quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Guiné 63/74 – P8986: Efemérides (77): Memorial aos combatentes em Penamacor (Libério Lopes)


1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65.



Caro Luís Graça,

Obrigado pelas palavras que escreveste a meu respeito no P8852, após o nosso casual mas feliz encontro, no qual tive o maior prazer em conhecer-te pessoalmente.

Como prometi e após ajuda externa, junto uma notícia referente à inauguração de um MEMORIAL na vila raiana de Penamacor, dedicado aos combatentes do concelho.


Memorial aos combatentes em Penamacor

Embora tardiamente, não quero deixar passar em claro a cerimónia realizada no passado dia 1 de Junho, na vila de Penamacor. Cerimónia simples, mas com um significado profundo.

Uma comissão. composta pelos senhores Dr. Domingos Torrão, Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, Professor Libério Candeias Lopes e Major-General João Afonso Bento Soares, preparou e levou a cabo uma justa e merecida homenagem aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, oriundos do concelho de Penamacor, com destaque para os que lá morreram.

É verdade que já passaram muitos anos desde o nosso regresso e o esquecimento estava instalado. Contudo, após exposto este assunto à Câmara Municipal, a mesma aderiu prontamente à construção de um memorial alusivo, dando todo o apoio, financeiro e logístico, para a sua concretização.

O belo monumento, que hoje se encontra às portas da Vila, e honra todos os penamacorenses, é da autoria de Mestre Eugénio Macedo, que o construiu em puro granito da região. É formado, no essencial, por três lajes verticais, cada uma delas rasgada com um mapas vazios, a representar Angola, Moçambique e Guiné. No chão, defronte de cada laje, uma lápide metálica com os nomes dos militares que morreram naqueles territórios ultramarinos.

Eis os nomes:

Falecidos em Angola
Amílcar Augusto Jacinto Martins
António Cardoso Saraiva
António Fernando Ramos
António Manuel Borrego Carreto
João Caria Ramos
João Lourenço Matos
João Manteigas Martins
José Costa Martins
José Marques
Manuel Moiteiro Leitão

Falecidos em Moçambique
António Lopes Salvado
Daniel Pereira Dias
João José da Fonseca Nabais
Joaquim Moiteiro Ribeiro
José António Landeiro Ribeiro
José dos Anjos Silva
Manuel Campos Cardoso
Manuel Joaquim Coelho Proença

Falecidos na Guiné
António Mota Carlos
Augusto Figueira Caria
Domingos Ramos Rodrigues
Fernando Pereira Lopes Raposo
Joaquim António Cardoso Firme
José Maria da Silva
Júlio Antunes Sapo.


Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2011). Todos os direitos reservados.

Inauguração do Monumento aos Combatentes – O prof Libério Candeias Lopes usando da palavra na qualidade de ex-combatente. À sua esquerda o Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, dr. Domingos Torrão; à direita o Presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues

Inauguração do Monumento aos Combatentes – Pormenor da assistência
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Descerramento das lápides com os nomes dos militares falecidos 
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Grupo de ex-Combatentes da Guiné
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P8985: Parabéns a você (332): Ten Gen Pilav António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74)

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Nota do Editor:

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8974: Parabéns a você (331): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8984: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (34): Palavras de um senhor defunto, um livro de Mário Serra de Oliveira (1): Preâmbulo e Introdução

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira*, ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68, com data de 1 de Novembro de 2011:

Olá. Amigos da Tabanca Grande!...
Esperando que os anexos acima possam ser visualizados convenientemente, gostaria de dizer que tentei colocar na página do Blogue mas não consegui.

Solicitei dica de como fazer isso directamente na página mas ainda não recebi.

Assim, para que saibam do que se trata, pois começa com a capa e contra capa do meu livro, seguido de um PREÂMBULO e... uma AUTOBIOGRAFIA CÓMICA... incluída no meu livro e, finalmente, a descrição da receita do batismo do vinho, com um rabinho de diálogo com o meu querido Tenente.

Há toda uma certa circunstância, anterior que deu origem ao batismo bem como o epílogo a seguir ao diálogo,que  passa pelo batismo do arroz - com motivações antecipadas bem como o abotoamento de $$$ por parte do Meu querido T... o qual eu enfrentei para não me ter por lorpa ou parvo... Foi um espectáculo que redundou em eu passar a abotoar-me com o dinheiro que algumas enfermeiras páras pagavam pelas refeições que comiam fora das horas normais de almoço ou jantar, o que eu tinha que estar a controlar.

Muitos outros episódios existem, tal como aquele de um Major Pára me ameaçar... dizendo:
- Ouve lá, oh Cabo... aquela bajuda trabalha para mim e, se eu sei que tu te metes com ela... levas uma porrada - disciplinar, claro - que nunca mais te endireitas!...

Porra... se eu não tinha feito nem tentado fazer nada!!! O que aconteceu foi que... bem melhor é contar desde o principio, noutro momento porque para hoje já chega!...

Um abraço a todos!...


PALAVRAS DE UM SENHOR DEFUNTO

PREÂMBULO DE AGRADECIMENTO

Prezados leitores!...
Antes de mais, permitam-me apresentar os meus muitos e sinceros agradecimentos por decidirem ler estas linhas o que, para mim, já é motivo de imensa satisfação porque este sonho que, creio, talvez fosse melhor expresso em dizer este objectivo foi algo que, realmente sempre tive na minha mente, incluindo o facto de que, pela vida fora, mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida – e foram vários - sempre tive a ideia de, pelo menos tentar, escrever um livro ou mais!...

Aqui o estou a tentar fazer!...

Dito isso e, fosse o que fosse que despertou o vosso interesse ou a vossa curiosidade, quem sabe até se motivada pelo título do mesmo livro, faço sinceros votos para que não os defraude, ao mesmo tempo que junto um convite a estarem atentos para o meu próximo que faço planos de iniciar logo que este entre no mercado e cujo título poderá vir a ser O medo dos velhos.

O tema será exatamente isso, em referência à situação das pessoas idosas e desamparadas, quantas e quantas vezes aos empurrões de casa para casa dos filhos – se os tiverem - e, claro, se estes forem casados, também a casa dos genros e noras, o que nem sempre é a situação mais agradável e humana e, várias vezes, motivo de desavenças entre os familiares!...

Ao mesmo tempo estendo o convite para um outro que... em conjunto com o acima referido, está já meio alinhavado - e até quem sabe se não será este o seguinte – baseado em factos da minha experiência em África, - onde vivi cerca de catorze anos e meio e, se o conseguir escrever, tentarei realçar o triste episódio dos fuzilamentos politicos de alguns cidadãos Guineenses com quem, directamente trabalhei, entre os quais um militante do PAIGC, (sigla em referência ao grupo guerrilheiro africano pela luta de libertação da Guiné, até então denominada Guiné Portuguesa) - que tinha sido preso e enviado para o Tarrafal – prisão em Cabo Verd) - de nome Mário Mamadu Turé, mais conhecido como Momo Turé – meu braço direito quando eu era encarregado geral do Restaurante O Pelicano, na cidade de Bissau e que, segundo se constou, foi fuzilado por implicação (?) na morte de Amílcar Cabral – fundador (?) do PAIGC!...

Um outro - também fuzilado - de nome Domingos Demba Djassi, nativo da Guiné e ex-Sargento Fuzileiro, naquele tempo integrado nas Forças Armadas Portuguesas, ao qual, após desmobilização, lhe dei trabalho, passando ele a ser encarregado - ou meu braço direito também - num dos meus restaurantes conhecido como A Tabanca, na mesma cidade de Bissau!...

Este último, na foto seguinte, constou que foi morto por implicação no chamado 18 de Março de 1975 - ou seria noutra conspiração qualquer? - e, segundo zuns-zuns d’então, devido à sua participação da não totalmente exitosa... acção de assalto a Conacri - em [22 de Novembro de] n1970 - levada a cabo sob comando do extraordinário estratega militar, Comandante Alpoim Calvão - cuja resumida descrição é dada mais adiante.

Agora, em referência a este livro e, mais especificamente ao título do mesmo, recomendo que não se assustem com o aspecto tenebroso que o mesmo parece insinuar porque, na verdade, fiz de propósito para que, desta forma, criar um suspense - assim como que quase um compasso de espera - para lhe poder oferecer aquilo que muitas pessoas dizem muitas vezes... e que é... o melhor está para vir!...

Mais adiante, irão ter a oportunidade de confirmar isso mesmo, ao ponto de já começar a imaginá-los e a vê-los com um sorriso nos lábios, progredindo para uma gargalhadazinha baixinha e, talvez, até, uma gargalhada bem forte... o que, segundo dizem, até faz bem à saúde!...

Assim o espero porque, essa é a minha intenção!...

Além disso, há ainda o aspecto de, com o enredo que aplico a cada descrição de cada episódio e pela forma como descrevo os mesmos, creio até ser saudável obrigar a acordar aquela parte do cérebro que não é usada no dia a dia porque, dormir muito não é bom para a saúde de absolutamente ninguém e, muito menos, para a c.c.c. - célula cerebral central - ou, a miolinha!...

Portanto, como poderão verificar, o facto do título do livro aparentar ser, à primeira vista, um tanto ou quanto fúnebre e, como já disse, tenebroso.  tudo tem a ver, no meu ponto de vista intencional, com a minha intencionada intenção de que é possível rir nas mais variadas circunstâncias porque, rir... dá saúde!...

Ah, ah, ah, ah!...

Assim, tente rir porque, quanto mais uma pessoa rir, mais saúde irá tendo e, com isso, poderá ajudar a adiar por uns tempos - que até podem ser anos - o vir a ficar defuntado, ou quase!...
Pense nisso!...

Finalmente, como verificarão na leitura das próximas páginas, eu até me irrito com o nosso amigo do título do livro... mais, até, por uma questão de que, quando me irrito com ele - ou com quem quer que seja, incluindo a minha mulher - quase sempre vou desabafar com o meu amigo Merlot que, por uma questão de equilíbrio físico, procuro que sejam sempre dois, só e somente, afim de evitar ficar coxo!...

Ah, ah,ah,ah!...


Da esquerda para a direita: eu, o autor destas linhas; Demba Djassi... meu empregado – fuzilado pelo PAIGC no regime de Luis Cabral - e um cliente do meu restaurante, na Guiné.


Assim, ao lembrar-me destes tristes factos e destas pessoas com quem diretamente trabalhei, não podendo fazer nada para os reviver, resta-me expressar aqui, um gesto de homenagem para com eles, extensivo a muitos outros que, como eles, foram fuzilados - creio até que, alguns deles, enterrados ainda vivos - por A ou B razões ou por razão nenhuma (?) e, como tal, muitos deles, inocentes. Assim, na falta de outros meios e possibilidades, creio não haver melhor forma – passado tanto tempo – do que tentar afogar o pensamento – já que esquecer não posso – do que fazer um brinde de homenagem à memória dos forçados defuntos!...

Assim, em sua memória e...à saúde dos vivos!...
Para a perna esquerda. Para perna direita.

Muito obrigados pela confiança depositada em mim!...
Divirtam-se!!!


INTRODUÇÃO

Iniciando pelo início, que é por onde tudo deve ser iniciado, começo por fazer uma introdução, sem introduzir absolutamente nada de vulto, a não ser tentar introduzir um esclarecimento bem esclarecido dirigido a ninguém, para que esse ninguém leve à risca - ou a sério – e afine comigo que sou um desafinado, antes de eu me finar por completo!...

Talvez, melhor dizendo... para que ninguém pense que estas linhas são para atingir esse alguém ou quem quer que seja, intencionalmente!... na verdade, o que quero dizer com isto é que, se acaso estas linhas parecem ser dirigidas a algum dos leitores, será por absoluta puríssima pura coincidência, ou muito acidental!...

Garantido!...

De facto, em certa medida, em certos episódios, proponho-me só e somente a refrasear certas palavras lidas outrora, cujo autor desconheço completamente, por desconhecimento absoluto, para que as mesmas não entrem no esquecimento, além de que, tão-pouco tenho alguém à minha volta a exercer influência sobre mim porque, pensando, sei pensar por mim mesmo!...

Assim, quem quer que seja que aparentemente possa parecer ser alvo ou atingido por estas linhas, que o tome pelo lado amável, com sentido de humor porque, nos dias de ontem, de hoje e de amanhã, bem necessário é, levar com um pouco de humor, o que a vida nos oferece diariamente!...

Na verdade, verdadeiramente verdadinha, só é minha intenção tentar contribuir para ajudar a amainar o ambiente, e animar o espírito desanimado do ânimo de cada um de nós, usando um pouco de humor, porque acontece que, no momento, até tenho cá muito pouco!...

Antes de continuar, permitam-me sublinhar que, certas palavras nestas linhas são da minha autoria e certas outras são da autoria de um senhor defunto antes de o ser porque, se já o fosse, nem xiava nem mugia, derivado ao estado em que permanecia e que seria, permanentemente mudo e frio!... E, seguidamente, permitam-me fazer uma advertência com a ideia bem intencionada ou, pelo menos, essa é a minha intenção, sobre o seguinte!...

Se, a certo ponto da leitura destas linhas se sentir perdido ou perdida com o que está a ler... páre, concentre-se, suspire fundo e... continue porque, irá verificar que...

- Nada do que aqui se diga, escrevendo o que se quer dizer... foi, ou é, pensado assim sem mais nem menos ou ao calhar!...

- Tudo o que aqui for escrito tem o seu próprio propósito, propositadamente, mesmo que possa parecer que não faz sentido algum!...

- Às vezes, a ideia até é isso mesmo, não fazer sentido ali... lá naquelas linhas onde estiver essa frase que parece não fazer sentido!...

- Poderá não fazer sentido no local onde estiver inserida essa frase mas, sim, noutro local, mais adiante ou mais atrás!...

– No entanto, poderá haver certas circunstâncias em que, por lapso, ou erro orto-dactilo-gráfico, a coisa não faça mesmo sentido!...

Assim, se isso acontecer, procurem dar o sentido que o dito possível lapso ou erro orto-dactilo-gráfico não deu e, se assim for, desde já apresento as minhas maiores desculpas!... E, ao dizer isto, creio estar a demonstrar a minha incondicional confiança na capacidade raciocinal (?) de todos os leitores e leitoras que... espero, venham a ser muitos!...

Portanto, perante a possibilidade de que se venha a encontrar confuso ou confusa derivado a que, o que está a ler, parece não fazer sentido, irá descobrir mais tarde ou mais cedo, que nada acontece assim... sem mais nem menos ou, por acaso. Irá encontrar a pontinha do rabo - não do seu – mas do
 fio da meada - que o mesmo será dizer, da descrição da estória ou conversa que intenciono aqui descrever, escrevendo-a!...

Ao mesmo tempo, agradeço ainda não pararem de ler, quando se encontrarem perante a redação de algo que possa parecer um devaneio ou, um relato de algo que, aparentemente, poderá não fazer sentido algum porque, na verdade, tudo está estruturado para encaixar peça por peça ou, para melhor dizer, frase por frase!...

Agora, sem argumentar a contradição sobre a intenção de, quando digo, intencionar descrever o que estou mesmo a afirmar que vou tentar escrever, permitam-me um deambulo do que, talvez, se pudesse apelidar de um aperitivo, composto de várias variantes interessantes – no meu ponto de vista - antes de avançar para o Capítulo I, que é em referência e homenagem à figura principal do mesmo e, origem do título deste livro que, como já disse, é o nosso amigo defunto, antes de o ser!... Assim, quem quer que seja o defuntado, que tenha muita saúde e, que a mim não me falte!... Que não me falte (?)... a saúde... porque, o defunto pode faltar sempre e quantas vezes ele quiser!... Por mim, até pode ter o dia e a noite livre e, portanto, até pode ir dar uma volta a ver se acorda!...


Na gravura, alguns visitantes, na 'Nursing Home'  visitando ‘o senhor defunto antes de o ser’ !...
Eu, tinha acabado de sair, um tanto ou quanto irritado com ele, por não me ligar patavina.

Ora o catano do homem!...
Aaaamen!...

(Continua)
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Notas de CV:

- Clicar na imagem da contracapa do livro para a ampliar e permitir a leitura do texto

(*) Vd. poste de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8970: Tabanca Grande (304): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Amanuense (Bissau, 1967/68)

Vd. último poste da série de 24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8817: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (33): Um dia de Verão na Serra de Sintra (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P8983: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (7): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (2)



Publicamos hoje o segundo grupo de fotos enviadas pelo nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74) ao nosso tertuliano Cherno Baldé - O Chico de Fajonquito - actualmente Director do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau, desta feita referentes aos diversos Encontros da CCAÇ 3549.





1.º Encontro, em Viseu, 25 anos depois de Fajonquito. O quinto e o sexto em cima, são o Mandinga e o Celestino

As nossas mulheres acompanham-nos em todos os Encontros

A minha esposa

O portador da Bandeira Portuguesa é o Mandinga

Eu e a minha esposa

Em baixo: Pinto (Mec), Alf Mil Nelson (falecido), Martins (TRMS), Porto, e três elementos de outra Companhia

Os nossos Encontros são sempre uma festa

O Celestino e o Cunha

Um dos nossos últimos Encontros

Encontro de Canelas. O Torres é o que está em primeiro plano junto da bandeira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8973: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (6): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (1)

Guiné 63/74 - P8982: Blogues da nossa blogosfera (47): Ilha do Como, do Valentim Oliveira (CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)


Página principal do blogue do nosso camarada Valentim Oliveira

Este bravo da Ilha do Como fez este ano, em 5 de janeiro, a bonita idade de 69 anos... Recorde-se que ele foi Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, e portanto  camaradada nosso coeditor Virgínio Briote (mesma companhia) e do Armor Pires Mota (mesmo batalhão).


Também sou veterano da mesma Odisseia: era da CCAV 489 do BCAV 490. Participei na grande Operação Tridente, na Ilha do Como. Segui para Farim, onde por toda aquela zona muitas coisas boas e más se passaram. Também passei no inferno de Guidaje. Como tal também tenho muitas Histórias boas e más para escrever.

Peço permissão para entrar como membro da equipa dos Camaradas da Guiné. (...)


O seu blogue -Ilha do Como -foi criado em 26 de dezembro de 2008.  Tem pouco mais de 3 dezenas de postes. E está parado desde Agosto de 2010. Não deixamos, no entanto, de felicitá-lo por esta ousadia, não sendo ele um profissional das escritas nem das informáticas  Ele explica o porquê: quer também passar o testemunho à geração seguinte... E vê-se que tem em grande orgulho em ter participado na Op Tridente:

(...) “Ilha Do Como: Terra longínqua situada algures numa margem do Oceano Atlântico,que tem como país de origem o nome Guiné; terra de África (...)  onde muitos jovens Portugueses suportaram os horrores da Guerra durante os anos 1963/74  (...). Hoje país independente e amigo de Portugal. Não existe ódios entre as partes envolventes, e ainda bem que se segue o caminho da Paz. Eu própio passei por esta situação ,e foi na Ilha do Como que eu viví os maiores tormentos de uma Guerra para onde fui atirado sem vontade própria. Que tudo fique na História para que a nova geração conheça estes flagelos" (...)

Não tem ainda, no entanto, para além de alguma documentação fotográfica, muita informação escrita,  detalhada,  da Ilha do Como e da Op Tridente. Num dos postes (13 de janeiro de 2009) ( Factos sem cortinas! Grande Operação Tridente)  escreveu o seguinte:



(...) Dando voz a um comentário do nosso camarada Mário Dias, certifico que tudo o que ele disse e escreveu é pura verdade, assim como a saída das nossas tropas (NT) para o Como foi de Bissau e não de Catió, e a Operação durou 72 dias. 


No caso em que a Cavalaria jazia em veículos inoperantes,  [isso] é falso, porque na realidade apenas existia um jipe que nunca saiu da Base Logística, e por sinal eu era o condutor do referido veículo, que apenas servia para fazer o transbordo dos haveres que chegavam no barco e ficava ao largo do mar encalhado, e assim que a maré vazava lá ia eu com o referido jipe e outros colegas fazer o transbordo dos bens necessários para a manutenção das NT. 


Estive nesta Base fazendo este serviço durante algumas semanas, depois segui para o Acampamento de Caiar e o jipe ficou na Base entregue ao Comando. Portanto que ninguém ponha dúvidas sobre o que o Mário Dias disse e escreveu. Porque só quem viveu e passou por esta operação é que pode dar o testemunho dos factos. (...).


Já em tempos tinha publicado no nosso blogue o relato de um dia passado na Ilha do Como


 (...) Estávamos no mês de Fevereiro de 1964, o dia não o tenho memorizado, mas tenho a convicção certa que o mês era Fevereiro. Estive antes acampado junto ao mar, onde se encontrava o comando principal e a artilharia, ou seja, os obuses (canhões). De seguida eu e muitos mais seguimos para um acampamento distanciado mais acima; isto em Caiar.

Aí nos entrincheirámos nos abrigos subterrâneos em grupos de três, num descampado, lugar esse que eram terrenos de cultivação de arroz, junto à orla da mata. É claro que havia festa quase todos os dias, mas como as costureirinhas cantavam um pouco longe, nós até nem ligávamos muito aos zumbidos que passavam muito por cima de nós, e também se calavam logo assim que as granadas dos obuses começavam a cair em cima.

Mas houve um belo dia em que a sopa se entornou...As costureiras começaram a cantar e nós apenas nos limitámos a ouvir, quando de repente começamos a ser atingidos por granadas de morteiro. Felizmente nenhuma fez estragos em cima de nós, mas nos primeiros momentos deu para assustar. O tiroteio não foi longo, porque nós ripostámos de imediato, assim como a artilharia que se encontrava uns quilómetros atrás, junto ao mar.
Também estive nesse local quase a passar para o outro lado, com o paludismo. Valeu um heli, que três dias depois apareceu com medicamentos. Pronto, assim dito mais uma versão de um acontecimento passado na Guiné. (...)

Para o Valentim e o seu amigo e vizinho, em Viseu, o Rui Ferreira, vai um abraço longo, longo,   com toda a amizade, apreço e camaradagem dos editores do blogue. Um beijinho para a sua querida neta, que eu conheci em Monte Real, num dos encontros da Tabanca Grande. Por fim, força e saúde para retomar a escrita no blogue. LG

O Valentim, à direita,  com um camarada,  na praia de Caiar, no intervalo da Guerra do Como (s/d, talvez Fevereiro ou Março de 1964).

Foto: © Valentim Olivera (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8948: Blogues da nossa blogosfera (46): Sítio da AD com novo rosto e novo webmaster
Está na nossa Tabanca Grande desde 10 de Abril de 2008, data em que se apresentou, aos restantes camaradas da Guiné, nestes termos:

(...) Camarada Luís Graça: É com muita admiração que leio todas as Histórias escritas por ti e por todos os outros camaradas que participaram na GUERRA DA GUINÉ.

Guiné 63/74 - P8981: Antologia (74): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (7): Ilha do Como, s/d [Março de 1964]






1. Continuação da publicação de Tarrafo:  crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed., ed. de autor, Aveiro, 1965. Parte 2 (Ilha do Como, Jan / Mar 1964), pp. 79-82. (*)... Este é o penúltimo episódio relativo à Op Tridente. 


Cortesia do autor. Esta edição foi retirada do mercado, na época, e está esgotada.




Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como >  Op Tridente > Jan/Mar 1964 >  Foto publicada na 2ª edição de Tarrafo (Braga, Pax Editora, 1970), em anexo, com a seguinte legenda: "21. Apesar do perigo, o soldado fuma, quase indiferente e ri ao canto do lábio". [A foto pode não ter sido tirada no Como, só o autor poderia esclarecer, mas para o caso não é relevante]


Foto: © Armor Pires Mota (1970-2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:


Guiné 63/74 - P8980: Homenageando todos os nossos combatentes, já mortos, das guerras do século XX (José Pardete Ferreira)

1. Texto que nos foi remetido por nosso camarada  J. Pardete Ferreira,e que nos parece oportuno divulgar neste Dia de Finados







Data: 31 de Outubro de 2011 15:46

Assunto: Liga dos Combatentes, Núcleo Regional de Setúbal, 9 de Abril de 1998




 LIGA DOS COMBATENTES > NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL > CERIMÓNIA COMEMORATIVA DIA DO COMBATENTE > 9 DE ABRIL DE 1998


por José Pardete Ferreira

Senhor Governador Civil de Setúbal
Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
Senhor Bispo da Diocese de Setúbal,
Senhor Comandante Militar de Setúbal,
Senhor Presidente do Núcleo Regional de Setúbal da Liga dos Combatentes,
Senhores Representantes de outras Instituições Civis, Religiosas ou Militares, aqui presentes,
Caros Combatentes,
Minhas Senhoras e meus Senhores:

  
Seria hipocrisia afirmar que o convite formulado para fazer esta breve evocação e que muito me honrou, me deixou indiferente. Encarei-o como mais uma Missão de Serviço que me foi confiada e que vou cumprir.

Celebrar os seus cantados mortos em Combate bem como honrar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, mesmo sem armas, pela Pátria lutaram, é um dever de toda e qualquer sociedade, digna desse nome.

É por isso que hoje, dia 9 de Abril de 1998, nos encontramos, altivos, em torno deste belo monumento, com o fim único de saudarmos os que morreram em defesa da Pátria, saudação essa, extensiva a todos os portugueses que, generosamente, envergaram ou envergam ainda, a farda das Forças Combatentes de Portugal, em todas as frentes onde a sua presença tem sido necessária.

Cronologicamente, como não poderia deixar de ser, lembro os homens que, integrando o chamado CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS, cerca de 55.000, de forma humilde, abnegada e heróica, se bateram, apenas ao abrigo da velha Aliança Anglo-Portuguesa, na então sempre efémera  fronteira Franco-Alemã na região da Flandres, naquela que foi chamada a Grande Guerra: - A 1ª Guerra Mundial.

O seu feito mais divulgado foi a actuação na conhecida Batalha de La Lys, justamente desencadeada na madrugada de 9 de Abril de 1918 que, para os portugueses, talvez fizesse mais sentido chamar o Combate de Armentières, cidade da margem direita do Rio Lys, na qual e em redor da qual estava acantonado o nosso Corpo Expedicionário, juntamente com o contingente escocês.

Faz hoje 80 anos que começou esse tremendo combate que, embora só durando três intermináveis dias, levou, o então Chefe do Estado Maior Alemão, Paul von Hindenbourg a elogiar o comportamento do adversário : - Escoceses e Portugueses.

Muitos lá caíram no chamado Campo da Honra, muitos de lá vieram feridos, estropiados ou "gaseados", muitos foram condecorados, todos foram louvados pela sua valentia, sacrifício e vontade.

Após este 1º Grupo de heróis, outros terão de ser lembrados, apesar de não  terem sentido os horrores directos da guerra. Em Setúbal, como não poderia deixar de ser, refiro-me aos Expedicionários do extinto Regimento de Infantaria nº 11, que desta Cidade partiram para Cabo Verde, para o que desse e viesse, durante a 2ª Guerra Mundial.

Este 2º Grupo de heróis, que o foram efectivamente, na medida em que o desgaste provocado pela incerteza fica, indelevelmente, marcado nos espíritos e, muitas vezes também, por via destes, nos corpos.

Portugal esqueceu, com alguma facilidade e sem que se possa atribuir uma causa minimamente válida para esta perda colectiva de memória, um 3º Grupo de heróis, alguns dos quais também combateram, outros sofreram a ignomínia da prisão e outros ainda, igualmente deram a vida. Refiro-me, como me parece evidente, aos Combatentes do então chamado Estado Português da Índia, anexado pela União Indiana em 18 de Dezembro de 1961.

O 4º Grupo, sem dúvida o mais numeroso e heterogéneo, que por ter sido constituído em várias frentes, Macau, Timor, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e principalmente Angola, Guiné e Moçambique, pois foram estes três antigos territórios Ultramarinos que constituíram, durante quase decénio e meio, o TEATRO OPERACIONAL DE GUERRA, mais ou menos intensa segundo a frente em questão ou a zona em causa do território, não querendo eu, pelos motivos apontados no início desta alocução e porque a Comemoração diz respeito a TODOS OS COMBATENTES, fazer qualquer distinção particular, excepção feita, logicamente, aos mortos, estropiados ou, mentalmente, para sempre perturbados.

Citei TODOS OS COMBATENTES PORTUGUESES, mas permitam-me que não deixe, no entanto, de aproveitar a ocasião para manifestar o meu aceno de simpatia, para aqueles que foram nossos adversários. Eles também sofreram, eles também foram Combatentes.

Ao invés, tenho de manifestar o meu desapreço por quantos desertaram, ou até traíram, evocando motivos de vária ordem para se escudarem daquele companheiro inseparável de todo e qualquer Combatente : - O Medo. Só os loucos e os inconscientes dizem não saber o que ele é. O que define o Homem com maiúscula é saber enfrentá-lo e sublimá-lo, vencendo-o.

Segue-se o 5º e, por agora, último Grupo de heróis, alguns deles, do mesmo modo, já feridos ou, inclusive, mortos: - Os Militares que têm servido ou ainda servem Portugal, quer na Bósnia quer, agora como aliados, novamente em Angola e Moçambique.

A todos, bem haja.

Bem mais cruel é a chamada "Guerra do Cimento Armado" que vivemos no quotidiano. Mais cruel, mais medonha e na qual menos respeito em relação ao adversário existe, dela desaparecendo, muitas vezes, qualquer noção de ética.

Novos desafios se lançam a Portugal neste Abril de 1998. São eles, a Integração real, por mérito próprio, na Comunidade Europeia e a Cooperação efectiva com os Países de Língua Oficial Portuguesa, vulgo PALOP's.

Se a Integração de jure, na Comunidade Europeia foi difícil, a Integração de facto, parece-me ainda mais difícil, não só pelos sacrifícios que nos têm sido e continuarão a ser pedidos, mas também, porque a adaptação a novas regras, novos terrenos e novos hábitos é sempre penosa. As actuais gerações, provavelmente, dela não colherão qualquer benefício. Queira Deus que os vindouros digam: - Valeu a pena!

O desafio da Cooperação com os PALOP's tem uma problemática diferente e, apesar da existência de uma Língua comum, alguma instabilidade presente no decorrer de uma vida em sociedade, que se possa considerar normal, em alguns desses Países, pode tornar muitos esforços inúteis, caso estes últimos não sejam feitos de uma forma concentrada, ordenada e coordenada com um equilíbrio estável e paralelo ao desafio Europeu.

Termino com uma Esperança e com uma Certeza.

A Esperança é a vitória conjunta no desafio Europeu e no desafio da Cooperação.

A Certeza é o saber que,  às dificuldades que formos encontrando, o espírito de sacrifício, a humildade, a capacidade de trabalho e a tenacidade, tão louvadas nos nossos Combatentes, vão fazer que à Chamada para estes novos desafios, todos os portugueses tenham uma resposta uníssona: - PRESENTE !

Disse.

J. A.Pardete Ferreira

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Guiné 63/74 – P8979: Memórias de Gabú (José Saúde) (12): O descanso do guerreiro





1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, continua a narrar-nos a catarse das suas recordações.


DESCANSO DO GUERREIRO

MEDITANDO!

Olhava, incansavelmente, o horizonte que teimava em manter-se distante! Inócuo deparava-me então com uma encruzilhada de ideias imerecidas. Por que vim parar à Guiné? À guerra! Um grito interior revoltava-me a alma. Conhecia já o flagelo real.

Tem calma, propunha-me um neurónio que entretanto tinha acordado. E eu, sentado num no trono real, resplandecia com a sorte que entretanto teimava em proteger-me.

Existem momentos ímpares que nos conduzem a fúteis pensamentos que nos transportam para a construção de cenários que marcaram, e de forma inequívoca, os tempos da guerra na qual fomos intérpretes. Momentos de meditação? Quem não os teve! Todos, humanamente, assumimos pedaços de pequenas histórias que nos catapultaram para vivencias passadas e nunca renegadas.

Refastelado num arcaico cadeirão feito manualmente com a perícia do “homem grande”, sendo o respectivo assento propriedade daqueles que quisessem descansar o espírito e meditar, o banco foi muitas vezes o meu companheiro de profundas confissões.

O “trono” colocado no sítio, não conheceu outro lugar e o fiel amigo um dia confessou-me que assistiu à fuga de dois “turras” enjaulados num pequeno refúgio que nunca lhe conheci outra utilidade.

A notícia, bizarra, correu célere entre a malta da companhia. Dois prisioneiros arrancaram as grades do espaço onde estavam “arrecadados” e fugiram durante a noite. Convém especificar que se tratava de um duo de guerrilheiros recentemente capturados e que aguardavam ordens que decidissem o seu futuro. Um futuro que eles entretanto anteciparam. Escaparam-se como uma “pinta” divinal. Não deixaram rasto! Nunca mais soubemos novidades dessa famigerada dupla.

Numa das noites que antecedeu a este “filme” capturámos um homem que após identificado concluímos tratar-se de um guerrilheiro do PAIGC. Tratámo-lo com dignidade e no regresso a Gabú, já de madrugada, entregamo-lo no posto da DGS. O seu fim? Desconhecido!

À minha memória vinha também aquela retumbante emboscada entre Gabú e Piche onde tombaram sete camaradas e se registou um elevado número de feridos. A coluna vinha de Bafatá, cruzou o Gabú e deparou-se em seguida com o imprevisto. Uma manhã de gritos e de dor.

Nesse encontro com o IN morreram o condutor e o cabo atirador da metralhadora de uma das panhard’s que faziam protecção à coluna. Tiveram uma morte horrível! Eram do esquadrão de Bafatá. Uma granada perfurante rebentou com a viatura e explodiu no vácuo. Queimou tudo! Os infelizes militares ficaram reduzidos a… nada. Os outros cinco saudosos militares finaram na sequência de tiros. Horrível foi também a maldita emboscada. Valeu a pronta e corajosa intervenção da nossa tropa que evitou que o IN tivesse recuado no momento em que já desenhava o cenário de partir para “o assalto”.

Retratos de uma guerra que ditava encontros infelizes, fatídicos s e dolorosos.

Mais tarde fui visitar ao hospital de Bissau um companheiro que nessa emboscada ficou sem uma perna. O Fanado, assim se chamava, era furriel miliciano e exercia a função de vagomestre. Naquela endiabrada manhã o camarada que seguia na coluna e se deparou com a cilada, ao saltar do unimog levou com uma granada nas pernas, tendo o impacto do projéctil desfeito um dos órgãos inferiores e salvando-se o outro. Dizia-me ele: “Saúde, fiquei sem uma perna, é verdade, mas o meu pénis contínua no seu firme lugar e pronto para desempenhar as suas funções sexuais”. E o certo é que pelo meio da conversa não se redimia em levar a sua mão direita ao dito cujo e apresentá-lo como um herói da desgraça.

Lembro-me perfeitamente que o Fanado já reinava com a infelicidade. O acompanhamento psicológico era decisivo para a malta se reequilibrar emocionalmente. Longe dos seus familiares e amigos mais próximos, restava o conforto de camaradas com os quais travávamos diálogos e se construíam, também, grandes amizades.

A guerra tinha pormenores interessantes!

No momento de descanso do guerreiro, outros motivos de África me vinham à memória. Meditava nas cores alaranjadas do horizonte; da cor vermelha da terra; das trovoadas medonhas que pareciam apresentar-se como o fim do mundo; da intensidade da chuva que tudo inundava; dos escassos minutos de dilúvio que se diluíam num ápice; dos cheiros oriundos do interior do solo; das queimadas, enfim, um rol de factos conhecidos que me levavam à melodiosa ideia que África é, indiscutivelmente, um SONHO!

Na minha óptima, África assume-se como um património mundial que invade de prazer almas carentes em visualizar as harmonias de um horizonte colorido e sempre infinito.

Olhando o infinito
 Paisagem que tantas vezes contemplei. As árvores, o mato, o arame farpado e o horizonte.

Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

25 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 – P8944: Memórias de Gabú (José Saúde) (11): A coluna: Notícias que chegavam e “novas” que ficavam na… picada

Guiné 63/74 - P8978: Blogpoesia (166): Azar... (Manuel Maia)

1. Em mensagem do dia 31 de Outubro de 2011, o nosso (reaparecido) camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviou-nos este seu poema em sextilha a que deu o nome de Azar, no Sul, acrescentaríamos nós:


AZAR...

Saído dos confins, trás do sol posto,
corria a mais de meio o mês de Agosto,
p`ra rendição dum morto foi enviado...
José, foi sua graça de baptismo,
o praça "trinta e um por algarismo",
destino p`ra Guiné teve traçado...

Na terra lhe disseram, "põe-te a pau"...
cuidado com os turras de Bissau...
Que eu já por lá passei, caro vizinho!
Ao fim de cinco dias, mar revolto,
o cheiro a vomitado nele envolto,
tresanda mesmo sem sequer ser vinho...

Mal postos pés em terra, mui cansado,
do baldear do barco aliviado,
reclama a cama ao corpo a sensatez...
Adidos foi local de breve pausa,
doença nem sequer foi posta em causa,
tem falta de efectivos, Cantanhez...

P`ro Sul irás de barco, bem cedo!
(dormir não conseguiu, tanto era o medo...)
e à hora lá embarcou com saco e mala...
A bucha da manhã, café/casqueiro,
num vómito quiçá seu derradeiro,
deixou vazio estomago/magala...

E enfim chegado à zona Tombali,
descarregado o barco, sai dali,
em Berliet de azar que pisa mina...
Co`a foice o agarrou, ladina a morte,
José, magala triste, homem sem sorte,
morrer logo à chegada a sua sina...

Notícia má à terra chega cedo,
tombado foi na guerra homem sem medo,
diz telegrama lido pelo prior...
Sustento, amparo só de mãe doente,
viúva, sem o ser, de homem ausente
agora fulminada pela dor...

Pergunto aos generais, hoje tropeços,
escondidos na cagança de adereços,
dos p`rigos sempre ausentes nessa altura...
Sentis ou não remorsos desse tempo?
vós p`ra quem guerra foi um passatempo,
sem p`rigos e de grande sinecura?
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8835: (Ex)citações (149): Riscando os dias do calendário e ouvindo, até à exaustão, o Mendigo do José Almada, nos em bu...rakos do Cantanhez (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8975: Blogpoesia (165): As listas negras de Portugal (J.L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P8977: Em busca de ... (175): 1.º Cabo Corneteiro Albino da CCAÇ 3326, Mampatá, 1971/72 (José Barros Rocha)

1. Mensagem do nosso camarada José Barros Rocha (ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2011:

Caro Camarigo Carlos Vinhal
Desde já as minhas desculpas pelo "trabalho" que venho solicitar e que é o seguinte:

Conheci há dias um Camarada que também esteve na Guiné, mais precisamente em Mampatá, nos anos 1971/1973, integrado num Pelotão Independente de Armas Pesadas agregado à CCAÇ 3326, que me perguntou se seria possível localizar um outro Camarada, de quem era amicíssimo e do qual perdeu o contacto desde o regresso. Respondi-lhe que iria tentar através da "nossa" Tabanca, e daí este meu pedido.


Sinteticamente:
O camarada que ele procura chama-se Albino, natural da Covilhã, tinha o posto de 1.º Cabo Clarim e pertencia à CCAÇ 3326, sediada em Mampatá.

Renovo as desculpas e desde já os meus agradecimentos pelo que puderes conseguir para este nosso camarada.

Um abraço camarigo
José Rocha
CART 2410


2. Comentário de CV:

Aqui fica o pedido do nosso camarada José Barros Rocha, em nome do camarada (não identificado) que procura o Albino, ex-1.º Cabo Corneteiro da CCAÇ 3326 que esteve em Mampatá entre Fevereiro de 1971 e Agosto de 1972.

Não temos no nosso Blogue nenhuma referência à CCAÇ 3326, nem na página do nosso camarada Jorge Santos há algum pedido de contacto desta Unidade.
Resta a esperança de que algum dos nossos leitores possa dar uma ajuda.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8938: Em busca de ... (174): Henrique Paulino Serrão, ex-Marinheiro Fuzileiro Especial do DFE10, procura informação sobre a localização dos seus camaradas