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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21120: Notas de leitura (1291): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Quem contesta a importância primacial da leitura da história dos batalhões como documentação-base para a historiografia da guerra colonial, leia a história do BCAÇ 513 e converse depois connosco.
Desembarcam em Julho de 1963, é-lhes destinado um vasto Sul, em turbamulta, a guerrilha devasta, intimida, executa os contestatários. As incumbências que lhe estão cometidas têm um peso enorme: instalar um destacamento em Guileje, outro em Colibuia, irradiar a partir de Aldeia Formosa, interditar o trânsito do inimigo da área do Forreá para o Incassol, patrulhar e emboscar no eixo Buba-Nhala e na estrada Buba-Aldeia Formosa.
Temos aqui relatos que infundem respeito, que deixam bem claro o caos em que se encontra toda região Sul em 1963 e como numa fase de arranque do PAIGC foi possível confrontá-lo com escassos recursos. Quando ali chegaram, Guileje estava totalmente ao abandono e as forças do PAIGC controlavam totalmente Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, bem como o Cantanhez.
Um relato épico, inesquecível.

Um abraço do
Mário


BCAÇ 513, a divisa era “Ceder Nunca” (1)

Beja Santos

Dentro da minha rede de apoios, a Biblioteca da Liga dos Combatentes tem lugar cimeiro. O responsável pela biblioteca, sempre prestável, quando o informo das minhas devoluções também me informa que encontrou mais umas coisinhas, é tudo uma questão de ir ver. Uma das novidades foi a história deste Batalhão, documento que desconhecia inteiramente: BC 513, História do Batalhão, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000. A surpresa começa logo na dedicatória de oferta:  
“De todos nós, combatentes do BCAÇ n.º 513, que prestou serviço na Guiné entre Julho de 1963 e Agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós e um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. Mas a nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes. Vosso, muito grato, José Filipe da Cunha Fialho Barata, ex-alferes miliciano sapador”.

O BCAÇ 513, diz-se logo no pórtico, não foi uma unidade organizada na metrópole e preparada em conjunto numa única unidade mobilizadora. Apenas havia sido determinada a constituição de um Comando de Batalhão e respetiva CCS, com destino a Moçambique. Na antevéspera do embarque teve-se conhecimento da mudança de destino, a Guiné. Embarcam no Niassa em 17 de Julho de 1963, com as Companhias de Artilharia 494, 495 e 496, e o BCAV n.º 490 com as suas companhias 487, 488 e 489. Chegados a Bissau, logo se descobriu a falta de instalações com o mínimo de condições para alojar o pessoal, viveram um pouco aos baldões até que em 26 de Agosto seguiram para Buba. Houvera entretanto alterações no dispositivo militar, resultante da divisão de zona Sul, então na totalidade incluída na zona de ação do BCAÇ n.º 237. Dera-se a designação de Setor E, e a partir de Janeiro de 1965 passou a ser designado por Setor S2, com sede em Buba e abrangendo os subsetores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e mais tarde ainda os novos subsetores de Gadamael, Sangonhá e Guileje. O BCAÇ n.º 513 foi constituído na Guiné com a incorporação das três referidas Companhias de Artilharia, estava em Buba a CCAÇ n.º 411, houve também reforços com um Pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, um Pelotão FOX. Recorde-se que o comandante da CART n.º 494 era o então Capitão Alexandre Coutinho e Lima, protagonista cimeiro da retirada de Guileje, em Maio de 1973. O Comando ficou em Buba, uma companhia partiu para Cacine, outra para a Aldeia Formosa, outra para Ganjola, no setor de Catió, onde se instalou provisoriamente.
E escreve-se na história do batalhão:  
“O facto mais grave foi o enfrentar logo no início de comissão a falta de instalações, muitas delas completamente destruídas, outras não possuindo mais que palhotas. As tropas viveram sempre nas piores condições imagináveis. Tiveram de construir paliçadas, abrigos para as armas e para o pessoal, que progressivamente foi necessário transformar em abrigos à prova de morteiro, pistas para a aviões a fim de não se ficar sujeito à única ligação mensal pelo barco dos reabastecimentos”.
E somos informados do inimigo existente, dispunha-se em três importantes zonas de concentração: a região de Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região de Forreá nas margens do rio Cumbijã e a região de Cacine na orla marítima (Campeane). Era tida como zona isenta de atividade inimiga a região da Aldeia Formosa – Contabane.

Era fundamental trabalhar na recuperação do “Chão Fula”. E escreve-se:  
“O regresso das populações às tabancas abandonadas só foi possível colocando um destacamento militar avançado na direção mais perigosa (Colibuia). O mesmo será necessário fazer quando se progredir na direção de Guileje, instalando nesta localidade um novo destacamento. Este sistema de dispersão de efetivos só seria possível desde que houvesse uma força móvel capaz de acorrer prontamente a qualquer ponto atacado. Por essa razão se manteve em Aldeia Formosa o pelotão FOX”. Era igualmente reconhecimento como imperativo paralisar o trânsito na fronteira Sul da Guiné. A tentativa de perfuração da CART n.º 496 em direção a Campeane não funcionou. Toda a região está bastante comprometida pelos terroristas e a progressão das tropas necessita sempre de apoio aéreo e de apoio terrestre dado por autometralhadoras”.

E o relatório elenca o que foi a recuperação do Chão Fula. O autor enquadra a situação:
“Junto à fronteira Sul e tendo como fulcro a tabanca da Aldeia Formosa (Quebo) uma vasta região encontrava-se habitada quase exclusivamente por povos de raça Fula tendo um importante chefe religioso, Cherno Rachide. Abrangendo os regulados de Contabane, Forriá e Guileje, corresponde a uma extensão de fronteira de mais de 40 quilómetros. Iniciada em princípios de 1963 a ação de grupos armados do PAIGC, sem que esses povos de raça Fula se tivessem deixado subverter na fase anterior de aliciamento, foram imediatamente atacados e expulsos das tabancas situadas nas linhas de infiltração escolhidas para passagens de pessoal e material, em especial no corredor de Guileje – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Atacada, incendiada e saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde se encontrava o régulo de Guileje, espalhou-se o pânico entre todos os povos desse regulado, fugindo uns para a República da Guiné, outros para Bedanda e ainda outros para Contabane e Aldeia Formosa. A tabanca do Mejo e outras próximas viriam também mais tarde a ser incendiadas e destruídas. Todas as casas de construção europeia pertencentes a comerciantes de Salancaur Cul e Bantel Silá foram destruídas. Em Maio de 1963 era chacinado em Samenau um sobrinho de Cherno Rachide e Cumbijã era atacada, ficando completamente incendiada e destruída. Assim avançou o IN na destruição das tabancas que lhe opunham dificuldades a caminho de Buba”.

O autor releva a ação de um pelotão da CCAÇ 41 e um pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, Pelotão FOX, que foi incutindo respeito ao IN e dando confiança às populações. Nesse tempo os guerrilheiros ainda não dispunham de minas anticarro embora fizessem largo uso de fornilhos, que tinham pouco sucesso, porque eram comandados à distância. A viragem da situação ocorre com a instalação da CART n.º 495 em Aldeia Formosa, seguindo-se a instalação de um destacamento em Colibuia, em Outubro de 1963. Em Dezembro desse ano iniciou-se a preparação para a recuperação de Cumbijã. Em 4 de Fevereiro de 1964, uma enorme coluna auto, encabeçada pelo Pelotão FOX 888 e um grupo de combate da CART 495 procedeu à reocupação de Guileje. Tropas e população começaram do zero a ocupação de um dos mais importantes locais da fronteira Sul, sobre o ponto de vista militar. No mês seguinte começou a construção de um aquartelamento em Mejo e com a sua ocupação estavam criadas as condições necessárias para atingir Salancaur Fula e efetuar a ligação com Cumbijã através de Nhacobá e Samenau, completando-se a reinstalação dos povos Fulas das tabancas que tinham sido forçados a abandonar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21099: Notas de leitura (1290): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P331: Do Pel Caç Nat 51 aos demónios étnicos que atormentam o povo da Guiné (José Neto)

1. Texto do nosso amigo e camarada José Neto (2º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68; hoje capitão reformado):

Meu caro amigo Luis Graça:

Acabo de ler o arrazoado sobre Manjacos, Felupes e por aí fora. E chamo-lhe arrazoado pelo seguinte:

Muito cedo, aos 21 anos, fui para Macau como Soldado de Artilharia. Naquela cidade maravilhosa adquiri instrução e aprendi a conviver com pessoas que tinham da vida uma visão diferente da que me fora ensinada. Note que, ao tempo, da guarnição faziam parte dois Batalhões de Moçambicanos, que entre si se denominavam por Landins e Macuas. Dizia-se que eram rivais em África, mas ali eram militares e apenas disputavam o aprumo com que serviam o Exército Português.

Vim de Macau (empurrado pelos Decretos) dez anos depois, com o posto de 2º sargento, casado com a filha dum camarada (metropolitano), uma filha com 17 meses e uma riqueza interior que, modéstia à parte, não encontrei na generalidade dos meus camaradas de cá.

Quatro meses depois (1962) avancei (...em força) para Cabinda e lá encontrei os Cabindas e os Mossorongos. Diferentes... iguais, isso nunca me incomodou.

Em fins de 1966 calhou-me a Guiné.

Em 1970 aí vai o seu amigo para Angola, já 1º sargento e aprovado para ir ao Curso de Oficiais em Águeda (ECS). Em Calunda, que fica naquele pequeno rectângulo que o mapa de Angola tem à direita, encontrei de tudo. Numa tribo mandavam os homens, noutra as mulheres, uns eram indolentes, outros diligentes, enfim a África era assim. E agora apetece-me perguntar: E a Europa é diferente?

Voltemos à Guiné.

Ali só privei com Fulas, de Buba, Colibuia, Cumbijã e Guilege (Guiledje). Islamisados, inteligentes, sobrevivendo com muito engenho e, principalmente, de sorriso aberto e franco.

Tive o privilégio de, com o meu Capítão (Eurico de Deus Corvacho), ser recebido, em Aldeia Formosa, pelo senhor Cherno Rachide, o chefe espiritual daquela zona que se estendia para além da fonteira (1).

Fiquei impressionadíssimo com o porte e as palavras sábias que nos dispensou. Na despedida apenas nos disse (em francês!!!): "Procurem não maltratar o meu povo".

Em Guilege fui amigo (repito: "amigo") do Régulo porque tinhamos um traço comum: Ele também esteve em Macau, fazendo parte (como soldado) duma companhia guineeense para ali destacada no fim da II Guerra Mundial. Era um chefe inteligente e de poucas palavras.

E também tive em Guilege uma "caldeirada" chamada Pelotão de Caçadores Nativos nº 51. Era comandado por um Alferes Miliciano (Perneco) e os furriéis e cabos eram metropolitanos. Eram cerca de trinta soldados de várias etnias (cá estão as malfadadas etnias) e criavam-nos mais problemas que os duzentos e tal transmontanos, minhotos, beirões e algarvios. Esquecia-me que também tínhamos três alentejanos.

Aquele Pelotão era uma pequena amostra do que é hoje a República da Guiné Bissau.

E por fim a minha opinião: É hora de ajudarmos os guineenses a alhearem-se das suas divisões ditas culturais e prosseguir o seu destino com as PESSOAS que constituem o seu povo. Isto de "respeitem os meus, os outros são uns malandros" não leva a lado nenhum.

Nós já há muito que esquecemos os Celtas, Vândalos, Suevos, Iberos e outros que tais que povoaram este cantinho da Europa, onde continuamos a fazer força para "entrar".

Cumprimentos do
Zé Neto.
__________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 16 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo)

(2) Que dizer deste comentário de um homem vivido e sábio como o Zé Neto ? Apenas reforçar a sua sugestão: o que importa são as pessoas... E é com cada um dos guineenses, com a sua individualidade como pessoa, que a Guiné-Bissau vai construindo o seu futuro e ainda vai ser um grande país... Aqui fazemos força por isso.
L.G.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9232: O meu Natal no mato (36): Conversas com um homem de Deus (Artur Augusto Silva, Quebo, 1962)


Guiné-Bissau > Bissau > Capa do livro de contos, de Artur Augusto Silva, O Cativeiro dos Bichos. (Bissau, 2006; edição de autor).



1. Há seis anos atrás, em finais de 2005, o Pepito (nickname do Eng Agr Carlos Schwarz da Silva, que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento, hoje com 20 anos de existência) entrou  para a nossa "tertúlia" (agora conhecida como "Tabanca Grande", a comunidade virtual dos "camaradas e amigos da Guiné"). Vim a conhecê-lo pessoalmente em Lisboa,  em fevereiro de 2006. Mas antes disso, em meados de dezembro de 2005, ele tivera a gentileza de me enviar um conto, inédito, da autoria do seu pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), a que chamou "um conto de Natal", acompanhado da seguinte mensagem:


Caro Luís,

Envio-te um conto de Natal, escrito por meu pai, Artur Augusto Silva que nasceu na Ilha da Brava, em Cabo Verde, e que foi advogado na Guiné-Bissau desde 1948, tendo defendido os presos políticos do PAIGC, em 61 julgamentos, um dos quais com 23 réus tendo tido apenas duas condenações.



Em 1966, a mando do governador Arnaldo Schulz, foi preso pela Pide, no aeroporto de Lisboa, quando vinha de férias tendo ficado cinco meses na prisão de Caxias. Quando foi libertado, proibiram-no de regressar à Guiné e fixaram-lhe residência em Lisboa.

Em 1976, quando me veio visitar a Bissau, o então Presidente Luís Cabral convidou-o a trabalhar como juiz do Supremo Tribunal de Justiça, tendo também leccionado Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau desde que ela foi criada e até a 1983, quando faleceu.

Trata-se de um conto de que gosto muito (nós, os 3 filhos, pensamos editar em Fevereiro de 2006 um livro com os contos dele) e por isso te envio como postal de Feliz Natal.

abraços

pepito



2.  Publicámos este conto, escrito em 1962, na I Série do nosso blogue, em poste de 16 de Dezembro de 2005 (*), ainda antes portanto de sair, em fevereiro de 2006, o livro O Cativeiro dos Bichos (onde vem inserido o conto de Natal), em edição dos três filhos do autor (Henrique, João e Carlos Schwarz). Porque grande parte dos atuais leitores do nosso blogue não o conhece, voltamos a publicá-lo, agora na II Série, e com pequenas revisões.  Na antologia de contos de Artur Augusto Silva (ao todo, 25), este ficou com o título, possivelmente original, "Noite luarenta de Dezembro"...


Recorde-se, por outro lado, que o autor, jurista de formação, era também especialista em direito consuetudinário, tendo publicado vários livros sobre os "costumes e usos jurídicos" dos fulas (1958), dos felupes (1960) e dos mandingas (1969).  A amizade com o Cherno Rachide e a sua família já vi vinha de muito longe, e tem sido mantida e cultivada pelo Pepito (que é amigo do actual Califa de Quebo-Forreá, o Cherno Aliu Djaló).


3. Noite luarenta de Dezembro (**)
por Artur Augusto Silva [, foto à direita]


Na povoação de Quebo, perdida no sertão da terra dos Fulas, o tubabo conversa com seu velho amigo, Tcherno Rachid, enquanto as pessoas graves da morança, sentadas em volta, ouvem as sábias palavras do Homem de Deus.

Esse Homem de Deus é um Fula, nascido na região, mas cujos antepassados remotos vieram, há talvez três mil anos, das margens do Nilo.


Mestre da Lei Corânica e filósofo, Tcherno Rachid ligou-se de amizade profunda com o tubabo - o branco - vai para quinze anos, quando este chegou à sua povoação e se lhe dirigiu em fula.


O tubabo é também um filósofo que veio procurar em África aquela paz de consciência que o mundo europeu lhe não podia dar. Fora, noutros tempos, um crítico de Arte e um poeta, um paladino das ideias novas, e porque proclamara em concorrida assembleia de jovens que um automóvel lançado a cem quilómetros à hora era mais belo do que a Victória de Samotrácia, firmara seus créditos de «pensador profundo».


Se alguém perguntasse ao branco porque razão se encontrava ali, no coração de África, naquela noite de Natal, talvez obtivesse como resposta um simples encolher de ombros ou, talvez, ouvisse que o seu espírito necessitava daquelas palavras simples que consolam a alma dos justos e acendem uma luz no peito dos homens.

Tcherno Rachid acabara, nesse momento, de repetir as palavras do Profeta: «Nenhum homem é superior a outro senão pela sua piedade».
- Irmão - retorquiu o tubabo - então o crente não é superior ao infiel?
- São ambos filhos de Deus - respondeu o Tcherno - e aos homens não compete julgar a obra do seu Criador.
Aquele que só ama os que pensam como ele, não ama os outros, antes se ama a si próprio. Só quem ama os que pensam diversamente, venera Deus, que é pai comum de todos. Assim como tu podes adorar Deus em diversas línguas, assim podes entrar numa igreja, numa mesquita, ou numa sinagoga. Quando vais pelo mato e admiras o grande porte de uma árvore, as penas vistosas de um pássaro, a força do elefante ou a destreza da gazela, tu murmuras uma oração que agrada a Deus, Criador de tudo o que existe, mais do que agradam as orações que só os lábios pronunciam e o coração não sente.
- Irmão Tcherno, e aquele que não acredita em Deus, esse merece a tua estima ?


Rachid semi-cerrou os olhos, alongou a mão descarnada para a lua cheia, então nascente, e disse:
- Ouvirás a muitos que esse não merece o olhar dos homens. Mas eu penso que o descrente merece mais o nosso amor do que o crente. É um companheiro de caminho que se perdeu. Devemos procurá-lo, ajudá-lo, e até levá-lo para nossa casa, a fim de repousar. É um filho de Deus como tu, como eu … como todos nós.
A lua, antes de ter em si tanta luz como a que tem hoje, esteve sete dias obscura, sem ser vista de ninguém, se não de Deus. Ouve, irmão: quem julga que não crê em Deus, é porque acredita em si próprio e, crendo em si, já crê em Deus, porque o homem foi iluminado com o sopro Divino e é, assim, uma sua imagem.

A lua ia subindo nos céus, lenta, majestosa, iluminando a povoação e a floresta, os rios e os mares… Os homens graves, de autoridade e conselho, aprovavam as palavras do Tcherno, e o branco, oprimido pela ideia de que lá longe, a muitos milhares de quilómetros, reunidos em volta de uma mesa de consoada, seus avós, pais e irmãos, celebravam uma festa antiquíssima e lembravam, por certo, o «filho pródigo», deixou nascer uma lágrima que se avolumou e correu pela face tisnada pelo ardente sol dos trópicos.

[Artur Augusto Silva, 1962]


In: SILVA, Artur Augusto - O cativeiro dos bichos. Bissau: 2006. pp. 187-189. [
Ed. lit Henrique Schwarz, João Schwarz e Carlos Schwarz; prefácio de Henrique Schwarz; impressão e acabamento, Novagráfica, Bissau, Fevereiro de 2006]
__________


Notas do editor:


(*) Vd. I Série > 16 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

(**) Ultimo poste da série > 16 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9214: O meu Natal no mato (35): Um Santa Claus na forma de um barquinho (José da Câmara)

terça-feira, 22 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7981: (In)citações (28): Melhoria do porto fluvial de Cabedu, no extremo da península de Cubucaré, na margem direita do Rio Cacine (AD - Acção para o Desenvolvimento)

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > "Foto da semana > Título da foto:  Vamos melhorar o Porto de Cabedu  > Data de Publicação:  20 de Fevereiro de 2011 >  Data da foto:  23 de Janeiro de 2011 > Palavras-chave: Infraestruturas Rurais > Legenda:


"A tabanca de Cabedu  [, há mais de 40 referências a Cabedu, no nosso blogue, ] situa-se no extremo da península de Cubucaré, junto ao rio Cacine [,margem direita,] tendo por isso uma saída preferencial de contacto com o resto do país, o seu porto marítimo.



"Por estrada a situação é tão difícil que são poucos os veículos que chegam a estas paragens e, durante a época das chuvas, ela fica interditada, sob pena de se ficar atolado vários dias.


"Com a melhoria deste porto, não só haverá melhores alternativas para os doentes, como para comercializarem os seus excedentes, dos quais se destaca o arroz, a fruta, o coco e o peixe".

Foto (e legenda): Cortesia de  © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série >  15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7948: (In)citações (30): O Cherno Aliu Djaló, actual Califa de Quebo-Forreá, agradece aos nossos camaradas Vasco da Gama e Arménio Estorninho as fotografias do Cherno Rachide, seu pai e antecessor (Pepito)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6762: Antropologia (19): Os muçulmanos face ao poder colonial português e ao PAIGC (Eduardo Costa Dias)










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Festa do  Ramadã... Imagens (belíssimas) do nosso saudoso camarada Zé Neto (1929-2007), convertidas de slides, muito usados na época.

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Simpósio Internacional de Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1-7 de Março de 2008)> Comunicação de Eduardo Costa Dias (ECD), novo membro da nossa Tabanca Grande (*)


Bissau > 4 de Março, 17h30/18h00 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação. Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé)

Título da comunicação de ECD > Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau

Sinopse da comunicação

O assunto desta comunicação tem directamente a ver com as diferenças de peso, de dinâmica e de tempo de intervenção que muçulmanos (**) e seguidores das religiões ditas tradicionais tiveram no movimento de libertação nacional liderado pelo PAIGC na Guiné-Bissau.

Trata-se, do meu ponto de vista, de um tema de grande importância para a compreensão, por exemplo, das razões sócio-politicas e político-religiosas da, globalmente, menor presença dos muçulmanos durante todo o período da luta de libertação, nas fileiras da guerrilha.

Com efeito, embora muitos muçulmanos tivessem, a título individual, integrado a guerrilha e alguns nela desempenhado papéis político-militares de relevo, durante a luta de libertação, a larga maioria dos membros do establishment muçulmano guineense (dirigentes das vários ramos guineenses da confraria qadriyya e da tijâniyya, imãs, letrados, régulos, etc.) teve um papel pouco colaborante com o PAIGC e muitos mesmo de assumido colaboracionismo com o poder colonial.

Nesta comunicação procurarei, descrevendo o quadro sócio-religioso da Guiné-Bissau e enumerando alguns dos acontecimentos mais marcantes das relações tecidas, antes e durante a luta de libertação, pelos dignitários muçulmanos guineenses com o poder colonial, questionar globalmente o papel dos vários grupos religiosos não cristãos durante a luta de libertação nacional e, numa dimensão mais precisa, aduzir elementos para a compreensão das razões da manifesta hostilidade por parte da maioria do establishment muçulmano guineense para com a luta de libertação.

Na minha opinião, as razões desta hostilidade não se radicam, no fundamental, na eventual incompatibilidade entre o Islão e o ideário filosófico-político proclamado pelo PAIGC ou na simples discordância sobre os métodos seguidos por este movimento na luta pela independência da Guiné-Bissau, mas sim em questões fundadas na política de alianças com o Estado seguida pelos dignitários político-religiosos muçulmanos guineenses e de um modo geral pelos dos países vizinhos desde os anos 1880-1890. Entroncam, na política dita do muwalat (“acomodação sob reserva”/”coabitação” com o Estado) encetada pelos dignitários muçulmanos no 3º quartel do século XIX em toda a África Ocidental e que, como o atestam, no caso guineense, a antiga “tradição” de aliança com o Estado colonial, a oposição do establishment muçulmano à luta de libertação e a “reentrada” na área do poder de muitos dignitários passado pouco tempo sobre a independência da Guiné-Bissau, transitou, nos seus contornos fundamentais, da situação colonial para a pós-colonial.

Cabral, fino conhecedor do xadrez social e político-religioso da Guiné-Bissau (***), tinha, bem antes do início da luta de libertação, consciência da tendência “estrutural” do establishment muçulmano para acomodar-se ao “poder do momento”,  qualquer que ele seja! Disse-o nos seus escritos, teve-a em atenção no delinear da estratégia de mobilização das populações para a Luta. (****)

______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Julho de 2010 >  Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

(**) Alguns dos nossos marcadores/descritores, relacionados com esta problemática:

Animismo (2)
Antropologia (21)
Balantas (25)
Cherno Rachide (9)
Colaboracionismo (6)
Corão (2)
Fulas (45)
Historiografia da presença portuguesa (30)
Islamismo (17)
Islão (10)
Mandingas (38)
Mutilação Genital Feminina (13)
Ramadã (2)
Religião (14)
Tabaski (1)


(***) Vd., entre muitos outros, o poste de 30 de Junho de 2008  > Guiné 63/74 - P3000: Amílcar Cabral: nada mais prático do que uma boa teoria (Luís Graça)

 (...) Quanto aos fulas, o fundador, dirigente e teórico do PAIGC fala deles em termos de uma forte “estratificação social”. Em primeiro lugar, temos (i) os chefes, os nobres e os dignatários religiosos (por ex., o Cherno Rachid de Aldeia Formosa); vêm depois, (ii) os artesãos e os jilas ou comerciantes ambulantes (que circulam pela Guiné, Senegal e Guiné-Conacri); finalmente, e na base da pirâmide social , (iii) os camponeses.

Sobre o grupo dirigente, Amílcar Cabral diz o seguinte:

“Os chefes e a sua comitiva têm ainda, a despeito da conservação de certas tradições relativas à colectividade das terras, privilégios muitos importantes no quadro da propriedade da terra e da exploração do trabalho de outrem. Os camponeses que dependem dos chefes são obrigados a trabalhar para eles um certo período do ano”.

Daí chamar aos fulas, aliados históricos dos portugueses, um grupo semi-feudal.

Os artesãos desempenham um papel importante na sociedade fula, constituindo um núcleo embrionário de uma indústria de transformação da matéria-prima: do ferreiro, na base da escala, até ao artesão do couro. Os comerciantes ambulantes (jilas) são os que têm, na prática, a possibilidade de acumular dinheiro. Por fim, os camponeses: em geral desprovidos de direitos, seriam os “verdadeiros explorados da sociedade fula”.

A estratificação da sociedade fula também pode ser vista a partir da família, extensa, que é a sua célula: a família de um homem grande é constituída pela morança; um conjunto de moranças formam uma tabanca; um conjunto de tabancas um regulado; e por fim, os regulados fulas estão associados ao chão fula (Leste da Guiné, compreendendo hoje as regiões de Bafatá e de Gabu), uma entidade territorial e simbólica, ligada à conquista.

Aqui a mulher não goza de quaisquer direitos sociais: participa na produção sem quaisquer contrapartidas; por outro lado, a prática da poligamia significa que ela é, em grande parte, propriedade do marido.

Estranha-se, não haver aqui uma referência ao fanado feminino e sobretudo ao profundo significado sócio-antropológico que tinha (e tem) a Mutilação Genital Feminina entre os Fulas (mas também entre os Mandingas e os Biafadas). Será que Cabral tinha consciência das terríveis implicações, para a mulher, desta prática ancestral, e também aceitava tacitamente em nome do relativismo cultural, tal como os antropólogos colonialistas ? Não conheço nenhum texto em que o ideólogo do PAIGC tenha tomada posição sobre este delicado problema. (...)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Guin é 63/74 - P5731: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (11): Inauguração da mesquita, almadjadja, com a presença do filho do Cherno Rachide e da Júlia Neto (Pepito)





1. Fotos e mensaqem de 28 do corrente, do nosso amigo Pepito (*)

INAUGURAÇÃO DA “MESQUITA” DE GUILEDJE

Também no dia 20 de Janeiro de 2010 foi reconstruída a antiga Almadjadja existente no Quartel de Guiledje (A Almadjadja está para a Mesquita como a Capela está para a Igreja) (*).

Os Homens Grandes e lideres espirituais de Guiledje e de Quebo (Aldeia Formosa) fizeram questão de ter um encontro especial com a Srª Júlia Neto, para lhe manifestarem a sua alegria em a receber no chão que foi do marido e de todos os militares que passaram por estes dois quartéis.

Pepito
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Nota de L.G.:

(`*) Vd, poste anterior, 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5760: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (12): Cerimónia da inauguração, a 20 de Janeiro de 2010, e visita, a 29, de uma delegação cubana (Pepito)


 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico  Memória de Guiledje (*) > 20 de Janeiro de 2010 > "O dia da inauguração contou com a visita do Senhor Presidente da Republica da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, o qual recebe esclarecimentos prestados pelo Dr. Alfredo Caldeira,  da Fundação Mário Soares".



"Igualmente o Senhor Primeiro Ministro, Carlos Gomes Junior, acompanhado do Ministro da Educação Nacional, Artur Silva, [e, à direita deste, o anfitrião, o Director Executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento , Eng. Agrónomo Carlos Schwarz da Silva,]  seguiram detalhadamente todas as secções do Museu".



"O Senhor Vice-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, António Indjai, acompanhado de uma forte delegação de membros das chefias militares, percorreu com interesse o Museu"



VISITA DE INTERNACIONALISTAS CUBANOS

No dia 29 de Janeiro de 2010, uma delegação de 7 combatentes cubanos, que apoiaram a luta pela Independência da Guiné-Bissau, liderados pelo famoso Comandante Móia (Victor Dreke Cruz) (**), foram expressamente a Guiledje para uma visita guiada ao Museu.




A delegação cubana em visita ao Museu...



 O Comandante Móia, chefe da delegação...


Comandante René: foi ele  que colocou as minas na estrada de Guiledje no início da operação de assalto final ao quartel.



Fotos e legendas: ©  Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
_____
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. último poste da série > 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5731: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (11): Inauguração da mesquita, almadjadja, com a presença do filho do Cherno Rachide e da Júlia Neto (Pepito)

(**) Vd. poste de 18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)

Vd. também postes de:

1 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingo Diaz, 1966/67)

24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada

domingo, 18 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

 1. Do poeta Artur Augusto da Silva (1912-1983), que foi casado com a decana da nossa Tabanca Grande, Clara Schwarz  da Silva (n. 1915) e é pai do nosso amigo Pepito (n. 1949), nunca é de mais divulgar os seus sublimes poemas sobre a Guiné que conhecemos... Desta vez fomos recuperar um texto em prosa, cuja última frase deu origem ao título da coletânea de poemas, recolhidos pela sua viúva e publicados, a título póstumo, em 1997 [, 14 anos depois da sua morte,], pelo Centro Cultural Português em Bissau. 

Não sabemos quem era exatamente a figura, Mamadú Baldé, aqui homenageada pelo poeta aquando da sua morte... O nome é vulgar, mas tudo indica ter sido um importante dignitário muçulmano da Guiné, um homem bom e sábio, tal como o Tcherno Rachid [ou Cherno Rachide] de quem Artur Augusto da Silva também era particular amigo e admirador... Talvez o Pepito nos possa dizer algo mais sobre esse Mamadú Baldé...  

A levar à letra o poema (que não está datado), Mamadú Baldé era descendente do famoso régulo do Gabu, Monjur, aliado dos portugueses no tempo do Cap Teixeira Pinto (1912-1915), e que é citado por Artur Augusto da Silva no seu livro Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa (1958). Por sua vez, Jorge Velez Caroço escreveu, em 1948, uma biografia sobre Monjur (Monjur : o Gabú e a sua história. Bissau : Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1948, Vd. foto da capa à esquerda). 

Espero, por outro lado, que ele, Pepito, e a sua mãe me perdoem a ousadia de ter convertido, para formato poético, o texto original, em prosa. Respeitei ao máximo a oralidade do texto. (LG)



Morreu o homem

Ao meu amigo Mamadú Baldé

Mamadú Baldé,
filho de Salifo,
filho de Indjai,
filho de Tchamo,
filho de Monjur,
filho de Mutari,
cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos
nas terras do Egito,
e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé
e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu.
Mamadú Baldé, o sábio que falava com Alá
e era bom
e era justo,
morreu.
Cavaleiros e tambores  levaram a notícia a toda a parte:
subiram as encostas do Futa-Djalon
e desceram para o mar.
Percorreram, o Sudão até Cao e Tombucutú
e desceram o lado  Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu:
morreu Mamadú Baldé.
O sol parou o seu caminho,
espreitou para Labé,
viu Mamadú morto,
e continuou.
A lua parou também o seu caminho,
espreitou e continuou.
Os rios que nascem no teto do mundo,
pararam na sua corrida para o mar
e prosseguiram.
E o poeta pegou num pedaço de papel 
e escreveu:
Morreu o Homem.

In: Artur Augusto da Silva -  E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu:  Poemas.
Bissau, Instituto Camões - Centro Cultural Português. 1997. p.21 [Vd. recensão feita ao livro pelo nosso camarada Beja Santos, no poste P8093, de 13 de Abril de 2011]


[Fixação de texto / Revisão em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]


2. Comentário de Felismina Costa [, foto atual, à esquerda,] sobre o poema Terra Negra, do supracitado autor,  publicado em 10 do corrente, sob o poste P8761, e que muito sensibilizou a nossa amiga Clara Schwarz, ao ponto de telefonar expressamente ao editor do blogue para manifestar o seu agradecimento:

(...) Eu já tinha lido e referido outro poema de Artur Augusto da Silva, mas, achei este extraordinário. É lindo! intemporal!
 
Os sentimentos, são intemporais! Manifestam-se em todas as eras naqueles que são capazes de os sentir e expressar: Quanto ignoramos do que de bom e mau sente o nosso semelhante?

Por isso fico tão feliz, quando descubro no poeta, no escritor, a expressão do sentimento grandioso como é o da fraternidade. 

A Dra. Clara Schwarz, foi sem dúvida uma mulher feliz, e, deve continuar a sentir-se assim. Quem ama desta forma a terra onde nasce e os seus irmãos, ama o mundo inteiro, tudo o que o rodeia, e é capaz de compreender e ser tolerante perante a intolerância alheia, porque sabe que nem todos são dotados dessa capacidade. Por isso, é preciso mostrar a diferença entre o amor e o ódio. Entre o construir e o destruir.

Sinto-me tão feliz, quando leio a paz, a alegria, a compreensão, a amizade, sentimentos que constroem, que enaltecem o ser humano, que o tornam grande, valoroso!

Através deste Blogue, tenho conhecido valores humanos extraordinários, de homens do meu tempo que, vivendo uma guerra longa e sem sentido, saíram dela, saudosos dos lugares que pisaram, da sua beleza, das gentes com quem confraternizaram... e até do próprio 'inimigo'.

Bem-hajam, todos os homens de boa-vontade! Felismina Costa (...)


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 Nota do editor:

Último poste desta série > 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8727: Blogpoesia (159): O Mar que nos levou (Juvenal Amado)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11255: Notas de leitura (465): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,

Deve-se a Manuel Belchior, funcionário ultramarino, uma recolha admirável das lendas e contos dos Mandingas, foi o seu trabalho de campo no Gabu.
A batalha de Cam Salá foi traumática para a etnia Mandinga que viu reduzido o seu poder em toda a região Leste, procedeu a uma emigração para a região de Farim – Binta, alguns milhares desceram até ao Sul. Esta lenda confirma a avalancha do exército Fula e o suicídio dos Mandingas que não suportavam a ideia de ficarem submetidos aos Fulas.

Seguir-se-ão outros dois textos “A deposição de Alfa Iaiá” e “A canção de Cherno Rachide”.

Um abraço do
Mário


A batalha de Cam Salá

Beja Santos

Mandinga, não estragues o meu milho!
Se o estragas, fujo para Firdu
onde te custará fazer a guerra.
Aqui, no Gabu, tens vida agradável
e podes usar calções largos

(Estribilho da canção intitulada “Chedo”)(1)


Os mandingas, senhores do Gabu, procediam de modo tão insensato para com os fulas estabelecidos na região, que estes tinham todos os motivos para se sentirem descontentes.

Não só a tributação paga em cabeças de gado era exagerada, mas também os senhores mandingas, quando chegavam às “moranças” fulas, levavam os seus cavalos aos celeiros, onde os animais comiam os cereais armazenados.

Os fulas, desanimados, ameaçavam fugir para o Firdu onde se acolheriam à proteção do rei daquele país, Alfá Moló, e diziam aos seus opressores ser preferível eles continuarem a usar os grandes calções próprios das festas dos tempos de paz do que terem de recorrer a uma guerra de resultado incerto.

Os senhores mandingas não tomaram a sério estas razões, e os fulas, tendo recebido auxílio dos seus irmãos do Futa Djalon, desistiram de fugir para Firdu e lutar pela independência. Unidos aos futa-fulas e valendo-se da supremacia do número, derrotaram os mandingas em Beré Colon.

Nas lutas que se seguiram, quase sempre com desvantagem para os mandingas, estes viram cada vez mais reduzida a área do seu domínio, que acabou por confinar-se à região de Cam Salá, cujo régulo, Djanqué Uali Sané, era guerreiro de uma bravura intemerata.

Preparou Djanqué a defesa do seu último reduto e, sabendo que os Fulas lhe dariam pouco tempo de tréguas, fortificou rapidamente a sua tabanca e mandou comprar pólvora a todos os comerciantes brancos dos territórios vizinhos (portugueses, franceses e ingleses).

Quando, depois de ter desprezado todas as propostas para se converter à fé islâmica (condição exigida pelos Fulas para o deixarem em paz) soube que um grande exército se acercava de Cam Salá, mandou o seu sobrinho Turá Sané averiguar o número aproximado dos seus inimigos.

Partiu Turá em reconhecimento e, quando numa vasta planície avistou os invasores, não pôde fazer ideia da sua quantidade, porque eles eram tantos que os seus olhos não alcançavam o fim. Pôs-se de pé em cima do cavalo e o resultado foi o mesmo.

Voltou então para junto do seu tio e, quando este perguntou quantos eram os Fulas, encheu de areia um grande pano e apresentou-o a Djanqué, dizendo-lhe:
- Conta os grãos de areia que aqui estão e saberás o número dos Fulas.

O régulo ficou irritado com a resposta e chamou-lhe exagerado e medroso.

Quando começou a discussão sobre a maneira de conduzir o combate, que calculavam ser já no dia seguinte, Turá e o tio não estiveram de acordo, pois o rapaz pedia muita pólvora e Djanqué queria poupá-la, preferindo que os Mandingas combatessem à espada em que eram individualmente muito superiores aos adversários.

No mais aceso da discussão, Djanqué gritou:
- Se me pedes mais pólvora, mato-te.
- Pois se não me dás pólvora, vou-me embora, porque não quero assistir ao fim da nossa raça - respondeu-lhe o sobrinho.

Furioso, o régulo quis matar o rapaz dizendo que não podia suportar que um homem do seu sangue fosse um cobarde, mas um velho “judeu” para o dissuadir disso, observou-lhe:
- Estás enganado. Turá não é do teu sangue. A mulher do teu irmão não era pessoa séria.

Ficou Djanqué mais sossegado com a explicação do bardo e, mandando abrir as portas da tabanca fortificada, trovejou apontando o sobrinho:
- Todo aquele cuja mãe seja da qualidade da deste cobarde, pode sair.

Com estas palavras limitou o número daqueles que acompanhavam Turá e ficou certo de que os que ficavam estavam dispostos a morrer.

Nessa noite, os “judeus”, nas suas canções, lembraram a Djanqué toda a sua vida guerreira que culminara com a fundação de Cam Salá. Emocionado pelas recordações da sua glória passada, o régulo jurou que morreria na sua tabanca se a sorte não o favorecesse no próximo combate.

No outro dia, de manhã cedo, começou o ataque dos Fulas que, fazendo o uso de escadas, tentavam entrar na fortaleza. Os experimentados guerreiros Mandingas cortavam cabeças em tão grande número que, para não serem incomodados pelo sangue que secava nas suas mãos, as metiam de vez em quando em caldeirões de água quente.

Os mortos Futa-fulas amontoavam-se em tal quantidade junto às paredes exteriores que as escadas já eram desnecessárias. Mas por cada um que morria, dez outros se apresentavam no alto da muralha.

A certa altura, os “batulás” de Djanqué avisaram-no de que era impossível evitar a entrada do inimigo na tabanca, pois os guerreiros Mandingas já tinham os braços cansados de tanto matar e o ataque Fula não afrouxava .(2)

Então o régulo mandou abrir o paiol da pólvora e disse aos “batulás”:
- Deixem entrar os Fulas. Esta tabanca chama-se Cam Salá. Agora passará a chamar-se Turo Bã (acabou a semente) porque aqui será o fim de Fulas e Mandingas.

Depois, rodeado das suas mulheres, preparou-se para fazer explodir a pólvora, esperando somente que entrasse o maior número de Fulas na fortaleza. A certa altura, um dos inimigos conseguiu chegar junto das mulheres do régulo e agarrar o braço de uma delas, mas Djanqué cortou-lhe a cabeça. A mulher lastimou-se:
- Eu sei que vou morrer, dizia ela, mas custa-me levar para outro mundo cheiro de Fula.

O marido ainda teve presença de espírito para mandar lavar o ponto em que o soldado tocara.

Finalmente, quando já não havia mais nada a esperar, Djanqué Uali deitou fogo à pólvora e, numa explosão tremenda, sucumbiram os Fulas e os Mandingas que se encontravam dentro da tabanca. Somente uma menina foi projetada para muito longe. Havia de ser alguns anos mais tarde, a mãe de Alfá Iaiá, rei de Labé.(3)

Assim acabava o domínio Mandinga no Gabu, mas as perdas dos Futa-fulas havia sido tão honrosa que o marabu que os acompanhara e dissera que a empresa seria fácil teve vergonha de voltar ao Futa Djalon e pediu a Deus que o transformasse em árvore.

A menos de 500 metros das ruínas de Cam Salá encontra-se uma grande árvore solitária de uma espécie a que os Mandingas chamam sotô.(4) 

É o marabu do Futa.
______
(1) -“Chedo”, em idioma fula, significa mandinga, que é a palavra com que abre a canção 
(2) - Batulá significa grande guerreiro e conselheiro militar
(3) - Ainda que Alfá Iaiá fosse Fula por seu pai (e é o pai que define a raça quer entre Fulas, quer entre Mandingas) ele foi muito mais estimado entre os Mandingas, a cuja etnia pertencia a sua mãe 
(4) - A batalha de Cam Salá foi travada em 1866, perto de Pirada, região do Gabu 



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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

1 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)
e
4 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11190: Notas de leitura (461): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (2) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11238: Notas de leitura (464): O arquiteto Luís Possolo na Guiné, pelos anos 50 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3865: Antropologia (13): A arte popular guineense (Beja Santos)

Legenda: "Guiné: Grupo de balantas com chapéus de palha do fanado"

Legenda: "Guiné: Grupo de mulheres bijagós com os seus apetrechos e trajes de dança".

Legenda: "Guiné: Amuletos de prata usados por mandingas e fulas"

Legenda: "Guiné: Máscaras bandá (à esquerda) e nimba (à direita)"

Fonte: A arte popular em Portugal : ilhas adjacentes e ultramar (ed. lit Fernando de Castro Pires de Lima): Lisboa: Verbo, 1968. (*) (Com a devida vénia...)



1. Texto e imagens enviadas pelo Beja Santos em 4 de Fevereiro último:

Foi o último grande acontecimento editorial de envergadura, no campo da etnografia, etnologia e antropologia, abraçando todos os povos do Portugal do Império. A Verbo investiu muito, de colaboração com a Junta de Investigação do Ultramar e da Agência Geral do Ultramar: a direcção foi de Fernando de Castro Pires de Lima, a responsabilidade gráfica coube a Fernando Lanhas, o capítulo dedicado à Guiné foi escrito por Fernando Rogado Quintino (**).

As matérias versadas são as seguintes: técnica de construção, as formas arquitectónicas e os respectivos sistemas de vida; mobiliário e utensilidade, as camas, os bancos, banquetas e canapés, objectos de cozinha, peças de vestuário e equipamento agrícola; artesanato, com a riqueza de artigos em couro, olaria, cestaria e panaria; vestuário e adorno, com a espantosa versatilidade de amuletos; música e dança, danças recreativas, religiosas, o korá , as marimbas; pintura e escultura, onde predominam as geniais máscaras e feitiços de madeira, caso do Ninte-Kamatchol.

Vou entregar esta pequena preciosidade com uma tão cuidada descrição de manifestações, que vimos nas nossas comissões, ao blogue, para ser vendida em leilão para apoiar as nossas despesas de manutenção.

Beja Santos (***)
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Notas de L.G.:

(*) Ficha bibliográfica tal como consta no sítio
Memória de África:

[62036]
LIMA, Fernando de Castro Pires de
A arte popular em Portugal : ilhas adjacentes e ultramar / direcção de Fernando de Castro Pires de Lima. - Lisboa : Editorial Verbo, 1968 (Lisboa : Oficinas de Gris Impressores, S.A.R.L.. - 2 vol. : il., col., fotografia. - Esta obra foi publicada com o alto patrocínio da Junta de Investigações do Ultramar e da Agência Geral do Ultramar.
Descritores:
África lusófona Madeira Açores Timor Arte popular Artesanato
Cota: D 2136UCDA ¤ D 2137UCDA

(**) Fernando Rogado Quintino é, juntamente com António Carreira, um dos grandes especialistas da cultura da Guiné (colonial)... É autor de (entre muitas outras obras e artigos sobre a Guiné):

Eis a Guiné! : Breve notícia da sua terra e da sua gente
Lisboa : Sociedade de Geografia de Lisboa, 1946, 64 pp.

(***) Vd. postes anteriores desta série Antropologia [ a disciplina das ciências socais que estuda as estruturas e as culturas produzidas pelo Homo Sapiens Sapiens, a única espécie humana - raça, dizíamos nós até há pouco tempo - a que pertencemos todos nós: nharros, tugas, gringos, chinocas, etc... Na Europa também é sinónimo de Etnologia, incluindo a Etnografia]:

9 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2252: Antropologia (1): A guerrilha invisível ou o Poder da Invisibilidade (Virgínio Briote / Wilson Trajano Filho)

25 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3238: Antropologia (12): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.

14 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3206: Antropologia (11): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.

5 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3175: Antropologia (10): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.

29 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3154: Antropologia (9): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.

11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3128: Antropologia (8): Exposição Bijagós no Museu Afro Brasil, São Paulo

23 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

18 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz)

2 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)

12 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2434: Antropologia (4): Kasumai, bons augúrios na cultura felupe (Luís Fonseca / Pepito)

2 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2322: Antropologia (3): 1952: Mulher mandinga da... Colónia da Guiné (Luís Graça / Beja Santos)

20 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2289: Antropologia (2): A literatura infanto-juvenil dos anos 40 e os estereótipos coloniais (Beja Santos)

9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2252: Antropologia (1): A guerrilha invisível ou o Poder da Invisibilidade (Virgínio Briote / Wilson Trajano Filho)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7683: Memória dos lugares (126): Os meus camaradas da CCAÇ 6, em Bedanda (Dezembro de 1971 / Março de 1972) (Mário Bravo, ex-Alf Mil Med)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, entre os furriéis da companhia... Boa disposição, boa música, bom uísque (a garrafa mais pequena era de Old Parr, uísque velho)... Os nomes  dos furriéis já se varreram da memória do nosso camarigo... O Mário Bravo não terá estado mais do que 4 meses em Bedanda (enter Dezembro de 1971 e Março de 1972, com algumas saídas, pelo meio, até Guileje, Gadamael e Cacine)...  A CCAÇ 6 era então comandada pelo jovem Cap Cav Carlos Ayala Botto, futuro ajudante de campo do Gen Spínola.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, tendo a seu lado o Alf Mil Borges, açoriano... 




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, ao meio, ladeado pelos Alf Mil Borges (à sua direita) e o Figueiras (à sua esquerda)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo posando num monumental bagabaga (com cerca de 5 metros de altura)...



1. Mais fotos enviadas pelo  nosso camarada Mário Bravo (ou Mário Silva Bravo), ex-Alf Mil Med, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), hoje cirurgião, ortopedista, reformado,  vivendo no Porto. Depois de sair de Bedanda, em Março de 1972, o Mário Bravo foi colocado no Serviço de Estomatologia do HM 241, em Bissau, onde aprendeu a tratar dos nossos dentinhos... Um belo dia quem se sentou na cadeira do médico dentista foi o Spínola... É uma história que ele vai contar dentro de dias... (LG).



Fotos: © Mário Bravo (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Nota de L.G.:

Último poste da série 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7675: Memória dos lugares (125): Aldeia Fomosa (hoje, Quebo): em busca de fotos do Cherno Rachide, que morreu em 1973 (Pepito / Vasco da Gama)




(*) Vd. postes anteriores, recentes, relativos ao Mário Bravo [, foto acima,] e à sua passgem pela CCAÇ 6, Bedanda (1971/72) (sobre Bendanda temos já cerca de 4 dezenas de referências; e sobre a CCAÇ 6, cerca de duzenas e meia).