quinta-feira, 30 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8489: Parabéns a você (281): Agradecimento/reflexão de Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66)








Duas fotos do álbum fotográfico do Santos Oliveira de que publicámos 7 postes...


Fotos: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.


1. Comentário/agradecimento/reflexão deixado por Santos Oliveira (ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66) no seu poste de aniversário*:

Caros Amigos

Creio poder ser este o melhor tratamento para todos quantos desejaram que o meu Aniversário (variável conforme a hora, segundo iam informando) fosse muito feliz.

E Foi! E é! Qualquer de nós sabe que com a idade o Vinho do Porto melhora;
Com a idade, as uvas enrugam-se e tornam-se mais doces;
Com a idade ou somos comedidos e ou dizemos e fazemos disparates.

Acreditem que Vos acompanho (na sombra) e não deixo os Amigos desamparados. Vós sois os meus Amigos e, só por isso, quebro um princípio que me estabeleci: o de estar sozinho, no silêncio, a pensar, sentado debaixo do meu Poilão pessoal.

As coisas que se passaram, passaram, mas deixaram a marca do sumo da castanha de caju crua; é cicatriz que não mais se apaga da carne.

A amizade não se paga mas agradece-se. Eu Vos estou grato, muito grato.

Aproveito esta forma "deselegante" (já que de aniversário se tratava) para "botar faladura":

Desejo que todos e qualquer um, sem distinção de qualquer ordem, se dêem as mãos e saibam recordar a Disciplina de ser Corpo, Unidade, Equipa, seguindo as directivas que foram traçadas no início e, sem ambiguidades, se disponham a "alinhar" o que começou a "desalinhar" desde que a GUINÉ e a Guerra, em que estivemos empenhados, se secundarizou no Blogue.

Relatos da Guerra, vou-os ouvindo aqui e ali; mas não os vejo escritos e documentados. Quer isto dizer que ainda há muito a contar para que se faça História, a verdadeira, a contada na primeira pessoa. Se a descredibilização continua, nada mais, de grande valia, irá aparecer. Quem tem motivos e factos pessoais vividos na Guerra, se auto exclui, acanha e sente humilhação no que são factos reais.

Acontece, algumas vezes, visitar, anonimamente, a Tabanca e fico muito penalizado. Dói-me que um Projecto desta índole se tenha degradado, ou foram as gentes quem degenerou?

Perdoem-me a Reflexão.

Quem tem que decidir, não hesite.
Quem está com o Projecto, se afirme.
Quem está para fazer número, se vá em Paz.
Algumas vezes, Amigos, o silêncio é de ouro; outras vezes, é atroador.

Mais uma vez vos agradeço o que livremente escreveram e, acredito piamente, que o sentiram.

Gostaria Homenagear o, ausente, Mário Fitas, pelas razões que conhecem; eu passei por isto duas vezes e desejo que o Mário se recupere depressa. Perdoai este aparte sentimental.

A todos, o meu abraço mais apertado,
Santos Oliveira
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Notas do Editor:

(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8486: Parabéns a você (280): Manuel Maia, o nosso bardo

Guiné 63/74 - P8488: Agenda Cultural (139): 115.º Jantar de Amizade UNICEPE, dia 1 de Julho de 2011, com apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973), do guineense Julião Soares Sousa + mais fado de Coimbra


O grupo de fado de Coimbra Cantus do Rio (Imagem, reproduzida com a devida vénia, do sitio da Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL)

1. Mensagem recebida há poucos minutos no nosso Blogue:


Caro Luís Graça:

Eu tinha pedido ao nosso comum amigo Vítor Junqueira para providenciar a colocação da notícia que segue abaixo mas, pelos vistos, ele estará ausente e não tratou do caso.
Embora em cima da hora, ainda pode colocar?


Cordiais cumprimentos,
Rui Vaz Pinto

Presidente da Direcção
UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL
Praça de Carlos Alberto, 128-A
4050-159 PORTO
Telefone (351) 222 056 660
Unicepe@net.novis.pt
http://www.unicepe.com/




115º Jantar de Amizade UNICEPE
Sexta-feira, 1 de julho de 2011, 19h45m


- “Amílcar Cabral (1924-1973) - Vida e morte de um revolucionário africano”, livro do Professor Doutor Julião Soares Sousa  (resultado de uma longa investigação para o doutoramento concluído na Universidade de Coimbra) (i) será apresentado pelo Professor Doutor Armando Teixeira Carneiro, Director do ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, de Aveiro.


- Momento musical pelo grupo CANTUS DO RIO (ii). 30 a 40 minutos com a guitarra portuguesa (Luís Marques), guitarra clássica (Paulo Larguesa) e uma voz (António Dinis).

