domingo, 9 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)

Guiné-Bissau > Março de 2008 > O José Moreira, inspirador, fundador, presidente e líder da Associação Humanitária Memórias e Gentes, em acção (é o primeiro à esquerda, em primeiro plano, logo na primeira foto, de cima). Aparece a seguir, em mais duas fotos. Técnico Oficial de Contas, reformado, mora em Coimbra. Foi Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68). Fotos: © José Moreira (2008). Direitos reservados. “O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores” (Paulo Quintana) Apartado 453046-801 TAVEIRO (COIMBRA) Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt Telem.: 96 402 80 40 Associação sem fins lucrativos Matriculada na C.R.C. de Coimbra NIPC 508 343 461 Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias 

1. Mensagem de José Moreira, presidente da Associação Humanitária Memórias e Gentes, com sede em Coimbra: 

 Meu caro Luís Graça, Obrigado pelo teu mail (*). Antes de mais, quero informar-te que sou um assíduo frequentador do Blogue Luis Graça & Camaradas. Julgo não ser necessário enaltecer o trabalho incomensurável que tens feito na divulgação das memórias sobre a Guerra Colonial. Bem-hajas por isso!!! 

 Também sou um combatente da Guiné (não digo ex-combatente, pois sê-lo-ei até morrer). Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores Independente 1565 nos anos 66/68, hoje Técnico Oficial de Contas (reformado) e combatente das carências do povo guineense. Volvidos 37 anos voltei à Guiné, por terra, com os camaradas combatentes Camilo (Algarve) (**) e Xico Allen (Porto) (***) . 

Pois é, daí para cá e anualmente tenho calcorreado o caminho de Coimbra a Bissau, ida e volta. Nos primeiros anos, os jipes não tinham um buraco de agulha para levar mais donativos. Nestes últimos anos, já mais organizados, temos levado um contentor marítimo de 20 pés, este ano, já levamos um de 40 pés com 21.500 Kgs de material. Para Fevereiro próximo, contamos levar mais um de 40 pés (haja quem colabore). 

 Como calculas isto tem custos pessoais enormíssimos, mas a vontade de doar, ver um sorriso de uma criança, um agradecimento sincero de um professor ou uma lagrimazita de um responsável de uma instituição é muito gratificante, apagando assim, o sacrifício que se fez, quer físico, quer monetário. Atendendo à dimensão do projecto anual, em boa hora, foi constituída em Coimbra a Associação Humanitária – Memórias e Gentes de de que sou o Presidente da Direcção (o velho). 

Nos corpos sociais só tenho mais dois combatentes, a parte restante, curiosamente é malta jovem, isto porque lhes incuti o bichinho de [fazer] a viagem por terra e dar-lhes a conhecer o modo de vida nos países por onde passamos, como mostrar-lhes a amizade que o povo da Guiné sentem por nós. Penso que, um ano destes, quando já não puder, esta Associação tem pernas para andar (para a Guiné, claro!). 

É evidente que, fora dos órgãos sociais, temos muitos sócios combatentes na Guiné, só que estão espalhados pelo país, nomeadamente no grande Porto. Em relação à logística, é de facto muito complicado, desde a recolha de bens, encaixotar (fazer a triagem, dobrar, fechar 2.200 caixotes), transportar o contentor de e para Lisboa, grua para o retirar, para posteriormente voltar a colocá-lo no meio de transporte), empresa de navegação, despachante, alfândega, tudo isto é obra! E lá!!! … 

É uma semana para levantar o contentor do porto. É despachante, é Embaixada, é Ministério dos Negócios Estrangeiros, é o funcionário que tem os papéis, adoece e vai para casa com eles… No porto, os estivadores, quando se apercebem que é ajuda humanitária, tentam colocar o contentor por baixo de uma série deles, depois para o tirar, um vai buscar um cabo, outro e outros vão buscar os restantes cabos, outro vai buscar uma escada para prender os cabos, etc., são uns doze que querem CFAS, depois é a grua do porto que está avariada ou pseudo-avariada, depois são os contactos com o Director da Alfândega que diz que o papel ainda não chegou, outras vezes é o Despachante que também atrasa o desalfandegamento e por fim a falta de um camião que leve o contentor com o seu peso + 21,5 toneladas até à Cooperação Portuguesa. 

 Enfim, muitas vezes apetece-nos mandar o contentor para trás. Porque levar bens doados de Portugal para a Guiné e ter que pagar, é coisa que ainda não entendemos, dado que em Portugal nada ou quase nada se paga na exportação. No entanto, com a nossa persistência, vontade de ajudar, lá se consegue ultrapassar todas as “encrencas”. 

Já na Cooperação Portuguesa, somos nós que descarregamos o contentor, logo, começamos a fazer montes para cada entidade que nós muito bem já conhecemos, porque são credíveis, a saber: 

  • Escola do Bindouro (do Dr. José Manuel In-Ub, médico em S. João da Madeira); 
  • ADLLIN-Associação Deficientes Luta Libertação Nacional; 
  • ANFAP-Associação Militares Forças Armadas Portuguesas (este ano, foi o 1º e único donativo que receberam desde a guerra); 
  • ACLP-Associação Combatentes Liberdade da Pátria; 
  • Hospital de Cumura; 
  • Orfanato Casa Emanuel; 
  • AD (ONG) – Carlos Schwarz (Pepito); 
  • ASP-Associação Saúde em Português (estão em Bafatá); 
  • Bissorã – Júlio da Câmara; 
  • Manuel do Jugudul para esta povoação; 
  • Caritas da Guiné Bissau; 
  • Missão Católica de Quinhamel; 
  • Associação “Os Amigos de Varela”; 
  • Fundação Evangelização e Culturas(ONG); 
  • Drª Helena Castro-Programa Apoio Sistema Educativo Guiné-Bissau; 
  • Tabanca de João Landim; 
  • Escolas de Gabu; 
  • As Duas Tabancas no Saltinho; 
  • Custódia “S. Francisco de Assis” da Guiné-Bissau; 
  • Cooperação Portuguesa (que coopera com centenas de Liceus e Escolas), etc., etc.. 

Todas estas entidades são chamadas à Cooperação e, num só dia, fazemos a entrega, com a presença do Adido para a Cooperação, Adido de Defesa e funcionários da Embaixada e Cooperação e ainda para testemunhar, Rádios e RTP-África. 

 Em face disto, julgo ter dado uma ideia de quem somos e o que fazemos por aquela terra, que marcou as nossas vidas. Recebe um grande abraço do José Moreira(sou o que está numa das fotos, ao lado do Adido de Defesa) 

  2. Mensagem do Pepito, da ONG AD, com data de 31 de Março de 2008, remetida ao J. Moreira:

Assunto - Doação de material escolar a crianças da EVA de Djufunco 

 Caro José Moreira, Presidente da Associação Humanitária Memórias e Gentes A nossa ONG (http://www.adbissau.org/ ) tem tido, de há uns anos a esta parte, uma intervenção a nível do apoio a iniciativas comunitárias de educação escolar especialmente nas zonas rurais, mas também em Bissau. Por isso estamos em óptimas condições para poder aferir a importância da vossa contribuição em material escolar para crianças que frequentemente nem sabem de que se trata. 

 Muitas vezes nas nossa deslocações nas zonas rurais somos abordados por crianças que sem nunca nos pedirem um cêntimo, apenas clamam por uma "caneta" (vulgo bic). Desta forma penso que estará em condições de adivinhar a enorme alegria que a sua organização propiciou a centenas de crianças e jovens da Escola de Verificação Ambiental de Djufunco (ver site da AD) que este fim de semana receberam os vossos cadernos, de excelente qualidade, que lhes foram entregues. 

 Contrariamente ao que por vezes sucede com outros, desta vez, todo o material que a sua organização dou é de qualidade notável, e até nós, simples intermediários, nos sentimos orgulhosos de ter estado envolvidos numa acção que para além de demonstrar a vossa solidariedade, traduz também o respeito que têm por aqueles que pouco têm. 

 Contamos distribuir o restante material escolar e roupa pela Ludoteca de S.Domingos e Centro de Animação Infantil de Quelélé. Hoje enviamos-lhe um conjunto de fotos da entrega na EVA de Djufunco. Mais tarde, e à medida que se for entregando às outras instituições, vamos enviar-lhe as fotos respectivas. 

