sábado, 16 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8110: Comemoração do Dia do Combatente em Lagoa (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2011:

Ao Camarigo Carlos Vinhal com cordiais saudações.


Lagoa – Algarve comemorou o “Dia do Combatente,” no passado dia 9 de Abril de 2011, desta feita com pompa e circunstância.

O Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes levou a cabo as comemorações do Dia do Combatente e da passagem do 93º Ano da Batalha de La Lys, cerimónias que tiveram lugar no dia 9 de Abril de 2011, pelas 10,30 horas, no Largo dos Combatentes da Grande Guerra, em Lagoa, e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

O evento contou com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, bem como de entidades públicas e privadas, e com o seguinte programa:

10.20 horas - Chegada dos convidados ao local da Cerimónia e apresentação de cumprimentos, dos quais tendo observado:

Foto 1 – Recepção aos convidados, estando na esqª. e de costas o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio, ao centro o Presidente do Núcleo o Capitão Ap. Paulo Neto e na dtª. o Coordenador da logística do evento o Sargento-Mor de Cav. Fernando David.

Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio;
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Rui Correia;
Presidente da Junta de Freguesia de Lagoa, Francisco Martins;
Representante do Presidente da Câmara M. de Portimão, Vereador Jorge Campos;
Representante Comandante do Regtº. de Infantaria nº 1-Tavira, Major de Infª Oliveira;
Representante do Comandante do Destacamento da GNR de Silves;
Representante do Comandante do Posto da GNR de Lagoa, Cabo Aprovado Almeida;
Comandante do Bombeiros Voluntários de Lagoa, Vítor Rio Alves;
Comandante Interino dos Bombeiros Voluntários de Portimão, José Mestre;
Assistente do Agrupamento nº 511 do CNE de Lagoa, Padre José Nunes;

10.30 horas - Início das Cerimónias:

Foram dados toques regulamentares a cada passagem da Cerimónia, efectuados por elementos da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão.

Foto 4 – Grupo da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva e também sendo sócio da Liga dos Combatentes.

Foto 5 - Portas–Bandeira do Núcleo de Lagoa – Portimão e da Liga dos Combatentes
Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, CCav 742, Zala e Nambuangongo, Angola - 65/67 e o Fuzileiro Jacinto Guerreiro (Combatente em Angola e Moçambique)

Por parte do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes, Capitão Aposentado Paulo Neto, foi feita alocução e de onde foram retirados excertos:

Foto 6 – O Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, Capitão Aposentado Paulo Neto, sendo o palestrante. Da esqª. três camaradas da Associação Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira, Sargento-Chefe do RI 1 - Tavira, Major Oliveira, do RI 1- Tavira, Presidente da C. M. Lagoa Dr. José Inácio, Membro da Direcção do Núcleo Engº Rosa Silva, Sargento-Mor de Cavª Davide (Coordenador do Evento), Portas - Bandeira, Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, Fuzileiro Jacinto Guerreiro, Camarada da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra – Portimão e Camarada da Associação de Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira.

- A Liga dos Combatentes, a que nos honramos de pertencer, em cerimónias da responsabilidade da Direcção Central e dos Núcleos Regionais, comemora hoje em todo o País uma das suas datas mais significativas, a Batalha de La Lys, na Flandres, Norte de França e durante a Grande Guerra 1914/18.

- Em 09 de Abril de 1918, a 2ª Divisão Portuguesa, integrada no XI Corpo de Exército Britânico, sofreu um dos mais duros reveses da nossa História Militar. Aconteceu que o Exército Alemão desencadeou na zona da frente que guarnecíamos um muito vigoroso e sistemático bombardeamento com fortíssima concentração de artilharia, durante mais de 03 horas consecutivas, tendo disposto 10 Divisões de Infantaria frente aos 20.000 homens da 2ª Divisão do Corpo Português.

- Quero manifestar o nosso muito agrado, por ter pela primeira vez presente nestas cerimónias uma força militar do Regimento de Infantaria Nº1 – Tavira, o que significa especial empenho do Comando no relacionamento com os Núcleos e com a Sociedade Civil.

-Peço-lhe Sr. Major Oliveira, que transmita ao Sr. Coronel Comandante do RI 1, que tomamos a devida nota dos meritórios esforços de inter-acção com as populações da área da Unidade e também no campo das actividades culturais.

Prestação de Honras Militares em Parada, por um Pelotão do Regimento de Infantaria Nº1 – RI 1-Tavira e estando sob o Comando da Alferes Rodrigues.

Foto 7 – Sob o Comando da Alferes Rodrigues, o Pelotão está em posição de descanso arma.

As entidades oficiais foram convidadas a fim de depositarem coroas de flores, na base do Monumento em honra dos Combatentes oriundos do Concelho de Lagoa e falecidos no Ultramar Português, 1961/74. Seguindo-se o toque a mortos e salva de tiros.

Foto 10 – Deponde a coroa de flores, Presidente da C.M. Lagoa Dr. José Inácio, logo o Presidente do Núcleo Capitão Apº Paulo Neto e segue-se o Major de Infª Oliveira.

Foto 11 – Pelotão em posição de execução para a salva de tiros, em memória dos Combatentes falecidos.

Foto 12 – Em sentido e em continência pela memória aos mortos.

11.00 horas – As Entidades Oficiais deslocaram-se ao Cemitério de Lagoa, tendem deposto flores nas campas dos Combatentes oriundos da Freguesia de Lagoa, que combateram na Grande Guerra -1914/18 e no Ultramar Português.

Foto 13 – Aquando o Presidente do Núcleo Capitão Apos. Paulo Neto (em 1º plano), colocara flores na campa do Sold. Firmino A. Marques, que foi Combatente na Grande Guerra - 14/18. O repórter da Tabanca Grande é o último lado direito.

Foto14 – O Soldado Serafim Branco, C.Caç.2511, Angola 69/71, colocando Flores na campa de um Combatente do Ultramar e o ex-Fur. Mil. José Júlio Nascimento o municiador das flores.

Foto 15 – Capitão Apo. da GNR Domingues Garcia, depondo Flores no Jazigo de João B.Castelo Branco e o ex-Fur.Mil. Araújo Marcos, C.Caç.111, Ambrizete, Angola 61/63.

Foto 16 – Vice-Presidente da C.M. Lagoa Rui Correia, depondo uma flor no jazigo de seu pai, que falecera quando exercia funções de Presidente da Câmara M. de Lagoa.

Foto 18 – Assim ficou o Monumento, o qual edificado para perdurar em memória dos Combatentes falecidos no Ultramar Português – 1961/74 e aguardando uma visita dos que têm a felicidade de estarem vivos.

Do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, da Liga dos Combatentes, foram ditas singelas palavras e que se transcrevem:

- Por fim uma palavra de grande reconhecimento e gratidão à Câmara Municipal de Lagoa que nos acolhe, pelas atenções que nos têm dispensado e pela valiosa colaboração que tem prestado a este Núcleo ao longo dos anos. Sic.

- Esperamos manter e até melhorar o nosso relacionamento com a Câmara Municipal de Portimão.

Cumpre-me ter presente o notável desempenho desta Câmara na Grande homenagem Municipal ao saudoso Coronel Armando Maçanita, Herói Nacional, nosso Presidente de Honra. Sic.

Cordiais mantenhas para todos os Camarigos.

Com um Abraço
Arménio Estorninho
CCaç 2381, “Os Maiorais de Empada,”
Guiné 68/70
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7795: Álbum fotográfico do Arménio Estorninho (CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70): Cherno Rachide e a festa do fim do Ramadão, Bissau, 1970

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8109: O Alenquer retoma o contacto (5): O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá (Armando Fonseca)

1. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 9 de Abril de 2011:

Caro camarigo Vinhal,
Aqui estou mais uma vez a contar mais um capitulo da minha vivida história, para ser publicada para conhecimento de toda a tabanca, se acaso a julgar digna disso. deixo à vossa consideração.


O Alenquer retoma o contacto (5)

O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá

Depois de, em Ganturé, existirem as condições mínimas de sobrevivência para a instalação das tropas que aí permaneciam, o Pel Fox 42 juntamente com tropas recém chegadas à Guiné e com um Pelotão de Milícias rumou até Sangonhá a 21 de Março de 1964, a fim de aí ser instalado um novo aquartelamento.

Como de costume segue-se a capinagem, a vedação de arame farpado em volta da tabanca, que seria agora um quartel, a colocação de cavaletes para instalação dos candeeiros a petróleo (petromaxes), a que alguns “valentes” iam dar pressão de ar durante a noite, sempre que necessário.

Também era norma que quando chegávamos a um novo local não se consumia água da que ali existia sem ser certificado de que ela estava em boas condições de utilização, assim, recorria-se sempre ao aquartelamento mais próximo para nos abastecermos desse precioso líquido.

Então no dia 23 pela tarde lá vamos nós a Guilege encher os reservatórios de água regressando já ao lusco-fusco, aquela hora em que já não se vê muito bem mas também ainda não é preciso acender faróis.

Assim o IN que decerto nos vigiava não deu pela chegada dos carros da Cavalaria e entenderam ser muito fácil um ataque às tropas recem instaladas para mais que a maior parte tinha as pernas muito brancas o que indiciava pouca experiência naquelas andanças e que se tornaria uma tomada do local com a maior das simplicidades.

E, então pelo meio da noite de 23 para 24, qual não é o espanto do sentinela que se encontrava do lado da estrada que liga a Guiné-Bissau à Guiné-Conacri quando vê aparecer um grupo de guerrilheiros pela estrada acima, descontraidamente a aproximar-se da entrada trazendo uma metralhadora e outros armamentos parecendo que passeavam. Essa sentinela chegou a estar confundido sem saber se devia atacar ou esperar julgando que eles se vinham entregar às nossas forças.

Entretanto quando eles se encontravam a cerca de vinte metros do arame, a sentinela que se encontrava dentro do granadeiro reagiu e fez uma rajada que despoletou um ataque feroz, à volta da aquartelamento. Havia mais duas metralhadoras iguais à que aquele grupo transportava, cuja foto envio, e várias outras armas mais ligeiras, aquelas "costureirinhas" que quase todos conhecemos.

As nossas tropas reagiram e o tal grupo procurou uma elevação no terreno e instalaram-se para fazer fogo sobre nós, mas como os nossos carros tinham um grande poder de fogo, depressa o anulamos, isto com a ajuda do comandante da milícia, visto que a certa altura devido à proximidade do IN não se sabia muito bem de quem eram os tiros se das nossas tropas se do IN. Depois de anulado esse grupo cuja maioria ficou lá assim como o respectivo armamento, que se encontra no museu militar, todo o ataque foi sendo anulado e o IN retirou em debandada.

Ao raiar da aurora fomos então fazer o reconhecimento, e do grupo que fora avistado estavam seis mortos, a metralhadora, pistolas-metralhadoras e pistolas e um rolo de corda. Depois de examinados os outros locais de onde vieram os piores ataques restavam montes de invólucros e os vestígios das metralhadoras terem sido arrastadas no final do ataque, pelo que se deduziu que o cordão encontrado seria exactamente para atar ao suporte da metralhadora para que um dos intervenientes recuasse para local seguro e puxasse a metralhadora no final do ataque, caso este corresse mal como foi o caso, só que neste caso não houve tempo para a execução dessa operação.

