quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5528: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (26): O “regresso” do Soldado Manuel



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias (a 26ª), com data de 20 de Dezembro de 2009:


Camaradas,

O autor desta história é desconhecido e o meu "mérito" terá sido encontrá-la num jornal da minha região, jornal esse que foi publicado já lá vão 45 anos.

O texto - posso dizê-lo porque não é meu - é muito bem escrito.

UM EPISÓDIO DE GUERRA NA GUINÉ PORTUGUESA
(O “regresso” do Soldado Manuel)

Na parede de adobe, mal caiada, e onde esverdeadas manchas de humidade alastravam, o calendário (Ano de 1963) marcava uma data: 24 de Dezembro.

Com a janela aberta, por onde apenas entrava, na abafada, sufocante noite tropical, uma suspeita de frescura, o jovem oficial miliciano, à luz de uma vela, escrevia: «… Minha Querida Mãe, são 21 horas e 40…

À luz de uma vela, porque a chama do petromax é alvo demasiado visível para qualquer atirador especial terrorista, alcandorado, ao longe, no cimo de alguma árvore. Mas ouve-se um estampido. Podia bem ser a rolha de uma garrafa de champanhe a saltar…

Ao estampido segue-se, porém o assobio quase imperceptível de uma bala que vai cravar-se na húmida parede de adobe, coisa de um metro acima da cabeça do oficial. Este apaga logo a vela. Depois, às apalpadelas, no escuro, procura o capacete e a pistola.

Quando finalmente sai já o duelo – a tiros de espingarda e rajadas de metralhadora - está a travar-se entre os terroristas (ocultos na floresta) e os seus soldados abrigados por detrás da muralha – só aparentemente frágil – de velhos bidões de gasolina cheios de areia. Entre uns e outros a cerca de arame farpado.

Está isolada a pequena força do destacamento de Caçadores.

O posto mais próximo é a muitos quilómetros de distância. Antes que amanheça, nenhum auxílio podem esperar estes homens. Mas será que os terroristas se aprestam para um ataque frontal? Horas iguais de uma noite abafada e húmida.

Aos soldados e ao oficial também, o que sobretudo os irrita é que aquele inoportuno tiroteio aconteça em noite de Natal, já com a mesa posta para a consoada.

E havia broas, uma galinha assada, algumas garrafas de bom vinho.

A noite, entretanto, povoa-se de clarões – as armas de fogo que disparam incessantemente, assinalando cada segundo com um tiro. E as horas passam.

Mas o jovem oficial nem tempo tem para ver as horas no pequeno mostrador luminoso do seu relógio de pulso. E nem sequer pensa no perigo – ali entrincheirado e tendo pela frente um inimigo bem armado, que a palmos conhece o terreno e vê de noite, como o jaguar.

Agora só pensa naquela carta que teve de interromper: «… são 21 horas e 40…».
Mas quando é que isso foi?

Era noite de Natal. Ele escreveu à luz discreta de uma vela de estearina, algures no mundo , nesse mundo onde não há clarões de armas de fogo, nem assobios de balas, ardiam círios nos altares, centenas de círios, milhares de círios, que não era preciso apagar à pressa no princípio de uma carta…

E agora? Sim. A meia-noite deve estar próxima. Talvez o padre, algures, já esteja a encaminhar-se para o altar. Mas o jovem oficial não o sabe de certeza – e não pode ter um olhar para o mostrador luminoso do seu relógio de pulso. A pistola-metralhadora palpita-lhe nas mãos como se fosse dotada de vida própria e chispas de fogo, desdobradas em leque, correm, segundo a segundo, em direcção à negra cortina de arvoredo.

No mundo em que não há guerra já decerto agora o sacerdote acabou de celebrar a Missa do Galo.

Aqui, o fogo começa, enfim, a esmorecer.

Naturalmente, os terroristas principiam a retirar, para que os aviões ao amanhecer, se viessem bombardear a floresta, já não os encontrem…

Uma a uma, calam-se as armas automáticas do inimigo. Uma a uma, a intervalos certos, como se houvesse, algures no mato, a batuta de um maestro.

Mas será de facto a retirada? Não será antes o silêncio de mau agoiro que sempre antecede a gritaria de um assalto frontal?

Não. É efectivamente a retirada. E devagar, como se lhe custasse a acordar de um pesadelo, o jovem oficial recolhe ao seu quarto, risca um fósforo, acende a vela, atira para um canto o capacete, que está a queimar-lhe a testa, e suado, exausto, com os nervos num feixe, senta-se, de novo, à mesa para escrever: «… pois agora, minha querida mãe, são 3 horas e 20.Eu e os meus soldados tivemos uma noite de Natal muito divertida .Nem imagina… As broas que nos mandou souberam a pouco. E das garrafas mandadas pelo pai diga-lhe que não ficou nem uma gota».


21 horas e 40. 3 horas e 20.

Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.
_________

Agora, no hotel, em Bissau, sentado ao meu lado, almoça. Está no porto o barco que o vai levar de regresso a Lisboa. Trouxe este barco 800 homens. Vai partir com outros tantos, aproximadamente. Os que chegam passam, em camiões, a cantar.

Também cantam os que partem. Entretanto, o jovem oficial diz-me, com simplicidade:

- À minha mãe é que nunca hei-de contar o que foi aquela noite…

Mas logo acrescentando:

- «Agora uns meses à boa vida e depois a África outra vez, como empregado em qualquer empresa de Angola ou de Moçambique: este veneno de África entrou-me para sempre no sangue».

__________

Artigo não assinado. Publicado em «O ALCOA» em 8 de Fevereiro de 1964 (Ano XVII-Nº.876)


A partir daqui é comigo.

O subtítulo «O “regresso” do Soldado Manuel» é da minha responsabilidade.

“Regresso” no sentido de pesquisa e homenagem à memória deste militar português que terá morrido na noite de Natal do longínquo ano de 1963.

Desde há cerca de 2 anos que tento descobrir dois mistérios que resultam deste artigo de O ALCOA”:

1) Quem é o Alferes Miliciano?

Só pode ser da região de Alcobaça. Regressou à Metrópole num navio que deixou Bissau em Janeiro de 1964.Há um navio que saiu de Bissau em 17 de Janeiro de 1964.

Já localizei as Companhias e Pelotão de Morteiros e AAA que regressaram nessa altura. Esses militares estiveram cerca de dois anos na Guiné onde a guerrilha começa a ter importância no terreno a partir dos primeiros meses de 1963.
(C.Caç. 600, C.Caç. 512, C.Caç. 506, C.Caç. 513, C.Ca. 356, C. Caç. 599.)

Para se ser Alferes Miliciano nesse tempo era preciso ter habilitações literárias no mínimo equivalentes ao 3º. Ciclo dos Liceus (antigo 7º. Ano).

Pesquisei no arquivo da C. M. de Alcobaça os registos de mancebos respeitantes aos anos de 1958, 1959, 1960 e 1961.

Encontrei vários nomes, consegui alguns contactos pessoais mas... nada.

Ou, por outro lado, é o narrador que é da região de Alcobaça e o Alferes Miliciano é de outra região qualquer!?

Passaram mais de 40 anos e posso andar à procura de uma pessoa que já não esteja neste mundo.

2) Quem é o militar que morreu na véspera de Natal de 1963?
Nos registos oficiais do E.M.E. só há um militar das milícias locais que morreu por acidente em 24 de Dezembro de 1963 – JARGA SEIDI, soldado-atirador da CCS/Bat. Baç. 508, em Contubel.

Com nome de Manuel há um registo em 28 de Dezembro de 1963:



MANUEL RAMALHO CAPELAS
1º.CABO-ATIRADOR
CCAV 567
BINAR
DATA DE FALECIMENTO – 28 DE DEZEMBRO DE 1963
FERIDO EM COMBATE
Mortos em Campanha – Guiné – livro 1, pgs.42


Não é impossível um engano nos registos mas não é nada vulgar…

Há outras “incoerências” que não encaixam na história: Binar não é um posto fronteiriço e um primeiro-cabo não era habitual ser “impedido” de um Alferes. Por outro lado a CCav 567 só acabou a sua comissão em meados de 1965!

Resumindo e concluindo:

Passo a minha angústia e o meu mistério à nossa Tabanca Grande.

Alguém alguma vez ouviu alguma coisa deste ataque a uma pequena força de um destacamento de Caçadores na noite de Natal de 1963?

«…Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.»

«…Malhas que o Império tece

(O Manuel)

Jaz morto e apodrece…».
___________

A minha intenção ao evocar o “Soldado Desconhecido” desta história – o Manuel – é acima tudo de homenagem e de respeito.

Se não houver respeito, melhor ainda, se não houver grandeza de alma e memória Portugal não merece os que morreram em seu nome.
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5527: Votos de feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (18): Patrício Ribeiro, pai dos tugas em Bissau... (Luís Graça)



1. Mensagem do Patrício Ribeiro,  o "pai dos tugas da Guiné", e nosso mui estimado tabanqueiro:

 Assunto - As árvores no Natal...


As cabaceiras com os seus frutos, dos quais se fazem uns sumos muito apreciados na Guiné.

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

Av. Domingos Ramos 43D
C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645,
Guiné Bissau

Tel / Fax 00 351 218966014
Lisboa
http://www.imparbissau.com/
«mailto:«impar_bissau@hotma

2. Comentário de L.G.:

Patrício, deixa-me desejar-te, a ti, ao teu filho e à tua esposa, os melhores votos desta quadra festiva... Que o ano novo que aí vem (NOVO, será mesmo ?), seja o melhor possível, para ti, família, negócios, guinéus e Guiné-Bissau... Que seja bom para todos nós, cidadãos do mundo!

Aproveito a oportunidade, Patrício, para te agradecer pessoalmente (que me permitam, os meus amigos e camaradas da Guiné, o uso e abuso  deste priviégio...) a forma amiga, paternal, cúmplice, com que recebeste, em Bissau, o Dr. João Graça, meu filho... Sei que foste com ele, pelo menos duas vezes a um dos bares da Bissau Velha, onde ele tocou...Não há dinheiro que pague estes pequenos grandes gestos que distinguem os seres superiores...Creio que o João reconheceu isso mesmo, ao tratar-te, à despedida, no aeroporto por Pai Patrício. Quando cá voltares (sei que vais à faca, um dias destes...), temos que nos juntar á volta da nossa mesa... Do Porto com um chicoração, Luís Graça

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5526: Histórias de José Marques Ferreira (13): O Regedor do território



1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, que foi Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 23 de Dezembro de 2009, a seguinte mensagem:

A todos os camaradas desta tertúlia;

Junto um ficheiro com uma das minhas habituais estórias guineenses.

Quero aproveitar para desejar Boas Festas e um melhor Ano Novo de 2010, a todos os tertulianos desta Grande Tabanca.

E que o Natal se prolongue durante todo o ano e não só nestas alturas...

Sobre esta história, não tenho qualquer fotografia. Mas conheci o homem que nela se refere. Nada sei dele, após a independência. A foto que junto, foi obtida na placa do alpendre do aquartelamento, onde o homem aponta na direcção em que se situava a fronteira com o Senegal.

Estávamos em Ingoré.

Para terminar, falta desejar mais uma coisa: Muita Saúde para todos...porque, pelo que eu tenho "visto" por cá, nem todos andam no seu melhor nesta área...



O Regedor do território

No dia 5 do mês passado [Abril de 1964], toda a nossa Companhia se sentia satisfeita, pois tratava-se da data de imposição de JOAQUIM JANDI como Regedor do território de CAN JANDIM.

Por demais estimado por toda a tropa, seja a nossa com base em Ingoré, ou dos nossos camaradas do sector vizinho – Felupe, com base em S. Domingos. Joaquim Jandi, régulo de Can Jandim, alferes de 2ª linha; fidelíssimo, simpático e colaborador incansável e imprescindível – teve uma herança de fidelidade, honra e brio patriótico, pois já seu pai se contava como um dos mais dedicados cidadãos Guineenses.

À morte do pai, Joaquim, um dos vários filhos do velho chefe – fora escolhido pelo espírito arguto e a lucidez que se respira na morte; impregnada de uma quase iluminação divina!... Os outros irmãos aceitaram a escolha! São assim os Cassangas – aceitam o que se lhes pede e obedecem a quem têm por mais dotador – que o diga a frase corrente: «Primeiro Deus e depois branco – mais só Deus».