 Em nome das crianças um muito obrigado à vossa Associação. Carlos Schwarz Director Executivo da AD

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 200). Visita ao sul. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. O Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano). Tal como o José Moreira, pertenceu à CCAÇ 1565 (1966/68). Em Fevereiro/Março de 2008, foi um dos organizadores da Expedição Humanitária Portugal-Guiné Bissau 2008, que partiu de Lagoa e se juntou à caravana de Coimbra. 

 Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. 

  3. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (carsilva.advogado@sapo.pt): 

 Luís No ano passado fiz parte do grupo de Coimbra. Este ano estive envolvido de certa forma no MEPT de Portimão e no Simpósio. Quando regressei da Guiné, eu e um grupo de amigos [Carlos Silva, Fortunato, Adrião, Carlos Rodrigues, Paiva e Sousa e outros Camaradas] fundámos uma Associação. Já temos material para um contentor de 40 pés que vai partir em Fevereiro próximo.O grupo de Portimão está forte e vai com um contentor de 40 pés. Recomendo-te vivamente que vejas o nosso site: http://ajudaamiga.com.sapo.pt/ E o de Portimão: http://saude-alerta.blogspot.com/ 

 Em matéria de solidariedade com a Guiné, estou a ver que tens andado muito a leste, pois apenas foi dado para aí umas dicas pelo grupo do Porto, António Pimentel e Xico Allen e outros Camaradas que participaram este ano, e que publicaste em Fevereiro/Março/Abril passado. 

 Recebe um grande abraço Carlos Silva


 
Guiné-Bissau> Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao Cantanhez, no sul do país > 1 de Março de 2008 > Almoço na antiga povoação e aquartelamento de Guileje > O nosso camarada Xico Allen preparando-se para provar uma das mais populares bebidas servidas no decorrer do Simpósio, o pó di pila, feito à base do fruto da cabaceira. Julgo tratar-se de uma homenagem ao Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 (também conhecido, na giría dos guerrilheiros do PAIGC, como Bazuca Bichan, Lança Grande, Pau de Pila). 

 Foto: © Pepito / AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados. 

  4. Mensagem do Xico Allen: 

 Olá, amigo Luis. É para mim muito difícil começar a descrever o que se está a passar com mais esta deslocação com fins hunanitários. Como penso que bem sabes, não gosto das luzes da ribalta, sou mais do género de fazer e calar e deixar que sejam os outros a comentar. 

 Na verdade está na forja nova deslocação à Guiné organizada pela ONG Memórias e Gentes na qual com muito prazer me incluo e com a qual colaboro, apoiado pelo nosso camarada e Presidente da mesma, o incansável Zé Moreira. Está também assegurada a colaboração do Abreu que, com a sua influência uma vez mais vai arranjar o soro fisiológico na quantidade possível. (Este camarada passou por Tite em 72/74). Tambem já abordamos um amigo da Guiné no sentido de arranjar algumas cadeiras de rodas. 

 Conclusão: da minha parte, tudo vai rolando no sentido de que tudo seja bem encaminhado.Em tempo tentarei também transmitir o meu baptismo ( com um p... ) de fogo. Hoje fico por aqui, se achas que tem interesse, publica. 

 Um abraço Xico

  5. Comentário de L.G.: 

Querido José Moreira: agradeço-te muito penhoradamente o teu mail. Deixa-me dizer-te que apreciei muito o teu gesto, que considero muito bonito e humilde, de vir explicar aqui à gente como e porquê decidiste tornar-te um homem solidário com o povo da Guiné-Bissau. Dá perfeitamente para perceber que "ser solidário" não é para todos: levar contentores de material (roupas, medicamentos, alimentos, artigos escolares, etc.) até à Guiné, e deixá-lo bem entregue, ou seja, a quem dele precisa, é obra! Eu tinha uma ideia mas não imaginava quanta energia, coragem, imaginação, dedicação, tenacidade, nobreza, compaixão, etc., são precisas para que os nossos amigos e irmãos guineenses possam sorrir um pouco com os nossos pequenos gestos de solidariedade... 

 José: dispõe do nosso blogue para divulgares as tuas iniciativas que terão o todo o nosso apoio. Diz-nos como é que, nós, individualmente e em grupo, podemos colaborar, de maneira custo-efectiva, com a expedição de ajuda humanitária à Guiné-Bissua, em organização, e que deverá partir de Portugal em Fevereiro de 2009. Para já passas a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. A tua presença honra-nos. Com o Carlos Silva, o Xico Allen, o Zé Teixeira, o Zé Carioca, o Pepito e outros amigos e camaradas do nosso blogue que têm mais experiência e saber do que eu nesta matéria, vamos fazer o nosso melhor para que as tuas iniciativas e diligências sejam também nossas e sobretudo sejam bem sucedidas.

 ___________ 

 Notas de L.G. :


(...) Amigos e camaradas da Guiné: Eu proponho que o Xico, com apoio eventual de outros camaradas, ligados a projectos solidários na Guiné - como, por exemplo, os nossos dois Zés (O Teixeira e o Carioca), mas também os nossos parceiros privilegiados na Guiné, a ONG AD, do Pepito - nos dêem ideias concretas, ao nosso blogue, à nossa Tabanca Grande, sobre a melhor maneira de colaborar nesta ou noutras iniciativas do género. Já agora também era importante conhecer melhor o trabalho dos nossos camaradas da Associação Humanitária Memórias e Gentes: com quem cooperam, que regiões ou localidades ou instituições cobrem na Guiné, que tipo de ajuda privilegiam, que sugestões fazem sobre como fazer chegar as nossas doações, que garantias temos que as coisas não vão parar às mãos das máfias locais e ao mercado de Bandim, etc. Como imagino, o mais complexo de uma operação destas é a logística... e a ligação com o terreno. Mas para já daqui vão as minhas melhores saudações para o J. Moreira e a sua equipa. Luís Graça (...).

(**) Vd. postes de: 




Guiné 63/74 - P3427: Em bom português nos entendemos (5): Estórias com história... ou deixem-se de estórias / histórias... (Manuel Amaro / Jorge Cabral / Jorge Teixeira-Portojo / Torcato Mendonça / J. M. Matos Dinis / J. L. Mendes Gomes / Luís Graça)

Blogcomentários sobre o tópico história e/ou estória, a que se refere o Poste P3417 (*):


(i) Manuel Amaro

Meu caro Luís Graça:

Eu nunca escrevi a palavra estória, a não ser em situações como esta, em que acabo de escrever estória.

No entanto, fui convencido, em Junho de 1980, pelo meu amigo Fernando Assis Pacheco, jornalista e escritor, já falecido, que o uso da palavra estória em nada diminuía a história, desde que cada uma fosse colocada no seu "galho". Aceitei, aceito, já votei no blogue, pela continuidade das estórias.

Por outro lado, há dias, ao seleccionar o título para um livro de poesia, optei por "histórias contadas em verso" em vez de "estórias contadas em verso".

Concluindo, acho que é um pouco como os "piercings" ou os brincos, ou o cabelo em "crista de galo"... eu não uso, mas não vejo qualquer inconveniente em que se use...

Mais, creio que o Camões ou o Pessoa, não devem ser chamados para esta questão.
Quem sabe, um dia destes, ainda vou escrever umas estórias para o blogue.

Um Abraço

Manuel Amaro


(ii) Jorge Cabral

Amigo!

Por mim conto estórias.. Quanto ao Pulo Genético...claro, sempre me achei com cara de Mamadu..
Abraço Grande. Jorge


(iii) Henrique Matos

Concordando plenamente com o que o Luís escreveu, só me resta dizer: Se as "estórias cabralianas" fossem história não tinham o mesmo sabor.

Abraços
Henrique Matos


(iv) Jorge Teixeira (Portojo)

Sobre a "estória": Li esta palavra a primeira vez no Jornal A Bola há muitos anos, numa crónica do saudoso Carlos Pinhão, creio que na última página da edição de sábado,-nessa altura o Jornal publicava-se tri-semanalmente no espaço A Duas Colunas.

Como nessa época, os jornalistas, além de saborosas crónicas que nos davam a ler, sabiam imenso da nossa língua. Carlos Pinhão fazia parte da regra. Por isso estranhei aquela palavra. Dias depois li a explicação porque se escrevia "estória" e não história.

