Mostrar mensagens com a etiqueta guineenses. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta guineenses. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5538: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (20): Uma saudação muito afectuosa para todos os guineenses (Beja Santos)


Luis e Carlos,

Reparem nas tonalidades suaves, na delicadeza da dança juvenil, na ave de Picasso, no batuque acolhedor, no viço do pó d'osso. Só a nossa Guiné podia ter selos que falam tão vibrantemente da paz e reconstrução, sonho profundo de suas gentes.

Juntemos as nossas esperanças e sonhos com os dos guineenses, nesta quadra.

Uma saudação muito afectuosa para toda a Guiné-Bissau, são os meus ardentes votos do Mário Beja Santos

sábado, 16 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4357: Questões politicamente (in)correctas (39): Havia racismo nas Forças Armadas Portuguesas ? ... E no PAIGC ? (Nelson Herbert)

1. Mensagem do Nelson Herbert, nosso amigo Nelson Herbert, nascido na Guiné-Bissau, mas de origem caboverdiana (viveu a guerra colonial como adolescente, em Bissau) e que é editor sénior do serviço em português para a África, da Radio Voice of America, [Voz da América] com sede em Washington ) (*)...


"By 30 April 1968 total U.S. military personnel in Vietnam numbered 543,300. Assuming a nine to one ratio, that is nine service and support for each grunt in the bush characteristic of a modern technology (including technologies of the intellect)-based army, such as we had in Vietnam, and you rapidly conclude that all of the fighting was done by no more than 50,000 men at any one time. What this means is that with a surfeit of bodies in the rear, a critical mass was effected that recreated America in Vietnam. RACISM IN THE REAR WAS ALIVE, WELL AND VIRULENT. Both the Viet Cong and the North Vietnamese would exploit this pernicious flaw in the American Character as a divisive weapon illuminating what the war managers could not seem to grasp--the fundamentally political character of the conflict."


[ Até 30 de Abril de 1968,o total de militares norte-americanos no Vietname atingia os 543300. Assumindo uma relação de um para nove, isto é nove especialistas das áreas de serviço e apoio para um operacional na selva, que é o traço característico de um exército de base tecnológica moderna (incluindo as tecnologias da informação e do conhecimento), como tivemos no Vietname, rapidamente se conclui que o número de combatentes na frente de batalha não terá ultrapassado, de qualquer modo, os 50.000 homens. Isto significou a existência de um excesso de forças na retaguarda, tendo como efeito uma massa crítica que recreou a América no Vietname. O RACISMO NA RECTAGUARDA ESTAVA VIVO; EM FORÇA E ERA VIRULENTO. Tanto o Vietcong e como os norte-vietnamitas iriam explorar essa perniciosa falha na cultura militar dos americanos, como uma arma facturante mostrando aquilo que os gestores da guerra pareciam não compreender – a natureza fundamentalmente política do conflito.][Tr. ingl., L.G.]

in Black Studies, de William M King, Afroamerican Studies Program ,University of Colorado, Boulder, Colorado, USA


Não creio que hajam guerras imunes a problemáticas e conflitos raciais latentes, particularmente quando as forças e os homens nelas envolvidas, de um e outro lado da trincheira, forem de origem multirracial. A guerra americana no Vietname foi disso, um exemplo! A guerra travada por Portugal, nos três cenários africanos, não deverá decerto ter sido uma excepção.

Pois, vem isto a propósito da utilização do termo Nharro, num dos postes do blogue, prontamente contestado pelo bloguista José Macedo, por sinal um antigo companheiro de armas, vosso. Nharro é de facto o mais pejorativo termo feito recurso na Guiné colonial, para se referir a um negro, a um nativo. E não estou aqui a ensinar [o Padre Nosso ao Vigário]!

Termo pejorativo, racista, que, quiçá ao longo dos tempos foi-se desprendendo de toda essa sua carga semântica original. Hoje “expressão de afecto” e não tenho neste particular razões para duvidar ter sido com essa intenção, a sua utilização pelo bloguista Henrique Matos , mas pela polémica que a sua utilização e recurso no blogue podem suscitar ( melhor, já suscitou), deixo aqui um repto, um desafio.. quem sabe, uma temática a abordar: a problemática do racismo nas casernas, nas fileiras militares. Terá esse problema existido e afectado a vossa camaradagem ?

Do lado do inimigo, a então guerrrilha do PAIGC é o que se sabe, com todo o seu dramático cortejo de episódios, de que o assassinato de Amílcar Cabral fora quiçá o cume !

A história e a geração pós-guerra (a que me considero pertencer, apesar de 13 anos de vivência desse conflito), muito agradecem !


Mantenhas

Nelson Herbert

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desra série: 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4348: Questões politicamente (in)correctas (38): Os nossos queridos nharros (José Teixeira)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4341: Questões politicamente (in)correctas (38): Abuso e abuso do termo 'nharro' (Zeca Macedo / Henrique Matos)

1. Mensagem do nosso camarada Zeca Macedo (ou Zeca Macedo, para os amigos), um cabo verdiano da diáspora, que foi Fuzileiro Especial no DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), e que hoje é advogado nos EUA, para onde imigrou em 1977 (*).

Virgínio:

Li num Post de hoje, 12 de Maio, e não quis acreditar.: "Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei" (...) (**)

Nharros do 52? Estará ele a referir-se aos Caçadores Nativos, chamando-os de Nharros, 43 anos depois? Ser+a que chamará de Nharro, na cara dele, ao Marcelino da Mata?

Quando alguém critica o Cor Coutinho e Lima ou chama de Bandos os soldados (não foi bem assim), cai o Carmo e a Trindade; contudo, quando se chama de Nharro (pior dos piores pejorativos) aos soldados nativos, ninguém (a não ser eu?) protesta.

Foi só um desabafo de um Fuzileiro que esteve num destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos.

José J. Macedo, Segundo Tenente
DFE 21-Guiné

Jose J. Macedo, Esquire
Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street
Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115
Fax (617) 354-9955


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio, de Mário Beja Santos > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé, seu antigo soldado. O Henrique, açoriano, vive em Olhão e é, como se costuma dizer entre nós, um verdadeiro camarigo. Não apenas camarada, não apenas amigo, um camarigo, um tabanqueiro de cinco estrelas. (Atenção que tabanqueiro quer dizer "membro da nossa Tabanca Grande", do nosso blogue; em Bissau, pode ter hoje um conotação pejorativa, quando o termo é utilizado pela comunicação social ou pela elite política: habitante de uma tabanca, rural, campónio, saloio)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Resposta na volta do correio, por parte do editor L.G.:

Meu caro Zeca Macedo:

Eu conheço bem o Henrique Matos, comandou o 1º Pel Caç Nat 52, composto por gente valorosa, guineenses, fulas e outros (na zona de Porto Gole, Enxalé, a norte do Rio Geba)... Ele usa a expressão nharros, sem qualquer conotação racista, antes pelo contrário, com carinho... Tal como eu a uso, queridos nharros, referindo-me a homens que foram/são meus camaradas e amigos... Repara: tal como usamos o termo tugas (que também é/era depreciativo)... Sem complexos!