Joaquim tem no seu curriculum de fidelidade e fibra que não torce pormenores vários que o guindaram sem sombra de dúvida a Alferes de 2ª linha – que o diga o ataque a Can Jandim, quando o chefe dos bandidos que pretendia atacar a sua tabanca, dizia: “Vem Joaquim, vem, nós queremos falar contigo…”

Mas Joaquim com a sua fiel caçadeira ao lado, entrincheirado por trás dos adobes da sua varanda com peças de abrigo, respondeu:

- Não, vem tu. Eu estou em minha casa. Estou pronto a receber-te…

A esta argumentação inteligente ripostou o grupo assaltante com uma saraivada de zagalotes – de que ainda hoje há sinais na parede.

Joaquim e dois irmãos defenderam-se com brio, galhardia até aos limites dos seus escassos cartuchos de caçadeira. Joaquim fogueava o clarão que partia incessantemente por debaixo do frondoso cajueiro nas traseiras da casa ou outro que aparecesse mais ousadamente. Viu-os gemer, arrastar os feridos e mortos e destes alguns lá ficaram para banquete dos jagudis.

Assim, deslocámo-nos a Can Jandim satisfeitos do novo cargo que ele era empossado; até porque, quero ainda referir – que tem mais – Comandante do corpo de milícias de Can Jandim – cujo efectivo treinado, disciplinado ao chefe, não só são óptimos batedores de mato, como entre S. Domingos e Sedengal foram outros dos baluartes de defensiva fronteiriça – e quero frisar que com tanta eficiência – como nós nos nossos destacamentos o faríamos…

Que o diga a defensiva, abrigos, etc. Tudo obra do espírito espevitado de Joaquim – reforçada pela compreensão e boa vontade do Comandante de Ingoré na defensiva exterior.

Parece que neste dia 5 de Abril tudo se escoava para Can Jandim. A administração deu passaporte de Ingoré, a Companhia de Ingoré contribuiu com outro tanto esforço e ainda mais em novas idas a Can Jandim – Sedengal e vice-versa – já que todos pediam “passajo, passajo – Can Jandim”. De S. Domingos veio o Administrador e o Comandante da Companhia lá estacionada; e daqui muito mais gente veio…

Tantânos, calandis, marimbas, apitos, cantares, tudo se confundia numa azáfama barulhenta, festiva, com todo o ritmo e feitiço negro. O momento mais palpitante chegou. Joaquim – todo aprumado, vestido no seu fato branco de gala, cinturão reluzente – escrevia em bom português o seu nome, depois de o Administrador ter dito o significado do acto e despacho de Sua Ex.ª – O Governador – do novo cargo a que Joaquim era elevado.

Todos os chefes de tabanca, e eles eram tantos, assinalaram com uma impressão digital à sua pessoa – que o escrivão da Administração depois cifrava no nome.

Todos os oficiais, civis brancos, etc. serviram também de testemunhas do acto. Malan – régulo de Ingorézinho – não deixou de comparecer com a sua inseparável «Mauser» - e naquela hora – abraçou efusivamente o seu colega. Qual deles o mais dedicado, o mais fiel!... Falaremos oportunamente do Malan…. e do seu braço direito – o filho e herdeiro do regulado – Sambazinho. Tudo terminou e Joaquim era efusivamente felicitado.

Nesta altura os tamboreiros e todo o exótico da barafunda instrumental negra entravam mais entusiasticamente na barulheira. Debaixo dos cajueiros um caldeirão astronómico cozinhava o arroz que seria distribuído a todos os visitantes.

A tropa dançou, todos se divertiram e tudo acabou com a distribuição de lembranças, guloseimas, etc., que o nosso Comandante de Companhia teve a feliz ideia de encaixar na mesma festa; e para coroar o termo da mesma, para dar uma ponta de alegria e, vamos lá, até de bom gosto – saiu a eleição da «BAJUDA DE RONCO».

Ao concurso apresentaram-se várias candidatas, as duas primeiras – SALÔ E MOSQUEVA – foram a 1ª e 2ª misses, e receberam lenços e mais roncos das mãos do nosso Comandante, e as restantes, lembranças do mesmo teor dos Alferes, com a retribuição final duma beijocada. E para terminar fica-nos que a “mama firmada” e pujança de SALÔ venceram a feminilidade e o rosto cândido da esguia e delicada MOSQUEVA.

“ÓKEY” = Pseudónimo de Ramiro Fernandes de Figueiredo (Ex-Alf. Mil. Médico da CCaç 462 – Ingoré)
In «Jornal da Caserna» da CCaç. 462, de 9 de Maio de 1964

BAJUDA DE RONCO

Várias são as concorrentes.
Não senhor – não havia pentes…
Só bajudas, virgens e sem tangas
Sim, todas eram giras e honradas
Não usavam cabelos cortados rentes,
Apesar de haverem algumas fanadas.
Vestiam panos e corpetes longos
Todas carregavam roncos
Não fossem elas Cassangas!...
Nalgumas são artífices as tranças e risquinhos
No cabelo há o pauzinho p’ra espevitar os dentes
É o uso destas gentes…
Rodeiam-no bolsinhos de coiro
Talvez um costume moiro,
Para nele meter os mézinhos.
Tudo correu com agrado geral;
Lenços, fios e roncos são as ofertas
É tudo ao abrigo da psico-social.
Fazem-se fotografias mestras
Das bajudas, dos beijos…
Da miss de eleição certa
E também de bofetadas lestas.
SALÔ – “mama firmada”
De aspecto mais ousada
É a primeira indigitada.
Mosqueva, por não ser tão avantajada
Fica para segunda
Apesar de mais franzina e delicada.

Para todos um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
____________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P5525: Parabéns a você (58): Albano Costa, o Foto Gui...fões, Gui...daje (Luís Graça)



Guiné-Bissau > Saltinho > Rio Corubal > Uma cena quase bíblica... Mulheres e crianças tomando banho nos rápidos do Saltinho... Poucos de nós tiveram o privilégio de, em tempo de guerra, contemplar uma cena idílica como esta... Na época o Rio Corubal  era um dos sítios onde o tuga não se atrevia a tomar banho, com excepção do Saltinho... É dos rios míticos que, quais fantasmas, nos povoam a memória... Obrigado, Albano!



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bamnbadinca > Rio Geba > Novembro de 2000 > Esta criança muito provavelmente não andava na escola que não tinha... mas tinha a liberdade de pescar no rio

Fotos: © Albano Costa (2006). Direitos reservados




1. Foto Guifões, Foto Guidaje... Quem é quem ? O nosso Albano Costa, um dos membros da primeira hora do nosso blogue... Faz hoje anos mas só os comemora em Janeiro... Razão da anomalia ? O trabalho, a freima, a Foto Guifões... É um trabalhador compulsivo...

De facto, o Albano não tem mãos a medir nesta quadra natalícia... É um negócio que vem do tempo do pai do Albano, e que se mantém de pé, apesar da crise... É um homem positivo que, conrtrariamente a muitos colegas de profissão, sabe ver uma janela de oportunidades onde outros vêem um muro de obstáculos...

O Albano é um filho de Guifões, Matosinhos, muito estimado entre os seus conterrâneos.  E conhecido de todo o mundo. Já lhe telefonei ao princípio da tarde, a dar-lhe o meu caloroso abraço de parabéns (*). E a justificar o atraso pela publicação deste poste (que vao sair à noite)... Acontece que estive todo o dia na aldeia, Candoz, Marco de Canaveses. E regressei agora, à Madalena, onde estou alojado do hotel do meus cunhados,  Nitas & Gusto, sito na Rua Dom Afonso Henriques, nº 30...

Falámos ao telefone, perguntei pelo Hugo, seu filho, que o acompanhou na viagem à Guiné, em Novembro de 2000, e que já lá voltou outra vez, em 2005, desta vez sem o pai. O Hugo é igualmente membro da nossa Tabanca Grande.


O Albano fala da Guiné com grande emoção. E do seu povo amável, que nos trata, a nós, antigos combatentes da guerra colonial, como amigos e irmãos. Ele já era fotógrafo (profissional) quando fez a sua comissão de serviço, como 1º cabo, operacional, na CCAÇ 4150 (Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74). Ao telefone, disse-me que conhecia e se lembrava bem do Braima  Djaura, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 19 (1972/74) (**).

A sua paixão pela fotografia fez com que ele fosse,  no início do nosso blogue, um dos nossos camaradas com mais documentação sobre a Guiné, de ontem e de hoje, juntamente com o Humberto Reis.

Em Novembro de 2000, quebradas as últimas resistências psicológicas, o Albano voltou à Guiné, agora como simples turista, revisitando sítios por onde estivera vinte e seis anos antes (a região do Cacheu) e conhecendo muitos outros de que só ouvira falar (incluindo a zona leste)...


Nessa viagem de 15 dias, com um grupo de camaradas, ele não só fez um excelente vídeo de seis horas (realização, montagem e insorização do Hugo Costa, seu filho) como tirou muitas e óptimas fotografias, que fazem hoje parte de grossos álbuns e que eu já tive o privilégio de ver, em Guifões, Matosinhos, no seu estabelecimento comercial, logo no Natal de 2005... Conheci-o pessoalmente nessa altura e logo ficámos amigos. 

 Muitas das suas fotos, bem como as do Hugo, tem sido publicadas no nosso blogue, com destaque para as de Guidaje.   Reproduzo acima duas suas fotos, de que gosto muito, e que curiosamente foram tiradas da zona por onde andei, em 1969/71...

Meu caro Albano: é um poste apressado, feito em cima do joelho, antes do jantar, mas feito com o coração e a boa vontade deste amigo e camarada, momentaneamente teu vizinho nesta quadra natalícia. Sei que ainda entras oficialmente no clube dos SEXAS, mas a gente cá te espera... DEá um abraço ai teu filho Hugo (há um outro que eu nãio conheço), um beijinho à tua esposa, um chircoração para a tua mãezinha que vive contigo... E para ti, o melhor que se posso desejar é saúde, paz e bons negócios ppara o ano de 2010... Espero poder dar-te um abraço, ao vivo. um dia destes.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5505: Parabéns a você (57): José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 (Editores)

(**) Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5520: Os nossos camaradas guineenses (24): Vi matar o meu camarada Lamine Sanha (Braima Djaura)

Guiné 63/74 - P5524: O meu Natal no mato (27): Um postal e um bolo-rei (António Dâmaso)

1. Mensagem do nosso camarada António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 22 de Dezembro de 2009:

Um postal e um bolo-rei

Caro Luís Graça e Colaboradores,

Não encontro palavras para enaltecer o vosso trabalho pela causa dos antigos combatentes.

Pertenci a uma tropa de elite, que muito me orgulho de ter pertencido, mas como vivi os martírios que muitos outros viveram, nunca me esqueço destes.

Embora estivesse preparado para situações de combate difíceis, até para morrer, no entanto não estava preparado para enfrentar situações pós traumáticas por perda de camaradas que carreguei às costas e depois tive de os deixar sepultados em Guidage.

Quando precisei de apoio, o que me ofereceram foi uma ameaça de uma «porrada».

Voltei a viver momentos difíceis desde 2004, quando fui obrigado a reviver situações que desesperadamente andava a tentar esquecer, sem o conseguir, durante mais de trinta anos.

Foi através do V/Blogue que encontrei o apoio que me ajudou a ultrapassar os momentos mais difíceis, a todos o meu Muito Obrigado.

Estamos na época Natalícia onde é costume mandar e desejar Boas festas e um Feliz Natal, Próspero Ano Novo, etc. aos nossos familiares e amigos.

Com as novas tecnologias, existem milhentas formas de fazer postais de Boas festas, apenas dependendo da criatividade de cada um.

Este ano encontrei um nas minhas memórias que tem uma certa carga simbólica para mim, gostava de os compartilhar com os frequentadores do Blogue.

Estávamos em Dezembro de 1972, avizinhava-se a data Natalícia, era o 6.º de 7 Natais que passei em África, mas este foi o único que passei em pleno mato, acampado em Cadique no Sul da Guiné.

Tínhamos umas instalações de 1.ª constituídas por uns buracos no solo, tendo como tecto duas camadas de troncos cruzadas e depois folhas de palmeira, em cima muita terra e por último, mais uma camada de folhas para a chuva depois não passar.

Tivemos o privilégio de construir a nossa própria habitação para dormir quando não estávamos em plena mata em Operações e lá se ia vivendo com as mãos cheias de bolhas e calos, com uns ataques à mistura para animar o pessoal.

O fotógrafo do Pelotão resolveu fazer umas montagens fotográficas para nos facilitar a vida e ganhar mais uns “pesos”, com fotos nossas nascia um postal de Boas Festas, o que tenho o prazer apresentar, foi enviado à minha filha que à época tinha 6 anos.

Apesar de estar no mato, recebi de cá uma encomenda com um bolo-rei e uma garrafa de vinho do Porto, que foram mais ou menos equitativamente repartidos pela minha família de ocasião mais chegada, os trinta e tal elementos do 3.º Pelotão da CCP 121, claro que os cálices eram os copos do cantil e, mais gota menos pingo, todos foram contemplados.

Felicidades para todos e muita saúde.

Um abraço,
António Dâmaso
Sarg Mor da FAP (situação de Reforma Extraordinária)

Fotos e legendas: © António Dâmaso (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5523: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (17): Os três reis magos... (Parte II) (Mário Migueis)

OS REIS MAGOS DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ (Parte II)

Só na banda desenhada os 3 Reis Magos podem ser 4, sendo que três andam de camelo e o quarto, mais evoluído, usa um sistema de transporte altamente sofisticado para a época, conhecido no século XX por jeep militar. Porque tem patente mais elevada na cadeia hierárquica dos Magos, tem direito a motorista.

Vamos à segunda parte da história





Mário Migueis da Silva
Ex-Fur Mil de Rec Inf,
Bissau, Bambadinca e Saltinho,
1970/72
__________

Nota de CV:

Vd. poste da I Parte de 18 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5493: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (9): Os três reis magos... (Parte I) (Mário Migueis)

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5517: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (16): Pedrada no charco a bem dum Natal introspectivo… (António Matos)

Guiné 63/74 - P5522: Estórias cabralianas (57): As duas comissões do Alfero... ou a sua dolce vita em Bissau, segundo a Avó Maria e a Menina Júlia (Jorge Cabral)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > Cais do Xime, na margem esquerda  do Rio Geba > Meados de 1970 > O nosso Alfero que  também poderia ser um bom guarda-marinha... (Em segundo plano, uma LDG).

Foto: © Vitor Raposeiro (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem do Jorge Cabral:

Amigos!



Há tempos o Luis enviou-me uma fotografia. Parecia reconhecer-me. Olhei e constatei. Sim, ia escrever, fui eu, mas não, sou eu.


O bébé de caracóis, o adolescente sonhador, o alfero apanhado, o pai babado, o jurista atípico, o professor afectuoso, sempre eu. Nem dei pelo tempo e só no outro dia, reparei que tinha envelhecido. Estava no Bar da Universidade e ouvi uma aluna a perguntar a outra:
- Sabes se o velhote do Penal já chegou?
- Velhote, eu?

Pois então, há que assumir e desvendar os labirintos da memória!


Abraços Grandes

Jorge Cabral

2. Estórias cabrialianas > As duas comissões do Alfero (*)
por Jorge Cabral


A foto do Alfero, fardado de Alferes, no cais do Xime, comprova o que Avó Maria sempre disse. O seu neto Jorge deu-se muito bem na Guiné. Até porque, para ela, nunca saiu de Bissau, que devia ser igual à Lourenço Marques dos anos trinta, quando por lá passou. Essa a razão porque o Alfero, cumpriu simultaneamente duas comissões, uma em Fá e Missirá, outra na capital frequentando os bailes do Governador, os quais descrevia com pormenor em longas cartas, nas quais também falava das eloquentes homilias que ouvira na Sé Catedral.

Em resposta, a Avó Maria mandava sempre cumprimentos para o Senhor General e Excelentíssima Senhora Dona Helena, seus companheiros das termas e alertava o neto:
– Cuidado, lembra-te dos louvores do tio Álvaro.

Mobilizado para a Índia, Álvaro regressara feliz, com dois louvores, como ele dizia, dois bébés, filhos de mães diferentes, os indiozinhos, como ficaram conhecidos na família.

A Avó Maria vivia ali à Estrela na companhia da Menina Júlia. Ambas contavam mais de oitenta anos e era difícil descortinar qual a patroa, qual a empregada.

Quem cuidava de quem?

Analfabeta,  a menina Júlia escrevia através da Avó Maria e no Aniversário do Alfero enviou-lhe uma bonita gravata vermelha.  No bairro apregoava que o “nosso menino” estava óptimo, pois vivia num excelente S.P.M., o 5358 era dos melhores…

Neste Natal, eu que já vivi em muitos S.P.M.s, mando uma Mensagem para as duas:
- O “vosso menino” continua na vida, como nos bailes do Governador.

Dançando a Valsa….

Jorge Cabral

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Nota de L.G.:.
 
(*) Vd. último poste desta série: 28 de Outubro de 2009 > Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P5521: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (2): Quotidiano da CART 643 em Bissorã

1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 14 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal
Sou Rogério Cardoso ex-Fur Mil da CArt 643/Bart 645.
Estive quase todo tempo de comissão em Bissorã, com breve passagem por Brá, quando as casernas ainda não tinham portas nem janelas.

O meu ex-camarada Carlos Brito enviou-te umas fotos para serem publicadas no blogue.

Uma rectificação, o local que em que o Unimog foi minado não é junto à pista de aviação do Olossato mas sim de Bissorã.

A granada com que fui atingido era uma PANCEROVKA-Heat-120mm de fabrico Checo, que foi disparada para o GCOMB junto a uma casa de mato, salvo erro de nome Jean Couteou a caminho de Barro. A granada bateu em mim e não rebentou, talvez o único caso da guerra do ultramar em que o atingido se salvou.

Tenho mais fotos que se quiseres envio.

Eu estou nisto da Net há um mês, ainda sou maçarico e vou metendo muita água.

Continuação do Álbum fotográfico de Rogério Cardoso

Foto 1 > 5 de Março de 1964 > Na sala de jantar do Uíge > À esquerda: Furs Mil Dias, Magalhães e Amaral. À direita: Fur Mil Massano (falecido), 2.º Srgt Justiniano e Fur Mil Pereira Almeida.

Foto 2 > Uíge > Na sala de jantar, Furs Mil: Rogério, Cabeças, Águas, Inácio e Peixoto (já falecido)

Foto 3 > Painel da 643 na entrada do aquartelamento de Bissorã.

Foto 4 > Parque automóvel.

Foto 5 > Bolola > MAR64 > Fur Mil Sousa, Alf Mil Paulo (já falecido) e Fur Mil Rogério.

Foto 6 > Bissorã > Dia de S. Martinho de 1964, junto ao paiol.

Foto 7 > Alojamento de Sargentos > Fur Mil Rogério.

Foto 8 > Missão Protestante que dava apoio ao PAIGC, na estrada para Encheia. Alf Mil Lourenço, Sarg Hipólito (já falecido) e pessoal do GCOMB.

Foto 9 > Largo de Bissorã > Sarg Pára Roque, Fur Mil Rogério, Sarg Pára Cardoso e... (?)

Foto 10 > Jantar com civis > À direita o Pedrinho.

Foto 11 > Jantar com civis > Maxe à direita, ao fundo o Administrador Spencer
Salomão, Fur Mil Rogério e outros.


Foto 12 > Fur Mil Rogério com Furriéis da CART 730.

Foto 13 > Bissorã > Rua do Quartel, vendo-se à direira a cobertura do Refeitório e ao fundo a Administração.

Foto 14 > Bissorã > Rua dos alojamentos dos sargentos. Ao fundo, um Buick que não andava, a única viatura civil de Bissorã .
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5515: Estórias avulsas (66): O grande amigo Sargento Bajouco da CART 642 (Rogério Cardoso)

Vd. primeiro poste da série de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5509: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (1): A Paulucha e material apreendido ao IN (Rogério Cardoso / Carlos Brito)