Li agora, aqui num comentário, exactamente a mesma descrição da palavra. Por isso, votei a favor da sua manutenção, desde que devidamente correcto o seu sentido. Mas isso depende de cada um de nós.

Um abraço para toda a Tabanca.
Jorge Portojo

(v) Torcato Mendonça

Escrevi uma Declaração de Voto. As pressas dão em vagares e a dita foi-se. Concordo com o Comentário ao Post (ou Poste) sado no blog (ou Blogue????´).

Não me alongo mais: ALINHO LETRAS QUE SÃO ESTÓRIAS E NUNCA ESCREVO HISTÓRIA OU SOBRE ELA.Era ser vaidoso e não sei escrever...

Abraços
Torcato

(vi) José Dinis

Obrigado, Luis Graça, pela investigação sobre o étimo e a tradição do vocábulo "estória". Por outro lado, a língua como forma de expressão, é dinâmica, evolutiva, muito embora se façam distinções entre a linguagem popular e a erudita, dos cultos, e a escrita vai-se ajustando.

No texto que ontem enviei, fiz referência a jogos de futebol, e a estórias concomitantes. Estórias marginais , sem qualquer interesse para o grande estudo que se possa fazer da guerra colonial, que apenas servem para ilustrar pedaços da permanência das NT, sem a ambição, ou glória, de fazer história. Ao contrário, o acidente aéreo que vitimou P.P.Leite, esse é histórico, pois influenciou o desenrolar político da nação.Eis o meu ponto de vista, pois falta-me o necessário conhecimento científico para afirmar convictamente.

Um abraço

José Dinis

(vii) Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes


Eu cá não gosto de ser como o caraguejo. O caminho é para a frente. Se "estória" já valeu no linguajar da sua época, remota, e se por evolução fonética passou para a forma actual de " história" então fixemo-nos na forma actual. De contrário é recuar...

O facto de Mia Couto, Luandino Vieira a terem usado nos seus escritos, é lá com eles...A língua não pode andar ao sabor dos caprichos de cada qual. A língua é um código de comunicação entre as pessoas que a perfilham. No qua está nos códigos só se pode alterar pelos órgãos competentes e com deliberação muito qualificada.Se não vamos voltar a dizer que "pluviou" em vez de "choveu"... Água...já há demais.

Um abraço para todos, especialmente para quem discordar do meu ponto de vista.

Joaquim Mendes Gomes



(viii) António Matos



Depois de tanto ler àcerca da polémica, não tive outro remédio senão enfiar o capacete e assim me proteger de alguma roquetada pela opinião que transmitirei.
Eu uso os 2 grafismos e dou-lhes significados diferentes.

Estou perante as chamadas palavras homonímicas (a homonímia é definida como a propriedade semântica característica de duas unidades lexicais que partilham a mesma pronúncia, mas que conservam significados distintos).

Cá para mim o léxico "história" reflecte o conjunto das estórias;
Um conjunto de histórias nunca vai dar a uma estória.

E esta, hem ?

António Matos

(ix) De novo o Torcato Mendonças

Assunto - Que raio de estória!

Meus Caríssimos Editores:

Não gosto e, menos ainda fazer, a outros, perder TEMPO. Não gosto muito de "purismos"; "fundamentalismos" e outros "ismos". Não gosto de sondagens.
Razões, agora não! Fiquei com a história e a estória atravessadas... isso não é aceitável para mim... feitios...

Logo no primeiro dia lembrei-me de ter lido, escrito por um antigo Professor de uma Faculdade Estatal, um livro, uns escritos... Preguicei e não fui procurar. Mas remoía comigo, dava-me a volta, abria o blog ou blogue e lia...logo á esquerda...e disse: vai procurar, já!

Depois, parei e disse: mas aí, na tua frente nesse portátil tens informação suficiente. Perante isso teclei "Urbano Tavares Rodrigues". Facilmente, com uma simples tecla: O Senhor Professor escreveu em 1977 Estórias Alentejanas.

Obviamente nada mais digo sobre o Homem e o Escritor. Acrescento só: (de outra fonte de informação):

(a) Estória, s.f. - arcaísmo que se procura revitalizar para, em contraste com história (baseada em documentos), significar narrativa de ficção;

(b) Estória, s.f.- história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta.

Perder mais tempo? Eu "escrevo" estórias de Mansambo; do José; Pensar em Voz Alta, Fotos Falantes ( textos de suporte a fotografias da minha passagem pela Guiné - uma foto são mais que mil palavras...); Bloterapia, em escape à "bolha" que me acompanha e, de quando em vez "pluff". Ou outros escritos que nada têm a ver com esta Tertúlia (também não gosto de Tabanca Grande)...

Não vou procurar, devido ao fim-de-semana, quem, de pronto, rindo ou sorrindo, me informaria.

Abraços ou tri-abraços do Torcato (ou Torquato?) ou do José.

Escrevo estórias e escritos afins...são a minha verdade, a minha visão de acontecimentos passados mas que eu sinto serem verdadeiros! Escrevo outros escritos, relatórios e por aí fora, suportados por documentos e saberes adquiridos...também não são histórias ou estórias...mas custam muito €€€€...

Abraços



(x) Luís Graça


Caros amigos e camaradas da Guiné: Se fizerem uma pesquisa no Google, verificam que a expressão "Deixem-de histórias" (com aspas) ganha, por 264 contra 34, à expressão "Deixem-se de estórias"... O Google é democrático... Será ?

Em contrapartida encontrei apenas 13 referências às "estórias cabralianas"!!! Não é muito, mas também não é mau, para um escritor ordinário (no sentido em que ainda não é extra)... Fico simultaneamente feliz, por ele (que eu admiro e que faz o favor de ser meu amigo). Mas fico também intrigado... Eu, pela minha parte, já lhe publiquei, no nosso blogue, meia centena das ditas cujas... E não tenciono ser linguisticamente correcto, no sentido de substituir vir a substituir estórias por histórias...

Estou como o Henrique Matos, não imagino o Jorge a escrever "histórias cabralianas"... Mas também sei que um dia hei-de apresentar o livro dele e começarei justamente com as seguintes palavras:
- Estas são estórias com história...

Quanto às histórias de Mansambo, meu caro Torcato, a culpa é tua e minha, por que fomso nós que as ba(p)tizámos:

"Início de mais uma série de estórias do Torcato Mendonça que foi Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69. Vamos chamar-lhe estórias de Mansambo, aquartelamento construído heroicamente, de raíz, pelo pessoal da CART 2339" (LG).

"Começo então pela… Dança dos Capitães. Uso as iniciais dos nomes. O nome completo será enviado ao Luís Graça, no fim de cada estória. Não é medo. Creio que muitos estão vivos e, devido a um texto recente, achei preferível fazer assim. Assunto a resolver quando do envio. Assumo tudo o que escrevo e, uma vez enviado, deixa de ser meu. Ou seja, o Luís Graça publica ou não da forma que entender" (TM)...
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3417: Em bom português nos entendemos (4): Ele há histórias e estórias... (Norberto Gomes da Costa / Luís Graça)

sábado, 8 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3426: Álbum fotográfico do Renato Monteiro (5): Bafatá, 1969: a igreja, o hospital, o mercado, as mulheres, o pilão

Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1969 > Foto 6 > "Acaso não tropeçasse nesta foto, diria nunca ter entrado numa das igrejas de Bafatá, num dia de Junho do ano de 1969".

Guine > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 16 > "Camarata de uma instituição religiosa, em Bafatá. As bonecas por cima das camas podiam lembrar namoradas à espera"... [Renato: Não seria o hospital de Bafatá, que pertencia uma congregação religiosa ? LG]

Guiné > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 17 > "Mercado de Bafatá. Os tomates e os limões eram pouco maiores que as nozes. Mas rivalizavam com o colorido das vestes das mulheres"

Guiné > Zona leste > Bafatá > 1969 > Foto 8 > "Uma vendedeira de peixe, com o filho ao colo, no mercado de Bafatá".

Guiné > Local desconhecido [ Contuboel, Piche, Xime, Bafatá ?]> 1969 > Foto 15 > "O batucar do pilão ouvia-se por toda a Guiné…ainda hoje o ouço!

