quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata


Guiné > Bula > 1973 > O grupo Os Vingadores, comandado pelo Alf Graduado Marcelino da Mata, no dia em que receberam as Boinas Vermelhas. Na foto, dois militares do BCP 12, o Cap Pára Valente dos Santos (conhecido por Capitão Asterix) e o 1º Cabo Pára Carlos Fernandes (na ponta esquerda). O grupo terá sido fuzilado pelo PAIGC, depois da independência, com excepção de um elemento gravemente ferido, evacuado para Lisboa,  bem como do Marcelino da Mata, que saiu oportunamente da Guiné. A informação é da autoria do Carlos Fernandes.




Guiné > S/l > O 1º Cabo Pára Carlos Fernandes, da CCP 122 / BCP 12 (Bissalanca, 1971/74) > Legenda do autor: "Eu e aminha MG 42"... 



Guiné > S/l > Brasão da CCP 122 / BCP 12... O Carlos Fernandes chegou à Guiné em Novembro de 1971 e saiu em  Agosto de 1974. O Carlos diz ter pena de não ter hoje 20 anos, para poder continuar nos páras, e servir a Pátria no Kosovo ou no Afeganistão.


Fotos : © Carlos Fernandes (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Carlos Fernandes, ex-1º Cabo pára-quedista, CCP 122 / BCP (Bissalanca, BA 12, 1971/74) que passa a partir de hoje a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. 

Com este poste completa-se a sua apresentação e fica registada a sua vontade expressa de se reunir a este grupo, virtual, de antigos combatentes da Guiné (1963/74), unidos por laços de camaradagem e pelo desejo de partilhar memórias desse tempo e desse lugar. Em meu nome, dos demais editores e dos restantes camaradas, desejo-lhe as boas vindas (*):


Data: 19 de Outubro de 2010 15:47
Assunto: Sobre a Ambulância


Boa tarde, amigo Luís Graça


Eu, Fernandes, antes de mais pretendo enviar as maiores saudações, para todos os camaradas de armas neste magnífico blog.

Pretendo e desejo dizer que não é o meu intuito falar mal de quem seja, ou chamar nomes a qualquer pessoa, se bem que por vezes temos essa vontade e também um desejo enorme de dizer algo, que nos vai na alma... Mas foi com total respeito que eu fiz a minha entrada, muito ao de leve, no teu blog e em companhia de bons amigos. Por sinal e não por acaso como dizem na gíria ser por acaso porque não existe,  mas sim caso ou casualidade, que já obti notícias de ex-colegas do mesmo pelotão e da mesma companhia da Guiné. Magnífico!...

Luis Graça,  o que de momento me leva a enviar estas palavras  é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira. Eu estive nessa operação, eu e o Capitão Asterix (que não era o Ramos, mas sim o Valente dos Santos). 

Nessa altura,  ou seja entre fins de 1973 a Agosto de 74, quem fez parte do COE, foram o Major Veiga da Fonseca,  do Exército,  já falecido,  e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos [, vd. foto acima]. Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.


Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto [, à esquerda], fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo,  os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda,  andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro,  do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança,  a esse Alferes. 

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e,  na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas. 



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Ambulância, de origem russa, capturada ao PAIGC em Copá, Fevereiro de 1974. 



Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar,  depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.

No dia seguinte à captura da Ambulância, tivemos um forte contacto,  muito bem cedo. Era um forte grupo, isto dito pelo Marcelino,  para cima de 100 guerrilheiros do PAIGC e com elementos Cubanos a comandar. Neste contacto foram feitos vários feridos e creio que também houve mortos pelo nosso lado, do lado do pessoal do Exército da coluna, que era para seguir para Copá. Essa coluna  não foi levada para diante. O grupo de guerrilheiros tinha estado de noite a enviar fogo para Copá.

O Capitão Valente dos Santos pediu apoio aéreo dos Fiat e a Ambulância foi levada depois para Bajocunda e também com um grupo de Milícias a dar proteção à restante coluna.

Pois eu até levei um louvor nessa operação, bem como depois levei outro louvor, já na operação Bétula, em Março de 74 na zona de Jumbembem [ou Jemberém ?], perto de Cacine, que deu a origem a uma cruz de guerra de 4ª classe, proposta pelo Marcelino da Mata.

Nesta operação foi para dar apoio moral e também dizer ao IN que seria possível os travar nas intenções deles se bem que,  no quartel de Jumbembem, estaria não uma Companhia, mas sim um Batalhão,  perto de mil e tal homens, mas não tinha ordens de fazer fogo pela assinatura do Governador da Guiné. 



Ao Grupo do Marcelino da Mata coube dar apoio ao pessoal,  em conjunto com os Fuzileiros Negros de Cacine, creio que era o Destacamento 2 comandada por um Tenente branco Fuza. Eu aí conheci o Látas, bem como o Guiné, Fuzileiros Especiais, que foram guardas-costas de um Comandante dos Fuzas, que não me recorda agora o nome dele.


Esta operação de facto teve o nome de Bétula, feita no mês de Março e iniciou-se de noite, com a saída de Cacine antes da meia noite, em botes da Marinha. Andámos rio acima, rio abaixo, tudo por culpa do Oficial da Marinha, que não soube dar com a entrada no local, fomos colocados já de manhã cedo, era dia e ao iniciarmos a entrada no tarrafo, que era lama, levámos uma emboscada de todo o tamanho, pois que o IN teve a possibilidade de fazer valas de noite, à nossa espera.

Nesta operação foi morto um chefe de grupo do IN, que tinha uma Kalash Especial, com um tambor de 40 munições,  que só os chefes de grupo é que as usavam, como aconteceu em Moçambique com as Armlites,  a menina R10 de alça. Os números do grupo apontados pelo Marcelino eram da ordem dos 80 elementos. A minha posição era (e sempre foi) a 3ª . O 1º era um elemento do grupo com a Kalash,  em 2º o Marcelino [, foto ao lado], eu em 3º e o Capitão Valente dos Santos em 4ª posição. Eu fui guarda-costas do Valente dos Santos, era a minha função no grupo.


Tivemos metade do grupo ferido e foi nesta operação que o Marcelino foi ferido com uma bala nas costas e onde um elemento levou uma rajada nos joelhos, sendo mais tarde evacuado para Lisboa.

