Guileje, 4/2/73 [Carta]
Paizinho: (…) Aqui quase não dá para juntar dinheiro. Eu recebo 1300$00 por mês [, o resto ficava depositado no banco, na metrópole]. 100$00 vão para a lavadeira, cerca de 700$00 vão para o bar, para o alfaiate fazer calções, ajeitar roupa ao corpo, cerca de 50$00 por mês. O mês passado, 2 calções ligeiros que mandei fazer, foram 80$00 e, é claro, um gravadorzito que comprei e que é indispensável, também custa… Alguma caça que se compra para não se passar fome, também é dinheiro, selos, cartas, fotografias, etc.
Como vê… mas vai-se passando e não preciso de mais dinheiro. Claro que este já é o suficiente. Também os furriéis pagam umas cervejas de vez em quando aos soldados, uma garrafa de champagne (50$00) ou de vinho do Porto (35$00) que nós lhes oferecemos, assim como Alfero dá. É uma espécie de PSICO. É mesmo necessário tudo isto para nós os levarmos. Acredite, quem sabe somos nós que aqui andamos. (…) (*)
Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]:
1. Comentário de Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)
Respondendo ao pedido do Luís, fui procurar mais dados, não encontrando grandes coisa, a não ser um lapso significativo, assim:
Em carta minha datada de Santa Margarida, 23 Agosto de 1967, para a então minha namorada, rezava assim o meu espanto:
"Agora interrompi para fazer aqui umas contas de quanto vamos levantar para pagar as 'ajudas de custo e o adiantamento de vencimentos': São 1.043.350$00. Já viste bem quanto se gasta com esta guerra?".
Está escrito na carta que estou a ler agora.
O erro é grande, em vez de 1400 contos foram 1043 contos. E isto para ajudas de custo e um mês de vencimento. Segundo me lembro, não tendo a certeza, por isso quem souber que responda por favor, as ajudas de custo de embarque, correspondia a um mês de vencimento, logo este valor eram de 2 meses, e assim um mês de vencimento para um batalhão, rondava os 521 contos aqui na metrópole, isto é os 1043 contos na Guiné.
Agora é pôr o conversor da Prodata, e ver quanto dava hoje em 'OUROS'. Não esquecer a inflacção que se viveu em Portugal após o o 25A, que chegou a 35% ao ano.
O valor de 1043 contos dava uma média per capita de 1739$. Eu lembro-me que ganhava como alferes entre 5.500 e 6.000 escudos, não tendo a certeza. Isto era muita massa, para um salário mínimo dessa época de pouco mais de 500 escudos mensais.
Virgílio Teixeira
2. Comentário do editor LG:
Obrigado, Virgílio. Fui ao conversor da Pordata e verifiquei que os teus 1043 contos, em 1967, equivalem a 363.268,46 €, "a preços de hoje" (, ou seja, tendo em conta a depreciação da moeda)... Se um batalhão tiver 600 homens (4 companhias a 150 homens cada uma), dá qualquer coisa como 605 euros por cabeça...
Em carta minha datada de Santa Margarida, 23 Agosto de 1967, para a então minha namorada, rezava assim o meu espanto:
"Agora interrompi para fazer aqui umas contas de quanto vamos levantar para pagar as 'ajudas de custo e o adiantamento de vencimentos': São 1.043.350$00. Já viste bem quanto se gasta com esta guerra?".
Está escrito na carta que estou a ler agora.
O erro é grande, em vez de 1400 contos foram 1043 contos. E isto para ajudas de custo e um mês de vencimento. Segundo me lembro, não tendo a certeza, por isso quem souber que responda por favor, as ajudas de custo de embarque, correspondia a um mês de vencimento, logo este valor eram de 2 meses, e assim um mês de vencimento para um batalhão, rondava os 521 contos aqui na metrópole, isto é os 1043 contos na Guiné.
Agora é pôr o conversor da Prodata, e ver quanto dava hoje em 'OUROS'. Não esquecer a inflacção que se viveu em Portugal após o o 25A, que chegou a 35% ao ano.
O valor de 1043 contos dava uma média per capita de 1739$. Eu lembro-me que ganhava como alferes entre 5.500 e 6.000 escudos, não tendo a certeza. Isto era muita massa, para um salário mínimo dessa época de pouco mais de 500 escudos mensais.
Virgílio Teixeira
2. Comentário do editor LG:
Obrigado, Virgílio. Fui ao conversor da Pordata e verifiquei que os teus 1043 contos, em 1967, equivalem a 363.268,46 €, "a preços de hoje" (, ou seja, tendo em conta a depreciação da moeda)... Se um batalhão tiver 600 homens (4 companhias a 150 homens cada uma), dá qualquer coisa como 605 euros por cabeça...
Quanto aos teus 5,5 ou 6 contos mensais (, vencimento de um alferes no TO da Guiné,) corresponderiam hoje a 1.915,61 € / 2.089,75 €. (***)
PS - Já agora, Virgílio, é bom recordar que não havia salário mínimo, antes do 25 de Abril, nem muito menos mensualização dos salários (com exceção da função pública e de algumas grandes empresas de serviços)...
PS - Já agora, Virgílio, é bom recordar que não havia salário mínimo, antes do 25 de Abril, nem muito menos mensualização dos salários (com exceção da função pública e de algumas grandes empresas de serviços)...
Mas atendendo a que as jornas, no interior do país, nessa época, ainda andavam nos 20$00 / 25$00 diários (por exemplo, na construção civil de ramadas, no Marco de Canaveses), os teus valores (500 escudos mensais) não estariam longe da realidade...
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3370: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão
(**) Vd. poste de 20 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18860: Os 81 alferes que tombaram no CTIG (1963-1974): lista aumentada e corrigida (Jorge Araújo)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3370: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão
(...) Comentário de Virgílio Teixeira:
Por falar em dinheiro, por acaso sabem quanto o meu CA do batalhão levantou em Setembro de 67 para pagar ao pessoal todo, +/- 600 homens, ainda em Santa Margarida?
Vou dizer que eram 1400 contos, aquilo que o Ronaldo e companhia ganha sozinho em poucos segundos na guerra dele.
Esta verba seria na Guiné dobrada para o dobro, face ao aumento de 100%, isto é não chegava a 3000 contos. (...)
(...) Comentário de Tabanca Grandeão [Luís Graça]
Esses dados são muito interessantes, arranja mais... 1400 contos em 1967 equivaliam hoje a 467,8 mil euros...ver o conversor da Pordata...
(***) Último poste da série > 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
Vou dizer que eram 1400 contos, aquilo que o Ronaldo e companhia ganha sozinho em poucos segundos na guerra dele.
Esta verba seria na Guiné dobrada para o dobro, face ao aumento de 100%, isto é não chegava a 3000 contos. (...)
(...) Comentário de Tabanca Grandeão [Luís Graça]
Esses dados são muito interessantes, arranja mais... 1400 contos em 1967 equivaliam hoje a 467,8 mil euros...ver o conversor da Pordata...
(***) Último poste da série > 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)