segunda-feira, 8 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5950: Parabéns a você (85): A. Marques Lopes, mouro de Lisboa disfarçado de morcão em Matosinhos faz hoje 66 luas... (Os Editores)


Guiné > Região do Ccaheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Grupo Os Jagudis >  O ex- Alf Mil. Marques  Lopes,   com o seu guarda-costa, balanta... "O meu guarda-costas chamava-se Bletche-Intete. Grande amigo. Um dia deu-me um grande empurrão durante um tiroteio... é que eu tinha-me virado de costas para o local de onde o IN estava a disparar (fiquei mal dos ouvidos desde que fui ferido em Geba)".

Foto0: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados

1. Muitos dos nossos periquitos (, os que chegaram só agora ao nosso blogue, ) não o conhecem, porque ele deixou de escrever, com assiduidade, nas nossas páginas. Foi co-fundador e é um dos administradores do blogue da Tabanca de Matosinhos que é já uma Nação... (Não admira, Matosinhos é o concelho do país com mais ex-combatentes da guerra colonial por metro quadrado).

Pediu-me em tempos licença sabática, porque estava a escrever um livro e tinha outros afazeres, incluindo a sua intervenção cívica nas escolas, associações e autarquias, mostrando e explicando o dossiê guerra colonial, no âmbito da A25A - Delegação Norte, a que pertence. Pelo meio, meteu-se o projecto da Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, bem como da Associação

Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano, de que ele é o vice-presidente do Conselho de Administração.

A par disso, é Cor DAF reformado. E também costuma fazer anos. A gente não sabia, mas descobriu: acontece que faz hoje 66 (sessenta e seis) aninhos, o que é uma bela capicua... Já lhe mandei o devido Alfa Braço, logo pela manhã, transmitindo-lhe também as saudades que a gente sente da sua escrita... 

Para quem desconhece a história do nosso blogue, devo informar que o A. Marques Lopes pertence ao grupo da frente, os primeiros camaradas da Guiné a dar a cara e a escrever no nosso blogue. O seu primeiro escrito ou os seus primeiros sinais de vida remonta a 14 de Maio de 2005, conforme se pode comprovar pela lista de postes (seleccionados) que abaixo publicamos... O nosso camarada manteve uma colaboração contínua e profícua na I Série do nosso blogue, mas também na II Série....

Ele foi dos primeiros a relatar e a documentar, recorrendo a um numeroso e valioso espólio fotográfica, as aventuras e desventuras dos milicianos na Guiné: no seu caso, primeiro como Alf Mil na CART 1690, no subsector de Geba, Região de Bafatá, Zona leste, onde foi gravemente ferido (com direito a evacuação para a Metrópole), e depois no Cacheu,. em Barro, junto à fronteira com o Senegal, na CCAÇ 3, onde completou o resto da comissão.

O A. Marques Lopes é um profundo conhecedor da Guiné e do PAIGC, mantendo com os seus antigos guerrilheiros e comandantes uma relação privilegiada... Confidenciou-me, hoje mesmo, que foi convidado a escrever o posfácio da autobiografia de um guerrilheiro do PAIGC, o Queta ou Keita, de etnia mandinga (Para o prefácio foi convidado o Presidente da República de Cabo Verde, o comandante Pedro Pires).

Como muitos também não sabem, o nosso aniversariante é nado e criado em Lisboa, logo é "mouro", sulista.... Mas vive, há muito,  disfarçado de "morcão", em Matosinhos...  Do seu segundo casamento, com uma nortenha, tem um rapaz macho, de 16 anos, que é ainda mais namoradeiro do que o progenitor...

Ao nosso querido aniversariante, quero em meu nome e em nome dos nossos queridos co-editores Carlos Vinhal,  Eduardo MR e Virgínio Briote, bem como de todos os demais amigos e camaradas da Guiné, desejar-lhe manga de ronco para este dia e para o resto da viagem na picada da vida... Que esta seja longa e larga!

______________

Nota de L.G.
(*) Vd. postes da I Série:

Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (Luís Graça) (11.05.04)

Guiné 69/71 - I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luis Graça) (23.04.04)

Guiné 69/71 - II: Excertos do diário de um tuga (1) (Luís Graça)(25.04.04)

Guiné 69/71 - III: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça)(28.04.04)

 Guiné 69/71 - IV: Um Natal Tropical (Luís Graça)(07.12.04)

Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)(20.04.05)

Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão (22.04.05) (Sousa de Castro)

Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)(25.04.05)

Guiné 69/71 - VIII: O Sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1) (Luís Graça)(28.04.05)

Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo do Xime-Bambadinca-Xitole (1) (29.04.05) (Humberto Reis)

Guiné 69/71 - X: Memórias de Fá, Xime, Enxalé, Porto Gole, Bissá, Mansoa (Luís Graça)(01.05.05)

Guiné 69/71 - XI: O Sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole) > Caracterização (2) (Luís Graça)(03.05.05)

Guiné 69/71 - XII: O silêncio dos tugas face à MGF (Mutilação Genital Feminina (Luís Graça)(04.05.05)

Guiné 69/71 - XIII: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (2) (Luís Graça)(05.05.05)

Guiné 69/71 - XIV: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (3) (Luís Graça)(06.05.05)

.Guiné 69/71 - XV: No Xime também havia crianças felizes (1) (Luís Graça)(09.05.05)

Guiné 69/71 - XVI: No Xime também havia crianças felizes (2) (Luís Graça)(10.05.05)

 Guiné 69/71 - XVII: A malta do triângulo do Xime-Bambadinca-Xitole (4) (Luís Graça)(11.05.05)

Guiné 69/71 - XVIII: A malta do triângulo do Xime-Bambadinca-Xitole (5) (14.05.05) (A. Marques Lopes e outros)

Guiné 69/71 - XIX: O festival das kalash, das 'costureirinhas', dos rockets e dos katiousha (Luís Graça)(16.05.05)

Guiné 69/71 - XX: Foi você que pediu uma kalash ? (17.05.05) (David J. Guimarães) Guiné 69/71 - XXI: O ataque e assalto do IN ao destacamento de Cantacaunda (1968) (18.05.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XXII: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca- Xime- Xitole- Saltinho (Luís Graça)(20.05.05) Guiné 69/71 - XXIII: Os anjos da morte (Luís Graça)(21.05.05)

Guiné 69/71 - XXIV: O ataque ao destacamento de Banjara (1968) 25.05.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - XXV: Aerogramas de amigos e camaradas (1) (Luís Graça)(25.05.05)

Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6) (26.05.05) (David J. Guimarães e outros)

Guiné 69/71 - XXVIII: Um ataque a Sare Banda (1968) (28.05.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968) (28.05.05) (A.Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XXXI: Sare Ganá, a última tabanca de Joladu (Luís Graça) (30.05.05) Guiné 69/71 - XXXII: As aldeias fulas em autodefesa (Luís Graça)(30.05.05)

Guiné 69/71 - XXXIII: A morte no caminho para Banjara (30.05.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XXXV: Uma estória de Sinchã Jobel ou a noite em que o Alferes Lopes dormiu na bolanha (30.05.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XXXVI: Na bolanha dá para pensar... (30.05.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XXXVII: Afinal onde ficava Geba ? (Luís Graça)(31.05.05)

Guiné 69/71 - XXXIX: Sinchã Jobel II e III (03.06.05) (A. Marques Lopes)

 Guiné 69/71 - XL: Sinchã Jobel IV, V e V (03.06.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - XLI: A região do Xitole, por onde andou o Nino (03.06.05) (David J. Guimarães)

Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): o que era ser periquito... (Luís Graça)(04.06.05) Guiné 69/71 - XLIV: A estória da cabra do mato to e do prémio Governador Geral (05.06.05) (David J. Guimarães)

Guiné 69/71 - XLV: Sinchã Jobel VII (05.06.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos do Geba (05.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XLVII: O Alferes Lopes com os balantas (CCAÇ 3, Barro, Cacheu) (06.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XLVIII: Samba Culo I (06.06.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (06.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - L: Mancarra, a semente do diabo (07.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LI: Mesa-redonda: Afinal, a guerra não estava (quase) ganha? (08.06.05) (Luís Carvalhido e outros)

Guiné 69/71 - LII: Antologia (2): A fábula do jagudi e do falcão (08.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LIII: Notícias da CART 2339 ("Os Viriatos", Fá e Mansambo, 1968/69) (09-.06.05) (António dos Santos Almeida) Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro (15.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LV: Notícias do Cacheu (1) (13.06.05) (Afonso Sousa / A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - LVI: Notícias da CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) (15.06.05) (Luís Cravalhido / Humberto Reis)

 Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (15.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LIX: Esquecer a

Guiné...por uma noite! (16.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LX: Cabral ka mori? (16.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LXIII: Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné (1963/74) (17.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXIV: Tão (ini)(a)migos que nós fomos! Sobre o álbum fotográfico pessoal de Amílcar Cabral (19.06.05)(Luís Graça) Guiné 69/71 - LXV: Os momentos do fim (Junho de 1974) (19.06.05) (Américo Marques)

Guiné 69/71 - LXVI: Vasculhando os meus papéis (20.06.05) (A. Marques Lopes) Guiné 69/71 - LXIX: Fotomemória(s) (21.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LXXI: Antologia (3): Sócio-antropologia da família e da mulher em Geba, nos finais do Séc. XIX (21.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LXXII: Contuboel, Sonaco, Gabu (22.06.05) (Humberto Reis) Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (23.06.05) (A. Marques Lopes )

 Guiné 69/71 - LXXV: Minas e armadilhas (23.06.05) (David J. Guimarães)

 Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau (23.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXXIX: Nome di bó ? Terça, simplesmente Terça! (24.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LXXX: A cerimónia de despedida no Campo Militar de Santa Margarida (24.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXXXI: Cartazes de propaganda dirigidos aos "homens do mato" (25.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXXXII: CCAÇ 1426 (Geba, 1965/67): Presente! (26.06.05) (Belmiro Vaqueiro / A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LXXXIII: Terras que também calquei (um ex-combatente da CCAÇ 2401, 1968/70) (27.06.05) (Fernando Gomes Carvalho)

Guiné 69/71 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (1969) (28.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (28.06.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (29.06.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - LXXXIX: Recordando Geba, Banjara, Camamudo, Cantacunda, Bafatá (CCAÇ 1426) (30.06.05) (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)

Guiné 69/71 - XC: Quem não tinha um pouco de poeta e de louco? (01.07.05) (A. Marques Lopes)

 Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (02.07.05) (Afonso Sousa)

Guiné 69/71 - XCII: A zona tampão de Barro, Bigene, Binta, Guidage e Farim (02.07.05) (Afonso Sousa) Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998) (02.07.05) (Afonso Sousa)

Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1) (02.07.05) (Afonso Sousa e outros)

Guiné 69/71 - XCV: No muito somos irmãos, no pouco... outra bandeira! (03.07.05) (Marame)

Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna (07.07.05) (Jorge Santos)

Guiné 69/71 - XCVIII: Um Alfa Bravo para os nossos Op TRMS (2) (09.07.05) (Sousa de Castro)

Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (10.07.05) (David J. Guimarães) Guiné 69/71 - CVII: Bibliografia de uma guerra (3) (12.07.05) (Jorge Santos)

Guiné 69/71 - CVI: Bibliografia de uma guerra (2) (12.07.05) (Jorge Santos) Guiné 69/71 - CV: Bibliografia de uma guerra (1) (12.07.05) (Jorge Santos)

Guiné 69/71 - CVIII: Welcome aboard, captain ! (CCAÇ 3493, Mansambo, 1972) (13.07.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790) (17.07.05)(Luís Graça)

Guiné 69/71 - CXII: Mais estórias do Xitole (CART 2716, 1970/72) (18.07.05) (David J. Guimarães)

Guiné 69/71 - CXIII: Piçarra Mourão, militar e escritor (CART 1525, Bissorã, 1966/67) (19.07.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - CXVII: Antologia (8): Dossiê Guiné (Vida Mundial, 1971) (1ª Parte) (22.07.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - CXXI: Bibliografia da guerra no feminino (1) (23.07.05) (c/ a colaboração de Jorge Santos)

 Guiné 63/74 - CXXV: Homenagem aos mortos da minha terra (Lourinhã, 2005) (24.07.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXXVI: Antologia (11): Cabo Verde (1941/1943) (26.07.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXXVII: Com os jornalistas chineses nas 'regiões libertadas' (1972) (27.07.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - CXXVIII: Bibliografia de uma guerra (10): Segredos do PAIGC (28.07.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (28.07.05) (c/ a colaboração de Jorge Santos e outros)

 Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) (30.07.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza (Op Lança Afiada, Março de 1969 (31.07.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre do Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969) (02.08.05) (c/ colaboração de Humberto Reis)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (8.8.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (9.8.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (11.08.05)(Luís Graça) Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo) (11.08.05) (João Tunes) Guiné 63/74 - CLXXIII: Informação & Propaganda: os 'grandes' repórteres de guerra (16.8.05) (A. Marques Lopes) Guiné 63/74 - CLXXXI: Antologia (18): Um domingo no mato, em Ganjolá (8.9.05)(Luís Graça) Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (23.9.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CCXXVI: Guerra limpa, guerra suja (1) (30.9.05) (João Tunes) Guiné 63/74 - CCXXVIII: Estórias do Xitole: Tangali e o quico do furriel Fevereiro (1.10.05) (David Guimarães)

Guiné 63/74 - CCXXX: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (1) (5.10.05) (Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - CCXXXII: Os sitiados de Guileje (6.10.05) (João Tunes) Guiné 63/74 - CCXXXV: Uma estória comovente de camaradagem: o Carvalhido e o Freixinho (10.10.05) (Luís Carvalhido)

Guiné 63/74 - CCXXXVIII: As estranhas noites de Sare Gana (11.10.05) Guiné 63/74 - CCXLI: Mininus di Nha Tera (poema de Nelson Medina, em kriol) (14.10.05) (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (14.10.05)(Luís Graça)

Guiné 63/74 - CCXLIV: Ansumane, caçador de crocodilhos (conto tradicional) (17.10.05) (Virgínio Briote)

Guiné 63/74: CCLIX: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morés (31 de Outubro de 2005) (Virgínio Briote)

 Guiné 63/74 - CCLX: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala (31 de Outubro de 2005) (Virgínio Briote)

 Guiné 63/74 - CCLXII: Memórias de um comando em Barro (Partes I, II e III) (1 de Novembro de 2005) (Virgínio Briote)

Vd. Selecção de textos sobre a Guerra Colonial na Guiné > Primeiros 250 postes da I Série do Blogue (de 11/52004 a 1/11/2005)

Guiné 63/74 - P5949: Blogpoesia (68): A caixa de Pandora... Ou um poema panteísta contra a misoginia... No Dia Internacional da Mulher (Luís Graça)


A caixa de Pandora...
Ou um poema panteísta contra a misoginia...
No Dia Internacional da Mulher

(Para a minha mãe,  Maria,
para a Alice,
para a Joana,
para todas as mulheres do nosso blogue,
para todas as mulheres de Portugal e da Guiné-Bissau,
para todas mulheres do mundo)


Os deuses criaram a primeira mulher,
e puseram-lhe o nome de Pandora.
Diziam os gregos antigos que fora por castigo,
como presente envenenado,
oferecido aos homens,
a quem Prometeu, o titã, tinha dado o fogo,
roubado aos céus.

Na sua fabricação,
à imagem e semelhança dos deuses,
trabalharam Hefesto e Atena,
sob as ordens do próprio Zeus,
e com o auxílio do resto do Olimpo.

Cada dividindade se esmerou
e lhe deu uma qualidade:
a graça,
a beleza,
a meiguice,
a paciência,
a compaixão,
a persuasão,
a generosidade,
a inteligência emocional,
a sensibilidade,
a sensualidade,
o sexto sentido,
a graciosidade na dança,
a arte da sedução,
o erotismo,
o talento para a cozinha,
a destreza para os trabalhos manuais,
o amor maternal…

Porém Hermes, o pérfido,
inocolou no seu coração
o vírus da traição e da mentira.

Zeus, o colérico e vingativo pai dos deuses
e de todas as demais criaturas,
mandou então a sua obra-prima
para a terra,
qual cavalo de Tróia.
Epimeteu, irmão de Prometeu, estava por este avisado:
- Do céu nunca virá nada de bom!
Nunca aceites nenhum presente divino…

Deslumbrado com a sua beleza,
Epimeteu tomou Pandora como esposa.
Em casa, ele tinha uma misteriosa caixa
que outrora lhe enviara o céu.
Pandora fora instada a nunca a abrir,
em circunstância alguma.
Mas a curiosidade feminina foi superior às suas forças.
Outros dizem
que era o seu dote de casamento.

… Lá dentro, na caixa de Pandora,
 estavam todos os males e todas as doenças,
incluindo a peste (a pior das doenças),
que haveriam de afligir a humanidade,
até ao fim dos séculos dos séculos…

Mas,  no fundo da caixa, ficou ainda
um resto do recheio,
o único elemento que não se chegara a libertar,
porque Pandora, assustada,
ainda conseguira fechar a tampa,
na última fracção de segundo …
E esse elemento era… a Esperança,
disfarçada de mal !

Apesar do erro irreparável,
Pandora vai permitir aos homens,
empunhar com orgulho o archote de fogo
que lhes dera Prometeu,
manter acesa a luz ao fundo do túnel,
manter vivo esse outro fogo do conhecimento e da paixão,
dominar alguns dos piores males
que estiveram prestes a destruir a humanidade,
conquistar o direito ao futuro,
lutar contra a doença e a morte,
alimentar a esperança,
combater o fatum, a condenação ao absurdo,
levá-los, enfim, aos seres humanos
a superar as limitações da sua condição animal...

Com Pandora, não somos definitivamente criaturas divinas,
nem obras-primas da criação,
somos assumidamente seres livres,
humanos,
frágeis,
vulneráveis,
mortais,
bons e maus,
mas donos do nosso destino.

Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a suburbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história,
ganhámos a terra como nossa casa,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura da liberdade...
Pandora não é a fonte de todos os males,
não é o pecado original,
é afinal “a que tudo dá",
em grego.
Com Pandora somos fogo e estopa,
mas já não vem o diabo... e assopra!
Para quê o diabo,
se voltámos a ter, de volta,
 a caixinha de Pandora,
agora domada e explicada às criancinhas,
e outrora mortal brinquedo dos deuses ?

Luís Graça

Imagem (do domínio público): Pandora (1861), escultura de Pierre Loison (1816-1886). 
Palácio do Louvre, Paris. Fonte: Wikipedia  (com a devida vénia...)

Guiné 63/74 - P5948: Blogoterapia (147): A notícia da minha morte foi um exagero: vão ter que continuar a aturar-me... (José Brás)

1. Na 6ª feira passada, dia 6, fomos surpreendidos pela notícia da queda de uma aeronave perto de  Montremor-O-Novo. O nosso camarada José Brás mora no concelho e é piloto. Alguns camaradas nossos (Miguel Pessoa, Francisco Godinho, Carlos Vinhal, José Belo, eu próprio) tiveram o estranho pressentimento de que ele podia estar entre as vítimas... O Miguel Pessoa, com os contactos que lhe dei, conseguiu finalmente falar com ele... Na aldeia global, as más notícias (e os piores boatos) correm mais céleres que o vento. Num ápice chegaram à Tabanca da Lapónia e outras Tabancas da Tabanca Grande...  Inbclusive já chegaram vários mails a desejar as melhoras do José Brás...

Há agora que repor a verdade e tranquilizar os amigos e camaradas da Guiné: infelizmente morreram dois portugueses, um deles da Força Aérea, e capitão de Abril, o Cor Pilav Ref Costa Martins, e outro, o Sousa Monteiro, comandante da TAP, reformado,  sindicalista, juntamente com o José Brás, nos difíceis tempos de antes do 25 de Abril (*)...

O José Brás não ia a bordo, embora seja amigo do Sousa Monteiro.  Ele próprio nos dá uma pequena explicação, a seguir. Não obstante o sincero pesar que manifestamos à família e amigos do Costa Martins e do Sousa Monteiro, e sem querer fazer humor negro, é caso para dizer, em relação ao nosso muito estimado camarada e querido amigo José Brás, que "a notícia da sua morte foi um exagero"... Ou como ele próprio o diz: "Vão ter que continuar a aturar-me"...

1. Mensagerm do nosso co-editor Carlos Vinhal, com data de ontem:

Caros camaradas e amigos tertulianos: Por julgar que esta mensagem não é de conhecimento público, é com imensa alegria que a vos reenvio.

Ao nosso camarigo Zé Brás,  a melhor sorte sempre suba aos céus de Montemor e de todo o planeta. Para susto já nos chegou.

Vinhal

2. Mensagem do José Brás, com data de ontem:

Ok, caros amigos:  Não fui eu. Muitas vezes tenho aterrado e descolado naquela pista mas sempre a recusei como base de escola.

Dos mortos, um era meu amigo, o Sousa Monteiro, comandante da TAP e na reforma,  que trabalhou comigo no sindicato antes do 25 de Abril, e o outro apenas conhecido de dois ou três encontros,  desfasados,  em Luanda, o Costa Martins.

Portanto...continuarão a ter de me aturar.

Abraços

José Brás

___________

Nota de L.G.:

(*) Notícia do Correio da Manhã, de 7 de Março de 2010 (excerto):

A queda da avioneta monomotor que vitimou o Capitão de Abril - e coronel reformado da Força Aérea - Costa Martins e o ex-piloto da TAP Sousa Monteiro, no sábado no Ciborro, Montemor-o-Novo, está a ser investigada pelas autoridades.


As dúvidas persistem em relação à legalidade da pista particular de onde os dois experimentados pilotos descolaram e onde deveriam regressar, junto à Herdade da Atabueira, onde acabaram por falecer por força do acidente.

Segundo fonte das autoridades, os dois ocupantes da aeronave terão levantado voo por volta das 16h30 de ontem e o passeio não deveria ter demorado mais de uma hora. Foi o dono da pista que alertou as autoridades para a demora no regresso.

A GNR montou então um perímetro de segurança e acabou por detectar os restos do aparelho, onde estavam os dois corpos, cerca das 21h00 de ontem, a cerca de 250 metros do local onde supostamente iriam aterrar. (...)

Ao que o CM apurou, a pista alcatroada e onde se encontra um hangar onde estava estacionada a aeronave do ex-piloto Sousa Monteiro não está legalizada para fim comerciais ou turísticos, mas pode ser utilizada para fins domésticos. (...).

As duas vítimas conheciam bem a zona e tinham milhares de horas de voo de experiência. Ao que tudo indica a queda terá sido motivada por uma falha técnica ou por motivos meteorológicos adversos. À partida estará afastada a hipótese de colisão com os cabos eléctricos existentes próximos do local de embate no solo. (...)

O antigo Capitão de Abril, Costa Martins, 72 anos e coronel da Força Aérea nasceu em Messines, Silves. Participou no comando das forças que tomaram de assalto o Aeroporto da Portela (Lisboa) e o Aeródromo Base nº 1 de Lisboa. António Spínola convidou-o, a 31 de Maio de 1974, a desempenhar as funções de membro do Conselho de Estado, tendo mesmo chegado a Ministro do Trabalho nos governos seguintes. Por outro lado, José Alberto Sousa Monteiro era um piloto reformado da TAP onde esteve vários anos e deu aulas em várias universidades. (...)

domingo, 7 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5947: A minha série Vindimas e vindimados nada tem a ver com o meu livro Vindimas no Capim (José Brás)

1. Mensagem de José Bras* (ex-Fur Mil na CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 3 de Março de 2010:

Carlos, meu camarada
Uma ou outra vez pareceu-me que alguns camaradas tinham os meus escritos no blogue, em especial os que saíram sobe o tema genérico “Vindimas e Vindimados**, eram partes do meu livro “Vindimas no Capim”.
Neste momento, face a contactos vários de amigos, antigos combatentes, essa ideia consolidou-se.

Por isso, esta necessidade de esclarecer e negar tal facto, afirmando que nenhum dos episódios editados no âmbito da Tabanca Grande está presente no texto ou na trama de “Vindimas no Capim”, trabalho que construí, na altura sem qualquer propósito de falar de guerra ou da guerra, mas antes como tentativa de buscar os meninos que se fizeram soldados; de encontrar em que País nasceram e cresceram, em que escola, em que catequese, em que relações de poder, de pastores, de cavadores de terra, de vindimadores, de pescadores, de pedreiros, de estudantes, se fizeram militares e partiram para a guerra na crença de que era seu dever defender a Pátria.

O Capim era apenas o cenário violento onde se transformavam dia a dia em outra gente que haveria de voltar ao Cais da Rocha, ao campo de seus pais e avós, à faina da sardinha, a uma outra vida de operário, aos caminhos de França e da Alemanha.

Os textos publicados são mais directamente ligados à guerra e às suas consequências imediatas no campo de batalha, a morte, o sangue, o heroísmo e o medo, entendidos nos dois lados da contenda porque ambos compostos por homens fiéis a ideias e a ideais e dispostos, muitas vezes, a superar-se por dentro para que, por fora, se pudessem apresentar dignos de seu nome.
Portanto, aproveitando para fazer a divulgação (não confundir com publicidade) quem quiser ler “Vindimas no Capim”, vai mesmo ter que adquirir o pedir emprestado a amigo ou na biblioteca municipal.

Outra coisa é o futuro, e por aí não garanto que alguns dos textos editados na Tabanca, não venham a aparecer em livro brevemente. Direi até que tem nome, está em análise em editor, tem 182 páginas entre Guiné, Rio de Janeiro, Salvador, Angola, Canadá, and so on, terras todas de um lote maior por onde andei nesta vida e que uns poucos camaradas conhecem já.

Portanto… ”Vindimas no capim” é uma coisa, “Vindimas e Vindimados” é outra coisa, e “Lugares de Passagem”, que sendo um pouco e de outro modo, a mesma, é ainda outra.

Abraços
José Brás
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5830: Controvérsias (66): A questão colonial (II): Colonização portuguesa - Particularidades (Descolonização e Conclusão) (José Brás)

Ver postes da série Vindimas e vindimados de autoria de José Brás

Guiné 63/74 - P5946: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (2): Evocando o Sold Almeida e o Fur Alcino, da CART 2742, que morreram, mais o Cap Figueiredo e o Alf Félix, na tragédia do domingo de Páscoa de 1972


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito [, mapa de Colina do Norte] > Dois furriéis, o Alcino (da CART 2742, morto em 2/4/1972) e o Bebiano, de Informações & Operações, que esteve com o José Cortes ainda uns meses em Fajonquito. A CART 2742 pertencia ao BART 2920 (Bafatá, 1970/72).

Foto: © José Bebiano (2010). Direitos reservados

1. Mensagem, com data de hoje,  do José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74:

 Luís,  esta foi a resposta do José Bebiano (*). Na foto que ele me envia,  o camarada de bigode  era o furriel Alcino que morreu na tragédia (**).

2. Texto do José Bebiano, com data de 5 do corrente

 Assunto: Fajonquito

Boa noite.

José Cortes: O tempo passa e a tua imagem passou? Pouco tempo estive convosco [ CCAÇ 3549]. Lembro-me bem do Cap Patrocínio.

A história do soldado Almeida, ex-comando,  e que com uma granada na mão matou-se e matou 1 cap + 1 alferes + 1 furriel... Eu, na altura do acidente estava em Lisboa.

Qual a razão para tal atitude? Pelo que me disseram, queria permanecer na Guiné e com uma granada na mão foi pedir para que não o enviassem para a Metrópole (?!)... Passou-se completamente.
Vou enviar uma foto com o falecido Alcino e com o Bebiano. A foto foi tirada em 26 Out 1971. Ainda por lá fiquei mais um  ano.

Cumprimentos
P.S. - Estou reformado/aposentado desde 30 de Novembro. Ex-professor de Educação  Física em Moura.

José Bebiano
3. Comentário de L.G.:
Aproveito o ensejo para agradecer a colaboração do José Bebiano e convidá-lo a integrar a nossa Tabanca Grande. Já agora, gostava de saber se ele vive em Mourta, onde trabalhou como professor. No dia 10 de Abril de 2010, vai realizar-se em Moura uma pequena homenagem aos camaradas do concelho que morreram, no total de 29, durante a guerra colonial.

____________

Notas de L.G.:

(...) Mortos, em 2/4/1972, [da CART 2742, Fajonquito, 1970/72], por acidente (sic), constam os seguintes nomes, na lista dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes:

- Alcino Franco Jorge da Silva, Fur


- Carlos Borges de Figueiredo, Cap


- José Fernando Rodrigues Félix, Alf


- Pedro José Aleixo de Almeida, Sold (...)

Guiné 63/74 - P5945: In Memoriam (38): Agradecimentos (Ana Duarte)

1. A esposa (Ana Duarte) do nosso Camarada Humberto Carneiro Fernandes Duarte, que foi Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514, Cantanhez -1973/74, falecido no passado dia 28 de Fevereiro, enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas e Amigos do Humberto,

Queria dirigir-vos o meu Agradecimento, com estas palavras, um panfleto, que anexo, da minha autoria, para oferecer aos Amigos e Camaradas do Humberto Duarte, e uma mensagem que ele escreveu numa daquelas noites em que não queria dormir, aproveitando-a para deixar mensagens a todos vós.

O meu OBRIGADA a todos os Camaradas que enviaram mensagens de Solidariedade, Amizade, Carinho.... tudo contribuiu para que estes dois últimos meses de vida do Ranger Humberto Duarte tivessem um pouco mais de qualidade, e, para que, ele e eu, continuássemos a sorrir apesar da difícil picada que estávamos a atravessar.

No sábado, dia 27 de Fevereiro, o último dia em que ele ainda esteve completamente consciente e por sinal até se deitar, manteve-se muito bem disposto, falou nas mensagens, anedotas, vídeos… e, conversamos, rimos…

Acabou o dia com uma frase muito dele: "Só nós, os que estivemos lá fora na Guiné, é que nos percebemos uns aos outros... bem tu também podias ter pertencido ao meu grupo de combate, por isso percebes alguma coisa".

Obrigada a todos, que depois de ele falecer, me enviaram condolências e, essencialmente àqueles, que sem sequer nos conhecerem, estiveram presentes no funeral, bem como ao Camarada que esteve presente na missa na Carregueira.

O meu muito Obrigada, mas, também o muito Obrigado do Ranger Duarte ao Exmo. Sr. Coronel António Feijó, ao Exmo. Sr. COR Sepúlveda Velloso (Comandante do C.T.O.E.) e ao Exmo. Sr. TCOR Valdemar Lima (2º Comandante do C.T.O.E.), pela prestação das Cerimónias Militares, que tanta satisfação e alegria comunicou ao Humberto quando soube, pelos Boinas Verdes Seco dos Op Esp/RANGERS de Portugal.

A todos aqueles que prometeram por várias vezes visitá-lo, e, depois, nem se quer um telefonema lhe dedicaram, ficará apenas nas suas consciências os porquês de não o terem feito.

Bem Hajam e até dia 10 de Junho, em Belém, onde, se Deus o permitir, o Ranger Humberto Duarte estará na minha memória, assim como o nosso neto João Pedro Loureiro o último afilhado (militar) e outros jovens, para que haja uma continuidade na Homenagem a todos os que morreram na Guerra do Ultramar, e àqueles que entretanto também vão partindo pelas vicissitudes desta atribulada vida terrena.



Reiterando os meus Agradecimentos,
Com os meus melhores cumprimentos Amigos a todos.
(Ana Duarte)
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5925: In Memoriam (37): Missa do 7º Dia pelo Humberto Duarte, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do BCAÇ 4514, Cantanhez - 1973/74

Guiné 63/74 - P5944: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (11): Encontro em Mampatá, com o Leça, o Delfim Santos e o José Manuel Dinis (Pepito)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mampatá > 4 de Março de 2010 > Os nossos amigos da AD, e membros da nossa Tabanca Grande, Pepito e Domingos Fonseca, ladeados por camaradas nossos que integraram a caravana da associação Memórias e Gentes: à esquerda, o José Eduardo Alves (Leça), (ex-Condutor da CArt 6250, Mampatá, 1972/74) mais a esposa; à direita, o Delfim Santos (CCAV 8350, Guileje, 1972/73), co-fundador da Tabanca de Mosinhos... De calções, na ponta direita, está o nosso José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71)... (De repente, não reconheci o nosso  elegante e proficiente membro da Tabanca Grande e co-fundador da Tabanca da Linha!... Mea culpa, mea culpa... LG)

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados


1. Mensagem, de hoje, do nosso amigo Pepito:

Assunto: Encontro no sul

Luís: Na passada quinta-feira, dia 4 de março, estando eu em Mampatá-Quebo para um encontro com a comunidade local onde estamos a apoiar a Rádio Comunitária Forréa, encontrei-me com uma parte dos membros da Associação Humanitária "Memórias e Gentes", de Coimbra, que chegaram por estes dias a Bissau,  trazendo uma importante ajuda solidária para a população de numerosas tabancas e organizações.

Da esquerda para a direita está o Leça, que fez serviço militar em Mampatá de 72 a 74 na CArt 6250, a esposa,  e o segundo da direita é o Delfim Santos que esteve em Guiledje em 1973, na ocasião do abandono do quartel.

abraço

pepito

Guiné 63/74 - P5943: Notas de leitura (75): Missão na Guiné e Os Lusíadas (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 3 de Março de 2010:

Caro Vinhal,
Ao ler o P5886** , do Eduardo Campos, fui comparar a capa do meu “Missão na Guiné” com o reproduzido no dito poste e verifico que a capa é diferente. Tenho a 2.ª Edição de 1969, do Estado Maior do Exército.

Os escritos devem ser os mesmos, não vejo capacidades financeiras nem intelectuais para outras doutrinas numa outra edição com diferença de dois anos!

Era mais fácil aos pensadores de então mandarem trabalhar as máquinas das oficinas da SPEME do que ocuparem as suas já gastas ideias!

A segunda página começa com a fotografia anexa e o Canto VII, de “OS LUSÍADAS”.

Aqui, a minha perplexidade! …”Os LUSÍADAS”, de Luís de Camões, POEMA ÉPICO!

“Os Lusíadas”, escrito do séc. XVI, de 10 Cantos versejados com 1102 oitavas.

Luís de Camões que me foi ensinado nos anos 50 do século passado… uma das obras mais difíceis de interpretação… confesso a minha dificuldade na interpretação desta oitava – no livro quadra!

Consultei a minha 3.ª edição de “Os Lusíadas”, de Emanuel P. Ramos, da Porto Editora Lda., que custou 40$00, e confirmo que a 3.ª oitava do dito canto está incompleta!

Começa a doutrinação à moda do governo de então!

Mas o que interessava para uma população maioritariamente sem alfabetização era passar a ideia: “do cumprimento do teu DEVER de Soldado e de Português – a defesa da PÁTRIA”. (SIC!)

A Pátria que tantos dissabores causou à geração dos ex-combatentes.

A Pátria que obrigava a terminar a correspondência oficial … A BEM DA NAÇÃO!

A Pátria que esquece os seus ex-combatentes!

A monografia - (estudo geográfico e histórico) - da Guiné tem descrições, que os ex-combatentes tão bem conheceram e tanto sofreram naquela terra mártir.

Uma obra à medida - (literatura) - e feitio - (fotos) – do antigo regime.

Quatro decénios decorridos a Missão na Guiné é um livro de consulta que me faz lembrar a história daquele país de tanta diversidade étnica, autóctone e não autóctone como brancos, mestiços, cabo-verdianos e libaneses em que o crioulo é a língua usada para se entenderem entre si!

Transcrevo passagens da MISSÃO NA GUINÉ:

- O cumprimento da nossa MISSÃO vai exigir, ainda, tempo e muitos sacrifícios. Mas, a Vontade dos Homens de todas as raças e credos que a nossa História juntou sob a mesma e gloriosa Bandeira há-de, necessariamente, prevalecer!

- Basta seres como tu próprio és, para, na alegria do regresso, poderes gritar bem alto àqueles que no cais orgulhosamente te aguardem – MISSÃO CUMPRIDA!

Narrativas e vivências da verdadeira guerra de guerrilha do TO da Guiné é o que encontramos na “Tabanca Grande” com os nossos Generais – (editor, co-editores e cartógrafo) e Camaradas – (401 amigos) a escreverem a sua própria experiência… só falta as fotografias falarem com as suas personagens! Mas neste caso a culpa é solteira!

Estrelas podemos dar à nossa hierarquia… o valor das chorudas reformas é que é impossível!

Um abraço do,
António Tavares
ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro, 03-03-2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5897: Os nossos médicos (16): Um Soldado Básico licenciado em Medicina (António Tavares)

(**) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5886: Histórias do Eduardo Campos (11): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 11): Nhacra 6/Final

Vd. último poste da série de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5940: Notas de leitura (74): Além do Bojador, romance de estreia de Manuel Fialho (II) (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5942: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (1): Ao José Bebiano, ex-Fur Mil Pel Rec Inf

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (1972/74) > O Fur Mil José Cortes no bar...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (1972/74) >  Furriéis milicianos confraternizando no bar...

Fotos: © José Cortes (2010). Direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada José Cortes [, foto actual, à esquerda,] ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74 (*), com data de ontem, enviado ao seu camarada José Bebiano, com conhecimento ao editor do blogue, Luís Graça


Caro José Bebiano: Fico muito contente por responderes ao meu mail.

É natural que não te lembres de mim, pois os anos já são muitos que nos separam desse tempo, eu não me esqueci, até porque o camarada que te rendeu, o Reis, quando viemos embora no fim da comissão, em 15 de Junho de 1974, ele ainda ficou com a companhia que nos rendeu. Viemos a saber depois que morreu lá com o paludismo, soubemos através da familia dele. Ele era de Fátima (até o tratávamos por Fatinha) e na busca de camaradas para organizarmos o encontro da companhia em 1999, soubemos que ele tinh falecido lá.

O cap Patrocínio,[comandante da nossa CCÇ 3549,] faleceu em Dezembro de 2008, em Mafra de onde era natural.

Saíu da companhia,  salvo erro no início de 1973, foi transferido para Mansoa, para a C CAÇ 15, juntamente com o primreiro sargento Canavarro, que ainda é vivo, vive em Chaves.


O vague-mestre da companhia é vereador da Câmara de Campomaior, Georgino Pina.

Se estiveres interessado,  contar-te-ei mais coisa sobre o que se passou depois.

Envio-te duas fotos daquele tempo. São as duas do nosso bar: a primeira sou eu bem mais magro;  a segunda é a malta que deixaste num daqueles momentos de copos, em primeiro plano está o falecido Reis (Fatinha)

Um abraço.

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Nota de L.G.:

(*) Vd.poste de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)

sábado, 6 de março de 2010

Guiné 63/74 – P5941: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (35): A dança das bazucas (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 35ª mensagem, em 5 de Março de 2010:

Camaradas,

Ao dar aqui umas voltas aos meus velhos manuscritos, dos tempos já distantes do serviço militar onde a minha memória se vai perdendo, encontrei mais este texto que achei interessante pela sua morbidez, enviar para vossa leitura.

A DANÇA DAS BAZUCAS

Estávamos no fim de Maio de 1969, acabadinhos de chegar á Guiné, éramos ainda uns imberbes periquitos.

Apesar disso, fomos enviados para o teatro de guerra, tocando-nos Buba (COP 4), comandado pelo Major Carlos Fabião, que nessa altura tinha a seu cargo a fatídica construção da estrada Buba-Aldeia Formosa (já por diversas vezes referenciada, em outros postes, aqui no blogue).

A minha CART 2519 foi mandada para Mampatá, numa coluna em que seguia um conjunto de máquinas da Engenharia do Exército, que a partir de Sare Usso, iriam desbravar a floresta em direcção a Buba.

Aqui começa a nossa história:

Todos os dias por volta das seis horas um conjunto de militares das NT, com picadores à frente, saía de Mampatá, pela estrada velha até Sare Usso, procurando na estrada minas que eram, entre outros, um dos maiores perigos à sua progressão no terreno.

Chegados ao local onde decorriam os trabalhos de abertura da estrada, flectiam para a mata, e, depois da segurança montada pelas forças presentes, avançavam as máquinas da Engenharia desbravando a floresta na direcção já referida.

O IN que, com certeza, vigiava todos os nossos passos, esperava habitualmente por nós emboscado, e, certa manhã, quando flanqueávamos uma coluna que seguia para as obras, para meu total espanto, um dos soldados que seguia à frente chamou-me a atenção, para um cartaz preso no tronco de uma árvore.

Montada a segurança em volta do perímetro, demos com os seguintes dizeres escritos no cartaz: "VAI COMEÇAR A DANÇA DAS BAZUCAS PREPARA-TE PARA DANÇARES". Coisa no mínimo mórbida. O IN ainda se dava ao “luxo” de nos gozar e convidar para um “bailinho” de morte.

Normalmente as hostilidades despoletavam então com um “baile de bazucadas”, que era para nós um “show” completamente desconhecido, “orquestrado” sob uma música brutal e arritmada, constituída por sons acutilantes e terríveis de fortes explosões, para uma fatídica e dantesca dança mortal.

Eram shows” de curta mas eficaz duração, que obrigava os “piras” da Companhia recém-chegados ao teatro de operações a “bailarem” num palco desconhecido, um tanto desnorteados como baratas tontas, a disparar as suas armas para tudo o que mexia na paisagística, misteriosa e insondável mata em redor.

Lembrava-me um género de opereta com final trágico, que nos arrasava psicologicamente e que rapidamente nos afectou, até porque foi neste período que tivemos, infelizmente, um morto e alguns feridos.

O IN não nos dava tréguas trazendo-nos sempre ocupados, ou através de emboscadas, ou colocando minas na estrada, ou flagelando a zona de trabalhos, e, à noite, quando pretendíamos alguns momentos de descanso, no quartel de Mampatá, lá vinha o maldito “baile das bazucadas”, acompanhado, muitas vezes, de várias morteiradas.

Esta nova estrada foi assim um “salão de baile”, onde o PAIGC sempre orquestrou a música que quis para nos pôr a “bailar”.

Quando pela primeira vez por ela nos movimentámos, em coluna motorizada, levámos mais um ensaio de todo o tamanho, com um festival de bazucada, morteirada e outra musical metralha, dividida em três sessões dignas de um filme de Spielberg, saldando-se as contas finais em três mortos e vários feridos para as NT, que ficaram nas nossas memórias para todo o sempre.

Por ordem do “mestre de sala”, este tipo de dança foi devidamente estudado, e, ao longo do tempo alterado, passando os seus protagonistas (os desgraçados piras), a preparar os seus instrumentos e a retribuir ao IN, com um novo ritmo musical que eu designei como a "DANÇA DOS DILAGRAMAS".

Assim, por aquelas bandas de Mampatá, o maquiavélico espectáculo foi-se manifestando, meses a fio, numa sinfonia mais justa e equilibrada, cujos sons passaram a ser mais “democráticos”, mais próprios de um "Agora danças tu, depois danço eu e… vice-versa".

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

19 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto) 

Guiné 63/74 - P5940: Notas de leitura (74): Além do Bojador, romance de estreia de Manuel Fialho (II) (Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2010:

Queridos amigos,
Temos aqui um livro simpático, carregado de pormenores, haverá certamente gente que sentirá satisfação em regressar a Farim no início dos anos 70.

Um abraço do
Mário



Além do Bojador* (II): triunfo do feitiço africano

Beja Santos

“Além do Bojador” o primeiro romance de Manuel Fialho (Edição 100 Luz – www.100luz.pt) narra as vicissitudes da história de amor de um capelão militar, um franciscano que viera de Itália, de nome Miguel, e a quase adolescente Binta ou Fátima, uma Mandinga de Farim. Assistimos à viagem de um batalhão que tem a sua sede em Farim e cujas companhias se derramam por Cuntima, Jumbembem e Nema, fora os destacamentos. Miguel Lúcio adapta-se à sua missão, percorre estes itinerários em coluna militar, celebra missas, faz uma grande amizade com o alferes do pelotão auto, visita a tabanca de Farim e aos poucos deixa-se enlear pela beleza de Binta, uma neta de um português, uma jovem de beleza espectacular, cheia de predicados.

A descrição do Norte da Guiné, no início do romance, é de que era uma região relativamente controlada. Mas a acção dos guerrilheiros irá começar a intensificar-se, a missão do batalhão é refeita e as unidades envolvidas em ocupações e múltiplas operações. O PAIGC revelava um espírito ofensivo, multiplicando as emboscadas e as minas. O comandante-chefe determinara o reordenamento das tabancas. O padre Miguel escrevia a história do batalhão e procedia ao registo dos relatos dos antepassados Mandingas (recorde-se que o subtítulo deste romance é “Na guerra colonial da Guiné, a história pré-colonial da África Ocidental”). Miguel usa um gravador para onde fala Malan, ali ficam depositadas as suas memórias dos ancestrais. Miguel descobre que é poeta, sente inspiração e passa para uma folha de papel, primeiro as suas orações, mais tarde o seu amor ardente. Aos poucos, os dois amantes exprimem a sua paixão. A vida em Farim ganha novo alento com a chegada das mulheres de dois alferes, uma delas será professora, far-se-á apoiar por Binta.

Tudo isto se passa, recorde-se, num contexto de recrudescimento das acções inimigas, começam a registar-se tensões entre Spínola e o comando, dá-se o afastamento compulsivo do comandante, a unidade em peso reage com o baixo assinado ao Spínola, tudo tivera origem num dirigente local que morrera na prisão. Quem escreve o documento a pedir o regresso do comandante é o capelão, as consequências serão altamente positivas para a unidade de Farim. A povoação vai sofrer um ataque de foguetões, será uma experiência que irá aproximar ainda mais Miguel e Binta. Miguel descobre que não tem necessidade de se penitenciar por amar Binta. O comandante regressa, tem uma longuíssima conversa com Miguel, conta-lhe detalhadamente tudo o que se passara acerca da morte de um régulo na prisão. Miguel confessa a Malan que ama a filha. O feitiço africano está consumado. Ao som do concerto para piano nº 21, de Wolfgang Amadeus Mozart, Miguel poeta: “O teu corpo é a nave que no espaço / me governa para além da morte, / nesse transpor em que me deixo à sorte / de Quem de arremessou no teu abraço. / Ah, meu amor, eu já nada mais faço / senão imaginar esse teu lindo porte / a guiar o meu desejo, que de tão forte / em êxtase anseia pelo teu regaço...”. Miguel prossegue as viagens aos aquartelamentos como Cuntima, Canjambari, Jumbembem. Continuam a ser detectadas minas anti-carro, prosseguem as flagelações ao K3. De novo Farim sofre um ataque de foguetões. Aos poucos, Miguel vai transcrevendo os feitos dos Mandingas, a história da África Ocidental ganha compreensão. No regresso da tabanca, depois de uma visita a Malan e a Binta, Miguel é barbaramente espancado na calada da noite e transportado para Bissau. É aqui que se reencontra com Spínola, Miguel dá-lhe uma lição de história na enfermaria do hospital militar.

Encurtando razões, já que Manuel Fialho escreve cerca de 500 páginas, Miguel conclui a história dos povos da África Ocidental que manda para Spínola, a guerrilha assanha-se, Miguel e Binta experimentam o amor tórrido na povoação de Binta, exactamente em casa do sogro português de Malan. Miguel lê a propaganda do PAIGC e fica a saber que os aviões Fiat e os T6 matam e ferem crianças no mato. De vez em quando morrem militares, Miguel reza por eles. Chegou o momento de tomar decisões, Miguel aconselha-se com um padre em Bissau, este, compreensivo, recomenda-lhe que prossiga este amor verdadeiro por Binta. Eles casam, Miguel confia que possa vir a ser investigador, escreveu ao pai a contar o sucedido, a unidade militar oferece uma lua-de-mel ao casal na ilha do Sal.

Vale a pena insistir que se trata de uma obra generosa, didáctica com propósitos de reconciliação, é uma escrita amena de um ex-combatente que seguramente se afeiçoou por Farim e toda essa região, que conservou memórias do funcionamento daquela quadricula e que estudou a história dos Mandingas, forjando uma amena e até plausível história de amor. Talvez não fique como livro de referência mas cumpriu a função didáctica: os mais novos poderão ficar a saber o que eram dois anos de comissão militar; os mais velhos revêem o funcionamento da vida de um batalhão que pôde ficar com as suas companhias relativamente próximas; os investigadores terão elementos para percepcionar a evolução da guerrilha, no início dos anos 70; e o diálogo inter-étnico aparece aprofundado nesta tocante história de amor. Para que conste.

“Além Bojador” ficará propriedade do blogue.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5888: Notas de leitura (71): Além do Bojador, romance de estreia de Manuel Fialho (I) (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5930: Notas de leitura (73): Gadamael, de Carmo Vicente (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5939: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (9): A minha primeira vez (na guerra)

1. Mensagem de Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 24 de Fevereiro de 2010:

Caros Luís, Vinhal, Briote e M. Ribeiro:
Recebam um grande abraço mais votos de muita saúde, extensivos a todos os ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que, de algum modo, ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.


Em 21 De Maio de 1965 pelas 12h (meio-dia) entrava no Niassa de forma descontraída e com ares de turista para cruzeiro, para embarcar para a Guiné; Volvidos 20 dias entrava às 12h (meia-noite) no mato, algures numa zona de África, armado de G3 e de cartucheiras cheias de carregadores, à caça do inimigo, meu semelhante, mas “pintado” doutra cor.

- Das minhas memórias: “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”-

A minha primeira vez (na Guerra).


…Entretanto fez-se a minha primeira saída para o mato, que não se fez esperar muito, pois deu-se na segunda noite que passávamos em Bissorã. O meu Grupo de combate, que era o 3.º Pelotão da Companhia, seria portanto o primeiro a sair para o mato para um “golpe-de-mão”. (2 Secções de outro Pelotão já tinham feito uma escolta a uma coluna de reabastecimento até Maqué - estrada Bissorã-Olossato-).



Em conjunto com o Grupo de Comandos - os chamados “Lordes”- da Companhia 643 (os Águias Negras) íamos actuar de assalto o refúgio inimigo de Queré.



Embora não esperasse uma saída tão cedo, não fiquei surpreendido, pois até não estava ali para outra coisa. Foi depois de jantar e quando já nos encontrávamos nos quartos, que ouvi uma voz lá fora, uma voz e uma frase que se iriam repetir muitas vezes futuramente, para mal dos nossos pecados. O “Braga” mais para diante até dava o recado a uma razoável distância e com alguma precaução, pois havia quem, mais na brincadeira, lhe atirasse uma bota ou outra coisa que tivesse à mão. Não podíamos ver o “Braga” quando ele se aproximava. Então a voz e o recado do Braga: “Os sargentos do 3.º Pelotão - na circunstância era este - ao nosso Capitão”. Ficou para valer esta macabra mensagem. Como era a primeira vez que aquele recado acontecia, desconhecíamos a razão de tal convite, mas, passados breves minutos logo ficámos ao corrente. O nosso Capitão – o Capitão Riquito – acompanhado do Comandante do meu Grupo de Combate - o Alferes Esteves - e com o Hipólito e o Graça (estes dois, Sargentos dos “Lordes”), deu conhecimento da Operação a efectuar.

Antecedidas de breves horas, as saídas para o mato iriam ter sempre aquela necessária e imprescindível reunião, para aí ouvirmos da missão, progressão no terreno, táctica, dispositivo a adoptar, hora de saída, e dados referentes ao inimigo, nomeadamente do seu efectivo, do seu armamento, se haviam sentinelas, e se haviam qual a sua localização, etc.

Toda esta informação era para transmitirmos depois às respectivas Secções, ficando assim todo o efectivo operacional ao corrente da Operação.

Não encarei com muita preocupação esta minha primeira saída para o mato, como até seria de supor, pois para mim tudo seria novidade, desconhecendo e ignorando como era aquilo de andar aos tiros, uma espécie de brancos contra os pretos.

Vesti então o camuflado, apertei bem o cinto com as cartucheiras, coloquei a G3 em bandoleira, fiz a minha oração e segui então para o lugar de partida para o mato com um cigarro apertado nos lábios.
Assim, parti com um relativo à-vontade e uma certa confiança, não conseguindo porém, disfarçar um nervoso miudinho.

Lá estavam os soldados já agrupados para tomarem o tonificante café, ritual que se repetiria sempre antes de formarmos a fila indiana para sair do quartel.

Aproximei-me do local – cozinha dos soldados - para fazer o mesmo. Sabia sempre bem aquela tigela de café antes de sairmos. Servia-nos de lenitivo e aquecia-nos o corpo. Como de costume a noite já ia bem dentro. Com o Sargento Tavares, sentados no degrau do passeio, troquei algumas palavras com ele e as nossas expressões denotavam relativa preocupação, mais a minha que a dele, pois ele já tinha uma certa prática nestas andanças, uma vez que já tinha feito uma comissão em Angola.

Entretanto os “Comandos” da 643, já muito habituados àquilo, demonstravam uma nítida descontracção e ligeireza de movimentos que me causaram impressão. Barbudos, queimados, camuflados coçados e desbotados pareciam que iam para uma festa. Eu já não via a coisa tão bem assim.

Em breves segundos puseram-se ordenadamente em fila indiana prontos para saírem. Depois de agruparmos as nossas Secções nas posições definidas pelo Comandante do Grupo de Combate, começámos então a caminhar, abandonando o quartel e rumo ao objectivo. À frente os “Comandos” (os Lordes) e atrás os “periquitos” do 3.º Grupo de Combate da 816. Ou seja à frente os que tinham os camuflados coçados, desbotados rotos e rostos queimados e atrás os ainda branquinhos periquitos de camuflado novo e passado a ferro (passe o exagero).

Eram cerca das 11 horas da noite quando deixámos o aquartelamento de Bissorã rumo à casa-de-mato de Queré, algures nesta zona, aonde um grupo de terroristas se acoitava. A estrada tomada era a que ia para a “outra banda” mas não chegámos a cruzar o rio Armada, pois cortámos num carreiro à esquerda.

Segundo as informações dadas na reunião que antecedeu a Operação, o refúgio tratava-se mais de um Posto Administrativo (?), apenas com as armas e efectivo suficientes para a segurança deste. Portanto contava-se com relativa fragilidade por parte do inimigo. Caso insólito: nesta Operação o guia era uma “bajuda”! (rapariga nova, indígena).

Para as Operações de “golpes-de-mão”, necessitávamos, naturalmente, de um guia indígena, conhecedor da zona e do caminho. Muitas das vezes os nativos do nosso lado (milícias) também conheciam mais ou menos as paragens, salvaguardando as alturas em que entravam em contradição (uns diziam que era para a esquerda outros para a direita) e baralhavam mais as contas. As deslocações para este tipo de Operações eram feitas normalmente de noite, através do sinuoso mato (muitas das vezes evitávamos trilhos e caminhos para fugir às minas e a não darmos azo a sermos mais facilmente detectados), atravessando, não raras vezes, alagadas bolanhas e outros obstáculos. Assim era indispensável alguém da região que nos conduzisse e se para além de conhecedor do percurso, soubesse-nos informar do local exacto do refúgio, quantidade de terroristas, seu armamento, da existência e posição de eventuais sentinelas, etc., ainda bem melhor.

Muitas das vezes sabíamos de antemão todos estes pormenores pois o nosso guia tratava-se de alguém que tinha já pertencido ao refúgio e que o abandonou, por fome, por maus tratos ou outro motivo qualquer, ou então fora apanhado inadvertidamente no mato pelas tropas e instigado a colaborar.

A maioria dos guias no entanto, não queria colaborar, (outra situação a reflectir) nem à força, chegando muitas das vezes a pagar caro a sua recusa. Saíam sempre com a tropa, mas, uma vez no mato, e na maior parte das vezes, faziam-nos andar às voltas e mais voltas até sermos detectados, o que se julgava ser de forma propositada e gorando assim o objectivo da Operação. Eram castigados duramente ou liquidados mesmo ali.

Voltando à Operação Queré, a rapariguinha negra, envolta numa grande túnica(?) que lhe cobria a cabeça e grande parte do rosto e até a terminar nos pés – para não ser reconhecida - lá nos foi conduzindo pelo mato fora e com grande determinação. O motivo que levou a “bajuda” a querer ajudar a tropa é que ela tinha sido vítima de tentativas de violação, e não só, por parte dos componentes de tal acampamento, daí o desejo de se vingar e para nós uma boa oportunidade, uma vez que tínhamos um guia que conhecia completa e detalhadamente o refúgio e muito decidida à retaliação.

