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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17012: Facebook...ando (44): Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel (Manuel Luís R. Sousa)

Vila do Conde
Com a devida vénia ao autor do desenho


1. Publicado no facebook pelo nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), este texto com delicioso humor, só não nos conta se o petiz levou a sua avante, já que o ditado diz que quem não chora não mama. Quanto à tosse do nosso camarada Manuel Luís, nem com chá de cascas de cebola com limão, adoçado com mel, passava. O remédio era mesmo rir.


Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel

E eu tossia.., tossia..., tossia... E que tosse!...
Não se preocupem, amigos, não apanhei nenhum resfriado ou constipação. A minha tosse era outra.

Todos nós conhecemos aqueles vocábulos de uma só palavra começados por "c" de cão e por "f" de facebook, que todos nós, do leigo ao intelectual, uns mais do que outros, como expressão libertadora, nas mais diversas circunstâncias, somos forçados a utilizá-los. No fundo, eles traduzem o que nos vai na alma num dado momento:
- De dor, quando o martelo que utilizamos falha a cabeça do prego e nos vai fazer mossa na mão que o segura, deixando-nos ali, de cara feia, a sacudir as falanges, falanginhas e falangetas, a ensaiar uns bons acordes de cavaquinho ou bandolim;
- De impaciência, quando estamos com pressa e a fila de trânsito que está à nossa frente teima em continuar parada e, como se isso não bastasse, o que vem atrás ainda nos azucrina com umas buzinadelas;
- De admiração, quando damos conta de que à nossa frente segue um elegante e "taquetaqueante" par de sapatos, normalmente de salto alto, ou até um bom par te ténis, que transportam uma escultural obra d'arte da natureza, de contornos curvilíneos, provocante e tentadora;
- De nervos, quando com um monte de embrulhos encastelados num dos braços até ao queixo, procuramos as chaves com a outra mão e não as encontramos no bolso desse lado, confirmando-se a teoria da irritante lei de Murphy;
- De stress e angústia, quando abrimos uma carta das finanças a massacrar-nos o "seixo" de que temos de pagar o IMI ou o imposto do monte de sucata com rodas que utilizamos no nosso transporte, entre outros, ou deparamos com uns cortes no vencimento ou na reforma, à Passos Coelho, ou até, como a perseguir-nos, esta abominável figura, depois de tudo o que fez, teima em aparecer no ecrã da televisão.

Enfim, muitos outros casos poderia aqui enumerar em que utilizamos estas reparadoras palavras, que contribuem, tantas vezes, para porem o nosso ego em alta.
Há outros vocábulos, similares, com mais palavras, com a mesma função terapêutica, que, aliás, bem conheceis. Porém, nem sempre exteriorizamos estes desabafos, guardando-os só para nós, dependendo sempre do lugar em que estamos, como manda a boa educação, como, por exemplo, quando nos fixamos naquele elegante par de sapatos a que me referi, orgulhoso por aquela escultura que transporta. Aquela do martelo que falha o prego, é difícil, quase impossível, segurá-la. Sai espontaneamente e a alta velocidade.

Há uns anos, durante alguns dias seguidos, utilizava como transporte, em direcção ao Porto, e vice-versa, o comboio da linha da Póvoa, recentemente substituído pelo metro do Porto. Entrava todos os dias aqui na estação de Árvore, Vila do Conde, por volta das sete e meia, acabando por verificar, dia após dia, que, àquela hora, naquela carruagem, os passageiros eram quase sempre os mesmos. Naquela rotina diária, e durante cerca de uma hora, até chegar ao Porto, assistia àquele ambiente que me envolvia na carruagem: grupos de companheiros de trabalho, quatro a quatro a disputarem umas boas partidas de sueca para matarem o tempo; outros desfolhavam o jornal a actualizarem-se nas últimas notícias; os estudantes, de semblante ensonado, reviam a matéria, abrindo os "canhenhos"; outros, pura e simplesmente, passavam pelas brasas, e depois o grosso dos passageiros discutia os temas em voga da actualidade. Hoje, inevitavelmente, esses temas passariam pelos vistosos golos do Cristiano Ronaldo, de levantar o estádio, no país de nuestros hermanos, e das bolas de ouro que ele monopoliza e chuta para o museu da Madeira; o calvário de Jesus lá para os lados de Alvalade; os avanços do recém-eleito Donald Trump no país do "Tio Sam", em relação às mulheres; e, por último, entre tantos outros do quotidiano, ainda bem fresquinho, o caso da TSU, a bola que o governo e a oposição jogam lá para os lados de S. Bento, a verem quem é que chuta mais alto até bater na abóbada do hemiciclo, porventura a fazer estragos nos pendentes lustres de cristal da chamada casa da democracia.

Num desses dias, ali pela estação de Mindelo ou Vilar do Pinheiro, fora da rotina habitual das pessoas que ali tomavam o transporte àquela hora, entrou uma jovem mãe com duas crianças de tenra idade. Com uma ao colo, aparentemente, de meia dúzia de meses, e outra pela mão, mais crescidinha, mas, seguramente, com menos de dois anos de idade. Porque os lugares iam todos ocupados naquele ponto do trajecto, foi-lhe cedido então um deles. Acomodados mãe e filhos, a progenitora, naquele sublime gesto materno, expôs o peito, no busto desabotoado, para amamentar o rebento mais novinho, enquanto o outro, traquina, ia brincando ali entre outros passageiros e a encavalitar-se na janela do comboio.
Momentos depois, por entre aquela teia das conversas que se cruzavam no espaço da carruagem que me chegavam aos ouvidos, os meus sentidos centraram-se na voz meiga do petiz mais velho, com dificuldade ainda em articular as palavras, mas que eu percebi muito bem, que decidiu reclamar, de forma insistente, a sua parte da mama a que o mais novinho continuava colado:
- Mãe, quero mama..., mãe, quero mama..., mãe, quero mama...

Perante a persistência tenaz do petiz, que não estava disposto a desistir do seu quinhão do leite materno perante a aparente indiferença da mãe, esta "passou-se dos carretos", puxou a culatra atrás e disparou:
- Queres mamar?..., vai mamar ao caralho..., foooda-se, ainda há pouco mamaste...

Perante esta atitude, podemos ter o preconceito de que aquela mãe "não batia bem da bola", que "era passada dos carretos", que "tinha uns parafusos a menos". Quem sou eu para a criticar por utilizar as ditas palavras "libertadoras" de que eu falava no início ainda encriptadas, e que ela aqui, a facilitar-me a vida em escancará-las neste texto, descodificou muito bem, alto e bom som, num português bem claro, desconhecendo-se o que estava por detrás de tudo aquilo. Eventualmente muitas dificuldades económicas ou outras, atenta, pelo aspecto, a sua condição humilde, com aqueles dois filhos tão pequeninos, quiçá o motivo principal das suas preocupações, por não ter o que lhes dar de comer, além das escassas gotas de leite que lhe brotavam do peito. Foi isso o que deixou transparecer.

Estas palavras de tal modo fizeram eco pela carruagem que toda a gente interrompeu as suas conversas e os jogos das cartas, tocada por este pungente quadro, não fizessem parte dele aquelas duas inocentes crianças, ficando tudo, momentaneamente, em silêncio, sem tecer qualquer espécie de censura. Chocado também pelo sucedido, ali, no meu lugar, instantes depois, verifiquei que tudo voltou ao normal.

Volvidos alguns momentos, ao "rebobinar" todo aquele filme, relembrando como aquelas palavras foram disparadas e, à velocidade da luz, como elas fizeram ricochete ali por todo o interior da carruagem, que puseram todos os presentes em sentido, e como somos, muitas vezes, tentados a rir também de coisas más, fui acometido de um ataque de riso que mal me podia conter. Que mau!...
- Vá lá, Manel, aguenta-te, não te desmanches. Não me vais agora deixar mal perante esta gente. Reprimia-me a mim próprio, ciente de que iria ser censurado por todos, que se mantiveram sempre naquela postura séria. Quanto mais o fazia, mais a besta me atacava, acabando por não resistir e rir alarvemente, dissimulando esta minha fraqueza através de um ataque de tosse convulsa fingida.

Mais uma e outra vez, e eu, desesperado, só já queria sair dali.
- Isso está muito mau..., faz muito bem um chazinho com casca de cebola e limão, adoçado com mel... Fez a observação e aconselhou uma senhora que estava a meu lado, compadecida comigo, pela maldita "tosse" que me atormentava.

Palavras que ela disse!... Ainda mais esta agora..., lamentava eu cá para mim. A tosse piorou. E a sua cura já lá não ia nem com o antibiótico de dose cavalar, quanto mais com a mezinha do chá.

Felizmente o comboio chegou ao fim da linha, à estação da Trindade, a porta abriu-se e eu, depois de agradecer, como pude, à senhora pela dica do chá, irrompi gare adiante a tentar libertar-me daquele colete de forças, e por ali fora, eu tossia..., tossia..., tossia..., não fossem os transeuntes chamar-me maluquinho por rir desalmadamente sozinho.

Aqueles meninos hoje, de certeza, que já não mamam, se o fizerem já será noutro contexto.
Só para dizer que já lá vão uns bons vinte e cinco anos desde que fiz aquela inesquecível viagem, o que não abona em nada o profissionalismo de um agente de autoridade minimamente responsável que, só hoje, passado todo este tempo, produziu este auto daquela ocorrência, correndo até o risco de vir ser acusado por "negação de justiça".

Para terminar, e já agora, lamento se porventura vos contagiei com o vírus da minha tosse. Se for o caso, sigam a dica daquela senhora: chá com casca de cebola e limão, adoçado com mel, nesta altura do ano, Janeiro de 2017, faz muito beeeem...

Só a mim é que isto acontece!...
E para que não fiquem dúvidas, vou assinar:
Manuel Sousa

OBS:- Título do poste da responsabilidade do editor
____________

 Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16904: Facebook...ando (43): Brindando ao futuro (Paulo e Conceição Salgado)

sábado, 19 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15876: Manuscrito(s) (Luís Graça) (78): Os homens medem-se pelas palavras...


Epigrama: na real galeria de arte, com dicas para um real retrato a corpo inteiro

por Luís Graça


Se o rei tem um metro e meio de altura,
agigantem-no,
elevem-lhe o trono
até ao primeiro piso.

Mais do que boa figura,
e melhor siso,
deve ter estatura,
o rei,
para ficar bem no retrato
da história,
e não ser um rei de má memória.

Se for preciso, 
ponham-no a andar,
corram com ele,
arranjem-lhe umas andas,
ou passeiem-no de andor,
pela baixa da cidade.

Primeira regra protocolar:
rei é chefe

e, como tal, é sempre aquele
cuja cabeça está acima das outras cabeças,
por isso é uma cabeça coroada.

Pequeno detalhe:
às vezes uma almofada
resolve o problema do desconforto
de quem, coitado,
tem que pensar a vida inteira sentado
num trono,
mesmo que torto,
sem nunca cair de sono,
antes de poder chegar ao fim do reinado.

E
, a propósito,
um rei deve morrer
com toda a real dignidade,
honra,
glória,
pompa
e circunstância,
em caso algum
(cruzes, canhoto!)
degolado,
guilhotinado
ou enforcado!

Na pior das hipóteses,
fuzilado,
com honras militares!

Em boa verdade,
não há real cu que aguente
tanto tempo sentado
como o de sua majestade
que nasceu para reinar.

Mas rei não é anjinho
e, para ser santo,
falta-lhe o cinto de castidade
com fechadura,
e chave entregue ao ministro do tesouro.

Se o rei vai nu, 
ou se passeia em trajes menores pelo terreiro do paço,
é mau agouro,
por favor, senhor pintor da corte,
ponha-lhe um sorriso,
de boca a boca,
como o da “Mona Lisa”.
E um ligeiro buço,
que um rei deve ser eternamente
adolescente,
imberbe,
devoto
e púdico,
mesmo quando rei do reino mais ignoto.

E, claro, ponha-o a olhar de frente,
como o nosso menino el-rei dom Sebastião,
forrado de armadura,
perscrutando os inimigos da Nação,
d’aquém e d’além-mar.
(Que pena nunca ter tido um real pintor à sua altura!)

Se o rei tem uma vida sedentária
e aborrecida,
e se o povo e a bosta de boi
não lhe fazem urticária,
troque-se-lhe a vida palaciana
pela campestre,
espetem-lhe um coroa de espinhos na cabeça,
para saber o quão imensa e intensa é a dor,
humana.

Ou então façam-lhe o retrato equestre, 

como ao senhor dom josé,
montem-no a cavalo,
no seu garanhão branco,
puro sangue lusitano.
A coroa fica-te a matar, meu amor!

Mas também não fica mal,
à rainha, com sorte,
vestida de branca de neve,
rodeada dos seus sete anões,
quando sai à rua p’lo Natal,
de sapatos altos de cristal,
ouvir piropos de carroceiro,
que o povo é alarve e brejeiro:
ah!, meu querido Hirohito,
há quanto tempo não me vais ao pi...! 
(Atenção, que piropo agora dá prisão!).

Se o rei morre de tédio,
suspirando uis e ais,
ou vai com cio,
por montes e vales,
atrás dos javalis e lobisomens,
soltem os cães, os faunos e duendes
e convoquem os homens dos jornais,
mas não lhe chamem louco,
que é pouco!

Segunda regra protocolar:
decretem a caça às bruxas,
ou então povoem a corte de anões,
que logo o rei os fará cavaleiros e barões,
sete vezes sete,
blogue fora nada,
que dos régios cofres, é o segredo,
sempre cheios,
garante o guarda-mor do real selo,
caído em desgraça
e a caminho do degredo.

Terceiro e último aviso ao povo
que nunca foi a uma sessão de fado
com beija-mão real no paço do lumiar:
fraco rei faz fraca a forte gente (camões dixit)…

Súbditos leais,
e corteses,
mas velhos e feios,
são os marqueses,
e utilitárias as marquesas,
francesas,
de paços de ferreira
e de fartos seios,
mas dos duques teutónicos
diz-se que são maus fregueses.

Anacrónicos,
esses, são os portugueses
que ainda delapidam diamantes
com as plebeias criadas de servir
e as ‘cocottes’ burguesas…

E das duquesas,
inglesas,
senhor,
o que me dizeis ?
Ah!, que são as melhores amantes
de reis
e serviçais.

Baralhadas e dadas as cartas,
o trunfo é paus,
a cruz que Deus nos deu, 

além do trabalho
por causa do pecado original:
hipótese nula,
fica tudo como dantes,
o quartel em Abrantes,
que de Espanha nem bom vento
nem bom casamento,
nem macho ou mula com boa pinta.

Hipótese de investigação número um:
em caso de desgraça,
peça-se mercês a sua senhoria
e mande-se a conta
à mercearia. 
O elétrico ? 
É o número vinte e oito,
para a graça.

Mais vale, cariño mio,
ser rei por um dia,
do que príncipe regente toda a vida.

Hipótese dois:
em caso de fome, guerra, peste e revolução
(de que Deus nos livre!),
convém que o rei guarde a cabeça,
nalgum lugar mais esconso e seguro do palácio.
Um rei, meu filho, vale pelo trono
e o trono pela coroa
e a coroa pela cabeça.
Não há seguradoras que seguramente cubram
todo este real risco.

E, para mais, Carlota,
como vós mui bem sabeis,
há ainda o real fisco,
que é agiota,
vampiro e daltónico,
e não distingue a cor do sangue,
azul ou vermelho.

Conclusão, e bom conselho
para os reais pintores
e demais bobos da corte
e vindouros:
os homens não se medem aos palmos,
muito menos os reis;
os homens medem-se pelas palavras,
e os bois pelos cornos.



Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Galeria de Exposições Temporárias, Wentworth-Fitzwilliam. > Uma Coleção Inglesa, 6 de março de 2016.

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15747: Manuscrito(s) (Luís Graça) (77): "Nesta terra querida, / Tive mundo, e tive amor, / Não me posso queixar da vida, / Tive tudo, e também dor"... Viva a nossa decana, a dona Clara Schwarz da Silva

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15682: Manuscrito(s) (Luís Graça) (75): sabedoria alentejana: viver até aos cem anos... p'ra quê ?

Ao Mário Fitas e à sabedoria alentejana... LG


Viver até ao cem anos... p'ra quê ?

por Luís Graça


Pergunta um velhote alentejano ao seu jovem médico de família, no primeiro exame de saúde que este lhe fez:

Ó sô doutouri, acha que eu inda terei a sorte de vivêri até aos cem anitos comó mê pai ?

– Bom, depende das asneiras que o mê amigo fez na vida ou tem feito... Ora, diga-me lá: vocessemê fuma ?

Ná, nunca me puxou prá aí.

– E beber, bebe o seu copo ?!...

–  Ná, na gosto d' álcool.

– Mas olha que o tinto até faz bem ao coração... E o comer ?

Só o que a terra dá, pão, azêti, migas, alho, coentros, cebola, batatas... 

– Quer dizer: carne e peixe, pouco, que a pensão do governo não dá p'ra tanto!... Então, e que mais? O senhor é casado ? Tem filhos e netos ? 

– Ná, nunca tive filhos que Deus me desse.

– Atão ?!... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?

 Ná, sô doutouri. Nada disso! Fui pastouri, ‘tou reformado, sou viúvo, vivo sozinho no monte mailo o canito...

O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira a roçar o humor negro:

– Diga-me cá uma coisa, ó senhor Joaquim, que eu não 'tou a compreender: o senhor quer viver até aos cem anos... mas para quê?!

O alentejano, muito sério, lívido, quase ofendido, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar, vindo de Lisboa ainda há pouco meses,  ao centro de saúde de Odemira: 

–  Atão... porque a vida de um home é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...

___________

Nota do editor:

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15319: (Ex)citações (298): Um peso era manga de patacão... para a bajuda de Mansoa (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, 1969/71)





Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 2885 (1969/71) > Bajuda no pilão...

Fotos: © Sousa de Castro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem, com data de ontem, 2/11/2015, às 19h13, do César Dias, ex-fur mil sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)



Luís, respondendo ao inquérito de opinião desta semana... cheguei á conclusão que 1 peso era manga de patacão (*).

Vagueando pela tabanca de Mansoa com a máquina em punho, vê a diferença das fotos.

(i) a foto nº 1 (uma bajuda a pilar) foi tirada por mim;

(ii)  depois chegou o alf Montezuma do meu pelotão, ofereceu-lhe 1 peso e olha a diferença... (**)

Um abraço

César



Moedas de 1 peso (escudo da Guiné)... Coleção do Joaquim Almeida, o Custóias

[O Joaquim, que esteve na CCAÇ 817, Porto Gole, 1965/67, guarda "religiosamente" estas duias moedas , recuperadas na sequência  do assalto a um acampamento do PAIGC na bolanha de Porto Gole, na zona de Mansoa, em 3 de julho de 1965, operação onde teve o baptismo de fogo. A moeda de baixo foi emitida, em 1946, por ocasião do V Centenário da Descoberta da Guiné].
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de outubro de  2015 > Guiné 63/74 - P15309: Historiografia da presença portuguesa em África (59): Cem pesos era "manga de patacão" para o camponês guineense, produtor de mancarra... Era por quanto venderia um saco de 100kg ao comerciante intermediário... Em finais de 1965 o governo de Lisboa garante a compra pela metrópole da totalidade da produção exportável da mancarra guineense e fixa o preço por quilo em 3$60 FOB (Free On Board)

(**) Último poste da série > 29 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15302: (Ex)citações (297): Quem disse que "100 pesos era manga de patacão" no nosso tempo? Em 1960, mil escudos (da metrópole) valiam hoje 428 euros; e em 1974, 161 euros, ou seja, uma desvalorização de c. 266 %... Recorde-se por outro lado que 100 pesos só valiam 90 escudos...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14031: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (1): Que os nossos bons irãs nos/vos protejam, camaradas e amigos/as!



Lisboa > Natal de 2014 > Praça do Comércio



Lisboa > Natal de 2014 > Praça do Rossio

Fotos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados.


Vídeo (1' 46'') alojado em You Tube > Nhabijoes


Lourinha >  13 de dezembro de 2014 > Natal de 2014,  animação de rua com o Grupo de Gaiteiros da Freiria, Torres Vedras.  Apoio da junta de freguesia local e do comércio tradicional.




Vídeo (1' 47'') > Alojado em You Tube > Nhabijoes

Lisboa > Basílica dos Mártires, Chiado > Concerto de Natal >  14 de dezembro de 2014 > Coro da NOVA, Universidade Nova de Lisboa, sob a direção do maestro João Valeriano > "Hossana to the Son of David", Thomas Wealkes (c, 1575-1623).



Vídeos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados.


1. Camarada, amigo/a, leitor/a: 

Decididamente, é difícil, 
se não mesmo impossível
fazer de conta que não é natal
todos os anos por esta altura do ano.

Há mais de um mês 
que os sinos dos centros comerciais,
as campainhas da televisão 
e os guisos da internet
nos anunciam que vem aí o natal
e, com ele, 
todas as coisas boas, materiais e imateriais,
que, no nosso imaginário,
associamos às festas do natal e ano novo.

Para além da efeméride, 
e da data no calendário religioso, 
de grande significado para os cristãos,
o natal tem, 
para outra parte não menos importante da humanidade. 
uma dimensão cultural e espiritual
que também importa (re)valorizar e (re)lembrar.

Mesmo para os crentes de outras religiões
e para aqueles de nós que não têm nenhum religião em especial,
o natal e o ano novo (no calendário gregoriano)
são uma quadra que nos convida
à reflexão, 
à meditação, 
à partilha,
à prestação de contas com a vida,
à prova de vida,
à renovação da esperança.

Não faz sentido desejarmo-nos,
uns aos outros,
feliz natal e bom ano novo
sem nesses votos estar implícita ou explícita
a ideia de esperança e de futuro.

Esperança no futuro,
num planeta amigável e habitável,
onde possamos caber todos,
nós e os 7 mil e tal milhões de outros como nós...
Precisamos de esperança, 
amigos e camaradas.
Cada um de nós, Portugal, a Guiné, o resto do mundo.
Ninguém, em termos individuais e coletivos
pode viver sem esperança,
sem sonhos,
sem projetos,
sem metas.


Costumamos dizer, com graça,
que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!
Pois é, 
é grande de nome, 
e é virtual,  a nossa tabanca,
é uma ideia que tem vindo a ser acarinhada e construída
ao longo já de mais de um década,
uma ideia simples, a de partilha de memórias,
e que, atrás das memórias,  tem trazido os afetos,
a amizade, a camaradagem, a solidariedade.


Queremos que o resto da picada da vida
que ainda temos para palmilhar
não seja uma viagem solitária,
para cada um de nós,  ex-combatentes.
E que também não seja enfadonha,
que tenha algum pica,
com o humor q. b.,
que é algo que também nos faz falta,
a par da saúde, do amor e do patacão!

Queremos que aqueles que se sentam
à sombra do nosso imaginário poilão sagrado
se possam sentir também, de algum modo,
acompanhados pelos seus antigos camaradas.
Queremos ser conhecidos e reconhecidos 
uns pelos outros,
e, se possível,  lembrados e evocados
pelos nossos filhos, netos e até bisnetos.
Que, afinal, são aqueles que nos importam.
Queremos que eles não sintam  vergonha de nós.
Pelo contrário, 
queremos que eles tenham orgulho de nós,
da nossa geração.


Fizemos a guerra e a paz,
e gostamos de evocar e recordar esses tempos
em que passamos por essa terra verde e rubra
que era a Guiné.
Continuamos a ter carinho por ela e pelas suas gentes,
depois de termos exorcizado os fantasmas do
(e feitas as contas com o)  passado,
Queremos caminhar juntos,
queremos que Portugal e a Guiné,
os portugueses e os guineenses,
caminhem juntos,
com esperança no futuro,
na terra que, afinal, é só uma e é de todos.


Votos de esperança, amigos e camaradas,
sobretudo para aqueles de nós
que estão longe da terra que os viu nascer,
nas mais desvairadas diásporas lusitanas,
ou que estão doentes,
ou que perderam recentemente alguém muito querido,
ou que muito simplesmente perderam algo de muito importante
como pode ser a fé, 
a fé nos outros, na humanidade ou na pátria.


Votos de esperança,
sobretudo para aqueles de nós
que sentem que a sua terra foi ou tem sido
má mãe, mau pai, mau irmão, má irmã.


Votos de esperança
na paz, na liberdade e na justiça
a que todos temos direito.


Boas festas para todos/as,
amigos/as e camaradas!
E que os nossos bons irãs 
nos/vos protejam!


Os editores (com amor e humor q.b.)

domingo, 23 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12886: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte X): Quando a corte dos Lacraus chegou a Canquelifá...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz, a fumar, com o filho de um soldado da companhia
 


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova  Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz,  de sargento de dia (1)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz,  de sargento de dia (2).. [Meados de 1969, tempo das chuvas. LG]

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição. L.G.]



1. Mensagem, de hoje, 1h50, do Valdemar Queiroz:

Boa noite, Luís Graça;

Chego atrasado, no Dia Mundial da Poesia... E tenho pena de não saber de cor o poema "D. João VI e a mulat", completo...

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá,
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá!...


Quem sabe esta pérola completa, que mete perninhas de frango nos bolsos de D. João VI, é o ex-fur mil Aurélio Duarte, da nossa CART 11, que é de Coimbra, e que, depois de uns estrondosos, eferreás, declamava esta poesia em que o D. João VI respondia aos inimigos da mulata nestes termos:

Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu decreto que a mulata é boa...


Hoje faz 44 anos que estvémos juntos em Canquelifá!...

Tivemos um desentendimento a jogar matraquilhso na rua.principal, num fim de tarde. Já bem bebidos, resolvemos jogar matraquilhos, mas de cócoras, sem ver o recinto de jogo  (Ganda bezana!)... As bolas entravam de um lado e do outro e o Aurélio perdeu.

Ele não gostou e embrulhámos os dois à tareia, sozinhos, sem ninguém para nos separar. O Duarte com o seu metro e oitenta e  e eu com o meu metro e sessenta e sete... . Eu, com mais agilidade, deixei-me cair e o Duarte foi projetado, estatelando-se. Partiu um braço e, assim, andou, num grande sofrimento uns meses.

Ainda hoje ele me diz. "Ò Queiroz, aquele teu golpe de judo em Canquelifá!"...

Um abraço, Queiroz.


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Bajudas <


Foto. : © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição. L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Em tua homenagem e ao teu amigo e camarada Aurélio Duarte, e aos demais Lacraus,  recordando os bons velhos tempos de Paquetá, quero eu dizer, Canquelifá, ai vai a letra completa, recuperada da Net... Um alfabravo. Luis
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“D. João VI e a mulata”

Música; Armando Rodrigues
Letra: R Calado
Disponível no You Tube
Cortesia de Manuel Casimiro de Lopes Lopes

Canto de Villaret da Côrte de D. João VI e a Mulata de Paquetá,
gravado no Teatro Boa Vista,
em Lisboa no ano de 1954.

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá,
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá.

Diziam que ela era um perigo,
Que ela era uma tentação,
E que um marquês de nome antigo
Desdenhava o rei, não cumpria a lei,
P’ra ser só dela o cortesão.

Mas, quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
–  Já lhes disse que, aqui em Paquetá,
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má,
Porque eu decreto que a mulata é boa.

Certa noite muito escura,
A moça se assustou,
Vendo surgir uma figura,
Gorda, a ofegar,
Que, sem falar,
Nos gordos braços logo a apertou,
Ela sentiu-se muito aflita,
Como a dizer que não,
Até na treva era bonita,
E lá fez de conta, que ficava tonta,
Sem saber que era o seu D. João.

Mas,  quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa, 
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei como a mulata é boa.

[Letra disponível aqui... Por Linhas  Tortas > 17 de março de 2008 > D. João VI...Reproduzida com a  a devida vénia] [Revisão / fixação de texto: LG]

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12556: Estórias cabralianas (84): Ganhámos! O Alfero meteu golo!... (Jorge Cabral)






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


Foto: © Jorge Cabral (2014) . Todos os direitos reservados.  [Edição de L.G.]

1. Mensagem do Jorge Cabral [
, jurista, advogado de barra, docente universitário reformado, ex-alf mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, setor L1, Bambadinca, 1969/71]:


Data: 7 de Janeiro de 2014 às 16:51

Assunto: Golo!

Amigo!

Na Guiné até o Alfero jogou futebol...
Abraço!
J.Cabral

Junto foto - O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


2. Estórias cabralianas  > Ganhámos! O Alfero meteu golo.

por Jorge Cabral

Um dia, ouvi, em Bambadinca, que ia haver um campeonato de futebol. Para além da CCaç 12 , entravam todos os Pelotões e Serviços da CCS. Inscrevi o Pel Caç Nat 63, embora não tivéssemos equipa, nem sequer bola, que me apressei a adquirir.

Chegado a Fá, ordenei treinos diários. Tarefa difícil, pois os meus soldados africanos nem as regras conheciam. Eram fortes e rápidos, mas pareciam especialistas em sarrafadas. Para tirar a bola ao adversário valia tudo…

Iniciou-se o campeonato e nós sempre a perder. Resultados catastróficos…autênticas cabazadas.. Para apoio moral, levávamos uma enorme claque de miúdos que,  em alarido, aplaudiam tudo.

Não sei porque não fomos desclassificados e chegámos ao último jogo, contra o  Pelotão dos Morteiros. Com o jogo quase a terminar,  e quando já havíamos sofrido oito golos sem resposta, o guarda-redes Mamadú chutou a bola para o Demba que a tocou para o Alfero, e este, em manifesto fora de jogo, rematou. 
Gooooolo! Gooooolo!Gooooolo!

O árbitro, alferes,  hesitou e olhou para o rematador, que encolheu os ombros… Golo validado, claro. A algazarra foi tanta, que o Comandante do Batalhão saiu do seu gabinete, para ver o que se passava, tendo-se mostrado irritado.

Rapidamente regressámos a Fá. Nessa altura, o Pelotão tinha um Segundo Sargento que,  intrigado com a nossa ruidosa alegria, perguntou:
–  Então? Que aconteceu?
– Ganhámos! O Alfero meteu golo! –  gritou-lhe o Sambaro.

Jorge Cabral

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 Nota do editor:

Último poste da série > 26 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12345: Estórias cabralianas (83): Da Gata Catota à Tabanca da Queca... (Jorge Cabral, com bolinha...)

(...) No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco. (...)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)



Mafra  > Sobreiro > 1968 >  O cadete Cabral, discursando no jantar comemorativo do fim da recruta, na EPI.

Fotos (e legenda): © Jorge Cabral (2013). Todos os direitos reservados

1. Mais uma estória cabraliana, que nos chega pela amável e  caixa de correio da Anabela Martins, com data de hoje à tarde ("Encarrega-me o senhor Prof. Jorge Cabral de enviar o anexo. Com os melhores cumprimentos"):


1. Estórias cabralianas > As Mulatas de Luanda

por Jorge Cabral [ex-comandante do Pel Caç Nat 63, Bambadinca, Fá Mandinga, Missirá, 1969/71]


Numa noite, no início de Maio de 1968, apareceu-me irritado o meu amigo Filipe. Ia para a tropa.
– Tens a certeza Filipe? Olha vamos passar por lá, pela Junta de Freguesia. (Onde à porta afixavam as listas).

E fomos. Corri os olhos pelo edital e era verdade. Lá constava, Filipe Narciso Gonçalves da Silva. Só que, um pouco mais abaixo, encontrei o meu nome, Jorge Pedro de Almeida Cabral. Devia ser engano, um erro, eu tinha direito a adiamento. Que o Filipe fosse, não era para admirar. De igual idade e entrados ao mesmo tempo na Faculdade, ele não passara do primeiro ano, enquanto eu contava acabar o curso no ano seguinte.
–  Vamos os dois. Sabes que não discuto o destino.
 – Eu não vou –  gritou-me ele. (E não foi...).

E.P.I, Mafra, 15 de Junho, era o que estava escrito. Porque me teriam chamado? Política?

Era do contra mas discreto, tal como continuei a ser toda a vida. Aliás, há quem diga que o sou em demasia. Agora até as minhas doenças são discretas. Não há ecografia que não acuse... tudo, mas discreto (...discreta litíase, discreto enfisema...).

Porém, precisava saber a razão do chamamento.

Assim, dois dias depois, desloquei-me ao Distrito de Recrutamento. Recebeu-me um Primeiro Sargento, Candeias de seu nome. Expostas as razões e documentos, o militar consultou as normas e declarou:
– Tem razão. Mas,  se não vai agora, vai para o ano. Eu acabei de chegar de Angola, de Luanda, que cidade! As mulatas...

E durante uma hora, falou-me das mulatas.
– Mulheres assim não encontramos cá! E você é capaz de ser colocado numa secretaria em Luanda. Mas faça um requerimento. Não demore é muito.

Saí animado. Com a hipótese de não ir para a tropa? Não, com as mulatas de Luanda...

Esqueci o requerimento. Qual tropa, qual quê! Ia era fazer uma espécie de estágio. E depois, depois... as mulatas de Luanda. Chegado a Mafra, logo na primeira saída no café em frente do Convento, apresentaram-me Nasciolinda, a filha do escrivão. Então, não é que era mulata! Bem, não era de Luanda... mas representava um presságio do que me estava destinado. E as coisas até corriam bem com a Narciolinda, se eu não lhe tivesse escrito um poema, no qual jogava com as palavras, dizendo que a queria ver na Tapada, mas destapada...Não gostou. Paciência... Continuei vida fora a brincar com as palavras e a inventar trocadilhos, o que me ocasionou inúmeros dissabores.

A Recruta correu bem. Ágil e resistente, não senti qualquer dificuldade. Claro que,  na carreira de tiro, fui um desastre. Nem uma vez acertei no alvo. Estranho, porque nas barraquinhas do Parque Mayer, fui sempre o melhor...

Mafra chegou ao fim. O pelotão reuniu-se num jantar no Sobreiro. Discursei. No regresso ao Quartel, o Tenente Comandante, disse-me:
–  O Cabral vai para o Lumiar, Secretariado.

Na manhã do dia seguinte em formatura, distribuiram as respectivas guias de marcha. A minha dizia:
– E.P.A. Vendas Novas.

Ainda pensei que fosse secretariado de artilharia...mas não, era mesmo atirador.
– Então, meu Tenente ?  – perguntei.
– Devo ter visto mal  – respondeu-me.

Mais uma vez, não discuti o destino.

Fiquei a ganhar. Se fosse um ano depois, o mais certo era ter sido Capitão, como quase todos os meus colegas. Não imagino, nem ninguém consegue imaginar, o que seria uma Companhia Cabraliana...Se tivesse ído para Secretariado, atrasaria o expediente, perderia os papeis e não me teria sido possível, organizar, como fiz em Missirá, um original arquivo debaixo da cama, partilhado por insetos onde as garrafas vazias se misturavam com mensagens secretas...

Mas,  afinal, que teria acontecido para me terem reclassificado de madrugada? Perigoso subversivo? Operacional insubstituível?

Nada disso. Apenas uma valente cunha de última hora. Eu ganhei. O da cunha também Perderam as mulatas de Luanda.

Coitadas...

Jorge Cabral

PS – Anexo foto do tal jantar de fim da recruta. Cadete Cabral discursando.
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

(...) Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra. Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria. (...)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11730: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (44): A mulher mandinga e o soldado português

1. Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (44): A mulher mandinga e o soldado português

Uma mulher mandinga,  a caminho do mercado,  passa diante da porta de armas onde esta postado um soldado português em serviço de sentinela. Ela sabe que os portugueses, de uma forma geral, não têm especial empatia para com os mandingas que, com ou sem razão, suspeitam de estar do lado dos terroristas, por isso num gesto amigável de querer agradar, exibindo o seu melhor sorriso, cumprimenta a sentinela na única lingua que sabia comunicar:
Caira lata! (paz e bem, o mesmo que dizer bom-dia em mandinga).

O soldado interpreta o cumprimento da mulher como uma provocação terrorista, não responde e faz gestos com a mão a indicar-lhe para continuar a caminhar e não chatear, pois que chatices ja tinha ele o suficiente para estar ali de serviço.

Volvidos alguns dias e, no mesmo local, a mulher volta a encontrar o soldado em serviço na porta de armas e,  indiferente ao facto de que se tratava ou não da mesma pessoa, repete o ritual com a mesma cortesia de sempre.
 ─ Caira lata!

 O soldado não responde, mas faz os gestos habituais de mandar seguir com as mãos que a mulher interpreta como resposta aos seus salamaleques e, como mandam as regras da boa educação africana, acrescenta logo a seguir:
Sukonum kolo!? (Como vai a familia!?)

Exasperado, pelo que ele entende ser uma afronta, o soldado avança de forma ameaçadora para a mulher, visivelmente com intenção de a agredir com um pontapé, valendo a pronta intervenção das pessoas que passavam por perto e, perante o desconforto da situação, vê-se obrigado a explicar aos presentes as razões de toda a bagunça:
─ Foda-se, a f...da p... da velha,  não contente de me chamar 'cara de lata', todos os dias que passa por aqui, hoje ameaçou-me com um 'soco nos cornos', era o que faltava!

No meio da confusão, a mulherzinha só sabia dizer: 
Hoi mbama!!! Hoi mbama!!! (Oh minha mãe!...Oh minha mãe!).

Bissau, 10 de Junho de 2013
Flagrantes da vida “colonial”
Cherno Baldé – Chico de Fajonquito

terça-feira, 18 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11726: Fotos à procura... de uma legenda (21): Bissau, cidade aberta, 2013... [e onde esteve muito recentemente a Catarina Gomes, jornalista do 'Público', em busca de 'filhos do vento'] (Cherno Baldé)



Guiné-Bissau > Bissau > 2013 > Está enganado quem pensa que da Guiné-Bissau não vêm boas noticias, o pais acaba de entrar, com sucesso, na era biotecnológica de “cagação” de telemóveis e não custam caro, apenas 100 Fcfa. Facto que constitui, ao mesmo tempo, uma revolução tecnológica, uma forma de colmatar a carestia da vida e uma ótima contribuição para o novo acordo ortografico do português. [Cherno: 'Cagamos móveis alfataria', é uma forma de economia linguística em publicidade "outdoor"... Reconstruíndo a frase, eu diria que alguém nos quiser dizer: "Carregamos telemóveis na alfaiataria"... Certo ?... E depois, 100 CFA, o que é isso, são 15 cêntimos de euro...Na Europa não compras nada com 15 cêntimos... Mas na tua terra é muito dinheiro, para quem vive só com um euro por dia...L.G.]



Guiné-Bissau > Bissau > 2013 > A fim de encorajar os investidores estrangeiros, com grande relutância para vir à Guiné-Bissau, um habitante do “Céu” resolveu fazer um gesto para promover e impulsionar o setor habitacional, em Bissau.[ Chermo: de qualquer modo, aí, na tua terra,  como em qualquer outra parte do mundo, o 'ceu a ceu dono'... L.G.]


 Guiné-Bissau > Bissau > 2013 > Em Bissau, já não constitui novidade uma pessoa cruzar-se, nas suas ruas,  com um novo tipo de habitante, chama-se Belétchô, uma espécie de pernalta humano. Ninguém sabe donde vem.. [Cherno: nem para onde vai... L.G.]



Guiné-Bissau > Bissau > 2013 >...Em consequência, vai ser preciso repensar tudo na cidade, em especial os passeios, a altura dos muros de vedação, os táxis, os aparthoteis... [Cherno: É isso, precisamos de outra esacala, a dos gigantones, como chamamos aqui aos vossos Belétchô...L.G.]

Fotos (e legendas): © Cherno Baldé (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do nosso amigo Cherno [Abdulai] Baldé [, aqui à direita, com os filhos, em 2004, na "festa do carneiro" ou Tabaski]


Data: 16 de Junho de 2013 às 12:40

Assunto: Envio de material para publicação

Caros amigos Luis Graca e Carlos Esteves Vinhal,

Juntamente envio dois textos e algumas imagens de Bissau, para publicação no blogue da TG, se assim o entenderem.

O primeiro texto, sobre os acontecimentos de Cuntima, em Novembro de 1976 [, a revolta das milícias que acabou em tragédia,]  é uma promessa antiga mas que só agora foi possivel concretizar. O segundo é um fait divers popularizado na época colonial: A muher mandinga e o soldado português. E  o resto são imagens sobre a atualidade da cidade de Bissau [, vd. fotos e legendas acima].

A Catarina [ Gomes, jornalista do Público, que foi à Guiné-Bissau fazer um trabalho de investigação sobre os 'filhos do vento',  com 'recomendação' ao Cherno Baldé por parte dos amigos da Tabanca Grande, ] já regressou a Portugal e a consequência mais imediata da sua visita de trabalho é que ainda continuam a fluir em casa e/ou atraves do telefone, pedidos de pessoas, filhos de antigos soldados [, portugueses,] que procuram uma forma de entrar em contacto com os prováveis pais ou seus familiares. Nos próximos tempos terei que enviar pedidos de publicação para a série "Em busca de..."

Com um abraco amigo,

Cherno Baldé

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10630: Fotos à procura... de uma legenda (20): Fotos de uma operação ao Morés em 1964 em que intervieram a CART 730 e a Companhia sediada no Olossato (António Bastos)

Guiné 63/74 - P11723: Manuscrito(s) (Luís Graça)(4): Comment ils sont toujours gais, les portugais!


Comment ils sont toujours gais, les portugais!

por Luís Graça

Olho do alto,
do mais alto edifício da Lisboa fontista,
o marquês in su situ,
o dito marquês de Pombal,
le plus fameux marquis du Portugal:
Estatuado,
bem apessoado, 

em pose de Estado,
futurista,
mas sem insígnias de general:
apeado,
sem burro, mula ou cavalo
para se poder passear
pelas futuras avenidas novas,
largas, chiques, burguesas, 

do Ressano Garcia
que ainda está por nascer.


Consulto o guia turístico do pós-25 de Abril
e vejo que lhe falta, do polícia oitocentista,
o cassetete e o apito,
mas ele está bem assim,
acima do Rei de Paus,

abaixo da Lei e da Grei,
maçon e republicano,
domando o leão,
dominando a cidade,
serena, sibilina,
com o Terreiro do Paço,

o Palácio do Santo Ofício, os Estaus,
e o Rio Tejo, o mundo, ao fundo.
── Comment ils sont toujours gais, les portugais! ──
exclama a guia, do vinte e oito da Carris,
que vai da Graça aos Prazeres
da boa mesa e melhor cama.

Olho-o de alto, 

ao Marquês e ao seu leão,
sem desprezo nem paixão,
com o tal olhar sociológico,
que deve ser distanciado,
profundo,
perscrutador, 
sideral, 
como me ensinou o meu professor
de métodos e técnicas
de investigação social:
── Saibam escutar Deus e Diabo,
e ponham a falar o pecador e o santo,
Deus e a sua corte,
mais os pobres deste mundo.


Mas só agora reparo,
no meu pequeno problema
do foro oftalmológico.
Não é uma questão de vida ou de morte,
mas apenas de incapacidade:
estou com falta de perspectiva,
não tenho o súbito ângulo de visão,
nem a suficiente lucidez,
luminosa, altiva,
para descer do pedestal
e caminhar, homo erectus, e sozinho,
pela Avenida, larga, da Liberdade.
O que vale é que p'ra baixo
todos os santos ajudam,

mesmo os papos de anjo e os querubins
do Hospital Real de Todos os Santos,
em ruínas.
Não, não sou santo, pederasta nem pedófilo,
sou o Intendente,
do Largo do mesmo nome,
Pina Manique,
um seu criado para o servir.
E eu, cá por mim,
prezo-me de ser um gajo decente,
não fumo, 

não bebo, 
não conspiro,
não conspurco,
não especulo,
não cometo crimes horrendos,
dou aos pobres,
empresto a Deus,
que me paga com juros e dividendos,
enfim, sou um anónimo súbdito leal.

Je viens du Siècle du Son et e de la Lumière!,
mas sou daqui natural,
primata social,
de sangue quente,
português, discreto,
cidadão avant la lettre,
jacobino, às vezes,
maçónico,
clandestino,

podem chamar-me estrangeirado,
e hoje liberal dos sete costados,
como o Espada, o Pacheco ou o Barreto;
por azar, nascido no Estado Novo,
educado em escola do Conde de Ferreira,
que antes de ser conde era visconde,
como antes tinha sido barão e cavaleiro,
e antes de tudo era o José Ferreira,
nascido em Gondomar,
de pais campónios, mas remediados, 

e maior roceiro e negreiro,
se não mesmo esclavagista,
p'las Angolas e p'los Brasis,
filantropo, benemérito,
apoiante da causa da Dona Maria,
e que eu saiba nunca foi setembrista
ou capitalista manufactureiro.
Mas que deixou o remanescente
da sua imensa fortuna
para fazer a escolinha
p'ró menino e p'rá menina,
a escolinha da minha infância.
E ainda, por duplo azar meu,
ex-combatente da guerra colonial,
no tarrafo do Rio Geba,

nos rápidos do Rio Corubal
e nas bolanhas da Guiné,
terra de azenegues e de negros.
E ainda por cima
contribuinte líquido,
cibernauta, blogador, 

com sintomas de burnout,
ao virar da esquina do século vinte e um.

── Desculpe,  Senhor Intendente,
excelência, 
senhoria,
mas não reparei na velhinha
com o cão pela trela,
na passagem de peões, 

que ia levantar o jackpot do euromilhões
ao quiosque da Tabacaria do Pessoa.

Vote no homem, avozinha,
que ele é bom chefe de família
e benfiquista.


Enfim, andei como tu,
pobre marquês no ocaso dos dias,
grande duque de copas o resto do ano,
uma vida inteira
a exercer ilegalmente
o mister da existência,
o duro ofício de viver:
a enterrar os mortos
e a cuidar dos vivos,
a destruir o passado,
a reconstruir o presente
e a riscar o futuro.
Só não matei de morte matada,
por objecção de consciência, 

nas guerras da pacificação
com o capitão diabo.

E afinal,
alguém me passou um atestado
de robustez física
para poder circular
entre o núcleo duro
da insanidade mental
da mítica cidade de Ulisses:
hoje faz parte da blogosfera,
a cidade gravada em cobre por Braúnio
em Civitates Orbis Terrarum.
── Não sei como deixei escapar
esta exposição
no Centro Cultural de Belém.
──
diz o Intendente Pina Manique,
agora caído em desgraça,

lá p'rós lados da Mouraria.


Por entre reclusos e negros,
mouros cativos
e filosófos esotéricos,
judeus sefarditas
e cristãos velhos,
marinheiros e mercadores,

balantas fuzilados entre a Mina e o Fiofioli,
batedores, dançarinos e cantadores de fado,
portadores do virús HIV,
operários sinistrados
das obras do convento de Mafra,

lançados,
grafiteiros,alcoviteiras,
tocadores de kora,
jagudis, 
e poetas alcoolizados
no Martinho da Arcádia,
pederastas e prefeitos
dos Reais Colégios,

que gostam de pôr os pontos nos ii,
lá me escapei, 

passei a fila
e cheguei à consulta do morbo gálico
no Hospital Real de Todos os Santos.
Estava semidestruído,
vinte anos depois da Grande Peste
(De que Deus nos livre!).

Afinal, o meu mal era português,
disse-me o físico,
de serviço ao banco de urgência.
Era já velho, trinta anos,
a cara coberta de bexigas
por causa da varíola
ou de algum esquentamento mal curado. 
── E aos trinta anos, senhor,
quem não é médico é louco. ──, 
ameaçou-me o maqueiro,
mal barbeado,
com ar de galicado
e chulo do Bairro Alto,

sobrevivente da guerra dos três Guês,
Guidaje, Guileje e Gadamael.
Deu-me, o físico, alguns unguentos e sedativos
e um estranho papel com uma receita com mel:
── Senhor real boticário,
é completamente inútil
este exercício ilegal da medicina.

O mal do doente é português
e quiçá irremediável e universal.
Do coração a sangrar não há sinais,

e da bilis amarela só sai fel,
dê-se conhecimento ao físico-mor
para os devidos efeitos
e procedimentos habituais!

Prognóstico reservado,
depois de vistas as águas!


E eu a pensar que o meu mal
era espanhol,
quando fero conquistador no Novo Mundo,
ou francês,
da rive gauche, que chique!
Ou veramente italiano,
florentino, 
de capa e espada,
católico, apostólico, romano,
genovês,
veneziano, 
viperino...
Não, o meu mal é português,
irremediavelmente, genuinamente, português
em Goa, Damão e Diu;
em Cabo Verde ou na Guiné;
em Angola ou Moçambique,
no Minho, em Macau ou em Timor 

ou outras terras que a gente nunca viu.
Tirei a sina na feira da ladra
e a sentença ficou dada, 

na barraca dos tirinhos:
── Pobrete mas alegrete!

Se não tens voz de tenor, senhor,
canta de falsete;
e se não tens cão, hombre!, 
caça com gato.

E sobretudo nunca olhes para trás,
a menos que a vista mereça a pena!


Hoje a cidade está vazia
à hora do terço e da novena,
e já não se dispensam mais
cuidados paliativos nem terminais.
Facto trivial,
uma criança é abandonada
na Roda da Misericórdia,
e dois turistas acidentais
espreitam
à porta da cervejaria Trindade,

fechada por causa do Grande Sismo do Ocidente,
enquanto El-Rei, nosso senhor,
no Paço se deita com a abadessa...
Sangra de saúde, compulsivo,
deixando o seu ministro aflito,

mais o confessor conselheiro,
entre o patíbulo dos Távoras
e a Real Fábrica das Sedas,
ali, às Amoreiras,

de portas abertas à espera do investidor estrangeiro.
Nas paredes do hospital da cidade
alguém escreveu um grafito,
jocoso, 

quiçá subversivo, 
e lesa-majestade:
── Meu caro Marquês, em Lisboa...
nem sangria má nem purga boa!


27 out 2004 / Revisto nesta data


Lisboa, vista em perspectiva. Gravura em cobre, meados do Séc. XVI (Pormenor) (in G. Braun - Civitates Orbis Terrarum.., vol. V, 1593) (Fonte: Museu da Cidade). Em meados do Séc. XVI, a cidade de Lisboa não sofrera grandes alterações desde o reinado de D. Manuel. Destaque, ao centro, para a representação do Terreiro do Paço e, mais a norte, a Praça do Rossio, com os edifícios do Paço dos Estaus, ao fundo, e do Hospital Real de Todos os Santos, do lado direito. O hospital ocupava grande parte do que é hoje a Praça da Figueira. (LG)
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (3): O país que via passar os comboios