Quanto aos restantes elementos do grupo,  tirando o Chefe e mais este da rajada,  todos eles foram fuzilados pelo IN, depois da Independência da Guiné.






Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCP 122 / BCP 12 > 2 de Abril de 1972 > O 1º Cabo Pára-quedista Carlos Fernandes, apontador de MG 42, fotografado com um casal feito prisioneiro: em primeiro plano, a criança,  do sexo feminino, filha do casal, completamente nua, levada pela mão do Carlos... A foto foi tirada pelo enfermeiro  do pelotão, o Serra.



Quanto à operação da foto de início, que deu origem à minha entrada na Tabanca Grande (*) pretendo dizer que foi na zona da Aldeia Formosa, em que diziam que o Nino estaria por aqueles lado. Antes de sairmos para a dita operação ou para o mato, foi-nos comunicado pelo héli-canhão, que fazia reconhecimento das zonas. Fizemos um Héli-Assalto, que deu com as três figuras meios escondidas [, um homem, uma mulher e uma criança, do sexo feminino]. 

O Comandante Araújo e Sá estava na Aldeia [ Formosa] e foi pedido voluntários das armas pessadas, para irem buscar  o casal, mais a miúda nua (que estava com muito medo devido às munições do héli, que eram de ponta vermelha incendiárias).

Quanto ao fotógrafo,  foi o Enfermeiro do pelotão,  o Serra, camarada de quem perdi o rastro. Não sei nada dele, desde a minha saída da Guiné, já tentei saber o paradeiro dele mas até agora não o consegui encontrar.

Já agora digo que conheço o [Sargento] Mor Rebocho. Foi por ele que eu apanhei a minha 1ª porrada na tropa. Se eu fosse mulher não me perdia de amores por ele. Isto ao fim de 3 anos... E depois daí apanhei mais 3, que no total foram 4 porradas.  A 3ª tinha eu 8 dias de Guiné e foi em Teixeira Pinto.

Haveria mais coisas para contar, mas fica para uma outra altura e já agora me deixa dizer, eu não fui herói, mas sim fui um Combatente. Fui bem treinado no ano de 1968 e tenho pena,  na data presente de 2010, não ter 20 anos, para poder ir até ao Kosovo ou ao Afeganistão.


Envio um forte abraço muito amigo para ti,  Luis,  e para todos os Camaradas de armas,  sejam eles quais forem. Um bem haja a todos.

Carlos Fernandes

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)


(**) Vd. poste de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas

1. Mensagem de José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás mais uma história simples sobre as minhas andanças por terras manjacas. Deixo à apreciação dos nossos camaradas os choques de vivências diferentes e os preçários então praticados em terras manjacas.

Para ti, para todos os camaradas e vossos familiares um grande haja saúde.
Um abraço amigo,
José Câmara


Memórias e histórias minhas (22)

Aventuras em terras manjacas

Na Mata dos Madeiros éramos, constantemente, surpreendidos com situações muito diversas. Resolvê-las era, em muitos casos, um problema que dependia mais da capacidade humana de cada um, sem esquecer o lado militar.
A incompreensão na solução das situações que nos surgiam, poderia levar a uma situação de rotura do elo de ligação entre comandos e comandados, o elo de respeito humano.

Numa das minhas saídas para a mata, fui surpreendido com um pedido formulado pelos militares da minha Secção. Queriam, pediram eles, aproveitar a nossa próxima folga de serviço para irmos a Teixeira Pinto. Bem me apercebi das suas intenções!

Bajuda Manjaca (Edição da Confeitaria Império - Bissau)

A minha reacção imediata foi negativa. Ainda tinha bem presente a emboscada feita aos Comandos, os tiros disparados pelo Fur Mil André Fernandes sobre algo suspeito, não identificado, que pressentira quando acabara de emboscar para a noite, as duas morteiradas que caíram para os lados do Balenguerez tentando localizar as nossas forças, através de uma possível resposta destas e a prisão de dois homens na mata e que acabámos por deixar ir.

Confesso que também não sentia nenhum à-vontade em fazer a deslocação para Teixeira Pinto, sobretudo o troço até ao Bachile. O perigo entre este quartel e a Ponte Alferes Nunes era menor. Para além disso, também levei em conta o facto de nunca termos estado em Teixeira Pinto, nem termos tido qualquer contacto com as populações manjacas, para além daquele que tínhamos com alguns dos capinadores, sobretudo os jovens, que nos acompanhavam no acampamento.

Notei o desânimo estampado na cara daqueles moços, tão jovens quanto eu, ao receberem o meu não imediato. Não falámos mais no assunto, mas não deixei de pensar nele. Quanto mais pensava na minha reacção menos à-vontade me sentia.

Na manhã seguinte, de regresso ao acampamento, fui ter com o nosso Cap Mil Rogério Alves, a quem coloquei o assunto. Tal como eu, a sua recusa foi imediata e pelas mesmas dúvidas que me tinham assaltado. Acrescentou o facto de, em caso de ataque, o acampamento ficar com menos uma Secção na defesa.

Para a sua última dúvida em não podia ter resposta. Já a nossa segurança no percurso até à ponte Alferes Nunes poderia ser garantida com algum atraso na escolta da tarde ao Bachile. Na manhã seguinte, a minha Secção também não chegaria a tempo de ir para a mata, mas poderia apanhar a primeira escolta do dia ao Bachile.

O capitão lá foi acrescentando que o pessoal estava farto de ração de combate, bacalhau com grão, dobrada desidratada com feijão, entre outros, que me autorizava a ir a Teixeira Pinto, mas que eu teria que trazer carne fresca e que me responsabilizava pelo comportamento da Secção.

Há muito aprendera que, nas nossas circunstâncias, a única certeza que tínhamos era a incerteza. Por isso, guardei segredo até momentos antes de acabarmos os nossos deveres do dia. Que, diga-se, acabaram logo ali...

Havia que preparar o atavio para a saída. Camuflado a preceito, botas engraxadas, brilhantina e água de cheiro bem carregadinhas, tudo em nome das pu(r)as donzelas de Teixeira Pinto.