À medida que nos afastávamos de Bissorã as luzes desta povoação iam-se tornando, naturalmente, menos visíveis, sempre que as olhava, virando-me para trás, para certificar-me da distância, até que a coluna mergulhou na completa escuridão do mato, entregues ao destino e, vejam lá (!), aquela frágil mas corajosa e decidida rapariguinha. Logo à entrada do mato, o que mais tarde acharia ridículo, comecei a olhar para todos os lados como prevendo, num possível esconderijo – uma árvore, um “baga-baga” (montículo de terra endurecida que chegava a atingir 2 metros e mais de altura e que era construído por uma formiga - leia-se milhares e milhares - com uma disciplina militar e guerreira na defesa do seu laborioso habitat - o tal montículo de terra - e a que se dava o mesmo nome também de formiga “baga-baga”. Não sei se foi o nome do montículo que deu nome à formiga se foi o contrário), um arbusto, o capim, etc. - uma possível posição inimiga pronta a atacar, o que me provocava alguma tensão. A minha arma ia terrivelmente apertada nas mãos e, com o corpo hirto, a respiração entrecortada e de olhar extasiado, ia galgando assim o acidentado e desconhecido terreno do mato.
Ainda deu para apanhar um cagaço mal tínhamos entrado no mato:

Próximo de mim caiu com algum barulho (presumi, mas só depois, que algum fruto ou coisa parecida tenha caído ao chão) qualquer coisa que quase e instintivamente me fez deitar no chão (uma granada queres ver!). O que vinha atrás ainda riu-se do que eu ia fazendo, mas se calhar só parou de tremer muito depois de mim. Refeito, coração em batida normal, toca a seguir. Este meu estado de espírito foi-se desanuviando à medida que ia ganhando experiência nestas andanças, pois mais tarde, só quando estávamos próximo do inimigo é que tomava cuidado e o coração batia mais vezes. Nessa altura é que a G3 mudava de posição já com o indicador próximo do gatilho e a mão esquerda a segurar a arma junto ao cano. Até essa altura, e com a arma segura na mão como um saco, pensava em tudo menos na guerra. Assim o tempo parecia passar mais depressa e o sistema nervoso era mais controlado. Mas naquela minha primeira saída para o mato o meu estado de espírito era de facto como atrás conto.

A missão do meu Grupo de combate era a de segurança ao grupo de assalto, grupo este que era o dos “Lordes”. Devíamos formar um semi-anel em torno do refúgio e à retaguarda dos “Lordes”. Este nosso dispositivo permitiria assim uma segurança pelas costas aqueles, ao mesmo tempo que evitaríamos, por esse lado qualquer fuga inimiga.

As horas, que pareciam longas, foram passando até que chegamos perto do refúgio e, tal como estava previsto, alguns minutos antes da hora prevista para o ataque. Estes minutos de espera serviam para nos refazermos do esforço e da tensão acumulados ao longo da caminhada e para ultimarmos pormenores ou desfazer qualquer dúvida sobre o assalto a perpetrar. Sentamo-nos então, procurando a todo o transe não fazer qualquer espécie de ruído. Ouvia-se eventualmente o barulho provocado pelo movimento de um ou outro animal furtivo e como já estávamos perto do alvorecer do dia ouviu-se também o chilrear incessante e ensurdecedor da imensa e variada passarada que infesta aquelas paragens. Nunca tinha imaginado e muito menos ouvido tão variada e estridente sinfonia. O chilrear de uns dava a sensação de uma serra mecânica a cortar madeira; o de outros parecia o de autênticas gargalhadas de pessoas; outros ainda pareciam crianças a berrar, etc., etc…. Espectáculo!!

Enfim uma complexa orquestra espalhada e oculta naquela emaranhada floresta, utilizando os mais diversos instrumentos. Todas as notas musicais e mais algumas eram ali ouvidas.

Seria sempre esta a música de fundo quando fazíamos Operações do género: ataques a “casas-de-mato” e, como normalmente se fazia, era ao amanhecer.

Como na altura desconhecia tão diversidade de cantares e chilreares, confundia por vezes com a presença próxima de crianças ou até de adultos que, afinal ali perto deviam estar e que eu, “periquito”, os adivinhava em todo o lado naquela tenebrosa mata.

E então ecoa um batuque!!..., todos (os da 816) tomámos uma expressão de alerta. O rufar enervante daqueles tambores parecia avançar para nós para logo voltarem ao seu ponto de origem num frenético vai-e-vem. Lembrei-me dos filmes de índios só não via era sinais de fumo. Claro que o nosso estado de espírito na altura redobrava as sensações também. Que sensação! Que pesadelo! O que é isto? O que será? É um sinal? Ordem para atacar? Interrogavam-se uns aos outros. Confesso que senti um pouco de medo naquela altura. Logo, porém, o meu coração começou a compassar normalmente quando os “velhinhos” dos “Lordes” nos fizeram sossegar dizendo que se tratava de um “choro”.
Choro, mais um termo a descodificar.
Não muito longe dali, em alguma tabanca, um grupo de indígenas e de uma certa raça ou etnia, manifestavam-se no tradicional “choro” em honra de um defunto. Eles batiam os tambores fortemente e a um ritmo estonteante, que no silêncio e quietude da madrugada pareciam estar ali mesmo à beira dos nossos ouvidos. Acompanhando o ritmo dos bombos eles pulavam e dançavam também. “Uivavam”, atiravam-se para o chão, dando cambalhotas, etc., como mais tarde tive ocasião de assistir a um em Bissorã, e na outra Banda.
Não cheguei a saber se eles riam ou choravam, se lamentavam a perda de uma vida ou se davam graças e rejubilavam arreigados a alguma crença ou fiéis ao Deus deles. Nunca os chegaria a compreender. Também foi coisa que não me interessou muito. Mas que o faziam com grande fervor e devoção, lá isso era verdade. Meditei muito sobre os ideais daquela gente e como eles religiosamente os seguiam embora tão humildes e com grande deficit de civilização. Uma coisa a respeitar, tive sempre cá comigo.

E ali estávamos, prostrados no chão, dissimulando os nossos vultos com a vegetação, aguardando tensamente a chegada da hora conveniente para o ataque. O barulho infernal dos tambores não cessava… nunca mais cessaria. Os nervos pareciam ser agora comandados pelas pancadas dos tambores. Pancada mais forte acelera coração.

A hora aproxima-se! Não era uma hora fixada pelo relógio, antes uma altura cruciante do dia, que era logo que a claridade começasse a despontar, isto é, ao “lusco-fusco”.
E pronto, é o momento, decidiram os “Lordes”. As sucessivas interrogações não paravam no meu cérebro e os nervos, esses, eram difíceis de dominar. E os bombos sempre a rufar.

Começámos então a actuar. Fomos dando terreno ao grupo de assalto que, felinamente, se foi introduzindo de forma estratégica no mato. Impressionou-me a rapidez e a destreza nos movimentos daqueles calejados homens. Nós, os da 816, começámos também a formar o semi-círculo, como fora previamente planeado e…, para surpresa minha, quando ainda dispunha os homens da minha Secção, vi o Graça dos “Lordes” juntar-se a nós e para minha perplexidade dizer que já tinham feito o assalto! “Devem estar no choro”, acrescentou ele. Ouve-se um agitar de arbustos e eis que surge o Hipólito que traz na mão uma espingarda “Mauser” (!) e duas rudimentares granadas de mão, armas que o inimigo, inadvertidamente ou não, deixara na casa-de-mato. Pedi ao Furriel Graça que me levasse ao dito refúgio para satisfazer a minha curiosidade ao que ele logo acedeu. Ainda se notavam vestígios de uma recente presença, atendendo a uma pequena fogueira que se dissipava lentamente. O refúgio, apesar de chão de terra, mostrava-se, como sempre verifiquei noutros, bem varrido, asseado, bem ordenado com todos ao apetrechos naturalmente usando arbustos, folhagem de palmeiras, troncos destas e de outras árvores, etc. com boa ordenação. Seria sempre assim e então aquela escola em Iracunda!! Muita disciplina ali.
Pendurado num pau estava um “ronco” – um cordel com um cornicho de um animal qualquer-.
Dentro do cornicho encontravam-se vários papeis cuidadosamente dobrados, e escritos em hieróglifos, (árabe, ou escrita muçulmana, talvez), que se trataria de qualquer oração, prece ou algo relacionado com uma religião, talvez muçulmana, pois algumas etnias na Guiné seguem esta doutrina. Aquilo era de trazer pendurado ao pescoço, como supus. Peguei naquilo e trouxe comigo pois parecia-me tratar-se de um amuleto para quem o usasse.
Embora trouxesse aquilo no bolso do camuflado não vinha muito tranquilo. Sou dos que não acreditam em bruxas, mas…

Voltando à Operação, esta tinha-se saldado por um pequeno fracasso mas, achei que para começar foi melhor assim para os “periquitos” da 816 já que os “Lordes” denunciavam uma grande frustração por o inimigo não aparecer. Estes pareciam que dias sem refrega nem era dia.

Irreflectidamente, nós, os “periquitos” fomo-nos amontoando e em ares de quem foi só ali para assistir a qualquer coisa. Ainda me lembro então do Radiotelegrafista dos “Lordes” que ao ver-nos em grupo vociferou, gritando: “Tomem as vossas posições que vamos ter aqui manga de “chocolate”. Viria mais tarde a saber que ele, com “chocolate” queria dizer tiroteio e que “manga” queria dizer muito. Estes e outros termos em crioulo ou não, foram também por nós adaptados futuramente fazendo parte do nosso vocabulário corriqueiro.

