quarta-feira, 10 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5969: Convívios (201): 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67)


Coruche > 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), mais os Pel Caç Nat 52 e 54 > 6 de Março de 2010 > Fotografia de grupo. Este ano associaram-se à festa os antigos Alf Mil  João Crisóstomo (que vive nos EUA), o Antonino Freitas, o Mário Beja Santos e o Jorge Rosales. A foto veio sem legenda: reconheço o Jorge Rosales (o primeiro da 1ª fila, do lado esquerdo), o Beja Santos (o segundo da 2ª fila, a contar do lado direito); e o Henrique Matos (o segundo da 3ª  fila, a contar do lado direito).

Fonte: © Henrique Matos (2010). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Henrique Matos (, ex.-Alf Mil, Pel  Caç Nat 52, 1966/68), com data de hoje

Caro Luís e co-Editores

Tal como foi publicado no nosso Blog, teve lugar no passado Sábado, em Coruche,  mais um encontro (o 19.º) do pessoal da CCaç 1439 que esteve instalada no Enxalé e com destacamentos em Missirá e Porto Gole.  A estes encontros associam-se sempre os Pel Caç Nat 52 e 54 que a foram reforçar. (*)

Foi com muita satisfação que o pessoal reencontrou (passados 43 anos) o ex-Alf Mil João Crisóstomo que vive em Nova Iorque e o ex-Alf Mil Antonino Freitas (este pela segunda vez) que vive no Funchal.

Este ano também tivemos dois convidados especiais que andaram por aquelas paragens: o mais velho, ex-Alf Mil Jorge Rosales e o mais novo, ex-Alf Mil Mário Beja Santos.

Para constar, aí está a fotografia do grupo.

Abraço ao tabancal
Henrique Matos

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de  12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé (**)

(**) Sobre o Enxalé, há pelo menos 23 referências, na II Série do nosso blogue.

Guiné 63/74 - P5968: Novo sítio da Tabanca da Lapónia (José Belo)

Tabanca da Lapónia, sítio do nosso camarada José Belo, a não perder




1. Mensagem do nosso camarada José Belo:

Caro Camarada e Amigo.
A Tabanca Grande deu-se ao trabalho de enviar uma "circular" a todos com a nova morada da Tabanca da Lapónia, mas, aparentemente, muitos não lêm o seu correio, e enviam-me E-mails pedindo a nova morada.

Será possível um CURTÍSSIMO post com a mesma?

Um abraço do
José Belo.



A pedido do nosso tertuliano José Belo, comunicado ao Blogue:

Caros camaradas
Todos sabemos que há teclas que não devem ser utilizadas sem se pensar duas vezes, porque por vezes acarretam dissabores.

O nosso camarada José Belo foi vítima de uma tecla marota que lhe fez peder toda a informação do seu nóvel Blogue.

Quando recuperado do choque e da inevitabilidade de ter de criar outro, meteu mãos à obra e avisou o nosso Blogue do novo endereço.
Fizemos correr uma mensagem onde se informavam os camaradas do sítio da Lapónia reactivado e de como aceder, mas oh destino cruel, não é que continuam a perguntar ao Belo:

- Então pá, então o teu blogue? Quando e onde o podemos visitar?

Porque não queremos que ninguém perca a oportunidade de ver lindíssimas fotos e artigos com assuntos variados, vimos mais uma vez dizer que podem e devem visitar a Tabanca da Lapónia em http://www.tabllap.com/.

Deixo-vos estas três fotos que lá roubei, por uma justa causa, dar-vos a conhecer tão bonito "sítio" e aguçar-vos o apetite para o irem visitar.





(Carlos Vinhal)
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Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5634: Blogues da Nossa Blogosfera (31): Tabanca dos Melros - Ex-Combatentes do Ultramar Português de Gondomar (Jorge Teixeira/Portojo

Guiné 63/74 - P5967: Agenda Cultural (65): O Abílio Machado (ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72) a Toque de Caixa, na FNAC Colombo, Lisboa, 5ª feira, 11, às 18h00


1. Mensagem que o Abílio Machado [ na foto acima, o homem do adufe, na ponta direita,] mandou aos seus amigos do sul (Luís Graça, Humberto Reis, Gabriel Gonçaves, Tony Levezinho, que outrora fizeram parte da CCAÇ 12, e que estiveram em Bambadinca juntos com ele pelo menos 9 meses, entre Maio de 1970 e Março de 1971, bem como ao seu camarada da CCS, o ex-Alf Mil Capelão Arsénio Puim, natural dos Açores, membro igualmente da nossa Tabanca Grande):

Meus caros :

Um abraço a todos.

Tinha prometido que avisaria e aí vai : o Toque de Caixa estará no próximo dia 11 do corrente em Lisboa . Às 15 horas participará no programa Viva a música, de Armando Carvalheda, na Antena 1, transmitido do Teatro da Luz; às 18 horas, estaremos na FNAC, do Colombo, para um pequeno concerto de promoção do novo CD [, Cruzes Canhoto].

Espero que estejam todos bem.

Um abraço, Abilio Machado



2. Em 22 de Janeiro último, já nos tinha enviado um exemplar do CD[, imagem da capa, à esquerda]:

Caros amigos :

Enviei-vos o último CD do Toque de Caixa.  Fresco como um naco de boroa, a rescender a fumo e odor do forno .

Espero que o tenham recebido em boas condições. Depois de meses de trabalho, intenso às vezes ,ele aí está .

Não sei ainda a data de apresentação em Lisboa, mas sei que estaremos no programa Viva a Música,da RDP Antena 1, no dia 11 de Março, no Teatro da Luz .

No mesmo dia estaremos na FNAC,às 18,30 h .

Se houver concertos na zona de Lisboa, avisarei com tempo .

Um abraço a todos
Abilio Machado

3. Comentário de L.G.:

Bilocas: o teu/vosso novo trabalho, Cruzes Canhoto, já anda há mês e meio a fazer a 2ª circular, de casa para o trabalho e do trabalho para casa, bem como as viagens à Lourinhã, ao Porto, a Candoz, e por aí fora... Já lá está na caixinha de música, tal como o primeiro que me ofereceste em tempos (*)...

Parabéns pelo vosso profissionalismo, talento, dedicação e amor à nossa música, à nossa cultura, à nossa gente, às nossas raízes... Não, não é a estafada e requentada música folclórica do antigamente, é criação e recriação do melhor que o novo povo nos deixou em termos de patrimonónio musicográfico. Faço minhas as vossas palavras de auto-apresentação, no vosso sítio:

  "O Toque-de-Caixa nasceu com os cantares de janeiras, no Natal de 1985. O gosto comum pela música tradicional fez com que os seus músicos, um grupo de amigos, prosseguissem a recriação de novos ambientes sonoros. O moderno e o antigo, são elementos de fusão para uma nova música tradicional."...

Nova música tradicional: eis talvez o termo apropriado... Em tempo farei a minha recensão crítica do CD... Para já convido todos os amigos e camaradas da Guiné a comparacer, amanhã, na loja da FNAC - Colombo, em Lisboa, às 18h00 em ponto, para dar um abraço ao Abílio e conhecer os seus amigos do Toque de Caixa, gente de múltiplos talentos que nos traz os sons, únicos, ora alegres ora intimistas, vocais e intrumentais, da nossa música... Os sons da folia, da festa, do adufe à gaita de foles, da rebeca ao cavaquinho, os sons das fabulosas vozes humanas com sotaque nortenho, os sons da saudade,  da brincadeira, do amor, da poesia... Os sons do profano, do sagrado, do colectivo, do individual...