Fotos (e legendas): © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados (*)

(Continuação da publicação do álbum fotográfico do Renato Monteiro (**), ex-Fur Mil da CART 2479, depois CART 11/CCAÇ 11, Contuboel e Piche, 1968/69, e da CART 2520, Xime, 1969) (***)

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

(**) Vd.postes anteriores desta série:

13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3199: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (1): Contuboel (1968/69)

16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3210: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (2): O mítico cais do Xime (1969)

2 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3263: Álbum fotográfico do Renato Monteiro (3): Xime, o sítio do meu degredo

30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3382: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (4): Rio Udunduma, destacamento do Xime

(***) Vd. posts relacionados com a CART 2479 (que deu origem à CART 11 e depois CCAÇ 11) e o meu amigo Renato Monteiro, com quem privei, durante um mês e meio, em Contuboel (Junho/Julho de 1969):

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

6 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2412: História de vida (8): Renato Monteiro, um homem de múltiplos... fotografares (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

1. Comentário deixado por A. Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio, já falecido, no poste 922 (*).

Ao pesquisar este blogue foi com alegria e muita saudade que encontrei uma foto do meu querido pai Gregório Gil Gaudêncio.
Ao reler estes textos, que me fizeram relembrar as histórias um pouco mais fantasiadas que o meu pai contava da guerra na Guiné, deixaram-me saudosa, pois o meu pai infelizmente já não se encontra entre nós e agora faz parte do nosso imenso céu como uma brilhante estrela.

Gostaria de ter mais fotos onde ele aparecesse se fosse possível.

Obrigada
A.Gaudêncio


Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1972 > No Cine Gabu, da esquerda o Gregório Gil Gaudêncio, o António e o Graça (mais tarde seu compadre, padrinho do seu filho Pedro).

Foto de António Santos, editada por Carlos Vinhal


2. Comentário de CV

São mensagens como esta que nos dão forças para continuar este trabalho tão absorvente, mas compensador.

Apelo ao António Santos para, no caso de ter mais fotos onde apareça o Gaudêncio ou outros pormenores que julgue úteis para dar a conhecer a esta nossa nova amiga, faça chegar até nós para publicarmos.

À nossa nova filha pedimos, se nos ler, que nos contacte para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com para fazermos chegar até si o que se conseguir obter sobre o seu pai.
_______________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P922: Memórias do Pel Mort 4574 (A. Santos): O mauzão do Hitler de Nova Lamego

Guiné 63/74 - P3424: 16.000 minas montadas entre Bula e S. Vicente (António Matos, ex-Alf Mil, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

Como sobrevivi a um campo de minas 

António Matos ex-Alf Mil CCAÇ 2790 Bula, 1970/72

Já por várias vezes referi neste blog à minha interferência na montagem dum campo de minas no terreno que ladeava a estrada Bula - S.Vicente, mas para uma melhor compreensão de quem o não saiba, vou tentar dar uma ideia mais precisa dessa realidade.

A estrada Bula-S.Vicente tinha uma extensão de cerca de 16 kms e ao longo dela realizavam-se caravanas de transporte de populações para além das patrulhas militares. A Guiné é constituída por uma morfologia de terreno plano, sendo que a maior altitude se cifra nos 300 metros, num planalto do maciço do Futa Djalon o que, em termos militares, dificultava a orientação por falta de referências. De um e de outro lado da referida estrada existiam dois pontos estratégicos: Ponta Matar, a oeste, e Choquemone, a leste.

Ao tempo, 1970/72, estes locais albergavam guerrilheiros que procuravam mantimentos perto de Bula (tabancas de Capunga, Pete, Ponta Consolação, Augusto Barros e Mato Dingal). A minagem justificava-se para obrigar o IN a utilizar as passagens que estivessem "vigiadas" 24 horas por dia pelas nossas tropas. Para essa tarefa formaram-se várias equipas de especialistas uma das quais, liderada por mim.

Estávamos em Outubro de 1971

Estratégicamente, pretendia-se minar todo o lado leste da estrada, desde o km 4 até ao km 13. Tecnicamente, a implantação das minas seria em duas fiadas mais ou menos paralelas. Obtido o azimute desde o ponto de referência inicial do troço até ao ponto final do mesmo, mediam-se os primeiros 3 metros nessa linha imaginária; aí, e perpendicularmente a essa linha, mediam-se 1,5 metros onde se abria um buraco com a ajuda da faca do mato, que albergasse a mina anti-pessoal de fragmentação, portuguesa, ficando apenas a descoberto, as 3 finas pontas finais as quais, uma vez pisadas, despoletariam toda a sequência de deflagrações por simpatia até que a última, a do bloco de trotil onde se encaixava o detonador, faria os piores e mais hororosos estragos à infeliz vítima. Uma vez colocada esta mina, metálica e detectável com o detector eléctrico, mediam-se novamente 1,5 metros quer para a esquerda, quer para a direita quer ainda para a frente dela e, em cada uma destas localizações, montava-se uma mina anti pessoal de sopro, italiana, de seu nome Encrier.

as mãos...

Regressando à linha imaginária entre as duas referências, mais 3 metros e repetia-se toda esta sequência, embora para o lado contrário. Se se imaginar agora que, paralelamente, seguia uma outra linha imaginária com o mesmo esquema e número de minas, fácil é de calcular que a densidade por metro quadrado não dava grandes hipóteses de se passar sem accionar um destes engenhos. Todo este trabalho era simultâneamente acompanhado da feitura dum croqui que permitisse a todo o momento procurar, verificar, substituir, ou levantar o que fosse necessário. Claro que as precauções eram imensas! Desde logo porque todo o manuseamento dos engenhos era, já de si, susceptível de disparo inadvertido; depois porque as Encrier eram quase que deixadas à superfície o que não impedia que qualquer bicho ao farejá-las não levasse com ela nos queixos e por ali ficasse; a própria época das chuvas se encarregaria de as deslocar (dificultando perigosamente a sua localização à posteriori); os azimutes tinham de ser extremamente bem conseguidos sob pena de 1 grau de desvio representar uma grande amplitude de erro ao longo da linha imaginária; finalmente, a formação do bagabaga em cima das ditas tornava a operação de resgate uma tarefa imprópria para cardíacos! No total montaram-se cerca de 16.000 minas e, a par de alguns indígenas, e de diversos macacos, houve também vários camaradas acidentados.

a imagem Google (clicar para ver em tamanho mais aceitável) mostra esquematicamente a localização e extensão deste campo de minas. Infelizmente, na guerra, a "cunha" era tão omnipresente como no quotidiano e, como sempre, ganha o mais poderoso ainda que, posteriormente, não se evitem lágrimas de crocodilo para aligeirar "os remorsos".

Os campos de minas não se levantam, passam-se

Quero eu com isto dizer que, sendo dos livros que um campo de minas não se levanta, passa-se (para isso existem os croquis), aparecem sempre ombros estrelados que, por cagaço, incompetência e/ou mera prepotência, mandam os livros às malvas e impõem a lei do mais forte! Foi também o que aconteceu com esse campo de minas o qual teve que ser levantado (antes da guerra acabar!!!) apenas porque sim! Essa operação tornou-se um verdadeiro inferno em muito ajudado pela incompreensível condescendência admitida aos comandos dos piriquitos numa altura em que o fim da nossa comissão estava a chegar. Diariamente seguíamos para o campo com um espírito negativista devido à cadência dos acidentes e não raras vezes os vivi a uma distância de alguns poucos metros e mesmo alguns centímetros. E PUM!

Uma vez mais por meros motivos de memória futura destapo o baú das minhas más recordações e relato uma dessas ocasiões.

O Alf António Matos com o detector...

Tinha sido já detectada (por detector) a mina de fragmentação e propunha-me descobrir as outras à base de picagem do terreno. Simultâneamente, outro elemento de outra equipa (Furriel José Abreu, sapador) ocupava-se de idêntica operação no cacho (conjunto das 4 minas) contíguo; mais ao lado, um terceiro camarada (Furriel Santos) num 3º cacho. Eram evidentes as dificuldades em encontrá-las uma vez que essas minas estavam todas deslocadas das posições habituais por via das chuvas que, entretanto, tinham caído. Uma operação que normalmente demorava uns escassos minutos a neutralizar, prolongava-se, neste caso, há mais de 1/2 hora! Ordenei várias paragens para verificação de possíveis más colocações nossas mas não era o caso.

Repentinamente, PUM! e dou por mim caído no chão com o Abreu muito perto também estatelado . Os primeiros momentos foram de horror com a perspectiva das consequências. Recuperada a lucidez possível, perguntei ao Abreu se tinha sido ele a pisá-la, e o pânico apoderou-se dele perante essa expectativa. Não teve coragem para confirmar e então comecei eu a temer pela minha sorte. A dúvida de ambos é algo impossível de descrever pelos sentimentos provocados. Era imperioso esclarecer a situação e a muito medo cada um teve de certificar-se se ainda era possuidor de ambos os pés ou mesmo de ambas as pernas. É nessa altura que o camarada Santos, ali do outro lado, começa a dar sinais de ter sido ele a vítima. Havia que o ajudar de imediato mas não podia esquecer que estávamos caídos num campo de minas e qualquer gesto menos pensado podia transformar a ocasião num verdadeiro mar de sangue pelo possível rebentamento de vários outros engenhos. Tratei de localizar a nossa posição ao camarada enfermeiro (Aprígio) e "conduzi-lo" até nós via rádio. Esta tentativa demonstrou-se pouco prudente e optámos por levar o Santos para a estrada afim de ser socorrido. Uma vez aí, e perante um odor nauseabundo a carne humana assada, conseguimos pô-lo a soro e proceder à sua evacuação. A adrenalina só descarregou um par de horas mais tarde, no quartel, mas no dia seguinte, qual trapezista de circo que cai, voltamos para desafiar a sorte. Deus ajudou-me ! Estou inteiro! António

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  Notas: 1. Imagens e texto de António Matos.

2. Sublinhados e subtítulos da responsabilidade do editor. 2. artigos do autor em 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

Guiné 63/74 - P3423: Notícias da trasladação de José Maria Fernandes Carvalho


1. Caros Tertulianos. Só uma pequena nota para dar conta de mais um adiamento na chegada dos restos mortais do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho a Portugal.

Segundo o que me disse o camarada Albano Costa, só no Aeroporto Sá Carneiro, a família e os amigos tomaram conhecimento de mais este adiamento. Problemas burocráticos ligados à falta da assinatura de alguém da Polícia local, impediram que o nosso camarada regresse ao seu definitivo repouso.

Lamentamos, pela família, estas horas difíceis que estão a viver. Para quando um luto em paz e definitivo?
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Vd. poste de 7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3421: In Memoriam (12): Cerimónias fúnebres do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho

Guiné 63/74 - P3422: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (2): O exemplar nº 1, autografado, dedicado à malta do blogue

Dário da Guiné, 1969/70: O Tigre Vadio. Dedicatória do Beja Santos: "Exemplar nº 1 do Luís e de toda a malta do blogue. Para o Luís Graça, querido camarada, verdadeiro impulsionador deste livro, grande responsável pelo que aconteceu na minha vida nos últimos 2 anos, o muito obrigado e a profunda admiração do Mário Beja Santos" (*).

O livro, com 440 pp., tem um prefácio (pré-texto) de Luís Graça e é profusamente ilustrado com fotografias dos seguintes amigos e camaradas da Guiné (por ordem alfabética):

A. Marques Lopes, Albano Costa, Carlos Marques dos Santos, Cristina Allen, David J. Guimarães, Henrique Matos Francisco, Humberto Reis, Jales Moreira, Joaquim Mexia Alves, José António Viegas, José Teixeira, Luís Moreira, Mário Beja Santos, Maurício Esparteiro, Raul Albino, Sousa de Castro, Sousa Pires, Torcato Mendonça.

O autor agradece "penhoradamente aos camaradas que publicaram as suas fotografias no blogue 'Luís Graça & Camaradas da Guiné' e deram autorização [, na pessoa do editor Luís Graça,] para a sua publicação neste livro que igualmente lhes pertence". Há uma menção "muito especial ao 'fotógrafo' militar ao Humberto Reis, pois, em muitas circunstâncias, foram as suas imagens que ambientaram e avivaram o regresso ao passado" (p. 8).

Penso que é chegada a altura de homenagear aqui a Cristina Allen, a ex-esposa do nosso camarada Beja Santos, e mãe das suas duas filhas. Foi graças à preservação e à posterior cedência das cerca de 500 cartas e areogramas que ele lhe mandou, que o nosso amigo e camarada Mário Beja Santos pôde escrever este e o anterior livro sobre a sua experiência humana e militar na Guiné (1968/70). Ao longo de dois anos, a Cristina esteve de tal maneira presente no nosso blogue, que vamos agora ter saudades dela, e sentir o vazio que será a sua ausência no futuro.


Para compensar ou prevenir essa perda, tomo a liberdade de anunciar que é uma honra, para nós, tê-la como membro da nossa Tabanca Grande. Seja bem vinda, Cristina! Espero que não interprete como intrusivo e abusivo o nosso gesto. O Mário e a Cristina viveram uma história de amor em tempo de guerra, que nós acompanhámos semana a semana, durante dois anos. Retrospectivamente. Uma história bonita, como todas as histórias de amor, que tivemos o privilégio de conhecer através das suas cartas e areogramas. Não é, não foi voyeurismo. Você e o Mário deixaram-nos entrar na vossa intimidade. Com elegância, com discrição. Muitos de nós revivemos igualmente as nossas histórias de amor. Temos para consigo uma dupla dívída, o ter deixado partilharmos esse período das vossas vidas, e o ter salvo esse notável espólio documental, que é a colecção das suas cartas e areogramas, de que sou fiel depositário, com a obrigação de um dia doá-lasao Arquivo Histórico-Militar. Por tudo isto, que é muito, o nosso muito obrigado, Cristina.

Contracapa do último livro do Beja Santos, Diário da Guiné, 1969-1970, O Tigre Vadio. O lançamento da obra será no próximo dia 11 de Novembro, 3ª feira, às 18.30h, no Museu da Farmácia, sito no Bairro Alto, Rua Marechal Saldanha, nº 1. A apresentação será feita pelo jornalista António Valdemer e pelo general na reforma Mário Lemos Pires. Este acto será antecedido, às 1630h, pela cerimónia da doação de peças históricas ao Museu da Farmácia e visita E às 18h, por um concerto de korá com o guineense Braima Galissá.





Ciclo de conferências "Memórias Literárias da Guerra Colonial". Biblioteca-Museu República Resistência, Lisboa, 19 de Outubro de 2008. Apresentação do livro do Beja Santos: "Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó". Excerto.

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (10' 59') alojado em: You Tube >Nhabijoes

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Nota de L.G.:

*) Vd. poste anerior desta série > 5 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3409: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (1): Entrevista à Gazeta das Caldas

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3421: In Memoriam (12): Cerimónias fúnebres do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566, falecido por motivo de doença em Agosto de 1966

José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566, que faleceu por motivo de doença em Agosto de 1966. Esteve sepultado até agora na campa n.º 25 do Cemitério de Bolama.


1. Caros camaradas e amigos tertulianos:

De acordo com as últimas informações fornecidas pelo nosso tertuliano Albano Costa, os restos mortais do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho chegam ao Aeroporto Sá Carneiro amanhã, dia 8, pelas 9 horas da manhã, seguindo para a Capela de S. Sebastião, em Travanca, Amarante.

O funeral realizar-se-á na próxima Segunda-feira, dia 10, pelas 15 horas.

2. Transcrevemos parte do resultado das pesquisas do nosso camarada José Martins, sobre a CCAÇ 1566 e a morte do nosso camarada José Maria, inserido no poste 3389 (*).

O Soldado José Maria Fernandes Carvalho era natural da freguesia de Aião concelho de Felgueiras. Era solteiro e filho de Luís Carvalho e Glória Fernandes. Foi mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2, em Abrantes, e incorporado como Soldado Atirador na Companhia de Caçadores n.º 1566.

Esta unidade, comandada pelo Cap Mil Inf António dos Santos Paula, embarcou em 20Abr66, tendo chegado à Guiné a 26 do mesmo mês.

Após curta permanência em Bissau, na dependência do BCaç 1876, a fim de substituir temporariamente a CArt 676 na segurança e protecção das instalações e das populações da área, efectuando, simultaneamente, a instrução de aperfeiçoamento operacional na região de Mansoa.

Em 30Abr66, cedeu, temporariamente, um pelotão para reforço da guarnição de Pelundo, na dependência do BCav 790 e depois do BCaç 1877, onde se manteve até 26Jun66.

Foi durante a permanência em Mansoa, em 22 de Maio de 1966, que a unidade teve contacto com o IN, tendo falecido por ferimentos em combate o Soldado Atirador José Luís da Costa Almeida, natural da freguesia de Moreira de Cónegos, concelho de Guimarães, solteiro, filho de José de Almeida e Laurinda Pereira da Costa, tendo o seu corpo sido inumado no cemitério de Delães, Vila Nova de Famalicão.

Em 30Mai66, iniciou o deslocamento dos seus efectivos para Jabadá, tendo seguidamente rendido a CCaç 797, assumindo, em 03Jun66, a responsabilidade do subsector de S. João, incluindo o destacamento de Jabadá e ficando integrada no dispositivo de manobra do BCaç 1860 e depois do BArt 1914.


Foi neste período, em 25 de Agosto de 1966, que o camarada José Carvalho, veio a falecer vítima de doença.

No mesmo dia e na estrada de S. João – Nova Sintra, faleceu vítima de ferimento em combate, em consequência do rebentamento de um fornilho In o Soldado Condutor-Auto / Transmissões Francisco António Fernandes Lopes, natural de Estombar, concelho de Lagoa, solteiro, filho de Francisco Fernandes Lopes e Maria Rosa Fernandes.

Estes dois militares foram inumados na Guiné, no cemitério de Bolama, cabendo ao Francisco Lopes a campa n.º 24 e a José Carvalho a campa n.º 25.

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Nota de CV

(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3389: In Memoriam (9): Trasladação de José M. Fernandes Carvalho: as diligências de José Martins

Guiné 63/74 - P3420: História da CCAÇ 2679 (6): Piche, novamente (José Manuel Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 6 de Novembro de 2008, com mais um capítulo da História da CCAÇ 2679.

Carlos,

Volto a dar-te trabalho. Aqui vai um novo conteúdo da 2679, basicamente do 2º. pelotão, na medida em que a minha memória não é tão abrangente quanto gostaria, e, por outro lado, não tenho tido a colaboração desejada sobre os restantes. Ainda assim, porfiando, pode ser que outros venham a terreiro.

Para o pessoal da Tabanca Grande e, para ti em especial, aquele abraço.
José Dinis

Piche, novamente.

O Guerra avisou-me de que faríamos a emboscada nocturna, para compensar outro pelotão que saíra duas noites consecutivas. Logo hoje, pensei, que tivemos uma coluna chata, cansativa, e tinha estado nos copos na expectativa de um resto de dia tranquilo. Como se naquela circunstância fosse possível planear os dias. Não era. O almoço, por tardio, consistia no resto da bianda com estilhaços, e não fora convidativo, pelo que, no bar, tomei uma lata de leite condensado, de origem holandesa, que fazia pof a cair no estômago, e, a seguir, para compensar aquela doçura excessiva, emborquei um whisky duplo. Depois, na conversa, bebi mais um bocado do destilado escocês, vulgo, scotish. Quase não comera durante o dia. Já um pouco enebriado pela acção etilizadora, fui avisar o pessoal na caserna, e pedi que antes da saída fossem ao meu quarto acordar-me, pois ainda tencionava aproveitar uma horita de sono.

Era assim, naquele tempo glorioso da Guiné. A alimentação era má e, por vezes dispensável. Cada um safava-se, ou esperava pela próxima refeição, a ver se compensava. Em contrapartida, em Piche, a qualquer hora do dia dispúnhamos de variadas e boas bebidas, tudo em doses de fartura. O que o governo fazia para nos apaziguar os espíritos.

Quando acordei o dia declinava e achei estranho não ter sido acordado. Pior ainda, pensei que o pessoal tivesse ignorado a saída, e isso representaria uma bronca com o Drácula, sempre pronto para a distribuição de porradas. Nestas dúvidas preparei-me para a noitada, sempre o mais ligeiro possível, apenas com as cartucheiras no cinto, a prender a camisa dentro das calças. Agarrei o quico e a espingarda, fui à parada, onde não havia sinais do pelotão.

Fui à caserna, e informaram-me que tinham saído. Cabrões, abalaram sem me dizer nada, cismei enquanto me dirigia à porta de armas. Aí indicaram-me que o pessoal seguira pela estrada de Buruntuma, e teriam saído um bocado antes.

Fiz-me pela estrada fora à procura de sinais, sem saber se teriam tomado alguma outra direcção a partir da estrada. Em passo apressado, porque a noite anunciava-se iminente, em breve detectei o cagaçal alegre do Foxtrot, e quando me juntei a eles, tratando-os com a elegância de quem se sentia traído por não ter sido acordado, o Guerra lembrou-me que devia estar agradecido por isso, e que só um tonto se metia à estrada quando podia ficar no bem-bom. Se queria outra consideração, que não me embebedasse, que ninguém se esquecera de mim. E que tivesse calma, que havia muita guerra para me distrair.

Futebóis

Um belo dia participei num jogo de futebol. A coisa deve ter corrido bem, pois o pessoal apreciou as minhas qualidades. Logo o major comandante de operações, o tal que frequentava a Praia da Rainha em Cascais, designou-me para capitão de uma equipa, enquanto ele capitaneava a outra, e assim, aos domingos, muito cedo, passámos a praticar entusiásticas partidas de futebol, com início, parece-me, pelas seis da manhã, que às nove horas já a elevada temperatura debilitava as forças.

Por causa disso, quando me calhava fazer emboscadas nocturnas nas noites de véspera, o Foxtrot estava autorizado a regressar mais cedo ao aquartelamento, para que fosse assíduo e não atrasasse os jogos. Aconteceu uma vez ou duas, ora pela rotação da escala, ora por não ter poiso certo na área do Sector. As renhidas partidas, onde pontuavam caceteiros, trapalhões, esgazeados, e alguns habilidosos, empolgavam os participantes, apesar da falta de prémios de jogo, ou outras compensações, apesar da escassez de público apoiante e gerador de entusiasmos, já que a hora matutina mais aconselhava cama, do que ver os galfarros em correrias desconexas, perseguindo a maltratada bola nas direcções mais inesperadas.

À falta de uma comissão de árbitros, a tarefa da arbitragem era superiormente desempenhada por um valoroso cabo da CCS, homem judicioso e nada intimidável, que cortava a direito, conforme o seu ponto de vista. Apreciei-o, como sempre apreciei quem assumia esse papel, pois concitava inúmeros ódios e provocações, minimizando-os com a parcimónia do uso do apito.

Em certa partida, daquelas em que uma das equipes não consegue distinguir-se da outra através do resultado, com o pessoal empenhado na consecussão da vitória, um dos meus adversários, lançado em corrida desenfreada, entrou com os pés e o resto do corpo, por um dos elementos da minha equipa, que volteou em caprichoso contorcionismo e, por via disso, perdeu o complicado domínio do esférico. Nem esperei pelo apito do árbitro. Arreganhei a dentuça e dirigi-me ao agressor, disposto a esclarecer e empatar a jogada com picardia. Do outro lado do campo, o defesa central, que jogava durinho e estimulava os companheiros com umas entradas que, se passava a bola, não passava o inimigo, despojado dos galões, não conteve a calma perante o meu ar determinado, e gritou-me:
- Oh Dinis, olha que isto não é a guerra!

Pronto no controle da situação, com voz firme e decisiva, o excelente árbitro dirigiu-se-lhe com autoridade:
- Oh major, aqui quem manda sou eu!

Do resultado não reza a história, resta apenas a lembraça de momentos magníficos de camaradagem, pois, independentemente dos resultados e dos intervenientes, os jogos acabavam sempre bem.

Foto de duas equipas de futebol de cinco (?), onde sou o único da 2679, e não aparece o major

O Ribeira Brava

O Virgílio de Sousa era oriundo da Ribeira Brava, pelo que, assim associado, ficou alcunhado pelo nome terra atravessada pela ribeira, que, durante as chuvas intensas, fazia deslocar furiosos caudais, em turbilhão por estreitas margens alcantiladas, onde confluiam inúmeras linhas de água com origem nas encostas da serra , e contribuíam para evidenciar a violência dos elementos, que o homem nem sempre pode controlar. Ali fora às sortes que ditariam a mobilização.

O Virgílio não rejeitava as características da ribeira, mas era muito bem educado, sem subserviência, e dedicado ao serviço, condições refinadas pela profissão de empregado de mesa, com aspirações a desenvolver para singrar. Pensava emigrar para exercer esse mister com melhor proveito. Complementava essas qualidades com a instrução escolar obrigatória, que o habilitava na ajuda da troca de correspondência que os camaradas menos afortunados mantinham com familiares.

Entroncado, disponível e bem disposto, tornou-se um dos elementos-chave para a coesão entre o Foxtrot. Não revelava grande iniciativa, mas não virava a cara aos diferentes afazeres, e sempre se mostrou intuitivo e determinado nas acções militares, pelo que granjeou a confiança de todos.

Alguns elementos do 2.º Pelotão - Foxtrot, de pé, da esquerda para a direita: Dinis, Abreu, Teresa e França. Em baixo: Lamarão (condutor), Rodrigues, Martins e Virgílio Sousa
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Nota de CV

Vd. último poste da série de > 27 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3362: História da CCAÇ 2679 (5): Canquelifá, duas histórias e um ataque frustrado (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P3419: Zona de intervenção, zona de perdição da CCaç 2790. António Matos.


Um cronista profissional que se preze deverá ter um método de trabalho que prime pela catalogação dos assuntos, pela calendarização dos mesmos, pela hierarquização de interesses e pela documentação que os suporta.

Depois virá a apresentação.

Pois bem, mas eu não sou um cronista profissional e, como tal, deixo-me levar mais pelo entusiasmo da recordação que no momento aflorou à memória RAM do meu cérebro e não tanto pelos critérios tão eloquentemente expressos atraz.

Aliás os temas são muitas vezes sugeridos por analogia de situações relatadas aqui no blogue por outros camaradas e depois é deixar divagar ao sabor da corrente da consciência ...
Posto este ponto prévio como justificativo do porquê de ora agora falar de minas e amanhã referir um acontecimento relacionado com a chegada à Guiné, passarei, sempre que possível, a documentar as minhas intervenções com uma ou outra foto na tentativa de melhor enquadrar as histórias.




Zona de intervenção, ou zona de perdição do António Matos e Camaradas da CCaç 2790. Google Image.

emblema do BCaç 2928 ( a que pertenceu o António Matos).




uma parede do quartel de Bula com:

a) - à direita vê-se o emblema do Batalhão 2868 ( Os Chicotes ) que íamos render ( de cavalaria como se nota pelos cavalos )
b) - Ao lado o emblema do BCaç 2928 que tinha as companhias 2789 / 2790 / 2791 e que mais tarde é reforçado por 2 outras companhias independentes ( 3420 do Salgueiro Maia e a 3328 ).

"Excelentes e Valorosos" (lema do batalhão) só podia ser um autêntico ASTERIX!


CCaç 2789, os Vigilantes.



CCaç 2790, a Cª do António Matos.




CCaç 2791.

Sendo assim, hoje tenho apenas como missão, dar a conhecer a todos a zona de perdição dos meus 24 meses de ultramar fazendo votos que os ilustres camaradas editores consigam colocar a fotografia do Google onde marquei os sítios-limite das nossas actuações.

Abraços,

António Matos

ex-Alf MilCCAÇ 2790
Bula, 1970/72

PS - naquela altura já havia o célebre conceito de mobilidade ( hoje tão em voga mas agora de autoria de Sócrates ) que fez com que a CCaç. 2791 fosse deslocada temporariamente para Teixeira Pinto cuja actividade não é aqui mencionada.

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Notas:

1. Imagens e texto de António Matos.

2. artigos da série em

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3415: Histórias engraçadas (António Matos) (2): Bifes, ratos, Irish Coffee e até o IN em dia de anos (António Matos)

1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos Soares (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 5 > Abril de 1965 (?) > Festa da primeira comunhão > A menina branca, filha do chefe do posto de Xitole, ladeada pela Professora Primária Dona Violete (à esquerda, de óculos escuros) e a esposa de um dos comerciantes locais (à direita).




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 3 > Abril de 1965 (?) > Capela local > Um grupo de meninos e meninas (só uma das quais é branca, filha do chefe de posto do Xitole, a frequentar a escola primária em Bambadinca), no dia da comunhão solene, devidamente enquadrados por uma freira, católica, muito possivelmente missionária e estrangeira.
 

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 6 > 1965 > Festa de 1º. aniversário da CCAV 678, em Bambadinca. Na mesa dos oficiais e sargentos, o 1º de frente e da esquerda é o Fur Mil At Manuel Bastos Soares, autor destas fotografias, natural de Vila Nova de Gaia e residente na Maia.


Guiné > Zona Leste > Bambadinca > Foto nº 10 > Fevereiro de 1966 > Vista aérea de Bambadinca, tirada do lado do Rio Geba e da estrada Bafatá-Bambadinca, vendo-se em primeiro plano a tabanca, atravessada a meio pela estrada; e em segundo plano, a íngreme (e poeirenta, no tempo seco) rampa de acesso ao aquartelamento e aos edifícios administrativos da localidade (posto administrativo, correios, escola, capela...); em terceiro plano, a tabanca de Bambadincazinho (à esquerda da estrada) e do outro lado, a pista de aviação e o cemitério local; em quarto plano a bifurcação da estrada: para a esquerda, Xitole (não havia ainda Mansambo, só construído em 1968); para a direita, Xime. Ao fundo, do lado direito, talvez o Rio Udunduma, afluente do Rio Geba...


Guiné > Zona leste > Bambadinca > Foto n º 11 > Fevereiro de 1966 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, à esquerda, e do Geba Estreito, à direita; em segundo plano, o morro, onde se situava o quartel e outras instalações civis e administrativas. Estas duas fotos foram tiradas de um Cessna, dos TAG - Transportes Aéreos da Guiné, fretado pelo Cap da CCAV 678 para trazer víveres, de Bissau, para o pessoal.

Fotos (e legtendas): © Manuel Bastos Soares (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.Mensagem de Beja Santos, de 4 de Novembro último:


Queridos amigos:

Aqui vão fotos históricas do nosso camarada Manuel Bastos [Soares]. Oxalá ele entre na nossa tabanca grande e nos preste relevantes serviços, como estas imagens abonam. Esta é mesmo a D. Violete, que eu conheci, mais amadurecida. Comoveu-me muito esta lembrança, transfiro-a já para o nosso blogue. 

Até breve, um abraço do Mário.


2. Mensagem de 31 de Outubro de 2008, enviada por Manuel Bastos [Soares] ao Beja Santos:


Assunto: FOTOS DE BAMBADINCA - D. VIOLETE

Caro Beja Santos :

Antes de mais as minhas cordiais saudações. Como é meu dever e obrigação, passo a apresentar-me: de nome, chamo-me Manuel Bastos Soares, sou natural de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia (aqui nasceu o nome Portugal), fui militar na Guiné-Bissau de Julho de 1964 a Abril de 1966, e resido na cidade da Maia.

O motivo que me leva a escrever-lhe está relacionado com a sua prosa (dou-lhe os meus parabéns pela mesma), que fui lendo, desde que sou cliente, e assíduo, do
blogue do Luís Graça. 

Tal como eu, o Beja Santos também esteve em Bambadinca e nos seus escritos fala muito de determinada senhora, a D. Violete, com a qual tinha óptimo relacionamento, mas da qual nunca vimos nenhuma foto dela.

Na minha posse, tenho várias fotos, tiradas em Bambadinca no dia da comunhão solene em Abril de 1965 (?), e numa das quais está uma senhora, cujo nome se me varreu por completo da memória, e que na época era a professora da escola primária de Bambadinca.

Será esta senhora a D. Violete? Na hipótese de querer confirmar, se é ou não a dita senhora, terei imenso gosto em enviar-lhe, via e-mail, a foto digitalizada, assim como outras de Bambadinca.

Com os melhores cumprimentos:

Manuel Bastos


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > O nosso fotógrafo-mor, o ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (1969/71), tirou um slide com os memoriais das unidades que passaram por Bambadinca. Havia no nosso tempo vários memoriais, no meio da parada, junto ao pau da bandeira, frente à escola local (onde ensinava e vivia a misteriosa Dona Violete). 

Como a imagem original que possuímos em arquivo, tem uma boa resolução (2,5 Mb), procedemos à sua edição. Neste excerto, o Humberto tem à sua direita o memorial do Pel Mort 1192 (Bambadinca, Maio de 1967/ Março de 1969) e, se não me engano, o da CCAV 678 (que não vem na lista do Benjamim Durães). O Manuel Bastos  Soares também reconheceu, nesta foto, o brazão da sua companhia. Logo me confirmará se o meu raciocínio está certo. Sabemos, pela lista do Durães (**), que nessa altura também esteve em (ou passou por) Bambadinca a CCAV 1482 (Nov-65 Bambadinca Abr-66 Xime Jul-67 / Jan-67 Ingoré).



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Parada do aquartelamento, frente à escola primária > Memoriais de unidades que passaram por Bambadinca > Pormenor: um primeiro plano, ao centro, o momento evocativo da passagem do BCAÇ 1888, o primeiro batalhão com sede em Bambadinca (Mai-66 Fá Mandinga Nov-66 Bambadinca Jan-68), de acordo com a lista do nosso camarada Benjamim Durães (**). A CCAV 678 deve ter sido rendida pela CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Mai-66 Bambadinca Nov-66 Fá Mandinga Jan-68 Fev-67 Xitole).


Por detrás vê-se o monumento do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, Maio de 1968/ Março de 1970). E do lado esquerdo, o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), cuja CCS teve um morto, o Sold Cond Auto Manuel Guerreiro Jorge.

Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legemdagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Mensagem de 3 de Novembro de 2008, enviada ao Beja Santos pelo Manuel Bastos

Caro Amigo Beja Santos:

As minhas cordiais saudações.

Na posse do seu e-mail, cá estou a responder ao mesmo, e naturalmente também
à sua curiosidade e ansiedade. Entretanto vou contar-lhe rapidamente a história destas fotografias.

Corria o Ano da Graça de 1965, e calculo eu, por volta do mês de Abril, realizou-se em Bambadinca a comunhão solene dos meninos e meninas da comunidade católica local.
De entre as meninas do grupo, fazia parte a única menina branca que está em duas das
fotos que lhe envio.

E quem era essa menina? De nome varreu-se-me da memória, mas sei que era filha do chefe de posto do Xitole, e como não havia escola na localidade, o pai colocou-a em Bambadinca. Hospedou-a em casa de uns comerciantes brancos (creio eu, empregados da casa Gouveia), estando a esposa numa das fotos, com uma criança ao lado.

Como eu tinha bom relacionamento com o dito comerciante, pediu-me para tirar as respectivas fotografias da comunhão da menina. Num gesto de retribuição e simpatia convidou-me para o almoço da festa da comunhão. Naturalmente que aceitei e agradeci. Nesse mesmo almoço esteve presente a Professora da escola primária de Bambadinca, que é a senhora que está de óculos escuros na foto nº. 5, e que creio eu será a D.Violete.

Dada a explicação quanto ao motivo que me levou a ser repórter fotográfico, passemos ás fotos.

Já se apercebeu que além das fotografias da comunhão, em anexo tenho o prazer de lhe enviar algumas mais, de locais que lhe farão lembrar os seus tempos passados pelas terras quentes e vermelhas de Bambadinca. Como as fotos não têm legenda passo a descrever:

Foto 3: Meninos e meninas da Comunhão Solene, em Bambadinca com a Irmã freirinha.

Foto 5: A menina filha do chefe de posto do Xitole, com a Professora e esposa do comerciante.

Foto 6: Festa de 1º. aniversário da CCAV 678, em Bambadinca. Na mesa dos oficiais e sargentos sou o 1º de frente e da esquerda.

Fotos 10 e 11: Vistas aéreas de Bambadinca, quando regressava de férias [de Bissau] em Fevereiro de 1966.

Julgo que por agora ser tudo, não deixando contudo de lhe formular um convite: se por acaso viajar cá por estes lados, terei imenso prazer em recebê-lo em minha casa. Em anexo envio-lhe o meu cartão para melhor cá chegar.

Sem mais, um abraço do amigo ao dispor:

Manuel Bastos

P.S. Caro Beja Santos, vai-me desculpar, mas não consigo enviar-lhe as fotos todas juntas, pois os ficheiros são demasiado pesados, por esse motivo vão seguir em vários e-mails.

4. Comentário de L.G.:

Falei, há umas duas ou três horas, ao telefone, com o Manuel Bastos. A cumplicidade da Guiné e o conhecimento de Bambadinca vieram logo ao de cima. Passado 30 segundos, já estávamos a falar como velhos camaradas, e a tratarmo-nos como deve ser, entre camaradas da Guiné, ou seja, por tu...

Fiquei a saber que o novo membro da nossa Tabanca Grande (vai entregar as fotos da praxe e as notas biográficas), andou primeiro por Cacine e Cabedú, no Cantanhez, noutra unidade (cujo não nº não consegui fixar, mas penso que foi a CCAÇ 555, do Norberto Costa) (*), antes de vir para Bambadinca, para a CCAV 678.

Esteve na construção do destacamento da Ponta do Inglês, passou por Fá, pelo Xime e pelo Enxalé. "No meu tempo ainda não havia o cais do Xime, nem a estrada Bambadinca-Bafatá era alcatroada"... Teve mortos no Buruntoni e em Ponta Varela... Fez colunas logísticas ao Xitole, sempre com porrada... Nunca foi ao Saltinho.

As melhores memórias que guarda, são as de Bambadinca... "Ainda gostaria de lá voltar um dia", confessou-me ele ao telefone. Da próxima vez que eu for ao norte, estou convidado a procurá-lo. Mora na Maia, Gueifões, próximo de camaradas nossos como o Zé Teixeira, de São Mamede de Infesta. Incentivei-o a passar a frequentar a Tabanca de Matosinhos, às 4ªs feiras. Está reformado, há 3 anos, depois de 40 e muitos anos de trabalho. Era formador numa escola profissional (CENFIM).

Fiquei com uma bela impressão do camarada Manuel Bastos... Estivemos à conversa mais de meia hora. Disse-lhe que foi comovente para mim e para o Beja Santos revisitarmos Bambadinca, através das suas fotos, a nossa Bambadinca comum... Numa próxima oportunidade ele irá assinalar-nos as diferenças existentes em 1965/66 por comparação com as fotos de 1969/70, do Humberto Reis.

Desejei-lhe as boas vindas ao nosso blogue que ele, de resto, conhece e acompanha há mais de um ano, silenciosamente... (Sentindo-se mais disponível depois da reforma, há um ano escreveu a palavra Guiné no Google e foi dar com o nosso blogue, cuja leitura, frequente, já não dispensa).

Sobre a CCAV 678, tínhamos até agora poucas referências no nosso blogue. Por exemplo, encontrei informação, na lista do A. Marques Lopes, sobre dois mortos desta unidade, que ficaram sepultados na Guiné:

(i) José Augusto Silva Pereira, Soldado / CCav 678 /30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Vilar da Maçada, Alijó / Cemitério de Bissau, Campa 1953, Guiné.

(ii) Nuno da Costa Moreira, 1.º Cabo / CCav 678 / 10.11.65 / Galomaro / Acidente de viação / Pedorido, Castelo de Paiva / Cemitério de Bissau, Campa 2038, Guiné.

Mas fiquei com a ideia de o Manuel Bastos me ter dito que, no cemitério de Bambadinca, no seu tempo (1965/66), havia pelo menos um morto, branco, da sua unidade ou de outra unidade que passou por Bambadinca (CCAV 1482 ?), e cujo nome não constava da lista dos mortos sepultados na Guiné, organizada pelo A. Marques Lopes.

Pelas fotos que o Manuel Bastos nos manda percebe-se que houve posteriormente uma escalada da guerra que terá levado à saída das famílias portuguesas e ao aumento dos efectivos militares. No seu tempo ainda não havia nenhum batalhão sediado em Bambadinca. O primeiro terá sido o BCAÇ 1888 (1966/68).

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Notas de L.G.:

(*) Vd.postes de: