quarta-feira, 8 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4655: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (4): Mãos à obra, rapaziada ! (Patrício Ribeiro)


Guiné-Bissau > Bissau > Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > "Construindo um porto" > Foto publicada em 28 de Junho de 2009 (e tirada em 16 de Maio último).

"A comunidade da tabanca de Catesse, situada na foz do rio Cacine, é constituída por habitantes muito activos, dinâmicos e empreendedores, o que os levou a tomar a decisão de construir, em pleno mangal, um embarcadouro que os retire do isolamento geográfico a que estão sujeitos.

"Com uma canoa que construíram e um motor fora-de-bordo que lhes foi atribuído a título de crédito, a população local poderá chegar mais rapidamente a Catió, Ilhéu do Melo, Kamsar na Guiné-Conakry, ou mesmo Cacine, para colocarem os seus produtos agrícolas e de pesca excedentários.

"Constituirá também uma porta de entrada e saída para os turistas que demandarem as Ilhas de Orango, João Vieira e Poilão, Tristão e ilhéu dos Pássaros, oferecendo novos itinerários ecoturísticos".

Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do Patrício Ribeiro, membro do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, membro da nossa Tabanca Grande, empresário na Guiné-Bissau onde reside há mais de 25 anos, antigo fuzileiro em Angola, onde nasceu (*):

Bom dia

Ao grupos de amigos e outros...

Junto uma lista de materiais necessários para a reconstrução da Capela (**), que me foi pedida pelo Camilo.

Segue também alguns desenhos, para vosso conhecimento, de apoio a construção, que fiz quando da minha última viagem a Guileje.

Vou esta semana novamente a Guileje, para contratarmos o mestre da Obra em Quebo (Aldeia Formosa). Para iniciarmos de imediato os trabalhos.

Nota: Não consigo anexar os desenhos, vou enviá-los mais tarde.

Um abraço.

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

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2. LISTA DOS MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A RECONSTRUÇÃO DA CAPELA DE GUILEJE

950 – Blocos 40 x 20 x 15 já feitos, pela ONG AD)

25 – Varões de ferro de 8 x 12,00

15 - Varões de ferro de 6 x 12,00

2 – Kg de arame queimado

1 – Carrada de Cascalho (vamos aproveitar os restos da capela) (a ONG AD , vai tratar)

2 – Carradas de areia ( a ONG AD vai tratar)

5- Latas de tinta (já temos, oferta do Camilo)

- Contrato com o mestre da Obra (Já se pediu orçamento).

FALTAS

75 - Chapas galvanizadas 2,00 x 0,90 x 0,4 (para a capela e casa do gerador)

700 – Pregos especiais para chapas galvanizadas.

1 – Casa para o gerador 2,00 x 2,50

1 – Gerador 7 Kva, com motor Lister , para arrancar por manivela e bateria

100 – Fio 3 x 4

50 – Fio FVV 2 X 1,5

5 – Suportes de lâmpadas, para fixar nas paredes.

5 – Olhos de boi, com lâmpadas de baixo consumo.

50 – Lampadas de baixo consumo


3. Comentário de L.G.

Como fazer chegar estes materiais em falta para a reconstrução da capela ? Quanto poderão custar em euros, aqui em Portugal, ou em CFA, em Bissau ? Como levá-los até Guileje ?

Como poderemos ajudar os nossos Amigos da Capela da Guileje - Patrício Ribeiro, António Cunha, Manuel Reis e António Camilo, a que se juntou agora, a partir de 20 de Junho de 2009, na Ortigosa, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, o advogado lisboeta Dr. João Seabra, ex-Alf Mil da CCav 8350 (Guileje e Gandembel, 1972/73) ?

Por que é que outros camaradas que passaram por Guileje, de 1964 até 1973, ainda não manifestaram a sua eventual adesão a esta iniciativa, que tem um tremendo valor simbólico, para além do seu impacto no desenvolvimento do ecoturismo do Cantanhez e do seu lugar (material) no projecto de musealização do antigo quartel de Guileje ?

______________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes de:

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

29 de Janeiro de 2009Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)


(**) Vd. postes de:

16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4535: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (3): Já começámos a pôr a mão... na massa do Camilo, e a 20/1/2010 haverá ronco (Pepito)

16 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

terça-feira, 7 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4654: Estórias avulsas (42): O whisky e a Coca-Cola do nosso contentamento (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares (*), ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 4 de Julho de 2009:

Caro Vinhal,

A minha 1.ª noite na Guiné foi passada no cais do Pidjiguiti em 01-05-1970... a guardar 21 caixas de whisky... era o sargento de reabastecimentos do BCAÇ 2912.

Chegados a Galomaro distribuiu-se o whisky só pelos oficiais e sargentos, segundo ordens expressas do comando.

Havia duas qualidades de whisky - velhos e novos - vendidos a 95$00 e 50$00 cada garrafa, respectivamente.

Só vendíamos nos bares - oficiais e sargentos – as garrafas de 50$00 por 65$00, porquanto medido o líquido dava 13 cálices ao preço unitário de 5$00.

A título de comparação refiro que uma bazuca - cerveja de 0,6 l - custava 6$50.

O principal consumidor era um major, que se deixou vencer pelo álcool... foi evacuado para a Metrópole... enquanto durava a bebida não existia oficial... quando lhe faltava até de noite vinha à minha procura... lá íamos os dois, no seu jeep, ao armazém levantar o whisky.

Certo dia, ao abrirmos uma caixa selada faltava uma garrafa... obrigou-me a fazer um auto da ocorrência e enviá-lo para a Intendência em Bissau... obviamente que nem resposta obtivemos, embora ele fosse testemunha no auto!

Outra vez precisou da bebida mas não havia em armazém... lá arranjam a bebida... foi feita uma sindicância ao whisky... o circuito – armazém, bares e venda – estava correcto.

Começaram a fazer um rigoroso controlo ao whisky quando começaram a vir menos caixas da Intendência.

Às escondidas vendia às praças cada garrafa a 65$00.

O whisky era vendido no Café/Restaurante do Francisco Augusto Regalla e em Bafatá quase pelo dobro do preço.

Recordo que após uma dificultosa e poeirenta picada, com um banho, uma coca-cola e um whisky sentíamo-nos jovens e sadios... era a cocaína com os seus efeitos... os guinéus mascavam a coca... nós bebíamo-la.

Esta foi uma história passada no mato – Galomaro 1970/72 – onde o whisky era uma estrela e brilhante... quem nunca esteve naquelas tórridas e frias terras e na guerra colonial não sabe o valor de tão precioso líquido... houve outros camaradas na Guiné que nunca o saborearam pelos mais diversos motivos!

A venda da coca-cola em Portugal Continental era proibida.

1 de Maio de 1970 > Chegada a Bissau

Bar de Sargentos

Um abraço do,
António Tavares
Foz do Douro
04 de Julho de 2009
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4573: Tabanca Grande (154): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72

Vd. último poste da série de6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gamdembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)

Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)


1. A propósito de um equívoco que se manteve durante largo tempo no nosso Blogue, relacionado com a identificação dos camaradas representados nas fotos alusivas ao Massacre do Chão Manjaco, com a devida autorização do nosso camarada e tertuliano Álvaro Basto (*), ex-Fur Mil Enf da CART 3492/BART 3873, reproduzimos o Poste 184, do Blogue da Tabanca Pequena de Matosinhos, por ele publicado.




2. Domingo, 7 de Junho de 2009
P184-desfazer as confusões


Um dos nossos mais queridos e assíduos companheiros de tertúlia na Tabanca de Matosinhos tem sido este simpático casal.

O Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e a D. Joaquina Silva, sua simpática esposa.

Praticamente não falham à quarta-feira e não raro, vêm acompanhados de gente ligada à Guiné, quer ex-combatentes quer naturais de lá.
Ele é médico e vai abrir em breve uma clínica em Bissau com a ajuda da esposa que corajosamente o irá acompanhar desde a primeira hora.
Gente simpática, afável e sobretudo dotada de grande humanismo, basta relembrar como têm vindo a acompanhar o processo de auxilio às crianças da Clínica Pediátrica de Bor.

Há dias olhando para a foto abaixo que vinha publicada num destacável que é publicado todas as quartas feiras pelo Correio da Manhã diz surpreso: - Olha... eu estou aqui com os majores.
Logo um coro se fez ouvir... - Oh Dr. tem a certeza? Olhe que esse é o Alferes Mosca que foi morto juntamente com os majores. Ele não desarma e reafirma: - Desculpem, este sou eu, tenho a certeza. O Mosca foi-me substituir uns meses mais tarde à data desta foto ter sido tirada; o Mosca nem na Guiné estava nesta altura. Era eu que fazia parte do CAOP e ele foi-me substituir por ter chegado ao fim a minha comissão.
Bom... foi a estupacção total... tem vindo a ser propalado que esta foto reunia os quatro massacrados, mas afinal não.
Só agora é que o Dr. Giesteira viu esta foto porque habitualmente não vai à inernet e muito menos ao Blogue do Luís. Doutra forma, já teria obviamente desfeito o equívoco há mais tempo.


Fica aqui desfeita a confusão pois já na altura da primeira publicação da foto no Blogue do Luís quem o fez não estaria seguro quanto à identidade do alferes que nela aparecia.
Assim se vai fazendo História meus caros.
Álvaro Basto
__________

3. Para desfazer definitivamente quaisquer dúvidas fica agora a foto com os verdadeiros mártires do Chão Manjaco


Já no Poste 1510 o nosso camarada Paulo Raposo punha a hipótese de na foto estar um seu camarada de Mafra de apelido Giesteira.

Ao Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e à família do nosso malogrado camarada Alf Mil Cav Joaquim João Palmeiro Mosca, apresentamos as nossas desculpas pelo lapso que grassou durante todo este tempo.

Se este poste chegar ao conhecimento do Dr. Giesteira, fica desde já convidado a aderir à nossa Tabanca Grande. Será um prazer para nós contar com a sua colaboração, quer falando do passado, como combatente, quer do presente, como médico interventivo na saúde daquele pequeno e pobre país.

Embora tardiamente, fica reposta a verdade.
CV

OBS:- Nos postes onde constavam as duas fotos acima publicadas, já foram substituídas pela que se apresenta mais abaixo, já como verdadeiro mártir Alf Mil Mosca. (**)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)

(**) Vd. postes de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1503: Dossiê: O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)

9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)

27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

Guiné 63/74 - P4652: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (14): O mundo é do tamanho duma ervilha (António Matos)

1. Mensagem de António G. Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 3 de Julho de 2009:

Caros editores,
Aqui fica uma contribuição modesta para o blog quando nos preparamos para mais um fim de semana.
Se o agendamento das publicações o permitir, que agradável seria vê-lo publicado gozando do contexto meteorológico estival...

Um abraço,
António Matos


O Mundo do tamanho de uma ervilha

Sexta-feira à tarde...
Lisboa...
Esplanada de A Brasileira....
15 horas....
Sento-me a escassos 4 metros do Pessoa...

O cosmopolistismo lisboeta nesta zona confunde o observador circunstancial sobre as nacionalidades dos passantes nas suas têzes morenas e cabeleiras dum loiro oxigenado deixando a dúvida se se trata duma sueca quem acaba de passar ou simplesmente uma destas moçoilas das bandas da Trafaria habituada à travessia diária do Tejo abordo dum cacilheiro....

Sejam elas (ou eles) de onde forem, o bom do "Camões do séc. XX" não tem descanso perante as poses que lhe são solicitadas para os milhares de fotos de quem passa!

Há os que, de roteiro turístico na mão, percebem estar frente a um vulto superior e há também aqueles que disparam flashes em catadupa perante a curiosa e coloquial postura do homem do chapéu e papillon...

Há coxas nuas e sugestivamente traçadas, num ímpeto de arejo estival às partes pudibúndicas e um zunzum poliglota a dar a entender que o €uro ainda permite a alguns virem lavar a vista arremelgada dum ano inteiro em cima dos livros de contabilidade das suas empresas ou dos écrans dos computadores a vasculharem as redes sociais...

Numa mesa próxima da minha, um azeiteiro disfarçado de jet set coça, displiscentemente, os tomates enquanto o António Vasconcelos, no canto oposto, capta imagens para mais um filme...

Entretanto o meu computador que mantenho aceso e ao qual tinha já plugado na USB a minha net de banda larga através desta maravilha tecnológica chamada PEN, dá um PIUUUU!!

Fui ver...

O Facebook registava a entrada da resposta que aguardava e que, no fundo, justifica este meu post no blog.

O José Saraiva acabava de entrar em contacto comigo e transportava-me para a Guiné.
Foi um ex-combatente no Leste e também foi daqueles para quem o arame farpado não o acoitava...
Falou-me do seu As Lágrimas de Aquiles.

Já me dirigi à livraria do Diário de Notícias no Rossio e deixei a encomenda...
A sinopse entusiasmou-me...
Voltarei ao tema depois da leitura...

Até lá fica a referência e a constatação de que, de facto, o Luis Graça & Amigos é grande e o mundo... é uma ervilha...

António Matos
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):

Vd. último poste da série de25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)

Guiné 63/74 - P4651: Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > Bajuda Balanta > Série de postais ilustrados do tempo da Guiné Portuguesa, s/d nem editor... Colecção do nosso amigo e camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1973/74).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral (*), ex-cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário (*):


Caros Amigos!

Passada a euforia do nosso glorioso Encontro, eis-me perante mais uma grande Alegria – a colaboração do Cherno Baldé (**). E assim eu que havia resolvido finalizar as cabralianas, vejo-me obrigado a continuar pois ele consegue trazer-me à lembrança mais estórias.

Aí vai uma.

Abraços
Jorge Cabral



2. Estórias cabralianas (***) > Alfero esfregador entre Balantas


Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador.

Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ](****), e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral… Face à pouca simpatia com que foi recebido, não ousou sequer qualquer gesto que fizesse jus ao referido cognome.

Mas aquela visão idílica espevitou-lhe a imaginação e logo uma semana depois voltou.

Através do intérprete Albino, seu único Soldado Balanta, explicou que ia proceder a um tratamento com uma boa mezinha, afastadora de doenças… Para tanto, colocadas em fila todas as bajudas, o Alfero esfregou-lhes o peito com um bálsamo, ao mesmo tempo que proferia umas palavras, mágicas é claro… Na semana seguinte regressou e repetiu. As melhoras das Bajudas eram já evidentes…

À terceira vez aconteceu porém um facto extraordinário. Chegado à Tabanca, constatou que nem uma só Bajuda se vislumbrava.

Esperando o Alfero, já em fila e preparadas para a função encontravam-se todas as velhas da aldeia, de seios pendentes, quase pelos joelhos…

Estoicamente o Alfero esfregou, esfregou…

Não houve quarta vez…

Jorge Cabral

___________

Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio


(***) 3 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)


(****) 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. (...)

Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (33): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)

Guiné > Zona Leste > Contuboel > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 > Junho de 1969 > Uma fotografia politicamente incorrecta do meu álbum... Furriéis Levezinho e Henriques (eu...), no oásis de paz que era então Contuboel, no bem-bom da instrução de especialidade dada aos soldados, do recrutamento local, da futura CCAÇ 12 (na altura CCAÇ 2590)...

No fim da instrução, passado um meio e meio, a companhia, em farda nº 3 (!), estava a levar porrada da grossa, em Madina Xaquili... Em Contuboel, havia tempo para tudo, para longos passeios no Geba, viagens de carro, sem escola, e até para brincadeiras estúpidas... ou tão inocentes como esta simulação de um catana a exercer o seu mister no delicado pescoço de um tuga (o Levezinho)... Não tenho, no entanto, ideia de ter ido até Fajonquito, na fronteira... A Sonaco, sim... E, claro, Bafatá... (LG)

Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados



1. Publicámos ontem o último texto das memórias do Chico, menino e moço, hoje o Sr. Eng. Cherno Baldé (*). Eis o mail que lhe mandei:


Querido amigo e irmão: Publiquei tudo o que me mandaste... Passaste a figurar, permanentemente, na lista dos membros da nossa Tabanca Grande... Espero que estejas bem, com a tua querida família, e que Deus, Alá e os bons irãs protejam o teu povo e o teu país... Conta connosco. Mantenhas. Luís Graça.

2. Ele acabou de responder-me nestes termos, o que quer dizer que
vivemos de facto na mesma Tabanca, a Tabanca Global:

Amigo e irmão Luis Graça,

Foi com muita satisfação que segui a publicação das minhas crónicas que chamei de 'memórias' . Pela reacção e comentários que se seguiram, acho que as pessoas compreenderam, e melhor que isso aceitaram, mesmo que só por algum momento, uma forma diferente de ver e de interpretar as coisas.

Agradeço a todos os amigos que fazem parte desta nossa Tabanca Grande e faço votos para que este ambiente de amizade e tolerância continuem a ser a pedra angular da nossa confraternização e irmandade.

Eu, apesar de pertencer a uma geração um pouco mais nova e nunca ter pegado em armas para combater, tive o grato privilégio de viver junto dos protagonistas da guerra de um lado e d´outro. Com os portugueses antes e os combatentes do PAIGC depois. Uns e outros apresentam forças e fraquezas, vantagens e inconvenientes, mas eu não tenho qualquer pretensão de julgar ou emitir juízos de valor, mas tão somente apresentar o meu modesto testemunho sobre factos e experiências que influenciaram a minha forma de ver e viver o mundo.

Não tenho quaisquer receios em especial na apresentação do meu testemunho e procurarei ser fiel ao principio da verdade e da imparcialidade e, fiquei admirado pela forma como todos conseguiram entender e penetrar lá dentro do meu espírito apesar das poucas palavras e do medíocre falar português.

Prometo continuar a colaborar na medida do possível e , nomeadamente, responder a algumas perguntas formuladas na sequência desta primeira publicação. A toda a equipa do Blogue e em especial ao meu amigo de Contuboel o meu obrigado e até breve.

Cherno A. Baldé

PS - O Luis Graça está, certamente, ao corrente de que entre Contuboel e Fajonquito, duas localidades vizinhas, existia e ainda hoje existe uma forte rivalidade e os seus encontros de futebol, por exemplo, sempre terminam na confusão porque nenhuma das duas partes admite a derrota.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968

Guiné 63/74 - P4649: Blogoterapia (114): A Honra da Companhia, os fantasmas de Guileje, os limites da tolerância (José Brás / António Matos)

1. Duas mensagens, recentes, que entendo dever ser publicadas na série Blogoterapia (*) onde, em vez de histórias e memórias, há sobretudo reflexões sobre nós próprios, o nosso blogue, a nossa Tabanca Grande, a nossa identidade, a nossa caserna virtual ...

[Revisão / fixação de texto / bold, a cores: LG]


(I) Do José Brás (foto, à direita):

Caro camarada Carlos Vinhal:

Vejam bem como são as coisas. O que me apetecia era cantar como Sérgio Godinho, "chegas agora, vais-te logo embora", falando sobre e para mim próprio.

E, antes de quaisquer outras considerações, falo de imediato sobre a questão que tão subitamente me tramou a felicidade de tertuliano novato e do gosto pelo convívio com gente viva, gentil, clarividente e solidária, arrastando-me para esta situação de desgosto.

Constantino... se chama o motivo (**). Não apenas Constantino... porque sei de saber experiente que de Constantinos está o mundo cheio e que, como fala do povo, "não me (nos) ofende quem quer, só ofende quem pode".

Também sei que na "escravatura" da minha cultura democrática estarei sempre condenado a ter de aceitar o seu (deles) direito a, existindo, expressar-se, mesmo sem ilusões sobre a oportunidade que tal gente (não) me daria para expressar a minha visão das coisas e do mundo, se por acaso, como já aconteceu prolongadamente, dispusessem de poder para tal.

Portanto, existem, expressam-se porque têm direito à expressão e, provavelmente, a sua existência e expressão não confirmam senão a outra canção do Sérgio, "a democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros".

A minha angústia começa mesmo é quando me pergunto se terei de conviver, de habitar sob o mesmo teto (leia-se, tabanca), de chamar amigo e camarada, a um tipo com a mentalidade que exibe o senhor, discutir com ele questões que me arrepiam porque debatê-las assim é já, de alguma forma, aceitar-lhes um pó de razoabilidade nas diatribes sobre a vida de seres humanos, seus conterrâneos (e ainda que não fossem), arrebanhados contra vontade para uma empresa sobre a qual tinham mais que muitas dúvidas (sic).

Tudo em nome de uma alegada "honra da companhia", do dever de imolação no altar da Pátria, de um heroísmo velho e anacrónico face ao movimento da história e à existência dos restos do Império sonhado (com outra desculpa histórica) pelos nossos antanhos.

Para este peditório já dei.


O fascismo salazarengo ainda estrebucha por aí porque era de todo impossível que lhe tivessem desaparecido as marcas e os sinais, cinquenta anos de atraso e repressão.

Finalizando.

O tal Constantino tem todo o direito a remoer a frustração do cabo de secretaria em Guileje, lugar cómodo no momento, mas potenciador de traumas hoje, por não lhe ter proporcionado as oportunidades de heroísmos, quiçá mesmo, uma morte gloriosa na defesa do seu País e da civilização ocidental.

Nem abordo aqui a questão da Retirada, porque essa tarefa, com legitimidade, direito e sólidos argumentos a têm desempenhado João Seabra, Manuel Reis, Coutinho e Lima e outros, mas sobretudo pela essencialidade de ser ou não ser justo e correcto o acto de retirar naquelas condições, excluindo dessa forma à morte e/ou à prisão pelo PAIGC a mais de cento e cinquenta jovens portugueses sem culpas no cartório, nem verdadeira Pátria para defender ali.

Já disse e repito. Não sou alheio à admiração pelo acto de coragem e doação de tantos militares portugueses na África, mesmo daqueles (e foram muitos) com quem discordo profundamente mas a quem admiro a valentia e a convicção.

Não era, contudo, o caso, nem dos cento e cinquenta jovens de Guileje, não contando os civis que têm também de ser contados, nem o da larguíssima maioria dos que deram a vida inutilmente numa guerra de ocupante contra libertador, ainda por cima nas costas dos ventos da história.

O próprio Comandante Chefe [, Spínola,] de quem não sou admirador por aí além, mas a quem não recuso as qualidades de militar e a coragem física e psicológica, ele próprio, assumira há muito que a guerra estava perdida e que era apenas possível salvar a face do exército se os políticos estivessem ao seu nível.

E era num quadro destes e na realidade da situação que se vivia naquela altura em Guileje, que a honra da Companhia teria de ser salva com a resistência total e assumindo que isso poderia custar dezenas e dezenas de vidas jovens, provavelmente mais que as dezenas que o Constantino aceita ceifadas em Guidaje.

Em termos de opinião aceito abertamente e com amizade a camaradas que a expressam de modo diferente da minha porque pensam de modo diferente e aceitam também qualquer cotejo ou debate sério sem dispensarem o abraço solidário.

Quem lê Vindimas no Capim pode encontrar mesmo o perigoso exercício que realizo (eu e o Filipe Bento) de entender motivações e mecanismos sociais que levavam jovens à Legião Portuguesa e até à Pide, podendo, se tivessem outras oportunidades, ser gente diferente e na outra margem.

Tenho grandes dificuldades, confesso, para aceitar a expressão de desumanidades, mesmo quando brotam de uma profunda ignorância sobre as aspirações dos seres humanos em qualquer ponto do Globo, independentemente de credos políticos ou religiosos. E menos ainda quando procuram apoucar outros seres humanos que comeram do mesmo prato no calor da Guiné e tinham a responsabilidade das vidas que pais, esposas e filhos lhe haviam entregue à despedida e esperavam a devolução correndo o tempo certo.

A Tabanca Grande tem todo o direito de aceitar dentro de si ta(l)is indivíduo(s). Provavelmente nem seria correcto negar-lhe(s) entrada quando a requerem.

Caso diferente, ou pelo menos a mim me soou, é o convite gentil, com uma simpatia que me pareceu exagerada e salamalequeira(?).

Obviamente. Sei e sempre o pratiquei como dirigente sindical, que à mulher de César não basta ser séria. Tem também que o parecer, às vezes até por exagero.

O defeito é meu, está visto. E sendo meu, o defeito, algumas dúvidas se levantaram sobre a obrigação de dividir o ar caloroso da Tabanca Grande com gente assim.

Deus me perdoe. E que o Luís também.

Abraços
José Brás


(ii) Do Antóno Matos (foto, à esquerda):


Neste momento, as minhas reflexões assumem um estatuto declaradamente indefinido quer pela catadupa de postes e comentários, quer por alguma ininteligência que me coarta a hipótese de perceber, não só o teor mas, fundamentalmente, as ideias do(s) autor(es) na voragem de ataques e contra-ataques na derradeira finalidade de uns ficarem a ganhar em relação a outros ...

O insulto explícito ou mesmo soez começou a dar passos decisivos para que se institucionalize o seu uso no blog sem que se vislumbre outra coisa que não seja demonstramos que somos possuidores da verdade única e indesmentível e que será atirado para a pira justiceira quem fôr contra mim ...

Claro que não fico indiferente às manifestações de protagonismos exacerbados, não por que me melindrem, mas antes porque são ofensivos de todos aqueles que não têm capacidade para intervir;

Claro que escouceio perante primarismos políticos (melhor será dizer pseudo-políticos) dos que gritam a sua verborreia facciosa, convictos de uma autoridade que estão por demonstrar serem portadores;

Claro que não recebo lições de pretensos estrategas militares que mais se parecem com os treinadores de bancada que saem da cova do seu anonimato às 2ªs feiras, de preferência na cadeira do barbeiro ou na tasca lá do bairro para discutirem aquele pontapé para as bancadas, aquela cabeçada desajeitada, aqueloutra contratação do técnico que não percebe nada de futebol e se esquecem, tão simplesmente, que a bola ... é redonda;

Uma vez mais (isto é cíclico!) Guileje está na moda no blog. Que bom deve ser a avaliar pela literatura produzida ....

Não conheci o major Coutinho e Lima nem conheço o coronel. Estou àvontade para construir a imagem que muito bem me aprouver sobre ele e sobre quem hoje relata os mesmos acontecimentos das formas mais opostas possível.

Considero entediante voltar ao tema mas há pormenores dignos de reflexão. Da célebre retirada heróica, humana e humanitária, passa-se, num esfregar d'olhos, a uma fuga cobarde e incompetente.

Dum quartel cercado e sem qualquer hipótese de ripostar a um eminente massacre, passa-se a uma retirada ordeira, em fila indiana, as pessoas com as malas feitas, armas a tiracolo, em pleno dia (é o que mostram as fotos publicadas à exaustão) , e com aquele espectáculo digno do ilusionista Luís de Matos onde várias centenas de pessoas passam despercebidas dos sitiantes, sem que estes, sequer, pestanejassem!

E o actual coronel, de besta, passou a bestial em meia dúzia de meses aqui neste blog e há quem idolatre a temeridade do nosso inimigo e hoje o cubra de elogios para quem só faltava os condecorássemos!

Não se queiram branquear os célebres relatórios fantasmas!

Já escrevi neste blog o que se passou comigo em Augusto Barros quando, após uma flagelação que sofremos de alguma intensidade, e perante a alarvidade do comando em Bula (na tentativa de esconder a Bissau que a zona não estava limpa), foi forjado um RELIM para o COM-CHEFE onde se desautorizava a informação emanada do destacamento com a simples justificação de que tudo não passou duma confusão do pessoal uma vez que comemoravam na altura, o aniversário dum furriel !!!

Querem um relato cronológico ? Lá vai:

1º - Em 05/11/1971, às 22 horas, flagelação ao destacamento ;

2º - Segue RELIM para Bula ;

3º - O comando em Bula decide que "aquilo" não foi uma flagelação e pára o RELIM ;

4º - Na troca de operador de transmissões na madrugada, o soldado que entra de serviço, desconhecendo a "moscambilha" e vendo um RELIM, de imediato o mandou para Bissau;

5º - De manhã, o comandante, sabedor da gafe, emite outro RELIM a desdizer o inicial;

6º - Entretanto o general Spínola, conhecedor do 1º RELIM, fez o habitual - voou para Augusto Barros;

7º - Cumpridas as formalidades, o general regressou aos seus aposentos;

8º - Uma vez em Bissau, apercebe-se do 2º RELIM e diz : "estão a gozar comigo" ?

9º - Querem saber o resto da história ?

10º - A 16 de Novembro fomos mandados para a sede do batalhão para a construção da estrada Bula-Binar;

11º - E depois desmontar as 16.000 minas !!!

E com todas estas "habilidades" ainda há quem se faça de entendido e tome os outros por parvos ...

Por respeito aos que morreram em Guileje ou em Bula ou em qualquer outro pedaço de terra daquele território, sejamos comedidos nas apreciações pessoais à realidade daqueles tempos e tenhamos a honestidade intelectual de perceber que cada um viveu os acontecimentos sob um determinado ponto de vista diferente do do camarada que estava ao seu lado, com motivações igualmente diferentes e nem por isso menos verdadeiras.

Deixemos a retórica para os livros e resguardemos o blog, então, para as nossas estórias.

António Matos

(iii) Comentário de L.G.:

Não me fica bem comentar os comentários... Mas, de vez em quando, temos que olhar para o nosso umbigo, contra-parafraseando o nosso Alberto Branquinho... Devo dizer que não sei para que serve, o umbigo. Mas a natureza, se o lá pôs, é por que algum préstimo tem (ou já teve)...

E aqui devo começar por dizer que o mais importante do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não é o Luís Graça, mas sim os camaradas da Guiné... Nem sequer gostaria de ser o primus inter pares, o primeiro entre iguais... Se o sou, é por razões históricas, circunstanciais... Além disso, o primeiro poste é dirigido ao Carlos Vinhal, que é o editor de serviço. Se sou interpelado, é por causa da minha ambição (quiçá excessiva e utópica) de tentar criar e alimentar,desde Abrild e 2005, um blogue inclusivo (onde caiba tudo ou quase tudo, ou melhor, todos ou quase todos...).

Concordo com o António de Matos: o nosso blogue é um blogue de histórias/estórias, de actores, não de espectadores (muito menos de treinadores de bancada ou comentadores desportivos...). Acontece é que crescemos, talvez demasiado... E com 350 moranças e mais de 4600 postes, às vezes há crise de matéria-prima, e começam a falhar as histórias e as memórias.... (Esgota-se o poço, como diz o Miguel Pessoa)...

Mesmo numa caserna virtual como é a nossa Tabanca Grande, onde teoricamente o espaço é expansivel, há problemas de tolerância, de convivialidade, de identidade, de interacção, de comnunicação... O José Brás vem publicamente, e com a frontalidade que é timbre da sua maneira de ser e de estar, pôr a questão (delicada) do desconforto que é de ter de tratar por tu (e chamar camarada a) certos camaradas...

Mas esta é a regra de ouro do nosso blogue: camarada não implica mais nenhuma afinidade do que a de se ter estado na guerra da Guiné (do ultramar ou colonial, como se queira) e de ter dormido, fisica ou simbolicamente, na mesma cama (camerata, em latim), no mesmo abrigo, no mesmo Bu...rako. Camarada não tem mais nenhum outro significado ou conotação.... (Claro que tem, inevitavelmente: vestíamos a mesma farda, usávamos a mesma G3, tínhamos a mesma bandeira, falávamos a mesma língua, pisávamos as mesmas minas, éramos alvejados, mortos ou feridos pelas mesmas balas, etc.).

Agora o que nós tentamos, aqui, todos os dias, é fazer deste blogue um lugar de tolerância, de respeito mútuo, de partilha de valores essenciais como os da liberdade, da verdade e da equidade, etc.

O nosso maior denonimador comum é a guerra da Guiné, nem sequer é a Guiné ou Portugal, muito menos uma certa ideia para a Guiné ou para Portugal... Não somos um blogue ideológico, escrevemos hstórias, partilhamos afectos...

Claro que a partilha de memórias e de afectos também impõe limites à nossa liberdade de expressão... Daí as dez regras de ouro, que criámos, e que são os marcos que balizam o nosso caminho ou melhor o nosso convívio (hoje, não o do passado). Como andam esquecidas, vou aqui relembrá-las (no fim, em anexo).

Dito isto, e pegando ainda nas palavras do José Brás, eu só queria acabar citando uma frase que, permitam-me a vaidade (cá está o umbigo!), é imputada ao célebre Camilo Castelo Branco e a um tal Luís Graça: Questões de honra (e, por extensão, de propriedade e de razão) acabam ao tiro em Trás-os Montes, à chapada ou à paulada no Minho e no Douro Litoral e... em gestos obscenos e demissão de ministros, em Lisboa.

Um Oscar Bravo pelos vossos comentários. Um Alfa Bravo, do camarada Luís Graça.


PS 1 - É importantíssimo que o blogue tenha semppre pessoas críticas, como vocês, ou o meu amigo Vitor Junqueira, tertuliano das primeiras horas, cujo saudosismo saudável e desalinhamento bloguístico, eu aprecio e partilho, em parte: "Ah, quantas saudades do Blog dos primeiros tempos! Tudo se contava na primeira pessoa. Era tão simples, directo e autêntico" (*)...

Os críticos, os pertencentes tanto a grupos estratégicos como grupos conservadores (incluindo os velhos do Restelo, os reaccionários e os resistentes à mudança pela mudança...), são importantes, nos grupos, para se prevenir efeitos preversos com o autismo social, a formatação do pensamento de grupo, o desvio de objectivos, a confusão do desejo com a realidade ou a tragédia da liderança do cego que leva outros cegos para o abismo... (Veja-se o que aconteceu com a élite político-militar do Estado Novo a quem coube, historicamente, fazer a liquidação do Império Colonial).

PS 2 - "Quer é calma" era o nome de um barco de pesca que encontrei, há tempos, em São Jacinto, na Ria de Aveiro, a apodrecer... É também uma expressão típica do meu velhote, que vai fazer 89 anos em 19 de Agosto de 2009, se lá chegar... Usava a expressão, quando as vozes se alteravam no seio da família... A expressão, às vezes, irritava-me... Comecei mais tarde a perceber a sua filosofia de fundo, não como a maneira típica de gerir conflitos entre nós, portugueses, evitando-os ou atenuando as diferenças (de valores, de percepção, de recursos...) entre os protagonistas, mas como condição prévia para se construir consensos (uma arte difícil, que exige tempo, sabedoria, paciência, capacidade de negociação, etc., já que consenso não é unanimidade ou unanimismo nem muito menos paz podre)...

Com muito ruído, histeria, excessos de linguagem, insultos, fulanização, tiros para o ar, cheiro a pólvora e a sangue, emoções à flor da pele, etc., não há condições para se resolver, de maneira positiva e construtiva, os conflitos que nos dividem (e que nos podem destruir, ou pelo menos dar cabo das melhores ideias, intenções e projectos de que o inferno, aliás, está cheio)...

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As nossas regras de convívio da nossa Tabanca Grande:


Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra colonial, luta de libertação ou guerra do Ultramar (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus);

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

Luís Graça & Camaradas da Guiné


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Notas de L.G.:

(*) 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4643: Blogoterapia (113): Saudades do blogue dos primeiros tempos, em que tudo se contava na primeira pessoa (Vítor Junqueira)

(**) 3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)

Guiné 63/74 - P4648: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (19): Os nossos escritores (Luís Graça)

Capa do livro do nosso camarada Abel de Jesus Carneiro Rei, Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68. "Esta é a história que escrevi, não a que gostava de ter escrito", declarou o autor na apresentação do seu livro em 2003. " O livro retrata uma fase da minha vida e pretende de uma forma modesta contribuir para a memória dos que fizeram a minha geração", declarou Abel Rei, emocionado.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Abel Rei e a esposa, Maria Elisete, residentes no concelho da Marinha Grande... O Abel é um dos nossos últimos piras, enquanto membro da Tabanca Grande; é autor do livro Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné (cuja capa se reproduz em cima)....

O livro pode ser encomendado directamente ao Abel Rei, que mora no Beco da R. dos Poços, 1, Lameira da Embra, 2430-126 Marinha Grande / Telem 938 195 700/ Email: abel_rei@hotmail.com / Skype: abel.rei1.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Abel Rei e a esposa, Maria Elisete, residentes no concelho da Marinha Grande... O Abel e a esposa: segundo as estimativas da concorrência, terá conseguido vender, no nosso convívio, mais de três dezenas do seu livro (preço: 10 balas, menos de 100 pp.).

O Abel pertenceu, no ano de 2007, à Direcção do Núcleo da Marinha Grande da Liga dos Combatentes (telefone: 244 551 140), exercendo o cargo de Tesoureiro, que teve de abandonar por motivos de saúde.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Manuel Traquina, "ribatejano, escritor e fadista"... Ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, é também o autor de Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O centro, o Manuel Traquina, e de pé, o António Fernando R. Marques (Cascais)...(O António, ex-Fur Mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, voou comigo numa GMC, no dia 13 de Janeiro de 1971, ao fim de vinte meses de comissão, e teve direito a mais dois anos de comissão militar... no Hospital Militar Principal... Está convidado, de há muito, para fazer parte da nossa Tabanca Grande, o que irá em breve acontecer)...

À direita, António J. Pereira da Costa que veio acompanhado da sua ex, Isabel (também esteve na Guiné, em Mansoa, e já a desafiei a escrever sobre esse tempo; também não é caso único, há mais casais separados ou divorciados, que se juntam em ocasiões como esta... Quem disse que a Guiné não é talismã, uma palavra mágica ?).

O Pereira da Costa é coronel de Artilharia, na reserva, na efectividadeviço... Trocado por miúdos, isto quer dizer o seguinte: "Atingi a idade de reserva, por estatuto (57 anos). Fiz um requerimento aos meus bem-amados chefes, a pedir para continuar ao serviço (na efectividade). Enquanto eu e eles quizermos ficarei na direcção da Biblioteca do Exército. Quer se dizer: estou na reserva, mas todos os dias tenho de ir assentar tijolo e meter telha"...

Na foto, o Pereira da Costa (amigo de infància do meu amigo Tony Levezinho) segura o livro do Abel Rei...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O João Lourenço (Figueira da Foz) e o Fernando Franco (Amadora), dois homens do PINT (Pelotão de Intendência) 9288, Bissau e Cufar, 1973/74 ... De pé, o António Santos (Loures), homem das transmissões, que andou pelo Gabu... Em cima da mesa, o livro do António Graça de Abreu (que foi Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74): Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, 2007.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O António Dâmaso era, se não me engano, o único ex-pára-quedista, presente no nosso convívio... Alentejano de Odemira, pertenceu ao BCP 12.. Está formalmente convidado a aderir ao nosso blogue, para o que basta proceder ao envio de uma foto do antigamente na guerra e contar uma história... Vi-o entretido a folhear um livro, profusamente ilustrado... Imagino que seja sobre os páras, mas desconheço o título e o autor... Será que alguém tomou nota ?

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Um novel escritor, o Coutinho e Lima (embora com 3 comissões de Guiné) autografando o seu livro A Retirada de Guileje, com dedicatória a um outro escritor, Alberto Branquinho, autor de Cambança: Guiné, morte e vida em maré baixa (Lisboa: SeteCaminhos, 2005; 2ª ed, 2009). Em termos militares, o Alberto é contudo um periquito, comparado com o nosso Cor Art Ref, que desta vez não trouxe a sua simpatiquíssima esposa, Isabel.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > A Retirada de Guileje, 22 de Maio de 1973: a verdade dos factos, vai já em 2º edição. O autor é o membro da nossa Tabanca Grande Alexandre Coutinho e Lima. O livro, editado em 2008, pela DG, Linda-A-Velha, não está disponíveil nas livrarias. Contactos do autor: Rua Tomás Figueiredo, n.º 2 – 2.º Esq.1500-599 Lisboa / Telefone: 217 608 243 / Telemóvel: 917 931 226 / Email: icoutinholima@gmail.com


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Um dos próximos livros, de temática memorialística, a saír, no mercado livreiro, será o do n0sso querido amigo Amadu Bailo Djaló, ex-Alf Comando Graduado, do Batalhão de Comandos Africanos... Não sei se ainda este ano, de qualquer modo contando com a preciosa e decisiva ajuda do Virgínio Briote, há meses emprestado pelo nosso blogue ao Amadu Djaló e à Associação de Comandos, que apoia ou patrociona a edição das memórias do Djaló... (Os dois aqui na foto, em atitude introspectiva). Fiquei, entretanto, a saber que o nosso Amadu, membro da nossa Tabanca Grande, também faz parte da Direcção Nacional da Associação de Comandos, embora com o estatuto de vogal suplente. É, além disso, o sócio nº 3110.

O Amadu Djaló e o Virgínio Briote concederam-me a honra de ler o manuscrito, em primeira mão (ou melhor, de submeter, à minha apreciação e revisão, o manuscrito). O livro ainda não tem título definitivo. Mas sabe-se que o 1º volume abarcará um período da história da Guiné-Bissau, relevante para os guineenses e para nós (1958-1974).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Rui Ferreira, ao ao centro, entre o Carlos Vinhal e a Dina... O autor de Rumo a Fulacunda (2ª edição, Viseu, Palimage, 2003) tem em preparação um segundo livro que se chamará Geba, se bem percebi...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Mexia Alves em agradável conversa com o José Brás... Este último foi Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68... É autor de um premiado romance, de 1986, Vindimas no Capim (Lisboa, Europa-América). Pertenceu aos quadros da TAP. Mora em Montemor-O-Novo.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Na primeira fila, o Abel Rei; na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, o Rui Ferreira, o António Graça de Abreu e o Fernando Oliveira... O António teve a genteliza de me oferecer o seu último livro: Poemas de Hans Shan, tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Edição bilingue. Macau, China: COD, 2009.

Dedicatória: "Ao Luís Graça, homem das coisas da Guiné, companheiro e camarada no interiorizar e fluir pelos atalhos da vida, a admiração, a amizade do António Graça de Abreu. Leiria, Junho de 2009".

Haveremos de falar, noutra ocasião, deste extraordinário poeta clássico, chinês, que terá vivido no Séc. VIII, Han Shan [Montanha Fria] e do laborioso, paciente e digno trabalho de tradução do nosso querido António, que é já hoje uma referência em matéria de tradução poética chinês-português... Deixem-me apenas reproduzir aqui um dos 156 poemas do livro (p. 53):

7. Uma vez, homem dos livros e espadas,
dias vezes com protectores e amigos.
Fui letrado a leste,não obtive mercês,
fui soldado a oeste, ninguém reconheceu meu valor.
Estudei as letras,a arte da guerra,
sim, as coisas da guerra, as coisas das letras.
Envelheci, hoje sou um velho,
para quê falar do resto dos meus dias!...



Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

_________________

Nota de L.G.:

Vd. último poste da série > 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)





1. Mais um Camarada-de-armas se aprasenta à nossa Tertúlia Bloguista, passando a integrar a Grande Tabanca. O nosso Camarada Manuel Fernando Tavares de Oliveira (*), que foi 1º Cabo, do 1º Pelotão da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, em Gandembel e Ponte Balana (1968/69), enviou-nos uma curta mensagem acompanhada de 8 excelentes fotos de Gandembel:




Camaradas,

Eu sou um dos sobreviventes do pomposo bura… ko de Gandembel, onde fui 1º Cabo, do 1º Pelotão da CCAÇ 2317, e vivo actualmente em Matosinhos - Leça do Balio.

Vista do lado exterior do quartel de Gandembel

Já reparei que um dos Tertulianos é o Alferes Idálio Reis, também da CCAÇ 2317, a quem aproveito esta oportunidade para enviar aquele abraço, cujo efeito sentimental só o pessoal que esteve na Guiné conhece.

Outro aspecto exterior do quartel de Gandembel

Envio-vos oito das minhas fotos que têm muito significado estimativo e nostálgico, pelo menos para mim, esperando que os Camaradas gandambelistas que as vejam, ainda se lembrem de tudo quanto se passou naquele quartel.

À esquerda o Fur Mil Goulart e o autor do poste

Numa delas estou acompanhado pelo Fur Mil Goulart, no local em que sofremos o 1º ataque do inimigo, que ocorreu durante a noite, tendo o IN encostado os canhões à rede e… foi sempre a disparar.

O morteiro 81 mm - O soldado Sena (à esquerda) e o Manuel Oliveira

Não tivemos qualquer hipótese de responder ao fogo do IN.

Esta foto é de Ponte Balana (À esquerda está o falecido Moreira - municiador do Manuel Oliveira - que está à direita)

Nesse dia ficou ferido o Furriel Ferreira de Nelas, nas pernas, ainda por cima atingido por um dos nossos básicos, que era de Vila Pouca de Aguiar (cujo nome não me recordo já).

A nosssa bem arejada Cozinha

Caso alguém me queira contactar, pode fazê-lo para:
maneltoliveira@hotmail.com
ou, Ubr. Ortigosa Bloco 10 - R/C Esq.
5100 - 183 LAMEGO,
Telefone 254614325 - Telemóvel 966 174 331
Aspecto da Messe de Oficiais e Sargentos - O Manuel Oliveira é o primeiro à esquerda

Resta-me enviar um forte abraço para todos vós e, em especial, para todos os Camaradas resistentes de Gandembel.

Recolha de água para reabastecimento do aquartelamento

Fotos: © Manuel Oliveira (2009). Direitos reservados.

Um abraço,
Manuel oliveira
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Notas de M.R.:

(*) Foi com redobrada satisfação que eu, pessoalmente, recebi notícias do Manuel Oliveira, pois este nosso Camarada tem ainda em comum, comigo, ser meu colega de trabalho na EDP, tendo-lhe eu já lançado um desafio para ele nos contar as histórias, que como é óbvio se lembrar, de Gandembel e Ponte Balana.

O Manuel Oliveira também me enviou algumas fotos das nossas grandes barragens (só no Rio Douro - sem contar com os afluentes -, temos: Miranda - foto acima -, Picote, Bemposta, Pocinho, Valeira, Régua, Carrapatelo e Crestuma)

(**) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968

1. Quinta e última parte das memórias de infância do nosso amigo Cherno Baldé (aqui, na foto, à esquerda, o Engº Cherno Baldé, no seu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações onde exerce as funções de director do gabinete de estudos e planeamento; em Cambajú e Fajonquito, era simplesmente o Chico, menino e moço, nado e criado no meio das tropas portuguesas) (*).

As crónicas do Cherno têm tido, entre os leitores do nosso blogue, um grande sucesso, pelço seu cunho espontâneo e autêntico, bem como pela qualidade da sua escrita. Fazemos votos para que ele dê continuidade a esta série, nomeadamente com as memórias do tempo que passou em Fajonquito (de 1968 até ao final da guerra e primeiros meses da independência) (LG)


FAJONQUITO: Terra da minha adolescência
por Cherno Baldé


Em 1968, [ e não 1958, como por lapso escreve o autor ], o meu pai foi transferido para Fajonquito e com ele toda a nossa família. Todavia, o meu pai não estava satisfeito com a transferência porque ela tinha provocado a separação com o seu irmão Dembaro, cuja família não podia sair de lá naquela época de rigoroso controlo do movimento de pessoas, por parte das autoridades tradicionais fortemente empenhadas na guerra, sem um pretexto muito forte.

A nossa família, sobretudo, era muito suspeita após a fuga espectacular de Sambagaia, com quem [as autoridades tradicionais] tinham contas a ajustar. Durante mais de um ano, o meu pai esteve à procura de uma maneira de tirar de Cambajú o seu irmão mais velho ao qual tinha jurado fidelidade e assistência.

Finalmente, um ano após a nossa vinda chegou a outra metade da família com Dembaro à testa, para alívio e alegria do meu pai. Este me contaria, mais tarde, que tinha conseguido [isso], graças à ajuda e cumplicidade do Capitão da Companhia que estava colocado em Fajonquito (Cap Carvalho?) e que enviava regularmente um destacamento de 20 dos seus homens para Cambajú. Através de amigos, conseguiu falar com o capitão, explicando-lhe todo o melindre da situação. Este não deu muita importância ao caso e esperou até a altura de proceder à troca de destacamentos e disse ao meu pai para transmitir ao irmão de que devia estar preparado a qualquer momento para embarcar na coluna que traria de volta o destacamento que se encontrava em Cambajú. (**)

E foi assim que, de forma rápida e inesperada, o Dembaro e a família viajaram num camião GMC militar para Fajonquito, colocando tudo e todos perante o facto consumado e granjeando ainda o respeito devido aos amigos do Capitão da Companhia que detinha um poder enorme nas redondezas e, aparentemente, suplantava mesmo as autoridades civis.

Fajonquito, naquela altura, era enorme, devido à concentração das famílias que aqui encontraram refúgio depois dos ataques às suas aldeias ou por imposição das autoridades locais.

Em Fajonquito nasceram os meus irmãos mais novos: Barbosa, Aissatú e Cántaba; e, mais tarde, os filhos da segunda mulher do meu pai, Assiatu Embalo: Umo, Rosa, Mariama e Mamadu-Bobo.


Cherno Abdulai Baldé, Chico
Natural de Fajonquito,
Sector de Contuboel,
Região de Bafatá.

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Notas de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores:

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

(...) Chamo-me Cherno Abdulai Baldé, nasci por volta de 1959/60. No quartel de Fajonquito chamavam-me Chico (de Francisco) e tinha amigos soldados que, na sua maioria, eram condutores ou mecânicos-auto. Tive as minhas primeiras aulas com oficiais Portugueses, em Cambajú e Fajonquito. (...)

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão

(...) Foi naquela época que, na idade de 4 ou 5 anos, aconteceu a minha primeira visão de uma máquina voadora, que terá sido, provavelmente em meados de 1964, precisamente na altura em que estávamos em Samagaia, pouco tempo antes do ataque à zona que nos obrigaria a deixar a aldeia para nos refugiarmos em Cambajú, onde o meu pai já se encontrava a trabalhar alguns anos antes. (...)

24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo

(...) Em Cambajú, pequeno centro comercial, começou o despertar da minha infância, altura em que, saído da pequeníssima aldeia de Sintchã Samagaya, fundada por meus pais, aterrei-me numa aldeia de muito maior concentração de moranças e de gente. Cambaju estava situada mesmo na linha da fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e o contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras. (...)

25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio

(...) No ano de 1965, altura em que a guerra para a independência se alastrava rapidamente e aterroriza as aldeias daquela área e obrigava a uma concentração maior da população em certos locais com algumas garantias de defesa e protecção militar, Contuboel, Saré-Bacar, Cambajú e Fajonquito constituíam as praças-fortes da área. Em Cambajú foi estacionado um destacamento de milícias que assegurava a defesa da localidade e que mais tarde foi reforçado com um destacamento de tropas portuguesas. Pela primeira vez na minha vida ainda jovem, via pessoas de uma raça diferente. Foi um choque tremendo. (...)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói

(...) Ainda hoje, a nossa mãe está convencida que este ataque foi obra dos primos do meu pai que viviam do outro lado da fronteira, não muito longe de Cambajú. Aconteceu que, no dia anterior ao ataque, o meu pai tinha recebido uma grande quantidade de mercadorias e, por coincidência, no mesmo dia tinha-se despedido uma pessoa que estava hospedada em casa para tratamento e que voltara junto dos tais primos da outra banda. Assim, nesse dia do ano de 1966, na calada da noite, pouco depois das quatro horas de madrugada, ouvimos tiros. Primeiro os disparos se fizeram ouvir a oeste para os lados do quartel, fazendo pensar que o objectivo era militar, depois se espalharam rapidamente contornando a aldeia. (...)


(**) Pode tratar-se da CCAÇ 2435, comandada pelo Cap Inf José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Cap Inf Raul Afonso Reis, unidade orgânica do BCaç 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, que assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1685, em 7 de Dezembro de 1968, e vindo a ser substituída pela CCaç 2436, em 20 de Abril de 1970.

Ou então, mais provavelmente, trata-se da CCaç 1685, comandada pelo Cap Inf Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do BCaç 1912, e mobilizada em Évora no RI 16: assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, e vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.

No entanto, o Chico diz-nos que "quando a minha familia se transferiu para Fajonquito, a companhia 1501 já estava no fim ou já tinha terminado a sua comissão mas, na memória de todos, em Fajonquito, tinham ficado gravadas estas insígnias em forma de números que perduraram no tempo. No meu caso, não sei explicar as razões, ainda era muito pequeno, mas a insígnia ficou para sempre"...

Recorde-se que CCAÇ 1501, comandada pelo Cap Inf Rui Antunes Tomaz, era uma unidade orgânica do BCAÇ 1877, mobilizada em Tomar no RI 15, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito e rendido a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967. Veio a ser substituída pela CCaç 1685, em 19 de Setembro de 1967.

Guiné 63/74 - P4645: In Memoriam (25): Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos (1976-2009): Missa do 7º dia, 4ª feira, 19h, Igreja do Campo Grande

1. Falei ao fim da manhã com o nosso camarada Mário Beja Santos. Tivemos uma longa conversa que nos fez bem, aos dois, e onde falámos longamente da Locas (última, foto à esquerda), que morreu durante o sono de embolia pulmonar, no passado dia 2 (*).

Perante o irreparável, perante a dor devastadora que nos causa a morte de um(a) filho(a), aos amigos pede-lhes apenas que saibam ouvir, escutar, entender, ter compaixão, e ajudar o(s) outro(s) a começar a fazer o luto... Fui encontrar o Mário agarrado ao trabalho. Obstinado como um poilão secular do Cuor... É dele a mensagem que agora publico:

É para vos informar que a missa do 7º dia da minha Adorada Locas será celebrada na Igreja do Campo Grande, [Lisboa,] dia, 8, pelas 19:15 horas. Escuso de vos dizer como nos comoverá a vossa presença.

Recebemos, a minha família e eu, provas de um enorme carinho de todos aqueles que amavam a Locas e nutrem por nós estima intensa, consolaram-nos muito, mitigaram o nosso indescritível sofrimento.

A Locas adorava Sintra, será ali que depositaremos as suas cinzas. Depois, dou-vos notícias dessa romagem.

Como no poema de Manuel Bandeira, a Locas nem precisou de pedir licença para entrar no Céu (**).

Mário


2. Comentário de L.G.:

Lá estaremos, Mário, Cristina e Joana, no dia 8, 4ª feira, às 19h, na Igreja do Campo Grande...

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4644: In Memoriam (24): Maria da Glória Alln Revez Beja dos Santos: "Morte, onde está a tua vitória ?" (Mário Beja Santos / Luís Graça)

(**) Irene no céu, de Manuel Bandeira (Recife, 1886 - Rio de Janeiro, 1968)

IRENE NO CÉU

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão [bonacheirão]:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.


In Libertinagem (1930)