Mas porque é que ia haver muita porrada se não estava ali ninguém, interroguei-me eu?
Tal interrogação ainda não tinha saído da minha mente quando uma rajada inimiga fez-me rebolar pelo chão. Era a resposta de um sentinela. Sim, porque se a nós, “periquitos” nos desse a impressão de total deserção, eles não iam deixar a “casa-de-mato” completamente abandonada assim de barato, como se fez entender um dos “Lordes” que contava sempre com alguma retaliação inimiga. Eis uma outra rajada, outra ainda, até que uma nossa “bazookada” bem apontada, fez calar o matraquear da arma inimiga e se calhar também o seu utilizador. Pus-me de pé e respirei fundo. Sorri um pouco como que para demonstrar alguma descontracção, que era o que tinha menos naquele momento. Mal refeito, o pânico instala-se de novo: Ouve-se “cuidado está um a subir à árvore!”. Deitei-me de imediato atrás de um arbusto, pois foi pró que o meu instinto me deu. Que valeria um simples e pequeno arbusto ante a ameaça de pistolas-metralhadoras? Bom, pelo menos podia servir de abrigo às vistas inimigas.
O alerta tinha sido dado pelo Sargento Tavares da 816, mas, afinal, não se tratava de um terrorista…, era o fumo provocado pelas chamas que envolviam o refúgio ao qual momentos antes os “Lordes” tinham posto fogo. O fumo ao emergir para o espaço infiltrava-se por entre a folhagem da árvore, agitando-a e dando realmente a sensação de que alguém estava a trepá-la. Mais uma exclamação de alívio, e então dirigimo-nos para a tabanca que estava ali próxima e onde acontecia o referido “choro”. Presumivelmente os “turras” do refúgio estavam lá também. Também estavam alertados, por certo, da nossa presença, pois concerteza ouviram o tiroteio instantes antes e junto à sua “casa-de-mato”.
Avançando cautelosamente, como a situação aconselhava, e em fila indiana fomo-nos aproximando da tabanca.
O terreno era agora descampado e por isso dificultávamo-nos a possibilidade de surpresa, pois íamos todos ali vem à vista. A cada metro que avançávamos esperava-se por fogo inimigo, pois este podia muito bem estar já emboscado - pelo menos tiveram tempo para isso - e nós ali a peito descoberto e a formarmos um bom alvo. Não, não houve um único tiro. Encontramos a tabanca também abandonada, recentemente abandonada.

Animais domésticos, como porcos, galinhas, cabritos, etc., deambulavam de um lado para o outro, alvoraçados. E então começava sempre aqui o jogo do gato e do rato. Principalmente os nativos, que nos acompanhavam fazendo parte da nossa tropa, e já se vê por mais necessitados, alheavam-se completamente da guerra, para também, e numa corrida desenfreada, tentarem apanhar este ou aquele animal, que bem jeito lhes fazia. Era uma cena grotesca que dava para rir à farta pois, logo atrás de um animal em fuga surgia o seu perseguidor que era fintado pelos ziguezagues da presa. Ora da esquerda para a direita, ora da direita para a esquerda a coisa ainda demorava o seu tempo e muitas das vezes o animal é que se ficava a rir. Muitas das vezes nem era o perseguidor “oficial” que apanhava o animal, pois bastava este esbarrar nas pernas de um, que este aproveitava logo para, sem qualquer trabalho, ficar com ele. Para tudo se queria sorte…
No regresso, todos os “caçadores” exibiam os seus troféus garbosamente.

E pronto, foi o regressar à base. Estava assim cumprido o programa, que não a jornada. Programa que pouco resultou: refúgio e tabanca próxima e cúmplice arrasadas pelo fogo e o inimigo posto em debandada, e o saldo bélico de uma espingarda “Mauser” e duas granadas de mão.

Foi um caso sério para que a malta se agrupasse e se dispusesse em fila indiana, pois era sempre este o dispositivo de progressão pelo desconhecido mato, já que a malta da 816 estava aos magotes e em jeito de arraial, como aquilo fosse uma festa ou uma feira, mas, com mais grito ou menos grito, as posições foram tomadas, a ordem restabelecida, e a coluna pôs-se então em marcha de regresso a Bissorã. ”Ainda lá ficou um cabrito”!... “e aquele frango que quase o apanhava”!. Frases como estas ou parecidas ouviam-se sempre naquelas circunstâncias, aquando do regresso de uma “visita” ao inimigo.

E pronto, com a arma sobre o ombro, numa posição que expressava alguma fadiga, lá foi andando. Os comentários sobre as diversas peripécias não cessavam: este diz que foi assim; aquele diz que não, foi antes “assado”, etc., etc..

Entretanto os “Lordes” foram-nos avisando que no regresso era de contar com emboscadas ou, no mínimo, flagelações, pois uma vez sendo nós detectados, o inimigo vinha no nosso encalço, exercendo para além do mais, uma represália por aquilo que lhes fizemos ou lhes queríamos fazer. Sempre que tentávamos atacá-los, isto salvo um possível, mas pouco provável, encontro que o acaso poderia proporcionar, teríamo-los sempre à pega, muitas das vezes até às portas do quartel. Portanto, a parte final duma Operação, ou seja o regresso ao aquartelamento, e depois de termos sido detectados no mato, era sempre temerosa. No entanto, e agora que já fiz diversas Operações a “casas-de-mato”, posso dizer que esta a Queré foi uma das raras em que não tivemos qualquer emboscada ou simples flagelação durante o regresso.

Naquele clima de suspense e expectativa, fomos encurtando a distância que nos separava da estrada aonde se encontrariam as viaturas que nos levariam depois até ao quartel, poupando-nos assim o esforço de uma caminhada total. Sempre que possível, as viaturas, devidamente escoltadas, ia-nos buscar até onde o trajecto fosse possível ou conveniente.

Acontecia porém, e o que era normal, e por razões de segurança também, que nós chegávamos primeiro ao local de encontro e com bastante antecedência muitas das vezes, e então aproveitávamos essa altura para repousarmos um pouco de fadiga, quer física quer psicológica. Lia-se bem nos nossos rostos, transtornados e desfigurados, as consequências de uma noite perdida em caminhada através do sinuoso mato, através das por vezes alagadas e cheias de lama, bolanhas. Chegávamos às vezes a atravessar zonas de água que nos cobria quase completamente. O efeito causado por este tipo de Operações era bastante desgastante e isso então era bem visível nos nossos rostos.

Enfim, quase rendidos ao esforço, para ali jazíamos, sempre com o ouvido alerta no roncar das bem-vindas viaturas, que a todo o momento se aguardavam e que muito se ansiavam. E o rufar dos tambores ainda parecia estar nos ouvidos. Nesse tempo de espera tomávamos, no entanto, as devidas cautelas quanto a segurança e assim distribuíamo-nos em leque, pois o inimigo não enjeitaria uma distracção nossa. Mas valha a verdade que nesta altura de ressaca o que queríamos era deitarmo-nos ao comprido e que a guerra fosse pró… outro lado.

E elas aí estavam!!. Primeiro o ruído dos motores, depois as viaturas mesmo aparecendo ao fundo da curva. Subimos para as viaturas e fiquei sentado junto ao Alferes Costa. Ao lado deste a bajuda que nos tinha servido de guia e, logo a seguir, quem havia de estar? O Baião, claro. Havendo mulheres, não era difícil encontrar o Baião. Lá estava ele com o braço por cima do ombro da rapariga com todo o seu ar paternal. A moça continuava com a manta a envolver-lhe o rosto, pois ela adivinhava o que lhe acontecia se os homens de Queré a apanhassem, sabendo do seu cometimento. Pessoalmente e em face das circunstâncias que rodearam e levaram à execução daquela Operação, não dava nada por a vida daquela rapariga, para mais Bissorã estava cheia de bufos e informadores que colaboravam com o inimigo. Sabia-se e sentia-se isso, como com o tempo se foi constatando.

E pronto, eis-nos finalmente a caminho de Bissorã.

Risos de alegria e alívio, comentários piadéticos, chacota com este ou aquele, etc, foi este o quadro durante aquele curto trajecto, pois ao fim e ao cabo tudo tinha corrido mais ou menos bem, não houve qualquer ferido ou acidentado, pois também, verdadeiramente, não chegou a haver um recontro com o inimigo. Isto estaria reservado para mais tarde, e de que maneira, mas, para começar, para nós “periquitos” da 816, talvez fosse melhor assim, o que não deixaria de contrastar com a frustração dos “comandos” dos “Águias Negras”, que, por certo, queriam que aquilo tivesse corrido de maneira bem diferente.

Chegados a Bissorã, tinha-se assim consumado o baptismo da 816, mais propriamente o do meu Grupo de Combate, que, na circunstância, foi o primeiro a “procurar” o inimigo.

Grande parte da população, (o que me causou alguma surpresa) e como sempre acontecia, aguardava-nos à entrada da povoação e, formando alas, partilhavam, pelo menos aparentemente, da nossa alegria e satisfação, mas, muitos daqueles olhares eram olhares que mal disfarçavam o ódio e a decepção por chegarmos em euforia. Viríamos mais tarde a constatar, e, como anteriormente disse, que a maior parte da gente de Bissorã tomava acção, de forma velada, na actividade terrorista. Portanto, convivíamos com uma população indígena, que se nos pudesse fazer mal….

Completamente esgotado, tomei um apetecido duche, recostei-me na cama e deixei-me adormecer. A cerveja fresca, essa, já cá cantava. Quando acordei, a Operação Queré tinha tomado lugar no passado e não era para recordar.
Vamos jogar a bola, que está a chover…
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5610: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (8): O périplo da 816 em dois anos de Guiné - Mansoa