segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18357: Efemérides (269): 30 de julho de 1969, quando o famigerado comandante Mamadu Indjai (, um dos carrascos de Amílcar Cabral), quis pôr Candamã, a última das duas tabancas do regulado do Corubal, a ferro e fogo... Recordando um raro e precioso vídeo sobre uma tabanca fula em autodefesa, da autoria de Henrique Cardoso, ex-alf mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), que vive hoje na Senhora da Hora, Matosinhos


Vídeo (13' 55'') > You Tube / Luís Graça... Há um trecho sobre Candamã, a chegada do pelotão do alf mil Henrique Cardoso (na vésepra do ataque...) e o reforço do sistema de autodefesa da tabanca, a vida na  aldeia depois do ataque, o quotidiano da tropa e da população, as chuvas de agosto... (de 1' 11' a 7' 09''). (Ligar o som, o vídeo tem um fundo musical)


1. A CART 2339, Os Viriatos, foi uma subunidade que esteve na zona leste da Guiné, região de Bafatá, setor L1 (Bambadinca), ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70) e da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71), subunidade de intervenção ao serviço daquele batalhão.

Os Viriatos, unidade de quadrícula, construíram de raiz o aquartelamento de Mansambo, entre Bambadinca e o Xitole. E participaram em grandes operações como a Lança Afiada (Março de 1969). 

Esta sequência de cenas (a história da CART 2339, e em especial do pelotão do Henrique Cardoso) foi originalmente filmada em 8mm. O filme foi depois convertido para o formato digital. O vídeo é do ex-alf mil Henrique J. F. Cardoso  (que era o 2º comandante da CART 2339):  vive hoje em Custóias, Matosinhos, e gostaríamos muito que se juntasse à nossa Tabanca Grande. Reforço aqui o convite que já lhe fiz em 2012.

Uma cópia do vídeo foi gentilmente cedida pelo seu camarada Torcato Mendonça para divulgação no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Mais uma vez, fica aqui o nosso reconhecimento ao autor (e ao seu camarada e nosso colaborador permanente Torcato Mendonça).

Trata-se de um documento, raro e precioso, sobre o quotidiano de uma unidade de quadrícula no TO da Guiné. O vídeo está dividido em duas partes (*), com a duração de cerca de 50 minutos, abarcando toda a comissão da CART 2339 no CTIG. O nosso leitor tem aqui a Parte I (35´33'').

Na Parte II (13' 44'') interessa-nos sobretudo destacar  a  estadia do pelotão do Henrique Cardoso em Candamã, em uljho e agosto de 1969, resumida em cerca de 6 minutos.

Diz-me agora o Henrique Cardoso que as NT esgotaram as munições na resposta ao ataque de 30/7/1969,  a sorte foi o clarear do dia e a retirada da força atacantes com os seus mortos e feridos. No vídeo, mostram-se alguns sinais do ataque (incluindo cápsulas de munições espalhadas pelo chão e algumas granadas por utilizar). É na sequência deste  ataque que é feita a reparação do arame farpado, que já existia. Como s rádios não funcionaram, não foi possível pedir o apoio da artilharia de Mansambo (obus 10.5). O Henrique Cardoso lembra-se ainda de lá estar vários a comer conversas de cavala, que era os únicos mantimentos que possuíam.


 2. O nosso camarada Luís Branquinho Crespo, presidente da ONGD Resgatar Sorrisos, quer erguer   uma escola em Candamã (**).

Este topónimo obrigou-me logo a relembrar factos passados, há quase 50 anos, no TO da Guiné, que ainda estão bem presentes na minha memória, associados às primeiras idas para o mato e ao contacto com a brutalidade da guerra, logo nos primeiros dias da minha chegada a Bambadinca, em julho de 1969.

Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, é atacada durante mais de duas horas até ao amanhecer do 30 de julho desse ano. Esse brutal ataque (o PAIGC utilizou dois bigrupos, reforçados, e armamento pesado) surgiu na sequência do recrudescimento da actividade IN no tradicional triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, após a Op Lança Afiada (8 a 18 de março de 1969).

Não resisto a "repescar" o vídeo,  já aqui publicado, do Henrique Cardoso (*), que, segundo informação que ele me transmitiu ao telefone, tinha acabado de chegar de véspera, a Candamã. Um dos objetivos do pelotão era, para além do reforço do sistema de autodefesa, construir mais uns abrigos para a população.

Constato, pela história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), que já em dezembro de 1968, Candamã, no subsetor de Mansambo, tinha um pelotão destacado, pertencente à CCAÇ 2401, pelo menos até março de 1969 (***).

A partir de junho, a CART 2339 destaca um pelotão para Candamã (duas secções) e Afiá (uma secção). O vídeo do Henrique do Cardoso não é de junho, como eu pensava,mas sim de julho e agosto..

A partir de 18 de julho, a minha CCAÇ 2590/CCAÇ 12, entra em cena, como subunidade de intervenção no subsetor L1 (e outros), tendo logo o seu batismo de fogo em 24 desse mês (em Madina Xaquili)... Foi um mês alucinante, o de julho de 1969, para as NT e as populações sobre a nossa proteção no setor L1,

Recordo-me de ter chegada a Candamã, nessa madrugada de 30 de julho de 1969, vindo de Afiá (op Guita), quando as  armas dos defensores da tabanca ainda fumegavam... (****).

A tabanca em audodefesa de Candamã (, já no limite leste da ZA da unidade de quadrícula de Mansambo, entre Mansambo e Galomaro,)  tinha acabado de conhecer o inferno: às 3h40, um numeroso grupo IN (80 a 100 elementos) ataca a tabanca, até de madrugada, durante 2 horas e 20 minutos, utilizando 2 Canhões s/r, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Pistolas-Metralhadoras e Granadas de Mão Defensivas.

O ataque  causou 5 feridos às NT (dos quais 1 grave) e 2 mortos, 3 feridos graves e vários ligeiros à população civil, além da destruição de moranças e outros bens da população. O arame farpado foi cortado em vários pontos.

Valeu o comportamento heróico da população da tabanca e dos homens de Mansambo  (o 1º Gr Comb da CART 2339, comandado pelo alf mil Henrique Cardoso) - menos de um pelotão (já que uma secção estava na vizinha Afiá)!... Homens, que eu conheci e abracei, nessa mesma madrugada, quando a aldeia ainda fumegava, na sequência de incêndio de várias moranças.

Saberíamos mais tarde que: (i) as forças do PAIGC eram comandadas pelo tristemente célebre  Mamadu Indjai (*****); e (ii) tiveram 2 mortos e 6 feridos (relatório apreendido na Op Nada Consta).




Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 2339 (1968/69) > Reconstrução de moranças, presumivelmente em Candamã, depois do ataque de 30/7/1969. Fotogramas de "slides", do Henrique Cardoso, retiradas, com a devida cortesia,  do seu vídeo, disponível aqui, no You Tube / Henrique Cardoso.

Fotos: © Henrique Cardoso (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


6 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10124: Vídeos da guerra (9): Vida e obra dos Viriatos - CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) (Parte I) (Henrique Cardoso)

(**) Vd. poste de  24 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18351: Ser solidário (210): A ONGD Resgatar Sorrisos apresenta-se à Tabanca Grande e agradece desde já quaisquer apoios para poder construir a escola de Candamã (, no antigo subsetor de Masambo) (Luís Granquinho Crespo)

(***) Vd.  poste de  22 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13431: Memória dos lugares (271): Candamã, 19-9-69... Subsetor de Mansambo, setor L1 (Bambadinca): por lá passaram a CART 2339, a CCAÇ 2404, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, etc.

(****) Último poste da série > 24 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18248: Efemérides (268): Faz 51 anos que chegámos a Bissau, no T/T Uíge, partindo depois numa LDM e num Batelão BM-1 para Gadamael (Mário Gaspar, ex-fur mil, CART 1659, Gadamael, 1967/68) - Parte II

(*****) Vd. poste de 4 de setembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça) (95): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível

(...) Saberei apenas,
muito anos depois,
que, julgado e condenado em Conacri,
fuzilaram o Mamadu Indjai,
no Boé,
que diziam ser região libertada da Guiné…

O mesmo Mamadu Indjai,
acrescente-se,
fero e bravo comandante,
que ferimos gravemente
no decurso da operação Nada Consta,
o mesmo Mamadu Indjai,
que, três anos e meio depois,
chefe das "secretas",
será o Judas de Amílcar Cabral. (...)


Vd. também poste de 7 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P18356: Notas de leitura (1044): “Paralelo 75 ou O segredo de um coração traído”, por Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira; Oficina do Livro, 2006 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Em 1984, mestre Eduardo Lourenço sublinhava o silêncio que parecia ter-se abatido sobre a experiência da descolonização, parecia sintomático de um desinteresse pelo fenómeno do colonialismo português, escrevia-se pouco sobre tudo o drama africano.
Em rigor, as coisas não se passavam assim. Por um lado, aflorava uma literatura da guerra e impunham-se nomes; mas a chamada literatura dos regressos, pujante de melancolia, de crítica virulenta à descolonização e memórias em conflito emergia nessa década e nunca mais parou. O livro "Paralelo 75" é uma bela metáfora de um retornado que irá regressar a África, é uma tessitura lírica muito arriscada, já que os autores primam pela absoluta e despretensiosa simplicidade.
É nesse retorno e nesse regresso que os autores abrem espaço para uma história muitíssimo bem contada da reconciliação com a vida.

Um abraço do
Mário


Paralelo 75 ou o segredo de um coração traído

Beja Santos

Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira venceram em 2003 o Prémio Literatura Gulbenkian com o livro Comandante Hussi, uma história enternecida de um jovem durante o conflito político-militar de 1998-1999, na Guiné-Bissau, um jovem herói que não esquecia os ferros da sua bicicleta, algures em perigo. “Paralelo 75 ou O segredo de um coração traído”, Oficina do Livro, 2006, marca o regresso desta dupla, desta feita uma história quase mágica de um colono regressado em 1975 e que 30 anos depois se põe a caminho da sua fazenda onde o espera a definitiva reconciliação com um amor traído. A memória da descolonização perfila-se com um género literário estuante, é uma literatura de regressos atravessada por nostalgia, traumatismos que ainda não sararam, testemunhos da derrocada imperial e até representações que podem albergar ressentimentos, ilusões e mistificações. Há os profundamente ressentidos, aqueles que escrevem memórias coloniais para dizer que queimaram, sabotaram e destruíram o que não puderam trazer, trata-se de uma raiva que não se apagou; há aqueles que reelaboram cenários políticos-ideológicos para justificar que houve traição e abandono; há aqueles que recordam o que era a vida das fazendas em África, o que era o doce viver naqueles anos 1950, 1960 e 1970 e que foram brutalmente interrompidos, e daí uma incompreensão tão amarga; há também quem testemunhe nas suas memórias coloniais o que era o racismo, a relação do colono com o colonizado, do colono com a família, do retornado com a metrópole. Como escreve Mário Machaqueiro em “O Adeus ao Império”, Nova Vega, 2015, a propósito das memórias em conflito: “A recente erupção editorial de memórias de África corresponde ao retorno do recalcado na nossa sociedade: o reenvio à presença, esquecida mas não dissolvida, dos ‘retornados’, simultaneamente emissores e recetores deste género de literatura memorialística”.
Relatos sob o trauma da pedra, associados à descolonização, uma onda revivalista que está longe de se esgotar.

Que trama urdem os autores de Paralelo 75? A um fazendeiro de café, retornado em 1975, é diagnosticado que tem um cancro, é o arranque do livro em grande estilo: “Um belo dia, assim, sem mais nem porquê, recebeu a notícia. Recebeu a notícia que ninguém quer receber. Sentiu o chão esconder por baixo dos pés, ficou soterrado pela revolta, esmagado pela angústia. Foi como se tivesse levado um soco no estômago, tão violento, que o deixou com as costas a arder. E caiu redondo na sua insignificância”.
O senhor engenheiro vive numa pensão na Praça da Alegria e o pouco que vai mudando ao longo das décadas foi a televisão que passou de preto e branco a cores. A notícia do médico é coincidente de um sofrimento físico incontornável, são vómitos em ondas sucessivas, acaba por se alimentar de iogurtes. Informa o médico que vai regressar a África, este repreende-o, é uma rematada loucura, fica exposto a várias doenças agora que o seu organismo está irremediavelmente débil. Mas o senhor engenheiro tomara uma decisão inabalável. Escreve então ao filho, Carlos, com quem cortou relações há 30 anos e anuncia-lhe o regresso. Carlos fica atónito quando lê que o pai pretende regressar às Terras do Mundo Perdido. De um reencontro difícil, as penosas circunstâncias da saúde do senhor engenheiro leva a que se reinstale a solicitude e o carinho. Lá vão, em viagem arriscada até à Fazenda das Terras do Mundo Perdido, está tudo num escombro, é então que aparece um leal colaborador do senhor engenheiro, o capataz Orelhas, “um tronco de ébano, fino mais possante, olhar felino em pose de aristocrata, cabelos cor de cinza, rosto enrugado mas rosado”, lá vão de carroça até à casa de caça de fazenda, deteriorada mas com o conforto necessário. Os revolucionários há muito que partiram, os cafezeiros morreram uns atrás dos outros. E ficou o agoiro de que aquela terra estava assombrada. Assistimos ao entretecimento da relação entre estes três homens e é nesta atmosfera que vamos conhecer a história da mulher do senhor engenheiro que abandonou a família devido a uma paixão por um norte-americano, um engenheiro de minas. É naquela casa de caça que além de recordações se alberga o segredo de um coração traído que nos vai ser desvelado, ponto por ponto. A saúde o fazendeiro deteriora-se, há um médico cubano que lhe procura mitigar as dores. Com o desenlace fatal, Carlos abre um baú que encerra o grande mistério da vida do senhor engenheiro. “Carlos compreendeu tudo. O amor, a mágoa, a dor do velho. Perdoou tudo. A indiferença, o rancor, o desejo de vingança do velho. O senhor engenheiro não tinha morrido ontem mas no dia em que a mulher fugiu com o cowboy americano. Não morreu, deixou-se morrer. Aquele amor era um eucalipto, nada nem ninguém podia sobreviver à sua volta. Nem mesmo as raízes que unem um pai e um filho”.

Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira abrem um veio nesta literatura memorialista de retornos e regressos, de paixões em lugares de conflito que deixaram memórias indeléveis. Assumem um estilo de grande risco, numa escrita de uma hábil simplicidade roçam o fácil, e conseguem ganhar sempre mantendo o leitor fixado na obstinação do senhor engenheiro que regressa à sua fazenda em África para regularizar uma estranhíssima contabilidade que decorria de um coração traído e até de um filho rejeitado. Porque é simples o modo da sua fábrica de escrita e sempre galvanizante, basta este exemplo: “Chorou naquele dia e nos dias seguintes. Chorou nos dias dos anos seguintes sempre que se lembrava daquele dia. Mesmo assim, não queria apagar aquela imagem do pensamento. Era a dose de ódio que lhe permitia continuar a caminhar, a injeção de rancor que lhe dava energia, a lufada de ressentimento que alimentava a ilusão.
A ilusão de que, um dia, ela regressaria, arrependida, e ele a faria pagar pelo dia, os dias de todos os anos, em que sofreu por ela”.

Bela metáfora nesta história bem contada, a reconciliação com a vida, tendo como pretexto e pano de fundo um retorno e um regresso.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18344: Notas de leitura (1043): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (23) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18355: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXi: Singapura, Ilha de Singapura: de 8 a 10/11/2016


Foto nº 1

Foto nº 2


Singupura > 8-10 de novembro de 2016 >  


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.



2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; 

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016:

(vii) visita à Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para a Malásia.


3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Singapura, ilha de Singapura (pp. 43-46)


Num cruzeiro de volta ao mundo chego à uma da manhã a Singapura num Boeing 787 da Scoot, uma companhia low cost que pertence à Singapure Airlines. Foram cinco horas de voo, desde Perth. (*) Dormitar nos bancos confortáveis do aeroporto e, ao alvorecer, saímos em busca do Costa que deveria estar a atracar em Singapura. 

Para me juntar ao navio e aos companheiros de viagem, pergunto nas informações do aeroporto qual o cais onde costumam ficar os cruise ships e o que devo fazer para lá chegar. A rechonchuda e formosa chinesa de serviço, diz-me que entende é de aviões, não de barcos mas pega no telemóvel e começa uma bem ritmada busca. Diz-me depois para eu apanhar o metro, linha verde, com mudança para a linha lilás em Outram Park e saída em Harbour Front. O navio estará lá. 

Após quase vinte estações, desde o aeroporto, chegamos a Harbour Front e avançamos para o Singapure Cruise Center. Não há Costa nenhum, apenas uns ferries que partem para parte incerta e nada têm a ver com navios de cruzeiros. Pergunto se não existirá um outro cais, para barcos maiores. Há, sim senhor. Chama-se Marina South Pier e aí é que estacionam os grandes navios de cruzeiros. Mais curvas e curvas debaixo da terra e, depois de oito estações de metro, com nova mudança de linha, chego ao destino. Subo alvoroçado as escadas rolantes. Cá fora, o dia nasce e o Costa, ao longe, imponente e solitário, acaba de acostar. Concluída a aventura australiana, estamos salvos!

Não perco tempo. Nessa manhã há visita a Singapura incluída no pacote de excursões. Subimos ao camarote, deixamos a tralha, tomamos um pequeno almoço rapidíssimo, descemos e aí vamos à descoberta da cidade.

Começamos por um jardim botânico com uma colecção de 60 mil orquídeas de todas as cores, tamanhos e perfumes, provavelmente do melhor que alguma vez floriu em todo o mundo. Seguimos para Little India, um vasto quarteirão habitado por muita da população indiana de Singapura, com arcadas, casas típicas, restaurantes, lojas, tudo com imensas parecenças com o made in India. 

Seguimos para a Chinatown, com ruas algo semelhantes, mas maior e mais bonita. Agora é tudo made in China, mas China do Sul, as feições das gentes, os templos, a comida. É a rua do Pagode, rua de Hong Kong, o templo da relíquia do Dente de Buda, o barroquismo sínico do parque Hong Lim. E lojas chinesas de toda a espécie, como de costume, com toneladas de quinquilharia à venda e alguns quilos de objectos interessantes. À Chinatown de Singapura voltarei calmamente no dia seguinte nos passeios pela cidade, apenas entregue a mim próprio. Foi então altura da longa caminhada por Orchard Road, até há poucos anos o verdadeiro centro comercial de Singapura, com um festival de shoppings gigantes e hotéis de luxo. 

Mais para sul, vim encontrar uns tantos edifícios do período colonial inglês harmoniosamente entrecortados por arranha-céus. O Hotel Raffles, de 1887, que me limitei a fotografar do lado de fora, é famoso em toda a Ásia, e mais abaixo o Hotel Fullerton, inaugurado em 1928, são dois notáveis edifícios de época (Foto nº1). Tive uma pequena surpresa com a ostentação e o luxo dos interiores do Fullerton, com majestosas colunas de mármore no hall central onde, para o almoço, havia dois buffets com quarenta ou cinquenta pratos diferentes, um chinês e outro indiano pelo bom preço de 38 dólares US. Preocupado com a minha estética, trouxera do pequeno-almoço, no Costa, umas sandes de peru magro. Mas os olhos ficaram-me presos naquele estendal de comida boa do buffet do Fullerton.




Foto nº 3

Ao lado do Hotel, do outro lado do pequeno rio Singapura, atravessado por duas pontes do século XIX, fica o Victoria Theatre, o Concert Hall, a Parliament House, o Asian Civilisation Museum. Tive pena de não visitar este último, mas só me apercebi da sua existência no terceiro dia da estada em Singapura. Já não houve tempo, tal como aconteceu com a National Gallery, a que chamam o “Louvre da Ásia”.

Creio ser a cultura, mais o elevado nível educacional, que fazem de Singapura uma cidade diferente em todo o Oriente. Irrepreensivelmente limpa, com o trânsito disciplinado e organizado, as pessoas parece movimentarem-se sem stress, fora do caos que aflige outras grandes metrópoles. Funcionará bem a mescla multi-étnica composta por 70% de chineses, mais malaios, indianos e muçulmanos de várias proveniências.

Para coroar a estadia, houve uma última noite flamejante, com uma espécie de excursão Singapure by Night. Chegamos de autocarro ao Clarke Quay, uma das zonas mais animadas da cidade, com vida nocturna, discotecas e folia para dar, vender e oferecer quer ao turista estrangeiro, quer ao habitante da terra.

Vamos fazer uma pequena viagem de barco descendo o rio Singapura que, um quilómetro mais à frente, antes de desaguar no mar, forma uma espécie de lago aqui conhecido como Marina Bay (Foto nº 3).  Estamos no coração da cidade com as margens, os edifícios, as pontes iluminadas. É a cintilante festa da cor, com arranha-céus de um lado, construções vitorianas do outro, ao longe uma sequência de restaurantes chineses debruçados sobre o rio. Entramos na Marina Bay, rodeamos o Merlion, um grande leão de mármore branco da boca do qual jorra água vinte e quatro horas por dia. O felino é um dos ex-libris de Singapura. Atravessamos a baía e saímos do barco junto aos malls de Marina Bay, um infindável conjunto de lojas distribuído pelos vários pisos dos shoppings. De onde vem tanto dinheiro para se comprar tanta coisa? No lago, de hora a hora, há um singular espectáculo de águas esvoaçantes que dançam ao sabor da música, mais uns jactos de vapor dentro dos quais, enquanto se mantêm no ar, são projectadas figuras de crianças e bailarinos. Pelo meio há raios laser, de várias cores, cruzando o céu e rasando as águas do lago.



Foto nº 4

Mas, na noite de Singapura, a cereja no topo do bolo foi a subida ao arranha-céus denominadoMarina Bay Sands. Constituído por três módulos separados, com cem metros de largura cada um, por duzentos metros de altura, é um conjunto arquitectónico que deixa qualquer simples passante de olho surpreso e arregalado. Na base, os edifícios independentes estão unidos por vastos corredores, com restaurantes e lojas que abrem para dentro das enormes estruturas dos malls que cresceram ao lado dos arranha-céus. As lojas, a nível do chão ou do subsolo, têm acesso por uma ramificação de escadas e passadeiras rolantes. Nos muitos andares dos módulos que sobem para o céu, encontramos hotéis, escritórios, suites para alugar, um museu, um centro de exposições e um enorme casino. No topo, os três módulos estão unidos não por um telhado, mas por uma enorme piscina quase infinita em forma de casco de navio, com bares, jardins e restaurantes, tudo numa uma estrutura aparentemente leve e estilizada com mais de trezentos metros de extensão.

Subi ao 57º. andar e Santo Deus, que extraordinária vista panorâmica sobre Singapura, numa noite clara, fantasticamente iluminada (Foto nº4)… Os outros arranha-céus, as ruas, os parques, os jardins, as construções coloniais, os shoppings, o rio, o lago, o mar ao fundo, a miríade de cores, tudo visto de cima, a 360 graus, rodando pela plataforma suspensa no céu da cidade. Já conheço muito mundo, já olvidei muito mundo conhecido, mas Singapura, do alto do Marina Bay Sands, não mais irei esquecer.

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Guiné 61/74 - P18354: Parabéns a você (1396): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18352: Parabéns a você (1395): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18353: Blogpoesia (554): "Pedra Maria", "Feira das ideias...", e "Filho da natureza...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Pedra Maria

Aquela encosta suave…
Lembro aquela encosta suave dum breve monte.
Voltado a nascente.
À frente e longe,
Na linha do horizonte,
O Marão imponente,
Afagando o céu.
Para cá dele, uma cumeada longa,
Com casario, efervescente ao sol.
Era a Serrinha. Onde formigavam fábricas que faziam de tudo.
A seguir uma Várzea verde,
Montes e campos, altas latadas,
Carregadas de uvas, nos breves outonos, coloridos.
Lugares e aldeias.
Viviam da terra.
Veredas e caminhos,
As veias.
Campanários solitários,
Bradavam as preces das horas.
Solfejando as Avé-Marias.
Eirado e lugar de Sestais.
O campo da bola e da Tripa.
Ao fundo a estrada de terra batida.
Por onde o comboio passara e não era.
Uma meia dúzia de casas singelas,
Subindo a costeira,
Uma delas era a minha.
Pedra Maria onde cresci…

Berlim, 19 de Fevereiro de 2018
9h8m
Jlmg

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Feira das ideias…

Encho meu açafate de ideias belas e boas e sigo para a vila a vendê-las ou para trocá-las.
Não tolero a pasmaceira de parar nelas.
Agitar, fazer vento, tentar passá-las,
Trazer as novas. As que prometem a novidade.
As que incendeiam e iluminam.
Preciso delas. Me alimentam.
As trabalho e elaboro.
As moldo a mim.
E faço minhas.
As desfio em linhas.
Depois teço.
Poesia e prosa.
Dou-lhes sabor.
Dou-lhes cor.
A seguir as dou.

Berlim, 22 de Fevereiro de 2018
19h12m
Jlmg

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Filho da Natureza…

Trata bem a tua mãe, ó filho da natureza.
Cuida dela como rainha ou como princesa.
Ela é bela. Delicada. Generosa.
Mora bem nela.
Não a maltrates nem a estragues.
Ela te paga a cem por um.
Dá-te sol. Dá-te vinho e te dá pão.
Dá-te o mar. Um céu azul.
E, à noite, tão estrelado.
Parece um reino
Onde a lua é a rainha
E o luar é uma bênção.
Brilham nela tantos sonhos
Como de estrelas tem o céu.
Dela nasces. A ela voltas.
Dela partes.
Ela fica.
Sua vida não tem fim.
Mas precisa que a trates bem.

Berlim, 23 de Fevereiro de 2018
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18329: Blogpoesia (553): "Sobressaltos...", "Libertação...", e "Poesia do calcanhar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18352: Parabéns a você (1395): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18348: Parabéns a você (1394): António Cunha, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDMs 301 e 107 (Guiné, 1971/73)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18351: Ser solidário (210): A ONGD Resgatar Sorrisos apresenta-se à Tabanca Grande e agradece desde já quaisquer apoios para poder construir a escola de Candamã (, no antigo subsetor de Mansambo) (Luís Branquinho Crespo)


Logo da ONGD Resgatar Sorrisos


Infografia: Projeto da escola de Candamã, Bambadinca, Bafatá, Guiné-Bissau. Luís Branquinho Crespo (2018)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > Candamã > 1969 > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes III > A escolinha da tabanca em autodefesa de Candamã. O 2º Gr Comb, comandado pelo alf mil Torcato Mendonça, vindo de Mansambo, foi destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Gr Comb do Torcato Mendonça voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional...

Fotos: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Mensagem, de 7 do corrente, enviada pelo nosso grã-tabanqueiro Luís Branquinho Crespo [ex-alf mil CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70), membro nº 740 da nossa Tabanca Grande, advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)]:

Meu Caro Luís Graça

(...) Eu e outros homens vamos já no princípio do mês de Março à Guiné-Bissau, pois constituímos uma ONGD chamada RESGATAR SORRISOS, Associação Humanitária Para a Cooperação e Desenvolvimento e vamos fazer uma escola (primeira fase) na zona de Candamã, próximo de Bambadinca. Por tal envio uma pequena nota da nossa Associação que vai em anexo.

Seria possível divulgá-la através do blogue e obter apoios para a construção da escola, já que passamos recibo para poder ser descontado com efeitos fiscais no IRS?

Por tal solicito a tua ajuda.

Aguardo resposta.

Um abraço do
Luís Branquinho Crespo (...)


II. ONGD Resgatar Sorrisos > ENQUADRAMENTO DA RESGATAR SORRISOS

1. A
SSOCIAÇÃO "RESGATAR SORRISOS"  (*) 

A Resgatar Sorrisos - Associação Humanitária para a Cooperação e Desenvolvimento é  uma pessoa coletiva portuguesa de direito privado, com personalidade jurídica e sem fins lucrativos, reconhecida e registada como ONGD.

Criada em 31 de Maio de 2016, cabe-lhe, principalmente, executar e dar apoio a programas de cariz social, ambiental e educacional, atuando nos setores da educação, formação, assistência social e sanitária e ajuda humanitária nos países em vias de desenvolvimento.

2. M
ISSÃO, VISÃO E VALORES


A Resgatar Sorrisos visa alcançar uma missão, tem uma visão e rege-se por valores, fundamentais para ter êxito na execução das atividades que pretende executar e apoiar.

2.1. Missão

A missão consiste em concretizar a atividade da Associação, no sentido de dar resposta à questão de saber para que existe ou serve e de estabelecer uma finalidade duradoura na sua atividade.

É missão da Resgatar Sorrisos, enquanto pessoa coletiva sem fins lucrativos, explicitamente referida nos respetivos Estatutos, a ajuda humanitária em países em vias de desenvolvimento, nas áreas da educação, da formação e da assistência social e sanitária, podendo ser sintetizada na seguinte frase:

"Ajudar as pessoas mais pobres, sobretudo, em países em vias de desenvolvimento”

2.2. Visão

A visão da Resgatar Sorrisos é o modo como ela se pretende projetar no futuro, partindo da missão, formulada em termos de previsão ou antecipação da evolução da envolvente interna e externa e da forma como pretende colocar-se face às mesmas.

Assim, a visão que pretendemos para a Resgatar Sorrisos resume-se na seguinte frase:

“Prossecução exclusiva de atividades de solidariedade social e humanitária”

2.3. Valores

Face à missão e visão, os valores pelos quais se deve reger a Resgatar Sorrisos, ou seja, quais as crenças enraizadas na associação que influenciam as atitudes, as ações, as escolhas que se devem fazer, assim como as decisões que se devem tomar.

Assim, enquanto pessoa coletiva sem fins lucrativos, a Resgatar Sorrisos deverá orientar-se, entre outros, pelos seguintes valores:

 A Defesa dos Direitos Humanos

A Paz

A Solidariedade

A Tolerância

A Cooperação

A Legalidade

A Transparência



3. PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM 2017

3.1. Atividade realizada

A Resgatar Sorrisos, ano de 2017, desenvolveu vasta atividade, consubstanciada, sobretudo, em diligências, deslocações e reuniões por parte dos elementos da direção (#),  muitas das quais, por serem exploratórias e outras por não terem tido os efeitos desejados, não merecem registo.

Análise com mais detalhe de algumas das atividades desenvolvidas

3.1.1. Reconhecimento e registo como ONGD

Os procedimentos conducentes ao reconhecimento e registo da Resgatar Sorrisos como ONGD (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento), junto do Instituto Camões, foram levados a cabo durante o mês de Fevereiro, tendo o respetivo pedido sido deferido em 17.03.2017.

Esta concessão, a partir desta data, e por um período de 2 anos, tem primordial importância para a Resgatar Sorrisos, na medida em que o estatuto de pessoa coletiva de utilidade pública adquirido acarreta benefícios de fiscalidade.

Este estatuto foi de fundamental importância, na medida em que a maioria dos donativos em espécie (materiais de construção) obtidos pela Associação ficaram a dever-se ao facto de os doadores poderem usufruir dos benefícios fiscais que tal estatuto concede.

3.1.2. Pedido à AT para a consignação de impostos

Em 2/05/2017, a associação requereu à Administração Tributária, nos termos da alínea b) do art.º 1.º da Portaria n.º 298/2013, de 4 de Outubro, o benefício previsto no n.º 6 do artigo 32 da Lei 16/2001, de 22 de Junho, ou seja, a consignação fiscal de uma quota equivalente a 0,5% do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) respeitante à coleta do ano de 2017, bem como da consignação do benefício de 15% do IVA suportado“ em sede de IRS.

3.1.3. Angariação de associados e de fundos financeiros

A sua atividade nesta área ficou circunscrita, sobretudo:

(i) à solicitação por parte de alguns associados junto de particulares de bens em espécie, sobretudo de roupa usada, material hospitalar e outros bens;

(ii) ao envio, ao longo de todo o ano, de e-mails a um número elevado de empresas com vista à obtenção de donativos em espécie;

(iii) à deslocação pessoal de associados, sobretudo de elementos dos corpos sociais, a empresas solicitando o fornecimento de bens em espécie, que permitiu à Associação obter material para a construção e recheio da Escola (como, por exemplo, ferramentas, mosaicos, louças para casas de banho e cadeiras e mesas).

Capa do livro de Luís Branquinho Crespo
3.1.4. Parceria com o Dr. Luís Branquinho

O presidente da Resgatar Sorrisos escreveu um livro, intitulado 
"Guiné_ um rio de memórias", cuja temática recai sobre memórias suas relacionadas com a Guiné-Bissau.

Em 10 de abril, celebrou um contrato de parceria com a associação no qual, entre outras cláusulas, se obrigava a doar metade (50%) dos lucros que viesse a auferir com essa publicação.

Fruto desta parceria, a associação obteve donativos no montante de 760 euros.

3.1.5. Elaboração de projeto para escola na Guiné-Bissau

A Resgatar Sorrisos pretende construir uma escola de ensino primário na Guiné-Bissau. Para tal, iniciou os trabalhos, através de conversações junto de um arquiteto,que forneceu o desenho.

3.1.6. Recolha de material para a realização das obras

Ao longo do ano, a Resgatar Sorrisos encetou muitíssimos contactos junto de empresas com a finalidade de obtenção de materiais para construção da escola. Tendo “batido a muitas portas”, em muitas delas nada conseguiu, sendo que, no entanto, em algumas delas conseguiu material relevante (ferramentas, louça para casas de banho, mosaicos e azulejos, cadeiras, secretárias …) ou foi-lhe prometido, mas ainda não entregue (v.g., sanwiche para cobertura).

3.1.7. Apoio humanitário nas áreas social e cultural


Este projeto abrange várias vertentes. Em 2017, por que a deslocação estava prevista apenas para março de 2018, as diligências direcionaram-se sobretudo para a obtenção de materiais de construção, sendo que os bens alimentares perecíveis (arroz e água) ficaram para serem solicitados próximo da ida.

Outrossim, continuaram a ser feitas diligências conducentes à recolha de bens de índole diversa (materiais escolares, roupas e brinquedos; material para construção de um parque de crianças; e material de apoio para hospital - batas, frascos de vidro para a realização de análises e cirúrgico), os quais se encontram arrumado em cerca de 40 caixas de papelão (a maioria de dimensão 54 x 29 cms).

3.1.8. Diligências para obtenção do terreno para a escola

A primeira tarefa relevante foi o desenvolvimento de diligências na Guiné-Bissau, tendo aí enviado em Abril, para as diligências iniciais e exploratórias, como emissário, o professor Amadeu Ceiça, presidente da Associação Santa Maria da Vitória (ONGD), que conhece bem o terreno (onde, entre muitas outras ações, construiu uma escola em Quinhamel), com o objetivo de tirar o maior proveito desta deslocação.

No âmbito da mesma, contactou as autoridades governamentais (entregando ofícios, dando conhecimento da nossa pretensão, ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia da República, ao primeiro Ministro, aos Ministros da Educação e da Cooperação, e ao Embaixador de Portugal) e conseguiu junto da autoridade local um terreno com 10.000 m2 em Candamã / Bafatá. (**)

Mais tarde, em Outubro, o mesmo emissário foi novamente à Guiné-Bissau, onde, entre outras diligências efetuadas (nomeadamente, recolha de informação relevante e preparação da ida que se realizou no passado mês de março), orientou os trabalhos de demarcação do perímetro da escola.

3.1.9. Construção da 1.ª fase da escola

Em de março de 2018, dez associados ou apoiantes da associação deslocar-se-ão à Guiné-Bissau (7 por terra, utilizando 2 jeeps e uma ambulância) e 3 por avião, a fim de iniciar e concluir a 1.ª fase de construção da escola (paredes e lintel) para no próximo ano concluir a 2.ª fase (cobertura e interiores), conforme desenho abaixo (2 salas de aulas, 2 wc e 1 cozinha).

Para o efeito, sobretudo para compra de blocos, areia, cimento e ferro, a associação necessita de meios financeiros, razão pela qual solicita o apoio dessa entidade, sendo que a associação passará recibo com majoração de 30 % nos custos por se tratar de ONGD.

Caso contribua, deverá depositar / transferir o dinheiro para a conta com o seguinte IBAN:

PT50 5180 0001 0000 0119 1437 2

Para contacto com a associação indico os seguintes endereços:

luismanuelcrespo22@gmail.com;
joseferbapt@gmail.com

e os telefones:

918 353 265 e 964 396 573.

Bem haja pela vossa ajuda.

O presidente da Direção
Luís Manuel da Mota Branquinho Crespo

(#) Realizadas sempre a expensas de cada um, com exceção da ida de mandatário à Guiné-Bissau.
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Guiné 61/74 - P18350: (D)o outro lado do combate (20): Os fracassos assumidos pelo PAIGC no ataque a Buba, de 12 de outubro de 1969… E os outros que se seguiram (ao tempo da CCAÇ 2382 e do Pel Mort 2138) - Parte II (Jorge Araújo)


Guiné > Região de Quínara > Buba > Rebentamento de granada no Rio Grande de Buba durante um ataque IN (período 1968/1971 – CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892). Foto do ex-alf. Joaquim Rodrigues, in: http://guine6871.blogspot.pt/ (com a devida vénia).

Infografia: Jorge Araújo (2018)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974)


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC NO ATAQUE A BUBA [12OUT1969]… E OS OUTROS QUE SE SEGUIRAM (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138) - Parte II
por Jorge Araújo


1.  INTRODUÇÃO

Este segundo fragmento relacionado com os dois ataques a Buba ocorridos no último trimestre de 1969 - o 1.º em 12 de outubro e o 2.º em 11 de dezembro - reforça o que, no entender dos responsáveis do PAIGC, foram os seus maiores fracassos registados durante o cumprimento do "plano de acções militares", elaborado para a região do Quinara e Tombali, executado com recurso a uma quantidade significativa de equipamentos de artilharia e com mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros de infantaria.

Esse "plano" (ou "programa"), para o qual foi concebido um calendário concreto, contemplava ataques a oito aquartelamentos das NT, que abaixo se identificam, com a primeira acção a iniciar-se em Buba e que, devido aos resultados desfavoráveis deste, foi entendido que se deveria realizar nova acção, com o segundo ataque a ser agendado para o final desta "campanha", a ter lugar no dia 10 de Dezembro de 1969.

Conforme já referido anteriormente (*), a decisão de escrever esta narrativa surge na sequência de uma investigação por nós realizada a propósito de uma foto de um «espaldão de morteiro 81», localizada no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares. Aí tivemos acesso, também, a um relatório dactilografado, formato A/4, com um total de vinte e três páginas, sem capa e sem referência ao seu autor, elaborado no seguimento "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], onde se referem os aspectos mais importantes anotados antes, durante e depois de cada missão, nomeadamente: efectivos, equipamento, desenvolvimento da acção e avaliação.


2. OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC EM 12OUT1969… E OS SEGUINTES…

Recorda-se que o primeiro ataque a Buba [12 de outubro de 1969] só foi concretizado depois de um longo período de minucioso reconhecimento sobre as melhores condições geográficas para a actuação da artilharia com três posições de fogo distintas. Por outro lado, esse reconhecimento previa também identificar as melhores vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição, uma vez que iriam estar no terreno um universo superior a três centenas de combatentes, comandados pelo cap  Pedro Peralta [cubano] e por 'Nino' Vieira.

Entretanto, durante esse reconhecimento, um grupo de guerrilheiros foi descoberto pelas NT, em 7 de outubro de 1069, quando o sentinela do Pel Mort 2138, colocado no posto de vigia junto à pista de aviação, detectou elemento IN nas imediações da pista. No dia seguinte (dia 8), na continuação do reconhecimento supra, um grupo IN accionou uma mina A/P reforçada implantada pelas NT junto ao cruzamento das estradas de Nhala e Buba (in: História do Pel Mort 2138, p3).

"Esta operação iniciou-se com um atraso de meia hora, devido a dificuldades na instalação dos canhões. Eram 17h30 quando o ataque se iniciou com fogo dos canhões B-10, que falharam os alvos, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo [NT] respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 (já com as 'malas feitas' para o seu regresso à metrópole) + Pel Milícia]. Além disso, unidades inimigas [NT] de infantaria cruzaram o rio [Grande de Buba], pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.

"Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das [NT]. Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria. Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente."


3. O SEGUNDO ATAQUE A BUBA EM 10 EM DEZEMBRO DE 1969… QUE PASSOU PARA O DIA 11 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO,

Desenvolvimento da acção: [conclusão]

Como tivemos a oportunidade de dar conta no texto anterior [Parte I – P18346], o início do ataque deveria começar com o disparo dos foguetões das peças GRAD, seguida dos morteiros 120 para permitir o assalto por parte das forças de infantaria [10 de dezembro de 1969]. Para garantir o cumprimento dos objectivos definidos para esta acção, a comunicação entre o posto de observação e a posição de fogo das peças de artilharia far-se-ia, pela primeira vez, através dos rádios [modelo] "104". Aconteceu, porém, que estes não funcionaram no momento em que devia iniciar-se o ataque pelo que foi decido adiá-lo para o dia seguinte [11 de4 dezembro de 1969], optando-se pela substituição dos rádios por telefones.

No dia seguinte, nova decisão de suspender o ataque devido a uma série de falhas nas instalações telefónicas e, mais tarde desistir da utilização da artilharia, dada a actuação independente da infantaria, com a qual, por falta de meios de comunicação, não foi possível combinar um outro plano em substituição do que estava previsto.

Deste modo, este ataque contou, exclusivamente, com o desempenho da infantaria, que teve o seguinte desenvolvimento:

Actuação da Infantaria

"A infantaria, que não actuou no dia anterior devido à suspensão da operação, seguindo novo itinerário, ocupou as suas posições para a acção do dia 11 [Dez'69]. Duas horas depois da hora estabelecida para a actuação da artilharia (que não actuou), a infantaria atacou com todas as forças de que dispunha: 4 bi-grupos com 6 RPG-7 cada, com 5 obuses cada, tendo o 5.º bi-grupo ficado de reserva. Não obstante a pronta e dura reacção inimiga [NT = CCAÇ 2616/BCAÇ 2892, companhia "piriquita" que havia chegado a Buba em 10NOV69, ou seja, um mês antes + Pel Mort 2138, cujas esquadras eram já muito experientes], com fogo de infantaria, canhões e morteiros, a nossa infantaria permaneceu durante 45 minutos colada ao solo, realizando 5 vagas de ataque durante esse tempo.

"Desconhece-se o número de baixas sofridas pelo inimigo [NT]. Várias casernas foram destruídas. Do nosso lado houve um ferido ligeiro."



Infografia: Jorge Araújo (2018)

4. AVALIAÇÃO (CONCLUSÕES)

Impressões Finais

A páginas 19 e 20 deste "relatório" do PAIGC encontramos uma avaliação ao modo como foram acontecendo os vários ataques previstos no "plano", e os diferentes factores que influenciaram o desenrolar das "operações".

Assim, quanto ao reconhecimento dos quarteis, é referido o seguinte:

1. O reconhecimento aos quarteis inimigos (NT) demorou bastante, já que teve de ser feito completamente novo. Em quase todos os sectores, nunca se tinha levado a cabo um trabalho do género, e portanto não se dispunha de dados concretos sobre as vias de penetração nos campos inimigos (para infiltração da infantaria) e sobre possíveis posições de fogo com as respectivas distâncias (para a artilharia), já que dispomos de poucos mapas.



2. Quanto à questão do equipamento.

Fez-se sentir bastante agudamente a falta de farda e, especialmente, de botas. Para ilustrar bem este caso, basta dizer o seguinte: quando a bataria de artilharia que vinha de Cubucaré, depois do ataque a Cabedu [5.º - 6NOV69], chegou a Tombali, de 72 homens que tinha, só podemos conseguir para o ataque a Empada [7.º - 14NOV69] 5 peças de morteiros 82 (20 homens), porque grande parte dos camaradas estavam com os pés feridos por terem andado descalços e à noite.



3. Quanto à questão da alimentação.

Sujeitos a um grande esforço físico, com pouca alimentação (às vezes nenhuma), os camaradas "adoeciam" muito, dando como resultado uma grande falta de pessoal e enfraquecimento da disciplina.



4. Quanto à questão das comunicações.

Assinalamos as grandes dificuldades e por vezes a total impossibilidade em estabelecer comunicação entre o posto de observação e a posição de fogo e para uma coordenação efectiva entre a artilharia e a infantaria. Em todas as acções em que foram usados telefones ou os rádios de que dispomos actualmente, houve grandes problemas com esses equipamentos.


O "relatório" acrescenta ainda que:

1. O funcionamento do corpo de exército estava melhorando dia-a-dia, quer isoladamente, artilharia dum lado e infantaria doutro lado, quer a coordenação entre as duas armas, e, o que é importante, a infantaria já estava confiando um pouco mais na precisão da artilharia.

2. A actuação da artilharia melhorou sensivelmente. Tanto os canhões sem recuo, morteiros de 82 mm, e particularmente a arma especial (GRAD), demonstraram isso na operação de Cufar [8.º - 24NOV69] (a [pen]última que realizámos).



3. A actuação da infantaria estava melhorando também sensivelmente:

- aproximação rápida e silenciosa dos quarteis inimigos;

- disciplina de fogo;

- grande segurança na ocupação das posições e progressão durante o combate. Basta assinalar que durante todas as operações só tivemos 3 mortos, todos no primeiro ataque a Buba (a nossa primeira operação) – um por mina, durante o reconhecimento, outro por acidente com arma de fogo e o terceiro por estilhaço de morteiro na resposta inimiga [NT] ao ataque de artilharia – e oito feridos ligeiros.

4. Apesar de todas as dificuldades materiais, e do grande esforço físico exigido no transporte dos materiais pesados, o moral dos nossos combatentes esteve sempre elevado.



5. O uso das armas antiaéreas durante as operações, pelo seu peso com a respectiva munição, revelou-se uma carga demasiado pesada para as nossas unidades (para transportar com relativa facilidade uma peça DCK com a sua munição são necessários uns 10 homens). Além disso, à excepção de Cacine [4.º - 4NOV69] (1ª operação iniciada às 16h45) todas as outras operações foram desencadeadas a horas em que a aviação e os helicópteros não podem já agir com eficácia.

Iremos continuar a desenvolver este tema com a apresentação dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.

Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
22FEV2018.
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Nota do editor: