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segunda-feira, 18 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11272: Notas de leitura (466): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Estamos quase a chegar ao fim desta coletânea de textos sobre a história dos Mandingas, suas lendas e canções, no fundo reproduz-se um conjunto de textos que foram editados pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa.
E esta canção de Cherno Rachide é uma pequena joia de que a Guiné se deve orgulhar.

Um abraço do
Mário


A canção de Cherno Rachide

Beja Santos

Foi minha primeira intenção limitar este pequeno trabalho às 15 lendas que antecedem. Elas tentam esclarecer algumas facetas da mentalidade dos povos Fula e Mandinga na época das lutas tribais.

O símbolo mais válido dessa época era o “judeu”, o trovar que cantava o heroísmo, a valentia e a fidelidade, ao mesmo tempo que vituperava a traição, a cobardia e a fraqueza.
O trovador, na véspera das batalhas, tocava as canções dedicadas a cada um dos guerreiros, convidando-os a declararem as proezas que se propunham cometer no dia seguinte. No momento dos combates, elogiava os intemeratos e insultava os indecisos, sempre tocando, sempre cantando, e levava assim os combatentes à morte, quase diríamos alegremente, arrebatando-os e enlouquecendo-os.

Os tempos mudaram.

O “judeu” cedeu o seu lugar ao educador e, como se trata de povos islamizados, em que a religião domina todos os aspetos da vida das sociedades, o económico como o político, o social como o educativo, o educador é simultaneamente o teólogo.

Se procura dar uma ideia da mentalidade antiga, dominada pelo trovador, é natural que pretenda agora mostrar a mentalidade nova, plasmada pelo “cherno”, o Fula, ou pelo “caramó” Mandinga.

Por isso achei necessário reproduzir aqui um artigo intitulado “A canção de Cherno Rachide”, que publiquei em 10 de Dezembro de 1961, num simpático jornalzinho de Bissau, “O Arauto”.

Ei-lo:

- “Tive há dias ocasião de conhecer uma das mais interessantes personalidades africanas desta Província. O meu colega de Fulacunda falara-me em termos de muito interesse de um educador Fula cuja fama e influência, dizia ele, seriam imensas em todo o Sul da Guiné portuguesa e muito para além da nossa fronteira.

Fomos a Aldeia Formosa, onde reside Cherno Rachide, o nosso homem, e confesso que no primeiro contacto ele me desconcertou.
No físico não tem nada da debilidade ascética de certos letrados muçulmanos nem da obesidade de alguns outros, originada aquela nos exagerados jejuns e esta por uma vida demasiado sedentária. Ele, pelo contrário, tem mais o aspeto do trabalhador manual. Robusto sem ser gordo, realiza o equilíbrio de uma mente sã habitando um corpo são.
Nas maneiras e no vestuário, foge igualmente à regra.

Nenhuma pose nas atitudes nem presunção no trajar. A longa cabaia era já bastante usada e enquanto durou a nossa conversa manteve-se descalço. Aliás, preparava-se para ir com os seus alunos cultivar o campo que os sustenta a todos. Este facto mostra que não se entrega a um marabutismo parasitário, que é algo corrente. Dias depois, disse-me em Empada um saracolé nada pronto a elogiar os Fulas que o Cherno, contra a opinião dos seus familiares, que o desejariam ver confinado ao ensino religioso e literário, persiste em trabalhar pessoalmente a terra para que os alunos nunca tenham a falsa noção de que o labor físico é degradante e só é nobre a atividade intelectual.

Nos primeiros momentos da conversa, sente-se que Cherno Rachide se entrega cautelosamente a estudar as intenções e o caráter do seu interlocutor. Depois de ganhar certa confiança, anima-se e é então extraordinariamente vivo e simpático.
Mostrou conhecimentos profundos da história e da etnografia dos povos sudaneses e citou muitas das suas máximas favoritas.
Uma delas explica a reserva que habitualmente usa ao fazer um novo conhecimento.

Há três coisas – diz ele – de que um homem reto se arrepende imediatamente: praticar uma ação indigna, dar consideração a quem não a merece e conversar com um tolo.

Quando nos despedimos, manifestei-lhe o desejo de levar comigo, e como recordação da nossa conversa, algumas conversas por si escritas sobre o tema que preferisse.
Recebeu com visível satisfação o meu pedido e escreveu em carateres árabes (o que é vulgar entre Fulas e Mandigas) e em língua árabe (o que já não é comum) a letra de uma canção que compôs para os seus alunos.

É esta canção que vou reproduzir e peço ao leitor desculpa de o fazer em maus versos. Há, porém, uma razão que me leva a cometer semelhante imprudência.
A composição de Cherno Rachide tem ritmo na língua original e eu gostaria que ele, ao ouvi-la ler, notasse também na versão portuguesa alguma musicalidade.

Esperando que esta boa intenção me absolva inteiramente de meter foice numa seara que nunca foi minha, aqui deixo a canção:

Filhos amados, vosso pai Rachide
Uma regra de vida vos vai dar
Segui-a com rigor e não tereis
Nada que lastimar.

Raparigas, sabei que um homem espera
Encontrar na mulher três qualidades:
Respeito aos seus segredos, ao seu leito
E a todas as vontades.

A vós, rapazes, dou-vos um conselho
Que todo o sábio para si tomou
De outro, ainda mais sábio, Logomane,
Que outrora assim falou:

— Deves ter fé em Deus que tudo vê
E tudo pode acerca dos mortais
Trabalha com ardor e serás útil
A ti e aos demais.

— Estuda e elevarás a tua alma
Que os livros bons te podem ensinar
Muitas coisas formosas deste mundo
E a Deus agradar

— A palavra, o alimento e o sono
Como remédio deverás tomar:
O bastante p’ra que o corpo não sofra
Mas sem nunca abusar.

— A boca é uma e as orelhas duas
Isso te indica como proceder
Usa o ouvido mais do que o falar
E saberás viver.

— Em três partes o estômago divide
P’ra comida só uma reservar
As outras hão de ser bem necessárias
P’ra água e para o ar.

— A noite é grande e não deve ser gasta,
Do sol-posto à manhã, toda a dormir,
Destina parte dela à oração
Terás feliz porvir

— Deves casar p’ra nunca cobiçares
Mulher de outro. Não nego, o casamento
Traz desgosto profundo.
Mas se a fêmea procuras fora dele,
Em vez desse desgosto terás dois.
Neste e noutro mundo.

Meus filhos, quem seguir estes conselhos
No decurso da vida há de contar
Satisfações a esmo.
E maiores triunfos que o atleta
Que vença toda a gente nos torneios,
Pois vence-se a si mesmo.

Esta canção entoada diariamente pelos seus alunos define Cherno Rachide, o homem que se confessa profundamente grato ao governo da Província por haver possibilitado a realização do sonho da sua vida: a peregrinação a Meca.

Como português e como cristão, só me regozijo que lhe tenhamos dado tal alegria”

Bilhete postal da era colonial, mostra os pais de Braima Galissá

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Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série de:

1 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)

4 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11190: Notas de leitura (461): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (2) (Mário Beja Santos)
e
15 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11255: Notas de leitura (465): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (3) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11255: Notas de leitura (465): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,

Deve-se a Manuel Belchior, funcionário ultramarino, uma recolha admirável das lendas e contos dos Mandingas, foi o seu trabalho de campo no Gabu.
A batalha de Cam Salá foi traumática para a etnia Mandinga que viu reduzido o seu poder em toda a região Leste, procedeu a uma emigração para a região de Farim – Binta, alguns milhares desceram até ao Sul. Esta lenda confirma a avalancha do exército Fula e o suicídio dos Mandingas que não suportavam a ideia de ficarem submetidos aos Fulas.

Seguir-se-ão outros dois textos “A deposição de Alfa Iaiá” e “A canção de Cherno Rachide”.

Um abraço do
Mário


A batalha de Cam Salá

Beja Santos

Mandinga, não estragues o meu milho!
Se o estragas, fujo para Firdu
onde te custará fazer a guerra.
Aqui, no Gabu, tens vida agradável
e podes usar calções largos

(Estribilho da canção intitulada “Chedo”)(1)


Os mandingas, senhores do Gabu, procediam de modo tão insensato para com os fulas estabelecidos na região, que estes tinham todos os motivos para se sentirem descontentes.

Não só a tributação paga em cabeças de gado era exagerada, mas também os senhores mandingas, quando chegavam às “moranças” fulas, levavam os seus cavalos aos celeiros, onde os animais comiam os cereais armazenados.

Os fulas, desanimados, ameaçavam fugir para o Firdu onde se acolheriam à proteção do rei daquele país, Alfá Moló, e diziam aos seus opressores ser preferível eles continuarem a usar os grandes calções próprios das festas dos tempos de paz do que terem de recorrer a uma guerra de resultado incerto.

Os senhores mandingas não tomaram a sério estas razões, e os fulas, tendo recebido auxílio dos seus irmãos do Futa Djalon, desistiram de fugir para Firdu e lutar pela independência. Unidos aos futa-fulas e valendo-se da supremacia do número, derrotaram os mandingas em Beré Colon.

Nas lutas que se seguiram, quase sempre com desvantagem para os mandingas, estes viram cada vez mais reduzida a área do seu domínio, que acabou por confinar-se à região de Cam Salá, cujo régulo, Djanqué Uali Sané, era guerreiro de uma bravura intemerata.

Preparou Djanqué a defesa do seu último reduto e, sabendo que os Fulas lhe dariam pouco tempo de tréguas, fortificou rapidamente a sua tabanca e mandou comprar pólvora a todos os comerciantes brancos dos territórios vizinhos (portugueses, franceses e ingleses).

Quando, depois de ter desprezado todas as propostas para se converter à fé islâmica (condição exigida pelos Fulas para o deixarem em paz) soube que um grande exército se acercava de Cam Salá, mandou o seu sobrinho Turá Sané averiguar o número aproximado dos seus inimigos.

Partiu Turá em reconhecimento e, quando numa vasta planície avistou os invasores, não pôde fazer ideia da sua quantidade, porque eles eram tantos que os seus olhos não alcançavam o fim. Pôs-se de pé em cima do cavalo e o resultado foi o mesmo.

Voltou então para junto do seu tio e, quando este perguntou quantos eram os Fulas, encheu de areia um grande pano e apresentou-o a Djanqué, dizendo-lhe:
- Conta os grãos de areia que aqui estão e saberás o número dos Fulas.

O régulo ficou irritado com a resposta e chamou-lhe exagerado e medroso.

Quando começou a discussão sobre a maneira de conduzir o combate, que calculavam ser já no dia seguinte, Turá e o tio não estiveram de acordo, pois o rapaz pedia muita pólvora e Djanqué queria poupá-la, preferindo que os Mandingas combatessem à espada em que eram individualmente muito superiores aos adversários.

No mais aceso da discussão, Djanqué gritou:
- Se me pedes mais pólvora, mato-te.
- Pois se não me dás pólvora, vou-me embora, porque não quero assistir ao fim da nossa raça - respondeu-lhe o sobrinho.

Furioso, o régulo quis matar o rapaz dizendo que não podia suportar que um homem do seu sangue fosse um cobarde, mas um velho “judeu” para o dissuadir disso, observou-lhe:
- Estás enganado. Turá não é do teu sangue. A mulher do teu irmão não era pessoa séria.

Ficou Djanqué mais sossegado com a explicação do bardo e, mandando abrir as portas da tabanca fortificada, trovejou apontando o sobrinho:
- Todo aquele cuja mãe seja da qualidade da deste cobarde, pode sair.

Com estas palavras limitou o número daqueles que acompanhavam Turá e ficou certo de que os que ficavam estavam dispostos a morrer.

Nessa noite, os “judeus”, nas suas canções, lembraram a Djanqué toda a sua vida guerreira que culminara com a fundação de Cam Salá. Emocionado pelas recordações da sua glória passada, o régulo jurou que morreria na sua tabanca se a sorte não o favorecesse no próximo combate.

No outro dia, de manhã cedo, começou o ataque dos Fulas que, fazendo o uso de escadas, tentavam entrar na fortaleza. Os experimentados guerreiros Mandingas cortavam cabeças em tão grande número que, para não serem incomodados pelo sangue que secava nas suas mãos, as metiam de vez em quando em caldeirões de água quente.

Os mortos Futa-fulas amontoavam-se em tal quantidade junto às paredes exteriores que as escadas já eram desnecessárias. Mas por cada um que morria, dez outros se apresentavam no alto da muralha.

A certa altura, os “batulás” de Djanqué avisaram-no de que era impossível evitar a entrada do inimigo na tabanca, pois os guerreiros Mandingas já tinham os braços cansados de tanto matar e o ataque Fula não afrouxava .(2)

Então o régulo mandou abrir o paiol da pólvora e disse aos “batulás”:
- Deixem entrar os Fulas. Esta tabanca chama-se Cam Salá. Agora passará a chamar-se Turo Bã (acabou a semente) porque aqui será o fim de Fulas e Mandingas.

Depois, rodeado das suas mulheres, preparou-se para fazer explodir a pólvora, esperando somente que entrasse o maior número de Fulas na fortaleza. A certa altura, um dos inimigos conseguiu chegar junto das mulheres do régulo e agarrar o braço de uma delas, mas Djanqué cortou-lhe a cabeça. A mulher lastimou-se:
- Eu sei que vou morrer, dizia ela, mas custa-me levar para outro mundo cheiro de Fula.

O marido ainda teve presença de espírito para mandar lavar o ponto em que o soldado tocara.

Finalmente, quando já não havia mais nada a esperar, Djanqué Uali deitou fogo à pólvora e, numa explosão tremenda, sucumbiram os Fulas e os Mandingas que se encontravam dentro da tabanca. Somente uma menina foi projetada para muito longe. Havia de ser alguns anos mais tarde, a mãe de Alfá Iaiá, rei de Labé.(3)

Assim acabava o domínio Mandinga no Gabu, mas as perdas dos Futa-fulas havia sido tão honrosa que o marabu que os acompanhara e dissera que a empresa seria fácil teve vergonha de voltar ao Futa Djalon e pediu a Deus que o transformasse em árvore.

A menos de 500 metros das ruínas de Cam Salá encontra-se uma grande árvore solitária de uma espécie a que os Mandingas chamam sotô.(4) 

É o marabu do Futa.
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(1) -“Chedo”, em idioma fula, significa mandinga, que é a palavra com que abre a canção 
(2) - Batulá significa grande guerreiro e conselheiro militar
(3) - Ainda que Alfá Iaiá fosse Fula por seu pai (e é o pai que define a raça quer entre Fulas, quer entre Mandingas) ele foi muito mais estimado entre os Mandingas, a cuja etnia pertencia a sua mãe 
(4) - A batalha de Cam Salá foi travada em 1866, perto de Pirada, região do Gabu 



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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

1 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)
e
4 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11190: Notas de leitura (461): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (2) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11238: Notas de leitura (464): O arquiteto Luís Possolo na Guiné, pelos anos 50 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11151: Notas de leitura (459): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2013: 

Queridos amigos,
Chegámos ao termo da recensão do importante livro “Olhares sobre Guiné e Cabo Verde”.
Nesta reta final, destaque para os textos sobre a Força Aérea na Guiné, alguns textos avulsos aonde se fala da queda de um helicóptero no rio Mansoa, de alguém que viu quase em direto o que se passou no Pidjiquiti em 3 de Agosto de 1958 e que tinha no seu pelotão Domingos Ramos, um futuro herói do PAIGC, e também se recorda o extravagante soldado Roseta, um desertor crónico.
E coube-me a honra de resumir as grandes linhas de força da literatura da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário


Olhares sobre Guiné e Cabo Verde (3)

Beja Santos

“Olhares sobre Guiné e Cabo Verde”, com organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho Paes, DG Edições e Caminhos Romanos, 2012, é uma iniciativa singular para a qual convergiram, nomeadamente, antigos combatentes dos três ramos das Forças Armadas. Em textos anteriores, fez-se referência a considerações genéricas na envolvente da luta armada, ventilaram-se as atividades terrestres da Guiné, incluindo as forças de intervenção. E iniciou-se a exposição referente ao papel da Marinha na Guiné, que pela sua organização e rigor é um dos “pratos de substância” desta obra coletiva.

Recorda-se um destemido comandante, o Comodoro Francisco Ferrer Caeiro, chegado à Guiné em Setembro de 1974, assim apresentado: “Era tido como um militar exigente tanto para consigo próprio como para os outros. De carácter reto e firme mas também emotivo, tão temido quanto respeitado pelos seus subordinados, era, em suma, um líder inato”. Fez questão de acompanhar os Fuzileiros nas suas operações, comunicou este seu desejo aos respetivos comandantes, mas impondo condições como a de os comandantes dos destacamentos durante a operação serem eles, ele ficaria na posição de mero observador. Era muito cioso da sua preparação física e numa dessas preparações aconteceu que o Comodoro se meteu pela berma da estrada que liga Bissau ao Aeroporto, passou uma viatura militar que abrandou e alguém fez-lhe esta generosa oferta: “Ó velhote, queres uma boleia?”. São mencionadas as operações Tridente, Tulipa, Tornado e Remate, foi na operação Tulipa que se deu um lamentável incidente em que um piloto de um avião T6 supôs ter referenciado um grupo inimigo e lançou rockets sobre a posição dos Fuzileiros. A Operação Via Láctea entroncou uma lógica da contra-penetração iniciada em 1968 por Spínola ou seja, o estabelecimento de operações de longa duração sobre as principais linhas de penetração, provindas do Senegal e da Guiné-Conacri. Os Fuzileiros a partir do rio Cacheu dirigiram-se a Jagali Balanta para intersectar grupos vindos do Senegal. Tratou-se da primeira operação do então primeiro-tenente Vieira Matias, hoje almirante, que narra este seu batismo de fogo com espírito de humor. O mesmo Vieira Matias irá descrever uma operação no santuário de Sambuiá e seguidamente a Operação Grande Colheita onde se fez a apreensão de uma quantidade impressionante de munições. Descreve-se e comenta-se mais adiante a Operação Mar Verde e faz-se o reparo para as consequências negativas que a mesma teve no isolamento de Portugal.

Depois de este bem documentado dossiê sobre o papel da Marinha na guerra da Guiné. Segue-se a explanação sobre o desempenho da Força Aérea. Permite-se ao leitor não iniciado ficar a conhecer a evolução nos anos 1960 e 1970 das bases e aeródromos, o tipo de aviões utilizados e o golpe duro que foi a retirada dos aviões F-86, obrigando a uma solução alternativa. Explica-se o papel da artilharia antiaérea inimiga e como a nossa Força Aérea pode calar este armamento. Quanto às zonas de intervenção, refere-se, o acompanhamento dos comboios fluviais, as atividades que lhe eram cometidas nas zonas de livre intervenção para a Força Aérea (ZLIFA), as operações helitransportadas.

Mais adiante retoma-se a questão da artilharia antiaérea que passara a ser uma realidade a partir de 1967. A primeira artilharia foi instalada no Cantanhez. Em Março de 1968 é avistada pela primeira vez uma quádrupla ZPU-4 de 14.5mm, com outras armas à volta, na zona de Cassebeche. Foi destruído no dia seguinte. O próximo episódio irá acontecer junto ao Corredor de Guileje, em Junho de 1968, foi detetada uma zona pejada de artilharia antiaérea. Em Março de 1969 irá descobrir-se que a zona de Cassebeche, no Quitafine, estava novamente pejada de armas, foram progressivamente eliminadas. Em Maio de 1970, o PAIGC, através de militares cubanos trouxe de Kandiafara canhões, que se supõe de 37mm, fez-se nova operação e dias depois concluiu-se que as armas ou que delas restavam tinham sido levadas para Kandiafara. A componente radical serão os mísseis Strela que chegarão à base naval soviética em Conacri em número de 44, com uma recomendação muito especial “que os portugueses nunca fiquem na posse de nenhum”, pois tal arma só tivera uso no Vietname. A resposta portuguesa foi a encomenda dos mísseis franceses terra-ar Crotale, para defesa aérea de Bissau e estava também planeada a aquisição de uma esquadra de aviões Dassault Mirage V. Os mísseis Strela impuseram algumas restrições de voo. O autor escreve a propósito do Strela: “Queria referir um pormenor que me parece digno de nota e está relacionado com a apresentação voluntária, vulgo deserção, de um dos operadores do Strela que se apresentou numa instalação militar em Tite, tendo sido transportado para a Base Aérea de Bissalanca, a fim de ser interrogado. A sua colaboração foi preciosa e tudo o que nos transmitiu refletiu-se numa ajuda que complementou os dados que já tínhamos. A restrição na operação do míssil Strela, dada pela curta duração das pilhas de Mercúrio que alimentavam o mecanismo de disparo, foi ele que a forneceu”. O autor refere-se ainda às conversações tidas em Cap Skirring entre Spínola e Senghor e outras dirigentes senegalesas, bem como à morte do prestigiado Cherno Rachide Djaló, à última troca de prisioneiros, em Setembro de 1974 e por fim à comemoração da independência da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1974.

Finda a exposição da Força Aérea, seguem-se outros olhares sobre a Guiné, em que o repórter Fernando Farinha narra a sua experiência na queda do helicóptero no rio Mansoa, em Julho de 1970, ele seguia no helicóptero atrás, bem sofreu com a agitação provocado pelo tornado que pôs o helicóptero aos saltos e refere as conversas havidas nessa manhã fatídica com os deputados Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu, Pinto Leite e Pinto Bull; o coronel José da Câmara Vaz Serra conta o que viveu, em 1959, com o chamado massacre do Pidjiquiti, os dados que obteve foi de que tinha havido entre 10 e 12 mortos, responsabilidade da polícia, constituída por elementos nativos, seguramente mal enquadrada e incapaz de sangue-frio diante de tanta agitação. Lembrem-se de Domingos Ramos que era o porta-guião do Centro de Instrução Civilizados e mais tarde herói do PAIGC; e refere com bonomia as peripécias do Roseta porventura o mais persistente desertor que tivemos, fugia, dava-se mal no país de acolhimento, voltava e desertava novamente. O médico João Sequeira conta a história de um velho mandinga, um prisioneiro que foi posto à sua guarda, nunca mais esqueceu o olhar que o ancião lhe deitou quando foi levado para interrogatório.

Finalmente, depois de esclarecidos olhares sobre Cabo-Verde, matéria que não pode ser objeto desta recensão, chega-se a um punhado de considerações de minha autoria sobre a literatura da guerra da Guiné, desde 1963 à atualidade, são apreciações que remetem para o meu livro “Adeus, até ao meu regresso”, publicado pela Âncora Editora, em 2012. Tudo começa com "Tarrafo", de Armor Pires Mota, e o diário de Jero, sobressai nomes, nesta fase inicial, como Barão da Cunha, alguns repórteres do regime, como Amândio César e um importante ensaio “Guerra na Guiné”, de Hélio Felgas. No fim da década desponta uma figura incontornável, Álvaro Guerra. A seguir ao 25 de Abril, veio a irreverência e o formidável "Lugar de Massacre", de José Martins Garcia. Seguem-se os anos de 1980, chegou a primeira hora da intimidade dos relatos: Álamo Oliveira, José Brás e Cristóvão de Aguiar, a seguir abre-se larga margem para a literatura de memórias, talvez o filão mais rico de toda esta literatura. Mas há a História, a reportagem, escassa poesia, alguns diários. Surgiu uma obra-prima da literatura: "Estranha noiva de guerra", do escritor mais persistente, Armor Pires Mota. No novo século perfilaram-se três livros de memórias, documentos importantíssimos, saídos do punho do Comando Amadú Djaló, do sargento-mor Talhadas e do coronel para-quedista Moura Calheiros.

Às vezes parece uma literatura semiclandestina, edições de autor que escapam ao circuito das livrarias. Certo e seguro, há que contar com mais surpresas, como escrevi no final do meu texto: “Até ao lavar dos cestos, até estar vivo o último militar que combateu na Guiné, há que contar com as surpresas da vindima, não há mês que não surja um título, um depoimento, um olhar sobre aquela guerra que se travou enquanto se caminhava na farroba de Lala, entre cipós e tabás, a patinhar no tarrafo, nas emboscadas montadas em florestas secas densas, militares apoitados atrás do baga-baga, a resistir à fúria das emboscadas, ou dentro dos aquartelamentos, imprecando em noites de flagelação destruidora. Fiquemos descansados, haverá surpresas, este género literário está muito longe de ter fechado para obras e muito menos para mudança de ramo”.
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11111: Notas de leitura (457): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (1) (Mário Beja Santos)
e
22 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11134: Notas de leitura (459): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9232: O meu Natal no mato (36): Conversas com um homem de Deus (Artur Augusto Silva, Quebo, 1962)


Guiné-Bissau > Bissau > Capa do livro de contos, de Artur Augusto Silva, O Cativeiro dos Bichos. (Bissau, 2006; edição de autor).



1. Há seis anos atrás, em finais de 2005, o Pepito (nickname do Eng Agr Carlos Schwarz da Silva, que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento, hoje com 20 anos de existência) entrou  para a nossa "tertúlia" (agora conhecida como "Tabanca Grande", a comunidade virtual dos "camaradas e amigos da Guiné"). Vim a conhecê-lo pessoalmente em Lisboa,  em fevereiro de 2006. Mas antes disso, em meados de dezembro de 2005, ele tivera a gentileza de me enviar um conto, inédito, da autoria do seu pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), a que chamou "um conto de Natal", acompanhado da seguinte mensagem:


Caro Luís,

Envio-te um conto de Natal, escrito por meu pai, Artur Augusto Silva que nasceu na Ilha da Brava, em Cabo Verde, e que foi advogado na Guiné-Bissau desde 1948, tendo defendido os presos políticos do PAIGC, em 61 julgamentos, um dos quais com 23 réus tendo tido apenas duas condenações.



Em 1966, a mando do governador Arnaldo Schulz, foi preso pela Pide, no aeroporto de Lisboa, quando vinha de férias tendo ficado cinco meses na prisão de Caxias. Quando foi libertado, proibiram-no de regressar à Guiné e fixaram-lhe residência em Lisboa.

Em 1976, quando me veio visitar a Bissau, o então Presidente Luís Cabral convidou-o a trabalhar como juiz do Supremo Tribunal de Justiça, tendo também leccionado Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau desde que ela foi criada e até a 1983, quando faleceu.

Trata-se de um conto de que gosto muito (nós, os 3 filhos, pensamos editar em Fevereiro de 2006 um livro com os contos dele) e por isso te envio como postal de Feliz Natal.

abraços

pepito



2.  Publicámos este conto, escrito em 1962, na I Série do nosso blogue, em poste de 16 de Dezembro de 2005 (*), ainda antes portanto de sair, em fevereiro de 2006, o livro O Cativeiro dos Bichos (onde vem inserido o conto de Natal), em edição dos três filhos do autor (Henrique, João e Carlos Schwarz). Porque grande parte dos atuais leitores do nosso blogue não o conhece, voltamos a publicá-lo, agora na II Série, e com pequenas revisões.  Na antologia de contos de Artur Augusto Silva (ao todo, 25), este ficou com o título, possivelmente original, "Noite luarenta de Dezembro"...


Recorde-se, por outro lado, que o autor, jurista de formação, era também especialista em direito consuetudinário, tendo publicado vários livros sobre os "costumes e usos jurídicos" dos fulas (1958), dos felupes (1960) e dos mandingas (1969).  A amizade com o Cherno Rachide e a sua família já vi vinha de muito longe, e tem sido mantida e cultivada pelo Pepito (que é amigo do actual Califa de Quebo-Forreá, o Cherno Aliu Djaló).


3. Noite luarenta de Dezembro (**)
por Artur Augusto Silva [, foto à direita]


Na povoação de Quebo, perdida no sertão da terra dos Fulas, o tubabo conversa com seu velho amigo, Tcherno Rachid, enquanto as pessoas graves da morança, sentadas em volta, ouvem as sábias palavras do Homem de Deus.

Esse Homem de Deus é um Fula, nascido na região, mas cujos antepassados remotos vieram, há talvez três mil anos, das margens do Nilo.


Mestre da Lei Corânica e filósofo, Tcherno Rachid ligou-se de amizade profunda com o tubabo - o branco - vai para quinze anos, quando este chegou à sua povoação e se lhe dirigiu em fula.


O tubabo é também um filósofo que veio procurar em África aquela paz de consciência que o mundo europeu lhe não podia dar. Fora, noutros tempos, um crítico de Arte e um poeta, um paladino das ideias novas, e porque proclamara em concorrida assembleia de jovens que um automóvel lançado a cem quilómetros à hora era mais belo do que a Victória de Samotrácia, firmara seus créditos de «pensador profundo».


Se alguém perguntasse ao branco porque razão se encontrava ali, no coração de África, naquela noite de Natal, talvez obtivesse como resposta um simples encolher de ombros ou, talvez, ouvisse que o seu espírito necessitava daquelas palavras simples que consolam a alma dos justos e acendem uma luz no peito dos homens.

Tcherno Rachid acabara, nesse momento, de repetir as palavras do Profeta: «Nenhum homem é superior a outro senão pela sua piedade».
- Irmão - retorquiu o tubabo - então o crente não é superior ao infiel?
- São ambos filhos de Deus - respondeu o Tcherno - e aos homens não compete julgar a obra do seu Criador.
Aquele que só ama os que pensam como ele, não ama os outros, antes se ama a si próprio. Só quem ama os que pensam diversamente, venera Deus, que é pai comum de todos. Assim como tu podes adorar Deus em diversas línguas, assim podes entrar numa igreja, numa mesquita, ou numa sinagoga. Quando vais pelo mato e admiras o grande porte de uma árvore, as penas vistosas de um pássaro, a força do elefante ou a destreza da gazela, tu murmuras uma oração que agrada a Deus, Criador de tudo o que existe, mais do que agradam as orações que só os lábios pronunciam e o coração não sente.
- Irmão Tcherno, e aquele que não acredita em Deus, esse merece a tua estima ?


Rachid semi-cerrou os olhos, alongou a mão descarnada para a lua cheia, então nascente, e disse:
- Ouvirás a muitos que esse não merece o olhar dos homens. Mas eu penso que o descrente merece mais o nosso amor do que o crente. É um companheiro de caminho que se perdeu. Devemos procurá-lo, ajudá-lo, e até levá-lo para nossa casa, a fim de repousar. É um filho de Deus como tu, como eu … como todos nós.
A lua, antes de ter em si tanta luz como a que tem hoje, esteve sete dias obscura, sem ser vista de ninguém, se não de Deus. Ouve, irmão: quem julga que não crê em Deus, é porque acredita em si próprio e, crendo em si, já crê em Deus, porque o homem foi iluminado com o sopro Divino e é, assim, uma sua imagem.

A lua ia subindo nos céus, lenta, majestosa, iluminando a povoação e a floresta, os rios e os mares… Os homens graves, de autoridade e conselho, aprovavam as palavras do Tcherno, e o branco, oprimido pela ideia de que lá longe, a muitos milhares de quilómetros, reunidos em volta de uma mesa de consoada, seus avós, pais e irmãos, celebravam uma festa antiquíssima e lembravam, por certo, o «filho pródigo», deixou nascer uma lágrima que se avolumou e correu pela face tisnada pelo ardente sol dos trópicos.

[Artur Augusto Silva, 1962]


In: SILVA, Artur Augusto - O cativeiro dos bichos. Bissau: 2006. pp. 187-189. [
Ed. lit Henrique Schwarz, João Schwarz e Carlos Schwarz; prefácio de Henrique Schwarz; impressão e acabamento, Novagráfica, Bissau, Fevereiro de 2006]
__________


Notas do editor:


(*) Vd. I Série > 16 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

(**) Ultimo poste da série > 16 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9214: O meu Natal no mato (35): Um Santa Claus na forma de um barquinho (José da Câmara)

domingo, 18 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

 1. Do poeta Artur Augusto da Silva (1912-1983), que foi casado com a decana da nossa Tabanca Grande, Clara Schwarz  da Silva (n. 1915) e é pai do nosso amigo Pepito (n. 1949), nunca é de mais divulgar os seus sublimes poemas sobre a Guiné que conhecemos... Desta vez fomos recuperar um texto em prosa, cuja última frase deu origem ao título da coletânea de poemas, recolhidos pela sua viúva e publicados, a título póstumo, em 1997 [, 14 anos depois da sua morte,], pelo Centro Cultural Português em Bissau. 

Não sabemos quem era exatamente a figura, Mamadú Baldé, aqui homenageada pelo poeta aquando da sua morte... O nome é vulgar, mas tudo indica ter sido um importante dignitário muçulmano da Guiné, um homem bom e sábio, tal como o Tcherno Rachid [ou Cherno Rachide] de quem Artur Augusto da Silva também era particular amigo e admirador... Talvez o Pepito nos possa dizer algo mais sobre esse Mamadú Baldé...  

A levar à letra o poema (que não está datado), Mamadú Baldé era descendente do famoso régulo do Gabu, Monjur, aliado dos portugueses no tempo do Cap Teixeira Pinto (1912-1915), e que é citado por Artur Augusto da Silva no seu livro Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa (1958). Por sua vez, Jorge Velez Caroço escreveu, em 1948, uma biografia sobre Monjur (Monjur : o Gabú e a sua história. Bissau : Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1948, Vd. foto da capa à esquerda). 

Espero, por outro lado, que ele, Pepito, e a sua mãe me perdoem a ousadia de ter convertido, para formato poético, o texto original, em prosa. Respeitei ao máximo a oralidade do texto. (LG)



Morreu o homem

Ao meu amigo Mamadú Baldé

Mamadú Baldé,
filho de Salifo,
filho de Indjai,
filho de Tchamo,
filho de Monjur,
filho de Mutari,
cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos
nas terras do Egito,
e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé
e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu.
Mamadú Baldé, o sábio que falava com Alá
e era bom
e era justo,
morreu.
Cavaleiros e tambores  levaram a notícia a toda a parte:
subiram as encostas do Futa-Djalon
e desceram para o mar.
Percorreram, o Sudão até Cao e Tombucutú
e desceram o lado  Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu:
morreu Mamadú Baldé.
O sol parou o seu caminho,
espreitou para Labé,
viu Mamadú morto,
e continuou.
A lua parou também o seu caminho,
espreitou e continuou.
Os rios que nascem no teto do mundo,
pararam na sua corrida para o mar
e prosseguiram.
E o poeta pegou num pedaço de papel 
e escreveu:
Morreu o Homem.

In: Artur Augusto da Silva -  E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu:  Poemas.
Bissau, Instituto Camões - Centro Cultural Português. 1997. p.21 [Vd. recensão feita ao livro pelo nosso camarada Beja Santos, no poste P8093, de 13 de Abril de 2011]


[Fixação de texto / Revisão em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]


2. Comentário de Felismina Costa [, foto atual, à esquerda,] sobre o poema Terra Negra, do supracitado autor,  publicado em 10 do corrente, sob o poste P8761, e que muito sensibilizou a nossa amiga Clara Schwarz, ao ponto de telefonar expressamente ao editor do blogue para manifestar o seu agradecimento:

(...) Eu já tinha lido e referido outro poema de Artur Augusto da Silva, mas, achei este extraordinário. É lindo! intemporal!
 
Os sentimentos, são intemporais! Manifestam-se em todas as eras naqueles que são capazes de os sentir e expressar: Quanto ignoramos do que de bom e mau sente o nosso semelhante?

Por isso fico tão feliz, quando descubro no poeta, no escritor, a expressão do sentimento grandioso como é o da fraternidade. 

A Dra. Clara Schwarz, foi sem dúvida uma mulher feliz, e, deve continuar a sentir-se assim. Quem ama desta forma a terra onde nasce e os seus irmãos, ama o mundo inteiro, tudo o que o rodeia, e é capaz de compreender e ser tolerante perante a intolerância alheia, porque sabe que nem todos são dotados dessa capacidade. Por isso, é preciso mostrar a diferença entre o amor e o ódio. Entre o construir e o destruir.

Sinto-me tão feliz, quando leio a paz, a alegria, a compreensão, a amizade, sentimentos que constroem, que enaltecem o ser humano, que o tornam grande, valoroso!

Através deste Blogue, tenho conhecido valores humanos extraordinários, de homens do meu tempo que, vivendo uma guerra longa e sem sentido, saíram dela, saudosos dos lugares que pisaram, da sua beleza, das gentes com quem confraternizaram... e até do próprio 'inimigo'.

Bem-hajam, todos os homens de boa-vontade! Felismina Costa (...)


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 Nota do editor:

Último poste desta série > 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8727: Blogpoesia (159): O Mar que nos levou (Juvenal Amado)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8539: Dando a mão à palmatória (28): Na melhor nódoa cai o pano... ou: Não basta à mulher de César ser séria, é preciso parecê-lo (Luís Graça)

1. Na véspera de  sair de Lisboa, a caminho do Norte, onde me esperava uma alegre, bonita e comovente festa de família, envolvendo mais de 120 pessoas, publiquei no passado dia 7 o poste P8524 (*), com excertos de um artigo sobre o nosso camarada António Camilo, um dos veteranos das viagens de solidariedade, Portugal/Guiné-Bissau, por terra.


A acompanhar esses excertos, reproduzidos com a devida vénia, da revista Visão, de 3/2/2011, inseri também uma selecção de fotos do Camilo, tiradas numa das suas últimas viagens ao sul da Guiné-Bissau, e mais exactamente a Guileje, em 2010. Entre essas fotos, e sem qualquer legenda específica (ou simples explicação), figurava uma placa [, imagem à esquerda,] com os seguintes dizeres, em quatro parágrafos:


“Após o assassinato de Amílcar Cabral a 20 de Janeiro de 1973, em Conakry, o PAIGC lança uma grande ofensiva militar e política – precisamente designada Operação Amílcar Cabral ou Abel Djassi – que visou demonstrar a sua capacidade de iniciativa em toda a extensão do território da Guiné-Bissau e, ao mesmo tempo, consolidar as condições para a proclamação unilateral da Independência, que viria a ocorrer a 23 de Setembro desse mesmo ano, em Madina de Boé.

“Essa operação obtém uma inequívoca vitória em Guiledje, com a ocupação do respectivo quartel, entretanto abandonado pela tropa portuguesa.

“Dez anos após o início da acção armada contra o colonialismo português e mesmo após ter sido assassinado o principal inspirador e organizador da Luta de Libertação, a queda de Guiledje foi determinante para o futuro da Guiné-Bissau e não deixou de ter consequências no que veio a ser, o movimento militar vitorioso contra o regime de Marcelo Caetano”.



E a placa, que figura no Núcleo Museológico Memória de Guiledje (**), sito no antigo quartel das NT, em Guileje, desde a sua inauguração em 20 de Janeiro de 2010, termina assim (4º parágrafo):


“Memória de Guiledje pretende promover na Região de Guiledje, no Cantanhez, o resgaste da memória colectiva e individual de quantos aqui combateram e viveram”.


2. O poste foi editado por mim, Luís Graça. No dia seguinte, o Carlos Vinhal, o nosso dedicado, incansável e sempre discreto co-editor que está 24 horas por dia de serviço ao blogue, teceu - com toda a legitimidade, e de acordo com as normas em vigor entre nós - , comentários sobre essa foto (e mais concretamente sobre o conteúdo dos três primeiros parágrafos da placa). Fê-lo a título pessoal, como simples leitor e membro do blogue. O comentário começava com a frase: “Confesso que não me lembro de alguma vez ter visto esta placa publicada no nosso Blogue” (…).  Depois de discorrer sobre questões factuais e de interpretação historiográfica, terminava, dando a sua opinião:


“Não será dar importância a mais a Guiledje? Agora sei por que nunca vi espanhóis nas comemorações da Restauração de 1640, os representantes da monarquia nas comemorações do 5 de Outubro de 1910 e dos ministros de Marcelo Caetano nas comemorações do 25 de Abril. Cada um com a sua verdade”.


Em suma, o meu querido camarigo Carlos Vinhal (CV) considerava a placa como uma peça de propaganda. E nesse sentido haveriam de se pronunciar nesse dia também os camaradas Joaquim Mexia Alves (JMA) e Torcato Mendonça  (TM), a título pessoal, insurgindo-se, nomeadamente o JMA,  contra o facto de haver referência explícita do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné a esta "iniciativa" da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.


(...)  Já por aqui tinha passado e não tinha dado conta da placa e dos seus 'dizeres' Obrigado ao Carlos por nos ter chamado a atenção.

É por estas e por outras que deve haver um cuidado extremo nesta acções de solidariedade e apoio, pois de repente, quanto a mim, estamos a ser solidários com algo que é no mínimo 'inverdadeiro' e conduz a conclusões erradas. Esta placa é para mim um 'insulto', pois está carregada de mentiras, e de falsas conclusões.

Afirmo aqui, peremptoriamente, que não dou o meu apoio, enquanto membro da Tabanca Grande, Luís Graça & Camaradas da Guiné, e rejeito liminarmente esta acção no Guileje, muito especialmente esta placa lá colocada. (...)


A escassas horas de partir para o norte, e tendo-me apercebido do “desconforto”  que iria provocar a foto em causa, decidi como editor do poste retirá-la, pura e simplesmente. E com ela os comentários daqueles três meus amigos e camaradas (CV, JMA e TM), que eu muito prezo. Dei-lhes de imediato conhecimento nestes termos: “Queridos camarigos: Agradeço os vossos reparos... Havia uma foto, a mais, desnecessária... Tomei a liberdade de a retirar bem como os vossos comentários... A verdade é que eu não posso [nem quero...] 'alterar a realidade' com o Photoshop... Mas quero que o blogue continue a ser um lugar de encontro, e que esse lugar seja confortável, para todos... Vou até Candoz, tenho lá a minha outra tropa, 120 pessoas”…


Convém aqui lembrar que a génese e o desenvolvimento da nossa Tabanca Grande  se mantêm (e só são possíveis) na base numa relação de transparência, confiança e lealdade que tem já mais de 7 anos, entre os responsáveis do blogue e os demais membros. Como em qualquer organização, seja ela física ou virtual, da empresa ao clube de futebol, da unidade militar de elite a um simples blogue colectivo como este (que, caso raro, até tem um sistema de comentários, livre, sem moderação prévia)...

As reacções de outros leitores habituais e membros do blogue não se fizeram esperar: uns pensaram tratar-se de “anomalia técnica”, outros falaram logo abertamente em “censura”… O coitado do Carlos Vinhal, com quem tenho uma relação de trabalho transparente e leal, só dizia: "Estranho que o meu comentário, fundamentado, não insultuoso, devidamente assinado, tenha sido removido sem me ser dado conhecimento prévio"...


E, como em todas as boas ocasiões propícias ao "alvoroço do povo", não faltou até quem pedissse a cabeça do "responsável"... Pois, o responsável, está aqui, sou eu, e só não dei a cara, publicamente, mais cedo, por estar fora de Lisboa, por ter outros afazeres, impedimentos e limitações (incluindo de acesso à Net)...

Logo no dia 8, 6ª feira, ao partir para o Norte, ao fim da tarde, eu dei  conta, de imediato,  de que, face ao acontecido, tinha sido pior a emenda que o soneto… (Refiro-me a à retirada da foto da polémica placa e  dos 3 comentários a ela referentes)... Na realidade, tomei consciência de que tinha usado e abusado da minha prerrogativa como fundador, administrador e editor... E não adianta desfazer-me em mil e uma desculpas e conversas... Não basta à mulher de César ser séria, é preciso parecê-la...

 É verdade que a pressa (e o stress que a pressa origina) é muitas vezes inimiga da razão e do bom senso... Ou ainda: no melhor pano cai a nódoa... (Fazendo um trocadilho para explicar o título deste poste: na melhor nódoa, cai o pano... Isto quer dizer que a nódoa e o pano estão intrinsecamente ligados, formam um sistema, que não podemos dissociá-los, que em última análise não existe o pano sem a nódoa nem a nódoa é perceptível sem o pano...).


Confesso que saí de Lisboa, 6ª feira à tarde,  com um enorme desconforto psicológico, sabendo que  o meu comportamento iria ser objecto de justíssimas críticas e, mais, que rapidamente corria o risco de ser julgado em praça pública... Com limitações (técnicas) no acesso à Internet, ainda consegui mandar, na madrugada do dia 9, sábado, a seguinte mensagem ao Carlos:


Carlos:  Aqui tens a foto do Camilo [, a foto da placa de Guileje]... Se entenderes dever ser reposta, com os comentários do JMA e do Torcato, além do teu, estás à vontade...  Não sei que explicação dar.... Temos que encontrar uma solução airosa... A simples reposição, discreta, era o mais víável ... Não quero alimentar polémicas, em público... nem muito menos discutir questões que são nossas, internas...

Hoje é dia de festa, de anos, para alguns camaradas nossos, incluindo o meu especial camarigo Joaquim Peixoto [, que fazia anos, a par do Estorninho nesse dia, e a quem aproveito, dois dias depois,  para dar a ambos os meus sinceros parabéns,]  e eu também a tenho a casa cheia, 120 pessoas. 



No quero magoar ninguém nem ser magoado... O blogue serve para nos unir e não para nos desunir... Só cheguei [, a Candoz,] à uma e meia da noite, não deu para fazer nada... E hoje, como deves imaginar, não tenho condições para isso... Saberás encontrar uma solução inteligente, em que ninguém perca a face, a começar pelo autor da foto e os editores...Além disso, estou limitado pela Net. Um abraço de amizade e camaradagem. Luís " (...).


Telefonei ainda, nessa manhã de sábado,  para o telemóvel do Carlos, e tomei a decisão de, hoje, 2ª segunda, após o meu regresso a Lisboa, dar a explicação devida (mas quiçá tardia...) a todos os leitores e sobretudo aos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte, formalmente, da Tabanca Grande, e que são a razão de ser, ao fim e ao cabo, deste blogue e do grande investimento, em inteligência e em afecto,  que todos temos feito nele ao longo de mais de sete anos de existência...


O que aconteceu aconteceu, e foi lamentável. Não tenho qualquer pejo em reconhecer o meu erro, e dar a mão à palmatória (***), como já aqui aconteceu várias vezes ao longo destes anos. A foto em causa foi resposta bem como os comentários com ela relacionados, da autoria dos nossos camarigos Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Torcato Mendonça (*). A eles, antes de mais, devo uma palavra de reparação, pelas emoções negativas que este caso lhes poderá ter causado. A mim causou-me, e quase que me ia estragando o fim de semana (Felizmente, que aqueles outros que eu amo, não têm a culpa do que aqui se passa,  as nossas naturais divergências e às vezes até picardias, que se é certo dão pica à vida, ou como dizem os ingleses, são o "spice of life", também podem às vezes ser "distressantes"...). 


O mesmo em relação ao nosso "fotógrafo", o Camilo, cuja idoneidade, sinceridade,  boa fé e grandeza (de corpo e alma) não poderão ser postas em causa, pelo que eu gostaria que ele fosse poupado em qualquer futuros comentários sobre o eventual "pomo da discórdia" (a dita foto da dita placa, que eu também estou a ver pela primeira vez)...


Amigos e camaradas (que espero poder continuar a estimar e sobretudo a merecer): Os conflitos têm sempre um lado positivo, o de ajudar a prevenir conflitos mais graves. Naturalmente,  têm custos emocionais... A sua resolução implica dispêndio de tempo e de energia, dois preciosos recursos que são  roubados a outras tarefas. Mais importante ainda, nada fica como dantes, contrariamente ao ditado popular, "Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes"... Sete anos depois da criação, acidental, deste blogue, temos que ter mais cuidado quando falamos em nome dele, isto é, em nome do blogue onde não se fala nem se quer falar a uma só voz... No entanto, o que se passou neste fim de semana foi uma lição de vitalidade e liberdade. O nosso blogue está vivo e recomenda-se... A notícia da sua morte só pode ter sido um exagero... LG
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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2011 >Guiné 63/74 - P8524: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (30): António Camilo, na véspera da sua 15ª viagem de regresso àquela terra verde e vermelha, foi objecto de artigo do semanário Visão (3 de Fevereiro de 2011)

   
(**) Alguns postes desta série:

31 de Março de 2011 >
Guiné 63/74 - P8021: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (19): Quem ajuda a reconstruir a Casa do Comandante (Pepito)


9 de Março de 2011 >Guiné 63/74 - P7914: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (18): Mais achados 'arqueológicos' (Pepito)

25 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7670: Núcleo Museológico Memória de Guileje (17): recuperação e reconstrução da antiga messe de oficiais

 19 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6020: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (16): Um dia de ronco, um lugar de (re)encontros, uma janela de oportunidades (Parte I)

5 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5770: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (15): Um visita virtual (Parte II)

 5 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5769: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (14): Um visita virtual (Parte I)

4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5761: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (13): intervenção da Presidente da AD, Isabel Miranda, no dia 20 de Janeiro de 2010


(...) "O Museu 'Memória de Guiledje' é, antes de tudo, uma homenagem à geração de Cabral, a todos os que com o seu exemplo escreveram uma das mais belas páginas da nossa História. Mas é também um lugar de confluência de rios anteriormente desencontrados que hoje procuram um caminho comum.

"Encontro com os militares portugueses, aqueles que, embora em campo oposto, aprendemos a respeitar pela sua coragem e capacidade militar numa luta de longa duração e que, afinal, partilham os mesmos sentimentos de amor pela Guiné-Bissau e pelo seu povo, pela sua humildade, dignidade, valentia e determinação, os quais sempre souberam distinguir o povo português do regime colonial que a ambos oprimia .

"Hoje, em liberdade, reencontramo-nos com emoção, com vontade de juntar memórias, recordações, encontros e desencontros, voltar a caminhar juntos num caminho de respeito e progresso.

"Saudamos a presença da Srª Julia Neto, esposa do capitão José Neto que tanto amou este canto e que tanto contribuiu para que o Museu 'Memória de Guiledje' fosse um êxito. Poucos dias antes de falecer, deixou-nos o seu desejo mais profundo: 'hei-de voltar a Guiledje', disse. A sua esposa, Srª Julia Neto, está hoje entre nós para realizar esta sua última vontade. Através dela saudamos todos os militares portugueses das 12 companhias que passaram por Guiledje e que quiseram deixar um pouco das suas recordações (aerogramas, fotografias, filmes, contos e narrativas). (...).


4 de Fevereiro de 2010 >  de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5760: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (12): Cerimónia da inauguração, a 20 de Janeiro de 2010, e visita, a 29, de uma delegação cubana (Pepito)

30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5731: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (11): Inauguração da mesquita, almadjadja, com a presença do filho do Cherno Rachide e da Júlia Neto (Pepito)

(***) Último poste da série > 3 de Junho de 2011 >Guiné 63/74 - P8370: Dando a mão à palmatória (27): Silvino Manuel da Luz: troca de fotografias (Nelson Herbert / Beja Santos)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8149: (Ex)citações (138): Sou o neto do Cherno Rachide (Djuli Sal)

1. Comentário do nosso leitor Djuli Sal, com data de 19 do corrente, ao poste P7948 (*)
Olá, amigos,  estou muito grato por esse santástico (1) trabalho realizado por essa equipa de emprendedores que conseguiram reavivar a esperança de um povo esquecido no tempo.... o povo de Quebo (ex-Aldeia Formosa).

Sou neto do Tcherno Rachid Djaló [assinalado na foto, em rectângulo verde, tendo atrás, enquadrado por rectângulo a vermelho, o Cap Mil Vasco da Gama, Aldeia Formosa, Janeiro de 1973 ], e estou muito contente por essa iniciativa.

Gostaria que aprofundassem mais a história e que publicacem mais fotos do Tcherno, a sua família, companheiros,  para que um dia essa matéria sirva de suporte e germe do resgate da verdadeira história do meu povo.

A todos um forte abraço. Do fundo de coração, estou simplesmente orgulhoso por esse trabalho...e obrigado.

(1) O termo santástico deve ser lido como santo e fantástico (**).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7948: (In)citações (30): O Cherno Aliu Djaló, actual Califa de Quebo-Forreá, agradece aos nossos camaradas Vasco da Gama e Arménio Estorninho as fotografias do Cherno Rachide, seu pai e antecessor (Pepito)

(**) Último poste da série > 17 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8114: (Ex)citações (137): Mansambo, a emoção do Torcato Mendonça, o memorial da CART 2339 (1968/69)...

sábado, 16 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8110: Comemoração do Dia do Combatente em Lagoa (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2011:

Ao Camarigo Carlos Vinhal com cordiais saudações.


Lagoa – Algarve comemorou o “Dia do Combatente,” no passado dia 9 de Abril de 2011, desta feita com pompa e circunstância.

O Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes levou a cabo as comemorações do Dia do Combatente e da passagem do 93º Ano da Batalha de La Lys, cerimónias que tiveram lugar no dia 9 de Abril de 2011, pelas 10,30 horas, no Largo dos Combatentes da Grande Guerra, em Lagoa, e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

O evento contou com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, bem como de entidades públicas e privadas, e com o seguinte programa:

10.20 horas - Chegada dos convidados ao local da Cerimónia e apresentação de cumprimentos, dos quais tendo observado:

Foto 1 – Recepção aos convidados, estando na esqª. e de costas o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio, ao centro o Presidente do Núcleo o Capitão Ap. Paulo Neto e na dtª. o Coordenador da logística do evento o Sargento-Mor de Cav. Fernando David.

Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio;
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Rui Correia;
Presidente da Junta de Freguesia de Lagoa, Francisco Martins;
Representante do Presidente da Câmara M. de Portimão, Vereador Jorge Campos;
Representante Comandante do Regtº. de Infantaria nº 1-Tavira, Major de Infª Oliveira;
Representante do Comandante do Destacamento da GNR de Silves;
Representante do Comandante do Posto da GNR de Lagoa, Cabo Aprovado Almeida;
Comandante do Bombeiros Voluntários de Lagoa, Vítor Rio Alves;
Comandante Interino dos Bombeiros Voluntários de Portimão, José Mestre;
Assistente do Agrupamento nº 511 do CNE de Lagoa, Padre José Nunes;

10.30 horas - Início das Cerimónias:

Foram dados toques regulamentares a cada passagem da Cerimónia, efectuados por elementos da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão.

Foto 4 – Grupo da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva e também sendo sócio da Liga dos Combatentes.

Foto 5 - Portas–Bandeira do Núcleo de Lagoa – Portimão e da Liga dos Combatentes
Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, CCav 742, Zala e Nambuangongo, Angola - 65/67 e o Fuzileiro Jacinto Guerreiro (Combatente em Angola e Moçambique)

Por parte do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes, Capitão Aposentado Paulo Neto, foi feita alocução e de onde foram retirados excertos:

Foto 6 – O Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, Capitão Aposentado Paulo Neto, sendo o palestrante. Da esqª. três camaradas da Associação Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira, Sargento-Chefe do RI 1 - Tavira, Major Oliveira, do RI 1- Tavira, Presidente da C. M. Lagoa Dr. José Inácio, Membro da Direcção do Núcleo Engº Rosa Silva, Sargento-Mor de Cavª Davide (Coordenador do Evento), Portas - Bandeira, Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, Fuzileiro Jacinto Guerreiro, Camarada da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra – Portimão e Camarada da Associação de Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira.

- A Liga dos Combatentes, a que nos honramos de pertencer, em cerimónias da responsabilidade da Direcção Central e dos Núcleos Regionais, comemora hoje em todo o País uma das suas datas mais significativas, a Batalha de La Lys, na Flandres, Norte de França e durante a Grande Guerra 1914/18.

- Em 09 de Abril de 1918, a 2ª Divisão Portuguesa, integrada no XI Corpo de Exército Britânico, sofreu um dos mais duros reveses da nossa História Militar. Aconteceu que o Exército Alemão desencadeou na zona da frente que guarnecíamos um muito vigoroso e sistemático bombardeamento com fortíssima concentração de artilharia, durante mais de 03 horas consecutivas, tendo disposto 10 Divisões de Infantaria frente aos 20.000 homens da 2ª Divisão do Corpo Português.

- Quero manifestar o nosso muito agrado, por ter pela primeira vez presente nestas cerimónias uma força militar do Regimento de Infantaria Nº1 – Tavira, o que significa especial empenho do Comando no relacionamento com os Núcleos e com a Sociedade Civil.

-Peço-lhe Sr. Major Oliveira, que transmita ao Sr. Coronel Comandante do RI 1, que tomamos a devida nota dos meritórios esforços de inter-acção com as populações da área da Unidade e também no campo das actividades culturais.

Prestação de Honras Militares em Parada, por um Pelotão do Regimento de Infantaria Nº1 – RI 1-Tavira e estando sob o Comando da Alferes Rodrigues.

Foto 7 – Sob o Comando da Alferes Rodrigues, o Pelotão está em posição de descanso arma.

As entidades oficiais foram convidadas a fim de depositarem coroas de flores, na base do Monumento em honra dos Combatentes oriundos do Concelho de Lagoa e falecidos no Ultramar Português, 1961/74. Seguindo-se o toque a mortos e salva de tiros.

Foto 10 – Deponde a coroa de flores, Presidente da C.M. Lagoa Dr. José Inácio, logo o Presidente do Núcleo Capitão Apº Paulo Neto e segue-se o Major de Infª Oliveira.

Foto 11 – Pelotão em posição de execução para a salva de tiros, em memória dos Combatentes falecidos.

Foto 12 – Em sentido e em continência pela memória aos mortos.

11.00 horas – As Entidades Oficiais deslocaram-se ao Cemitério de Lagoa, tendem deposto flores nas campas dos Combatentes oriundos da Freguesia de Lagoa, que combateram na Grande Guerra -1914/18 e no Ultramar Português.

Foto 13 – Aquando o Presidente do Núcleo Capitão Apos. Paulo Neto (em 1º plano), colocara flores na campa do Sold. Firmino A. Marques, que foi Combatente na Grande Guerra - 14/18. O repórter da Tabanca Grande é o último lado direito.

Foto14 – O Soldado Serafim Branco, C.Caç.2511, Angola 69/71, colocando Flores na campa de um Combatente do Ultramar e o ex-Fur. Mil. José Júlio Nascimento o municiador das flores.

Foto 15 – Capitão Apo. da GNR Domingues Garcia, depondo Flores no Jazigo de João B.Castelo Branco e o ex-Fur.Mil. Araújo Marcos, C.Caç.111, Ambrizete, Angola 61/63.

Foto 16 – Vice-Presidente da C.M. Lagoa Rui Correia, depondo uma flor no jazigo de seu pai, que falecera quando exercia funções de Presidente da Câmara M. de Lagoa.

Foto 18 – Assim ficou o Monumento, o qual edificado para perdurar em memória dos Combatentes falecidos no Ultramar Português – 1961/74 e aguardando uma visita dos que têm a felicidade de estarem vivos.

Do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, da Liga dos Combatentes, foram ditas singelas palavras e que se transcrevem:

- Por fim uma palavra de grande reconhecimento e gratidão à Câmara Municipal de Lagoa que nos acolhe, pelas atenções que nos têm dispensado e pela valiosa colaboração que tem prestado a este Núcleo ao longo dos anos. Sic.

- Esperamos manter e até melhorar o nosso relacionamento com a Câmara Municipal de Portimão.

Cumpre-me ter presente o notável desempenho desta Câmara na Grande homenagem Municipal ao saudoso Coronel Armando Maçanita, Herói Nacional, nosso Presidente de Honra. Sic.

Cordiais mantenhas para todos os Camarigos.

Com um Abraço
Arménio Estorninho
CCaç 2381, “Os Maiorais de Empada,”
Guiné 68/70
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7795: Álbum fotográfico do Arménio Estorninho (CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70): Cherno Rachide e a festa do fim do Ramadão, Bissau, 1970