Admito que possa haver leituras como a tua... Em termos do processo de comunicação, temos aqui a dupla questão da denotação/conotação... Para mim e para o Henrique Matos, o termo tem outra conotação: usamos a palavra com afecto, por muito estranho que te pareça...

Eu sei que vives no States, no país do politicamente correcto, e que este termo (nharro) aí seria um insulto... No nosso blogue, num contexto descomplexado, pós-pós-colonial, parece-nos inofensivo.... Repara que temos para os antigos soldados guineenses que lutaram contra o PAIGC, ao nosso lado, uma série que se chama Os Nossos Camaradas Guineenses... Acho que isto diz tudo...

Resumindo: Seria bom que o termo viesse em itálico, ou com aspas, ou que não fosse sequer usado... Obrigado por estares atento. É por estas e por outras que estamos a precisar de um provedor do leitor do blogue... Best regards. Luís


3. Novo comentário do José Macedo:

Obrigado pela resposta. Sei que quando dizes Nharro não é racismo, contudo, o importante não é o que pensa quem o diz, mas sim que o recebe. Acho que nos EU não é que sejamos politicamente corretos (sem o "c" devido a politicamente correta reforma ortográfica).

Penso sim que se trata de um processo evolutivo. Chegou-se a esse ponto de sensibilidade depois de uma longa luta pelos direitos civis dos negros. É o que está a contecer agora com os casamentos entre gays e entre lesbians. Não aconteceu de repente. Existe todo um passado de luta. Em Portugal, infelizmente, tal (ainda) não aconteceu.Continua a ser um pais de brandos costumes.

Um abraço amigo,

Zeca Macedo

4. Comentário, politicamente correcto (***), do nosso querido Henrique Matos:

Caro Luís:

Fiquei como se costuma dizer de boca aberta com o comentário ao meu poste. Para quem me conhece só faltava mesmo poder pensar-se que usei o termo nharros com qualquer intuito racista. Enfim... mas a tua defesa foi óptima.

Abraço
Henrique Matos
________

Notas de L.G.

(*) Vd. último poste deste nosso camarada > 10 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4009: Blogoterapia (96): Não chorarei a morte do Nino (Zeca Macedo, ex - 2º Ten DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)

Vd. também:

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA

2 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3014: Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre (José Macedo, EUA)

(**) Vd. poste de 12 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé

(***) Vd. último poste desta série que, ultimamente, não tem sido muito usada... > 4 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2237: Questões politicamente (in)correctas (37): RTP: As baixas da guerra (Paulo Raposo)

terça-feira, 3 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3966: Nuvens negras sobre Bissau (8): Verto uma lágrima por ti, Povo Irmão (Vasco da Gama)

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > CCAV 8351 (1972/74) > Festa do carneiro, Janeiro de 1973. O Cap Mil Vasco da Gama, seguindo atrás do Cherno Rachide, o mais alto dignatário muçulmano da Guiné, aliado do PAIGC, no início da luta, na altura em que Nino era um jovem comandante, no sul, e depois aliado dos tugas, no tempo de Spínola...

Foto: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados

1. Mensagem de Vasco da Gama:



Não a esta ordem de poder!
Não a estes poderosos!



Não há petróleo!
Não há diamantes!
Não há riquezas fáceis!
Como enriquecer rápido, como esses que têm tudo?
Narcotráfico, leio, espantado, no nosso blogue e ouço nas notícias!
Nem precisamos produzir! Basta-nos entregar!
Porque não? Estamos de acordo!
Respondem dirigentes de corpo anafado e luzidío!
O lucro é fácil e a partilha também!
Para nós, somos uma dúzia,:
A abastança,
a opulência
a fartura,
o luxo,
a ostentação,
a ganância insaciável...
Para o povo,
A miséria,
o sofrimento,
a dor,
a mágoa,
os infortúnios,
as privações...
Povo da Guiné, Povo Irmão,
Povo desgraçado que nasceste para sofrer,
Mesmo assim, com um sorriso lindo nos lábios!
Paz, Felicidade, Progresso,
Tão fácil e tão longe..
è por ti Povo Irmão que eu verto uma lágrima.

Vasco da Gama

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3965: Nuvens negras sobre Bissau (7): Ao combatente Nino Veira, um poema de Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3707: Guineenses da diáspora (4): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro

1. Depois da publicação do P3303 (*), onde foi dada notícia do contacto do nosso amigo guineense Iaia Djamanca, seguiu-se mais uma troca de mensagens com ele, de que passamos a dar conta.

2. Em 13 de Outubro de 2008, Luís Graça mandava esta mensagem a Iaia Djamanca:

Querido amigo Iaia:
Aqui está um link que lhe poderá interessar e ser-lhe útil. É um dicionário de crioulo-português.

http://www.observatoriolp.com/FrontEnd/news/attachments/415_dicionariocompleto.pdf

Obrigado pelos seus elogios ao nosso blogue. É um incentivo para nós. Limitamo-nos a fazer o que a nossa consciência nos dita, a par da nossa amizade pela Guiné-Bissau e pelos guineenses, nossos irmãos. Apareça sempre.

Já viu as nossas cartas (mapas)? São do tempo colonial, são verdadeiras obras-primas... temo-las todas... Falta inserir as últimas (Bijagós, etc.). (Ver primeira página do blogue, coluna do lado esquerdo > Cartas militares da antiga província portuguesa da Guiné.

Mantenhas
Luís Graça

3. No dia 14 de Outubro de 2008, Iaia Djamanca respondia:

Obrigado a vocês que de uma forma acabaram de fazer ou de dar à Guiné o que ela não tem, o que lhe vai valer para eternidade.

Este vosso trabalho é uma grande contribuição para nossa sociedade que ainda não consegue dar a oportunidade como essa que vocês estão dando para jovens guineenses. De certo modo isso vale ouro.

Espero voltar para minha terra depois de acabar o meu curso...
Abraços e continuação de um bom trabalho.

Obrigado Senhor Carlos Esteves Vinhal

Bonita foto da Tabanca de Guileje.
Autor desconhecido. Editada por Carlos Vinhal


4. Comentário de CV

São palavras como as do nosso amigo Iaia Djamanca que incentivam centenas de ex-militares que combateram na Guiné (e não só), a que se dediquem de corpo e alma a ajudar o povo guineense. Apesar de longe da sua pátria, ele sente o sofrimento dos seus compatriotas e reconhece que toda a ajuda à população é pouca. Oxalá que um dia, como quadro superior, volte à Guiné-Bissau e ponha ao seu serviço tudo o que aprendeu na diáspora.
____________
Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3303: O Nosso Livro de Visitas (33): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

domingo, 12 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3303: O Nosso Livro de Visitas (33): Iaia Djamanca, cidadão guineense, estudante universitário no Rio de Janeiro

1. Mensagem de Iaia Djamanca, guineeense, a estudar no Rio de Janeiro, Brasil, com data de 9 de Outubro de 2008.

Assunto: Comentário

Ao iniciar gostaria de poder agradecer do fundo do meu coração por este magnífico trabalho de Vossa Excelência Senhor Luís Graça, Sociólogo do Trabalho e da Saúde, doutorado em Saúde Pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa.

Fiquei impressionado com este brilhante trabalho que me facilitou numa simples pesquisa que estava fazendo na minha faculdade, aqui no Rio de Janeiro (Brasil), com os colegas brasileiros que queriam tanto conhecer algo da minha terra e o nosso crioulo.

Finalmente consegui encontrar de entre muitas que eram do crioulo de Cabo-Verde, o seu trabalho.

Gostei muito e peço a Deus que apareçam milhares de trabalhos como o seu para a Guiné-Bissau.

Obrigado pelo trabalho....

2. Resposta enviada em 12 de Outubro

Caro Iaia Djamanca:

Muito obrigado pelo seu contacto e pelas suas palavras.

É nossa missão escrever uma parte da História de Portugal que está directamente relacionada com as lutas contra os movimentos de libertação das antigas colónias.

Nós, os ex-combatentes, não nos envergonhamos do nosso passado, pois em tempo de ditadura não havia alternativa para o não cumprimento do então chamado dever de defender a Pátria. O poder político julgava poder manter intacto o império colonial, lutando contra o que era já então um movimento irreversível a todos os níveis. Havia, sim, a hipótese de fuga do país, mas isso acarretava um futuro incerto, pois ainda não se sonhava com o derrube do regime totalitário vigente.

Alguma supremacia por parte dos movimentos libertadores e a saturação dos Oficiais e Sargentos do Quadro Permanente do Exército Português, precipitaram o derrube dos governantes de então e a abertura de conversações com quem justamente ansiava a independência total a absoluta.

Hoje, todas as antigas colónias portuguesas são países independentes de pleno direito. Existe uma amizade sincera entre os nossos povos e consideramo-nos mutuamente como irmãos. Os nossos inimigos de ontem recebem-nos hoje de braços abertos, quando os visitamos.

Pena que, pelas limitações próprias da Guiné-Bissau, onde a internete está muito longe de chegar sequer a uma minoria dos cidadãos, os ex-combatentes do PAIGC não possam colaborar no nosso Blogue, porque a troca de informações entre ambos os lados só enriquecia este espólio que ajudará no futuro a reescrever este bocado da História dos dois países. Daí ser muito importante, para nós, o diálogo com os guineenses da diáspora, os que vivem, estudam e trabalham no estrangeiro, como o Iaia Djamanca.

Sempre que precise de alguma informação, não se acanhe a contactar-nos, que nós, se tivermos a resposta, ajudá-lo-emos.

Desejamos-lhe as maiores venturas em terras do Brasil , se fôr sua vontade, volte um dia à Guiné-Bissau para ajudar os seus compatriotas que muito precisam de quadros.

Receba um abraço dos editores, assim como de todos os ex-combatentes e amigos da Guiné-Bissau, membros deste blogue.

Carlos Vinhal
Co-editor

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)


José Teixeira
ex-1.º Cabo Enfermeiro
CCAÇ 2381
Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,
1968/70



1. Em 5 de Junho de 2008, o nosso camarada José Teixeira enviou-nos esta mensagem com sugestões de colaboração. Deixamo-la à consideração de todos os nossos leitores.

Luís:_ Saúde, paz e felicidade, para ti, tua esposa e familia e, colaboradores no Blogue e bloguistas.

No Encontro da Tabanca Grande em Monte Real, a tua esposa e querida amiga levantou-me esta questão: Como ajudar aquela gente a sair da situação difícil em que se encontra?

Deixou-me a pensar e agora aí estou eu - o chato do costume - a provocar mais um desafio.

Gostava de te pedir para colocares no blogue os indicativos das Associações, na sua maioria criadas por antigos combatentes, e que estão a juntar-se outras gentes, mais novas, mas sensíveis. Segue também uma carta, desafio, que pedia para ser publicada, se assim o entenderes.

Fraternal abraço para udo djenti da Tabanca Garandi

2. Caros tertulianos.

A Guiné Bissau, que nós tão bem conhecemos e onde deixámos um pouco do nosso coração, tem actualmente profundas carências nas mais diversas áreas. Políticas mal orientadas, como a de trocar a produção do arroz pela produção da castanha de cajú, aconselhada pelo Banco mundial, aliadas à falta de experiência politica dos seus governantes e outras, têm conduzido aqueles povos a uma miséria extrema, da qual é preciso retirá-los.

Creio que, com a nossa ajuda, por mais pequena que seja, pode ser uma alavanca de crescimento nas áreas do ensino, cultura, saúde, economia, etc.

Desafiei-vos há algum tempo a lançarmos uma campanha de recolha de sementes em atendimento ao griiiiiiiiito das mulheres de Cabedú, na inauguração do seu fontenário, na qual eu tive imenso prazer em estar presente juntamente com outros antigos combatentes e comungar da sua enorme alegria.

Pretendi dar seguimento ao apelo do Zé Carioca, antigo combatente em Guileje, que comigo viveu o acto e mais que eu se comoveu com o pedido daquelas mulheres. Ele já está a trabalhar nesse projecto. Possivelmente, sentir-se-á muito sozinho, pois ninguém de nós deu sinais de querer ajudar.

Outros desafios se nos põem: A Associação dos Padrinhos de África - http://www.padrinhosdeafrica.org/ - tem um projecto em desenvolvimento de apoio escolar para crianças sem pais, ou pobres para que tenham condições de estudar.

Eu estou em ligação com este projecto e posso dar orientações a quem estiver interessado.

Deixai-me apresentar uma proposta às vossas esposas e filhos para que assumam o apradrinhamento de uma criança da Guiné. Pede-se por mínimo de 60,00€ por ano, mais 12,00€ de filiação na Associação. Acham muito?

Outros desafios:

i - http://saude-alerta.blogspot.com/.
Um dos projectos actuais é melhorar as condições do Centro de Saúde de Buba.

"O CS-Buba, recebe diariamente problemas com a saúde infantil, desde diarreias, problemas gástricos, paludismo, problemas respiratórios, etc. A população não tem culpa, de uma saúde doente e em colapso na Guiné. Ao passarmos por esta vila, em 20 de Fevereiro de 2008, 5 mil pessoas sairam à rua implorando-nos ajuda. Levámos roupa, calçado, brinquedos, livros e manuais escolares, dicionários e gramáticas, material de apoio à escola, mas... não imaginávamos que algo mais grave e preocupante estava ali diante dos nossos olhos.
Uma gente carinhosa, respeitadora, afável e hospitaleira. Este povo de Buba, merece um pouco da nossa atenção".




ii - http://humanitarius.roxer.com/.

"Em Outubro de 2007, produzimos uma campanha nacional, para levar à Guiné, especialmente ao seu interior, o produto da recolha de material escolar, entre muitos outros donativos, que foram chegando para essa campanha. Em Fevereiro, a expedição partiu rumo à Guiné, atravessando o sul de Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental, Mauritânia, Senegal e finalmente a Guiné. Uma viagem de 6 dias que permitiu a este grupo de expedicionários conhecer outras culturas e, sobretudo, outras realidades distanciadas do europeísmo, e sua forma de vida. A expedição humanitária levou consigo 3 projectos de expressiva relevância: o "Ler e Conhecer" com Vanda Germano e Jorge Baptista; o "Teatro vai à Escola" com João Bota e Tania Nascimento, do TIPO (Teatro Infantil de Portimão); e o "Escola para todos" com João Almeida, Helena Duarte, António Camilo, e Artur Cruz.
Roupas, brinquedos, 3 cadeiras de rodas, material ortopédico, calçado, mochilas, bolas e camas para bebé, que fizemos chegar a instituições várias, como a Missão de Nhouma, e Casa Emanuel um dos prestigiados orfanatos da Guiné-Bissau.
Por 16 escolas de Tabancas (aldeias) distantes da capital, entregámos o mais diverso material escolar, sendo que algumas dessas escolas receberam dos nossos voluntários, roupa e calçado, e alguns equipamentos desportivos.
No Hospital Simão Mendes, em Bissau, entregámos ao serviço de pediatria, muitos brinquedos que fizeram por certo aquelas crianças mais felizes. No mesmo hospital, foram entregues ao Administrador e médico Dr. Agostinho Semedo, duas (2) cadeiras de rodas, que foram doadas à associação, pelos Rotários de Loulé e Karting de Almancil. Uma das três cadeiras, ficou justamente na Cooperação Portuguesa em Bissau, para que este equipamento possa, caso seja necessário, servir os cooperantes portugueses em serviço na Guiné.
Excedentes desta campanha, foram ainda destinados a Bubaque, uma das 88 ilhas que compõem o arquipélago dos Bijagós, onde são notórias as dificuldades a todos os níveis, especialmente no sector da educação

iii - Associação Humanitária Memórias e Gentes




"O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores"
(Paulo Quintana)




Associação sem fins lucrativos/Matriculada na C.R.C. de Coimbra NIPC 508 343 461, Parceiro especializado da Liga dos Combatentes para acções humanitárias.

Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem 96 402 80 40

Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau

3. Caros tertulianos, um desafio novo vos apresento - Tenhamos a coragem de ajudar a Guiné.

Peço aos gestores para colocarem na página do Blogue estes endereços para que todos nós possamos consultar sempre que desejarmos.

Na esperança de que se abram os vossos corações.
O camarada
José Teixeira

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2966: A guerra estava militarmente perdida? (22): Comentário de um Quadro Guineense no Exterior (Anónimo)

A Guerra estava militarmente perdida?
Revisão e fixação de texto: vb


Um Guineense no exterior

Comentário ao Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)


Meu caro, nesse vosso debate estéril, a da definição do sexo dos anjos, se a guerra estava ou não militarmente ganha, se quem falhou foram os políticos ou os militares, na vã gloria de se preservar um dito império (que ideia megalómana)... como guineense que ganhou direito a uma pátria lusófona na sua expressão oficial, não podia de forma alguma concordar consigo.

Se o propósito da presença colonial, decorrente do dito Descobrimento era perpetuar o domínio de um povo e de uma cultura sobre uma outra em detrimento da equidade, cultura essa tida por inconsistente e primitiva, neste caso a do meu povo, tarefa para a qual a tropa colonial estava talhada, contando com a dedicação inicial do missionarismo católico, então, como guineense... e desse debate resta-me concluir que os nacionalistas guineenses ganharam a guerra, já que guineense que sou de uma nova geração, dela acabei por ter direito a uma pátria, uma bandeira, um hino e quiçá outra dignidade, até que soberana, que permite sem mágoas, eleger Portugal de hoje como nação um amigo fraterno, conquistas com as quais me orgulho.

E já agora porque não concordar com o argentino Jorge Luís Borges: "O passado é argila que o presente molda à vontade”.

Se esteve em África como militar, ainda que se tente refugiar nesse cumprimento de um dever, Pela Pátria, eu que ingenuamente pensava que as fronteiras de Portugal se estendiam do norte ao Algarve, então foi enganado, pois a sua missão na Guiné, como militar e não escamoteemos aqui a verdade cristalina, foi igualmente a de opressão e tentativa de submissão de um povo, neste caso o meu, a toda uma super-estrutura ideológica e cultural que, tendo também os seus atributos, nos era entretanto estranho.

Portanto, como deve calcular, a verdade por vezes é também acutilante. Vamos pois salvaguardar o que de mais positivo resistiu à colonização ou seja a fraternidade entre os nossos dois povos e deixar a catarse falar pelo futuro dessa nossa convivência...

Quadro guineense no exterior, orgulhosamente guineense!

(Não assinado)

2. Caro Guineense Anónimo no exterior:

Registamos o seu artigo, escrito sem complexos, e é sem complexos que o publicamos. E aceitamos o seu desafio: preservar a fraternidade entre os dois Povos. Escreva sempre. Mas, de preferência, dê a cara e identifique-se. Presumo que não esteve registado no Google, razão por que o neu nome não aparece no comentário. Vejo, por outro lado, que é mais jovem do que os homens e as mulheres que outrora lutaram, uns contra os outros, e que hoje se respeitam e são capazes até de abraçar.

Por norma, não publicamos postes anónimos. Recuperámos o seu comentário, na esperança de que mais guineenses, da terra ou da diáspora, da sua geração e da geração dos seus pais, participem, com serenidade e fraternidade, neste desejável e necessário diálogo sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos povos.

Caro amigo guineense da diáspora: Não sei onde vive. Há muito que enterrámos as lanças de combate. Não vamos agora abrir feridas cicatrizadas. Respeitemos a memória daqueles de nós, de um lado e de outro, que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial/luta de libertação. Mesmo entre, portugueses, há ainda questões que nos fracturam e dividem. Não é fácil nem confortável fazer o balanço das nossas relações históricas. Por nós, como sabe, recusamos o princípio (monstruoso) da responsabilidade colectiva dos povos... Aplicado à Guiné-Bissau isso iria novamente lançar povos contra outros povos: os mandingas contra os fulas, os fulas contra os balantas, os guineenses que colaboram com o esclavagismo e o colonialismo contra as suas vítimas, e por aí fora... Aprendamos a ler a história, aprendamos com a história, não cometamos os mesmos erros das nossas elites do passado...

Mantenhas. O editor Virgínio Briote.
__________

Nota do co-editor vb:

1. Artigos relacionados em:

19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2964: A guerra estava militarmente perdida? (21): A Guerra estava militarmente perdida. Por mim, final da polémica. Mário Beja Santos.

19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

18 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2959: A guerra estava militarmente perdida? (19): MIGS e Aliados. Juvenal Amado. M. Beja Santos.

17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo.

14 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2941: A guerra estava militarmente perdida? (17): E. Magalhães Ribeiro.

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.

12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)

12 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2092: Antologia (61): Tempestade em Bissau (Mário G. Ferreira)

Capa do romance de Mário G. Ferreira, Tempestade em Bissau: Ano 1970. Lisboa: Pallium Editora. 2007. O autor foi Alf Mil Médico, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). 


 Um novo livro Tempestade em Bissau: Ano 1970 surgiu agora nas livrarias (1). Nos anos 70, um dos nossos Camaradas faz a viagem num navio prestes a ser abatido aos efectivos, nas mãos de um capitão experiente em muitas águas, a subir o Geba, até Bissau. Com a cidade à vista: 

(...) Naquele entardecer, quase no findar de um dia chuvoso, que o havia sido teimosamente, afinal o tempo que predominava por essa época do ano naquela região e àquela latitude, um local da África Ocidental situado entre o equador e o trópico de Câncer, o céu apresentava cores tristes e pardacentas, aqui e além matizado por manchas que iam do plúmbeo ao estanhado, num espectro amplo de tons que pronunciava iminentes tempestades. Em tudo uma atmosfera pesada que mais se adensava pelas emanações telúricas vindas de um solo vermelho e quente, e que lhe conferiam um odor característico, como que um sabor acre e húmido.A cidade, com as suas ruas, pracetas e ruelas a esse tempo acossadas pelo vento leste, por acção da corrente aérea equatorial (…), parecia adormecida. 

(…) Dominante e rectilínea, numa posição bem central, a avenida principal em evidência - uma via longa e larga, com uma faixa central de pisos alcatroado e mal conservado, ladeada à direita e à esquerda, e a todo o seu cumprimento, por espaços rectangulares revestidos de uma calçada à portuguesa bastante maltratada, interrompida a intervalos por áreas terrosas onde cresciam aloendros de flor branca ou vermelha. E depois, todo o património edificado, onde se podiam ver edifícios de estilo colonial e alguns outros de um estilo mais recente, para além de algumas repartições públicas tais como as finanças e os Correios, o Banco Nacional Ultramarino, a catedral, e armazéns comerciais, poucos.

(…) À esquerda, os edifícios de habitação, de um modo geral de dois pisos, e também alguns armazéns que guardavam castanha de caju, mandioca ou amendoim, estes em construções de um só piso; à direita, podia ver-se o largo passeio empedrado pelo qual se distribuíam alguns bancos de pedra e que tinha como limite um paredão que se prolongava até à Amura, sem chegar a atingir o Pelicano. 


Sob o olhar atento do nosso Camarada: 

(...) O navio (…) avançava mais lenta e preguiçosamente no largo estuário do outrora Rio Grande, curvando suavemente a bombordo até que a proa apontou para o norte, num sulcar das águas em direcção à ponte-cais do porto da cidade. Agora já em pleno rio, um largo e emblemático curso de água que, num longo trajecto e numa corrente serena, vindo do norte do território, tinha já banhado Bafatá, Bambadinca e Xime, para depois participar no encontro e junção, lá na Ponta do Inglês, com um outro seu braço vindo do sudeste, o Corubal. Assim se abraçando até se fundirem completamente e acabarem por formar o Grande Geba, que depois se continua no seu deslizar ainda mais lento para o mar, num terminar em que não é possível estabelecer com precisão onde acaba o rio e começa o oceano (…). 

 É um navio carregado de tropas, armas, frescos e diversos. O desembarque é feito segundo as normas militares. Em primeiro lugar, os oficiais, o comandante do batalhão acompanhado pelos oficiais da CCS, os impedidos com as bagagens de mão, e as companhias operacionais enquadradas pelos respectivos oficiais e sargentos, quase todos milicianos, por fim. 

 Segue-se o desembaraço dos porões, com grandes guinchos. Caixotes de madeira com material de guerra, filas de homens vergados ao peso de sacos de cereais ou de caixotes com rações de combate, caixões vazios e um cheio, com o corpo de Tolentino de Menezes, um guineense ilustre, oriundo das Índias Portuguesas e que encontrara a morte em Lisboa numa situação que o autor descreve como algo dramática. 

 E é à volta desta personagem que corre grande parte da obra de ficção que o nosso Camarada Mário Gonçalves Ferreira (2), médico de profissão há mais de trinta e cinco anos, dedica às vítimas da Guerra na Guiné-Bissau (1963-1974). 

_____________ 

Notas dos editores: 

 (1) Lisboa: Pallium Editora. 2007. 216 pp. Preço 14 €. 

terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)

1. Mensagem do Torcato Mendonça:

Luis Graça:

Talvez no e-mail, de dia treze – em que o assunto era... O Passado – tenha sido pouco elegante, ou mesmo, rude. O Coronel (1) abriu-me uma, duas ou mais vezes o blogue. A primeira tudo bem, depois, e após a leitura na Única do Expresso, da semana passada, da reportagem sobre o jet-set angolano, foi o tal clique.

Não está ainda bem. Não se esquece facilmente. É necessária outra atitude. Fico satisfeito, em saber que, em Março de 2008 vai haver um Simpósio – A Memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné. Parece uma incongruência, mas não. Há determinados acontecimentos, pessoas e não só a despoletarem, em mim, certas atitudes.

Repara que África diz-me muito. A Guiné, o Povo Guineense muito mais. Muitos dirigentes, do passado e do presente, nada me dizem. Um Psi, ou o trabalho da psicóloga Ângela Maia pode dar uma ajuda. É um trabalho com interesse. O V. Briote fez uma chamada de atenção à reportagem vinda na Notícias Magazine deste domingo. Têm vindo aqui neste blogue muitos textos sobre o tema. Não é, ao fim e ao cabo, este blogue uma terapia, um lugar onde pela escrita, pela leitura, por outras formas de participação, uma maneira em terapia, de exorcizar fantasmas do passado? É uma área que te diz mais respeito, não por sofreres de ou teres necessidade de, mas por uma questão profissional.

Além disso a maneira aberta como discutimos, a frontalidade e a liberdade na abordagem dos temas propiciam, a meu ver, o cimentar de sã convivência entre todos, não tendo visão ou fomentando, antes pelo contrário, um pensamento minimalista mas, isso sim, plural.

Qualquer atitude, como a do Passado não pode ser exemplo e, menos ainda, redutora dessa liberdade de expressão e pensamento. Temos que, aos poucos, lentamente, ir fomentando uma maneira de ajudar, de exigir que todos, desde que necessitem, tenham ajuda com dignidade. Que finalmente terminem com A GUERRA SEM FIM. Penso que é tempo de dizer BASTA.

Como sempre, alonguei a escrita, este amontoado de palavras para dizer: talvez me tenha excedido no comentário ao Comandante [da emboscada] do Quirafo e é preciso dar apoio, com dignidade, a todos os que precisam de parar a guerra. Apoiem trabalhos com exigência científica que retratem a realidade. Cumpram o prometido!

A nossa geração é especial, não deve, não teme, não se envergonha de nada. E paro.

Um abraço,
Torcato

2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Apesar de trinta e tal anos passados, há ainda muitos assuntos melindrosos e, apesar de todo este tempo decorrido, alguns ainda estão muito frescos, especialmente para quem os viveu. Porque, para muitos de nós, os factos embora possam ter ocorrido há três dezenas de anos, têm-nos acompanhado ao longo da vida. É como se estivessémos ainda debaixo de fogo, com feridos aos gritos.

Foram 13 anos, sem tréguas, 13 anos de fogachada, morteiradas, bazucadas, foguetes, 13 anos de minas e armadilhas de todos os tipos. Mas também não escassearam provas de amor ao povo guineense e àquela terra nesses 13 anos distantes.

O actual coronel das Forças Armadas da Guiné-Bissau, chefe da guerrilha, IN nos nossos tempos, merece-nos respeito como combatente, que muito dele deve ter dado por um ideal. Em sentido, é como me ponho, quando vejo alguém do nosso lado ou do deles, em linguagem antiga, dar a cara pelo que fez. Tal como em sentido me perfilo pelos nossos camaradas que deram a vida no Quirafo e por todos, de um lado e doutro, lá deixaram o que de melhor tinham, a vida ou bocados dela.

E, trinta e poucos anos depois, como é bom ver que há muito mais a juntar que a separar os povos guineense e português.

vb
__________

Nota de v.b.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)


Guine > Região de Tombali > Guileje > 1970 > "Junto foto do meu arquivo referente a uma das alturas em que estive em Guileje, datada de Maio de 1970. Em primeiro plano, a rede de protecção em arame farpado. Atrás, abrigos e porta de armas. Vêm-se ainda os telhados, da esquerda para a direita, da caserna, do refeitório e do posto de transmissões"

Foto e legenda: © João Tunes (2006). Direitos reservados


Com a devida vénia transcrevo aqui a excelente peça bloguística, produzida pelo nosso camarada João Tunes, e inserida no seu blogue - Água Lisa (6) - , com data de 21 de Maio de 2007. 

O João, que foi Alf Mil Trms, no Pelundo e em Catió (1969/71), é um dos nossos camaradas que mais tem reflectido sobre o contexto político e ideológico em que se desenrolou a guerra colonial (1971/74). 

Às vezes, polémico, crítico, contundente, incómodo, cultivando a frontalidade, o João é sobretudo um cidadão militante e livre, um homem de grande lucidez e generosidade, absolutamente indispensável como maître à penser nesta nossa Tabanca Grande. 

Tenho saudades tuas, João. Visita-nos mais vezes. Ou melhor: não precisas de pedir licença para entrar, que a casa também é tua, pese embora nem sempre te sintas confortável nos espaços fechados, exíguos e às vezes clautrofóbicos, desta caserna da tropa, preferindo desenfiares-te para a bolanha, a savana arbustiva, o rio ou a floresta-galeria... (LG)


Segunda-feira, 21 de Maio de 2007 > GUERRA COLONIAL / GUERRA DE LIBERTAÇÃO
por João Tunes 

(Subtítulos e links da responsabilidade de L.G.)



A guerra colonial ainda resiste como tabu contornado na sociedade portuguesa. A abordagem deste drama, que durou treze anos, marcando, em perdas e danos, muitas dezenas de milhares de portugueses hoje acima dos 55 anos de idade mas que se repercutiu nos seus familiares, deixando assim marcas em várias gerações, não alcança, em termos de ocupação de memória e de evidência histórica, comparado com o espaço memorialista, narrativo e analítico ocupado pelo drama conexo e consequente da descolonização, uma repartição similar. E o filtro do ressentimento gerado pelo drama da descolonização foi e é um formidável gerador de preconceitos que actua como espécie de coveiro de memória relativamente ao drama colonial (antes da guerra e durante esta). Como se, para a maioria dos portugueses, se tivesse descolonizado aquilo que não se colonizou e se resistiu a permitir a separação, persistindo-se assim no mito salazarista difuso do Portugal “do Minho a Timor”, prolongando um ressentimento colectivo por nos terem arrancado, à má fila, bocados que “eram nossos”.

Guerra colonial, guerra do ultramar, guerra de libertação...

Mas os portugueses que falam e escrevem sobre a guerra colonial (alguns preferem chamar-lhe “guerra no ultramar”, o que tem uma marca política evidente, enquanto para os africanos ela é denominada como “guerra de libertação”, o que também significa muito) têm ainda, independentemente do enquadramento político e ideológico sobre ela, uma visão inevitavelmente eurocêntrica. Ou seja, é sempre um olhar sobre este sofrimento (ou gesta, para os “patriotas”) sedimentado da experiência ou da percepção interpretativa do "lado do colono" (no mínimo, do ponto de vista cultural), mesmo quando esse "colono" procura, o mais possível com o que melhor sabe, colocar-se na pele do "colonizado" e adoptar a sua causa.

Mia Couto, um escritor moçambicano de pele branca, exemplificou bem as diferenças quando referiu que enquanto os portugueses falam de "descolonização", os africanos não usam este termo porque para eles o que existiram foram "independências" (ou seja, não foram os europeus que descolonizaram, foram os africanos que conquistaram as independências dos seus países).

[É elucidativo que, quanto ao Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, esse mimetismo maior feito pelo salazarismo relativamente à perfídia do nazismo, depois replicado em vários outros locais de África, haja, entre a literatura do antifascismo militante, uma constância de referência ao período 1936-48, em que lá estiveram internados prisioneiros políticos europeus, quase se silenciando que o mesmo e odioso Campo foi reaberto em 1961, por despacho de Adriano Moreira, esse hoje notável e venerando professor de boas práticas democráticas, onde dezenas de milhar de africanos penaram até 1974. Quase parecendo que, nessa mesma iniquidade, um africano anticolonial sofreu menos que um antifascista europeu, quando o inverso é que foi verdadeiro.]

Um enorme défice de produção documental e de investigação historiográfica, do lado africano

Entretanto, da parte africana, muito mais escassa ainda é a produção de registos memorialistas e trabalhos históricos sobre as guerras de libertação. Por variadas e evidentes razões (altas taxas de analfabetismo e ileteratícia; atribulações políticas; falta de arquivos; fragilidade das estruturas e meios académicos; menor horizonte de vida que levou a que muitos dos que combateram já tenham falecido; maiores preocupações em sobreviver, consolidar a independência e garantir o futuro que lidar e fazer registo do passado).

Neste quadro, se os “antigos colonos” perdem pouco tempo a lembrar e pensar o passado colonial, os “antigos colonizados” ainda menos o fazem, o que beneficia o alargamento (conveniente para uns tantos) do “buraco histórico” que a guerra colonial / guerra de libertação representa na memória dos portugueses e dos africanos que têm como pátrias suas as antigas colónias portuguesas, sobrando, inevitavelmente, o espaço para os mitos e os ressentimentos, maus conselheiros para a saúde cívica dos povos.

Daqui que considere um facto notável, remando contra o silêncio das memórias, o trabalho persistente e competente do historiador guineense Leopoldo Amado (na foto de cima). Que, constituindo uma importantíssima e honrosa excepção, submete, no próximo dia 28, a um júri de doutoramentos da Universidade Clássica de Lisboa, em sessão pública, o seu notável trabalho de investigação sobre a guerra na Guiné (1963-1974) e que culminou num estudo comparado da mesma quanto aos dois lados da contenda (a mais dura no quadro das três guerras coloniais) e em que foi orientado pelo Professor João Medina (*) (**). Demonstrando, em boa tese, que os mitos e os ressentimentos abatem-se pelo saber.

_________

(*) Assim reza a nota informativa da Universidade Clássica de Lisboa:

Doutorando/a: Lic.º Leopoldo Victor Teixeira Amado
Doutoramento: Doutoramento em História - História Contemporânea
Título da Tese: “Guerra Colonial versus Guerra de Libertação (1963-1974): O Caso da Guiné-Bissau”
Data/Hora: 28 de Maio, 10H00
Local: Reitoria - Sala de Doutoramentos, Cidade Universitária, Lisboa


(**) – O meu elogio antecipado ao trabalho académico de Leopoldo Amado fundamenta-se no conhecimento prévio de que beneficiei, mercê da sua amizade que muito me honra, e para o qual, modestamente, dei o meu singelo contributo de mera opinião crítica na fase de elaboração final, valendo-me, como suporte, da memória registada no meu corpo e na minha alma, proveniente de dois registos contraditórios e num paradoxo que me empalou a juventude - o de antigo combatente na Guiné nas fileiras do exército colonial e o de militante activista contra a guerra colonial.

Guiné 63/74 - P1782: Bibliografia (6): O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)

Guiné (1963/74) > Guerra de libertação 'versus' guerra colonial ? Um case study... Esta vai ser a tese de doutoramento, em história contemporânea, do Leopoldo Amado, a ser apresentada e discutida em provas públicas, a realizar na Universidade de Lisboa, dentro de dias...


Foto: Em cima, guerrilheiros do PAIGC progredindo na mata (Fonte: Foto Bara > Fotogaleria (foto editada, com a devida vénia / edited photo, with our best wishes...) ... Pátria ou morte!... A Luta Continua... era o então slogan em moda, de inspiração guevarista...

Foto: Em baixo, militares portugueses da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) prontos para mais uma acção... O fotógrafo (ou alguém por ele) escreveu, ironicamente, no seu álbum: Viva a guerra, viva a morte!... Vivam os Panteras... Quando o penúltimo morrer, o último cumpre a missão... (Fonte: Torcato Mendonça, 2007).


Comentário posterior do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça (Fundão): "São graduados do 2º Grupo da Cart 2339 – Esq/direita: Alf 1000 Torcato; Furriéis 1000 Sousa (foi ao 2º/3ª mês para a 3ª de Comandos); Rodrigues e Rei. O Sousa (Fernando Luís) foi substituído pelo Sérgio. Só se juntou a nós no embarque, ficou nos Comandos. Panteras era o nosso Grupo – A Divisa era essa. Há um escrito disso e fotos da malta toda. PS - Isto não foi á primeira. Só goela… mas havia muita união. Um abraço, ex – chefe do Grupo".



1. Mensagem do nosso Leopoldo Amado (1), com data de 16 do corrente:


Assunto - Provas públicas de doutoramento

Caro Luís,


Gostaria de te informar de que já me encontro no rectângulo, após uma estada de pouco mais de três meses na Guiné-Bissau (2).

Assim, por teu intermédio, comunico a todo o pessoal da tertúlia de que as minhas provas públicas de doutoramento terão lugar nos dias 28 e 29 do corrente, pelas 10:00 H, na Reitoria da Universidade de Lisboa.Um abraço a todos

Leopoldo Amado


2. Mensagem enviada ao pessoal da nossa Tabanca Grande, em 20 do corrente:

Amigos & camaradas:

Acabei agora mesmo de chegar do Funchal. E, ao abrir o meu correio, de casa, tive a grata surpresa de receber boas novas do nosso amigo Leopoldo Amado.

Ficam desde já todos convidados, os que puderem, a ir ouvi-lo defender a sua tese de doutoramento em história contemporânea. O título da tese é (estou a citar de cor) Guerra de libertação ‘versus’ guerra colonial: o caso da Guiné-Bissau ...

As provas, que são públicas, prolongam-se por dois dias, sendo o primeiro dia, 28 de Maio, 2ª feira, reservado ao candidato, e à arguição principal... Local: Reitoria da Universade Clássica, ao Campo Grande (Metro: Cidade Universitária)...

Seria interessante saber quem poderá ir ouvir e apoiar o nosso amigo e camarada de tertúlia...

Luís Graça

3. Até à data, tive os seguintes comentários:


20 de Maio de 2007 > Luís: Conto estar presente, pois é sempre um prazer ouvir, e aprender com alguém como o Leopoldo. Um abraço a todos. Carlos Fortunato, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 (1969/71)

20 de Maio de 2007 > Amigos & camaradas: Já temos uma presença, a do Carlos Fortunato, além de mim próprio (embora dia 28 tenha aulas, às 14.30h). Luís

21 de Maio de 2007 > Bom diaTudo irei fazer para estar presente e levao um abraço fraterno ao Leopoldo. AB. José Martins

21 de Maio de 2007 > Por um Amplo Movimneto 'Leopoldo a Doutor' (pela Independente é que não) ou, como se dizia no meu tempo de jovem estudante, antes de ser mal fardado por ter sido fardado à força como paisano guerreiro:

MALTA, TODOS À CIDADE UNIVERSITÁRIA NO DIA 28!

