quarta-feira, 27 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8170: Parabéns a você (251): Hugo Guerra, ex-Alf Mil CMDT dos Pel Caç Nat 55 e 60, hoje Coronel DFA (Tertúlia / Editores)

Postal de Miguel Pessoa

PARABÉNS A VOCÊ

27 DE ABRIL DE 2011

HUGO GUERRA

O nosso camarada e amigo Hugo Guerra festeja hoje mais um ano de vida

Caro Hugo, aqui estão os Editores, em nome de toda a Tertúlia, a desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos mais próximos.

Que festejes esta data por muitos anos, com a melhor saúde possível, face às mazelas deixadas pela maldita guerra, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
____________

Notas de CV:

(*) Hugo Guerra foi Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, e é hoje Coronel, DFA, na reforma.

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8162: Parabéns a você (250): David Guimarães, ex-Fur Mil da CART 2716/BART 2917 (Tertúlia / Editores)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8169: Notas de leitura (233): Triste vida leva a garça, de Álamo Oliveira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
Parece fazer todo o sentido em tratar Álamo Oliveira como poeta açoriano, toda a sua lírica tem no mundo ilhéu a sua força centrípeta, este poema é digno de constar nos grandes cancioneiros dos maiores poetas portugueses. E há que ter orgulho pela memória e pelos afectos guineenses que ele exalta.

Um abraço do
Mário


Álamo Oliveira, poeta açoriano e nosso camarada da Guiné

Beja Santos

Sobre o romance “Até Hoje (Memória de Cão)”, de Álamo Oliveira (Ulmeiro, 1986) já se fez neste lugar a necessária recensão, está entre a melhor prosa publicada nos anos 80, sobressai a nostalgia de um ilhéu e a sua coragem de se despir até aos escaninhos do íntimo, trata-se de um texto de enorme elevação, lirismo e sofrimento incontido. Não houvera até então nenhum desassombro tão vasto de devastador numa narrativa onde se assume um desencontro trágico em torno de uma relação homossexual. Além destes desabafos íntimos, vazou como poucos na escrita a atmosfera psicológica, os tiques do quotidiano, os acontecimentos inopinados e festivos que interrompiam o marasmo de tempos lodosos. Recordo a descrição da chegada do correio, mal sustive a respiração: “Estão como cabras espantadas, prisioneiros ridículos, inocentes, amantes de cordel, aos saltos, gritinhos tarzânicos. Doentes de alegria explosiva, rapazes com o coração a viajar para o princípio do ser, primitivos os sentidos expostos. Fixam-se no meio da parada, a mão à testa para tapar o sol, a avioneta de voo raso, dois sacos de correio que se despenham e se amparam nos mil dedos que os agarram… As notícias vinham ali ensacadas, cadeadas, atrasadas quase quatro semanas. Vinham alegrias do tempo contado, saudades moídas pela azenha da distância, tristezas em rebanho… Os olhos estão fixos nas mãos do cabo-escriturário que agora é todo quartel de Binta e só aquele tamanho, a mão emocionada metendo a chave no cadeado do saco com a mesma untuosa demora da desfloração”.

Dois anos antes, em 1984, Álamo Oliveira publicara também na Ulmeiro uma compilação de vários livros de poesia com o título “Triste Vida Leva a Garça”. O primeiro livro “áfrika-mim e outras raízes” tem poemas que ele escreveu sobretudo em Brá, Bissau e Binta. Noutro livro intitulado “eu fui ao pico piquei-me”, uma lindíssima colectânea de cantigas soltas estruturadas ao jeito açoriano, consta o belíssimo “cantigas de ter ido à guerra”, por ventura o seu mais belo poema em torno da experiência guineense. É longo, permitam-me alguns excertos, um dia teremos uma biblioteca activa para consulta, será possível ler na íntegra tão belo poema:

Guiné, meu campo de guerra,
Gindungo com que tempero
A alcatra da minha terra…
Vinho de palma não quero.

Antes «cheiro» que me aguarda
Com confeitos e alfenim.
Não fui herói de espingarda,
Não fui cobra de capim.

Noites longas, sem mulher;
Noites de cio em segredo.
- Seja soldado quem quer,
Toda a farda mete medo.
………………………………

Fui soldado. Simplesmente.
Soldado de corpo nu.
Amei África e sua gente…
Muito sumo de caju.

Por isso, canto, em quadra,
A saudade que engatilha
A arma que me desarma:
- África-mim/minha ilha!

Dos companheiros de armas,
Guardo o rosto e afeição.
Soldados com espingardas
Murchas e presas à mão

Para puxar o gatilho
No momento de matar.
Antes, sachavam o milho,
Agora, são de odiar.

Hoje, à distância de anos,
Meia légua do caixão,
Coso, de memória, os panos:
- Meus companheiros quem são?

Pedro e João morreram.
Só dois! Mas que grande sorte!
Só vinte anos viveram
E há quem diga: santa morte
………………………………..

Mãe-negra – África-mim,
Meu postal desilustrado,
Tempo de angústias e capim
Ao meu ombro pendurado.

Quem bem faço por esquecer
Armas, mosquitos, viagem.
África ferrou-me o ser,
Trouxe-a feita tatuagem.

Se da guerra me livrei,
Do seu povo é que não.
Na farda, não me piquei,
Mas trouxe, na minha mão

Ritos de fanado e morte,
Rios mansos que o sol coa,
Luar branco, trovão-forte,
Negro vogando em canoa.

E ainda, em saco da tropa,
Carregado em bandoleira,
Trouxe, do feitiço a copa
Da beleza da palmeira.

Guiné! Guiné! Voz de gente!
Doce de coco e baunilha!
Bem te sinto, no meu ventre,
A pulsar no som da ilha,

Que é de mar, enxofre e lava
Hortênsias e solidão.
Guiné, minha irmã-escrava
Mango caído no chão.

Já me fico por aqui.
A ilha a paz me conceda.
Em África, nunca vi
Um campo de erva azeda.

Hoje, já muito mais velho,
Só a saudade é que apaga
Essa terra – pó vermelho –
Com montes de baga-baga.

Piquei-me, bem sei. Agora,
África-Ilha é este fardo:
Ser cavalo sem espora,
Ser um espinho sem cardo…

E assim termina esta desgarrada plena de feitiço africano. Não conheço nada mais de tão intenso nesta toada nova da poesia luso-guineense, um espinho de saudade pois, como ele soletra a Guiné ficou para muitos como uma irmã-escrava lá nas terras do poeta feitas de enxofre e lava.

Este livro de Álamo de Oliveira passa a fazer parte da biblioteca do blogue.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8153: Notas de leitura (232): O Paparratos, de José Pardete Ferreira (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8168: Efemérides (66): 41º Aniversário do regresso, em 25/4/1970, no N/M Ana Mafalda, da CART 2410, Os Dráculas (Gadamael e Guileje, 1968/70) (José Barros Rocha)



N/M Ana Malfada > Abril de 1970 > Malta da CART 2410 >  Legenda do fotógrafo: "Porão do Ana Mafalda. Assim viajaram os soldados"...


Lisboa > O N/M Ana Mafalda, navio misto (mercadorias e passageiros), que tinha o comprimento (fora a fora) de um campo de futebol...lAlojamentos para 16 passageiros em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira classe, no total de 52... Nº de tripulantes: 47...


Lisboa > Estuário do Tejo > 25 de Abril de 1970 > A chegada do N/M Ana Mafalda, tendo do lado direito o monumento do Cristo Rei (inaugurado em 1959) e o Olho de Boi, no cais do Ginjal, Cacilhas, na margem esquerda do Rio Tejo, concelho de Almada.

Fotos (e legendas): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
 
1. Mensagem do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel,  José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculos (Guileje e Gadamael, 1968/70) (*)

Data: 25 de Abril de 2011 14:56
Assunto: 41º Aniversário do regresso da Guiné da CART 2410

Olá, Camarigos!

Espero que tenham tido um óptimo Dia de Páscoa! E que os "coelhinhos" do Miguel Pessoa não hajam "sofrido" muito...

Venho ao vosso encontro para comunicar que hoje, 25 de Abril, a minha Companhia - CART 2410 - celebra o 41º aniversário do regresso da Guiné, no ANA MAFALDA! (**)

Vou tentar enviar umas fotos alusivas ao dia 25 de Abril de 1970.

Um abraço Camarigo para todos!
José Rocha, ex-Alf Mil [, foto à esquerda]
____________

Nota do editor:

(*) Vd. outros psotes do José Rocha:

23 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

(**) A CART 2410 foi mobilizada pelo GACA 2, embarcou em 11/8/1968 e regressou a 18/4/1970. Esteve em Gadamael e Guileje. Comandante: Cap Mil Art Amílcar Cardigos Pereira. A CART 2410, Os Dráculas, está também representada no nosso blogue pelo ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb Luís Guerreiro (que vive hoje na Canadá).
18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2663: Tabanca Grande (58): Luís Guerreiro, ex-Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Ganturé, 1968/70)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3086: Memórias dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3087: Memórias dos Lugares (11): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte II (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7156: Memória dos lugares (102): Gadamael: a misteriosa sigla A.S.C.O já lá estava no tempo do Luís Guerreiro (1969) e do José Gonçalves (1974), dois camaradas que vivem no Canadá
 
(***) Último poste da série > 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8059: Efemérides (64): Freguesia de Mar-Esposende: Homenagem aos ex-Combatentes no dia 1 de Maio de 2011 (José F. Silva/Fernando Cepa)

Guiné 63/74 - P8167: 7º Aniversário do Nosso Blogue: 23 de Abril de 2011 (22): Graças a vocês consegui viver "outras vidas" (José Barros Rocha)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 2410 (1968/70) >  Preparação de uma coluna de reabastecimento a Guileje



 
Lisboa >  A formatura da minha Companhia (parte) antes do embarque no Uíge, no dia 11 de Agosto de 1968, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos.(O José Rocha aparece em segundo plano, do lado esquerdo.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista do porto de Gadamael-Porto.


Lisboa > O N/M Uíge em 1968 com tropas a bordo.


Fotos (e legendas): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel,  José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410 (que passou por Mansoa, Guileje e Gadamael, 1968/70)



Data: 23 de Abril de 2011 14:22
Assunto: Aniversário/Blogue



Camarada e Amigo Luis Graça:
Parabéns pelo 7.º Aniversário do Blogue! Parabéns pelo Blogue! Parabéns a Ti!


Graças ao Blogue do Graça  consegui "viver" outras vidas...


Obrigado! A ti, Luís, e aos  teus Ajudantes de e em Campo, os meus agradecimentos.
Sigam em frente! O Blogue é imprescindível!


Aquele abraço camarigo!
José Rocha
Ex-Alf Mil da CART 2410
P.S. - Vou tentar enviar algumas fotos daqueles tempos...


A 1.ª  é o Uíge em 68 com tropas a bordo;
A 2.ª é a Formatura da minha Companhia (parte) antes do embarque no Uíge, no dia 11 de Agosto de 1968, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos;
A 3.ª é uma vista do porto de Gadamael-Porto;
A 4.ª é a preparação de uma coluna de reabastecimento a Guileje


______________


Nota do editor:

Último poste da série >  26 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8166: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (21): Saúdo o núcleo permanente de colaboradores que vem mantendo absolutamente impecável este grande projecto (Rui Ferreira)

Guiné 63/74 - P8166: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (21): Saúdo o núcleo permanente de colaboradores que vem mantendo absolutamente impecável este grande projecto (Rui Ferreira)

1. Mensagem do nosso querido amigo e camara Rui Alexandrino Ferreira ou Rui Ferreira ( Cor Ref, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e outra como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72):

Data: 24 de Abril de 2011 15:27
Assunto: 7º aniversário do blogue (*)


Meu caro Luís,

Na tua pessoa saúdo o núcleo permanente de colaboradores que vem mantendo absolutamente impecável esse grande projecto em que se tornou o nosso blogue.

De igual forma saúdo todos que,  pondo de lado o comodismo, a preguiça e  até algum pudor, nos contam as suas vivências no evento que passou  à história com a designação de guerra colonial, de África, do ultramar, de libertação ou como lhe queiram chamar, mas que, tendo constituído o marco que influenciou a vida colectiva dos portugueses na segunda metade do século XX, constituiu a maior epopeia contemporânea de Portugal.

E por um lado é com um misto de gratidão e admiração que me refiro a quem troca horas de merecido repouso pelo trabalho, que se me afigura bastante mais complicado que possa parecer, por outro, em nome do que sinto ser opinião generalizada, aqui lhes peço que permaneçam firmes nos seus postos.

A necessidade de transmitir às novas gerações o que foi para a nossa a guerra colonial, a forma como a vivemos, como sobrevivemos,  o muito que penámos e sofremos, torna a vossa acção absolutamente fundamental.


Aos antigos combatentes da Guiné que hoje sentem na alma a frustração, o desencanto e a ingratidão duma pátria que não lhes reconhece os méritos, os sacrifícios, o muito que fizeram por aquelas terras e aquelas gentes, que continuem com o mesmo orgulho e com a mesma simplicidade e emoção a contar quanto por lá sofreram.

Não há do que ter vergonha, nem mesmo quando a ingratidão duma pátria que desses mesmos combatentes tem mais medo e vergonha que respeito e admiração, nem mesmo quando sentem nos corpos precocemente envelhecidos pela canícula que tudo queimava, pelas oscilações da temperatura nas noites passadas ao relento, debaixo de chuva, nem mesmo quando a tudo isso se juntava a má alimentação, a falta de água potável, a falta de instalações condignas, a desadaptação da hierarquia, a falta de armamento moderno em contraste com o que era usado pela guerrilha.

Durante treze sacrificados, penosos, duros e difíceis anos em que se arrastou, suportou o povo português, contra tudo e contra todos, uma guerra com meios que hoje poucos acreditam ter sido possível e muitos mais se recusam a admitir deixando incrédulo, estupefacto e contrafeito aquela parte do mundo que contra nós estava.

A minha homenagem ao soldado português que,  num misto de desembaraço, adaptação e desenrascanso.  mostrou na sua grandeza de alma todo o valor dum povo anónimo e humilde donde provinha, que deu provas duma imensa solidariedade, camaradagem e amor pelo próximo.

Que consigam continuar a contar o quanto por lá passaram duma forma autêntica pois todos os testemunhos nunca serão demais para contar a verdade.

Verdade que muitos teimam em não ver!

Parabéns a todos.

Um grande abraço,

Rui Ferreira
_______________


Nota do editor:

Último poste da série > 25 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 P8165: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (20): O nosso Blogue serviu para colar partes da vida separadas pela guerra e que através dele se reencontraram (Pepito, AD- Acção para o Desenvolvimento, Bissau)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8165: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (20): O nosso Blogue serviu para colar partes da vida separadas pela guerra e que através dele se reencontraram (Pepito, AD- Acção para o Desenvolvimento, Bissau)

1. Mensagem do nosso amigo Pepito, da AD - Acção para o Desenvolvimento:



Data: 25 de Abril de 2011 10:43
Assunto: Re: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011


Caro Luís


Tenho estado pelo norte pelo que só tive acesso ao teu email agora (*). Daí que este te chegue fora da data que pediste.

A comemoração desta data do nosso Blogue leva-me a tanta coisa para o qual ele contribuiu. Desde logo o Simpósio Internacional de Guiledje que dificilmente teria visto a luz do dia se não fosse ele (e tu em especial) a mobilizar vontades, ultrapassar receios, recolher testemunhos, enviar documentos e fotografias e fazer com que alguns dos seus membros (o Coronel Nuno Rubim é disso um notável exemplo) deixassem para sempre a marca no Museu "Memória de Guiledje", desde objectos de uso pessoal de alto valor sentimental guardados há mais de 30 anos (galões, aerogramas, e lenços), até ao diorama, obra prima de qualidade impar.

O Blogue contribuiu assim decisivamente para a realização de um encontro único na história das guerras coloniais, juntando todos quantos, de um lado e de outro,  se confrontaram em guerra para se reencontrarem, reviverem e reescrever aspectos e interpretações dessa mesma memória. Franceses e argelinos, Ingleses e quenianos, americanos e vietnamitas, ainda hoje o não fizeram... Fá-lo-ão?

O nosso Blogue serviu para colar partes da vida separadas pela guerra e que através dele se reencontraram. Estou a lembrar-me da família Pinho Brandão e da alegria do filho do Tcherno Rachid ao ver fotografias desconhecidas do pai.


O Blogue foi e tem sido um local de debate sobre questões tão concretas como a morte dos majores em Pelundo, o desastre de Tchetche no rio Corubal, a retirada de Guiledje, bem como outras mais gerais sobre o curso da guerra.

Debates quase sempre esclarecedores, mas com conclusões nem serem consensuais:

(i) Os que defendem que na Guiné-Bissau a Guerra estava controlada pelo exército português, que a guerrilha do Paigc estava cansada e desejosa de acabar os combates e aqueles que realçam o contributo decisivo dado pelos guineenses para a Revolução dos Cravos em Portugal;

(ii) Os que defendem que Spínola não organizou o assassinato de Amilcar Cabral e, pelo contrário, não o queria;

(iii) E os que recordam que já na operação Mar Verde (Spínola e Alpoim Galvão) a primeira coisa que fizeram em Conakry foi o bombardeamento da casa de Amílcar Cabral (que não estava lá) mas em que a sua mulher foi atingida, carregando ainda hoje no corpo os efeitos desse atentado; por contra-argumentar estão também as razões da ida do barco com os assassinos de Cabral e o aprisionado Aristides Pereira para Bissau e não para nenhuma outra capital vizinha (Freetown, etc.).


Mas que os debates do nosso Blogue são estimulantes, sérios e rigorosos, isso ninguém pode pôr em causa.


Pessoalmente considero que ainda falta abordar muito do período que vai do 25 de Abril até à partida do último soldado de Bissau.


Quantas organizações de solidariedade para o desenvolvimento se inspiraram no Blogue? A AD trabalha activamente com a Tabanca Pequena e a Ajuda Amiga, assim com pessoas que individualmente têm contribuído para a preservação da memória da história e para a melhoria das condições de vida das populações locais (sementes, poços de água, livros escolares, formações e tantas e tantas coisas bonitas).


Se por hábito dizemos que todos estamos de parabéns nesta ocasião, então o que dizer dos editores, com o Comandante Luís Graça na liderança ?


Um grande OBRIGADO!


pepito


(*) Mensagem de L.G.:


Pepito: Dia 23 de Abril, sábado, o nosso blogue completa 7 anos de vida... Visto de Bissau, o que é que ele representa para ti, para vocês, a AD, os teus amigos e conhecidos, os guineeenses...? Não queres escrever "duas palavrinhas" ?... Temos ainda pouco "feedback" da vossa terra... Sei que há dificuldades de acesso: telecomunicações, custos, literacia informática, etc. Boa saúde, bom trabalho. Luís


PS - Vi-te na a reportagem, na RTP2, gostei, tomei notas, que estou reescrever...
___________

Nota do editor: 


Último poste da série > 24 de Abril de 2011 > Guiné63/74 - P8163: 7º Aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (19): A terapia mais eficaz e barata que fiz até hoje (Paulo Santiago)

domingo, 24 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8164: Votos de uma Feliz Páscoa, do Miguel e da Giselda Pessoa... e do resto do maralhal!


Cartoon: © Miguel Pessoa (2011). Todos os direitos reservados

Guiné 63/74 - P8163: 7º Aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (19): A terapia mais eficaz e barata que fiz até hoje (Paulo Santiago)

1. Mensagem do Paulo Santiago (que me telefonou hoje da Curia, a dar-me a boa nova: daqui a 4 dias, vai passar para o Clube dos Reformados):



Data: 23 de Abril de 2011 20:20

Assunto: Aniversário

Camaradas:


Já devem ter passado mais de cinco anos de convívio nesta bela Tabanca. Tenho óptimas recordações a partir do momento em que dela passei a fazer parte, e tenho sido bem 
tratado.~

Em 2005, acompanhado pelo meu filho João, regressei, por uma semana, à Guiné. Foi uma viagem emocionante, serviu para exorcisar alguns fantasmas, mas houve outros que continuaram a infernizar-me a cabeça. 

Para agravar, estava desde Novembro de 2004, constituído arguido, com termo de identidade e residência, num processo onde era acusado de ofensas corporais, o que me obrigou, antes da viagem, a participar a minha ausência à GNR aqui em Águeda. Já considerava, e também a isso era aconselhado, recorrer a um psiquiatra. Na altura comecei a dar os primeiros passos na Net, e numa bendita noite, nem sei bem como, cheguei ao Luis Graça & Camaradas da Guiné onde dou de caras com umas imagens de Bambadinca e do Saltinho, e do Vacas de Carvalho com aquele conhecido lenço amarelo...
- Ora aqui estão uns camaradas no meio dos quais me sentirei bem -  foi o meu pensamento na altura.

Só com um dedo, ainda hoje é assim, comecei a escrever no nosso blogue, e, maravilha, todos os fantasmas "encoirados" na cabeça foram desaparecendo,foi a terapia mais eficaz e barata que fiz até hoje, nada de psiquiatras. Rejuvenescido com esta terapia, até fui a julgamento, não aceitei acordo, e fui absolvido.

Luís, tu que foste o criador deste magnífico espaço de convívio e amizade tens a minha gratidão, não esqueço.


Um abraço aos editores e restantes camaradas

Paulo Santiago

Aguada de Cima, aos 23 de Abril de 2011

____________


Nota do editor:


Último poste da série >  23 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8161: 7º Aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (18): Todos os dias, e mais que uma vez, venho à Tabanca Grande (António Branco)

Guiné 63/74 - P8162: Parabéns a você (250): David Guimarães, ex-Fur Mil da CART 2716/BART 2917 (Tertúlia / Editores)




PARABÉNS A VOCÊ

24 DE ABRIL DE 2011

DAVID GUIMARÃES

Este ano, o dia de Páscoa, na linda cidade de Espinho, tem um significado especial, particularmente em casa do nosso camarada David Guimarães, tertuliano dos primeiros deste Blogue, porque se festeja também o seu aniversário.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de Pásco e de aniversário junto da tua esposa Lígia, filhos, demais familiares e amigos.

No dia em que tens prendas a dobrar, podes comer mais um pouco de cabrito (de carne) e mais uns coelhinhos (de chocolate). Tudo isto bem regado.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
____________

Notas de CV:

David Guimarães foi Fur Mil Art Minas e Armadilhas na CART 2716/BART 2917 que esteve no Xitole nos anos de 1970/73.

Vd. último poste da série de 19 de Abril > Guiné 63/74 - P8132: Parabéns a você (249): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Tertúlia / Editores)

sábado, 23 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8161: 7º Aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (18): Todos os dias, e mais que uma vez, venho à Tabanca Grande (António Branco)

1. Mensagem do António Branco  (ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74)

Data: 22 de Abril de 2011 22:56
Assunto: 7º Aniversário do nosso blogue
Ao comemorarmos o sétimo aniversário do nosso blogue, não posso deixar de enviar as minhas maiores felicitações ao fundador e administrador Luís Graça, bem como a todos os co-editores e colaboradores permanentes.
Cheguei à Tabanca Grande na sequência de diversas pesquisas sobre assuntos relacionados com a guerra na Guiné, o seu povo e os camaradas que por lá passaram.
Comecei por incluir um pequeno comentário e de imediato aceitei o convite para fazer parte desta imensa família.
A partir de então, todos os dias e mais que uma vez venho procurar o máximo de informação que os quase quinhentos amigos disponibilizam.

Sempre que possível tento colaborar, partilhando algo da minha experiência.
Foi assim que, decorridos mais de trinta e cinco anos, através do nosso blogue consegui encontrar camaradas dos quais desconhecia por completo o seu paradeiro.

Por isso e também pela forma como conseguimos lutar para não deixar esquecer o que foi a nossa presença na Guiné, quero desejar que mais camaradas possam entrar nesta Tabanca, deixando os seus testemunhos, colaborando desta forma para a concretização do que considero ser, desde já, um extraordinário documento histórico.
Que estes sete anos se prolonguem por muitos mais para que este espaço sirva igualmente para que as novas gerações percebam de uma forma não deturpada o que foi a nossa presença na Guiné.
A vós resta-me agradecer uma vez mais a vossa iniciativa e testemunhar o prazer que sinto fazer parte desta imensa Tabanca Grande.

Um abraço
António Branco
________________

Nota do editor

Guiné 63/74 - P8160: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (17): Parabéns, Camarigos, dia 23 é o “Dia do Amor” sentados na Tabanca Grande (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 18 de Abril de 2011:

Bem, pensei eu, o dia 23 aproxima-se e preciso escrever alguma coisa sobre o aniversário da nossa Tabanca Grande.

Lá peguei então nesta “caneta virtual”, e dispus-me a escrever o que me viesse ao coração.

Lembrei-me de escrever:
Parabéns a vocês, e depois colocar os 490 nomes de todos os atabancados, mas calculei que para além da extensão do “texto”, poderiam chamar-me preguiçoso e pouco empenhado!

Ora bem, escrever o que me viesse ao coração!

Pois, porque é do coração que aqui tratamos na nossa Tabanca Grande.

É que podemos ser muito inteligentes, muito cultos, muito razoáveis, muito bons pensadores e escritores, mas se não tivermos coração, ou melhor se não tivermos amor no coração, nem a inteligência, nem a cultura, nem a razoabilidade, o pensamento ou a escrita, servem para nada, porque serão frios, sem calor e apenas expressão de um saber, que não vai acompanhado de um ser.

Lá vem este com a lágrima ao canto do olho, (já estão a dizer uns quantos), “lambuzar” a gente de carinhos e abraços sentidos.

É que, meus queridos camarigos, quando me lembrei de escrever por causa do aniversário da Tabanca Grande, veio isto ao meu pensamento, ou melhor, ao meu coração.

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor
.

1 Cor 13, 1-8;13

E então pensei, realmente é disto que tratamos, ou tentamos tratar na nossa Tabanca Grande.
Tentamos conhecermo-nos melhor, para gostarmos mais uns dos outros.
Tentamos gostar das nossas diferenças e aceitá-las, para melhor nos compreendermos.
Porque se melhor nos compreendemos, melhor nos gostamos.

Tentamos então gostar mais uns dos outros, para melhor nos ajudarmos.

Mas tentamos mais!

Tentamos até gostar dos que dantes não gostavam de nós, (com os quais fazíamos a guerra), e que também não moravam nos nossos corações.
Tentando gostar deles, também fazemos as pazes com o nosso passado.
E ao tentarmos gostar deles, acabamos por gostar mais de nós também.

Então, (e para não me alongar mais), a Tabanca Grande é um espaço de encontro de homens que se querem gostar, um encontro de um passado difícil, com um presente na procura da paz, rumo a um futuro de harmonia que constrói e espera.

Por isso mesmo, o dia 23 de Abril é um grande dia de festa, porque é o aniversário do espaço intemporal que nos foi dado, para nos encontrarmos connosco e com os outros.

E devemo-lo ao Luís Graça, e àqueles que com ele labutam no dia-a-dia para colocar os nossos textos, (e não cito para não ouvir nenhuma reprimenda dos mesmos), e a todos nós que deixamos falar o coração, para dele tratarmos com os outros e para os outros.

Parabéns, Camarigos, dia 23 é o “Dia do Amor” sentados na Tabanca Grande.

Em tempo:
Eu sou assim mesmo, ou tento ser, e espero não mudar!

Monte Real, 18 de Abril de 2011
Joaquim Mexia Alves
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8159: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (16): Que a História não esqueça o que o blogue Luís Graça manteve vivo (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P8159: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (16): Que a História não esqueça o que o blogue Luís Graça manteve vivo (Juvenal Amado)

Juvenal Amado no Dulombi

18 de Dezembro 1971 > A bordo do "Angra do Heroismo".
Foto de Manuel Passos

Em Cancolim > Dentro espaldar do 81 > Alves do Porto, Dias da Maia, Carneiro de Penafiel e o Correia.

Ponte do Saltinho.
Foto Dr Coelho

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 19 de Abril de 2011:

O BLOGUE FAZ ANOS A 23 DE ABRIL

No Verão passado fui ver uma exposição intitulada o POVO no Museu da Electricidade em Lisboa.
Qual o meu espanto, quando olho para uma parede, vejo imagem do meu embarque para a Guiné e entre alguns rostos conhecidos vejo o André maqueiro, a uma escotilha acenando com um pano branco. São imagens fugazes onde se vêm camaradas a dançar exteriorizando uma alegria duvidosa e alvo de comentários jocosos de algumas pessoas que assistiam ao filme.

Por fim o Angra do Heroísmo, passa por debaixo da ponte rumo ao nosso destino.
Não sabem essas pessoas, que muitos dos que dançavam não regressaram vivos, uns não querem saber e os outros quiseram esquecer.

Talvez não sejam completamente culpadas da sua ignorância.

Há pouco tempo retomei o contacto com o André, onde ele me conta que a imagem aconteceu, por ele ter pedido ao operador de câmara, que o filmasse pois estava sozinho e assim a família poderia vê-lo na televisão. Assim ficou combinado, o operador de câmara disse-lhe que ele acenasse com um pano branco, que ele o filmaria. Disse-me o André depois de ver o filme, que eu lhe enviei, que à falta de melhor deitou mão a uma fronha de almofada. Este segredo esteve pois guardado 39 anos e mais uns pozinhos.

Não tem importância para muitos e mesmo para alguns a sua importância é relativa.

Assim é no nosso blogue, o que contamos, o que escrevemos, os encontros e reencontros de antigos camaradas, são pois momentos carregados que ansiedade de prazer.

O Catroga ex-Cabo Enfermeiro a morar na Suíça, descobriu por acaso pela mão da filha um poste meu onde estava a sua foto. Leu e releu nos dias a seguir, tudo ou pelo o menos julga ele, o que no blogue foi escrito em relação ao 3872.

As lágrimas rolaram-lhe pela cara, sempre que via um conhecido ou um lugar. Diz ele que ficou rejuvenescido, que lhe fez bem o reencontro com muitas memórias esquecidas.

O reavivar das memórias e afectos, tem sido efectivamente uma das grande benfeitorias, que devemos ao blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

As boas memórias não conseguirão nunca abafar totalmente as más, o certo é que a vontade de estarmos juntos faz mesmo assim dos maus bocados momentos a recordar.

O BCaç 3872 é pois recordado, para além dos que a ele pertenceram graças ao blogue, começado pelo Luís, adubado pelos nossos editores, e nós tão somente beneficiamos do efeito terapêutico, de descarregar nele o que vive dentro de nós.

Sem que ninguém me tenha incumbido de tomar a palavra pelo 3872, vou mesmo assim em nome dos vivos e em memória dos nossos mortos, agradecer o acolhimento que as nossas vivências passadas têm.

Que a História não esqueça o que o blogue Luís Graça manteve vivo.

Um abraço e boa Páscoa para todos atabancados e suas famílias
Juvenal Amado
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8158: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (15): A caminho da 4ª comissão!

Guiné 63/74 - P8158: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (15): A caminho da 4ª comissão!


1. O nosso Cor Pilav Miguel Pessoa, ilustrador-mor da Tabanca, presentou-nos com este expressivo postal de aniversário.

Sem falsas modéstias, bem podemos dizer hoje que O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande!



2. Do nosso vate Manuel Maia (das terras da Maia), como sempre se exprimindo em sextilhas:


Sete anos viu passados, num instante,
Tabanca Grande, aniversariante,
Luís e "sus muchachos", rejubilam...
Saudosoa das bolanhas e dos matos,
quinhentos tabanqueiros lhes estão gratos
p`ra dar-lhes parabéns, já se perfilam...


Falar-vos do Luís e sua obra
de amizade, qualidade em sobra,
do homem solidário, aqui se vinca...
Por muito que vos diga é sempre escassa
palavra laudatória ao Luís Graça,
furmil, Luis Henriques, Bambadinca...


Ao homem dos Comandos, V.Briote,
um dos co-editores, alguém anote,
(tal como no passado AB fazia...)
Amigo do amigo, e bem sabido,
que o diga o Mamadu reconhecido,
por livro d`importante parceria...


Co-editor famoso, C.Vinhal,
trabalhador de nível excepcional,
de amor, dedicação, e competência...
À malta lembro aqui, emocionado,
que o Carlos é credor dum obrigado,
sonoro, tenham santa paciência!!!


De Matosinhos, mar de gente boa,
por fim chegou o "Pira de Mansoa"
que em dia D a verde rubra enrola...
P´ra um ranger furriel, a distinção,
o Magalhães Ribeiro, co`a função
do blog co-editor de grã bitola...


Se a cada um de nós corresponder,
mais um Guinéu disposto a escrever
a história duma guerra onde interveio...
Os quatro "lusitanos mosqueteiros",
farão com horas-extra, mealheiros,
e o cofre do país fica mais cheio...


Afinem as gargantas, maralhal,
o dia é de alegria colossal,
co`a taça bem erguida há que entoar...
Luís Graça e camaradas da Guiné,
espaço/evocação que bom que é,
dos tempos d`outro tempo, d`ultramar... 




3. De Alberto Branquinho:


7 ANOS?!


Tão pouco ano
não será engano?


Há no BLOGUE
tanta vida
tanto movimento
tanto tempo
tanto escrito
tanto encontro
tanto almoço
que a gente não aguenta!


Em vez de sete
não serão setenta?




4. Do berço da Nação, a nossa amiga Filomena Sampaio


Dia 23 de Abril é um dia especial para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Especial por duas razões, primeiro porque faz 7 anos de existência e segundo porque este nos apresenta diariamente temas também especiais e variadíssimos sobre a Guiné e não só, e para ser mais precisa ainda, devo referir que um Grupo de Pessoas como o seu Fundador, Administrador e Editor, Co-Editores e todos os Colaboradores merecem ser felicitados.


É de facto um Blogue de histórias contadas “normalmente” na primeira pessoa, de interesse e reflexão. Os leitores participam fazendo comentários por vezes pertinentes. São estes motivos que me fazem acreditar que o Blogue tem sentido, porque existe para além do saber académico de cada leitor, um saber genuíno que nasce de diferentes vivências, um gosto apaixonado pelas histórias da Guiné e Guerra do Ultramar.


Esta partilha de conhecimentos que retêm e salientam diferentes perspectivas e facetas do Blogue mostram a profundidade do seu Criador e Co-Editores, e a transversalidade, clareza e simplicidade com que o alimentam todos os dias.


Resta-me agradecer a todos os momentos de boa leitura que me têm proporcionado.
Obrigada pela amabilidade, pela clareza e pela partilha do Blogue.
Vim aqui só para agradecer e dar os parabéns.


Com amizade
Filomena.




5. Do nosso camarada José Belo nas terras frias do norte da Europa


Caros Editores do Blog de Luís Graca e Camaradas da Guiné.
No 7.º Aniverdsário do blogue seria repetitivo da minha parte apresentar unicamente elogios ao grande significado do mesmo, e a tudo o que através dele já foi obtido em camaradagem, solidariedade e memória. E,não menos, a criação de outros blogues "filiais", com iniciativas próprias, sendo de salientar todas as solidariedades com o povo da Guiné. A semente original foi bem plantada por um blogue abrangente, inclusivo e construtivo nos seus objectivos. Os resultados falam por si!


Queria antes, aproveitando esta data, chamar de novo a atenção de todos, para o voluntarioso grupo de Camaradas que procura organizar, e estabelecer, um digno Dia dos Combatentes, a ser comemorado por TODOS os que participaram nas últimas guerras de África. Tudo até hoje oficialmente feito tem ficado muito aquém da importância, e verdadeiro significado que as guerras de Angola, Moçambique e Guiné tiveram para os milhares de portugueses que nelas estiveram envolvidos.


A contribuicäo do nosso blogue para este objectivo poderá ser muito importante.


Escrevi na Tabanca da Lapónia (http://www.lapplandkeywest.com/) um poste "Portugal e os seus antigos combatentes" que procura levantar algumas perguntas relacionadas com a maneira como o nosso Povo tem olhado os SEUS ex-combatentes.


Surgem perguntas, mas, as respostas näo seräo fáceis.


Um grande abraco do José Belo.
Estocolmo 21 Abril/2011.




6. Do nosso camarada José Martins:


Porque esperam os ditos Grandes deste mundo?
Estão à espera de quê?
Continuar uma luta que a nada leva?
Continuar cegos pelo poder?


Sentem-se tranquilamente e façam a paz consigo mesmos!
Abram o blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, e meditem.


Meditem no que fazem dezenas, centenas e, porque não, milhares de antigos jovens, que depois de ter "combatido na guerra da sua vida" em que muitas vezes, em vez de darem tiros, davam ajuda às populações, abraçam os antigos oponentes, num abraço fraterno que atravessa o mar e regressa com igual intensidade.


Não se conseguem reconciliar?
Então não sacrifiquem mais aqueles que querem viver e viver em paz, consigo próprios e com os outros!


Pensei que a cruxificação já estivesse fora de moda, mas parece que continua a existir, se não fisicamente, pelo menos psicologicamente.


Esta obsessão de querer fazer vingar as ideias próprias, não será VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, já que o mundo é uma pequena casa?


SANTA PÁSCOA A TODOS, mesmo aos que não querem!


Abraço Camarigo neste aniversário!
José Martins




7. Do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO)


Caros Amigos e camaradas
É de facto uma longa e valiosa listagem a dos nossos tertulianos.
E...eu estou lá.
Nesta fase da minha vida é dos meus motivos de orgulho.


Cada vez que entro no Blogue estou em casa.
É uma sensação maravihosa. Sem preço e... sem impostos.


O nosso Luís Graça e todos que o ajudam há muito que deviam ter sido condecorados pelos relevantes serviços que prestaram e prestam à causa dos ex-combatentes.


No 7.º  aniversário do nosso blogue saudo-vos com muito respeito e admiração. Apetecia-me dizer, e fica dito, que num País cada vez com menos valores a obra feita neste blogue merece um Hino de Gratidão e Apreço.


Os Camaradas da Guiné resistem e vivem cada dia que passa com a sua auto-estima em alta.


Porque andámos por lá. E porque podemos partilhar tudo o que passámos com quem fala a nossa linguagem.
Viva o blogue do nosso Luis Graça e de todos nós. Camaradas da Guiné.


JERO




8. Do nosso camarada da FAP António Dâmaso:


Em tempos senti-me perdido e encontrei-me ao descobrir o Blogue de Luís Graça.


Depois de muitos anos ter andado a tentar esquecer o inesquecível, fui contactado a fim de prestar elementos sobre a localização das campas dos três Páras enterrados no cemitério improvisado de Guidage.


Voltaram os pesadelos, a minha mente estava ocupada com a lembrança dos acontecimentos vividos, a minha capacidade de desempenho diminuiu, tive de me socorrer da minha dedicação para conseguir equilibrar.


Entretanto o meu Serviço foi equipado com Internet e nas ”horas mortas” uma vez digitalizei uma palavra que não me saía da mente, Guidage e a partir daí voltei a digitalizá-la por muitas vezes, tantas vezes que devo ser o recordista.


Quero neste dia do 7.º aniversário do Blogue expressar a minha gratidão aos Camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro, Virgílio Briote, Humberto Reis e muitos outros, o meu muito obrigado por me terem ajudo a reencontrar-me.


Feliz aniversário
Um Alfa Bravo
Dâmaso
______________


Nota de CV:


Último poste da série > 22 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8155: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (14): Lista, de A a Z, dos amigos e camaradas da Guiné, registados na Tabanca Grande até hoje

Guiné 63/74 - P8157: Blogpoesia (146): Elegia para um paisano (Luís Graça)

Elegia para um paisano

por Luís Graça

 [ foto à esquerda, no "oásis de paz" de Contuboel, Centro de Instrução Militar, Junho de 1969]





(À memória de A…, meu  camarada
da CCAÇ 12, Guiné, 1969/71…
e dos demais camaradas, desconhecidos
que morreram,
de morte violenta,
já como paisanos,
por homicídio, por suicídio, por acidente)


Disseram-me que tinhas morrido,
Meu infortunado camarada,
Já muito depois do nosso regresso a casa.
Talvez nos finais dos anos 70
Do século passado,
Não posso precisar.
Morrido, lerpado,
Para usar o nosso vocabulário,
Bruto e feio.
Lerpado, assim,  sem mais nada,
Sem uma palavra,
Sem uma despedida,
Sem uma oração,
Talvez até sem  um ui nem um ai,
Sem um grito.
Sem aviso prévio,
Nem sequer um cheque-mate!
Morrido, de morte matada!
Morrido, como um cão.
De um tiro na nuca.
Como os cães que abatemos,
Um noite, em Bambadinca,
A Noite das Facas Longas,
Lembras-te?!

Disseram-me que tinhas sido encontrado,
Longe da nossa Guiné,
Dessa terra verde e vermelha que tu amavas,
Longe da tua Sinchã Mamadjai,
E da morança da tua bela Fatumatá,
De mama firme,
Que se escapulia para a tua morança,
Nas noites, de lua cheia,
Em que uivava a hiena…
Longe do tarrafo do Geba,
Do Mato Cão,
Dos Nhabijões,
Da Missão do Sono,
Da Ponte do Udunduma,
Da orla da bolanha,
Do poilão,
Do bagabaga…
Onde ?
Longe dos teus verdes anos,
Longe do arco-íris do teu céu de menino.  
Perto do teu Tejo,
Numa valeta da rua
Da tua cidade…
Ou de qualquer subúrbio triste e cinzento
De cidade nenhuma.


Que morte tão crua,
A ser verdade,
Oxalá fosse boato a notícia de fait-divers
Que alguém leu no jornal.
A notícia de uma morte
Em que eu não te (re)vejo.
Oxalá, meu camarada,
Tenhas simplesmente desaparecido,
Emigrado,
Sido sequestrado,
Mudado de código postal
Ou até de identidade,
Sempre era menos mal.
E poupavas-me o teu elogio fúnebre,
Que é a pior das missões
Que se pode pedir a um camarada de armas.
Disseram-me
(Mas eu não quis crer)
Que tinhas sido morto,
Sem honra nem glória,
Depois de cumprido o teu dever
Para com a Pátria
Que te foi madastra,
Cruel Jocasta.
Já depois da última nau da Índia ter naufragado
No mar da Palha da tua infância!
Já muito depois 
Dos últimos guerreiros do império,
Terem feito o espólio de todas as guerras
E o relatório da sua errância
Desde Quinhentos.

No século passado, meu amigo!...
No século passado, meu irmão!...
Lembro-me do velho Uíge,
Da velha Companhia Colonial
De Navegação,
Nos ter devolvido a terra,
À nossa cidade e capital,
Nas praias de Alcântara,
No cais da saudade,
No cais de pedra
Donde partíramos,
Quase às escondidas,
Vindos do comboio nocturno e soturno
De Santa Margarida.


Não sei quem te esperava
Nesse dia 22 de Março de 1971,
Mas seguramente os mesmos entes queridos
Que me esperavam a mim,
A todos nós,
Que ali, no cais, passávamos à condição
De paisanos.
Vestidas as calças à boca de sino,
E as camisas às florinhas,
Regressávamos ao doce lar,
Com as bugigangas compradas no Taufik Saad
ou na Casa Gouveia,
E à rotina das nossas vidas,
Insignificantes.
E a uma outra guerra,
A da lufa lufa do quotidiano.
Tu tinhas um lar,
Todos tínhamos um lar,
Uma família, alguns um emprego,
Muitos uma namorada ou noiva à sua espera…

Mas eu o que sabia de ti ?
O que sabíamos uns dos outros ?
E dos nossos sonhos ?
Muito pouco, afinal…
Casaste ? 
Tiveste filhos ?
Não tiveste tempo de ser bom filho,
Nem bom pai,
Muito muito menos avô…

Nunca mais voltei a rever-te,
Em todos estes anos,
Em que tantas coisas aconteceram,
Para o pior e o melhor,
Na nossa Pátria,
Uma palavra, repara, 
Que saiu do léxico dos tugas,
E já não se usa mais…

A imagem mais forte, não a última,
Que retenho de ti,
É a do menino e moço
Que saiu, fardado, garboso,
Da casa de seu pai e sua mãe…
É a do puto reguila,
Quiçá rebelde,
Temperamental,
Belicoso mas generoso,
Da margem sul do Tejo.
Com jeito para o desenfianço,
O desenrascanço,
Que a vida era dura para os homens
Da CCAÇ 12,
Brancos e pretos.

Retenho ainda  a imagem
Do nosso patético duelo
No bar de sargentos de Bambadinca,
Tendo por arma, letal,
Uma garrafa de VAT 69
(Ou era Jonhnie Walker ?
Ou White Horse,
a tal do cavalinho branco ?
Já não me lembro do rótulo,
Sei apenas que era scotch,
E do bom,
Daquele que vinha
From Scotland
For the Portuguese Armed Forces
With love!)…

Um duelo de morte,
Gole a gole,
Até ao gole final,
Em menos de 15 minutos!...
Com árbitro e tudo,
Apostas a dinheiro,
Mirones e claques de apoio,
Como mandavam as regras
Dos apanhados do clima de Bambadinca!

Apanhados do clima, dizes bem,
Exaustos,
Usados e abusados,
Filhos de um Sísifo menor,
Condenados ao mais insano dos suplícios,
Uma guerra a que chamavam
De contra-guerrilha,
Uma guerra do gato e do rato…
Não, não, era a roleta russa,
Ninguém tinha pistolas de tambor,
Era o fado lusitano,
Era o fado da Guiné,
Meu camarada, meu amigo, meu irmão,
Era a nossa triste condição,
Era a nossa quiçá estúpida, mas viril, maneira
De matar… o tempo,
O  tempo em tempo de guerra,
O tempo de espera entre uma e outra operação.
O tempo de espera que podia ser
Entre a vida e a morte.
Era a insanidade mental,
Era a raiva, traiçoeira,
Era a lucidez da loucura a tomar conta
De nós….

Foi esse fado que te matou,
Essa maldita, tóxica, adrenalina,
Que trouxeste do Geba e do Corubal.
E que te impedia de parar para pensar,
Simplesmente parar,
Simplesmente pensar,
Simplesmente viver,
Simplesmente respirar
À tona de água.
Meu irmão.
Meu camarada.
Meu amigo.
Foi o sobressalto da vida.
Foi a vida em sobressalto.
Foi a vida em saldo.
Foi a alma em dor.
Foi isso que te matou.
No pós-guerra.
Na guerra dos paisanos.
Foi isso, foi a Guiné que te matou.
Ao retardador.
Ou não ?!

Sexta-feira Santa, Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, 22/4/2011

________________

Nota do editor:

Último poste da série:

18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8125: Blogpoesia (145): Falando de poesia, de José Régio e do nosso Blogue (Felismina Costa)