- Ementa: Água, sopa de legumes, bacalhau com espinafres, vinho maduro tinto Dão Quinta de Roriz, semi-frio de maracujá, café, vinho do Porto Poças. Preço: 15,00 €


- Inscrições para unicepe@net.novis.pt ou telef 22 205 66 60


Traz outro amigo também! (Após o jantar, cerca das 21h30, entrada livre)


(i) Julião Soares Sousa

É atural de Bula (República  Guiné-Bissau). Filho de Soares Sousa e de Amélia Mendonça, licenciou-se em História pela Universidade de Coimbra em 1991. Concluiu o Mestrado em 1996, com a classificação máxima de MUITO BOM, e doutoramento na mesma Universidade em 2008, com Distinção e Louvor por unanimidade. É o primeiro guineense Mestre e Doutorado pela Universidade de Coimbra.


É Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e Professor Convidado no Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (Aveiro), onde lecciona a cadeira Cultura e Conflito, do Mestrado em Segurança Defesa e Resolução de Conflitos e da Pós-Graduação em Criminologia.


Tem proferido várias conferências em Portugal e no estrangeiro (Brasil, Dinamarca, França, Hungria, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau.

(ii) Cantus do Rio

Éum projeto musical desenvolvido em Coimbra desde Abril de 2011. É constituído por António Dinis (voz), Luís Marques (guitarrra portuguesa) e Paulo Larguesa (guitarra clássica). Faz apresentações públicas ou privadas, de sessões musicais ligadas ao universo do fado de Coimbra isto é, do canto e das guitarras.


António Dinis foi também fundador do Grupo de Fados e Guitarradas de Coimbra Verdes Anos . Já actuou no 43º aniversário da UNICEPE (http://www.verdesanos.com/index.html )


Paulo Larguesa também já actuou no 98º Jantar de Amizade (http://unicepe.com/jantares/jantares/98_jantar/98_jantar.html ) e no 46º aniversário (http://unicepe.com/jantares/jantares/46_aniversario/46_anos.html )
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Nota do Editor

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8465: Agenda Cultural (138): 16.º Aniversário da AORN, Comemorações e apresentação do Anuário da Reserva Naval, 1976-1992

Guiné 63/74 - P8487: Os nossos médicos (30): Quase cinco meses no CAOP, Teixeira Pinto, (Fevereiro / Junho de 1969), antes de ir para o HM241 (J. Pardete Ferreira)


Foto: © J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.



A. Primeira parte de uma mensagem do nosso camarigo J. Pardete Ferreira (cujo BI Militar se reproduz acima, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969, e assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida, recentemente falecido)

Data: 30 de Junho de 2011 01:28


Assunto: Médicos do HM241 e outros


Caros camarigos,


Se me permitem, vou tentar seguir uma ordem aproximadamente lógica.

1 - Caro Bino, finalmente esclareceste a história dos 15 dias (*)... mas vens logo moer-me o juízo: mas eu não me furto ao exame, fui para lá [, CAOP, Teixeira Pinto,] de helicóptero, [, no princípio do mês de Fevereiro de 1969].



Da pista levaram-me aos tombos em cima de um Daimler e, por fim, distribuiram-me um quarto cuja janela tinha sido feita por uma munição de canhão sem recuo, num dia em que chegaram ao arame farpado.


Vi o Coronel Neto e o Major Amaral fazerem um bombardeamento nocturno à Caboiana mas, para azar meu, o pescador felupe tinha-se fartado de trabalhar e lá fiquei eu sem camarões do rio.


Havia duas CCaç, uma de açoreanos e outra de madeirences, que tinham um rivalidade terrível.


Mandei evacuar para o HM241 um Cabo Enfermeiro, o que espantou toda a gente porque era o mais operacional. Detectei-lhe um sopro cardíado. Depois do HM241, veio para o HMP. Foi à junta [médica] e, na consequência, para a peluda! Pelo menos,  fiz uma boa obra. (...)
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Notas do editor:


(*) Vd. comentários do Albino da Silva ao poste de 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8474: Tabanca Grande (292): José Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)


(**) Último poste da série >  29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)

Guiné 63/74 - P8486: Parabéns a você (280): Manuel Maia, o nosso bardo (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 30 DE JUNHO DE 2011

MANUEL MAIA


1. Com um abraço de parabéns do nosso camarada Miguel Pessoa:


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2. Para o Manuel Maia com toda a admiração e amizade.


Um dia muito feliz junto dos teus familiares e amigos e que ele se repita por muitos e muitos anos.
Um abraço
Juvenal Amado




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3. Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa:


Meu caro amigo Manuel Maia!
É um prazer cumprimentá-lo ao completar mais um Aniversário Natalício, neste dia 30 de Junho de 2011.


Desejo que a vida lhe sorria sempre e o inspire, para continuar a cantá-la em verso ou em prosa, mas… cantá-la, porque… quando a cantamos, não só “espantamos o mal”, como participamos no seu colorido, e é por isso, que eu não deixo de a cantar!


Permita-me que transcreva uma pequeníssima…


Homenagem


Enquanto o Sol brilhar
E a água correr, 
O vento soprar
E a lua aparecer;
Enquanto eu ouvir
Os homens falar
E ver as aves voar,
Livres e belas,
Eu vou pendurar…
Colchas nas janelas!..


Felismina Costa
Outono de 2007


Permita-me, um abraço fraterno.
Felismina


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4. Do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:


Para o Manuel Maia


Hoje faz anos o nosso bardo
Para quem rimar não é um fardo
Mas antes um respirar, um viver…
Como a onda morre na praia,
Vive na rima o Manuel Maia,
Pois a rima é o seu ser…


Enquanto farto bigode vai cofiando,
As palavras vão saindo, vão rimando,
Tudo transformando em poesia…
E do pensamento ao papel,
É um só instante para o Manel
A quem o engenho e arte alumia…


Na folha branca já se vê o traço,
Que eu envolvo num abraço
A rima também tentando…
Parabéns, Manel amigo,
A poesia é contigo,
Da lei da morte te libertando…


30 de Junho de 2011
Joaquim Mexia Alves


5. Do nosso editor Luís Graça:


 O Manuel Maia é um membro activo do nosso blogue, quer como autor quer como comentador... É, como eu costumo, dizer, um "contribuinte líquido" do nosso blogue: lê, visita, comenta, alimenta, produz, consome, exporta, importa... É, além disso, um dos nossos grandes poetas.  Bardo do Cantanhez, lhe chamei eu. Também talentoso, direi mesmo genial,  autor de uma História de Portugal em Sextilhas... É igualmente  um façanhudo e temível polemista em verso, metendo-se facilmente ao barulho com aqueles por quem tem um ódio de estimação... (Esta faceta é a que eu menos aprecio, deixa-me ser sincero contigo, Manel!, embora reconheça que, em verso,  lutando contra quixotescos moinhos de vento e marés, às vezes agigantas-te qual Guerra Junqueira contra os bretões!... Em todo o caso, concordas facilmente comigo que este não é espaço ideal para a gente travar duelos de morte, e  muito menos fraticidas )...  


Tem, o nosso Manuel Maia,  cerca de 90 referências no nosso blogue... Nestes últimos tempos (há um mês e tal) ele  não tem dado notícias... O que para meninos como nós, já membros do Clube dos SEXA, é sempre de ficar com a orelha atrás da porta: (i) Será que o gajo anda desenfiado ?, (ii) Pirou de vez ?; (iii) Passou-se para (ou foi rapatdo por) o IN ?; (iv) Morreu de morte matada ?; (v) Anda apanhado do clima ?... Mil e uma dúvidas nos assaltam quando não temos notícias dos nossos camarigos...


No caso do Manel, eu só espero que ele esteja bem, pelo menos de saúde (física, mental, psicológica, sexual, poética, económica, financeira, espiritual...). E, especialmente hoje, que é o seu dia, a gente deseja (e mais: exige) que ele esteja em grande forma! Na forma, em grande forma, devidamente ataviado e fardado como manda a p... da sapatilha!

Hoje, o nosso querido camarada faz anos. Alguns amigos e camaradas que lhe são mais chegados (ou que estavam mais atentos e disponíveis) quiseram fazer-lhe antecipadamente  uma pequena surpresa, escrevendo-lhe duas palavrinhas bonitas, ou postando-lhe um "cartanito" (caso do Miguel, que não faz fretes a ninguém, a não ser aos "camarigos e conhecidos"),  para celebrar este dia de glória.  O meu muito obrigado a todos. Para o Manel, o nosso bardo, e para o resto do tabancal, muita saúde e longa vida!!!
  
 PS - O Manuel Maia está connosco desde Fevereiro de 2009... (Em termos poético-paleontológicos, diríamos que é já um dinossauro, do nosso blogue... Em todo o caso, em termos de cronobiologia, é um dinossauro júnior... Oxalá chegue à idade do Jurássico Superior, qualquer coisa como 150 milhões de... anitos!).
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Notas do Editor:


Manuel Maia foi Fur Mil na 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74


Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 3942 / BART 3873 (1971/73)  > Empenagens de granadas de canhão sem recuo, recuperadas depois da primeira flagelação ao Xitole em 04.04.1972. Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.

Foto: © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados





Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 71/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António  Azevedo (assinalado com rectângulo a amarelo); Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes.

Foto (e legenda) : © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, aproveitando  este pequeno e feliz macaréu que foi a chegada, à nossa Tabanca Grande, mais um camarada doutor, o ex-Alf Mil Med José Pardete Ferreira (*):

De: Joaquim Alves [joquim.alves@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 29 de Junho de 2011 11:07
 Assunto: Falando de médicos


Meus caros editores: Como estamos a falar de médicos (*), envio-vos uma pequena história, que não sei se já contei aqui na Tabanca Grande.


O António Azevedo, não me leva a mal, tenho a certeza, por eu contar esta história, que foi ele próprio que a contou. O António Azevedo, médico, que o foi durante uns meses no Xitole, é uma pessoa excelente, que deixou saudades em todos nós e,  por isso mesmo, é um amigo que todos muito prezamos.


A história conta algo que, se calhar, alguns de nós vivemos assim mais ou menos parecida!


Lembro-me, como já uma vez contei aqui na Tabanca Grande, que no primeiro ataque na Ponte dos Fulas, salvo o erro, o meu pensamento ser qualquer coisa como:
- Aqueles gajos são doidos! Ainda matam alguém a disparar para aqui!


Enfim, a noção de guerra ainda era um "sonho"!


A fotografia [, acima,] mostra empenagens de granadas de canhão sem recuo, julgo que recolhidas no quartel do Xitole após a flagelação de 4 de Abril de 1972. Ao fundo, a chamada vala da "messe de oficiais", da qual se vê uma ponta do alpendre de entrada.


Um abraço bem camarigo e sorridente do
Joaquim Mexia Alves


2. Onde é o arraial ???
por Joaquim Mexia Alves


Num almoço que a CART 3492 teve em Monte Real, há dois anos, talvez, o António Azevedo, nosso médico, (que deixou saudades) (**), durante uns tempos no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.

Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais, e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo,  nas festas ou coisa parecida.

Conta ainda que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima!

Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala,  ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!

Se fosse hoje, com o meu peso,... esmagava-o!!!!


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Notas do editor:


(**) De seu nome completo, António Alfredo Viana Pinheiro Azevedo, natural do Porto, ou a viver e a trabalhar no Porto,  neurologista do Hospital Stº  António. É conhecido profissionalmente pelo apelido de família, Pinheiro Azevedo. 


A informação é do Álvaro Basto, que foi Fur Mil Enf da CART 3942 (Xitole).  No nosso blogue também aparece como António Alfredo Azevedo ou Alfredo Pinheiro Azevedo:


17 de Abril de 2009  > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

(...) Ora, esta alegada constatação do Álvaro Basto, cuja presença no Saltinho, bem como a do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, me passou despercebida no meio daquela verdadeira barafunda – pelo menos, não me lembro de os ter visto -, leva (ou pode levar) os leitores a concluírem que nenhum dos mortos terá sido identificado e os familiares a interrogarem-se mesmo sobre a realidade (o quê ou quem?) escondida naquelas urnas seladas, chumbadas, que um dia lhes remeteram para casa. (...)


(...)  P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç 3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”.(...)


(...) Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis. (...).








(...) [Comentário a este poste] Mensagem do Álvaro Basto, nosso prezado camarada, que é trambém um dos animadores da Tabanca de Matosinhos, e que foi Fur Mil Enf, na CART 3492 (Xitole e Ponte dos Fulas, 1971/74)















Luis: Excelente texto, este do Mário Miguéis a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto. O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.















Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.















Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos. 















O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.















Ficou-me com especial nitidez a imagem do [Alf] Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam.... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado... 















Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar.... Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200.Um grande Alfa Bravo. Álvaro Basto (...)







  

Em 2008, o Dr. Pinheiro Azevedo estava também registado como investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP)


Fica uma dúvida:


 (i) o Joaquim Mexia Alves diz que ele, Dr. António   Azevedo, ou Pinheiro Azevedo [, foto da época, à esquerda], pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), que tinha companhias sediadas em Xitole (CART 3492), Mansambo (CART 3493) e Xime (CART 3494); 


(ii) o Álvaro Basto garante-me que o médico em causa (Dr. Pinheiro Azevedo) pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), com companhias em Cancolim (CCAÇ 3489), Saltinho (CCAÇ 3490) e Dulombi e Galomaro (CCAÇ 3491)...



22 de Julho de 2007  > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

(...) O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Mil Médico Azevedo [, foto actual à direita], que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, afim de passarem as respectivas Certidões de Óbito. O Dr Azevedo, apesar das insistências do Lourenço [, capitão da CCAÇ 3490], recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados.

Pergunta o Álvaro e agora também eu [, Paulo Santiago,] pergunto :
- Quem assinou as ditas certidões? (...) 

Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)



1. Com um abraço de parabéns do camarada Miguel Pessoa


29 de Junho de 2011



69ºAniversário





OS NOSSOS PARABÉNS





1. O nosso camarada Santos Oliveira, que foi 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, completa hoje o seu 69º aniversário.


Em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta tertúlia desejamos, neste dia, ao nosso camarada Santos Oliveira, as maiores felicidades e uma longa vida com saúde q.b., junto de seus familiares e amigos.



O Santos Oliveira está connosco desde Novembro de 2007.
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Guiné 63/74 - P8483: Parabéns a você (278): José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585/BCAÇ 2912 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 29 DE JUNHO DE 2011

JOSÉ FIRMINO

NESTE DIA DE ANIVERSÁRIO PARA O NOSSO CAMARADA JOSÉ FIRMINO, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHE AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

José Firmino foi Soldado Atirador na CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 que esteve em Jolmete nos anos de 1969 a 1971

Vd. último poste da série de 24 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8468: Parabéns a você (277): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Tertúlia e Editores)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)

1. Excerto de uma história, passada no HM 241 (Bissau),  já aqui contada pelo nosso camarada António Paiva (*):

(...) Certo dia, com sinais emergência, chega ao Hospital [Militar 241] um jipe da PM. Não era para menos, no banco do pendura vinha um Senhor Oficial devidamente fardado e de boina bem posta, fazendo honras à sua farda e à Unidade que representava, mesmo que o sangue lhe escorresse pela face.

Saiu do jipe e entrou pelo Hospital adentro sem tirar a boina. Logo à entrada do corredor foi chamado à atenção, por um médico, que naquela Unidade não se entrava com boina na cabeça.

Resposta pronta, mais ou menos nestes termos:
- Sou militar, sou oficial (Alferes) e estou devidamente fardado.


No corredor ouve-se uma voz, vinda da boca do Alf Mil Med Diamantino Lopes (**):
- Eu trato dele.

Podem crer que o tratou bem, não descompondo o rigor militar de S. Exª. Nem entrou no Posto de Socorros, foi directo para Pequena Cirurgia.

O Alferes, depois de sentado, ia para tirar a boina, o que foi impedido pelo médico.
- Deixe-a estar, aqui quem manda sou eu.

Recurso necessário: Uma tesoura, para cortar a boina e pôr metade para cada lado.

Depois do espaço aberto, foi executado na perfeição o tratamento adequado. Só não sei se foi a quente ou a frio, se levou agrafes ou ponto cruz, a verdade é que saiu de lá tratado e a boina unida com fita adesiva.

Já me esquecia, O Sr. Alferes tinha partido a cabeça ao bater com ela na porta de um armário que se encontrava aberta.

António Paiva (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241 de Bissau, 1968/70) [, foto à direita]



2. Comentário ao poste, com data de hoje, da autoria de J. Pardete Ferreira (ex-Alf Mil Med, HM 241, Junho de 1969/  ) [, foto à esquerda]:


Obrigado,  camarigo: esta história é mais que verdadeira. O médico era o Dr. Diamantino Lopes, com a alcunha coimbrã de "O Tocha", grande praxista. Pequenino, bem penteado, gozão sem ares disso, com 33 de pé, foi mobilizado com 15ª Companhia de Comandos, se bem me lembro e, ao olharem para ele, todos aqueles matulões começaram a mandar piropos:
- Isto é que é o médico?.

Sem pestanejar, lá foi a resposta pronta:
- Eu sou a amostra clínica, o médico vem aí atrás!.

Foi ele, igualmente, quem recebeu o Capitão Peralta no HM241, pois tinha-se atrasado nas consultas e era o único elemento da Cirurgia que estava presente. Era de Penela e ao regressar foi para o Hospital de Leiria. (***).


Alfa Bravo. 
José Pardete Ferreira
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)


(**) Lista dos médicos em serviço no HM241, de cujo nome se recorda o António Paiva (1968/70)
 
(i) Cirurgiões:
Dr. Diaz Gonçalves, Cirurgia Geral [Substitui o Dr. Fernando Garcia, que terminou a comissão em 1967]
Dr. Cavadinha Gomes, Neurocirurgia
Dr. Saavedra Machado, Cirurgia cardiotorácica
Dr. Herculano Biscaia da Silva, Ortopedista e Inspector Chefe do Serviço de Saúde.
Dr. Ventura, Ortopedista
Dr. Trigo de Sousa, Ortopedista
Dr. Martins Fernandes, Otorrino
Dr. Diamantino Lopes (Não me lembro a especialidade)


(ii) Médicos de estomatologia:
Dr. António Lebre Moreira de Figueiredo, Inspector Chefe do Serviço de Saúde
Dr. Ernesto Mendes Ferrão
Dr. Vieira Alves
Dr. Malícia


(iii) Serviço de Sangue:
Dr. Arlindo Baptista


(iv) Serviço de RX:
Dr. Nascimento [, António Nascimento e Sousa, natural de Alcobaça, recentemenete falecido, acrescenta o nosso JERO]


(v) Outros Médicos:
Dr. Maurício
Dr. Maymone Martins
Dr. Trindade
Dr. Victor de Sousa (regressou comigo no Carvalho Araujo, onde a bordo do mesmo tivemos um trabalho bem difícil por causa do apêndice de um camarada).

(***) Últimos dois postes da série > 


23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8313: Os nossos médicos (26): J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Med (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), criador literário do Paparratos

28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Pereira da Silva (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Passos Ramos (J. Pardete Ferreira)


A. Comentário de J. Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Biossau, 1969/71) ao poste P8474:



1. Fui para Teixeira Pinto [, para o CAOP1,] , de DO 27, numa manhã dos primeiros dias de Fevereiro de 1969! 

Fui requisitado para Bissau no final de Junho do mesmo ano...  (...) O meu cartão [, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969] está assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida (falecido em Janeiro do corrente ano).

Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro, Ortopedista, fui efectivamente eu que operou a ferida da parede torácica do Cap Peralta. 


2. Já não estava em Abril de 1970 em Teixeira Pinto, é verdade, mas fui eu com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, de Matosinhos, quem foi ao Dakota buscar os corpos [das vítimas do massacre do chão manjaco]. Por vontade expressa da Esposa do Major Passos Ramos, a fim de os filhos poderem ver o Pai uma última vez, a urna metálica deste vinha com uma abertura que permitia ver-lhe a face e a parte da frente do tronco.  Vinha de camuflado e com os seus galões de Major bem à vista. 

Aceitei prolongar por pouco mais de três semanas a minha Comissão a fim de permitir que o Dr. Bruges e Saavedra, chefe da Equipa Cirúrgica,  viesse de férias. Se ele não voltasse, teria de continuar até ele ser substituído. Como "prenda" regressei pela TAP.


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


B. Comentário do editor:


Recorde-se: O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. 

Enviado para o HM241 (Bissau) e depois para Lisboa, foi devidamente tratado  pelas autoridades portuguesas.  Foi julgado em Tribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado.  

Em 2008, com o posto de coronel reformado, pertencia ao Comité Central do Partido Comunista Cubano.  Era seguramente o mais célebre dos 437 combatentes que, segundo o regime de Havana, terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974 (Dos quais terão morrido 9 ou 17, conforme duas fontes cubanas oficiosas, já aqui citadas no nosso blogue).


C. Nota posterior, de 6 de Julho de 2011 (JPF):  

(i) Camarigo, por alguma razão Flaubert fazia 15 manuscritos antes de entregar uma obra. Por experiência pessoal e conversas com amigos, agora que utilizamos os infoscritos, mesmo quando em certos casos fazemos o print, passa-se por determinadas palavras, quando não frases completas, de um texto e lê-mo-lo sempre de forma errada ou deformada.

Sem que este argumento, bem estudado, queira significar desculpa, apesar de várias leituras, quase diárias, só ao fim de três semanas é que notei que, se bem que seja o Major Pereira da Silva quem está na fotografia publicada, pelo menos duas vezes, quem veio com a urna com uma abertura foi o Major Passos Ramos, que eu vi com o Azevedo Franco e, depois, a sua digníssima esposa e os filhos!  Quase que foi uma alucinação colectiva, pois ninguém se apercebeu do meu erro. Não gostaria que a história contasse uma mentira. Tentei corrigir directamente no blogue. Penso que, por insuficiência técnica, não o consegui fazer. Mea culpa.José Pardete Ferreira


(ii) Comentário de L.G. : 

Meu camarada J. Pardete: Lamentavelmente o erro é do editor... Nunca foi teu. Quem tem de dar a mão à palmatória sou eu. Fui eu que troquei o nome dos majores. Um lapsus linguae. Foi já feita a correcção do título do poste P8481. 

Um Alfa Bravo. Luís

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8480: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (19): Em louvor da Ajuda Amiga e do Carlos Fortunato, divulgador de tecnologias simples e amigas do ambiente


Guiné Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana:

Título da foto > Água fresca na tabanca  / Data de Publicação > 5 de Junho de 2011 / Data da foto > 31 de Março de 2011 / Palavras-chave > Tecnologias amigas do ambiente


A ONG portuguesa “Ajuda Amiga” tem apoiado diversas tabancas da Guiné-Bissau, especialmente através da doação de livros e mobiliário escolar, equipamento, t-shirts, computadores, impressoras, material informático, sementes hortícolas e material frutícola. [Vd. também  página no Facebook].

Carlos Fortunato [, membro taambém da nossa Tabanca Grande, ] é um dos seus dirigentes que vem regularmente ao país e em especial à “sua” Bissorã do coração, aproveitando para trabalhar com os agricultores em formas de organização que permitam obter recursos financeiros para as suas comunidades.

Em Março de 2011, organizou um curso de formação onde estavam diversas ONG guineenses, sobre o uso de tecnologia simples para obter água fresca e limpa na tabanca, assim como o de conservar legumes por mais tempo, a partir do uso de dois potes de barro, um dentro do outro contendo areia fina.


Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011) (Reproduzido coma  devida vénia)
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa)

Guiné 63/74 - P8479: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (25): Abençoada chuva que tanto tardaste

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 27 de Junho de 2011:

Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás mais uma pequena história minha.
Na província da Guiné os fenómenos da natureza, as chuvas e as trovoadas, marcaram-nos pela sua beleza e pelo perigo que ofereciam.
Esta história acompanha o deflagrar de reacções humanas provocadas por uma tempestade na Mata dos Madeiros.

Esta noite de 26 para 27 de Junho, em 1971, marca o início da operação "Sempre Alerta" e, com ela, o fim da nossa presença na Mata dos Madeiros.
A história ficará para uma próxima visita às minhas memórias.

Para ti e para os nossos camaradas um abraço imenso,
José Câmara


Memórias e histórias minhas (25)

Abençoada chuva que tanto tardaste!

No início do mês de Junho de 1971 recebemos a confirmação de que o próximo destino da CCaç 3327 seria os chamados destacamentos de Teixeira Pinto.

O começo da monção ditaria a nossa libertação daquela prisão infernal chamada Mata dos Madeiros. Os muros, os arames farpados e as algemas que ali nos detinham eram as condições de sobrevivência e o trabalho insano a que continuávamos dotados.

Nesse ambiente horrífico, agora com mais uma luzinha de esperança a alumiar a nossa moral, as árvores, ajudadas pelas catanas afiadas dos capinadores, continuavam a saltar dos seus pedestais e, com gritos alucinantes, ajoelhavam-se no barro vermelho que lhes tinha servido de alimento. Os seus ramos, num último apego à vida, estremeciam de dor.

Finalmente inertes, os seus troncos até então fortes e viçosos abraçavam num último beijo o solo que lhes serviria de mortalha e em pó se tornariam. Jamais seriam testemunhas cúmplices e coniventes do flagelo humano que, tantas vezes, se desenrolaram debaixo das suas copas, a guerra. Para elas a guerra chegara ao fim.

Muito atrás do corte frontal das árvores, o rufar dos motores das potentes máquinas eram a garantia do prolongamento daquela língua negra, túrgida, rectilínea a penetrar a virgindade daquela mata imensa, sedenta das nossas vidas.

A nós, militares da CCaç 3327, estava reservado garantir a segurança possível ao estupro daquela linda donzela, a Mata dos Madeiros. Tudo feito em nome de um futuro desenvolvimento sócio e económico daquela zona, e de uma estratégia militar bem visível aos nossos olhos: cortar as linhas de penetração ao PAIGC entre as míticas matas da Caboiana e do Balenguerez , o acesso à rica zona de gado e arroz que ficava para além do rio Costa Pelundo e um acesso rápido e mais seguro entre Teixeira Pinto e Cacheu.

Naqueles troncos, agora voltados ao pó, víamos os nomes inscritos de muitas vidas ceifadas pela morte. Os bagos de suor e as lágrimas anónimas derramadas e a derramar por muitos outros mais continuaram a alimentar aquele rio caudaloso, a estrada Teixeira Pinto/Cacheu.
Tínhamos a consciência de que aquele lugar nunca mais seria como dantes.
Hoje, tal como ontem, o futuro da Guiné, uma Guiné Melhor, continua a passar por aquela estrada e por aquela mata.

A certeza da nossa ida para os Destacamentos de Teixeira Pinto trouxe um salto qualitativo na moral de todos os nossos militares que, em abono da verdade, nem era mau a partir da nossa saída de Bissau. Saímos à vontade para o mato, mas com cautelas redobradas. Tínhamos a certeza que o inimigo andava por perto. Cada um sentia-se responsável pelo grupo e este por cada um. A disciplina nos patrulhamentos e nas emboscadas tinha atingido níveis de grande qualidade. Pessoalmente, sentia-me orgulhoso dos meus comandados e tenho a certeza de que os meus camaradas sentiam o mesmo.

A CCAÇ 3327 era uma Companhia altamente disciplinada no mato. A salientar o homem do morteiro carregando um cinturão de granadas. (Foto cedida pelo 1.° Cabo J. M. Sousa, do 3.° GComb)

Éramos uma excelente Companhia, comandados por um homem bom e generoso.
Foi numa saída de 24 horas que aconteceu aquilo que tanto ansiávamos: a chegada das chuvas, melhor dizendo, a chegada de um dilúvio.

Foi assim que o descrevi à minha madrinha de guerra:

Mata dos Madeiros, 26 de Maio de 1971

“….. Os capinadores vão embora no próximo dia 29, sábado. Nós vamos ficar por aqui mais uns dias. Por bem ou por mal não sabemos quando, mas não estamos receosos.
As chuvas deram ontem o primeiro sinal. Foi pouca, mas o suficiente para regressarmos ao acampamento. Os relâmpagos e os trovões completavam o quadro. Estava escuro como o carvão e, como se costuma dizer, não se via um palmo à frente do nariz. A arma numa mão e a outra apegada ao camarada que ia na frente. Éramos 51 homens a andar dessa maneira. Eu vinha na frente. Foi uma experiência nova para mim, nada aconteceu e fui dar direitinho ao acampamento.”

Capinadores na Mata dos Madeiros preparam-se para regressar às suas casas.

A chegada dessas chuvas precipitou a necessidade dos civis em abandonar os trabalhos da estrada. Afinal, eles também eram gente e tinham que atender à sementeira do arroz, aproveitando as primeiras chuvas.

Hoje a essa distância no tempo não tenho a certeza dos capinadores terem regressado às suas moranças no referido dia 29 de Junho. Não fiz mais nenhuma referência sobre o assunto. Sei que saíram bastante mais cedo que os operadores das máquinas.

O nosso regresso ao acampamento tinha sido ordenado pelo Comandante da Companhia. Para ele não fazia sentido tamanho sacrifício da nossa parte. Entendeu que se nós não podíamos, naquelas circunstâncias, progredir ou emboscar em segurança e que o inimigo também teria as mesmas dificuldades.

Tudo teria seguido o seu curso normal se, no dia a seguir a essa noite de chuva, o Comandante da Companhia não tivesse ido ao quartel do Bachile, sede da CCaç 16 e onde estava instalada a secretaria da nossa Companhia. Também era ali que nos abastecíamos de água, cozíamos o nosso pão e recolhíamos o correio.

Secretariava a Companhia o 1.° Sargento João Augusto Fonseca, um senhor já com alguma idade. Era um homem pouco sociável, introvertido. Como qualidade indesmentível, era um profissional extremamente dedicado ao seu trabalho. Devido à minha maneira de ser dava-me razoavelmente bem com ele. Talvez por isso, o Cap. Rogério Alves várias vezes me pediu para o ajudar na secretaria. O que fazia com gosto.

Ao entrar na secretaria o Capitão Alves foi saudado pelo Sargento Fonseca com palavras mais ou menos assim:

- Com que então mandou regressar os grupos do mato a noite passada…!!!

Perante a surpresa desta saudação o Capitão Alves apercebeu-se que as notícias corriam depressa, na verdade depressa demais. Através das Transmissões, com inocência ou não, alguém dera conhecimento ao Sargento Fonseca. De algo que não lhe dizia respeito.

O Capitão Rogério Alves apercebendo-se de imediato que o 1.° Sarg Fonseca, pela sua atitude, podia representar um perigo para a disciplina institucional da Companhia, retorquiu:

- Senhor Primeiro Sargento Fonseca, agradeço que, de imediato, faça requerimento para ser transferido de Unidade.

Foi o que aconteceu. No mês de Novembro, o Sargento Fonseca era transferido para a Companhia Terminal, em Bissau.

José Câmara
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8413: O dia de Portugal em Taunton, MA (José da Câmara)

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8402: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (24): Perdendo a plumagem