Passada esta primeira confusão, permanecemos em Sangonhá até 23 de Junho, continuando a manter as devidas precauções e a segurança das tropas aí instaladas, até que eles atingissem a maturidade para se defenderem a si próprios.

Depois de Sangonhá seguiu-se Cacoca que ficará para o próximo episódio.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7877: O Alenquer retoma o contacto (4): Depois de Guileje, seguiu-se Ganturé (Armando Fonseca)

Guiné 63/74 - P8108: Notas de leitura (229): Visão - África, 30 anos depois, reportagem de Pedro Rosa Mendes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
Não se pode fazer vista grossa à reportagem publicada no número especial da Visão “África 30 anos depois”, com data de 2005.
Pedro Rosa Mendes mostrou os seus créditos, soube olhar e escutar.
É um trabalho de grande qualidade, a despeito de alguma informação enviesada e deficitária.
Vamos assim enriquecendo o nosso acervo informativo, para uso luso-guineense.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau numa reportagem de Pedro Rosa Mendes (2005)

Beja Santos

A Visão assinalou com uma publicação de grande envergadura o 30º aniversário da independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa, em 2005. O jornalista e escritor Pedro Rosa Mendes e o fotógrafo Luís Barra cobriram o acontecimento numa reportagem de indiscutível significado. Vale a pena sintetizar o que ali se escreveu.

Pedro Rosa Mendes começa por observar que, ao contrário do que repetidamente é dito, Amílcar Cabral foi alvo de uma longa morte, ao longo de mais de 30 anos. Essa Guiné envolta em tantos nomes: “A todos responde e em todos se esconde. Nome paterno Escravo, nome de exílio Santiago, nome de padrasto Portugal, nome de solteiro Kaabú, nome de Pátria Pindjiquiti, nome de guerra Boé, nome de quintal Moscovo, nome de regime Traição, nome de deus Irã, nome de palácio Ladrão, nome de tabanca Porco, nome de bolanha Fome, nomes de festa Vinho, Palma, Mancarra, nome de fortuna Maomé, nome de insulto Burmedjo, nome de código Preto Nok, nome de gala Amílcar, nome de família Guiné. Nome próprio: Bissau”.

Não é fácil tocar no verdadeiro rosto do país e do povo, este é pacífico e afável, percorre-se pelo lúmpen de Bissau com verdadeiro à-vontade, no entanto a classe política e os seus partidários entregam-se a uma violência brutal, sem limites, sucedem-se em cadeia as deposições, as conspirações e as purgas. É verdade que há uma violência que vem de longe, precede a presença colonial portuguesa. Autóctones, invasoras e ocupantes, têm-se dilacerado ao longo dos séculos. É um texto bem escrito, à altura de um romancista de gabarito que ainda recentemente nos deu um romance de altíssima qualidade “Peregrinação de Emmanuel Jhesus” cuja acção decorre em Timor Leste. Pena é que de vez em quando, acaloradamente, profira dislates ou imprecisões históricas. Amílcar Cabral não foi assassinado por jagunços, como ele escreve, mas sim por guerrilheiros que ainda hoje não se sabe a mando de quem. Amílcar Cabral não enfrentou nem eliminou um motim no I Congresso do PAIGC, em Cassacá, enfrentou sim um conjunto de torcionários, como vem descrito, de forma convergente, por autores irrecusáveis como Luís Cabral ou Aristides Pereira. Mas é verdade, como o repórter escreve, que muitos dos crimes perpetrados ficam na impunidade: “A única justiça na Guiné é feita pelas próprias mãos: Nino afastando Luís Cabral; Ansumane Mané expulsando Nino para o exílio; Kumba Ialá permitindo que as patentes balantas eliminassem Ansumane; os militares derrubando Kumba e matando, por sua vez, um ano depois, o líder deste golpe, o general Veríssimo Seabra…

Bissau na década de 60, a guerra longe e perto
(Fotografia o Arquivo de Fotografia de Lisboa – CPF/MC)

Nesta vertigem, desenha-se uma particularidade da política guineense: as vítimas de golpe reservam-se o direito de voltar ao cargo. Basta que não se deixem matar”. O repórter anota que o Estado está cada vez mais volátil, a própria soberania está tão frágil e permeável que permite a influência descarada dos países vizinhos. E observa: “Paradoxo guineense, a geração que lutou nas matas rapidamente se esqueceu de onde vinha a sua força e para onde ia a sua coragem. O horizonte de um povo inteiro foi encolhendo dentro do seu pequeno país. A Guiné foi-se acantonando em Bissau. Nino Vieira e a sua corte geriram o país como um grupo económico mais ou menos informal e mais ou menos oficioso”. Nino exerceu uma ditadura paternalista em conluio com os seus homens de confiança, tutelava os negócios da cerveja, da castanha de caju, da vida portuária, das telecomunicações, como qualquer outro Grande Irmão mandava censurar as imagens enviadas a partir da RTP em Bissau. Um país frágil, em que a marinha tem os seus poucos barcos encalhados e a Força Aérea deixou de voar há muitos anos, os 6 MIG ficaram rapidamente no chão por falta de peças.

A ausência de memória histórica impressiona nacionais e estrangeiros: “A casa onde Amílcar Cabral nasceu, em Bafatá, está em ruinas há muitos anos – desde que o PAIGC ficou com a custódia do imóvel. É, basicamente, uma latrina ocasional. De outro local histórico, em Madina do Boé, onde o PAIGC proclamou unilateralmente a independência, em 1973, resta apenas outra ruina, engolida pelo mato”. Pedro Rosa Mendes conversou com Carlos Schwartz (Pepito), falou-se do projecto museológico de Guileje, hoje uma realidade singular num mundo de amnésia histórica.

Os meninos guineenses continuam a olhar esperançados para o futuro
Uma linda fotografia de Luís Barra

Numa viagem ao interior do PAIGC, de algum modo ainda hoje a coluna vertebral do país, o repórter recorda as execuções, o desaparecimento da documentação histórica fundamental, as lutas fratricidas. Fala no massacre dos Comandos e refere o número de 40 mil, certamente que lhe deram uma informação errada, este número refere-se a todos aqueles que combateram à sombra da bandeira portuguesa. O PAIGC da luta acabou por se envolver na gestão do aparelho colonial, juntou-lhe uma estrutura securitária e repressiva dirigida por figuras sinistras, inesquecíveis como António Buscardini, os irmãos Baciro e Iaia Dabó, basta lembrar a desumanidade com que foram tratados Paulo Correia e outros alegados conspiradores presos em Outubro de 1985.

A reportagem termina com uma peça de excelência intitulada “Braima, o menino de Amílcar”, Pedro Rosa Mendes conversa com Saco Sambó, filho de guerrilheiros que adquiriu elevadas competências militares em Cuba e na Rússia. Quando regressou à Guiné em 1987, disseram-lhe que não havia lugar para doutores, pediu para sair das Forças Armadas, dedicou-se à formação. Acha o PAIGC irreconhecível e comenta: “É inevitável fazer uma comparação entre a Guiné e Cuba. Lá, a Revolução triunfou, apesar de ser feita por analfabetos, ou quase. Depois do triunfo, todos foram responsabilizados e obrigados a estudar. As coisas eram muito claras: um herói da luta podia ocupar um cargo, mas tinha um período de tempo para se ir preparando para essa posição, porque havia objectivos definidos. Cabral cria o mesmo sistema na Guiné. Mas aqui essa política de quadros não funcionou. Os dirigentes e, com eles, os responsáveis de segunda linha, eram totalmente ou quase analfabetos. Mesmo entre os universitários houve muitos que nunca acabaram a sua formação (…) O que se passou depois da independência é que a ignorância se somou à corrupção, à ambição e ao individualismo. O Kumba Ialá queimou uma oportunidade e, no fim, estamos todos no mesmo saco. Hoje, a sociedade guineense não tem referências. Vive em anemia. Os líderes jogam com a pobreza. As pessoas querem verdade. E é de verdade que precisamos na Guiné”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8093: Notas de leitura (228): Poemas, de Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8107: Antigos combatentes do ultramar (1): (i) Processos por Acidente ou Doença em Serviço; (ii) 500 medalhas comemorativos por levantar... (António Costa)

1. Mensagem de António José Pereira da Costa, com a qual abrimos um nova série com informações que interessam aos antigos combatentes do Ultramar, em geral, como por exemplo assuntos relacionados com saúde e protecção social, apoio psicossocial, legislação, associações, eventos diversos, etc.


Data: 10 de Abril de 2011 11:15
Assunto: Processos por Acidente ou Doença em Serviço Relativos a Antigos Combatentes do Utramar


Camaradas


Creio que o blog poderá servir para divulgar o recente despacho do Gen CEME sobre esta matéria.


Deixa de haver a obrigatoriedade de o requerimento ser entregue no Arquivo Geral do Exército, podendo sê-lo em qualquer U/E/O do Exército.


Foi normalizado o requerimento a apresentar. Há apenas dois tipos, consoante o ex-combatente pretenda a "Organização de um Processo por Acidente ou Doença" ou "Revisão do Processo por Acidente ou Doença".


O número de passos para a elaboração do processo foi consideravelmente reduzido e há obrigação de cada entidade interveniente informar o interessado do envio do processo à entidade seguinte, de modo a que se saiba sempre onde é que o processo está a ser trabalhado.  


Nos casos em que tal foi possível, fixaram-se prazos para que as diligências sejam feitas.
Assim, o processo correrá mais célere, no Exército, competindo depois às entidades civis as últimas e decisivas diligências.


Nova Linha:


Descobri que no Arquivo Geral do Exército há mais de 500 medalhas comemorativas par serem levantadas pelos respectivos requerentes. Efectivamente, aquelas medalhas só terão valor para o próprio para demonstrar que "esteve lá".

Mas se foram requeridas não seria boa ideia serem levantadas? As medalhas em causa têm, como seria de supor, uma passadeira com os anos que o ex-combatente esteve em TO. Daqui resulta que, normalmente, não podem ser entregues a outro,a não ser que tenha estado no mesmo TO e na mesma altura, o que é, por vezes, difícil de suceder.


Esta questão tem que ver com a "nova" problemática da dignificação dos ex-combatentes.
Por mim, penso que a procedermos assim não estaremos "isentos de culpas no processo"... 
Como se dizia antigamente: "À consideração superior"


Um Alfa Bravo do

Guiné 63/74 - P8106: Facebook...ando (10): Efemérides: 9 de Abril de 1970, o meu regresso a casa (Raul Brás, CCAÇ 2381, Os Maiorais de Empada, 1968/70



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 2381 (Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) >  O Raul Rolo Brás empunhando algures o cartaz, em pano de lençol (?) ou serapilheira (?), com o seu nome e o topónimo da sua terra natal, Salavessa, que levaria consigo no N/M Niassa, no regresso a casa, e que voltaria a desfraldar no dia 9 de Abril de 1970, no cais de Alcântara, para que os seus familiares e amigos o conseguissem mais facilmente localizar no meio de uma multidão de centenas e centenas de cabeças de homens fardados... Um engenhoso sistema de sinalização...

Foto: © Raul Brás (2011). Todo os direitos reservados.




1. Adpatação de duas mensagens e uma foto inseridos na nossa página do Facebook  [, Tabanca Gran de, ] pelo nosso camarada Raul Brás, ex-sold condutor auto, a propósito do seu regresso, e dos seus camaradas da CCAÇ 2381 (Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), a casa, no N/M Niassa (Bissau-Lisboa, de 3 a 9 de Abril de 1970)... Há 41 anos...

O Raul é natural de Salavessa, concelho de Nisa, distrito de Portalegre. Nasceu em 18 de Abril de 1946 (vai portanto fazer 65 anos dentro de dias). É casado. Vive no Seixal.

(i) Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais de Empada, Guiné. Fez hoje, dia 3 de Abril de 2011, quarenta e um anos, que foi o dia do seu embarque no cais de Bissau, pelas 10 horas da manhã, no Navio Niassa com destino à Metrópole, com o seu dever comprido.

(ii) Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais de Empada Guiné: Faz hoje, dia 9 de Abril de 2011, quarenta e um anos, que pelas dez horas da manhã, no cais de Alcântara Mar, este símbolo desta foto [, este cartaz com o meu nome,] foi desfraldado, no convés do navio Niassa, para que os meus familiares e amigos se apercebessem do local onde me procurar… Há tanto tempo que ansiava por este momento, e como é bom recordar o passado e darmos a conhecer estes momentos a quem não passou por eles

Um abraço do tamanho da Guiné, a todos os que estão ainda com vida. Dos que ficaram do lado de lá, e dos que partiram de cá, ficam as nossas recordações e lembranças.


Raul Brás

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7693: Facebook...ando (9): Notícias do pessoal da CCAÇ 6, Bedanda, dos camaradas António Teixeira, Mário Bravo, Pires, Luís Nicolau, José Vermelho, Bastos, Pinto de Carvalho, Vasco Santos, Ayala Botto (1971/73), mas também do Hugo Moura Ferreira (1966/68), nosso camarigo da primeira hora

Guiné 63/74 - P8105: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte II)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 8 > A famosa equipa de futebol..."Em primeiro, ao centro, o Rocha, o dono da bola, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto. De pé, na segunda fila, à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro" (CA).



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >   3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do leste) > Piche > 1972 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 4 > O Unimog 411, conduzido pelo Rocha, sentado em cima do escape...





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 6 > > O Rocha, o Sobral [, de Cercal do Alentejo,] e o Jacinto Cristina [, o padeiro, membro da nossa Tabanca Grande].



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 9 >  O Carlos e o Rocha,  junto a uma das máquinas da TECNIL [, a empresa encarregue da construção da nova estrada Piche-Buruntuma].


Fotos enviadas por Susana Rocha, em nome de seu pai. Legendas de Carlos Alexandre. Edição: L.G.

Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






1. Mais fotos do álbum do Rocha (*), com legendas, a nosso pedido, do seu camarada Carlos Alexandre, ex-sold trms, e que tem uma verdadeira "memória de elefante", a avaliar pelas mensagens que temos trocado:

Data: 15 de Abril de 2011 00:28
Assunto: Fotos do Rocha

Luís,  boa noite, só na foto do grupo no Unimog [Foto nº 4], não consigo [lembrar] os nomes de dois companheiros, embora os reconheça. Assim,  na nº 9 ,  eu próprio já tinha enviado uma igual, estou eu e o Rocha no veículo da TECNIL [, a empresa que tinha a empreitada da construção da nova Piche-Buruntuma].

Na foto nº 6, esdtão o Rocha,  o Sobral [, de Cercal do Alentejo, ] e o Cristina, eu próprio fui o fotógrafo.

A do Unimog, a foto nº 4,  foi tirada em Piche concerteza, já que não identifico os miúdos, e assim sendo foi tirada em 1972. Os companheiros são:

(i) o Rocha sentado no escape do Unimog:

(ii)  a seu lado o Pinto, atrás do Pinto o furriel Ribeiro;

(iii) a seu lado um companheiro com quem temos muitas fotos, também do abrigo do Rocha mas de quem infelizmente não recordo o nome;

(iv) na parte superior o Gordinho;

(v) Atrás do furriel Ribeiro,  o Sobral,  de óculos escuros, seguido do Pereira, do José Alberto, e do tão falado Wolkswagen;

(vi) Atrás deles julgo ser o Santiago [, 1º cabo];

(vii) O companheiro que está entre os miúdos, reconheço-o perfeitamente, vivia no abrigo do lado oposto, mas infelizmente do nome também não me recordo.

A do grupo de futebol da Ponte Caium [, foto nº 8], temos  o Rocha ao centro, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto. Em cima,  à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro. 

Tenho muita pena de não lembrar os nomes dos dois companheiros, a eles as minhas sinceras desculpas,contudo não é por isso que a minha admiração e o meu respeito por eles sejam menos valorizados.

Espero ter ajudado, ficarei ao dispor.

Um abraço ao grande produto, assim como aos enormes produtores.

Carlos Alexandre
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Nota do editor

(*) Vd. poste anterior desta série > 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8100: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte I)

Guiné 63/74 – P8104: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (12): Gente jovem e a memória da guerra dos seus avós…

1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 - Binta -, 1964/66, com data de 12 de Abril.


Camaradas,


Depois de longa ausência, eis-me a dar provas de vida... Remeto um texto alusivo a uma "conversa" que tive recentemente com 120 alunos de uma Escola de Alcobaça.

Felizmente que os velhotes ex-combatentes já vão sendo convidados pelas direcções de algumas escolas. Aconteceu comigo e não desperdicei a oportunidade de transmitir à gente jovem algo da história recente de Portugal, que teve a ver alguns dos familiares mais velhos... No que me diz respeito foi uma experiência gratificante que gostaria de partilhar com a "Tabanca Grande".


GENTE JOVEM E A MEMÓRIA DA GUERRA DOS SEUS AVÓS…



O Prof. Luís Tavares apresentou-me. «O José Eduardo esteve na Guerra Colonial, já escreveu um “Diário” e um livro sobre os seus tempos da Guiné e aceitou o convite da nossa Escola para falar sobre o assunto," dentro do programa de actividades do “Acontece D. Pedro I”.  Vai, em jeito de conversa, falar uns minutos e depois responderá às vossas perguntas. Ponham os vossos telemóveis em silêncio e… vamos ouvir».

O auditório estava cheio. Olhei para o relógio. Eram 10h05. Comecei a falar para 120 alunos dos 9ºs. A, B, C, D e E, com idades compreendidas entre os 14 e 18.
Ensaiei um “quadrado” entre os jovens que se sentavam na parte central do auditório. Houve risota e alguma confusão mas aceitaram bem a minha proposta.
Disse-lhes que mais tarde iriam perceber o porquê daquela “cena”. Tinha decidido centrar a minha “palestra” em dois temas e em dois tempos baseados na minha experiência de dois anos de Guiné.  Os temas escolhidos: o “baptismo de fogo” e a recuperação de populações. Os dois tempos: o da guerra e o da paz. Mostrei-lhes a capa do meu livro de memórias.
“Golpes de mão’s.”- Uma mão suja de sangue – do tempo da guerra – e uma mão suja de terra - do tempo da paz -. Evocando o trabalho na terra, o regresso das populações e as sementeiras da paz.

Seguiu-se a projecção de um “power point” com especial incidência na primeira operação militar –a do “baptismo de fogo” – que incluiu a “cena” do “quadrado” para perceberam como nos deslocávamos no mato e como poderíamos ripostar ao fogo do inimigo... sem nos matarmos uns aos outros.

E depois o tempo de perguntas e respostas. As habituais deste escalão etário. O medo, a morte, as armas, que língua falávamos com as gentes da Guiné, o correio, as madrinhas de guerra, a saudade, os meninos, o que aconteceu depois da guerra…
Mesmo a acabar a pergunta inesperada:
- Se pudesse voltar atrás iria de novo para a guerra?
Com a sua carga de ingenuidade a pergunta surpreendeu-me. Foi feita por uma jovem de 16 anos.
Para ganhar tempo fui-lhe dizendo que era uma pergunta pouco habitual. Que nunca me tinha sido colocada.
Estava de pé no palco do auditório frente a uma plateia que esgotava os 120 lugares.  Repeti diversas vezes a questão em voz alta e,  olhando para a miúda aproximei-me dela, apetecendo dizer-lhe:
- Que raio de pergunta?
Mas não o fiz.
Ia arrumando as ideias e finalmente respondi-lhe:
- Não se pode voltar atrás no tempo mas... se me tivesse sido possível, não teria ido. Mas se não tivesse ido,  não estaria aqui a partilhar estas memórias.  Nem teria conhecido os meus irmãos da “CCaç.675”…
E pela cabeça iam-me passando imagens e nomes. Em catadupas. Como rajadas de metralhadora. Da “675” revia o Capitão Tomé Pinto, o Tavares, o Santos, o médico, o Moreira, o Mesquita, o Cravino, o Figueiredo, o” Rato”, o “Campo de Ourique” ,o “Caldas”, o “Almeirim”… E da “Tabanca Grande”, o Luís Graça, o Vasco da Gama, o Mexia Alves, o José Belo, o Miguel Pessoa e a Giselda, o Jorge Cabral, o Carlos Vinhal, o M.R., o J.D. e tantos outros.
- Portanto…,  jovem,  a resposta à tua pergunta é que… à distância no tempo tenho mais coisas boas do que más. Tendo em atenção um rápido balanço das memórias que me passaram pela cabeça, vou-te responder que sim.  Valeu a pena ter ido à guerra… porque tive a sorte de voltar. Mas sou um homem de paz. E o que mais me marcou foi o que de bom fizemos depois do regresso das populações. Que nesses tempos longínquos teriam tido mais… do que têm hoje.
Olhei para o relógio. Marcava 11.25. Fiquei espantado. Como o tempo tinha passado depressa!
Ia jurar que tinha começado a falar há 10 minutos! Alguns miúdos vieram ao palco despedir-se de mim. Antes a “malta” tinha aplaudido. Foram simpáticos. Teriam saído dali a saber alguma coisa da”guerra colonial”, como tinha dito o Prof. Luís Tavares, ou da “guerra do ultramar”,  como tinha dito o velhote da barba branca!?
Alguma coisa lhes deve ter ficado. Digo eu. Que sou um optimista e acredito nos jovens. Assim também eles encontram na vida laços, inquebráveis, solidários, mesmo que nascidos de vivências e fadários. Porque esses nos unem… p’ra toda a vida.

Um grande abraço abraço de Alcobaça,

JERO
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8103: Parabéns a você (245): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70), um rapaz que trocou a Figueira da Foz pelo Porto... (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

15 DE ABRIL DE 2011

ANTÓNIO PIMENTEL

Caro camarada António Pimentel*, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

- Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa

- (*) António Pimentel;

(i)  Alf Mil Rec Inf na CCS/BCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro, 1968/70;

(ii) Nasceu em 1944 na Figueira da Foz, mas vive no Porto; 

(iii) Tem conta no Facebook

(iv) Tem muitos amigos, dos bons e  verdadeiros; 

(v) Frequenta regularmente a Tabanca de Matosinhos...

- Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8098: Parabéns a você (244): Jorge Picado agradece à Tertúlia

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8102: Blogpoesia (144): Se eu pudesse escolher uma data... (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 13 de Abril de 2011:

Luis, Carlos, Magalhães, Briote e restante Tabanca Grande
Abril é um mês por diversas situações se tornou um marco da minha vida.

Dia 4 cheguei a Lisboa no Niassa.
No dia 17 foi a emboscada do Quirafo.
Por fim o 25 de Abril.
São datas incontornáveis da minha vida por isso esta dedicatória.

Um abraço
Juvenal Amado



O regresso a Bissau em LDG...

Foto: © Juvenal Amado (2011). Todos os direitos reservados


SE EU PUDESSE ESCOLHER UMA DATA...

Se pudesse escolher uma data
Sacudir o suor do rosto
Esquecer o calor e as moscas
Ignorar o cheiro da morte
Esquecer as horas incertas
Pensar que havia Futuro
O meu trabalho desse fruto
Com o braço enlaçasse teu ombro
No teu seio sentisse a palpitação da vida
Finalmente juntos
Beber até à ultima gota o cálice do amor
Festejar o regresso
Respirar em pleno a Liberdade
Espingarda esquecida
Do meu peito saísse um cravo
Abril meu porto de chegada
Abril meu local de partida
Se pudesse escolher uma data
Em Abril seria


Juvenal Amado
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8027: Estórias do Juvenal Amado (36): Um domingo de futebol em Galomaro

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8084: Blogpoesia (143): Vila do Conde é um poema (Manuel Sousa)

Guiné 63/74 - P8101: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (2): Como o tempo passa! ... (Rui Felício, CCAÇ 2405, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

1. Mensagem do nosso camarada Rui Felício, ex- Alf Mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) [Juntamente com o Paulo Raposo, o Victor David e o Jorge Rijo, o Rui faz(ia) parte dos famosos Baixinhos de Dulombi, os quatro alferes milicianos da CCAÇ 2405]. Jurista, vive em Lisboa. Conhecemo-nos no I Encontro Nacional do nosso blogue, na Ameira, Montemor o Novo, em 14 de Outubro de 2006.




Data: 11 de Abril de 2011 12:18


Assunto: Re: 7º aniversário do nosso blogue > 23 de Abril de 2011


Caro Luís Graça,


O tempo passa... Não me tinha apercebido que o teu blog já conta 7 anos!


Parabéns pelo excelente trabalho de organização que tens desenvolvido, com a prestimosa dedicação de alguns eficientes colaboradores que dão a esta publicação um lugar de topo na recordação de uma fase incipiente da vida da nossa geração. Que nos acompanhará sempre, que jamais se desvanecerá da nossa memória, enquanto por cá andarmos.


E que,  a esse desiderato, adiciona o mérito, não menos importante, de lembrar às gerações posteriores que a guerra de África foi mais do que um simples conflito armado com todos os males que qualquer guerra traz. Foi, sobretudo, a descoberta da solidariedade que, por vezes escondida, nos momentos difíceis se revelava e animava os jovens desterrados nos confins da selva.


Foi também o conhecimento de outros povos, de outras culturas, de outras mentalidades.
Com os quais partilhámos o nosso conhecimento e de quem obtivemos a sabedoria que não vem nos livros.


Um abraço
Rui Felício




Escrito e Lido é o Blogue do nosso camarada Rui Felício. Desde 1 de Dezembro de 2010. "Episódios que são sementes da vida"... Já sabíamos, do nosso blogue, que ele era um exímio contador de histórias... Infelizmente, não tem aparecido, nos últimos anos... Temos no nosso blogue (I e II Série) alguns das suas estórias de Dulombi que merecem figurar numa futura antologia do nosso blogue... Aqui ficam os links e algumas deixas...




9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral


(...) O Natal aproximava-se… Antes da data prevista, chegara-nos um presente inesperado! Um periquito…. O furriel Cabral foi-nos mandado para substituir o furriel vagomestre, uns meses antes falecido em acidente de viação na estrada de Galomaro-Bafatá numa viagem de reabastecimento de viveres à nossa Companhia… O Cabral era uma jóia de pessoa, simpatiquíssimo, um tanto ingénuo e crédulo, sempre bem disposto e que rapidamente granjeou a estima de todos. (...)


14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili


(...) Ao cair da tarde, com a luz alaranjada do sol a começar a esconder-se na linha do horizonte poente, o Paulo Raposo, alferes da CCAÇ 2405, de quem guardo as mais pistorescas histórias, estava sentado perto do bunker do Capitão, com o olhar fixo num ponto afastado a sul do aquartelamento, perto do arame farpado. Aproximei-me e comentei:
- Eh, pá, não estejas a pensar na morte da bezerra… Já faltou mais e não tarda estaremos em Lisboa a beber umas imperiais e a olhar as bajudas brancas que por lá abundam. (...)


19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua


(...) 20 de Julho de 1969. Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transístores que nos mantinham ligados ao mundo. Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo. (...)


5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço


(...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tínhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco. Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos. (...)


18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG


(...) Já de si, o apelido originário da ascendência estrangeira da sua Família, o tornava notado. A sua invulgar estatura de quase dois metros, os olhos salientes, o cabelo arruivado, a pele branca e sardenta e o corpo magro, longilíneo e desengonçado, completavam a estranha figura propicia ao sorriso e aos mais díspares comentários. Falo do Parrot, que conheci em Mafra e que fez parte do meu pelotão do 1º Ciclo do COM da incorporação de Abril de 1967. Não era fácil, porém, tirar o Parrot da sua fleumática postura de não te rales, por mais provocações que se lhe tentassem fazer. Ele era a calma personificada, e senhor de uma inteligência fora do comum. (...)


27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo


(...) Sinchã Lomá é uma pequena tabanca a Sudoeste de Dulo Gengele e esta por sua vez fica a Sul de Pate Gibel. Quando a CCAÇ 2405 chegou a Galomaro, destacou três dos seus Grupos de Combate para regiões circundantes da sede da Companhia com a missão de marcar posição no terreno e fazer ao mesmo tempo uma espécie de guarda avançada para protecção da Companhia. A mim, coube-me ir para Pate Gibel, a tabanca mais a sul de Galomaro. (...)


8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405)(7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)


(...) No terço final da comissão, com a Companhia finalmente concentrada no Dulombi, pensou-se em encontrar um emblema e uma divisa para a nossa Unidade. Não deveríamos deixar acabar a comissão sem legar aos vindouros um símbolo que nos identificasse, tal como a maioria das outras unidades já o tinham feito. Acolhida a ideia, estabeleceu-se um período de tempo para que fossem apresentados projectos para futura escolha daquele que merecesse o consenso geral. E assim surgiram meia dúzia de ideias para a o emblema da Companhia. (...)


30 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2073: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (8): O Fula, a galinha e o vestido


(...) Galomaro, Maio de 1981. Passados 11 anos após o regresso da CCAÇ 2405, retornei à Guiné, em 1981, naturalmente já civil, e passei alguns dias em Galomaro onde esteve sediada a Companhia antes da sua deslocação final para o Dulombi. Percorri, de jeep ou de bicicleta, toda aquela região que tão bem conheci por força dos patrulhamentos militares efectuados entre 1968 e 1970. (...)


26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro


(...) Num certo dia de Agosto de 1969, o Jorge Félix transportou no seu helicóptero um grupo de paraquedistas que iam fazer um assalto, a uma base do PAIGC, identificada pelos serviços de informações militares da Guiné, como estando localizada na região de Galomaro. Ao procurar local para a aterragem perto do objectivo, em plena mata, o Jorge Félix foi descendo o helicóptero e, a uns 5 metros do chão, a deslocação de ar provocada pelo movimento das pás do aparelho, afastou uma série de ramos de arbustos deixando a descoberto um guerrilheiro do PAIGC que ali se havia emboscado. O homem estava armado com um RPG7, e a granada colocada, apontando para o helicóptero, o que naturalmente deixou em pânico o piloto e os tripulantes. (...).
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Nota do editor:


Vd. poste anterior da série > 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8091: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (1): Um Oscar Bravo (OBrigado) a quem nos visita, lê, comenta, divulga, alimenta, critica, incentiva, avalia, escrutina, ajuda a crescer e a melhorar... A todos os autores, comentadores, leitores, a todos/as os/as amigos/as, camaradas e camarigos/as da Guiné (A equipa editorial)


(...) Em qualquer dos casos, aqui fica o apelo, aos resistentes, aos resilientes, aos sobreviventes, aos bravos da Guiné: Ajudem-nos a todos nós, editores, colaboradores permanentes e autores, a fazer "mais e melhor"... E sobretudo, tragam caras novas, histórias novas, fotos novas (do "baú velho")... E a quem ainda tem pachorra de ir visitar o nosso blogue, uma ou até mais vezes por dia, o nosso Oscar Bravo!!! (...)

Guiné 63/74 - P8100: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte I)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacameto da Ponte de Caium > 1973 > Regresso da ida á lenha, de "burrinho" (Unimog 411) com atrelado. Foi esta viatuarque caiu na zona da morte da emboscada do dia 14/6/1973, tendo morrido 4 dos seus cinco ocupantes (salvou-se o condutor,o Rocha) (*).




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium > 1973 > O Rocha na Tabanca de Sinchã Tumane, nos arredores.





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium >  1973 > O Carlos Alexandre e o Rocha no varandim tabuleiro da ponte.

Legendas do Carlos Alexandre
Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





1. As fotos foram-nos enviadas pela Susana Rocha, filha do nosso camarada Florimundo (ou Flor, como é carinhosamente conhecido em Lagoa, sua terra natal) Rocha... Foram editadas por nós. Alguns estão em mau estado de conservação. As legendas foram completadas com a ajuda do Carlos Alexandre, de Peniche, ex-sold trms, ao tempo em que o Rocha e o Jacinto Cristina estiveram na Ponte Caium... Os três são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui a resposta ao meu mail, com data de 12 do corrente:


Luís,  boa noite. Relativamente às fotos enviadas pela filha do Rocha, só uma é mais dificil de analisar dado o seu mau estado, mas julgo não me enganar na identificação das suas personagens. 


A foto que nos mostra o regresso com a lenha [, uma secção do 3º Gr Comb, Os fantasmas do leste, que estava destacado da Ponte de Caium], temos o Rocha a conduzir. A seu lado o Ribeiro (o companheiro que desventrava e tratava a carne das caçadas ). Atrás do Rocha está o Silva, que na altura era sonâmbulo.


Atrás do Silva,  o Cristina, claro o nosso padeiro, só o consegui identificar depois de ampliar a fotografia. A seu lado,  o Pereira, que é natural de uma aldeia perto do Pinhão, foi identificado pelo Barbeiro, um companheiro, que tambem conhece o blogue, com quem mantenho uma relação mais próxima, falamos pelo telefone, e estamos sempre juntos nos encontros do batalhão (E neste caso eles vivem perto um do outro).


Atrás do Silva e de bigode, o Gordinho. Atrás do Gordinho,  o José Alberto, de que só se vê a cabeça. (É cmpanheiro de alguns encontros do batalhão, vive em Vidago).


O companheiro no cimo da lenha, [no atrelado,] onde a foto está em piores condições, tenho mais dificuldade em identificar, mas é concerteza o Chaves, companheiro que não vejo desde África.


A foto em que o Rocha está sozinho foi tirada na aldeia de Sinchã Tumane.


A outra sou de facto eu e o Rocha no varandim do tabuleiro da ponte. Julgo ter sido tirada antes da emboscada em 1973 (*), já que o casaco fino que uso só esteve em África até às minhas férias, altura em que se deu o triste acidente. Aliás as três foram tiradas em 1973.


Espero ter sido preciso, e ajudado na identificação do pessoal. e no que fôr necessario estarei ao dispõr para responder ao que souber e puder.


Um abraço. Carlos Alexandre

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74), o único sobrevivente do Unimog 411