Já nesta vila, dei-lhes conta da promessa que fizera ao Capitão. Todos compreenderam o que estava em jogo. Nenhum perguntou, nem era necessário, o que me fizera mudar de opinião. Pediram-me que os acompanhasse... só para o jantar. Fi-lo com gosto!

Passeio açorianíssimo em Teixeira Pinto: José Câmara e o Chaves (St. Maria) da CCaç 2791


Sobre este assunto, foi assim que escrevi à minha madrinha de guerra.

Mata dos Madeiros, 11 de Maio de 1971
Ontem... Ao chegar de outra operação tinha 2 cartas para mim: uma tua e outra de meus tios. Em boa verdade, até dispensei a minha Secção por um quarto de hora para as ler. Sabes que horas eram?! Nada mais nada menos que cinco horas da manhã e as cartas foram lidas à luz dos faróis da viatura que ía sair comigo.


Isto é assim: chegámos do mato e não se pára, o trabalho continua. Só vim a descansar a partir das duas da tarde e fui a Teixeira Pinto com os meus rapazes, tendo regressado há pouco.

O passeio foi agradável. Umas voltas por lá com um bom bife à noite (tirei a barriga da miséria) e fui ao cinema. O pior seria à noite na cama. Todas as vezes que me mexia acordava. Ela era tão mole que me dava vontade de dormir no chão. Só para não perder o hábito!

De manhã, logo pelas 6 horas, fomos à procura de vacas, porcos, cabritos e galinhas. Nunca tinha ido e acredita que já tive muitos problemas e horas de boa disposição. Mas, as duas ao mesmo tempo não acontecem muitas vezes.
Fomos até a uma tabanca e os soldados que estavam comigo iam entrando nas casas. Nos quartos das casas estavam os cabritos, os porcos e tudo o mais, que nem parece deste século.

Toda aquela bicharada punha-se a fugir quando entrávamos e cheguei a pensar que estavam ensinados nesse sentido. Para apanhar duas vacas levámos quase uma hora e meia. Uma pesava 90 kgs e a outra 110 kgs. Paguei pela primeira 630$00 e pela segunda 770$00. Pagámos 7$00 por kilo. Também apanhámos um porco que custou 70$00, um cabrito pelo mesmo preço e uma galinha que custou 12$50.
Imagina a festa que é ver 11 homens a correr atrás de uma vaca, de uma galinha, ou os mergulhos às pernas dos animais.

O pior viria a seguir. Quando estávamos para vir embora começaram a tocar batuque e e a dançar, numa última despedida às suas vacas. Tive pena daquela pobre gente. É que eles guardam e estimam os animais.

A reacção daquelas gentes fez-me lembrar as famílias açorianas quando embarcavam os seus animais com destino ao mercado continental. Ficava sempre a tristeza de ver partir os bichinhos que, durante mais ou menos anos, tinham feito parte das suas vidas. Porém, compreendia-se que esses animais iriam cumprir a missão para que tinham sido criados e sustentados: ajudar, financeiramente, o agregado familiar.

Em Teixeira Pinto fomos encontrar realidades bem diferentes, sobretudo as de crença religiosa.

Os manjacos professavam o animismo, acreditavam no IRÃ e abominavam o roubo. Por isso mesmo, a sua cooperação foi, na prática, nula. Daí o termos entrado nas suas moradias à procura dos animais. Não acredito que o fizemos por sermos mais fortes, mas porque a necessidade se impunha. Tanto assim é que, quando se negaram a dar um preço pelos animais, nós levámos estes e seus donos à Administração Civil. Foi aqui que os animais foram avaliados e pagos.

Ao regressar à Mata dos Madeiros, mal sabia que voltaria a viver situações semelhantes num futuro relativamente próximo. Mas com a lição aprendida! Passei a contactar o chefe da tabanca para ajudar no processo.

José Câmara
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7059: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (21): Um abraço de paz na Mata dos Madeiros

Guiné 63/74 - P7148: Memória dos lugares (102): Gadamael Porto e o enigma da sigla ou acrónimo A. S. C. O. num dos seus edifícios abandonados (Luís Graça / Pepito / Manuel Reis)

 Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Detalhe (foto nº 1) de um edifício abandonado (Foto nº2), possivelmente dos anos 30/40 do Séc. XX > "Antiga messe de oficiais e depois hospital", escreve o Pepito, na legenda...

Surpreendentes são, para mim, editor (que nunca estive neste local), a sigla ou acrónimo A.S.C.O. que encima a parte superior da parede lateral do edifício, com as letras ainda perfeitamente legíveis e bem conservadas, contrariamente ao resto do edifício, em ruínas... Tudo indica que essas letras tenham sido fixadas na parede em data posterior à construção do edifício (*)... (LG)



Foto:  © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem enviada ao Pepito, com conhecimento a diversos camaradas que podem dar uma ajuda no esclarecimento do assunto, por uma razão ou outra (conhecem ou conheceram bem a Guiné: caso do Pepito, do Mário Dias e do António Estácio Estácio; ou estiveram em Gadamael, no calor da batalha, entre finais de Maio e meados de Julho de 1973: caso do João Seabra, do Manuel Reis e do J. Casimiro Carvalho, três Piratas de Guileje, entre outros).


Pepito, António Estácio, Mário Dias:

Estou intrigado com a sigla ou acrónimo A.S.C.O. , existente na parede lateral de um edifício de Gadamael Porto... A foto foi o Pepito que ma mandou. Já a publicámos no blogue (*)... Na legenda, o Pepito diz: "Antiga messe de oficias e depois hospital" (sic)...

Inicialmente pensei numa casa comercial... Mas troquei os nomes: NOLASCO em vez de NOSOCO... Agora inclino-me para
ASCO - The American Society of Clinical Oncology... Será que os americanos tiveram lá, depois da independência, uma pequena clínica, ligada à investigação sobre o cancro ? É pouco provável, mas mesmo assim é uma hipótese a ponderar... Mas há também empresas industriais que incluem, na sua denominação, a palavra ou o acrónimo ASCO... Não fiz uma pesquisa exaustiva na Net...

