terça-feira, 8 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7912: Memorial aos Soldados do Concelho de Silves mortos na Guerra de África (1961-1974) (Amílcar Ventura/João Pargana)

1. O nosso Camarada Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74), enviou-nos uma mensagem solicitando a divulgação da seguinte carta:

Camaradas,
Agradeço a divulgação da carta do meu Amigo João Pargana, que foi Capitão de Engenharia em Moçambique, para se construir um Monumento aos Combatentes da Guerra de África em Silves.

Eu também estou a tentar tudo o que me é possível, junto dos mais altos responsáveis da Câmara Municipal, para que tal possa vir a ser uma realidade.
Obrigado.
Amílcar Ventura
Fur Mil da 1.ª CCAV do BCAV 8323
Memorial aos Soldados mortos na Guerra de África (1961-1974)do Concelho de Silves

Ex.ma Senhora
Presidente
Câmara Municipal de Silves
Praça do Município
8300 SILVES


Silves, 15 de Fevereiro de 2011
m. ref. 11353

Assunto: Memorial aos Soldados do Concelho de Silves e aos Soldados Desconhecidos mortos na Guerra de África (1961-1974). Proposta.

Ex.ma Senhora:

Considerando que, passados 37 anos sobre o termo de Guerra de África (1961-1974), estarão esbatidos todos os complexos ideológicos quanto à designação com que a História recordará esse conflito,
Considerando a convicção de que a designação Guerra de África (1961-1974) será aquela que a História vai adoptando, e a que vem sendo progressivamente a ser adoptada pela generalidade dos autores independentes,
Considerando que não cabe aos soldados decidir sobre a guerra, e que se a fazem, é na convicção do cumprimento de um dever,
Considerando que o cumprimento desse dever até ao sacrifício da própria vida os torna credores da gratidão dos seus concidadãos,
Considerando a vocação histórica de Silves e do seu Concelho,
Considerando que honrar os seus mortos, além de um dever primário, é um contributo para a consolidação dessa vocação,
Considerando que na guerra acima referida morreram não menos de 32 soldados nascidos no Concelho de Silves.

Venho com a presente propor à Câmara Municipal da mui digna Presidência de V. Exª que seja construído na rotunda da Cruz de Portugal um memorial aos Soldados do Concelho de Silves e aos Soldados Desconhecidos Mortos na Guerra de África (1961-1974).
Na expectativa do melhor acolhimento para esta iniciativa, sou, com os meus mais respeitosos cumprimentos,

De V. Exª
Atentamente

(João José Gonçalves Pargana)

P.S. - Com a minha modesta homenagem àqueles que souberam tudo dar, sem nada esperar em troca.
____________
Notas de M.R.:

Diz textualmente o Sr. Capitão João Pargana na carta: “Memorial aos Soldados do Concelho de Silves e aos Soldados Desconhecidos mortos na Guerra de África (1961-1974)”

Peço desculpa pela minha ignorância, mas “… Soldados Desconhecidos…”?

Não estão todos os soldados falecidos em combate nas três frentes da Guerra de África devidamente identificados?

Vd. último poste sobre um Monumento em:
4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7897: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures (José Martins)

Guiné 63/74 - P7911: As Nossas Mães (8): O tempo passa depressa - Homenagem à Mulher, à Mãe (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 07 de Março de 2011:

Caros Luís, Carlos, Virgínio, Magalhães e restante atabancados.
As nossas mulheres serão sempre fonte de inspiração, não quero por isso deixar passar o seu dia sem uma pequena referência.

Um abraço e bom Carnaval
Juvenal Amado




 "Mother and Child" de Don Miller


O TEMPO PASSA DEPRESSA

Os olhos rasos de água
Olhavam para as mãos dele
Da boca sai um esgar, que pretende que seja sorriso
Em presença do inevitável
Tenta enganar o medo

Quando partes?

O coração tinha partido à desfilada
A realidade estava ali
O filho para si ainda menino
Quer perguntar
Mas uma garra esgana-a

Quando partes?

Da boca não sai nenhum som
Os olhos alternavam entre o rosto e farda
Mas o verde é esperança!
Dir-lhe-ão que o tempo passa depressa
Segundo a segundo, minuto a minuto

Quando partes?

Ela não houve a resposta
O grito que tem preso na garganta abafa todos os sons
Cada notícia de morte
Esmaga-lhe o coração
O peito dói como se amamentasse
Tantos anos depois a dor regressa

Quando partes?

Depois em silêncio
Desmancha os sacos
Corta e cose as bainhas
Cada ponto tece uma promessa
E pergunta para si baixinho
Quando regressas?

Juvenal Amado
8 de Março 2011
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7690: Estórias do Juvenal Amado (35): Rodéro, o corneteiro com falta de embocadura

Vd. poste de 13 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7426: As nossas mulheres (18): Mulher é ...mulher (José Brás)

Guiné 63/74 - P7910: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (78): Na Kontra Ka Kontra: 42.º episódio




1. Quadragésimo segundo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 7 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


42º EPISÓDIO

Aproxima-se o dia da boda e são os próprios noivos que decoram a capela com uma única espécie de flores: Narcisos poetas.

O casamento do Alferes Magalhães na
capela da Boa Nova.

O casamento é celebrado pelo pároco de Leça da Palmeira. São tiradas as fotografias da praxe e o almoço de casamento é servido no restaurante ali ao lado. Ao fim da tarde, o agora casal, segue para a viagem de núpcias. A intenção é irem ao longo da costa até ao Algarve. Porém no primeiro dia não passam de Coimbra…

De boas intenções está o inferno cheio, como se costuma dizer e é bem verdade: No segundo dia não “conseguem” passar de São Martinho do Porto e no terceiro, de Óbidos… Depois Lisboa foi uma autêntica barreira para continuarem mais para Sul. Para isso também contribuiu muito o terem ficado alojados num Hotel em plena Baia de Cascais, local espectacular que ele conhece muito bem. No curso intensivo sobre Informações que tinha tido em Lisboa antes de ir para a Guiné, tinha ficado alojado na messe dos Altos Estudos, em Pedrouços, perto de Cascais.

Nos dias que aí se mantêm, sempre lhes servem o pequeno almoço na varanda do quarto após o que rumam à capital onde muito há que ver. Não deixam de ir à feira da ladra, outro sítio que o Alferes conhece bem pois é nas imediações que se situa o “Casão” da Manutenção Militar e também o departamento onde o então Aspirante Magalhães frequentou o tal curso intensivo.

Já de regresso ao Porto, resolvem parar no “Pedro dos Leitões” pois ambos gostam muito de leitão à Bairrada. Quando estavam a deliciar-se com tal petisco notam que na maioria das mesas se come pescada ou bacalhau. Acham muito estranho ir àquele local e não comer leitão. Seguem viagem. Chegados a casa dos familiares comentam o caso do restaurante. Resposta imediata:

- Então não sabeis que hoje é Sexta-feira Santa? Como o amor é cego…

Até acabarem as férias da Páscoa da agora esposa de Magalhães Faria, os dois aproveitam todas as horas vagas da mulher para conhecerem melhor o Minho, com o seu verde inconfundível.

Quando dá por ela, o nosso Alferes já está metido num avião a caminho da Guiné, mas pouco tempo está em Bafata e, na Guiné. Acaba a comissão e regressa à Metrópole, agora no navio “Carvalho de Araújo”, mais um cargueiro adaptado para o transporte de tropas.

Chegada do navio Carvalho Araújo ao Funchal.

Passa pela ilha da Madeira que não conhece e aproveita as seis horas disponíveis para, numa excursão encomendada ainda do barco em alto mar, visitar o que é considerada a paisagem mais espectacular da Madeira: A Eira do Serrado de onde se vê a povoação do Curral das Freiras, uns setecentos metros por baixo de uma escarpa quase na vertical.

Madeira. O Alferes Magalhães na Eira do
Serrado com o Curral das Freiras lá ao fundo.

Em Lisboa, o ainda Alferes Magalhães, desembarca por volta das nove da manhã e como era de rendição individual, toma um táxi, leva as malas à Estação de Santa Apolónia onde as deposita e sempre no mesmo táxi vai aos Adidos e à sua Unidade de Mobilização, o RAL 1, tratar da sua desmobilização. Chega novamente a Santa Apolónia, paga a corrida de toda a manhã com uma nota de cinquenta escudos e ainda tem tempo para almoçar um óptimo coelho de cebolada, num restaurante ao lado da estação.

Porque do barco, por questões de segurança, não se podiam mandar telegramas, apenas receber, o agora simplesmente Magalhães Faria não pode avisar ninguém da sua chegada, pelo que aparece no Porto de surpresa.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P7905: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (77): Na Kontra Ka Kontra: 41.º episódio

Guiné 63/74 - P7909: O Nosso Livro de Visitas (106): Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista no CAOP 1

1. Mensagem de Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do CAOP (Chão Manjaco), com data de 5 de Março de 2011:

Boa tarde colegas
Só ultimamente tenho entrado no blogue, mas sinceramente como não sou nenhum perito em informática é-me muito difícil compreender como isto funciona. Agora que estou reformado e tenho vagar, vou tentar descobrir.

Vi as várias noticias do massacre no CHÃO MANJACO, onde os 3 Majores e Alferes foram assassinados. Eu pertencia ao CAOP, era Cabo Telegrafista e estava sempre em contacto com os referidos oficiais.

Alguém do Agrupamento lhes prestou uma homenagem por escrito e deu-me uma fotocópia que eu guardei nos meus arquivos, e que junto para ser inserida no blogue se acharem conveniente.

Gostava de encontrar os seguintes camaradas, que além dos referidos oficias, também faziam parte do CAOP:

Alf Mil Giesteira, Fur Mil Bento, o Lisboa, o Nunes, o 2.º Cabo Faria, José Carlos e outros que agora não me lembro, pois fomos todos em rendição individual e éramos cerca de uma dúzia.

Por agora é tudo. Aguardo noticias.

Cumprimentos
Manuel Alberto Cunha Bento
manuelben@gmail.com
Telem 969 609 701


Majores Joaquim Pereira da Silva e Raul Passos Ramos, Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves e Major Magalhães Osório
Foto: Maria da Graça Passos Ramos / Círculo de Leitores. In: ANTUNES, J.F. - A Guerra de África: 1976-1974. Vol. I. Lisboa: Círculo de Leitores. 1995. p. 373. (Com a devida vénia...).



2. Comentário de CV:

Caro Manuel Bento, muito obrigado pelo teu contacto e pelo envio da homenagem escrita feita aos camaradas, barbara e gratuitamente, assassinados no Chão Manjaco no dia 20 de Abril de 1970, tinha eu apenas três dias de Guiné.
Aquilo não foi um acto de guerra, foi um puro assassínio a sangue frio.

Esperemos que venhas a encontrar os camaradas que estiveram contigo no CAOP, como no teu tempo se designava, já que no dia 1 Agosto de 1970 passou a CAOP Oeste e poucos dias depois, no dia 22, a CAOP 1.
Temos na tertúlia um camarada, o ex-Alf Mil António Graça de Abreu, que esteve no já CAOP 1, entre 1972 e 1974.

Se quiseres aceitar, ficas desde já convidado a  integrar a nossa tertúlia, bastando para tal que nos envies uma foto tua actual e outra do tempo de tropa.
Diz-nos quando foste e quando regressaste e se estiveste sempre no CAOP em Teixeira Pinto.
Conta-nos uma pequena história para começares a participar, juntando algumas das fotos que tens guardadas.

Aceita um abraço em nome da tertúlia
O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

Guiné 63/74 - P7908: Parabéns a você (224): António Marques Lopes, Coronel DFA (Reformado), ex-Alf Mil da CART 1690 e CCAÇ 3 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

08 DE MARÇO DE 2011


Caro camarada Marques Lopes*, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.

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Notas de CV:

(*) A. Marques Lopes, hoje Coronel DFA na reforma, (Guiné 1967/69) foi Alf Mil na CART 1690 que esteve em Geba e na CCAÇ 3 que esteve em Barro.

(*) Marques Lopes tem um Blogue "Coisas da Guiné", dedicado às suas lembranças do tempo de guerra e já fora dela, nas suas palavras.

(*) 8 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5950: Parabéns a você (85): A. Marques Lopes, mouro de Lisboa disfarçado de morcão em Matosinhos faz hoje 66 luas... (Os Editores)

Vd. último poste da série de 1 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7881: Parabéns a você (223): Fernando Chapouto, Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7907: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (5): Há festa na tabanca...

 .
Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca >  1970  > Convívio no bar de sargentos, em meados de 1970 (ainda estávamos em lua de mel, a CCAÇ 12, e os "piras" do BART 2917, aqui representados pelo 2º Comandante, Maj Art Anjos de Carvalho, e o 1º Sargt Art Fernando Brito... As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do Carlão; à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do Major de operações B.B. (Barros Bastos) e à sua direita, a mulher do Coelho, o Fur Mil Enf da CCS/BART 2917. Não me parece que tivesse sido o jantar de Natal, ou coisa parecida: nessa altura, as relações com o major Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão,  eram muito tensas... Inclino-me mais para uma festa de anos, logo no princípio da chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852... Pede-se ao pessoal da CCAÇ 12 e do BART 2917, para completar as legendas...(LG)




"Aqui do lado direito: 1º o falecido Rodrigues [Alf Mil do 4º Gr Comd da  CCAÇ 12], a seguir o Carlão [Alf Mil do 2º Gr Comb da CCAÇ 12], em 3º o Branquinho (de Évora) [ Fur Mil da CCAÇ 12, do 1º Gr Comb] e do lado oposto parece-me ver o 1º sarg Brito (tendo em atenção as fotos anteriores, à sua direita, encoberta, a mulher do Carlão), o maj Anjos de Carvalho [2º comandante do BART 2917]. Que raio de jantar terá sido este? Já não me lembro. Oficiais do Bart junto com sargentos da CCAÇ12?" (Legenda: Humberto Reis)




"Ao fundo brilham os óculos do 2º sarg Piça, á direita com a boina no ombro o ex-fur Mil Enfermeiro do 1917, o Coelho (era de Évora), à direita do Piça o 1º sarg da engenharia ( tal que dizia "pró Xime? Vão lá os cabos que são novos")... Reconheço-me eu com a minha pera, ao lado do camarada o que está com o copo na boca, e o que está de frente e ao lado, com bigode, já não me lembro quem são. [Em primeiro plano, de perfilç, de bigode o Vacas  de Carvalho, o comandante do Pe l Rec Daimler]." (Legenda do Humberto Reis)

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


 Fotos do Álbum do Vitor Raposeiro (ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, de rendição indiviual, que passou por Aldeia Formosa, Bambadinca, Bula e Bissau, 1970/72) (*).
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Nota de L.G.:



Guiné 63/74 - P7906: Convívios (297): Almoço/convívio do pessoal da CART 2519, dia 7 de Maio de 2011, no Moita do Ribatejo (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:
CART 2519 OS MORCEGOS DE MAMPATÁ OS COIRÕES

ALMOÇO/CONVÍVIO
Fazemos este ano 40 anos que chegámos da Guiné, vamos comemorar esta data no dia 7 de Maio de 2011 na Quinta do Branco – MOITA DO RIBATEJO, com concentração dos Coirões junto às instalações da CP.
Programa
10h00 – Início da concentração (Largo da Estação da CP)
12h00 – Recepção na Quinta do Branco
12h30 – Entradas e aperitivos na esplanada
13h00 - Almoço servido no (Salão)
15h00 – Baile
17h00 – Abertura do Bufete (lanche)
18h00 – Partir do bolo e espumante
19h00 – Encerramento
Almoço – Sopa do Mar, Vitela assada c/batatinhas assadas e legumes, Gelado á Chefe. Bebidas – Vinho Tinto e branco, Cerveja, sumos e águas, café e digestivo.
Haverá – Imperial, sumos e águas durante a tarde. Bufete (Lanche) – Camarão, Leitão, Lombo de Porco, Franguinhos, Presunto, Carnes frias, Enchidos, Saladas várias, Pastelaria e Doces vários.
Nota – Os Whiskys e Aguardentes velhas não estão incluídos.
Custo p/pessoa: 35 Euros.
Crianças até aos 10 anos: 17,5 Euros.
Crianças até aos 4 anos: Estão isentas.
Transportes
Os camaradas que optarem por virem de comboio, tanto do Norte como do Sul, devem utilizar a Estação do Pinhal Novo, com ligação á MOITA DO RIBATEJO.
A comissão
Mário Pinto...... Telef. 212051384 ou 931648953
Inácio................ Tel 922094072 ou 965268234
Edmundo.......... Tel 963735598
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P7905: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (77): Na Kontra Ka Kontra: 41.º episódio




1. Quadragésimo primeiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 6 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


41º EPISÓDIO

Os dias vão passando e em determinada altura o Ibraim confidencia ao amigo que pretende ir para a Metrópole trabalhar. O pai, Régulo de Canquelifá, estaria disposto a ajudá-lo com dinheiro. O Alferes, medindo bem as palavras, pois não quer criar outra situação de melindre, diz-lhe que na Metrópole a vida não está fácil, principalmente para um africano e que ficaria lá totalmente desinserido do resto da sociedade. Enriquecer só com o fruto do trabalho será uma ilusão.

Pareceu ao Alferes que o amigo não gostou das suas advertências dado que nos dias a seguir deixou de o ver pelo cinema. Passam duas semanas sem o Ibraim ser visto. Avoluma-se no Alferes a ideia de que o amigo estivesse novamente agastado com ele.

Numa ida ao cinema onde ia ver o “Marnie” do Hitchcock, novo “NA KONTRA” com o amigo que explicou o motivo da sua ausência, concluindo o Alferes que o Ibraim não tinha nada contra ele.

O Ibraim tinha sido chamado a Bissau para prestar provas, pois tempos atrás, tinha concorrido a um curso para Pára-quedistas.

Muito mais tarde soube que o Ibraim não tinha sido admitido no curso apesar de parecer física e intelectualmente muito apto. Consequências dos exames médicos? Se assim foi nada disse pois talvez quisesse ocultar que tinha qualquer problema se saúde.

Março de 1970. O Alferes Magalhães vai novamente de férias, desta vez para se casar. O Alferes tinha conhecido em Bafata um soldado africano, o Seidi, que ia ser julgado em tribunal militar em Bissau. Este pedira-lhe que o fosse ver à prisão quando passasse por Bissau, onde sabia que iria ficar preso.

Chegado à capital, de imediato vai a Santa Luzia onde sabe que fica a prisão. Quer resolver logo o prometido. Já perto da prisão ouve chamar. Era o Seidi, que depois de muitas queixas quanto ao tratamento dos presos, e uma vez que era muçulmano, lhe pede para interceder junto do Major responsável pela prisão, no sentido de não lhe darem vinho às refeições substituindo-o pelo correspondente “patacão” para poder comprar o que mais necessita.

Despedem-se e o Alferes vai fazer o pedido ao Major. Ainda não tinha acabado de explicar a situação e já o Major aos berros, perfeitamente possesso:

- Não conhece o RDM? Não sabe que não se podem visitar presos sem a minha autorização? O que é que o nosso Alferes faz aqui em Bissau?

- Vou de férias à Metrópole.

E aos berros continuou:

- Ia, ia.

Em circunstâncias normais o Alferes teria reagido mas, vendo a sua vida, e não só a sua, a andar para trás, comete o que ele considera a maior humilhação da sua vida.

- Mas, meu Major, não vou só de férias. Vou casar e está tudo marcado para o casamento.

O Major como que limpa a espuma, qual besta enraivecida e manda o Alferes embora. Da tropa também faz parte isto.

Não acontecem mais peripécias e o Alferes Magalhães embarca no Boing 727, rumo à Metrópole. Revê novamente com agrado a costa africana e após a prevista escala na Portela chega ao Porto.

Desta vez não tem dúvidas de quem estará à sua espera. Como sabe que depois das férias já vai estar pouco tempo na Guiné sente-se como se já estivesse em casa definitivamente.

Como o casamento está marcado para quinze dias depois, aproveita para, juntamente com a noiva, reverem a família no Nordeste Transmontano, de onde ambos são oriundos, cada um de sua aldeia: Uma quase debruçada sobre o fértil Vale da Vilariça, a outra nas encostas do “selvagem” rio Sabor. Quer um quer outro gostam muito das suas aldeias, principalmente pela alternância de montes e vales que caracterizam a região. Magalhães Faria, embora gostando muito da Guiné, só lhe põe um defeito: Não ter o relevo que há em Trás-os-Montes.

O vale da Vilariça envolto em nevoeiro.

Revistas as respectivas famílias, dão grandes passeios pelas encostas do rio Sabor. Visitam o castelo roqueiro da Marruça de onde se aprecia uma paisagem única em Portugal: O rio serpenteando ao fundo da ladeira e, de onde em onde, antigos moinhos. Nas imediações não há viv’alma e o local convida ao amor… Regressam já noite à povoação.

O rio Sabor visto do Castro da Marruça.

É preciso ultimar os preparativos do casamento e ambos voltam ao Porto.

Aproxima-se o dia da boda e são os próprios noivos que decoram a capela com uma única espécie de flores: Narcisos poetas.

O casamento do Alferes Magalhães na
capela da boa Nova.

O casamento é celebrado pelo pároco de Leça da Palmeira. São tiradas as fotografias da praxe e o almoço de casamento é servido no restaurante ali ao lado. Ao fim da tarde, o agora casal, segue para a viagem de núpcias. A intenção é irem ao longo da costa até ao Algarve. Porém no primeiro dia não passam de Coimbra…

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7896: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (76): Na Kontra Ka Kontra: 40.º episódio

domingo, 6 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7904: Recortes de imprensa (40): Ruínas de uma guerra e ódio destruidor de uma liberdade não preparada (D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, Diário de Aveiro)

1. Recorte do jornal Diário de Aveiro enviado por  Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), em mensagem do dia 1 de Março de 2011, que publicamos com a devida vénia ao referido Jornal e ao autor do artigo de opinião nele contido:



Clicar na imagem para ampliar
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Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7765: Recortes de imprensa (39) "Não queria morrer sem voltar à Guiné... E já voltei" (J. Casimiro de Caravlho, JN - Jornal de Notícias, 6/2/2010)

Guiné 63/74 - P7903: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (4): Em Bula, com o Cap Cav Salgueiro Maia, e com o Gen Spínola



Guiné > Região do Cacheu > Bula > O Cap Cav Salgueiro Maia (comandante da CCAV 3420, Bula, 1971/73) observando a visita do Gen Spínola a Bula em Fevereiro ou Março de 72. 



Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1972 > Visita do Gen Spínola em Fevereiro ou Março de 72 



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa  > Junho ou Julho de 1970 > Operação helitransportada com tropas especiais...

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Fotos do Álbum do Vitor Raposeiro (ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, de rendição indiviual, que passou por Aldeia Formosa, Bambadinca, Bula e Bissau, 1970/72) (*).



1. Mensagem de Vitor Raposeiro, com data de 19/11/2009:


Companheiros:


Ontem quando me referi ao dia 13 de Janeiro está claro que foi em 1971 e não em 1970 (*), pois neste ano ainda não tinha chegado à Guiné.Eu acho que vocês perceberam o lapso. 

Aqui vão mais algumas curiosidades,  não de Bambadinca,  mas tambêm são interessantes para a história da Guiné daquele tempo. Vivo em Setúbal e conheço bem o Durães.

Primeira  foto: visita do Gen Spínola a Bula em Fevereiro ou Março de 72. As fotos que fiz foram com o zoom no máximo pois fomos proibídos (toda a tropa) de sair do quartel porque ele queria provar aos jornalistas estrangeiros que o povo estava com ele e o resto era propaganda anti-lusitana.

Segunda foto: o Capitão Salgueiro Maia e outros oficiais e sargentos observam a cena em cima de um dos abrigos do quartel. Quando tiver tempo e pacência conto-vos uma história que se passou entre mim e o Cap Salgueiro Maia que só no dia 25 de Abril eu percebi e dei valor.

Terceira foto,  tirada em Junho ou Julho de 1970. Refere-se a uma grande operação helitransportada com tropas especiais,  etc. Observe-se a arma que o Parafuso está a usar.Tenho muito mais fotos desta operação.Bom por agora já

Chega,  já me doem as costas de tanto escrever. Saudações do Vitor
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7898: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (3): O malogrado Fur Mil At Inf Luiciano Severo de Almeida (CCAÇ 12, 1969/71)

sábado, 5 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7902: Notas de leitura (213): Jardim Botânico, de Luís Naves (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2011:

Queridos amigos,
É bem agradável entrar numa livraria e encontrar um romancista português que se embrenha no terrível conflito político-militar 1998-1999 e escreve um belo romance. Luís Naves nasceu em 1961, é repórter e escreve sem a nostalgia do combatente. Devemos ter orgulho nesta escrita e neste multiculturalismo.
Uma saudação muito especial a este Luís Naves, um novo tipo de camaradagem da e com a Guiné.

Um abraço do
Mário


Jardim Botânico (1):
Um belo romance português sobre o conflito guineense de 1998-1999


Beja Santos

Por vezes, o repórter afeiçoa-se aos lugares onde, por dever e inerência da velocidade dos despachos, passa meteoricamente; acontecimentos há que forçam a um olhar mais demorado, a expectativa acicata a curiosidade, reproduz as perguntas, estimula a imaginação. E, mais tarde, numa vazante imprevista, o jornalista começa a preencher com paciência a tela vazia. Temos romance, o que visto e ouvido é o barro trabalhado da fantasia que arrebatou o captador de notícias.

Luís Naves é jornalista e fez reportagens na Guiné-Bissau, Paquistão e Coreia do Norte. “Jardim Botânico” é um romance que tem como palco a Guiné-Bissau durante o conflito que estalou em Junho de 1998. Ainda hoje a Guiné-Bissau não se recompôs deste cataclismo. Mas naqueles dias, as populações puseram-se em fuga, acirraram-se ódios, em espiral sucederam-se os dramas. Para quem tudo aquilo observava, aquelas catástrofes humanas podiam despertar o tal barro da fantasia. Luís Naves tomou nota dessa gente à deriva, registou todo esse tempo de incerteza, a começar por uma capital cercada onde um ditador fantasmático foi forçado a admitir que o seu poder absoluto fora absolutamente contestado. “Jardim Botânico” é um belo romance, merece ser apreciado, ficciona superiormente um tempo de dilúvio que ainda hoje mantém um povo traumatizado (“Jardim Botânico”, por Luís Naves, Quetzal Editores, 2011).

Há qualquer coisa de realismo mágico no arranque da obra: “Uma misteriosa forma de medo ocupa a mente daqueles que viveram situações assustadoras. O medo, por ser contagioso, pega-se de um homem a outro ainda mais depressa do que as banais constipações. Pode ser por contágio instantâneo ou propagar-se como doença silenciosa, com a lentidão que usam os micróbios. O medo é sempre extravagante, como os chapéus de senhora, os vestidos de noite e a vegetação subtropical. Quer dizer, tem aparência firme, mas na realidade consiste num impulso que se decide num instante”. O que para o caso interessa é que no dia 9 de Junho de 1998 quando um cortejo de carros oficiais se dirigia para o aeroporto começou um tiroteio. Houve mortos e começaram as retaliações. O medo tomou conta daquela gente, da apatia ou da disfarçada indiferença, passou-se para o pânico e daí as colunas de civis em fuga, como se lê no romance: “Tudo o que tinha rodas avançou rumo ao interior (jipes, camiões, toca-tocas, bicicletas e carrinhos de bebé). Mas o grosso da coluna marchava. Havia mulheres de trouxa à cabeça e crianças agarradas à saias; um formigueiro em marcha, com fanatismo de insecto: os do meio sem saberem porque seguem aquele caminho, os da frente nunca se sentindo os da frente; pois que cada um vai atrás do outro, esse outro de ainda outro, e assim sucessivamente, numa correnteza. Viam-se pernas finas e pés descalços, braços empunhando objectos inúteis, um rádio, a ruína de um motor, ripas de madeira, colchões, pedaços soltos, a cadeira viajando no topo do monte de roupa, como se fosse um trono. E foram vistos velhos de mãos vazias caminhando em sentido oposto; veteranos da guerra colonial, que se dirigiam para os quartéis em torno do aeroporto. Foi assim que os rebeldes engrossaram as forças. Crescia a maré da fuga, vinha o refluxo do passado. É no meio do pesadelo que se ouvem os silvos, os estrondos, a multiplicidade dos disparos. Edifícios a desfazerem-se, desmembrados pelas nuvens das explosões, refugiados a chorar, num espectáculo dantesco muitas pessoas conseguiram embarcar no Ponta de Sagres, que partiu rumo a Dakar. Começara o conflito político-militar. O barco atraca, é altura do romancista apresentar personagens: Daniel está no cais, é ali que repara numa ruiva com aspecto de solidão abandonada, ela é a médica russa, o seu nome Ana. Ela está indocumentada, tem um passaporte soviético caducado. Estão os dois à deriva, ambos decidem voltar à Guiné, conseguem formar um grupo, marcham em direcção ao desconhecido. Mais personagens estão apresentados. Por exemplo, o doutor Fonseca: “Era um mulato gordo, com os dentes desalinhados e um sorriso simpático. Trabalhara como secretário do Estado e era ligado ao presidente. Dois anos antes, tinha sido afastado do poder mas mantivera-se no partido e ainda morava numa das boas casas do centro da cidade. Agora, tentava montar um negócio de importações, mas fora surpreendido pelo golpe militar quando estava quase a convencer um sócio senegalês a investir numa empresa mista”. Há outras figuras como Nelo, a mais famosa voz da rádio em Bissau, uma sua prima que leva um ramo de flores, de nome Maria Adilia, vai participar no enterro da filha. Viajam num sept-places, foi difícil negociar o preço para levar aquela gente até à Guiné. Seguem-se as peripécias da viagem numa terra esvaziada, aqueles corpos humanos, suados, vão colados uns aos outros. Cabe aqui uma descrição da crueza de todo aquele território, daqueles estados de alma, daquela natureza dominada por um calor anestesiante: “Entraram de novo em campos infindos, sem movimento; na terra esvaziada, havia por vezes manchas de capim seco; um rasgão de nuvem branca como se fosse um risco numa folha azul, o ar rodopiava e surgia uma miragem, ao fundo, zona tremente que se mistura com o horizonte, dando a impressão de uma lagoa distante. Durante quilómetros, a estrada serpenteava por bizarras colinas amarelas, terra de areia, mais plana e sem árvores. Depois, muito devagar, chegaram a uma paisagem denominada por grandes pedras partidas, rocha visível, como se o esqueleto do mundo tivesse emergido das profundezas da carne. Pararam. O silêncio. Não havia ninguém nas bordas da estrada. À volta, arbustos ligeiros, rastos. E sobre o resto pairava o reflexo das ondas de pó, entre branco e transparente, que a luz pesada do sol incendiado transformava em véu asfixiante”.

Mais peripécias, desta feita negociações com guardas senegaleses que afirmam que o motorista não pagou o seguro. Já saíram de Koldá, estão perto da fronteira. É nisto que aparece Ferreira Gomes, o sócio de Daniel. A viagem prossegue, chegam a Bafatá.

Como diz o autor, “Esta é a história de 4 pessoas no meio da catástrofe humana”. Era preciso que alguém escrevesse sobre aquela guerra e todos aqueles dramas que, bem vistas as coisas, foram uma curta notícia durante alguns dias em certas agências noticiosas. É uma história onde o medo pesa. E, talvez a coisa mais importante, há que saudar o jornalista e o repórter português que enfrenta com grande galhardia este desmedido jardim botânico que é a Guiné.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7899: Notas de leitura (212): Angola 61 - Guerra Colonial - Causas e Consequências, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7901: Convívios (296): Pessoal da CCAÇ 3518, dia 4 de Maio de 2011, no Funchal (Daniel de Matos)

1. Mensagem de Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1971/74), com data de 2 de Março de 2011:

Prezado Camarada
Agradecendo a respectiva divulgação no blog, quando possível, junto envio os dados relativos ao convívio que iremos realizar em Maio próximo, no Funchal.

Um abraço
Daniel de Matos
(Os Marados de Gadamael)


CONVÍVIO DA COMPANHIA
DE CAÇADORES INDEPENDENTE 3518

“OS MARADOS DE GADAMAEL”
GUINÉ 1971-1974
37º ANIVERSÁRIO DO REGRESSO



No FUNCHAL (Madeira), DIA 14 DE MAIO



HOTEL JARDINS DA AJUDA
(RUA NOVA DO VALE DA AJUDA)

INSCRIÇÕES de preferência até 15 de Abril:

Contactar:

J. Gouveia, 4º pelotão, tel 966 856 171 ou 291 522 924

Jarimba, 3º pelotão, tel 963 757 509

Manuel Teixeira, 1º Pelotão, tel 962 811 224, ou 291 623 567 entre as 19h30 e as 21 horas
e-mail: teixeirabelmira@homail.com

Reserva de quarto no próprio Hotel, até 15 de Março (opcional, diária 50 euros). 

Contacto: Sr. José Fernandes
tel. 962 307 053 ou 291 708 000; fax 291 708 001

Concentração às 16 horas junto à Câmara Municipal do Funchal (Praça do Município) ou às 18h30 horas junto ao Hotel Jardins da Ajuda
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7878: Convívios (211): XXII CONVÍVIO DO BCAÇ 2884, em 28 de Maio na Régua (José Firmino)

Guiné 63/74 - P7900: Agenda cultural (113): Apresentação de Lugares de Passagem, de José Brás, sábado, 12 de Março de 2011, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras em Montemor-o-Novo

Leva-se ao conhecimento da tertúlia mais uma apresentação do livro Lugares de Passagem, do nosso camarada José Brás, desta vez na sua terra natal (ou melhor, adoptativa), Montemor O Novo, no próximo dia 12 de Março de 2011, sábado, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras, Rua das Flores,  em Montemor-o-Novo.


CONVITE


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Notas de CV:

Vd. postes de:

7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa

11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)

12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
e
14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7891: Agenda cultural (112): Convite para o lançamento de Mulher Grande de Mário Beja Santos, no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18h30 na Livraria Bertrand Chiado

sexta-feira, 4 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7899: Notas de leitura (212): Angola 61 - Guerra Colonial - Causas e Consequências, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2011:

Queridos amigos,


Interessante e decepcionante, é o comentário curto após a leitura de um documento que devia requerer mais exigência aos investigadores. Enfim, uma corrida apressada para aparecer nos escaparates em cima do acontecimento do cinquentenário.
Dalila Mateus, veremos noutras recensões, é uma estudiosa dos arquivos da PIDE, talvez sem rival. Mas não se pode tratar tão ligeiramente o universo das consequências e desenvolvimento da guerra que mudou o curso da história de Portugal.
Trata-se de uma investigação de grande fôlego, é uma atribulada maratona que requer paciência e cabeça fria.


Um abraço do
Mário


Angola 1961: causas e desenvolvimento da guerra colonial

Beja Santos

“Angola 61, Guerra Colonial: causas e consequências, o 4 de Fevereiro e 15 de Março” é título da obra assinada por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Texto Editores, 2011). Trata-se de uma investigação que tem o reconhecido mérito de proceder ao levantamento dos acontecimentos da guerra em Angola predominantemente à luz de uma fonte até agora muito pouco consultada na generalidade deste tipo de estudos: os arquivos da PIDE.

Os autores procuram a compreensão do início da guerra mediante o enquadramento dos seus antecedentes mais próximos, a África de 1960, o processo da independência do antigo Congo Belga, dando-nos uma água-forte do colonialismo praticado em Angola. Em seguida, reconstroem a revolta da Baixa de Cassange, descrevendo as condições de opressão, exploração e miséria dos cultivadores de algodão. Segue-se a resposta em termos de terror preto e branco. A apreciação do levantamento do 4 de Fevereiro e a sublevação do 15 de Março têm uma interpretação singular graças à consulta dos arquivos de Salazar e da PIDE, assentará aqui um dos aspectos mais significativos desta investigação. Com efeito, há um uso e recurso de fontes de grande importância e nalguns casos temos verdadeiras novidades interpretativas. O major Rebocho Vaz, comandante da 4ª Companhia de Caçadores Especiais faz um relato contundente da actividade da COTONANG, temos aqui um libelo dos trabalhos da cultura do algodão, sujeitos a uma exploração desenfreada. São postas em equação as diferentes versões do 4 de Fevereiro de 1961, a primeira grande acção pró-independentista, o início da guerra colonial. Quanto ao 15 de Março, a PIDE e as autoridades administrativas não foram apanhadas de surpresa, os autores documentam minuciosamente as responsabilidades da UPA e a resposta ao terror negro.

Na segunda parte do livro (Consequências e Desenvolvimentos da Guerra Colonial), os autores enveredaram por trilhos de investigação e tratamento da documentação fazendo leituras perigosamente abreviadas, se não mesmo levianas ou pretensiosas. Não há nada de novo sobre a resposta do regime de Salazar e a descrição do chamado “golpe Botelho Moniz”. O chamado “caso Deslandes” é uma originalidade, é bem provável que venha a dividir os historiadores. O general Venâncio Deslandes, novo Governador-geral de Angola, aparece como um visionário, um heterodoxo do regime, e Adriano Moreira como um conformista, um ultra e um perfeito sicário de Salazar. Seguem-se descrições apressadas sobre a posição dos EUA e a aproximação do regime de Salazar aos regimes racistas da África austral. Quanto à evolução e efeitos da guerra colonial, somos atirados imprevistamente para o agravamento dos teatros de operações da Guiné e de Moçambique.

De novo, somos convocados para as informações que a PIDE vai fornecendo às direcções políticas e militares, com destaque para os acontecimentos que envolveram Guidage e Gadamael. Ao tempo, Fragoso Alas, responsável pela delegação da PIDE na Guiné envia uma carta à Direcção-Geral: “Praticamente perdemos a vantagem da Força Aérea e não dispomos de meios aéreos que possam constituir força de dissuasão ou que nos permita castigar duramente as bases de apoio. Temos de encarar como possível que o PAIGC venha, em curto prazo de tempo, a estabelecer novas áreas libertadas e a dificultar ou impedir o trafego aéreo e até mesmo aniquilar algumas guarnições, que agora passam a não poder contar com o apoio aéreo para as defender, evacuar os feridos ou reabastecer”. Nesta mesma altura, o inspector Galante, chefe do posto de Leiria da PIDE, envia para a Direcção-Geral uma informação sobre a situação militar na Guiné. Diz ter obtido, “de fonte fidedigna”, a notícia que o general Spínola se preparava para deixar a Guiné, território que se encontrava numa situação crítica. O general informara um amigo de que “a situação era de tal gravidade que esperava se desse um colapso” tendo advertindo o governo para tal hipótese. E prevendo a impossibilidade de resistir ao poderio militar do PAIGC, teria mesmo “tentar entabular negociações com o grupo de Amílcar Cabral”. Depois de, em Setembro de 1973, os guerrilheiros do PAIGC terem atacado uma coluna entre Teixeira Pinto e Bissau, a PIDE envia para Lisboa um comentário cáustico, dizendo que a inércia dos militares portugueses é praticamente total.

A enumeração dos efeitos da guerra colonial aparecem num relato quase telegramático, com todas as desvantagens que este tipo de olhar apressado acarreta. Aliás, o texto da conclusão repete, em grande parte, dados já expostos no elenco das causas e consequências.

Se é de indiscutível importância direccionar todo este tipo de investigações mergulhando nos arquivos de Salazar e da PIDE, não deixa de causar surpresa como uma investigadora com os créditos de Dalila Mateus correr como gato pelas brasas sobre as causas e consequências da guerra colonial. Não se pode perante o “acontecimento histórico mais importante da segunda metade do século XX português” fazer uma leitura exaustiva dos acontecimentos que ocorreram exactamente há 50 anos atrás, através de um olhar cuidado e, quiçá, original e de seguida amontoar elementos consabidos com uma relativa leviandade e irrelevância, não se pode aceitar que a massa dos dados implicados se sujeite a uma versão redutora de 14 anos de guerra que parecem levar inexplicavelmente à génese e triunfo do Movimento das Forças Armadas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7883: Notas de leitura (211): Antologia Poética da Guiné-Bissau (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7898: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (3): O malogrado Fur Mil At Inf Luiciano Severo de Almeida (CCAÇ 12, 1969/71)


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Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca >  1970  >  Em destaque o malogrado Fur Mil At inf Luciano Severo de Almeida,  da CCAÇ 12, que morreria, em circunstâncias violentas, depois de regressar à metrópole. Até agora tínhamos apenas um ou duas fotos dele. Alguém privou com ele, depois da sua/nossa pasasagem à vida civil ? Não sei em que data morreu nem por quê... Vivia na margem sul do Tejo. Na última foto, a preto e branco, reconheço o Alf Mil Abílio Machado, da CCS/BART 2917 (1970/72), o nosso querido Bilocas. É o primeiro à esquerda, frente ao Luciano.  Lembro-me do Luciano como um "puto reguila e temperamental"...

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7895: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (2): O fatídico dia 13 de Janeiro de 1971

Guiné 63/74 - P7897: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 1 de Março de 2011:

Caros amigos e Camaradas
Junto segue um texto acerca do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, do Concelho de Loures, à época, que publicarão caso achem oportuno e de interesse.

Vai com conhecimento às Câmaras Municipais de Loures e Odivelas, cujo território era na altura, Loures.
Em BCC segue para os camaradas que estiveram na Guiné e dos quais disponho de contacto electrónico.

Abraço fraterno e camarigo para todos
José Martins

Esfera Armilar - Símbolo da Universalidade

© Foto José Martins


Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures

No dia 8 de Dezembro de 1929, Domingo e Feriado Nacional – Festa de Nossa Senhora da Conceição e Padroeira de Portugal desde 1640 - a população do concelho de Loures, manhã cedo, começa a dirigir-se à Praça da Liberdade onde, em tempos existiu o Palácio do Marquês da Fronteira, conhecido por Casaréus, destruído por um incêndio e onde, em 1916, foi erigido o actual edifício da Câmara Municipal.

Inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

O então concelho de Loures, criado em 26 de Julho de 1886, era composto pelas freguesias de Apelação, Bobadela, Bucelas, Camarate, Fanhões, Frielas, Loures, Lousa, Sacavém, Santa Iria de Azóia, Santo Antão do Tojal, São Julião do Tojal e Unhos (ainda não tinham sido criados as freguesias de Portela, Prior Velho, Santo António dos Cavaleiros e São João da Talha), assim como as freguesias de Caneças, Odivelas e Póvoa de Santo Adrião, que hoje constituem o concelho de Odivelas (as freguesias de Famões, Olival Basto, Pontinha e Ramada foram criadas posteriormente).

Na Presidência da Republica Portuguesa estava o General António Óscar Fragoso Carmona, nomeado em 26 de Novembro de 1926, sendo o décimo primeiro Presidente da República Portuguesa e o primeiro do Estado Novo, sendo-lhe atribuída a patente de Marechal em 1947.

Recente era o Ministério (designação à época de Governo), o 52º, presidido pelo General Artur Ivens Ferraz, que foi nomeado e tomou posse em 08 de Julho de 1929 e foi exonerado em 21 de Janeiro de 1930, pouco mais de um mês depois deste acontecimento em Loures.

Voltando à Praça da Liberdade, mais concretamente ao jardim nela existente, que se encontrava engalanada e cheio de povo. Ao centro, da autoria do Senhor Fernando Soares, foi erigido um “monumento aos mortos da Grande Guerra, pertencentes ao Concelho. O monumento é simples, mas expressivo. Sobre alvenaria, simulando uma trincheira, está colocada uma peça de artilharia ligeira, apontada para o céu; junto dela, no rebordo da trincheira, espreitando o inimigo e pronto no último desforço, o sobrevivente do baluarte heróico; à retaguarda, inanimado, um camarada seu que dera já a vida na peleja” (excerto da noticia inserta n’O POVO, Diário Republicano da Tarde, do dia 9-XII-1929, página 4).

Pormenor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra - Loures
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011


Na frente do monumento, o nome daqueles que tombaram na Flandres, na Bélgica e em África:

• Manuel Pereira Félix, Soldado nº 128 do Batalhão de Telegrafistas de Campanha, natural de Bucelas, tombado em França.
• Joaquim Carlos, Soldado nº 720 da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Bucelas, tombado em França.
• Vicente do Nascimento, Soldado da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Bucelas, tombado em África.
• António Bruno dos Santos, Soldado nº 321 da 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia de Guarnição, natural de Fanhões, tombado em África.
• Joaquim Simões Castelo, Soldado nº 1204 do 1º Grupo de Companhias de Administração Militar, natural de Fanhões, tombado em França.
• José Lopes Gameiro, Soldado da 1ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Loures, tombado em França.
• Pedro Manuel Pereira, 1º Cabo 329 da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 2, natural de Póvoa de Santo Adrião, tombado na Bélgica.

Nomes dos Combatentes caídos na Grande Guerra do Concelho de Loures
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011

• Dionísio Pedro Mendonça, Soldado nº 316 da 4ª Companhia de Artilharia 1, natural de Póvoa de Santa Iria, tombado em África.
• José Rodrigues Beira Alta, 1ª Cabo nº 1931 do 1º Grupo de Companhias de Administração Militar, natural de Santo Antão do Tojal, tombado em França.
• Narciso Dias de Carvalho, Soldado nº 370 do 1º Companhias de Sapadores, natural de Santo Antão do Tojal, tombado em França.
• Jorge Alves, Soldado nº 758 da 3ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria 1, natural de Unhos, tombado em França.
• António Francisco Rosa, Soldado de Cavalaria 4, natural de Loures, tombado em África.

O monumento foi levantado graças a subscrição pública, como era habitual, com o apoio da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, do Governo Civil e da Comissão dos Padrões de Guerra.

A Comissão dos Padrões da Grande Guerra nasceu, em 3 de Dezembro de 1921, numa reunião levada a efeito na Sala Nobre da Escola do Exército estando presentes alguns combatentes sob a presidência do General Manuel de Oliveira Gomes da Costa, comissão que, durante quinze anos, procederia ao levantamento dos Padrões da Grande Guerra, não só no espaço metropolitano, mas também nas ilhas e colónias, além de vários monumentos no sector português, na Flandres. Promoveu as cerimónias de 9 de Abril e 11 de Novembro; organizou o museu de oferendas ao Soldado Desconhecido, no Mosteiro da Batalha; tomou parte na trasladação dos restos mortais do Soldado António Gonçalves Curado, do Regimento de Infantaria nº 28 (Figueira da Foz), tendo sido o primeiro militar português a cair no primeiro conflito mundial em 4 de Abril de 1917. Os seu restos mortais chegaram a Vila Nova da Barquinha, de onde é natural, ficando sepultado no monumento/sepultura que foi erigido na povoação, quando chegou em 31 de Julho de 1929. A Comissão foi extinta em 10 de Novembro de 1936.

O Monumento frente aos Paços do Concelho.
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011

A comissão Administrativa da Câmara Municipal, tendo à frente o 33º presidente, o Senhor Francisco Marques Beato (com mandato de 2 de Julho de 1926 a 6 de Outubro de 1931), procedeu à recepção dos convidados, no edifício da edilidade, acompanhando os mesmos para a tribuna de honra, erigida junto ao monumento cuja estrutura lembrava um castelo medieval, constituída pelos senhores Capitão Olímpio de Melo, em representação do Ministro da Guerra Coronel Amílcar Barcinio Pinto; Tenente Côrte-Real, representando o Ministro da Marinha Capitão-de-mar-e-guerra Luís António de Magalhães Correia; o Governador Militar de Lisboa, General Domingos de Oliveira; o Governador Civil de Lisboa, Tenente-coronel João Luís de Moura; o Comandante do Grupo de Artilharia Pesada nº 1, Coronel Monteiro de Barros, além de outras personalidades civis e militares.

Junto ao monumento a inaugurar, destacava-se o Estandarte da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, provavelmente dos primeiros actos oficiais a que esteve presente, já que foi aprovado e autorizada a sua utilização em 16 de Março de 1929, pela Portaria nº 5255.

No coreto já tinha tomado lugar a Banda Militar do Regimento de Sapadores de Caminho de Ferro. As corporações de Bombeiros Voluntários de Loures, Fanhões, Odivelas e Bucelas marcavam lugar na inauguração, alguns, muito provavelmente, na qualidade de bombeiros e combatentes, assim como as colectividades União Pinheirense, Academia Recreativa de Sacavém e Sociedade Zambujense. A Escola Agrícola da Paiã, assim como outras escolas do concelho, fizeram-se representar com alunos a professores.
Como era natural e previsível, os combatentes de Lisboa, Loures e Arruda, fizeram-se representar, largamente, pelos seus elementos, que tomaram lugar frente ao monumento.

Descerrado o monumento, que se encontrava coberto por um grande pano, com as cores nacionais, as bandas presentes executaram o Hino Nacional, seguido pelo terno de clarins que tocaram a marcha da continência. Os combatentes presentes levaram a mão ao peito, em continência/preito de homenagem, perante o esforço de todos os que tomaram parte no conflito e em sinal de respeito à memória dos que tombaram em campanha.

O Combatente Capitão Bastos Reis, no uso da palavra.
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

Como era hábito, hoje em parte caído em desuso, todos os homens descobriram a cabeça. No ar evolucionava um aeroplano do Grupo de Esquadrilhas de Aviação, que lançou flores e ramos de oliveira sobre o monumento e a população.

O Capitão Bastos Reis, em representação dos combatentes de Arruda dos Vinhos, disse: “a cerimónia que hoje se realiza neste concelho representa o pagamento de mais uma prestação da grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra, para com os seus concidadãos que, para honra de Portugal, perderam a vida nos campos de batalha de África e França. É este concelho que, dentro do distrito de Lisboa, tem a honra de pagar a segunda prestação dessa grande divida”.

Combatentes prestam homenagem aos camaradas caídos durante o conflito.
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

[Curiosamente estas palavras continuam actuais, apesar de terem sido proferidas há oitenta e dois anos e passadas que foram duas guerras, e muito principalmente em relação às últimas campanhas, em que Portugal esteve envolvido em África.]

Continuando a sua intervenção, recordou os momentos duros passados em campanha, as agruras das batalhas, o matraquear das metralhadoras, os rebentamentos dos obuses, o efeito dos gases asfixiantes, que ainda, nessa altura, minavam por dentro os militares atingidos, causando-lhes a morte prematura.

Afirmou, ainda, o orador: “a delegação que ali representava viera a Loures cumprir, apenas um dever” e incentivava os combatentes a juncar de flores, todos os anos, este monumento, em preito de homenagem e gratidão pelo sacrifício daqueles que tombaram pela Pátria Portuguesa.

Dirigindo-se às mães, dos combatente tombados, exaltou o seu sacrifico ao doarem um filho à Pátria, dizendo-lhes que eles seriam honrados pelas gerações futuras e que, para sempre, seriam lembrados como heróis.

Às crianças, instou-as a estudar a história deste país, para que conhecessem os heróis que, quando foram chamados, responderam Presente.

Usou também da palavra o Capitão Médico Bastos Reis, exaltando a memória dos que caíram na guerra, interpretando o seu sacrifício como das maiores manifestações de Amor Pátrio e à Liberdade.

Terminada a cerimónia, os convidados retiraram-se para os Paços do Concelho, onde foram obsequiados com um “copo de água”.

Desde que fizemos da zona a nossa residência habitual, e já lá vão mais ou menos trinta anos, nunca me apercebi que tivesse havido, junto a este monumento, qualquer cerimónia.

No entanto, há fotos que atestam que esses acontecimentos tiveram lugar. Os nossos camaradas de armas “avoengos”, não esqueçam que muitos dos nossos avós participaram neste conflito, aqui vinham prestar a sua homenagem aos que tinham tombado na guerra e aqueles que, lenta mas progressivamente, a morte levava para outros destinos, deixando sempre a saudade nos que ficavam.

E o pedido do Bastos Reis, o Capitão residente em Arruda dos Vinhos e que proferiu o primeiro discurso no acto de inauguração, já foi esquecido?

Sabemos que houve outras guerras – a II Guerra Mundial - na qual oficialmente não estivemos envolvidos, mas foram, na altura, destacadas tropas para as colónias, mormente Angola, Moçambique e Timor, e para as ilhas dos Açores e Cabo Verde, que se previa que fossem alvo de “cobiça” tanto pelas tropas aliadas como do eixo, para serem usadas como plataforma operacional.

Recordo, aqui e agora, num texto que escrevemos há já alguns anos, o último combatente português da I Grande Guerra a deixar-nos, com a idade de 107 anos:

No rescaldo da Batalha de La Lys - 9 de Abril de 1918 – é feito prisioneiro, pelas tropas alemãs, o Soldado José Maria Hermano Baptista (n. 1 de Maio de 1895 † 14 de Dezembro de 2002). Durante o combate foi ferido pelo que, impossibilitado de retirar cumprindo as ordens recebidas, se manteve nas trincheiras combatendo, até que foi aprisionado. Foi transportado para o Hospital de Friedrichsfed com uma perfuração na perna esquerda e lesões no braço esquerdo. Depois de recuperado foi transferido para o campo de prisioneiros da mesma cidade, onde lhe foi atribuído o nº 97.346. De regresso a Portugal, após a sua libertação, em 4 de Agosto de 1919 passou à disponibilidade e foi promovido ao posto de 2º Sargento por feitos em combate.

Este um dos muitos exemplos daquelas que nos precederam na defesa da Pátria e nas nossas próprias famílias.

Mais tarde, entra os anos de 1961 a 1974, muitos jovens ofereceram a sua juventude, como regularmente aconteceu na história deste país, para entregarem o corpo às balas, na defesa dos valores que lhes indicavam como valores inalienáveis.

Nós, os combatentes de ontem e de hoje, também respondemos a esse apelo e vimos, e quantos de nós não foram os receptadores das suas últimas palavras, de muitos camaradas a deixarem a vida pelas terras de África.

Deste concelho, que tinha a mesma dimensão e composição quando o Monumento acima referido foi inaugurados, muitos militares partiram. Uns não voltaram; outros foram procurar novas oportunidades noutros lugares, outros ainda, aqui encontraram a oportunidade que esperavam, ou não, mas por cá ficaram.


Combatentes dos Concelhos
De Loures e Odivelas

É, pois, a esses, os que nesta terra ficaram e os que para cá vieram, que nos dirijimos. É tempo de se “dar vida” ao velho monumento, velho de quase 82 anos, de “dar cumprimento” às palavras do capitão Bastos Reis que falou na “grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra” e “incentivava os combatentes a juncar de flores, todos os anos, este monumento” e, com o pensamento nos nossos camaradas

• Florêncio Rosa Capela, Soldado Condutor, natural da freguesia de Santa Iria Azóia, morreu devido a acidente de viação em 10 de Outubro de 1961, em Angola.
• Fernando dos Santos, Soldado Condutor, natural da freguesia de Sacavém, morreu devido a doença em 06 de Março de 1962, em Angola
• Francisco José da Purificação Chaves, Soldado Condutor, natural da freguesia de Loures, tombado em Combate em 24 de Janeiro de 1964, na Ilha do Como na Guiné.
• Rui de Jesus Neves, Soldado Armas Pesadas, natural da freguesia de Moscavide, tombado em Combate 15 de Abril de 1964, em Angola.
• Vasco José Ferreira Lourenço, Soldado Explorador Observador, natural da freguesia de Bucelas, morreu devido a afogamento no Rio Geba em 07 de Outubro de 1964, na Guiné
• Dionísio Rocha Lourenço, 1º Cabo Mecânico de Armas Ligeiras, natural de Pirescoxe, freguesia de Santa Iria Azóia, tombado em combate durante um ataque ao aquartelamento em 26 de Abril de 1966, na Guiné
• Júlio António de Abranches Nascimento, Furriel Miliciano de Infantaria, natural do lugar de Olival Basto, freguesia de Póvoa de Santo Adrião, tombado em Combate 19 de Janeiro de 1969, em Angola.
• Arménio Anjos Gonçalves, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Sacavém, morreu devido a doença em 20 de Junho de 1969, em Angola;
• Henrique Guilherme Costa Salvador, Soldado Condutor Auto Rodas, natural do lugar de A-dos-Cãos freguesia de Loures, tombado em Combate num ataque ao aquartelamento em 17 de Novembro de 1969, na Guiné;
• Joaquim Caetano Dias, Soldado Atirador, natural da freguesia de Ponte de Lousa-Loures, tombado em Combate 17 de Novembro de 1969, em Angola
• Adelino da Conceição Baptista, Soldado Infantaria, natural da freguesia de Camarate, tombado em Combate em 12 de Setembro de 1971, em Moçambique;
• Eduardo António Carvalho Gregório, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Santa Iria de Azóia, tombado em Combate 17 de Novembro de 1971, em Moçambique:
• Jorge Manuel de Oliveira António, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Sacavém, tombado em Combate 19 de Fevereiro do 1972, em Angola.
• Fernando Modesto Ruas Pereira, Furriel Miliciano Piloto da Força Aérea, natural da freguesia de Moscavide, morreu devido a acidente em 23 de Abril de 1972, em Moçambique;
• António Luis Silva Pedro, 1º Cabo RD, natural da freguesia de Loures, morreu devido a acidente em 19 de Março de 1973, em Moçambique;
• Joaquim Manuel Duarte Henriques, Soldado de Cavalaria, natural da freguesia de Odivelas, morreu devido a doença em 21 de Setembro de 1974, em Angola;

que não regressaram das Campanhas de África de 1961/1974, que sugiro nos unamos numa homenagem sentida e simples, evocando estes nossos camaradas, no Domingo dia 10 de Abril de 2011 (Domingo da Ramos), junto a este monumento, deixando uma flor, a nossa saudade e o nosso respeito.

Se as autoridades civis chamarem a si a organização desta cerimónia, sugerimos que seja uma cerimónia sem discursos, onde todos e cada um deponham as sua flores e, se houver um clarim, que toque a marcha da continência, que no final, as vozes dos combatentes, roucas pela idade e embargadas pela comoção, entoarão o Hino Nacional.

Se mais ninguém estiver presente, eu, pelas 11 horas da manhã do dia 10 de Abril deste ano, no dia seguinte ao Dia do Combatente, deixarei junto ao monumento que perpetua a presença dos Portugueses na Grande Guerra na Europa e em África, uma flor e a minha oração em memória dos que tombaram pela Pátria desde 1139, desde a vitória de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique.

Loures, 23 de Fevereiro de 2011

José Marcelino Martins
Combatente na Guiné de 1969/1970
Morador em Odivelas
Sócio da Liga dos Combatentes nº 80.393
josesmmartins@sapo.pt
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7846: Em busca de... (156): Paula Simões, filha do Sold da CCAV 1482 (1965/67), César J. Simões, procura notícias de seu pai e dos seus camaradas (V. Briote / J. Martins)