E porquê este título,  Cruzes, Canhoto!,  ? O próprio grupo dá a resposta: "Juravam-nos mortos, vejam só! Leram responsos, vieram os óleos santos, a vala já aberta. Até nós nos divertíamos a compor o epitáfio.... Cruzes, canhoto! Cá estamos a esconjurar o mafarrico... Porque isto da música é obra daquilo que nos apraz. A música eleva-nos, enleva-nos, transporta-nos, transforma-nos. Só ela nos sustém o ânimo. E a teimosia, velha como a vida. Somos a erva daninha....e a fénix! Na adversidade, mergulhámos fundo as raízes e apegámo-nos à terra. Das músicas tradicionais, cantadas por vozes deste tempo, passando pelo fado, sem esquecer as continuas influências de outras paragens. Incorporamos sons e criamos sotaques musicais. Aqui deleitamo-nos com os nossos sonhos, os nossos ambientes plenos de sentimentos, de fantasia. Amizades que recheiam melodias. Nada se faz sozinho. Tudo é para ser complementado...daí contarmos convosco! Começa o sonho...como quem conseguiu encontrar o que andava perdido. Se uma só nota deste trabalho vos provocar um arrepio de alma, diremos que valeu a pena voltar!" (...)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3579: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (7): A Toque de Caixa, com o Abílio Machado, ex-baladeiro de Bambadinca (Luís Graça)

(...) O Toque de Caixa surge em 85/86, quando, tendo mudado a minha morada para a Maia, encontrei um grupo de jovens com potencialidades que me pareceu de aproveitar. Criou-se um grupo base, no início ainda demasiado numeroso, que se foi depurando ao longo dos meses de elementos com menos qualidades. Os inevitáveis contactos com outros grupos da zona do Porto permitiram que, por alturas de 90, se desse uma espécie de fusão com outro grupo em desagregação.

Um outro processo de decantação ao longo do tempo permitiu que rapidamente o Toque de Caixa adquirisse uma qualidade que manifestamente não tinha nos seus primeiros tempos. Era a altura do director musical (era eu) ceder o lugar a quem mais sabia da marinhagem em tais ondas. Em boa hora o fiz, pois corríamos o risco de afogamento por cansaço ou inanição. (...)

Guiné 63/74 - P5966: Ser solidário (61): Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, 6 de Fevereiro de 2010 (Luís Graça)

1. A propósito da prática, actual e no passado, da  Mutilação Genital Feminina (MGF), na Guiné-Bissau (*)



O dia  6 de Fevereiro passa  a ser consagrado como o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina (MGF).  A prática da MGF existe ainda em cerca de 28 países Africanos  e do Médio Oriente, mas também na Ásia e em comunidades emigrantes na Europa, América do Norte e Austrália.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),  estima-se em cerca de 130 a 140 milhões o número de mulheres, de todas as idades,  submetidas à MGF. Todos os anos há cerca de dois a três milhões de novos casos, ou seja, de crianças e adolescentes em risco de vir a sofrer desta prática milenar, profundamente misógina, intolerável, violadora dos direitos humanos, profundamente lesiva da saúde física, sexual, reprodutiva, mental e psicossocial da mulher,  inaceitável mesmo à luz do tradicional conceito do relativismo cultural.

Na Guiné-Bissau, estima-se que a prevalência de MFG nas meninas e mulheres, entre os 15 e os 49 anos de idade seja da ordem dos 45% (Vd. a brochura, em formato.pdf, Eliminação da Mutilação Genital Femina: Declaração Conjunta (...), 2009, 45 pp).

De acordo com a OMS (2000), citada pela página do Alto Comissariado da Saúde (ACS), "Portugal é um país de risco, tendo por base a assumpção de que as comunidades migrantes provenientes de países onde a MGF é praticada, o continuam a fazer, quer no país residente, quer deslocando-se ao país de origem".

E acrescenta o sítio do ACS:

Neste contexto, o I Programa de Acção para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina, inserido no III Plano Nacional – Cidadania e Igualdade de Género (2007-2010), coordenado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, tem como objectivo reforçar a coerência das acções desenvolvidas e das políticas para a igualdade de género.


No âmbito do Programa, foi produzido um folheto informativo sobre MGF, que aborda, entre outros temas, os riscos imediatos e a longo prazo para a saúde, as consequências médico-legais e os serviços e instituições que podem responder e encaminhar pedidos de apoio médico e psicossocial.


O folheto destina-se em particular a mulheres e famílias que se encontrem em risco, ou que já tenham sido sujeitas às práticas de MGF, mas também à população em geral.

O folheto, em formato.pdf, pode ser aqui consultado: Mutilação Genital Feminina.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5962: Antropologia (17): A Condição da Mulher em Cacine, em 1972 (Juvenal Candeias)

(**) Vd. mais postes sobre a MGF publicados no nosso blogue

Vd. também uma pequena apresentação, em português, no You Tube,  sobre a Mutilação Genital Feminina, nomeadamente no Quénia, em África, país onde a ADDHU (Associação de Defesa dos Direitos Humanos) luta directamente contra a MGF.

Vd. também, em inglês, no You Tube, o vídeo Female Genital Mutilation: "This video was created in hopes of educating people about FGM's and why they are performed. This video is solely for educational purposes".

terça-feira, 9 de março de 2010

Guiné 63/74 – P5965: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (1): Parte 1 (Sousa de Castro)

1. O nosso Camarada Sousa de Castro (*), que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos a seguinte mensagem, com a primeira parte da actividade desenvolvida pela sua Companhia, com data de 7 de Março de 2010:

ACTIVIDADE DA CART 3494 DO BART 3873 NO TEATRO DE O. P. GUINÉ (1)


DEZEMBRO1971/ABRIL 1974
Este texto foi elaborado a partir do livro: - BART 3873
“HISTÓRIA DA UNIDADE”
CART 3492 – CART 3493 – CART 3494
NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ
(autor desconhecido)

MOBILIZAÇÃO

a) Nota circular

– A nota circular nº. 4496/PM-Procº 18/3873 da 1ª Repartição de Estado Maior do Exército, datada de 04NOV71, ordenou que se procedesse à mobilização do Batalhão de Artilharia nº. 3873 o qual renderia, na Província da Guiné, o BART 2917 a atingir o termo da sua comissão de serviço.


b) Unidade Mobilizadora

- Foi unidade mobilizadora o Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP 2), em Vila Nova de Gaia.

c) Pessoal

- O pessoal que compôs os seus quadros – CCS, CART 3492, CART 3493 e CART 3494, metropolitano de origem, era natural em grande parte do Norte (MINHO e DOURO) e Centro (BEIRAS), particularidade conducente à afirmação de a África constituir, para a maioria, quase uma incógnita mais ou menos próxima da imaginação de cada um.

d) Concentração

- A concentração dos novos mobilizados começou a 15NOV71 e terminou a 27NOV71.

e) Instrução

- A instrução geral (I. A. O.) teve lugar já no Ultramar (Ilha de Bolama) de 29DEC71 a 27JAN72, decorreu a um nível positivo e satisfatório, o resultado obtido foram animadores.

1. MISSÃO

- Tem por missão global a neutralização da subversão, através duma manobra simultaneamente psicológica, social e militar.

A actuação concretiza-se nas seguintes tarefas:

- Impedir e destruir o avanço do inimigo
- Defender as populações
- Integração dos guineenses no contexto nacional
- Apoiar as autoridades civis
- Promover o progresso moral e material das diversas etnias, sem quebra do seu habitat natural
- Recuperar os elementos extraviados, etc.

2. LOCALIZAÇÃO DO SECTOR - L 1

- O sector situa-se sensivelmente no centro da Guiné. Não confina com qualquer território estrangeiro, nem com o Oceano e deve considerar-se um dos sectores de maior vastidão em todo T. O.

3. CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS

a) Clima

- O clima é tropical (quente e húmido) com alteração de duas estações: A «Seca» que vai de Dezembro a Junho e a das «Chuvas» de Junho a Dezembro. Não difere, por conseguinte, do resto da Província.

Do SAHARÁ sopra o vento «Leste» quente e seco que em choque com a «Monção Marítima» provoca os «Tornados», cuja velocidade chega a atingir os 100 Kms/hora.

Precisamente no período pluvioso, é que, se formam os «Tornados» surgidos bruscamente e precedidos por trovoadas, anunciadas por calor sufocante.

b) Terreno

- A sua configuração é plana. Durante as chuvas transforma-se numa extensa área lacustre, onde os africanos lavram as «bolanhas» e as «lalas».

Uma densa rede hidrográfica corta o território, sobressaindo os rios GEBA e CORUBAL.
A composição geológica do solo é de natureza dorelítica.

4. VIAS DE COMUNICAÇÃO

- Recorde-se que a sede do BART 3873 – BAMBADINCA-, desempenha o importante papel de centro reabastecedor do LESTE, por isso as vias de comunicação aéreas, terrestes e aquáticas oferecem um interesse primacial. Enumeramos os principais:

- Aeródromos: - BAMBADINCA.
- XITOLE.
- Pistas de heliportagem nos Aquartelamentos e Destacamentos disseminados pelo mato.
- TERRESTES - Estrada XIME-BAMBADINCA-BAFATÁ, asfaltada, qualidade que lhe permite um escoamento mais rápido e seguro.
- Estrada BAMBADICA-MANSAMBO-XITOLE.
- Portos: - XIME e BAMBADINCA.
- A estes portos acostam barcos civis e militares que circulam no rio GEBA.

5. INIMIGO

a) Organização

- Actualmente organiza-se em Frentes. O Sector L1 é abrangido a Ocidente pela Frente MORÉS-NHACRA; a Oriente e Sul pela frente BAFATÁ-XITOLE; a Sudoeste pela Frente de QUINARA; ainda a SUL pela frente BUBA-QUITAFINE e a Norte pela Frente BAFATÁ-GABÚ NORTE.


b) Instalação

As suas zonas de instalação nos limites do Sector são:

- Regulado XIME-BISSARI (Frente BAFATÀ-XITOLE)
POINDON-BAIO/BURUNTONI-MINA-MANGAI
- Regulado do CUOR
MADINA/ENXALÈ

- Efectivos na 1º zona:

- 03 Bigrupos de Infantaria
- 01 Grupo Especial de Bazookas

- Efectivos na 2ª zona:

- 01 Bigrupo de Infantaria
- 01 Bigrupo de Artilharia

O Abrigo das Transmissões, vendo-se ao lado direito os depósitos da água 1972

6. DISPOSITIVO DAS NOSSAS TROPAS

a) Sub-Sector do XIME

- CART 3494 – XIME
01 PELOTÃO – ENXALÉ
- 20º PEL ART 10,5 – XIME
- GEMIL 309 e 310 – ENXALÉ
- C. MIL. XIME – TAIBATÁ
- PEL MIL 241 – AMEDALAI
PEL MIL 242 – TAIBATÁ
PEL MIL 243 – DEMBATACO

Vista parcial do XIME em 1972


7. SOBREPOSIÇÃO

Antes de a CART 3494 do BART 3873 ter assumido, efectivamente, as inerentes funções, desenrolou-se a sobreposição que excepcionalmente e por retardamento de embarque do CART 2715 do BART 2917 se prolongou de 28JAN72 a 14MAR72.

A utilidade desta fase de transição é, como se sabe, a de adaptar ao local de actuação e inteirar sobre o estado de coisas reinante.

(Continua)

Um abraço Amigo,
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873

Documentos: © Sousa de Castro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Este é o primeiro poste desta série.

Guiné 63/74 - P5964: A Guiné-Bissau na lente do grande fotógrafo Eduardo Gageiro (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Fevereiro de 2010:

Queridos amigos,
Na Livraria Círculo das Letras esteve patente uma belíssima exposição de Eduardo Gageiro. A exposição chama-se “Silêncios”, reúne uma selecção de 30 fotografias captadas nos últimos 50 anos. Trata-se de imagens retiradas do livro “Silêncios”, um álbum com duas centenas de fotografias.
Para Gageiro, trata-se do seu livro mais intimista, corresponde ao tempo em que ele foi confrontado com uma doença oncológica, em 2007. Em “Silêncios” pode encontrar-se de tudo e um pouco por toda a parte: pessoas sozinhas na paisagem urbana, uma fotografia inédita de Salazar, crianças. Gageiro é indiscutivelmente um dos maiores fotógrafos portugueses, consagrado com prémios internacionais de primeira importância. Nunca escondeu o interesse pela expressão das pessoas e como ela espelha sentimentos.

Fui convidado pelo Fernando Vicente a fazer uma comunicação no âmbito de um ciclo de debates e tive tempo para percorrer demoradamente esta exposição encantadora.

O Fernando Vicente viu que me enamorara desta foto, interrogou-me, expliquei-lhe porquê. E oportunista como sou pedi-lhe licença para a publicarmos no blogue, para que esta criança, onde quer que esteja, se possa rever e testemunhar a esperança num futuro melhor.

O Fernando Vicente acaba de ma enviar, ela aqui vai para todos.

Um abraço do
Mário

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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5952: Notas de leitura (76): Kikia Matcho, de Filinto de Barros (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5963: Os Nossos Médicos (19): Em busca de pessoal que tenha conhecido o meu irmão, o Alf Mil Médico José Alberto Machado, Nova Lamego, 1963 (Fernanda Santos, esposa do Carlos Marques Santos)



Tabanca do Centro. Almoço-convívio. Monte Real, 26/2/2010. Teresa Santos, esposa do nosso camarada Carlos Marques dos Santos, ex- Fur Mil  (CART 2339, Mansambo, 1968/69), casal residente em Coimbra... A Teresa é uma entusiástica companheira do nosso blogue, desde os seus primórdios, tendo estado presente logo no nosso I Encontro Nacional, em 2006, na Ameira, Montemor-O-Novo...

Neste pequeno vídeo, além de dar sugestões de nomes para um grupo de trabalho da Tabanca do Centro, faz um apelo aos camaradas presentes (dirigindo-se ao camarada Luís Raínha, que ela achava ser o mais velho, em termos de antiguidade na Guiné), para que a ajudasse a localizar gente do tempo do seu  irmão, o Aferes Miliciano Médico  José Alberto Machado, que esteve em Nova Lamego, Zona Leste, Guiné, em 1963 (*)... Morreu precocemente,  aos 34 anos, depois de regressar à Metrópole.

Vídeo (1' 05''): You Tube > Nhabijoes (2010).

Clicar aqui para saber mais sobre a série Os Nossos Médicos.
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Nota de L.G.:

(*) 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)

Guiné 63/74 - P5962: Antropologia (17): A Condição da Mulher em Cacine, em 1972 (Juvenal Candeias)

Guiné > Região de Tombali > Cacine > Binta, a bajuda contestatária, recusou  o casamento forçado com um homem grande




Guine > Região de Tombali > Cacine > "Hospital Central de Cacine”: todas as especialidades (incluindo partos)

Foto: © Juvenal Candeias (2010). Direitos reservados.


1. Mensagem, com data de ontem, do Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Estrelas do Sul (Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74):

 Assunto: A Condição da Mulher em Cacine, em 1972


 Camaradas,


Não quero deixar passar o Dia [Internacional] da Mulher sem vos enviar este texto, singela homenagem  à Mulher Nalú, que muito admirei, pela sua força, coragem e importância na comunidade.


Tomara que essa força e coragem tenha entretanto sido devidamente orientada!... Penso que ao texto deveria antes chamar Elementos para o Estudo da Condição [da Mulher]... deixando para os sociólogos - parece que há um aí bem perto - o verdadeiro estudo da Condição  da Mulher em Cacine.


Como diria Filinto Barros, este texto não é "nem sociologia, nem história, nem política, é tão-somente um conjunto de memórias com 38 anos.


Um forte abraço a todos.


Juvenal Candeias


PS. À atenção do Luís Graça: observa a fotografia da enfermaria de Cacine. Do lado direito podes ver como era o bunker cujas ruínas fotografaste há relativamente pouco tempo.


2. A CONDIÇÃO DA MULHER EM CACINE, EM 1972
por Juvenal Candeias


Em Cacine predominava a etnia Nalú, tradicionalmente animista, convertida ao Islamismo por influência dos Sossos, etnia minoritária, mas culturalmente mais evoluída

A islamização dos Nalús transformou completamente a sua cultura, afectando de modo significativo a condição social da mulher. O casamento poligâmico forçado, o trabalho feminino e o fanadu (mutilação genital da mulher) surgiram como novas realidades ou revestiram aspectos totalmente distintos.

- O CASAMENTO

O casamento, que tradicionalmente era feito por troca, passou a ser feito por compensação (pecuniária e/ou em géneros).

Quando as jovens tinham 12 ou 13 anos, apresentavam-lhes um homem dizendo-lhes que era o seu marido. Não havia relações sexuais prévias, não havia namoro, não havia nada que permitisse à mulher conhecer o marido, muito menos decidir se com ele queria viver!

A negociação das bajudas (mulheres jovens) era feita no momento, por proposta efectuada pela família do pretendente à família da jovem, mas o comprometimento de bajudas ainda na infância, também era vulgar. Neste caso, o noivo passava desde então a ajudar a família da noiva, até que esta, alguns anos mais tarde, lhe fosse entregue.

O número de mulheres de cada homem dependia da sua capacidade financeira e determinava mesmo o seu estatuto social na comunidade.  Não eram raros os homens grandes (velhos) com 3 ou 4 mulheres, algumas bastante mais jovens. É que, para além do eventual interesse sexual, as mulheres significavam também mão-de-obra barata.

O casamento imposto, verdadeira violência psicológica exercida sobre as mulheres, raramente tinha contestação, por um lado, porque se efectuava logo a partir dos 12 anos, quando a mulher tinha pouca possibilidade de se opor, por outro lado, devido à pressão social que a própria comunidade exercia sobre as eventuais contestatárias.

Contudo, esporadicamente ocorriam alguns casos, como o de uma bajuda, residente na Tabanca Nova – reordenamento estrategicamente colocado junto à picada, a meio caminho entre Cacine e Cameconde – que perante o iminente casamento negociado pela família com um homem grande, mais interessada num jovem, recusou, acabando por fugir para o mato, onde andou sozinha cerca de uma semana.

De nada lhe serviu! Encontrada e repreendida, o castigo terá sido severo, uma vez que durante bastante tempo ninguém viu a Binta!

O ambiente familiar, com várias esposas de um mesmo homem que entre si se designavam por cumbossas, era, naturalmente, de grande rivalidade, salvo quando a diferença etária entre as cumbossas era significativa, situação em que as mais velhas, a troco de trabalho, podiam mesmo dar alguma protecção às mais jovens.


Apesar de toda esta envolvência, as crianças eram tratadas como filhos por todas as cumbossas, independentemente de quem fosse a verdadeira mãe. Era uma original, mas real situação de crianças com várias mães!

No âmbito do casamento também a herança era um fenómeno original e penalizador da condição da mulher. A viúva não tinha direito a herdar os bens do marido. Os mesmos eram herdados pelos irmãos, fazendo a mulher, ela própria, parte da herança do falecido marido.

Para além de perder o marido e os bens, via-se na contingência de integrar uma nova família a quem era obrigada a servir e ainda a manter relações sexuais com um novo homem que, naturalmente, também não escolhera!

A extrema submissão a que as mulheres estavam sujeitas levava a que questionar uma mulher,  sobre as diferentes situações de violência no seio do casamento, era obter, invariavelmente, a resposta, por estas ou por semelhantes palavras: “sempre foi assim…”, “é Deus que quer…”

- O TRABALHO DA MULHER

O casamento a que nos referimos, determinava que a mulher via a sua posição degradada, fora convertida em servidora, verdadeira escrava da luxúria do homem, que a transformara em simples instrumento de produção e reprodução.

Esta situação acabava por influenciar, ironicamente, a posição preponderante que a mulher desempenhava no seio da família e a importância da sua acção na comunidade. De facto, à mulher estava atribuída a responsabilidade da alimentação, vestuário, manutenção da casa e educação dos filhos, áreas em que os homens não tinham a mínima interferência.

A família não se sustentava só com o que comprava com os parcos rendimentos obtidos pelos homens mas, sobretudo, com o que resultava de a mulher transformar muitas horas de trabalho.

Algum destaque deverá ainda ser dado à educação dos filhos. Era garantida em exclusivo pelas mulheres que, contraditoriamente, acabavam por ser as transmissoras de comportamentos e valores enraizados, ligados a um processo de socialização de que elas próprias eram as principais vítimas.

As crianças do sexo feminino eram preparadas pelas mães para o processo de submissão à vontade do homem e da comunidade e as do sexo masculino para perpetuarem o domínio dos homens.

O analfabetismo era outro problema grave. Atingia valores extremamente elevados nos homens e era total nas mulheres.

O Furriel Miliciano Lopo mantinha uma escola primária a funcionar diariamente, onde nunca conseguiu ter um aluno do sexo feminino!

Estas horas de trabalho invisível desenvolvido pelas mulheres eram fundamentais para garantir a economia doméstica e a evolução da comunidade e da cultura da própria etnia. Para os homens, contudo, este trabalho pouco contava, estava praticamente oculto atrás da fachada da família poligâmica, permanecendo invisível, porque não se traduzia em produtos visíveis.

Muitas horas de rude desgaste diluíam-se magicamente, permanecendo na clandestinidade a forte contribuição da mulher Nalú para a comunidade.

À mulher competia ainda outro trabalho, um pouco mais visível… Apanhar ostras e proceder à sua venda - a cotação da bacia de ostras era de 10 pesos – apanhar mangos, cultivar mandioca e mancarra, semear arroz… enfim, pouco restava para os homens fazerem, para além das rezas e do descanso tranquilo nas suas cadeiras de encosto!

Sempre que a tropa passava pela tabanca em deslocações de trabalho ou de patrulhamento, o cumprimento era um paradigma:
- Eh pessoal! Manga de trabalho!

A resposta, indolente, vinha lá bem do fundo da cadeira:
- Manga deeeele!

- O FANADO

O fanado, ou mutilação genital feminina, dizia-se ser um processo mais amplo, que podia descrever-se como uma cerimónia ou ritual de iniciação que preparava as jovens para a vida adulta, para a sua responsabilidade na comunidade e para a habilidade de continuar a cultura da própria etnia.

O fanado tinha na mutilação genital feminina a sua face mais negra. Ocorria na época das chuvas, altura em que as mulheres padidas (que tinham sido mães recentemente) se ocupavam da construção das barracas do fanadu, integralmente em material vegetal e longe da tabanca.

Tudo o que se relacionava com o fanadu não tinha intervenção do homem, que estava até impedido de se aproximar do local da cerimónia.

Eram as mulheres padidas que “montavam segurança” nas imediações do local e um cusco da nossa Companhia teve mesmo direito a perseguição e caça, no meio de tremenda algazarra, salvando-se apenas com a entrada no aquartelamento, após longa corrida.

Construídas as barracas, apenas as meninas que iam ser sujeitas ao fanadu (com cerca de 10 anos), as fanatecas e algumas mulheres grandes, lá entravam!

O que acontecia no interior das barracas, durante semanas, ninguém sabia com absoluta certeza.

O fanado era um ritual secreto do qual apenas se conhecia a mutilação genital e a transmissão, pelas mulheres grandes, dos valores atrás referidos.

Constava, contudo, que a mutilação era efectuada pela fanateca, que dispunha de uma faca própria para o efeito, que os cortes eram efectuados a frio, sem sombra de anestesia, sucessivamente a todas as bajudas, sem condições sanitárias, sem sequer a faca ser esterilizada após cada utilização.

Esta intervenção provocava problemas imediatos de hemorragias e infecções de que se desconhecia a exacta dimensão, uma vez que, devido ao carácter secreto da cerimónia, o facto não era muito comentado e nenhuma jovem podia recorrer a apoio médico.

As consequências nefastas do fanado projectavam-se sobre o futuro das bajudas e agravavam-se com maternidades precoces. Hemorragias e outros problemas no momento do parto eram comuns e levavam as mulheres a recorrer às enfermarias militar e civil, aqui já sem grandes inibições.

Em casos extremos, mas não raros, verificava-se mesmo a incapacidade para ter filhos.

Apesar de todos estes problemas, a mulher Nalú nem um gemido largava ao parir e levantava-se imediatamente a seguir ao parto, para efectuar a limpeza total do local.  Era uma questão cultural, de honra e prestígio.

O fanado era, portanto, uma cerimónia absolutamente generalizada. Não passar pelo fanado era algo de inconcebível, determinando a exclusão social, a discriminação, a recusa de casamento e de tarefas no seio da família, dado que a jovem não tinha sido purificada. Se as bajudas não fossem ao fanado,  as suas preces não seriam ouvidas, por mais que se lavassem nunca ficariam limpas…

Consequentemente, e em casos extremos, as próprias mães chegavam a fazer o fanado às filhas!

De resto o fanado era uma festa que se prolongava por várias semanas, em que o principal programa era comer, beber (apesar da islamização) e dançar!

Juvenal Candeias

Março 2010

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

18 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5295: Histórias de Juvenal Candeias (6): Padaria de luxo em Cacine

16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5113: Histórias de Juvenal Candeias (5): Vicente, o Piu

16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4961: Histórias de Juvenal Candeias (4): Há periquitos no Quitáfine

1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4623: Histórias de Juvenal Candeias (3): Um Manjaco em chão Nalú

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4323: Histórias de Juvenal Candeias (2): Incêndio no Rio Cacine

7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4299: Histórias de Juvenal Candeias (1): Pirofobia ou a mina que não rebentou por simpatia

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4294: Tabanca Grande (136): Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde (1972/74)

(...) Era Alferes Miliciano, Atirador, com recruta e especialidade em Mafra a que se seguiu Tavira durante 3 meses!



Mobilizado para a Guiné, fui formar Companhia no BII 19, no Funchal, donde saí com a Companhia de Caçadores 3520 para Bissau, onde cheguei ao fim da tarde de 24 de Dezembro de 1971 (que rica noite de Natal, no Cumeré!!!)


Após a IAO no Cumeré, fomos parar a Cacine (mais o destacamento de Cameconde), onde permanecemos até final de Outubro de 1973! (...)

Guiné 63/74 - P5961: A Guiné aos olhos das actuais gerações (1): Marta Ceitil, cooperante na área da Formação (Hélder Sousa / Marta Ceitil)

1. Mensagem de Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Fevereiro de 2010:

Caros Editor e co-Editores
Em anexo envio-vos este texto que preparei e que caso mereça aprovação poderá ter continuidade.

Trata-se, como digo, de apresentar através das impressões colhidas junto duma jovem pertencente às novas gerações envolvidas em acções de trabalho na Guiné, como de forma progressiva mas consistente e bem fundamentada se pode explicar este fascínio que todos nós, os que aqui neste espaço têm vindo a revelar as suas memórias, revelamos relativamente à Guiné 'do nosso tempo'.

Essas memórias estão assentes tantas vezes sobre acontecimentos dramáticos ou traumatizantes mas, mesmo assim, acabamos sempre por revelar a atracção que a Guiné exerce sobre nós. Prova disso é o número crescente de elementos que integram as diversas missões que têm como objectivo a solidariedade no local, ou mesmo em simples contacto individual.

Poderão constactar que actualmente, em paz, apesar das dificuldades, que estiver com espírito positivo, com a mente aberta às diferenças mas principalmente à aprendizagem, encontra na Guiné o mesmo fascínio, encanto e atracção que tanto a nós nos tocou.

Para amenizar a conversa juntei fotos da Marta, do pai da Marta (o José Ceitil), dos seus livros e também da casa em Bissau onde a nossa 'narradora' se instalou.
Uma das fotos mostra a casa, a outra mostra a Marta, ao centro, com os outros elementos envolvidos nas acções de formação que iriam decorrer e a outra o macaquinho Manel, um dos 'habitantes' daquela casa.

Um abraço
Hélder Sousa


A GUINÉ AOS OLHOS DAS ACTUAIS GERAÇÕES (I)

HÉLDER SOUSA / MARTA CEITIL

Há algum tempo atrás pensei que o tema que vos proponho fazia todo o sentido.

Sou da opinião que sim, porque cabe perfeitamente no âmbito do ‘nosso’ Blogue, até porque uma das suas características, uma das suas ‘marcas’, é termos em comum a Guiné, termos estado lá, estar aberto a quem é de lá e a quem gosta de lá.

Também não é menos certo que existe aquela ideia de que os nossos jovens ‘já nem nos podem ouvir falar da Guiné’ tal como até já figurou, mais coisa menos coisa, como ‘frase do dia’. Sinceramente acho que, quanto a este último aspecto, o que faltou foi contar, em devido tempo, aos nossos filhos as nossas venturas e desventuras daqueles tempos sofridos, e esse facto de os termos sufocado apenas nas nossas memórias e agora de repente saltarem cá para fora é que será talvez o que os pode fazer estranhar e até duvidar se alguma vez ‘isso’ aconteceu…

Acresce também que fui reparando, em apontamentos no nosso Blogue mas também em outras fontes, que não são raros os depoimentos de jovens que nos tempos de hoje, pelos mais diversos motivos, estão ou estiveram na Guiné e que falam dela e a descrevem com simpatia e entusiasmo, principalmente das suas gentes e das paisagens, não escondendo as dificuldades e as carências. Isto foi para mim particularmente notório no Blogue criado e mantido pelo pessoal envolvido na construção da designada ‘Ponte Europa’ (S. Vicente), no Blogue ‘Bissau Calling’ mantido por Miguel Sousa e ainda outros.

Deste modo, e para ilustrar estes novos ‘descobrimentos’, proponho-me trazer aqui 4 ou 5 relatos com a vivência de uma jovem, Marta Ceitil, que esteve na Guiné a desenvolver trabalho na área da formação, de Julho a Outubro passados e em que é perfeitamente possível apercebermo-nos da sua progressiva integração e até, porque não dize-lo, paixão por aquele terra.

No entanto é justo começar pelo princípio, como sempre. E isso o que é?

Já vos disse que fui ‘formado’ pela ‘escola vilafranquense’, nas suas várias vertentes. Aí, entre os meus vários amigos está o José Ceitil, que alguns dos membros do nosso Blogue poderão conhecer pois foi funcionário da TAP, e no ano passado, algures em Junho, aquando dum dos encontros que fomos promovendo para reacender a actividade da Secção Cultural da União Desportiva Vilafranquense, UDV, desabafou um tanto preocupado, que a sua filha Marta tinha comunicado decidir abandonar uma carreira promissora e “partir para a Guiné para fazer formação”.

O Zé Ceitil é um homem habituado a enfrentar os desafios da vida, nunca virou a cara à luta, é autor de dois pequenos livros, que recomendo, um deles com o bem sugestivo título de “Vidas Simples, Pensamentos Elevados” que na prática é toda uma proposta de postura para a vivência na sociedade, é igualmente autor da “História do Clube de Futebol Os Belenenses”, saído no ano passado. Naquele dia o Zé Ceitil era o mesmo, confiante, incapaz de ‘cortar as asas’ a quem queria voar, mas preocupado… Então a sua ‘caçula’ ia para o ‘cú do Mundo’ com todo aquele cortejo de conceitos reais e imaginados de problemas, doenças, miséria, dificuldades várias, ainda com os assassinatos do Nino e do Tgamé bem recentes… não seria uma preocupação legítima? Claro que era!

Procurei tranquilizá-lo, disse-lhe que as coisas no local não eram bem como a comunicação social as relata, que não tinha conhecimento de qualquer tipo de animosidade quanto aos portugueses, bem pelo contrário, dei-lhe referências do nosso Blogue, dos dois que acima referenciei, de mais outros e falei-lhe das diversas iniciativas que regularmente ocorrem para levar apoios a entidades diversas, falei da AD, enfim, procurei, à minha medida, contribuir para dar a confiança necessária que qualquer retaguarda deve proporcionar.

E então a Marta lá foi, quase no final de Julho, integrada num projecto chamado “Nô Djunta Mon” de que poderei falar depois. O seu primeiro mail para a família, que teve a gentileza de me enviar também, é o que se segue:

Olá Família!!
Kuma dia Kurpo?

Antes de mais peço desculpa por qualquer erro ortográfico que possa dar, mas este computador é um mistério para mim, vou demorar umas horas a escrever o mail.

Enfim, só para vos dizer que chegámos e está tudo bem. As coisas andam calmas por aqui, calmas demais segundo os guineenses, pelo que é possível haver alguma coisa quando saírem os resultados definitivos das eleições. De qualquer maneira volto a referir que a nossa segurança não está em causa.

À parte disso, estou adorar. Estamos num casa linda e temos como animais de estimação dois chimpanzés (o Manel e a Maria) um “bambi” que se chama Nucha, um galo está na janela do nosso quarto, e todos os dias a partir das 4 da manhã começa a cantar. Confesso que ao galo já tenho vontade de o esganar, muitos patinhos, galinhas e um ratinho.

Só começamos a dar formação para a semana, esta semana temos andado em reuniões e reconhecimento do local.

Tenho saudades, mas estou feliz. E por aí como anda tudo? Estão bem? O Diogo e o Francisco estão bem? A Avó está boa? Na quinta ela faz anos, vou tentar ligar nesse dia.

Beijinhos grandes
Gosto muito de vocês.
Marta Ceitil



Como se pode observar neste primeiro mail há uma grande preocupação da Marta em dar todas as garantias aos familiares de que não está nem em perigo nem em dificuldades. A sua descrição do local onde está alojada é no mínimo ternurenta, com aquela confissão da vontade em ‘calar’ o galo…

As coisas depois irão tomar o seu rumo, irá dar formação em Bissau, depois em Mansoa e mais tarde em Catió, mas isso ficará para outros relatos se entenderem que tem merecimento.

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF


Bissau - A nossa casa

Bissau - A nossa casa

Bissau - A nossa casa - Manel

Livros do Ceitil
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5821: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (9): A Presse Lusitana

Vejam também o poste de 3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5923: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (4): Lugar aos novos, Emanuel Fernando Gonçalves Pereira, cooperante na Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P5960: Agenda Cultural (64): Sessão de apresentação do livro A Retirada de Guileje, de Coutinho e Lima, na Associação 25 de Abril

1. Mensagem de Coutinho e Lima (Cor Ref)*, com data de 4 de Março de 2010: 


 Caro Luís No próximo dia 18 de Março (5.ª Feira), às 19H00, vai realizar-se uma sessão de apresentação de " A RETIRADA DE GUILEJE", na sede da Associação 25 de Abril - Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa. Solicita-se a divulgação deste evento no blogue, convidando os tertulianos a esterem presentes. Um abraço Coutinho e Lima Dia 18 de Março de 2010, Apresentação do livro "A Retirada de Guileje", de autoria do Coronel Reformado Coutinho e Lima, na Sede da Associação 25 de Abril, sita na Rua da Misericórdia, 95, em Lisboa. Os tertulianos da Grande Lisboa que possam comparecer, estão convidados a assistir ao evento. 

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 Notas de CV: 

Guiné 63/74 - P5959: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (5): Em terras com nome de santo...

1. Mensagem de José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), com data de 4 de Março de 2010:

Boa noite Carlos Vinhal
Segue mais um texto "Em terras com nome de Santo...passado...presente...e futuro...".
Embora tenha a intenção de divulgar um edifício histórico da zona de Benavente tem principalmente a ver com um camarada nosso em fase de grande solidão.
Os mais velhos de nós enfrentam a doença e a solidão. Mais do que esperar pela ajuda de instituições oficiais devemos ser nós -os camaradas e amigos - a dar uma mão.
É o alerta que tento fazer com este texto sem mencionar nomes por razões óbvias.

Um abraço
JERO


Em terras com nome de Santo… passado, presente e… futuro!

Um velho amigo dos tempos da vida militar – um amigo a que quero como a um irmão – está a viver temporariamente na região de Benavente. O meu amigo dos tempos da guerra (Guiné 1964-66) está numa fase complicada da vida. De costas para a família – ou a família de costas para ele – vive muito só. Tem o seu orgulho e não dá parte de fraco. Pelo sim pelo não dois ou três amigos mais chegados andam com olho nele.
Um dia destes visitei-o. Falámos da vida e da morte… O meu amigo contou-me que tinha oferecido o seu corpo a uma Faculdade de Medicina. Olhei-o, sem palavras, e ele explicou-me.

- Quando morrer… não quero nenhum sacana no meu velório a dizer que eu era um gajo porreiro e tal e tal… Que os pariu… Quando eu morrer vou para cima de uma “cama de pedra” na Universidade… para me estudarem… O médico com quem falei começou a tentar animar-me e a levantar algumas dificuldades mas… eu consegui convencê-lo. Disse-lhe que não ia ao médico há mais de vinte anos e que seria portanto um bom caso para estudo. Mas já agora punha umas condições. Só médicas, de preferência jeitosas, é que me podiam mexer no “cabedal”… Esta condição foi aceite e… está tudo tratado.

Perante esta conversa, que não deixou de me surpreender, partimos para outras. Recordações de bons velhos tempos tiraram algum dramatismo à inesperada “confissão” do meu amigo.

Fomos dar uma volta pela região, e com o “desenrascanso” a que sempre me habituou o meu amigo dos tempos da Guiné, levou-me a conhecer um “condomínio fechado” da região de Santo Estêvão. Se era “fechado” mas estava “aberto” podíamos entrar… E entrámos!
Explicou-me o meu amigo que Santo Estêvão, que fica apenas a 50 quilómetros de Lisboa, tem vindo a registar um grande desenvolvimento, o que tem a ver com o loteamento de diversas herdades existentes na zona. O local é lindíssimo razão suficiente para ter sido escolhido por figuras públicas, nomeadamente ligadas ao mundo do futebol. Cristiano Ronaldo é um dos que tem uma vivenda em construção na região.

Passámos por um Campo de Golf – o Santo Estêvão Golf – que viemos depois a saber que tem um lago enorme (14 hectares) implantado num espaço de lazer de cerca de 450 hectares.
Este empreendimento está inserido numa parte da Herdade de Monte dos Condes, chamada Aroeira.

Quando passávamos por estes lados comecei a avistar ao longe um edifício em ruínas com um “traço” muito especial. Pedi ao meu amigo para parar e fui tirar umas fotografias. Nunca tinha visto nada parecido com “aquilo”!




Andámos mais uma centenas de metros e perguntámos a um agricultor que ruínas eram aquelas.

- Ah, isso é do tempo dos Reis. É muito antigo!

Fomos à Junta de Freguesia. Mostrámos as fotografias da nossa máquina digital e a atenciosa funcionária não sabia o que era. Fomos à Câmara de Benavente e aqui sim disseram-nos alguma coisa. O que tanto nos tinha surpreendido era um “ovil”.

- E o que era um ovil?

Era um estábulo para ovelhas. No caso - o da Herdade da Aroeira de Manuel Luís Anastácio - teria tido cerca de 2000 ovelhas. As ovelhas eram guardadas dia e noite por 4 ou 5 “ganhões”…

Para saber mais sobre o assunto teria que encontrar o livro “Santo Estêvão de Benavente – Passado, presente e futuro…”

Não foi fácil mas… como somos teimosos… demos com o livro e (e uns bons 15 dias depois…) fizemos a sua aquisição à Junta de Freguesia de Santo Estêvão(1) ,com a ajuda dos serviços competentes da Câmara Municipal de Benavente.

Mas voltando ao ovil da Herdade da Aroeira…
Afinal não era dos tempos dos Reis…

…No início dos anos 40 o dono da herdade, Manuel Luís Anastácio, mandou construir de raiz, um ovil, com capacidade para abrigar 1000 a 2000 ovelhas. Respeitou a arquitectura regional tendo em conta a defesa do ambiente. Era um projecto preparado ecologicamente, à frente no seu tempo, para permitir uma ventilação natural permanente do estábulo e ainda a recolha, por gravidade, dos dejectos líquidos do gado. Estes seriam aproveitados posteriormente, para enriquecimento dos terrenos circundantes.(2)

Parece que existe a vontade de fazer obras de recuperação deste extraordinário conjunto, o que entretanto nos foi confirmado pelo Presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão. Esperemos que sim… antes que o tempo dê cabo do que resta…

A tarde chegava ao fim… O ovil da Aroeira tinha tido o mérito de nos ter feito esquecer, por algum tempo, problemas da vida…
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Foi nesse dia de contrastes um “tempo” de quietude…

Mas pode ser que a paz ainda chegue para os lados do meu “amigo da guerra”… Vamos esperar que sim…

Se isso acontecer teremos que voltar ao ovil da Aroeira para beber um “copo”. À reveria da paz, em honra da vida.

Nessa parte… esta nossa “estória” fica pendente… A aguardar melhores dias…
Que, em nome do passado, Santo Estêvão nos ajude… no presente e no futuro!

(1) Já agora vale a pena referir que Santo Estêvão é uma freguesia do concelho de Benavente, com 62,42 km² de área e 1 381 habitantes (2001), com uma densidade de 22,1 habitantes/km².

(2) “(pg.278 do livro “Santo Estêvão de Benavente – Passado, presente e futuro…, da autoria de Maria Conceição Quintas e Vera Dimas.”

JERO
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5923: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (4): Lugar aos novos, Emanuel Fernando Gonçalves Pereira, cooperante na Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P5958: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (2): SPM 4758

1. Mensagem de Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69), com data de 2 de Março de 2010:

Estimáveis Editores
Escrevo para dois sabendo ser extensível aos restantes. O MR ainda aparece. Agora o VB anda às voltas com o livro e pouco tempo lhe resta dessa azáfama meritória.
Que seja a palavra do Amadú e a escrita do Virginio - só.
Mas estou aqui a enviar um escrito. Assim:

Há tanto tempo que não envio nada que já nem sei. Hoje apareceu o vento, chuva e frio. Ainda ontem vi andorinhas e alegrei-me. São as apressadas... Hoje fiquei aborrecido e fui teclando... depois ia continuar... e parei.

Envio este SPM e logo escrevo os outros que estão na forja...

Assim, sendo aqui vai e junto um abraço para vocês do,
Torcato


Ao Correr da Bolha - II

Há sempre escritos que não são enviados. Escrevem-se, com caneta e papel ou, como é o caso, directamente batendo teclas. Depois são guardados, enviados e, se não forem publicáveis, entram em arquivo morto. Não. Prefiro em letargia, morto ou morte é triste e chato. Esperam um destino, também é palavra que não me agrada muito – destino… é o destino, o fado… esperam, esperam só uma outra oportunidade. Há sempre uma segunda oportunidade. Refiro-me, evidentemente só aos escritos sobre a Guiné.

Li agora a correr vários postes. Gostei de muitos e ia comentar. Depois, pensando melhor, nada escrevi. Isto da escrita, mesmo as simples letras e palavras em imitação de texto, geram certa ansiedade. E se desagrado a… se lanço polémica com… ou se erro na descrição do facto e etc., etc.

Contudo, e arriscando pois é agradável arriscar, parece que contradiz a ansiedade acima descrita, mas não, reforça-a. Contudo, dizia eu, tenho aqui em papel, alguns escritos, prefiro rascunhos. Uns rascunhos então, e tentarei ir teclando, dando-lhes forma de escrita, ao correr da bolha e depois se verá o destino a dar-lhes.


# - 1 – SPM 4758

Entre os documentos que procurava, apareceu, já velhota, a capa de plástico e cartão onde guardava blocos, envelopes, selos e demais artefactos para a correspondência deste velho militar.

No canto inferior da contracapa, uma pequena bolsa plástica com um papel dentro – SPM 4758 – (Serviço Postal Militar e o número). Francamente não me lembrava do número. Procurei avidamente por um qualquer aerograma esquecido. Nada. Folhas para escrita, envelopes para correio aéreo com cores de outro País, selos e papéis velhos.
Afaguei lentamente a velha capa e recordei, tantos anos passados, as cartas que ela guardou, recebidas ou escritas à espera de envio. Se tu comigo falasses o que me dirias, velha capa?

Só recordei esses velhos tempos, essas terras por onde andamos e a Guiné evidentemente, as pessoas para quem mais escrevia e que me escreviam. Recebia mais do que enviava. Que tinha eu para dizer? Pouco. Admirava-me muito ao ver certos camaradas a escreverem durante muito tempo. Questionava-me: - que dirão eles?

Ou então o alvoroço, o desassossego provocado pela vinda dos sacos com correio. Tudo parava, esperava e desesperava. Feita a triagem aí estava a distribuição. Depois o silêncio, um silêncio de morte a prolongar-se por muito tempo.
Geralmente eu, se tinha correio, esperava, observava e não abria logo. Havia um Furriel que, depois de ler a correspondência dele olhava para a minha e dizia-me:

- Já viu o seu correio? Já vi respondia-lhe. Geralmente resmungava entre dentes e saía em protesto.

Ainda hoje penso, não sei se tenho esse direito, que o correio, a correspondência era óptima para os militares mas tinha um senão. Fazia-os voar, a mim também, para milhares de quilómetros dali. O pior é que a maioria ficava demasiado tempo por lá. Se houvesse uma “operação” no dia seguinte ou no outro, alguns ainda por lá andavam.

Hoje afagando a capa da correspondência, bato-lhe levemente e pergunto-lhe: - Diz lá tu, velha capa que tanto viste, tenho razão?
Nada me diz. Se falasse talvez dissesse: eras um desumanizado e com pensamento de merdas.

Não, talvez não. Mesmo agora, aqui e agora, não sei. O que sei, isso sim, é que a guerra – a suprema bestialidade – não se compadece com desatenções e descuidos. Só assim se sobrevive principalmente em grupo.

Que escreveriam os escribas dos abrigos?
Pensavam certamente de forma diversa da minha.
Dou-lhes razão. Agora claro, já nada recebo ou escrevo do SPM 4758!
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste primeiro poste da série de 10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1353: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (1): O bababaga e o papa-figos

Guiné 63/74 - P5957: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (21): Não é que o Albino Silva é mesmo o moço da Gandra? (Mário Migueis)

O nosso camarada Mário Migueis* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72) deixou este comentário no poste 5918**:

Caro Albino Silva:
Uma vez mais perante um texto teu, uma vez mais comentei para mim mesmo, ao observar com atenção a tua fotografia do tempo da Guiné:

- Tem piada, parece um moço de Gandra, dos meus tempos de rapaz.

Só que, desta feita, deu-me para confirmar se não se trataria mesmo da pessoa em causa e fui vasculhar as tuas origens cá no blogue.
Só parei no poste da tua apresentação, onde estava bem patente aquilo que, sem grande convicção, admiti como possível, que era seres natural e/ou morador em Esposende.
Penso que nasceste e moraste (talvez ainda mores) na freguesia de Gandra, muito próximo, pois, da minha casa, já que moro logo à entrada sul da Avenida Marginal, em Esposende, de onde sou natural.
Pois, meu caro, foi com alguma surpresa e muita satisfação que confirmei a tua condição de meu conterrâneo, tanto mais que não pode deixar de sentir uma pontinha de orgulho quem tem por vizinho um homem de tanta sensibilidade e que tão bom uso sabe fazer de uma caneta ou equivalente.

Vou ter que reservar algumas horas para ler tudo o que até agora já escreveste para o blogue, uma vez que, pelos vistos, já és velhinho por cá (2007, salvo erro).
Falar-te mais de mim, no sentido de tentar que me reconheças, não caberá, por razões óbvias, nos limites deste pequeno espaço de comentários aos textos publicados.

Deixarei isso para um dia em que ambos tenhamos alguma disponibilidade para nos sentarmos num canto qualquer da nossa bonita terra e conversarmos à vontade sobre tudo e mais alguma coisa, incluindo impressões sobre este blogue, que também ele é factor de união. Até lá, um grande abraço do

Mário Migueis
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5929: Estórias avulsas (76): Como reencontrei um camarada ao fim de 15 anos (Mário Migueis)

(**) Vd. poste de 2 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5918: Blogpoesia (66): Querida Pátria (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5596: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (20): Antonio Reis, ex-1º Cabo Enf, Bissau, HM 241, 1966-1968, e escritor (Rui Alexandrino Ferreira / Luís Graça)

Guiné 63/74 – P5956: Notas de leitura (76): MISSÃO NA GUINÉ – (POR UMA GUINÉ MELHOR) - Parte 1

1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, dando continuidade à divulgação de alguns dos documentos históricos do seu arquivo pessoal, enviou-nos a 1ª fracção de um livro que foi distribuído por algumas Unidades, a partir do ano de 1971, da responsabilidade do Estado Maior do Exército:

Camaradas,

Lendo o P5943 da autoria do António Tavares, onde faz referência ao livro Missão na Guiné, muito naturalmente fiquei com curiosidade de o comparar com o que eu possuo.

O meu livro é de 1971, não referindo no entanto a Edição e, pelo relato feito, existem algumas alterações em relação ao meu.

Como diz o António Tavares, o livro foi elaborado à medida da ideologia do antigo regime (outra coisa não seria de esperar), no entanto, não deixa de ser um documento histórico, que vou iniciar a transcrever neste espaço, para conhecimento geral.


MISSÃO NA GUINÉ – (POR UMA GUINÉ MELHOR)


MISSÃO NA GUINÉ: Estado Maior - Maior do Exército – 1971


MISSÃO NO ULTRAMAR

1. Neste folheto encontrarás as «ferramentas» necessárias para «construíres» uma primeira ideia da Província Ultramarina para onde leva o cumprimento do teu dever de Soldado e de Português.

No estudo geográfico e histórico que se segue (chamam-se monografias a estes estudos), algumas das características mais evidentes da GUINÉ, as tais «ferramentas» foram arrumadas em três «secções» ou aspectos gerais – aspecto físico humano e aspecto económico.

Assim:

- No aspecto físico, descreve-se a terra para onde vais viver, dando-te notícia da sua situação geográfica, do seu clima, do seu relevo, da sua vegetação que a cobre, dos rios que nela correm, etc;

- No aspecto humano, esboça-se o estudo das populações que irás conhecer, tendo em atenção os seus usos e costumes, a sua distribuição no território, a História que junto delas escrevemos, a organização administrativa, sanitária e escolar em que vivem, etc.,

- Finalmente, no aspecto económico, referem-se os recursos agrícolas e industriais da terra Guineense, o seu comércio e as vias de comunicação (estradas, carreiras marítimas e aéreas, etc.)

Se a tua natural e louvável curiosidade não ficar satisfeita com a primeira ideia que as «ferramentas» desta «Monografia da Guiné» te permitem alcançar recomendamos-te, adiante a leitura de algumas publicações que facilmente podes conseguir em qualquer biblioteca pública.

Na parte final deste folheto, encontrarás, ainda, um par de Notas sobre assuntos que podem ter interesse para ti durante a tua estada no Ultramar.

Reservámos, inclusivamente, umas poucas páginas em branco para registo dos teus próprios apontamentos.

2. Já te foi dito mais do que uma vez, mas nunca será de mais repeti-lo: na guerra que ensanguenta o nosso Ultramar - «guerra subversiva» se chama ela – as populações desempenham um papel fundamental.



Houve mesmo alguém, entre aqueles que um dia puseram em prática este tipo de guerra, que afirmou serem as populações para os terroristas «como a água para os peixes», isto é sem a ajuda das populações os terroristas não têm qualquer possibilidade de levar a cabo os seus intentos de destruição e de assassínio, não podem sequer viver. Com a vista a conseguir aquela ajuda, os terroristas lançam mão dos meios mais condenáveis e violentos, capazes de aterrorizarem as populações indefesas. Na nossa acção de resposta, a luta que desenvolvemos tem de ser, pois, uma luta de populações, em defesa das populações e nunca uma luta contra as populações.

Nesta luta pelas populações, contrariamente ao que possa parecer à primeira vista, o teu comportamento individual tem muita importância. Com efeito, de uma tua atitude menos feliz podem resultar graves e desastrosas consequências, cuja reparação é sempre muito difícil, não só para o prestígio, eficácia e valor da Unidade a que pertences, como também para a Missão do Exército em terras de Além-Mar.


Pretende-se, assim de ti Soldado, que nas tuas relações com as populações procures ser sempre e em todas as circunstâncias, um modelo de dignidade, um exemplo de compostura, de cortesia e de humanidade.


Em especial no respeitante às populações nativas, jamais te esqueças de que a «pele negra» esconde almas tão Portuguesas como a tua própria! Para com elas deves sempre proceder – recordamos-te, uma vez mais – por forma a respeitar os seus usos e costumes e os direitos de família, tal como eles são regionalmente considerados, desde que, evidentemente, tanto uns como outros não ofendam os princípios humanitários ou morais.


3. Das dificuldades da tua missão ninguém duvida, mas todos confiam em ti!
Valentes e duros frente ao inimigo que os ataca traiçoeiramente, generosos e confiantes para com as populações, firmes e atentos em todas as circunstâncias, os teus Camaradas souberam bem merecer a confiança que a NAÇÃO neles sempre teve.
Basta seres como eles, basta, afinal, seres como tu próprio és, para, na alegria do regresso, poderes gritar bem alto àqueles que no cais orgulhosamente de aguardem – MISSÃO CUMPRIDA!
CONTINUA…

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Documentos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5886: Histórias do Eduardo Campos (11): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 11): Nhacra 6/Final

Guiné 63/74 - P5955: Estórias do Juvenal Amado (25): O Sertã e os companheiros da tenda de campanha


1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com com data de 2 de Março de 2010:

Caros camaradas
Um pequena estória.

Um abraço
Juvenal Amado



O SERTÃ

O Ivo num falso autoritarismo vira-se para o “Sertã” e diz-lhe:

- O senhor faz favor de ir à cantina e trazer três cervejas, passa pelo Léo trás três pães, porque hoje vamos provar as tais latas que o senhor trouxe de casa e que ainda deixa estragar.

O “Sertã” esboçou um sorriso olhando para a cara do Ivo, que muito sério acrescenta:

- É depressa.

O “Sertã” era um soldado do PelRec muito calado, passava despercebido ou pelo o menos tentava, mas na verdade ele trazia umas latas de carne cozinhada pela mãe, posteriormente conservada no próprio molho, que era de comer e chorar por mais. A acrescentar a isso era o facto de talvez ser o único de nós que ainda tinha dinheiro.

Aliás ele teve sempre dinheiro.

Eu o Ivo, o Sertã e mais dois ou três camaradas éramos os últimos inquilinos da grande tenda de campanha, onde ficámos alojados quando chegámos a Galomaro.

O camarada ainda argumentou:

- E dinheiro?

O Ivo em ar teatral no seu metro e oitenta, levanta-se de um salto, começa a esbracejar, maldizendo a sorte que lhe estava guardada de ninguém fazer, o que ele mandava e apontado a cantina no extremo oposto da parada, lá simulou que lhe dava qualquer coisa má, se o outro não fosse fazer o que ele lhe tinha dito.

O “Sertã” lá foi fazer o que lhe era pedido mesmo sem dinheiro.

Não foi a primeira nem a ultima vez, que o “Sertã” nos emprestou dinheiro. Também nos fizemos convidados às benditas latas com carne em conserva, que iam chegando de tempos a tempos. O pai mandava-lhas sempre, que tinha portador. Para nosso deleite acrescento.

A última vez que vi o “Sertã” foi no 3.º almoço que efectuámos perto de Castelo Branco. Lá estava ele com a esposa e cinco filhos. O sorriso era o mesmo e a festa que lhe fizemos foi bem demonstrativa da nossa amizade e estima por ele.

O próximo Almoço que será no dia 1 de Maio é lá perto, talvez o “Sertã” apareça.

Um abraço
Juvenal Amado

O Sertã em primeiro plano

Da esquerda para a direita: Borges, Roque, eu e Caetano que é o organizador do almoço este ano
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5954: Convívios (113): Pessoal do BCAÇ 3872, dia 1 de Maio de 2010, em Cabeçudo - Sertã (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5707: Estórias do Juvenal Amado (24): O Cafezinho, ou uma história de vida

segunda-feira, 8 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5954: Convívios (200): Pessoal do BCAÇ 3872, dia 1 de Maio de 2010, em Cabeçudo - Sertã (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com com data de 2 de Março de 2010:

Caros camaradas
Um convite para o almoço do 3872.

Um abraço
Juvenal Amado

ENCONTRO DO PESSOAL DO BCAÇ 3872, DIA 1 DE MAIO DE 2010, EM CABEÇUDO - SERTÃ

Clicar na imagem para ampliar

Para efectuar marcações têm à disposição os telemóveis 934827630 e 911117985.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5707: Estórias do Juvenal Amado (24): O Cafezinho, ou uma história de vida 

Vd. último poste da série de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5937: Convívios (111): Convívio Anual da CCAÇ 3549 “DEIXÓS POISAR”, no próximo dia 27 de Março de 2010 em VISEU (José Cortes)

Guiné 63/74 - P5953: Convívios (199): Convívio da CCAÇ 1589 - Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, em 15 de Maio - Vila Nova de Gaia (Armandino Alves)

1. O nosso Camarada Armandino Alves (ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem na CCAÇ 1589 - Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé -, 1966/68), enviou-nos o programa da festa anual da sua Companhia, que vai decorrer em 15 de Maio - Vila Nova de Gaia, cujo convite passamos a publicar:


CONVÍVIO ANUAL



CCAÇ 1589


15 de Maio de 2010



Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5937: Convívios (111): Convívio Anual da CCAÇ 3549 “DEIXÓS POISAR”, no próximo dia 27 de Março de 2010 em VISEU (José Cortes)