Amigos e camaradas: têm alguma ideia do que seja (ou possa ter sido) ? Será alguma empresa comercial da época colonial ? Ou associação ou ONG sediada aqui no pós-independência ? Que utilizações terá tido este edifício antes e depois da guerra ? Mesmo de Gadamael, pré-Guileje (ou seja antes da batalha de Maio/Junho de 1973), sabemos muito pouco... Há muitas perguntas que ficam no ar: qual terá sido a função inicial do edifício ? Casa de habitação civil, não me parece... Edifício administrativo, entreposto comercial, armazém, loja ?  De que época será a sua construção ? Pela traça,  não me parece ser um produto típico da nossa arquitectura colonial, pelo menos como aquela que eu conheci no leste...


É bom não esquecer que a região de Cacine, no usl,  foi dada, pelos franceses, aos portugueses em troca de Casamansa, no norte, em finais do Séc. XIX , na sequência da Conferência de Berlim e como resultado da convenção franco-portuguesa de 1886 que levou à rectificação das fronteiras dos  actuais países independes da África ocidental, então colónias disputadas pela França (Senegal e Guiné-Conacri) e Portugal (Guiné-Bissau).

É também bom lembrar que nesta região operaram diversas empresas comerciais, nomeadamente de capital francês, como a Companhia Francesa da África Ocidental (CFAO), a Sociedade Comercial do Oeste Africano (SCOA) (onde trabalhou o Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC, e o Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, membro da nossa Tabanca Grande), a Nova Sociedade Comercial (NOSOCO) (de que foram empregados o nosso Mário Dias e o Armando Duarte Lopes, velha glória do futebol africano, pai do nosso Nelson Herbert, mas também o João Rosa, outro dos co-fundadores do PAIGC)...  Estas são algumas de que me recordo, e que estão ligadas à história da Guiné-Bissau (para além da Ultramarina, da Casa Gouveia, etc., de capitais portugueses)...

Obrigado pela vossa ajuda no esclarecimento do "enigma". Um abração. Luís

PS - Em anexo, seguia o detalhe da foto em questão (reproduzida em cima)... Temos já uma resposta do António Estácio, a reproduzir oportunamente. Publica-se também um excerto do comentário (*) do Manuel Reis, que foi Alf Mil da CCAV 8350, e que conheceu bem o inferno de Gadamael, depois da retirada de Guileje, em 22 de Maio de 1973. (**)

2. Comentário do Manuel Reis (*):

(...) Estive lá [, em Gadamael,] em full time de 22 de Maio a 18 de Julho de 1973, período crítico da guerra, e apenas consegui ver [, na foto, ] a enfermaria e uma vala, ainda visível.

Essa vala ficou gravada na minha memória como o abrigo povidencial que partilhei com outro camarada, no dia 2 de Junho, quando o Comandante-Chefe Spínola decidiu aterrar a 20 metros do edifício, perante a correria desenfreada do Coronel Durão e dos gritos desesperados do meu companheiro de ocasião. (...)


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7142: (In)citações (12): Gadamael Porto, saúda-vos! (Pepito)
(**) Último poste desta série, Memória dos lugares > 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6942: Memória dos lugares (89): Bolama, a antiga capital colonial, um património em ruínas (Patrício Ribeiro)

Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)

1. Mensagem de Augusto José Saraiva Vilaça (ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), com data de 10 de Outubro de 2010:

Olá, Luís.

Não sei quem és, mas só por seres ex-combatente na Guiné já diz tudo.
Também lá estive e gostava de fazer parte da tua espectacular exposição. Todos não seremos muitos, mais um será positivo.

Diz-me só o que devo fazer para contribuir para essa nobre página que abriste e colaborarei com fotos e acontecimentos pois sou DFA.

Quem me informou foi o nosso camarada Pimentel. É que só agora optei por ter um computador para me entreter.

Abraço, Luís. Bem hajas.


2. Segunda mensagem de Augusto Vilaça com data de 17 de Outubro de 2010:

Meu caro companheiro, tenho muito gosto em poder participar no historial daqueles que estiveram na Guiné.

Aqui vai resumidamente essa passagem:

Sou: Augusto José Saraiva Vilaça, 66 anos, natural do Porto.
Entrei para a vida militar em 10 de janeiro 1966 para o CISMI - Curso Instrução Sargentos Milicianos Infantaria.

Em Abril, por escolha minha, optando por artilharia, fui tirar a especialidade na EPA - Escola Pratica Artilharia.

Fui destacado para a Guiné, e em 8 Abril 1967 embarquei no Uíge chegando a Bissau em 14 Abril 1967.

Começou aqui a minha história do Ultramar. O nosso capitão Veiga da Fonseca chamou os furriéis, sargentos e oficiais para dar uma lição de ética e de patriotismo.

Saídos de noite do Uige para uma barcaça... sem qualquer tipo de armamento. A meio da noite a barcaça parou devido à bolanha não ter condições para prosseguir! Que ansiedade no meio daquela escuridão toda.

Recomeçámos o andamento até que aportámos em Gadamael. Daí, a Companhia foi dividida, isto é, metade para o aquartelamento, Sangonhá, metade para o acampamento, Cacoca. Isto funcionou como uma adaptação ao terreno. Apanhei o primeiro susto aqui, em Cacoca quando um informador foi dizer ao oficial destacado que se previa uma invasão de turras nessa noite!!! Ficamos todos a tremer e há que tomar posições. Os vigias, de quando em vez, disparavam um tiro de G3 ao ouvirem um ruído no mato!! Isto durante toda a noite.

Clareou. Exaustos, sem saber o que se tinha passado...

O general Schultz, na altura, envia uma mensagem ao nosso capitão com ordem para transferir a Companhia para Cacine, aquartelamento, e Cameconde, destacamento. Calhou-me Cacine.

As primeiras saídas do aquartelamento foram inesquecíveis dado que, aqui nesta zona, havia fortes probabilidades de ataques dos turras.

No próprio dia da chegada a Cacine, ainda não tínhamos tomado conhecimento fisico do quartel quando começaram a "chover" os primeiros rockets... Oh minha mãe, que confusão, que "medo", só os rebentamentos eram temerários. Consegui chegar ao meu abrigo e aí comecei a ripostar com morteiro 120. Passados 10 longos minutos, os turras pararam.

Os principais receios eram: a picada do aquartelamento, em coluna, com segurança de Daimlers para o destacamento e volta; o ir buscar água; as flagelações; as picadas no mato; as emboscadas, etc., etc.

O meu baptismo de fogo real, frente a frente,  foi numa emboscada que montámos no famoso corredor da morte em Guileje. Foi "espectacular" a troca de tiros, os rockets.

A minha secção de morteiro mandou algumas "bojardas". O nosso capitão abriu o fogo. Fizemos 4 mortes e recuperámos armas, bazucas e munições. Fizemos "ronco". Fomos aplaudidos em Guileje pelos companheiros que lá estavam.

Muitos soldados, mal chegaram a Guileje, tiveram de mudar de fardamento pois não aguentaram a pressão e ansiedade vividos após a montagem da emboscada até à passagem dos turras.

Infelizmente fui evacuado, em Fevereiro 1968 para o Hospital Militar de Bissau. Fiz os exames normais e foi-me detectada uma úlcera no estômago tendo regressado a Lisboa num Skymaster da Força Aérea.
Esta enfermidade foi devida ao desgaste, não só emocional como também ao desgaste físico. Podeis ver a foto que envio tirada em Sangonhá.

Só um elogio a um Homem que soube comandar disciplinarmente e ao mesmo tempo amigavelmente uma Companhia. Esse Homem foi o nosso capitão VEIGA DA FONSECA.




2. Comentário de CV

Caro Vilaça, bem-vindo à Tabanca.
Pela tua apresentação verificamos que estiveste na Guiné menos de um ano por motivos de doença. Como se costuma dizer, há males que vêm por bem. Esperamos que não tenham ficado sequelas para o resto da vida.

Apesar da tua saída airosa, antes do tempo regulamentar, não te dispensamos da obrigação de nos contares as tuas recordações daqueles meses de luta e privações de toda a ordem.

Se tiveres fotos que julgavas que jamais veriam a luz do dia, manda-as para nós que serão publicadas como novas.

Não nos dizes qual foi a tua Unidade, mas pelas minhas pesquisas pertenceste à CART 1692/BART 1914. No teu próximo contacto esperamos a confirmação.

Na quase certeza de teres pertencido ao BART 1914, deves ter conhecido na tua Companhia o então Alferes António José Pereira da Costa, actualmente Coronel Reformado, nosso tertuliano.

Para saberes como somos e o que queremos com este trabalho, lê o lado esquerdo da nossa página. Podes pesquisar no Blogue utilizando os marcadores disponíveis por locais, autores, Unidades, assuntos, séries, etc. Tens um manancial de informação disponível à tua disposição.

Quero enviar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.


O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7085: Tabanca Grande (247): Alberto José dos Santos Antunes, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2402 (Olossato) e CCAÇ 5 (Canjadude) (1970/72)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7146: Historiografia da presença portuguesa em África (40): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte IV) (Carlos Cordeiro)
















Lisboa > Câmara dos Deputados > Excertos de duas Intervenções do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné, em 1914, na sessão de 14 de Janeiro e depois em   14 de Maio ...).

 Fonte:  Debates Parlamentares > 1ªRepública (1911-1926) > Câmara dos Deputados > Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República > Assembleia da República (2010) (Com a devida vénia...)


1. Continuação da publicação de excertos de intervenções do deputado António Silva Gouveia, empresário, fundador dsa Casa Gouveia, representante da Guiné na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1911-1915 (*).   Pesquisa de  Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca Grande, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, Região Autónoma dos Açores  (foto à esquerda).

No caso destas intervenções do deputado Silva Gouveia (*), em 1914, elas incidem sobre dois temas específicos da actualidade de então:

(i) Em de 11 de Dezembro de 1913, na região do Cacheu, o "administrador da circunscrição da Guiné", ao proceder ao recenseamento (arrolamento) da população local para efeitos de cobrança do "imposto de palhota" (sic), é morto, juntamente com um negociante local que o acompanhava, bem como a tripulação do escaler a vapor em que o representante da autoridades portuguesas se tinha deslocado. Chegada a notícia a Bolama, capital da colónia, o governador [, José António de Andrade Sequeira,] decidiu levar a cabo uma acção punitiva contra os felupes (presume-se)... Foi organizada uma força de "48 praças regulares e 350 auxiliares" (sic). Não sabemos o número de vítimas entre a população civil, mas do lado das forças coloniais houve 7 mortos e cerca de 3 dezenas de feridos... Os mortos eram todos soldados do recrutamento local. E é sobre as indemnizações a apagar às respectivas famílias que se centra a primeira intervenção do nosso deputado...

(ii) A segunda intervenção do deputado é um pedido de esclarecimento ao Ministro das Colónias sobre o imposto local, "ad valorem", lançado sobre as exportações da mancarra da Guiné...  Silva Gouveia fala em seu nome, como comerciante (já então com negócios com a CUF, a quem irá vender a sua empresa, c. 1927) e em nome de uma "comissão de negociantes" da Guiné...

Ficamos a saber que nessa altura já se cultivava a mancarra e que em 1913 as oleaginosas tinham baixado substancialmente de preço nos mercados internacionais, de tal maneira que o negociante pagava de imposto "ad valorem" 46$00 por tonelada na Guiné e em Lisboa não a conseguia vender por mais de 26$00...

O deputado levanta igualmente o problema da qualidade do produto: cerca de 15% da mancarra que era exportada continha impurezas, desacreditando a exportações da Guiné e lesando os interesses dos negociantes...
É de recordar que, com a abolição do comércio de escravos, em 1815, passa a haver, progressivamente,  um maior desenvolvimento do comércio dos produtos locais, o óleo de palma, o coconote, o amendoím, desde meados do Séc. XIX) e depois a borracha (desde 1890).  Em rigor, a mancarra era o único produto de cultura, os outros eram de simples colheita ou recolha. Eram estes praticamente os únicos produtos que a Guiné exportava, em troca da importação de tecidos, álcool e pouco mais...

Os principais negociantes, no terreno, eram os franceses (CFAO- Companhia Francesa da África Ocidental,  com sede em Marselha) e os alemães (Rudolf Titzck & Ca, com sede em Hamburgo).
A única empresa portuguesa implantada no terreno  era então a do António Silva Gouveia, o fundador da Casa Gouveia e deputado na 1ª legislatura da Câmara dos Deputados (1911-1915). O amendoím e a borracha iam preferencialmente para França. A borracha para a Alemanha.  Menos de 1/5 das exportações, no ínicio do Séc. XX, até às vésperas da I Guerra Mundial, tinham como destino Portugal...

De qualquer modo, é justo referir que a 1ª República se interessou pelo potencial económico que representavam as colónias portuguesas em África. Com Norton de Natos (1867-1955), Angola vai tornar-ser a "jóia da coroa" da República (**)...

A Guiné ainda vai passar por sucessivas guerras de "pacificação" até 1936, em que se destaca, entre 1912 e 1915,  a figura do Capitão Diabo, o "herói do Oio", João Teixeira Pinto (efígie em selo de 1946,  imagem à esquerda; como se sabe, Teixeira Pinto, angolano, de origem transmontana, irá morrer em 1917 no norte de Moçambique na luta contra os alemães).

A partir de 1927, a CUF, através da sua filial, Casa Gouveia, passa a ter o monopólio, de facto, do comércio externo da Guiné. Um novo regime alfandegário, agravado em 1932, vem penalizar as trocas comerciais da Guiné com outros países que não fossem Portugal... E é já no início da década de 1960 que aparece, no nosso mercado, o Óleo Fula (à revelia dos pobres fulas...), marca registada da Sovena ligada ao Grupo CUF... (LG)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa em África  (39): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte III) (Carlos Cordeiro)



(**) Exposição a não perder, todos os dias, das 10h00 às 18h00, até 1 de Dezembro de 2010, na Cordoaria Nacional, em Lisboa:  Viva a República, 1910-2010

Guiné 63/74 - P7145: Parabéns a você (165): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872 (Juvenal Amado / Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ
CARLOS FILIPE COELHO

1. Neste dia 19 de Outubro de 2010, estamos a celebrar a vida, a força nos mantém nesta dimensão terrestre que vale pelo amor, amizade, fraternidade, partilha de emoções, aquilo que não sendo material é essencial à humanidade.

O nosso camarada e amigo Carlos Filipe Coelho (ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), não vai defraudar quem tem por ele estima e admiração. Vamos todos torcer para que aquela brincadeira habitual dos dias de aniversário, chegar aos 100, se aplique a ele.

Caro Carlos, a tertúlia, por intermédio dos editores, está aqui a dar o seu testemunho de solidariedade e a desejar-te uma vida longa, feliz e com a melhor saúde possível, sempre rodeado dos teus familiares e amigos próximos.





2. Neste dia de aniversário, o teu particular amigo Juvenal Amado quis deixar-te as palavras que se seguem:

Meu caro Carlos Filipe
Longo caminho cheio de curvas e obstáculos desde aquela madrugada de Dezembro.
O rio naquela madrugada cinzenta levou-nos, mas não lavou as nossas mágoas.

Mal nos conhecíamos quando foste evacuado, 38 anos depois encontramo-nos aqui neste espaço e é um prazer que renovo a cada email, cada telefonema.

Não é fácil o teu percurso, mas aí tens demonstrado uma força e uma coragem que denúncia de que fibra és feito.

Nunca baixaste os braços, encaras a vida de frente, pegas a desgraça pelos cornos e isso não é para todos acredita.

Só tínhamos a Guiné (Galomaro) em comum, mas hoje temos uma amizade construída de conhecimento e respeito mútuo.

Meu caro, recebe um abraço deste teu amigo que te admira, deseja muitos anos de vida se não com muita saúde, com a que for possível, e muita força para levares a tua luta para a frente.

Parabéns
Juvenal Amado

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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3539: Tabanca Grande (100): Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro 1971/74
e
19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5130: Parabéns a você (36): Carlos Filipe Coelho da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74 (Editores)

Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7114: Parabéns a você (164): Jovem tertuliana Cátia Félix (Miguel Pessoa / Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7144: Contraponto (Alberto Branquinho) (16): Assinatura ilegível

1. Mensagem de Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 17 de Outubro de 2010:

Caro Carlos Vinhal
Estou a reenviar um texto que te é dirigido e que caiu na minha caixa de correio...
Pensei várias vezes se deveria enviá-lo para o blogue ou não.
Sinceramente, se entenderes que pode vir a ferir alguém devido ao tipo de escrita e à ortografia (apesar do P.S. que vai no final), NÃO PUBLIQUES.

Um abraço
Alberto Branquinho



CONTRAPONTO (16)

ASSINATURA ILEGÍVEL

Senhor Carlos Binhal
Eu era o soldado básico que tratava das cóisas dos ufissiais da nossa Cumpanhia.

Vossemessê num creia em tudo o qum ufissial da nossa Cumpanhia escrébe prái. Ele num é de cunfiar de tudo. Naõ era má pessua, mas ai faz muntas inbenções. Olhe que rasgaba o musquiteiro de raiba à noute e despois dezia quera eu. Andaba sempre a précurar pelas cuecas que faltabam as cuécas que faltabam as cuécas que faltabam as cuécas. Inté tinha alguma razão porqueu um dia puchei o pano pra baicho à labadeira e a gaija tinha umas cuécas dele bestidas. Embora tibesse alguma razõm às bêses ele num é de cunfiar de todo. Sou eu que o está a abisar. Sabe lá cuantas beses eu tibe capanhar os cacos das cerbeijas quêle partia contrá parede do quarto. Dábamle aquelas ráibas e despois desia que lhe faltabam os cumpremidos pra durmir que lhe roubavam os compremidos pra durmir. Cal comprimidos pra durmir aquilo era prá doudice. Gastábaos êle e num fazia contas a eles.

Mas olhe cus outros ufissiais tamém não eram milhores. Eram cuase todos das ilhas. Esses nunca os bi aí do seu computador.
Um um dia disse que cando chegasse da operação queria um copo de leite cum milho. Sabe lá vossemessê o queu passei prá arranjar o milho no quartel e quêle ficasse molinho pra pôr dentro do leite. Despois chateou-se comigo cu quêle queria era o leite com um pó castanho que tinha dentro duma lata chamada MILO.
Outro tinha à cabeceira futugrafias da namurada ou da mulher ou lá o que era e cando eu entrava era de arrecuas porquêle se chateava se eu olhasse prás futugrafias.
O outro deles às bêses berrava comigo e quando eu lhe précuraba alguma coisa ou falaba cum ele nem oubia passaba o tempo a olhar pró chão ápertar o cinto dos calções a dezapertar o cinto dos calções e só desia carássas carássas carássas.
Talbez estibessem apanhados du clima mas eu é que num tinha culpa nenhuma disso.
O que me balia era o nosso capitão quéra munto bôa pessôa.

Nunca fui pró mato mas sabe deus o queu passei por causa deles.

Com muntos comprimentos pra vossemessê e para toda a sua família mas num creia em tudo o que esse ufissial escrebe prài porque é quase tudo inbenções.
Assinasse este que num manda as futugrafias que vossemessê pede sempre queu num quero quê-les saibam.

(assinatura ilegível)

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Alberto Branquinho

(P.S. – Não se entenda o texto acima como sendo de menos consideração pelo soldado “imaginado” ou pela “sua” escrita. É só um ensaio para fazer um retrato).
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7065: Contraponto (Alberto Branquinho) (15): Chegada à Guiné (Planeta África)

Guiné 63/74 - P7143: Notas de leitura (159): Descolonização Portuguesa - O Regresso das Caravelas, de João Paulo Guerra (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
A obra do João Paulo Guerra abarca os três teatros de operações, centro-me, de acordo com a lógica do nosso blogue, no que mais importa para a compreensão dos efeitos da descolonização da Guiné.
É só um esclarecimento prévio, a descolonização é muito mais sofrimento do que aquele que irá ser vivido sobretudo pelos soldados guineenses que combateram à sombra da bandeira portuguesa.

Um abraço do
Mário


Descolonização Portuguesa - O regresso das caravelas, por João Paulo Guerra (1)

Beja Santos

“Descolonização Portuguesa – O Regresso das Caravelas”, é um relato sequencial do antes, durante e imediatamente após a descolonização. Tem notas introdutórias, de acordo com a cronologia, e alguns dos seus protagonistas mais directos tomam a palavra de acordo com o que viram e experimentaram, ouvimo-los em discurso directo, de acordo com a estrutura pré-estabelecida pelo autor. O resultado é muito lisonjeiro: ficamos com acesso a um balanço do que mais significativo ocorreu dentro das crónicas da descolonização (por João Paulo Guerra, Oficina do Livro, 2009).

A descolonização foi um processo tumultuoso e tão polémico que não se prevê a prazo uma forma de a compreender em termos consensuais, procuram-se responsáveis para as medidas tomadas na política de descolonização e no regresso de, pelo menos, meio milhão de portugueses. O que João Paulo Guerra nos oferece é um quadro alusivo à ascensão de muitos Estados à independência, entre 1955 e 1962 e a evolução da política portuguesa durante esse período. Salazar recusou negociações com os movimentos de libertação, não cedeu a quaisquer propostas apresentadas pelos seus aliados ocidentais. Se nos primeiros anos, a partir de 1961, a guerra não foi alvo de contestação no interior das Forças Armadas, irá passar a ser encarada com muita responsabilidade política e sem solução militar, vista essencialmente no teatro de operações da Guiné. Carlos Fabião, seguramente o militar português que melhor conheceu este teatro de operações refere que foi a contestação ao Congresso dos Combatentes, em Maio e Junho de 1973, que deu aos oficiais a base para novas contestações. Exactamente nessa altura, quando tudo se começa a complicar na Guiné que se começa a ouvir com muita frequência dizer, entre os militares que se chegasse a uma situação de colapso o poder político iria crucificar os militares, como na Índia. No final de 1973, disse Pezarat Correia, a derrota militar perfilava-se no horizonte, na Guiné, havia denúncias de massacres em Moçambique, a população civil insurgia-se na Beira acusando os militares. Spínola passou a escrito que a guerra não tinha solução militar, havia que encontrar a solução política adequada.

Manuel Monge, major do 16 de Março, considera que a situação era insustentável. Perdeu-se um tempo precioso em não querer negociar com os movimentos de libertação. E declara: “Eu fiz parte da delegação que negociou o cessar-fogo com o PAIGC, que pedia, nas negociações de Londres, que os portugueses permanecessem mais 6 anos na Guiné para os ajudarem. Ora nós ficámos lá mais uns 6 meses. Tudo teria sido diferente se se tivesse conseguido evitar a derrocada das instituições e se se tivesse mantido a disciplina e a operacionalidade das Forças Armadas”. As próprias condições em que se dá o 25 de Abril, o tumulto em volta do que devia ser a descolonização trouxe prontamente contradições, tensões entre Spínola e o FMA, posições por vezes opostas entre os principais partidos políticos. A força deixara de existir, um golpe de Estado como aquele que ocorreu em 25 de Abril deu automaticamente o sinal de que as guerras coloniais tinham chegado ao seu termo, o moral combativo exauriu-se. No dia 1 de Junho de 1974, em Bissau, uma assembleia de 800 militares do MFA aprovou uma moção exigindo que o Governo português reconhecesse, “imediatamente e sem equívocos, a República da Guiné-Bissau e o direito à autodeterminação e independência dos povos de Cabo Verde”. Dava-se a radicalização e indisciplina das tropas que se traduzia no terreno em pressões e exigências de vária ordem, plenários, indisciplina e até ultimatos. O testemunho de Almeida Santos sobre estes acontecimentos é elucidativo. São muitos os depoimentos das personalidades políticas e intelectuais ouvidos por João Paulo Guerra: Adriano Moreira, Cardoso e Cunha, António de Spínola, Carlos Fabião, Salgueiro Maia, Veiga Simão, Kaúlza de Arriaga, Luís Cabral, Manuel dos Santos Manecas, Mário Soares, entre tantos outros. Uns são abertamente críticos e negam a derrota militar ou a incapacidade de continuar a guerra. A generalidade defende que se fez a descolonização possível, porque tardia. Ia assim nascer um parto com imensa dor, o primeiro sinal veio da independência unilateral, em 24 de Setembro de 1973, em que o PAIGC proclamou, perto de Madina de Boé, a República da Guiné Bissau. Lisboa, a despeito do impressionante reconhecimento internacional da nova República, negou conversações. Ora acontece como reconhece o Luís Cabral, para o PAIGC a vitória não era objectivo principal: “Só lutámos para que a situação se tornasse de tal modo difícil que a potencial colonial fosse obrigada a ir para negociações. Com o 25 de Abril, convoquei o Comité Executivo de Luta do PAIGC para discutir a questão. O Amílcar, antes de ser assassinado, estava preocupado em fazer uma proposta ao Governo português. Para que a proposta fosse nova, havia que fazer uma concessão da nossa parte. Fez-se o comunicado de 13 de Maio em que se declarava que não haveria negociações sem o reconhecimento do nosso Estado e sem o reconhecimento do direito à autodeterminação e à independência ao povo de Cabo Verde e também das outras colónias portuguesas”.

Nesse dia 25 de Abril, a UNITA reacendia a guerra em Angola.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7132: Notas de leitura (158): Na Guiné com o P.A.I.G.C., de Georgette Emília (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7142: (In)citações (13): Gadamael Porto, saúda-vos! (Pepito)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Antiga messe de oficiais e depois hospital...

[Surpreendentes são, para mim, as letras ...ASCO que encimam a parte superior da parede lateral do edifício; não conheço Gadamael Porto nem a sua história, mas dada a sua posição geográfica privilegiada, estar na zona mais rica de produção de arroz (todo o Cantanhez), e ter acesso ao Rio Cacine, é possível que este edifício fosse um entreposto comercial e tenha pertencido a um comerciante ou família de comerciantes, de apelido NOLASCO; tenho ideia de já ter lido algures uma referência ao apelido NOLASCO; não confundir com a empresa francesa NOSOCO, onde trabalhou, em Bissau, nos anos 50, o nosso camarada Mário Dias(LG)].

Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Posto de sentinela junto ao porto


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Mamadu Mané, faxineiro



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Sené Mané, milícia de Gadamael, militar de Guidaje, CCAÇ 3




Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Suleimane Dabô, amigo do Furriel Alexandre, de Braga, cuja mulher lhe mandava brinquedos [para as crianças]




Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Laminé e Mussá



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >Rui Sene N'Tchasso, aluno de Nuno, Barros, Furriel Chaves, Furriel Enfermeiro Gil e de Valentes, dos Açores






Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Suleimane Queita, soldado atirador



Fotos (e legendas):  © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação das fotos que nos mandou o Pepito, tiradas em Gadamael, no passado dia 10 (*).

Ele esteve lá, numa reunião com a população daquela zona fronteiriça. A AD está intensificar a sua intervenção na zona compreendida entre Balana a Gadamael (corredor de Guileje) no quadro do reforço da coordenação das acções ambientais transfronteiriças (corredores de animais selvagens e preservação das florestas comuns).

A população local (onde se incluem antigos milícias e militares que fizeram a guerra do nosso lado) fez questão de mostrar os vestígios do antigo quartel (que, na opinião do Pepito, estariam melhor preservados que os de Guiledje), e de enviar calorosas saudações para os militares que com quem lidaram  e de quem se tornaram amigos. 


O Pepito acaba também de nos mandar mais uma valiosa colecção de fotos recentes de Guileje, com novos "achados arqueológicos"  da passagem, entre 1964 e 1973, de tropas portuguesas por aquela tabanca e aquartelamento (abandonado em 22 de Maio de 1973).




Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d > Tabanca, reordenada pelas NT. Em Maio de 1973, a guarnição de Gadamael era constituída pela Companhia de Caçadores 4743, que dependia operacionalmente do COP 5, com sede em Guileje. Havia ainda um pelotão de canhões S/R, com cinco armas, e um pelotão de artilharia de 14 cm, com três bocas de fogo. 


Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).

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domingo, 17 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7141: Blogoterapia (162): Juventude, anos sessenta (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 4 de Outubro de 2010:

Caro amigo Carlos Vinhal
Tinha pensado contar-vos esta história, que a minha memória registou, ainda com o calor do verão, por ser mais aprazível e mais facilmente entendida, mas o tempo passou depressa demais, e o Outono já se anuncia.

A história por verdadeira, não é estória, não tem absolutamente nada de ficção, trata-se da minha vivência no lugar onde cresci, e do encantamento, que esse espaço me proporcionou, apesar do isolamento quase total.
À minha volta, apenas a Natureza, de que me tornei dependente.
Foi assim, como descrevo, que vivenciava as noites magníficas, do meu verão Alentejano!
Felismina Costa


JUVENTUDE ANOS SESSENTA

Numa noite de Julho magnífica, luminosa, num céu resplandecente em toda a circunferência amplamente abrangida pelo meu olhar, a lua sorridente, lá no alto, brilhava inteira nessa noite de verão, e eu, sentada à porta do Monte, sentindo o cheiro do feno dourado, brilhante, quente, cheirando a fogo calado, (ameaçando ateá-lo).

Lá em baixo, um pouco mais abaixo, a horta brilha molhada, da rega do fim do dia, e os vegetais liquefeitos, desenvolvem-se a olhos vistos,saudáveis e perfeitos.

Um sapo, canta feliz, senhor desse espaço inteiro, e certamente encantado, por essa noite de luar e por esse espaço onde mora.

É noite de adolescência!
E, em mim, canta crescendo o futuro prometido, que me há-de trazer inteiro esse prazer dos sentidos, e, nesse próprio presente, inteiramente sentido.

Aceitando como um prémio, essa oferta Divinal, escutava surpreendida, os sons do canavial, que do outro lado da quinta, provocavam alarido.

Os gatos... ligeiros... felinos, saltavam de vez em quando, perseguindo por certo um rato, e o cão, fiel e amigo, dormia ali mesmo ao lado, sobre o chão quente... enrolado.
Dividi com ele caminhos, luz do Sol, serões de infância, e o calor da lareira, a que me aqueço à distância.
A ternura dos meus pais, o seu amor e altruísmo, seus exemplos que não esqueço... a sua verticalidade, que visto!

De tamanhas recordações, se encheu o meu passado, que se transformou num prazer, poder assim recordá-lo.

Volto lá, a cada passo, e nada mudou ali!
Só muda, o que esquecemos, mas esquecer... é o fim!

Felismina Costa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7119: História de vida (31): Monte Novo das Flores e a minha paixão pela natureza (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7140: Blogoterapia (161): Pensamentos e perguntas a nós próprios (Juvenal Amado)