exército português, a Liga dos Combatentes acabou por os incluir (*) no projecto.

Fora do território português existem registos de 6.000 militares naquelas circunstâncias, 4.000 deles nos três principais teatros de guerra em África, Angola, Guiné e Moçambique.

No caso da Guiné, há a localização teórica de locais onde estarão enterrados cerca de 750 militares portugueses, no eixo Bissau/Bambadinca/Bafatá/Gabu, que se juntam aos pouco menos de 1.500 detectados quer em Angola quer em Moçambique, sublinhou.

Nesse sentido, os projectos de cooperação da Liga, disse Lopes Camilo à Lusa, incidem muito especialmente em quatro acções: localizar, identificar, concentrar e dignificar.
Na prática, acrescentou, o objectivo é localizar os corpos entre os mais de uma centena de locais onde se crê que estejam sepultados, identificá-los - nem todos estão identificados -, concentrá-los em quatro ou cinco lugares e dignificá-los com uma campa.

__________

Nota de vb:

1. Agradecemos ao Rui Fernandes o envio da mensagem com esta importante comunicação.

2. (*) Através desta comunicação das Notícias Lusófonas (que transcrevemos com a devida vénia) ficamos a ter conhecimento que os corpos dos Camaradas do Exército vão ser trasladados por arrasto.

3. ver artigos de :

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista

29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)

9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

31 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2014: O Idálio Reis, a CCAÇ 2317, Gandembel e os pára-quedistas do BCP 12 (Victor Tavares)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2051: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (II parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

__________

Legenda do mapa (Manuel Rebocho):

Campa 1 > Manuel Maria Rodrigues Geraldes, Sold. n.º 06471572, da 2.ª CC/BC 4512/72. Filho de António Emílio Geraldes e de Ascensão dos Santos Rodrigues. Natural da freguesia de Vale de Algoso, Concelho de Vimioso.
Campa 2 > Bacote Tanga, Soldado nativo, da 3.ª Companhia de Comandos Africanos.
Campa 3 > António das Neves Vitoriano, Soldado Pára-Quedista n.º 528/72, da CCP 121.
Campa 4 > José de Jesus Lourenço, Soldado Pára-Quedista n.º 544/72, da CCP 121.
Campa 5 > Manuel da Silva Peixoto, Soldado Pára-Quedista n.º 1176/70, da CCP 121.
Campa 6 > Talibú Baió, Soldado nativo, da C C n.º 19.
Campa 1-A > José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano n.º 02893771, da CC 3518. Filho de Manuel Machado e de Delta de Jesus Moreira. Natural do lugar de Sá, freguesia de Ervões, Concelho de Valpaços.
Campa 2-A: João Nunes Ferreira, Soldado n.º 09477371, da CC 3518. Filho de Luís Ferreira e de Maria Martinha. Natural da freguesia de Câmara de Lobos, Concelho de Câmara de Lobos – Madeira.
Campa 3-A > Gabriel Ferreira Telo, 1.º Cabo n.º 03117871, da CC 3518. Filho de João de Jesus Telo e de Maria Filomena Ferreira Telo. Natural da freguesia de Paul do Mar, Concelho de Calheta – Madeira.
Campa 4-A > António Santos Jerónimo Fernandes, Fur. Miliciano n.º 09486271, da CC nº. 19. Filho de Domingos António Jerónimo Fernandes e de Maria da Glória Fernandes Jerónimo. Natural da freguesia de Garção, concelho de Vimioso.
__________
Mensagem do Manuel Rebocho, a propósito desta comunicação das Notícias Lusófonas:
(...) Não tenho mais nada a acrescentar. Apenas dizer que fico muito satisfeito por se ir efectuar o que devia ter sido efectuado logo em 1973, e que foi mantido em segredo durante 30 anos.
(...) mas sinto um enorme prazer e uma imensa satisfação ao verificar que, passados mais de 34 anos o Sargento-Mor Rebocho ainda "obriga" os Oficiais a fazer o que não querem.
(...) Se eu lá estivesse, naquele momento, os Pára-Quedistas não teriam lá sido enterrados, isto para não dizer que não teriam lá morrido, mas isso já é outra história.
Um grande abraço.
Manuel Rebocho

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Alouette III, a descolar do heliporto local. O piloto era o Coelho, diz a legenda do fotógrafo, o Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12 (1969/71). O Humberto Reis conviveu, de muito perto, com a malta da FAP, o que lhe permitiu tirar algumas das melhores fotos aéreas que já aqui publicámos... Inclsuive ele julga conehcer o Joirge Félix, que o etrá desenrascado numa situaçãod e apuro em finasi de Julho ou princípios de Agosto de 1969, em Madinba Xaquili (1)...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada (2, 3). O temível helicanhão. Um Alouette III, com canhão lateral de calibre 20 mm. No mato, em operações, o helicóptero era o nosso anjo da guarda, como muito bem diz o nosso camarada Paulo Raposo que estve na Op Lança Afiada, como Alf Mil Inf da CCAÇ 2405 (2). A presença do heli e sobretudo do helicanhão era sempre securizante e protectora. Até ao dia, nos primeiros meses de 1973, em que a nossa supremacia aérea foi sa ser contestada pelos foguetões terra-ar Strella... (LG).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada. O Alf Mil Paulo Raposo, da CCAÇ 2405, junto a um dos helicópteros. O número de evacuações, por insolação, desidratação, doença, ataque de abelhas e esgotamento foi enorme: mais de uma centena de casos (3)

Fotos: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do novo habitante da nossa Tabanca Grande, Jorge Félix (que foi Alf Mil Pil Aviador de helicóptero Al III, Guiné , 1968/70) (1)

Caro Luís Graça.

Ontem eram 5 da madrugada , hoje são 4:50, voos noturnos que a idade nos vai permitindo ter.

Não é facil contar histórias da nossa Guiné, nunca conto, e julgo que nem quero contar, no entanto o vosso Blog é ganda ronco e merece uma colaboração. Fotos, tenho muito poucas, foram-se para os álbuns dos filhos e estão muitas perdidas. Espero que na continuidade da nossa correspondência apareçam fotos, sabe-se lá.

As recordações contadas a mais que uma voz, porque o tempo dilui muita coisa, podem vir a ser mais reais.

... No seu tempo fui a Bambadinca no dia 12 de Março de 1969. Na caderneta de voo consta o seguinte: Bs- Buba -Bambadinca (1 hora 40 minutos). Depois de estar em Bambadinca fiz TGer (transporte geral) e Tevs (transporte evacuações)- Bambadinca-Zops (zona operacional) com cinco aterragens e a duração de 1 hora e 40 minutos.

No mesmo dia mais 35 minutos outro voo de Tevs Zops-Bambadinca, duas aterragens. Mais uma hora e 20 minutos voo de TGer - Tevs Bambadinca-Mansambo-Zops, 10 aterragens. Mais um voo de 30 minutos com duas aterragens a fazer Tger e Tevs. Finalmente para terminar esse dia viagem de 15 minutos para Bafatá, onde devo ter dormido. Este dia longínquo de 12 de Março de 69 voei seis horas nos Céus da sua Bambadinca.

Virei a página da caderneta e vejo que no dia 13 foi a mesma "movimentação" , 25 aterragens e 3 horas de voo; no dia 14 Bafatá-Bambadinca-Zops duas horas e meia de voo; dia 15 mais seis horas e 15 de voo com Tevs e Tger para a Zops; no dia 16 Bambadinca- Bafatá- Zops com duas horas de voo. Voltei para Bafatá numa DO27. No dia seguinte vim para Bissau. Viagem que demorava mais ou menos 5o minutos.

Isto tenho eu aqui escrito mas não me recordo que manobras foram estas e com quem.(De momento estou com arrumações e tenho o scanner perdido, logo que acabe as obras, vou lhe enviar estas páginas da caderneta).

Será que a memória do seu Blog terá imagens e relatos destes dias ? Alguém se lembra o que aconteceu nesses dias? (3) Tenho a ideia que foi numa dessas operações que um exame de abelhas entrou por uma porta do Heli e saiu por o outro lado sem incomodar ninguém.

Não é estranho que me recorde disto e nada mais ...

Já são seis horas, vou me deitar.

Boa viagem para a terra das bolanhas, beba lá um copo por mim, dê saúdades àquele Povo.
Jorge Félix

__________

Notas de L.G.:

(1) Mensagem que recebi hoje, do Humberto Reis:

(...) Este nosso novo tertuliano Jorge Félix, ex-alf mil pil av, julgo que era um que andava quase sempre com botas de cano alto. O comandante da esq 123 era o cap Cubas, de alcunha o Canibalão, pois a esquadrilha era a de Os Canibais. O Cubas foi substituído em 70, se não me engano, pelo cap Morais da Silva, que chegou a ser CEMFA depois do 25 de Abril.

Se a memória não me falha, 39 anos depois, foi o Félix que me aterrou em Madina Xaquili, em Agosto de 69, e deu o alerta (tínhamos ficado sem rádio após a flagelação) de que necessitávamos de evacuações Y para os feridos graves e munições várias. Ele aterrou porque viu os nossos sinais de cá de baixo e desconfiou que tinha havido problemas (acertou).

Transportava alguns pára-quedistas que tinham nessa altura uma companhia em Galomaro, e foram eles que nos enviaram os primeiros cunhetes de munições para nos desenrascar Chegou-nos um héli 1 ou 2 horas depois com as munições e fez as evacuações dos 2 feridos graves que vieram para o HMP na Estrela.

Deve ter sido contemporâneo do ex-alf mil pil av (Al III) Solano de Almeida que eu conheci lá e o pai, comandante da TAP, conheci-o cá muito bem com o seu belo barco (gostava de andar no ar e na água).

É do tempo dele tb o ex-fur mil pil av Rui Branco que depois de vir de lá foi instrutor de voo no Aero Clube de Torres Vedras. Tb o Manuel Santana, ex-alf mil pil av que morava aqui em Sete Rios, foi do tempo dele.

Enfim tanta malta conhecida a quem perdi o rasto. Eu que tantas noites dormi lá na base e convivi com muitos deles, nunca mais soube nada. Pode ser que o Félix tenha contactos dessa malta do nosso tempo em comum, 69 e 70, e esteja disposto a repartir connosco algumas memórias daquela época. Contacta com ele nesse sentido. Ela mora aqui na zona de Lisboa? Tens um contacto telefónico? Se necessário podes dar o meu 918 776 460 (esquece o outro 919 039 672, que só me dá problemas) (...).

Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)

(2) Vd. poste de 6 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli

(...) A mata do Fiofioli era uma mata bem controlada pelo inimigo. Era um tufo rodeado de bolanha por todos os lados, fazia lembrar uma ilha.

Para se desalojar o inimigo, preparou-se uma grande operação, prevista para durar oito dias, com várias companhias envolvidas. Todo o abastecimento tinha de ser feito por heli. E lá fomos mais uma vez.

Houve um dia que os helis não conseguiam descer para nos abastecer de água devido à vegetação densa. Passámos muita sede. Nesse dia tivemos de beber água de um charco lamacento. Como? Tirámos o quico, nome que dávamos ao boné, que estava todo sebento, enchemo-lo de lodo, e, por baixo, íamos apanhando a humidade às gotas. Só acredita quem por lá passou.

(...) As baixas até ao fim da operação foram muitas, umas por exaustão, outras por oportunismo. Um dos meus rapazes, que transportava o cano da bazuca, a meio da operação, quando passou por perto de um heli, meteu-se nele para ir embora, deixando no chão o tubo abandonado.

(...) De lá trouxe um livro do inimigo, que ensinava as crianças a ler. Depois foi o regresso. Mais uma penosa caminhada. Os helis andavam no seu vai vem abastecendo-nos de água e rações de combate. Tínhamos de ser nós, os oficiais, a tomar conta da água e a distribuí-la por todos igualmente. Os helis eram assaltados se não tivéssemos organizado este sistema. (...)


(3) Sobre a Op Lança Afiada (8-18 de Março de 1969, Sector L1, Bambadinca), vd. postes de:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII: Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)

(...) Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé.

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores. Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto directo.


As populações sob controlo do IN passaram, com alguma segurança, para o outro lado do rio Corubal. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de regimento, sendo comandada por um coronel (Hélio Felgas). Quase um terço dos efectivos eram carregadores !!!

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi um bluff... Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico...


É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação de alguns excertos desse relatório. Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e possivelmente policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné. L.G. (...)


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas (Luís Graça)

Negritos, da responsabilidadfe do editor L.G.

(...) Dia D + 4 (12 de Março de 1969)

Os Dest A e B continuaram batendo a área 6 sem nada encontrarem.

Na área 4, o Dest B foi flagelado às 10H10 tendo sofrido um ferido ligeiro mas feito baixas confirmadas. Combinando a manobra com o Dest C, capturou 3 nativos e queimou diversas tabancas na área. O Dest C foi flagelado às 11H00 tendo 3 feridos ligeiros que não evacuou e fez um morto confirmado ao IN.

Quanto ao Dest E, dera a volta próximo da margem esquerda do Rio Buruntoni, queimara 2 toneladas de arroz numas casas junto ao caminho para Ponta do Inglês, capturara inúmeros animais domésticos e tivera contacto com o IN às 13H00, sofrendo um ferido que fora evacuado. Apreendera material ao IN.

O Dest F, agora reforçado por um Gr Comb do Dest G, devido às numerosas evacuações que tivera que fazer, mantinha-se emboscado a Norte da Foz do Rio Bissari. O resto do Dest G continuava emboscado a Norte do Galo Corubal. E os Dest H e I bateram a área 10, tendo a sua actuação sido prejudicada pela demora dos reabastecimentos e evacuações.

O milícia ferido em 111630 (gravemente, segundo o parecer do enfermeiro) só foi evacuado em 121315 embora os comandantes da Operação e do Agrupamento Táctico tivessem sido largados no local cerca das 9H00. Por razões desconhecidas, porém, o piloto não quis evacuar o ferido em nenhum das 2 vezes que lá foi deixar água.

Na margem oposta do Rio Corubal viam-se elementos IN que foram metralhados pelo helicanhão. A tabanca de Inchandanga Balanta ficou a arder.

Durante o incêndio de uma das tabancas entre Galo Corubal e Dando rebentaram inúmeras munições que provavelmente estavam escondidas no colmo dos tectos.

Os ataques das abelhas continuavam a mostrar-se mais perigosos que as flagelações IN pois o pessoal carregador tudo abandonava para fugir aos enxames que, nesta época, são extremamente agressivas.

Cerca das 13H15, num helicóptero insistentemente pedido, os comandantes da Operação e do Agrupamento Táctico foram transportados a Bambadinca juntamente com o milícia ferido, o qual seguiu para Bissau.

A deficiência do apoio aéreo em reabastecimentos, evacuações e recomplementos levou a fazer mensagens e a focar o assunto no RELIM [Relatório de Informações sobre a Actividade Operacional].


Dia D + 5 (13 de Março de 1969)


Os Dest A e B aproximaram-se de Tubacutá (área 5). Durante a noite anterior ouviram um motor dum barco fazendo travessias do Rio Corubal na região entre Queroane e Fiofioli. O movimento durara desde as 19H00 do dia 12 e as 4H00 do dia 13.

Os Dest C e D continuaram destruindo a enorme tabanca de Ponta Luís Dias, com uma grande escola onde havia muitos livros e cadernos. Por seu lado, o Dest C, às 7H30, destruíra cinco canoas em local com indícios de ter tido grande movimento durante a noite. Todos estes Dest apanharam e consumiram centenas de animais domésticos. Cerca das 19H30 o Dest E sofreu nova flagelação, tendo nove evacuados no dia seguinte.

Os Dest H e I detectaram e destruíram o acampamento IN de Gã Júlio, enquanto os F e G faziam o mesmo ao de Mina. Ambos estes acampamentos haviam sido recentemente abandonados. Tais como outros, ainda tinham comida quente. Este facto constou do comentário ao RELIM deste dia, no qual pedia o estabelecimento de emboscadas nocturnas na outra margem do Rio Corubal.

Neste dia houve uma reunião em Bambadinca com Sua Excia. o Comandante-Chefe e o Exmo. Comandante da Zona Aérea que disseram ao Comandamte da Operação estar a ser excessivo o esforço pedido à FA [Força Aérea]. Expondo-se como esses meios estavam a ser empregues.

Por outro lado Sua Excia. deu Directivas sobre a recolha do arroz IN. Ficou ainda estabelecido não proceder a quaisquer recompletamentos, excepto de oficiais e sargentos, a fim de aliviar os meios aéreos. (...)


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli (Luís Graça)

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)

(...) Dia D + 8 (16 de Março de 1969)

Os Dest A, B e C actuaram entre Queroane e Mangai destruindo tudo à sua passagem. O que sobrara de Mangai ficou reduzido a cinzas. Foram ainda capturados 3 nativos e feitos 2 mortos confirmados.

Os Dest F, G e I voltaram a bater a mata do Fiofioli mas agora no sentido Leste-Oeste. Inicialmente, porém, deslocaram-se por indicação do guia à zona (C8-71) e aí do lado de lá da bolanha, e portanto já fora da mata do Fiofioli, encontraram espalhado pelo mato, além de novos documentos, importante e valioso material de guerra que deu para encher mais de dois helis.
Os Dest E e H bateram também no sentido Oeste-Leste e Sul da mata e foram acabar de destruir a tabanca de Fiofioli, capturando ainda muitas munições.

Nesse dia, às 10h30 houve nova reunião em Bambadinca com Sua Excia o Comandante-Chefe. Sua Excia informou que em virtude de ter de realizar uma operação noutro Sector, determinava a suspensão do apoio aéreo em 17 [de Março] e o embarque dos Dest A, B e C em Ponta Luís Dias nesse dia com destino ao Xime. Os outros Dest do Agrupamento Sul não seriam reabastecidos em 17. Que o seriam em 18 mas compreendeu-se mal pois, segundo Sua Excia, em 17 o esforço aéreo não poderia ser mantido e só seria deixado o heli de evacuações. No entanto, os Dest do Agrupamento somavam nessa altura mais de 750 homens que seria necessário reabastecer de água e alimentação (os Dest A, B e C somavam entre 450 e 500 homens). (...).

c. Apoio aéreo

Inicialmente o apoio aéreo, no que respeita a reabastecimentos, revelou-se deficiente. O facto de não ter sido cedido o heli ao Comandante da operação, dificultou a acção de comando e influiu nos rendimentos dos meios à disposição, pois previra-se que esse heli colaboraria com o das evacuações e com o dos reabastecimentos.

Além disso, a coordenação levou o seu tempo a rodar, o que é naturalíssimo pois não tem havido muitas operações como esta.

Em terceiro lugar, os meios aéreos não deram inicialmente o rendimento que se esperava, uns por avarias, outros por serem desviados para outras missões e outros por estarem na altura das inspecções e revisões.

A situação quanto ao apoio aéreo era a seguinte em 13 de Março de 1969, às 13H45 (MSG 735/I/BCAÇ 2852):

- 1 DO estava avariado havia 2 dias;
- O outro DO só começou a trabalhar às 10H00;
- O heli trabalhava pouco mais de 1 hora, seguindo para Bissau;
- O outro heli seguira às 08H00 directo de Bafatá para Bissau (parece que podia ter ido ficar a Bissau na véspera);
- O helicanhão saira para Bissau às 10H30, só regressando no dia seguinte às 11H00;
Os helis que haviam seguido para Bissau só foram substituídos cerca das 11H00 ; só depois desta hora, portanto, se regularizou o serviço de reabastecimentos e evacuações.

No dia 13 a actividade dos meios aéreos fornecidos para a operação foi a seguinte:

- A DO levantou de Bafatá para a área 9 [ Mina – Gã Júlio ]às 07H20 com o Comandante do Agrupamento Táctico Sul, o Major Negrão da FA e o Cap Lopes que ia assumir o comando do Dest G e ficou no Xitole; à tarde foi para Bissau;

- Os 2 helis levantarm às 07H30 com o comandante da operação para Bambadinca (serviço normal);

- O helicanhão, saúdo da zona de operações em 11 de Março, às 10H30, e regressado a 12, às 11H00, fez escolta ao heli de Sexa Comandante-Chefe; não prestou serviço à operação, que se tivesse conhecimento;

- A DO chegou de Bissau, foi a Piche buscar o Coronel Neves Cardoso para uma reunião em Bambadincas onde chegou às 11H00; à tarde voltoiu a levar a Piche o mesmo oficial.

Em 14 os helis chegaram a Bambadinca às 08H30 e só aqui é que se abasteceram (pelo menos um). Podiam tê-lo feito em Bafatá. No entanto, a situação melhorou por vários motivos. Primeiro, porque se acabou com os recomplementos. Segundo, porque a selecção natural fez baixar o número de evacuações. Terceiro, porque os meios aéreos ficaram mais tempo na zona da operação. Quarto, porque a coordenação ar-terra ganhou experiência e tornou-se por isso mais eficiente. (...)

Vd. ainda o poste de 31 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza (Op Lança Afiada, Março de 1969)