João Tunes

22 de Maio de 2007 > Só um amigo de verdade escreve assim. Muito obrigado, caro Tunes. As tuas palavras constituem inquestionavelmente um importante incentivo.

Leopoldo Amado

Páginas Pessoais >

Lamparam II > http://guineidade.blogs.sapo.pt/

Lamparam > http://lamparam.blogs.sapo.pt/

22 de Maio de 2007 > Caro amigo Leopoldo:

Soube pelo Luís Graça que vais defender a tua tese de doutoramento nos próximos dias 28 e 29. Tinha-te dito que gostaria muito de estar presente, mas não me vai ser possível. É que, além de já ter que me deslocar a 2 de Junho a Sever do Vouga para o encontro da CART 1690, estou estes dias muito enrolado numa (muito boa) situação: a Delegação do Norte da Associação 25 de Abril está-se a preparar para ocupar uma nova sede, em edifício que foi cedido pelo Presidente da Câmara de Matosinhos. Temos de agarrar isto com unhas e dentes, e bem, pois é um avanço muito considerável em relação às muito más condições que tínhamos nas Escadas do Barredo, à Ribeira do Porto. E, como compreendes, para trabalhar nunca há muitos. São sempre os mesmos, como é hábito.

Porque a conheço, tenho a certeza que vais ter sucesso com a tua tese. Considero-a um trabalho genuíno e único num tema ainda muito pouco tratado, de grande interesse para quem quizer estudar a luta de libertação na Guiné.

Espero que tenhas já concretizado os patrocínios que tinhas em perspectiva, sobre o que, como te disse, já falei com o Jorge Araújo, do Campo das Letras. Diz-me qualquer coisa sobre isso, pois vou voltar à carga com ele depois do dia 29.
Um abraço e desejos de bom sucesso.

A. Marques Lopes

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts recentes do Leopoldo Amado:
25 de Fevereiro de 2007 >Guiné 63/74 - P1549: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (8): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte I

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1566: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (9): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte II

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)

(2) Vd. post de 18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1444: Adeus, estou de malas aviadas para Guileje (Leopoldo Amado)

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P755: Ajudar os guineenses a fazer o luto (Luís Graça)


Guiné-Bissau > Africanidades, blogue do Jorge Neto > Um tuga, da nova geração, um alentejano, que não fez a guerra colonial, que vive e trabalha em Bissau, e que dá voz (e imagem) aos guineenses que a não têm... Aqui, as crianças a caminho da escola. "25.4.06. Nós vamos à escola...e para além do caderno levamos o banco, para nos sentarmos!"... Que maravilhas, a foto e a legenda! Esta é a Guiné que queremos também a ajudar a construir...

Foto: © Jorge Neto (2006 (com a devida vénia, amigo...)

Mensagem enviada ao Jorge Neto:

Meu caro Jorge (1):

Continuo a apreciar (e a invejar...) o teu trabalho como jornalista independente, lúcido, sensível e corajoso e sobretudo o teu Africanidades, que muito nos ajuda a (re)construir uma certa ideia da Guiné, de hoje e de ontem... Tu fazes mais pela nossa cultura portuguesa e sobretudo pela lusofonia do que todos os burocratas do MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros] juntos e atirados ao Rio Corubal...

Desculpa-me a minha incursão pelos teus sonhos, ou melhor, a minha intempestiva intromissão, com os meus pesadelos atávicos, pela bolanha dos teus sonhos... Mas acho que, juntos, podemos de algum modo contribuir para que os velhos irãs da floresta da Guiné-Bissau se acalmem...

Quando fores para os lados de Bambadinca e do Xime, peço-te que procures almas penadas como o do Abibo Jau, o Jamanca e tantos outros, que foram meus camaradas de armas e que, enquanto guinéus, apostaram no cavalo errado (2)... Um dia destes, se fores para aqueles lados, para a região leste, procura saber notícias deles... Tal como fizeste como o Seni Candé, quando foste ao Cantanhez.

Um grande chicoração para ti.

PS - Estive há dias no teu chão e na tua terra. O Alentejo, rouxo, verde e amarelo, estava esplêndido. Tal como na Páscoa, em Abril, quando lá estiveste e fizeste umas belíssimas fotos que publicaste no teu blogue... E a tua Évora, cada vez mais menina e moça... Enfim, sabes que a beleza é um estado de espírito. Mas tu devias de gostar de atravessar o teu Alentejo no mês de Maio (3)...

Luís


2. Resposta do Jorge;

Olá Luís,

Obrigado pelo e-mail e pelas elogiosas palavras. Ainda este fim-de-semana passei por Bambadinca, mas só de passagem. Um dia que passe com tempo pararei e perguntarei por essas pessoas.

A situação dos antigos combatentes é de lamentar. Vamos tentar, devagarinho, alertar consciências. O problema é sensível e antigo, mas não pode ser esquecido. Sinto vergonha de ser português, quando encontro homens como o Seni [Candé], a viver como vivem!

Espero que as forças para continuar com a Blogueforanada continuem, pois tornou-se um espaço de referência para questões ligadas aos antigos combatentes e à guerra colonial (e não só)! Ainda um dia o veremos em livro, ou, se as editoras persistirem em não abrir as pestanas para certas realidades, concerteza vê-lo-emos citado em trabalhos de investigação, pois ele é uma fonte a não descurar no estudo do que foi a nossa passagem por África.

Um abraço,
JN
____________

Notas de L.G.

(1) Mensagem enviada no seguimento de uma outra, que mandei, sábado, 13 de Maio, ao resto da tertúlia, e que dizia basicamente o seguinte:

"Amigos e camaradas: A barra hoje está pesada... Temos que despejar o saco...Só quero lembrar que na nossa tertúlia ninguém censura ninguém: somos a mais plural das casernas de todas as tropas do mundo... Aqui só é proibido proibir... Eu bem gostaria de pôr a falar os guineenses... Talvez o nosso amigo Lepoldo, o historiador, o nosso doutor, queira dar uma achega... O meu muito obrigado ao José Carlos Mussá Biai, o nosso menino do Xime... Os teus olhos de criança já viram demasiadas coisas (más) na vida... Obrigado ao António Duarte, ao Hugo, a todos os demais tertulianos que também são capazes de falar destas merdas que nos atormentam... Obrigado também ao João Tunes, pela sua brutal franqueza... Confesso que hoje estou deprimido: levei um murro algures, no corpo e na alma, não sei onde... Vou beber um copo... Luís".

(2) Vd post de 12 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

(3) Também escrevo no Blogue-fora-nada ... E Vão Dois. E às vezes sobre o Alentejo > vd. post de 14 de Maio de 2006 > Blogantologia(s) II - (26): Às vezes este país quase perfeito e sem mácula