quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7711: Facebook...ando (10): Zeca Macedo, ex-Tenente Fuzileiro Especial, RN (DFE 21, Cacheu, 1973/74)




Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Porta de armas das instalações do DFE 21 > Brasão da unidade, cujo lema era "A Pátria Honrai que a Pátria Vos Contempla"



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Tomando banho do Rio Cacheu com o Ten Manuel de Castro Centeno, imediato, de barbas

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Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, de moto, no cais da vila de Cacheu



O nosso camarada Zeca Macedo, hoje, nos EUA. para onde imigou em 1977, onde criou uma empresa de advocacia.

Fotos: Zeca Macedo (Facebook, 2 de Novembro de 2010) (Com a devida vénia...)



Vive nos Estados Unidos desde 1977.

Trabalhou, como advogado, na empresa Law Offices of Jose J. Macedo (Principal). 

Estudou Immigration em New England Law (Turma de 1989). Juris Doctor [JD]. 

Vive em Medford, MA.

É casado, católico, liberal, sportinguista.  Adora cachupa  [, foto à esquerda,]  e tem manga de amigos.

Sabe inglês, português, crioulo cabo-verdiano, castelhano e e francês,

Nasceu em Curral Grande, Ilha do Fogo, Cabo Verde.

Foi tenente fuzileiro especial (
DFE 21, Cacheu, 1973/74). (*)


Recorde-se que o DFE 21 foi o primeiro destacamento de Fuzileiros Africanos criado na Guiné, sendo etnicamente heterogéneo (contrariamente ao seguinte, a ser formado, o DFE 22). De acordo com o sítio Reserva Naval, criado e mantido pelo nosso amigo Manuel Lema Santos (ex-1º Ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra, LFG Orion, Guiné, 1966-1972) "para ingressar nos quadros de Fuzileiros Especiais Africanos do Comando de Defesa Marítima da Guiné foram seleccionados 150 dos 900 voluntários que se apresentaram para servir nas forças especiais na Marinha".


Ainda segundo a mesma fonte, "foi ocupado um barracão em Bolama que, com umas apressadas adaptações passou a servir simultaneamente de coberta, sala de aula, refeitório, etc. Baseada nos planos de curso em vigor na Escola de Fuzileiros foi ministrada uma instrução acelerada e, de certo modo, improvisada.

"Os oficiais e sargentos bem como alguns cabos e marinheiros eram metropolitanos, rendendo-se individualmente no final de cada comissão. A Escola de Formação de Fuzileiros então instalada passou a ser designada por 'Centro de Instrução'. Para comandar a nova Unidade foi nomeado o 1Ten Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva…

Este Destacamentos de Fuzileiros Especiais, o DFE 21, viria a tornar-se uma das Unidades de maior protagonismo na Guiné, entre 1970 e 1974. De especial relevo e importância para a estratégia de guerra então prosseguida, assumiu projecção histórica com a participação na Operação Mar Verde " (...).


O Zeca Macedo, ex-2º Ten Reserva Naval,  é membro da nossa Tabanca Grande e está também na lista dos nossos amigos no Facebook. Desejamos-lhe, a ele e à família, muita saúde e longa vida. (**)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA


(**) Último poste da série Facebook...ando > 29 de Janeiro de 2011Guiné 63/74 - P7693: Facebook...ando (9): Notícias do pessoal da CCAÇ 6, Bedanda, dos camaradas António Teixeira, Mário Bravo, Pires, Luís Nicolau, José Vermelho, Bastos, Pinto de Carvalho, Vasco Santos, Ayala Botto (1971/73), mas também do Hugo Moura Ferreira (1966/68), nosso camarigo da primeira hora

Guiné 63/74 - P7710: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (11): Chico d'Alcântara, um homem de exceção

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 31 de Janeiro de 2011:

Caros Camaradas
Junto nova história para inserir nas "Memórias boas da minha guerra".
Quero, desta forma, lembrar o meu grande amigo "Chico d'Alcântara" que, embora sendo um Chico inteligente, nunca foi considerado um Chico-esperto.

Um abraço do
Silva


Memórias boas da minha guerra (11)

Chico d’Alcântara – Um homem de excepção

O Francisco de Alcântara era de Lisboa e, apesar de rodeado de nortenhos por todos os lados, safava-se bem nos debates com os tripeiros… mas só depois de ver bem que terrenos pisava. Não era burro, não senhor, antes pelo contrário. Não foi por acaso que rapidamente conquistou a simpatia da malta. Além disso, teve a sorte de não professar a “religião mourisca”, a tal protegida pelo regime, a que chamavam glorioso éce-éle-bê, o que, já naquele tempo dos filmes de terror a preto e branco, era uma mais valia de realçar.

Era um camarada a 100%. Alimentava amizades, gostava muito da borga e ajudava sempre à festa. Nunca quis ser valente nem, tão pouco, escondia essa fraqueza. Preocupava-se, isso sim, em defender a sua pele e a dos seus, numa perspectiva de que o tempo iria passando.

Quem andou mesmo na guerra, dita porrada, aos tiros, sabe que o pior era ultrapassar os primeiros 4 meses, pois que era um tempo limite para cada um deixar de combater os medos, racionalizar os perigos e, ao mesmo tempo, aceitar a ausência dos seus entes mais queridos. Digamos que, a partir dali, estaríamos apanhados pelo clima. E a verdade é que aquele sofrimento permanente é ultrapassado por uma evidente entrega de cada um à sua sorte. Nesses curtos meses já se tinham passado coisas bem demonstrativas de que, além das devidas cautelas, a sobrevivência era uma questão de sorte.

Pois, mas para quem ainda não estava “apanhado”, porque se vinha safando em “esquivanços” contínuos, as coisas eram diferentes. Por isso, era vulgar verem-se militares ainda em doloroso sofrimento, após largos meses de porrada.

O Chico, foi um desses sofredores, apesar de trazer a coisa bem estudada. Sempre que se aproximava alguma operação mais perigosa, lá estava ele doente, quase em último grau. Descobrimos mais tarde, que ele trazia consigo uma ementa/relação de 38 doenças capazes de o manter afastado das Operações Militares mais perigosas. Com o medo do qual ele, conscientemente, nunca se libertou, e com as inúmeras Operações Militares que a nossa Cart 1689 (em intervenção) vinha efectuando, o Chico não demorou muito a esgotar o referido cardápio das doenças.

Por outro lado ele, um “bon vivant”, como gostava da borga e de toda a actividade de lazer, por vezes “enfiava o pé na argola”, comprometendo as suas aludidas limitações pontuais.

Lembro-me que ainda estávamos em Fá Mandinga, quando havíamos regressado de uma das piores Operações Militares no Oio, em que ele ficara no quartel, muito doente do estômago. Sorrateiramente, saiu da cama e veio pedir ao Miranda para, se parassem em Bafatá, lhe trazer um ou dois frangos mas... “ouve, lá: - com bastante piri-piri”.

Já em Catió, numa fase também difícil, devido às Operações Militares para os lados do Cantanhez, o Chico, esgotado o cardápio das doenças, apareceu com um pé frito, meia hora antes da partida para mais uma.

Passados estes anos todos, ainda prevalecem muitas dúvidas quanto a este acidente.

O Chico fez-nos crer que foi à cozinha da messe para ver se trazia algum “reforço”, pois que ele era de muito sustento. Por coincidência, a frigideira apareceu no chão, ainda com o azeite/óleo quente e ele colocou lá o pé (? descalço?), inadvertidamente.
O Básico dizia que a frigideira estava em cima de uma mesa e que o Furriel Alcântara, já lá tinha ido várias vezes “cheirar”.
O cozinheiro Laurentino, não se apercebeu de nada. mas dizia que logo que lhe cheirou a chispe de porco grelhado, imaginou uma tragédia.

O “Doutor Berguinhas”, que gastou quilómetros de gaze a inutilizar o Chico, alarmava toda a gente, dizendo que a coisa era muito grave e, como todas as queimaduras, sofreria uma evolução de 9 dias. O Chico entrou imediatamente em rigorosa quarentena, não podendo fazer “puto”.

Porém, como fazia parte da equipa de futebol dos graduados do BART 1913, não podia faltar ao jogo, que se iria realizar três dias depois do “acidente”. E foi num aparente gesto altruísta e de grande sofrimento que ele se sacrificou a jogar, aplicando todos os seus dotes futebolísticos e toda a sua máxima força física.

Mais tarde, na terrível implantação de Gandembel, ajudou a fazer um buraco/abrigo no chão, onde se manteve heróica e pacientemente deitado, ajoelhado ou de cócoras, mais de um mês. Só saía, e apressadamente (para muito perto), para defecar e pouco mais, arriscando a pele e pondo em cheque o seu corpo desprotegido, bem como todas as suas capacidades de defesa. O Chico d’Alcântara, quando regressou a Catió, trazia a cor da pele verde/amarelada, idêntica à das plantas, carentes de luz e de clorofila…

Acresce dizer e lamentar que o Furriel Miliciano Francisco de Alcântara, inexplicavelmente e apesar de tanto esforço e sofrimento desumano, não recebeu qualquer louvor das chefias. Pensa-se que, possivelmente, os louvores terão sido esgotados com a sua distribuição a alguns temerários, aos “chicos” de secretaria e a vários “afilhados” do Comandante.

Silva da CART 1689

Nota: Para mim, o azeite já estava “friu”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7681: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): Tony, o lisboeta

Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

1. Mensagem do nosso camarada José Figueiral, com data de 29 de Janeiro de 2011, dirigida ao nosso Blogue:

Caro amigo,
Sou o Alf Mil Figueiral (não Figueiras, como aparece por vezes), que aparece em várias fotografias enviadas pelos antigos camaradas de Bedanda, onde estive desde Dezembro de 1970 a Novembro de 1972.

Soube deste blogue através dum amigo e gostava de saber como proceder para me dar a conhecer e enviar fotos.

Vivo em Viseu e o meu mail é jcondefigueiral@gmail.com.

Um abraço.

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  Da esquerda para a direita, Alf Mil Borges, Cap Ayala, Alf Mil Silva (artilheiro) e Alf Mil Figueiral

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> Os Alferes Mil Borges, Mário Bravo e José Figueiral


2. No mesmo dia o nosso tertuliano e camarada Mário Bravo, ex-Alf Mil Médico que esteve também em Bedanda, enviava-nos a seguinte mensagem:

Meus Amigos
Boa Noite
Acabei de falar, via telemóvel, com o Figueiral, ex-Alf Mil em Bedanda.

Que emoção tão forte senti. !!

Foi um momento de grande alegria, só possível, pelo facto de existir um grupo de CAMARIGOS (Luis Graça, Carlos Vinhal e todos os OUTROS ), que têm vindo a demonstrar um espírito de companheirismo fora do vulgar.

Por estas razões e mais uma vez, tenho que VOS elogiar, pedindo desculpa pela não referência a todos aqueles que gerem este blogue.

Continuem, porque fazem falta e por isso aí vai um conselho - NÃO DESISTAM POR FAVOR.


3. Comentário de Carlos Vinhal

Caros camaradas Mário Bravo e José Figueiral,
Também é por vós que diariamente aqui dedicamos umas horas da nossa vida. É agradável contribuir de algum modo para o reencontro de velhos camaradas, separados pelos afazeres durante tento tempo, sem que tenha esmorecido o sentimento de camaradagem criado nas circunstâncias de guerra e mantido em estado latente até à explosão do reencontro.

Um agradecimento ao Mário Bravo pelas suas palavras de incentivo, que registamos com alguma vaidade.

Caro Figueiral, teremos, como é óbvio, o maior prazer em que faças parte da nossa Tabanca Grande, pelo que terás de cumprir as regras de admissão, bastante exigentes, diga-se de passagem.

Assim, mandarás, por favor, uma foto actual e outra dos gloriosos tempos em que éramos mais novos, fardadinho da silva, já que estamos numa caserna militar virtual, tipo passe de preferência e em formato JPEG. Informa-nos da tua data de ida e volta da Guiné. Embora saibamos quase tudo sobre Bedanda, queremos conhecer o teu ponto de vista quanto à actuação da tua Unidade no tempo em que fizeste parte dela. Vais-nos contar também as tuas próprias histórias, acompanhadas pelas fotos que guardas religiosamente e que finalmente vão ver a luz do dia através da blogosfera. O nosso interesse é que os tertulianos tenham uma colaboração o mais activa possível, enviando as suas histórias e/ou comentando os postes publicados.

Posto isto, ficamos à espera do teu próximo contacto para te apresentarmos formalmente à tertúlia.

Em meu nome pessoal e no dos restantes editores, envio-te um fraterno abraço.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7451: O Nosso Livro de Visitas (104): Camaradas da Guiné (Domingos Santos)

Guiné 63/74 - P7708: Parabéns a você (209): Germano Santos, Operador Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

02 DE FEVEREIRO DE 2011


Caro camarada Germano Santos*, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

(*) Germano Santos foi Operador Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832, Mansoa nos anos de 1971/73.

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5751: Parabéns a você (73): Germano Santos, ex-Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73) (Editores)

Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7692: Parabéns a você (208): Luís Graça (Henriques), ex-Fur Mil Armas Pesadas, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71 (Tertúlia / Co-Editores)

Guiné 63/74 - P7707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (54): Na Kontra Ka Kontra: 18.º episódio




1. Décimo oitavo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 1 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


18º EPISÓDIO

Não havia que fugir mais ao problema que ali tinha trazido aquele homem. Mais nada havia a dizer que não fosse o Sadjuma fazer o pedido ao Alferes.

- Diz lá Sadjuma o que me tens a pedir.

- É sobre o forno que o meu Alferes fez.

De tudo o que o Alferes tinha pensado como sendo o problema do milícia, o forno não fazia parte. O Sadjuma continuou.

- Como sabe estamos aqui isolados. Um homem, aqui, não tem futuro algum. Como milícia ainda dá para sustentar a família, mas a guerra não durará sempre…

- Ala te ouça. Continua.

- Se a guerra acabar ou tiver que deixar a milícia, gostava de ter um modo de vida para continuar a poder tratar da mulher e dos filhos.

O Alferes dava “voltas e voltas à cabeça” a ver se vislumbrava o que aquele homem queria dizer, com as suas preocupações com a família mas, sobretudo, a ligação com o forno que acabara de construir. Já com alguma impaciência o Alferes incita-o a acabar o discurso.

- Continua, continua.

- Não sei se é possível o que lhe vou pedir mas, pode crer que eu só ajudava, não incomodava ninguém.

Nesta altura o Alferes estava mesmo a passar da impaciência ao desespero. Não estava a aguentar os minutos de expectativa que, nesta situação lhe estavam a parecer horas. Numa atitude mais ríspida, que os seus galões lhe proporcionavam, diz:

- Sadjuma, diz o que tens a dizer pois já está a parar de chover e amanhã é outro dia.

Apercebendo-se da impaciência do Alferes e numa atitude muito humilde, que aliás o caracterizava, faz o seu pedido.

- Meu “Alfero” posso ser ajudante do padeiro?

Como se pode imaginar “caíram-lhe ao chão”, os queixos, tudo. O Alferes sentiu um misto de alívio, pela simplicidade do pedido, e também de satisfação pela facilidade em poder atender ao solicitado. O padeiro talvez não precisasse de ajudante mas nestas condições seria bem vindo. Sempre aliviaria o mestre, no “traz e leva”.

As intenções do Sadjuma, além de ser ajudante de padeiro, eram sobretudo, como facilmente se compreende, aprender a fazer pão. Inteligente como era não havia dúvidas que em poucos dias se encontraria apto para governar a sua vida na arte de padeiro.

- Oh Sadjuma, então era só isso? Estava preocupado contigo. Sempre pensei que estivesses com algum problema sério. …Claro que não vais poder ser ajudante de padeiro …Já és. Deixa-me falar amanhã com o padeiro para depois te poderes apresentar ao trabalho.

O Sadjuma ao lado do Alferes Magalhães.

Estavam a cair as últimas pingas, quando o Sadjuma se despediu do Alferes com mais uma continência, coisa rara por aquelas paragens. Depois da grande chuvada, o pessoal continua recolhido. Estava tudo molhado, inclusive o “bentem” debaixo do mangueiro. O Alferes ainda sai para apanhar algumas gotas de chuva refrescantes. Com aquela humidade a rondar os cem por cento, os quarenta graus de temperatura parecem ser cinquenta, autenticamente sufocantes. As nuvens negras que trouxeram a chuva já se iam afastando, deixando ver um espectacular céu estrelado.

Mais uma vez o Alferes Magalhães tem uma noite de sono reparador, depois do alívio sentido e porque no dia seguinte teria uma agradável e importante tarefa a cumprir. Não se levantou tão cedo como o costume. Foi o último a ir tomar o café, desta vez com pão quase fresco, uma delícia.

Estava-se em fins de Junho, pouco faltava para os abrigos da população civil ficarem prontos. A rede de arame farpado fora melhorada, sobretudo na passagem para a fonte, de forma que ao anoitecer podia ser completamente fechada. O Alferes Magalhães estava livre para “outras guerras”.

Toma o café ainda com alguns dos seus homens que, em pequenos grupos se foram levantando, dirigindo-se para os seus afazeres que, diga-se, não eram muitos. Havia uma certa acalmia na tabanca. Quando por último o Furriel se levanta, vendo o Alferes muito pensativo pergunta se o pode ajudar em alguma coisa. Este levanta a cabeça e sorrindo vai dizendo:

- Nosso Furriel, o que estou a pensar fazer, o senhor não pode fazer por mim, e como deve imaginar não é ir à orla da mata.

O Furriel afastou-se e o Alferes pensando alto:

- Onde eu vou arranjar uma vaca? Tenho que falar com o João.

Depois de uns momentos a ordenar as ideias, levantou-se e foi procurá-lo para os lados da sua morança, perto do mangueiro, no centro da tabanca. Quando o viu chamou-o à parte e disparou:

- João onde posso arranjar uma vaca?

- Uma vaca? Para que é que o Alferes precisa de uma vaca? Com um cabrito, a sua tropa governa-se dois ou três dias.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7701: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (53): Na Kontra Ka Kontra: 17.º episódio

Guiné 63/74 - P7706: Bombolom XVIII (Paulo Salgado): Saber viver viver com a pluralidade de pontos de vida, debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande

1. Mensagem de Paulo Salgado (a viver e a trabalhar neste momento em Luanda, Angola, como especialista em administração de serviços de saúde; ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721,Olossato e Nhacra, 1970/72) [, foto à direita,]


Data: 1 de Fevereiro de 2011 14:36

Assunto: Uma palavra amiga


Companheiros ou camaradas ou camarigos!

Verifico com satisfação que é salutar ter pontos de vista diferentes face à guerra que vivemos - todos com muito sofrimento. Registo, ainda, com agrado que há diferentes pontos de vista sobre o modo como a guerra foi feita e conduzida. 


Agrada-me a capacidade intelectual dos editores do nosso blogue que, balizando-se em princípios éticos, em valores morais e dentro do que é razoavelmente aceitável em termos de linguagem e de conceitos, assumem a responsabilidade de aceitar publicar notícias ou ideias contraditórias. É muito salutar esta grande capacidade dos nossos editores!

Quero reafirmar, aqui e agora, o que um grande cabo do meu grupo de combate, cuja grandeza de alma era e é inquestionável: só devemos é ter a consciência tranquila. Se cada um de nós - já com idade para compreender e aceitar a diferença e para fazer juízos tranquilos - tem pontos de vista diferentes, que nos resguardemos do vilipêndio e da maledicência. Saibamos ser Velhotes na dimensão humana. Saibamos olhar para os outros com a mesma benevolência e exigência que gostaremos que apreciem em nós.

O que diz o Mário Beja Santos sobre "celebração" pode não ser compreensivelmente aceitável. Mas é, certamente, um ponto de vista que merece reflexão, nunca o "atirar a pedra" - só atira pedras quem está incólume. Tenhamos a paciência dos "homens grandes" que à sombra do poilão sabiam discutir as questões com paciência e sem azedume, com tranquilidade e sem virulência. 

Saibamos dizer aos nossos filhos e netos: nós, pais e avós, participámos numa guerra que (muitos) não queríamos; nós, pais e avós, olhamos para trás e, fugidos alguns à guerra ou presentes outros, não nos envergonhamos dos actos. 

Recordo-me de dois homens muito queridos da minha meninice, na mesma aldeia, que estiveram no norte de Moçambique (Rovuma) durante mais de quatro anos, friso quatro anos, na primeira guerra mundial. Tinham pontos de vista diferentes, muito diferentes sobre os factos que viveram. Mas eu gostava de os ver bebendo alguns copos na taberna - na praça da aldeia - rirem e chorarem, tantos anos depois! Lição grande aquela de dois homens analfabetos, mas enormes na inteligência e no humanismo.

Tenho a certeza que alguns militares que estiveram comigo na minha companhia viram a guerra de maneira diferente da minha, sentiram-na no corpo e na alma de tal forma forte e dramática que certamente nem sequer desejam falar dela. No que me respeita, só descreverei aspectos paralelos, interligados, marginais - nunca sobre emboscadas que fizemos ou que sofremos, de golpes de mão com ou sem êxito, nunca sobre patrulhamentos. Isso está na história da companhia.

Respeitemos as memórias individuais e a memória colectiva que alguém deverá fazer, e se não concordamos com Almeida Bruno, ou com Beja Santos, ou com qualquer anónimo, sejamos rectos, humanos e deixemos os nossos contributos com a benevolência de combatentes que procuram o bem-estar nesta recta final das nossas vidas. Sem, com isso, deixarmos de afirmar a nossa verdade. 

Mas há tantas verdades, camaradas ou companheiros ou camarigos...

Paulo Salgado 
ex-alferes miliciano
Guiné 70-72.

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7705: Agenda cultural (104): 50 Anos do Início da Guerra Colonial. ANGOLA61. Guerra Colonial: Causas e Consequências (Beja Santos)


1. O nosso Camarada Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos em 31 de Janeiro de 2011 a seguinte mensagem:
Assunto: Guerra Colonial/Livros: 03 FEV.18h30Lisboa - Livro «ANGOLA 61», de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, é apresentado esta quinta-feira por Fernando Rosas.
50 Anos do Início da Guerra Colonial Guiné 63/74 - P7679: Agenda cultural (103): Programa na SIC com o Cor. Sentieiro - o Capitão da "Ostra Amarga" – 6 Fevereiro 2011 (Virgínio Briote)


ANGOLA61
Guerra Colonial: Causas e Consequências
O 4 de Fevereiro e o 15 de Março

Páginas: 280 PVP: 17,90€
de DALILA CABRITA MATEUS e ÁLVARO MATEUS

Por ocasião dos 50 anos do início da Guerra Colonial (04 de Fevereiro de 1961), realiza-se esta quinta-feira, dia 03 de Fevereiro de 2011, às 18h30, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, a sessão de lançamento do livro ANGOLA 61 - Guerra Colonial: Causas e Consequências.

Da autoria dos investigadores Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, a obra será apresentada por Fernando Rosas.
Confrontados com os novos dados que constam dos arquivos de Salazar e da PIDE depositados na Torre do Tombo, Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus reconstituíram, 50 anos depois, o levantamento de 4 de Fevereiro de 1961 (o primeiro acto de rebelião contra o colonialismo português) e a sublevação de 15 de Março de 1961 (o bárbaro massacre de populações brancas e trabalhadores negros no Norte de Angola), dando a conhecer em ANGOLA 61 os dois acontecimentos que marcaram, em 1961, o início da Guerra Colonial.
A par da análise dos factos ocorridos nesse ano em Angola, documentada com imagens chocantes, relatos da grande barbárie causada pelo terror negro e pelo terror branco, e testemunhos das várias versões dos acontecimentos, os autores de Purga em Angola e Nacionalistas de Moçambique dão a conhecer, nesta nova obra editada pela Texto, os antecedentes, as causas e as consequências da Guerra Colonial, agora que se cumprem os 50 anos do início do conflito.
Partindo de um olhar geral pela África colonial de 1960, passando pela caracterização do colonialismo português e culminando na resposta repressiva dada às tentativas de organização e expressão política dos africanos, Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus retratam em ANGOLA 61 o conflito que ao longo de 13 anos ceifou 9 mil vidas, feriu e estropiou outras 30 mil e se saldou num número indefinido de desaparecidos em combate nos três teatros de guerra – Angola, Guiné e Moçambique.
Apurado o «custo» humano e económico da Guerra Colonial, ANGOLA 61 desafia ainda o leitor a questionar-se sobre como teria sido a descolonização se, em vez da guerra, se tivesse apostado num caminho progressivo para a independência, e como estaria hoje Portugal se se não tivessem delapidado tantos recursos humanos e materiais.
O LIVRO INCLUI:
• Imagens e relatos, na primeira pessoa, da barbárie de 15 de Março de 1961;
• Dados sobre o caso do General Venâncio Deslandes (Governador-Geral e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola, exonerado por ter defendido a criação da Universidade em Angola e a constituição de uma Federação da Metrópole com Angola e Moçambique);
• Imagens do manifesto do MPLA e da edição n.º 1 do Jornal Anti-Colonial (e.o.);

OS AUTORES
DALILA CABRITA MATEUS Nasceu em Viana do Castelo. É licenciada em História, Diplomada de Estudos Superiores em Administração Escolar, mestra em História Social Contemporânea e doutora em História Moderna e Contemporânea. Investigadora do Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa (ISCTE), é também consultora do Projecto «ALUKA» (EUA). Tem participado em conferências e colóquios, nacionais e internacionais, sobre a problemática das lutas de libertação nacional. É autora e co-autora de vários livros ligados à temática da Guerra Colonial.

ÁLVARO MATEUS Nasceu em Moçambique. Estudante universitário em Lisboa, foi dirigente da Casa dos Estudantes do Império. Nos primeiros anos de guerra colonial, promoveu e coordenou um jornal clandestino contra o colonialismo e a Guerra Colonial. No início da década de 80, participou na formação de professores na Escola Central da FRELIMO e na formação de quadros na Faculdade de Antigos Combatentes e Trabalhadores de Vanguarda da Universidade Eduardo Mondlane. Ao longo da vida foi quadro político, jornalista, locutor, publicista e tradutor, advogado e professor.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7679: Agenda cultural (103): Programa na SIC com o Cor. Sentieiro - o Capitão da "Ostra Amarga" – 6 Fevereiro 2011 (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P7704: Notas de leitura (197): Ordem Para Matar, de Queba Sambu (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Não é fácil ler uma obra que está polvilhada de erros, gralhas e frases incompreensíveis, o livro deve ter sido feito à pressa e publicado sem revisão.
A ser tudo verdade o que aqui se diz, não restam dúvidas que o povo guineense é de um paciência ilimitada com os ditadores e os seus carrascos que não param de nos surpreender com toda a classe de barbaridades. Não se pode estudar a história da Guiné-Bissau desviando o olhar do tenebroso processo contra Paulo Correia, não é possível compreender Nino Vieira e os seus cortesãos sem inserir esta tentativa de actos bombistas em Lisboa, numa época em que o regime prometia alguma abertura.

Um abraço do
Mário


Episódios de terror e despotismo nos tempos de Luís Cabral e Nino Vieira*

Beja Santos

O tenente-coronel Queba Sambu, especialista em contra-informação, militante do PAIGC com provas dadas durante o período da luta, na região de Catió, responsável pelos serviços secretos nos tempos de Luís Cabral e sobretudo de Nino Vieira, deixa-nos um testemunho brutal sobre as arbitrariedades e os actos torcionários inenarráveis perpetrados ao tempo destes dois ditadores: “Dos Fuzilamentos ao caso das bombas da Embaixada da Guiné”, por Queba Sambu, Edições Referendo, 1989. No primeiro texto, referiu-se a participação do autor durante a guerra da libertação, a sua formação em segurança, na União Soviética, o clima político, económico e social na Guiné-Bissau entre a independência e o golpe de 14 de Novembro de 1980 e a sua actividade na chefia dos serviços de contra-informação das Forças Armadas. É nessa funções que ele se apercebe da existência de sucessivas maquinações, boatos orquestrados de sedições e intrigas de palácio contra os quadros políticos e militares da etnia balanta. O alvo principal era o coronel Paulo Correia, uma das principais figuras do vértice da pirâmide, do poder de então. Tem interesse acompanhar a desmontagem destes falsos golpes de Estado que será uma constante durante os anos 80: desde difamações baratas sobre um major que tinha em casa granadas de mão e que tencionava matar o Presidente; passando por uma pretensa rebelião da Brigada Mecanizada 14 de Novembro e a invenção da denúncia de que andava um civil com uma Kalachnikov perto desta Brigada Motorizada; até insurreições montadas por Paulo Correia e Viriato Pã, todas demonstradamente inexistentes. Paulo Correia era odiado pelos marxistas do PAIGC por ter discordado da instalação de uma base naval soviética em Bissau, a partir daí montou-se uma conspiração (com aspectos burlescos) de que na órbita destes políticos e de alguns apoiantes militares estava a ser preparada uma conjura para matar o Presidente. Mas outras invenções de rebelião existiram, vindo-se sempre apurar que eram acusações falsas embora, estranhamente, nunca houvesse consequências para os caluniadores. Em 1984 inventou-se um golpe de Estado atribuído ao primeiro-ministro Victor Saúde Maria, arquitectado pelo Ministro da Defesa; montou-se uma cabala incriminando oficiais balantas da Marinha. Segundo diz Queba Sambu, ele pediu reiteradamente para abandonar as suas funções, não tinha dúvidas de que se vivia o tribalismo e a ameaça de degeneração de lutas entre etnias.

Queba Sambu foi transferido das Forças Armadas para o Ministério do Interior e destes para os Negócios Estrangeiros. É aqui que irá ser nomeado secretário para a Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa. É nesta fase que é montada a farsa do processo contra Paulo Correia e outros quadros políticos e militares balantas, que ele descreve minuciosamente. Este processo culminou com uma vaga de fuzilamentos, sem que, antes, com todo o aparato do terror, os presos tenham sido sujeitos aos tratamentos mais bárbaros, foi sob a maior violência física que muitos deles confessaram o seu envolvimento em actos que inteiramente desconheciam.

Em Novembro de 1986, o autor passa a estar em missão de serviço em Lisboa. O Embaixador Leonel Vieira informa-o que tem uma encomenda que lhe é destinada, só falta a segunda parte. É-lhe apresentada uma rapariga guineense que tinha tirado um curso em Cuba sobre montagens de bombas. A encomenda que Queba Sambu recebe são 10 bombas-relógio. Segundo o embaixador Leonel Vieira, os Ministros da Defesa e do Interior tinham elaborado um plano bombista para a eliminação dos dirigentes da Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá. A justificação para esta eliminação física é de que estes políticos praticavam a contra-revolução e eram potencialmente perigosos. De acordo com o embaixador, as bombas destinavam-se a ser utilizadas aos pares em cada operação terrorista, ou seja cada uma explodiria separadamente mas numa acção simultânea. A bombista treinada em Cuba iria ensinar-lhe o manejo de bombas-relógio e o comportamento do agente no terreno da acção. Queba Sambu mostra relutância, chama a atenção para as consequências que tais actos iriam trazer nas relações luso-guineenses e o sem número de vítimas inocentes. Procura impedir a execução do plano e pede para ir a Bissau. A bombista, de nome Maria do Rosário, explicou-lhe que seriam recrutados dois estudantes guineenses para dar apoio a esta missão. Em Janeiro de 1987, Sambu procura falar com os dirigentes políticos, para seu espanto estes confessam-lhe que o próprio presidente está indeciso quanto à necessidade desta operação. Regressado a Lisboa, Sambu toma uma decisão importante, pedir asilo político e escrever um livro a denunciar esta maquinação.

Consegue retirar as bombas de um cofre da Embaixada e entrega-as às autoridades portuguesas. Não se sabe como, os órgãos de comunicação social badalam o acontecimento, as autoridades de Bissau retaliam apresando barcos portugueses.

O acontecimento está hoje esquecido mas na verdade denota, em todas as suas peripécias, a fragilidade do poder de Nino Vieira, forçado, com a cumplicidade dos seus apaniguados, a permanentes espasmos de terror, artificialmente preparados para dissuadir a contestação em torno do afundamento económico e financeiro do país.

É um livro útil para se perceber a esquizofrenia do poder que fabricou intentonas atrás de intentonas, que se lançou numa demência de perseguições e suspeitas com amplo sabor estalinista. É um dever de memória procurar compreender este Nino Vieira que virá a ser reeleito depois de fugir do país e que acabou nas mãos de novos algozes, completamente abandonado pelos seus apaniguados.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7689: Notas de leitura (194): Ordem Para Matar, de Queba Sambu (1) (Mário Beja Santos)

Vd. poste de 31 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7699: Notas de leitura (196): Lobo... dos Mares, de Joaquim Cortes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7703: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (4): "Eu servi a minha Pátria. É justo que a minha Pátria reconheça isso" (Cândido J. R. Pimenta)

O autor da petição, o nosso camarigo Inácio Silva (, foto à esquerda, ex-1.º Cabo da CART 2732, Mansabá, 1970/72)

1. Nós já subscrevemos a Petição Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios, para Assembleia da República e Governo. 2178 pessoas (ex-combatentes, seus familiares, seus amigos, seus concidadãos) já subscreveram.  Faltam mais de 1800 assinaturas. Aqui ficam alguns comentários (selecção dos editores)...


Nome
 Comentário

2162
Carlos de Jesus Gouveia Rodrigues
Estive na Guiné 69/70, não tenho Pensão,    mas estou convosco. 
2137
Vitor Hugo Rodrigues Figueiredo
Apoio 100%. Nação que não protege os seus veteranos, não merece qualquer sacrifício de parte os seus cidadãos.
2104
Ana Maria Delgado Martins
Sou filha de um ex-combatente na Guiné - Bissau,   Comp de Caçadores 1589, Fá  e Madina de Boé.
2117
Aurélio Neves de Sousa
A todos os camaradas que serviram a Pátria além fronteiras,  sou solidário no reconhecimento que o Estado Portugês deve aos ex-combatente uma vez que no cumprimento de suas missões revelaram um elevado sentido de Patriotismo e como tal deve ser reconhecido o seu mérito.
2090
Amaro de Oliveira Antonio
Comando de Agrupamento 1980 - Guine, Bafatá 67/68
2047
José Joaquim das Estevas
Combati na Guiné em nome de Portugal. Mereço respeito.

1864
Francisco Martins Moris
O dever de gratidão também deveria fazer parte do código de ética do Estado Português.
1821
Joao Luis dos Reis Moniz
Guiné, 1970-1971-1972...
1728
Candido José Rodrigues Pimenta
Eu servi a minha Pátria. É justo que a minha Pátria reconheça isso.
1686
Manuel gonçalves
Começo a entender que fomos os "mainatos" da pátria.
1638
Francisco Manuel Branco Frutuoso
Guiné.  Guidage, 1969 a 1971.
1611
Carlos Gil Correia Veloso da Veiga
Há sobretudo que dar uma atenção muito especial aos ex-combatentes naturais da ex-colónias e que por lá ficaram, perdendo a nacionalidade portuguesa.
1556
Jorge Morais de Araújo Ribeiro
Consultar legislação similar dos EUA sobre veteranos da Guerra do Vietname.
1509
António Manuel de Lemos Viana Boavida
Cmdte do Pelotão de Morteiros 4581/72 . Entrada em Mafra em 24 Abril de 1972. Guiné desde 1973 a 1974.
1480
Vítor Manuel Sampaio e Melo dos Santos
Sou ex-combatente miliciano e saliento que o País não trata devidamente os seus ex-combatentes como nos países desenvolvidos e até nos países mais pobres como os PALOP, em que existe um Ministério dos Ex-Combatentes.
1447
Pedro Gonçalo Coelho Nunes de Melo
Um povo que não honra quem o serviu, não merece esse nome.
1324
Renato Manuel Laia Epifânio
Presidente do MIL - Movimento Internacional Lusófono.
1320
Manuel Augusto Gordo Correia
"Honrai a Pátria que ela vos Comtempla" era o lema que nos massacrou durante todo o tempo de serviço. Nós honrámos a Pátria e ela não nos comtemplou. É mais que tempo para que se faça justiça. Tenho dito.
1240
António Monteiro Marques
Bendita Pátria que tais filhos tem.
1160
Honorata Jesus Soares Pequeno
Eu,  como mulher do ex-combatente,  é que sei o que as mulheres sofrem com o stress de guerra,  eu tenho um cá em casa.
1034
Filipe Vilhena Lemos Gonçalves
Lembrar ao Estado que os ex-combatentes não foram como voluntários para a guerra do ultramar.

943
Verónica leal
O meu pai quase morreu em 1966 na Guiné, hoje com 66 anos tem muitas mazelas fisicas e psicológicas e nunca recebeu nem recebe nada nem um obrigado...
926
João Alves Gomes
A Pátria deve honrar os seus soldados, a quem lhes pediu todos os sacrifícios incluindo o da vida. Quando isso não acontce, essa Pátria está doente.
919
Carlos Alberto Candido Ferra
Só neste País é que não reconhecem os ex- combatentes. Nos Estados Unidos são tratados como heróis, e com assistência total e boas reformas.
723
Carlos Manuel Alves Coutinho
Peca pelo tardio.
586
Terry Chagas Lino
O meu pai sofreu, e ainda sofre,  por causa da guerra na qual participou.
388
José Alexandre da Silveira Câmara
Fur Mil,  CCaç 3327/BII17, Guiné
305
Manuel Fernando Dias Oliveira
O Carácter de Uma Nação Vê-se Pela Forma Como Trata os Seus Veteranos (Winston Churchill).
137
João Maria Pereira da Costa
Muitos há anos que já mereciam os seus problemas resolvidos. Não esqueço os africanos que tombaram e vivem em condições sub-humanas. No livro «A Última Missão» do ex- Major Pára Calheiros vem a vergonha que assinámos e nos comprometemos. Leiam.

 
Brazão da  madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72), a que pertenceram, entre outros os nossos camarigos Inácio Silva, Carlos Vinhal e Jorge Picado


2. Texto da petição

Bellum dulce inexpertis
(Bem parece a guerra a quem não vai nela)

Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios.

1. Com a publicação da Lei 9/2002, de 11 de Fevereiro, foi regulado o regime jurídico dos períodos de prestação de serviço militar dos ex-combatentes, para efeitos de aposentação e reforma;

2. A regulamentação a que aquela Lei foi sujeita (Dec.-Lei nº 160/2004, de 2 de Julho), desvirtuou, em absoluto, os seus princípios, designadamente, a fórmula de cálculo do CEP (Complemento Especial de Pensão);

3. O Governo, perante inúmeras reclamações, submeteu à Assembleia da República, a Lei nº 3/2009, de 13 de Janeiro, que regula os benefícios previstos nas Leis n.os 9/2002, de 11 de Fevereiro, e 21/2004, de 5 de Junho e revogou o Dec.-Lei nº 160/2004, de 2 de Julho;

4. Porém, a injustiça manteve-se, não sendo acautelados, como deveriam ter sido, os interesses dos ex-combatentes.

Assim, propõem, à Assembleia da República e ao Governo, o seguinte:

a) Que os complementos especiais de pensão, agora convertidos no suplemento especial de pensão, sejam substituídos pela antecipação da idade da reforma, tendo em conta o tempo de serviço militar prestado em condições especiais de dificuldade ou perigo, até ao máximo de 5 anos;

b) Esta medida é extensiva a todos os ex-combatentes que efectuaram descontos para os subsistemas de Segurança Social, independetemente de estarem ou não reformados;

c) Aos ex-combatentes que recorreram à antecipação da sua reforma, deverá ser feito o recálculo da sua pensão, aplicando-se o regime previsto na alínea a), após a sua aprovação;

d) Aos ex-combatentes já reformados, tendo cumprido o período máximo de descontos para a Segurança Social, será atribuído um complemento adicional à sua pensão, correspondente ao tempo referido na alínea a);

e) Aos ex-combatentes que não se enquadram na al. b) mas que passaram a usufruir do “suplemento especial de pensão”, ser-lhes-á garantido o valor já atribuído;

f) Aos ex-combatentes que optaram por passar à disponibilidade numa das ex-províncias ultramarinas, considerar, para efeitos de reforma, o tempo de serviço aí prestado, ainda que o tenha sido numa empresa privada, a exemplo do que foi considerado para os bancários, advogados, solicitadores e Rádio Marconi.

Quae sunt Caesaris, Caesari
(A César o que é de César)

Os signatários


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Nota de L.G.: