quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9197: In Memoriam (99): Homenagem aos combatentes mortos em todas as guerras em que as FAP estiveram envolvidas (Jorge Picado)

Homenagem aos combatentes mortos em todas as Guerras em que as FAP estiveram envolvidas

Jardim Henriqueta Maia, Ílhavo, 11 de Dezembro de 2011

Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 13 de Dezembro de 2011:

Caro amigo Carlos
Envio-te em anexo 4 fotos das cerimónias prestadas pelos núcleos da Liga dos Combatentes de Aveiro e Espinho, realizadas no passado domingo, 11DEZ11, em Ílhavo.

Se entenderes que deve ser dada a divulgação do acontecimento no Blogue, divulga. Não quero é proceder como os promotores que não divulgaram pelas "gentes" da terra.

Estas fotos, obtidas por um amigo e conterrâneo, não combatente, João Aníbal Ramalheira, apesar de constarem do seu Blogue "ILHAVO", foram-me fornecidas para as poder usar.

Já pedi ao seu autor para modificar o título como as publicou, uma vez que a Homenagem não era apenas aos Mortos da Grande Guerra. O Monumento, no Jardim Henriqueta Maia no centro de Ílhavo, é que foi erigido por subscrição pública a esses Mortos e assim é denominado "Monumento aos Mortos da Grande Guerra".

Assisti ao final, por acaso, ainda a tempo de cantar o Hino Nacional e dos presentes, com exclusão de um ou outro mirone aqui da terra, apenas reconheci um ex-combatente do Ultramar que vive desde longa data em Ílhavo e foi comando numa CC que, por motivos disciplinares(?), esteve na Guiné, Moçambique e Angola.

Não houve qualquer divulgação e segundo me apercebi apenas foi feita entre os associados da Liga.

No meu entender, até porque estiveram na Câmara ou Junta de Freguesia(?), poderiam ter mandado colocar "uma simples folha de papel impressa em computador" em dois ou três locais onde se afixam "as papeladas" da CMI e das Juntas de Freguesia do Concelho. Assim, quem não é sócio da Liga e foi combatente, poderia ter conhecimento e, pelo menos, quem quisesse participar, participava, quem não quisesse, não comparecia, mas não poderia desculpar-se por não ter havido divulgação no concelho.

Abraços para ti que torno extensivos a todos os camarigos.
Jorge Picado


Fotos: Blogue Ílhavo, com a devida vénia
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9125: In Memoriam (98): Daniel Matos (1949-2011): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)

Guiné 63/74 - P9196: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (1): Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

1. Comentário do nosso Arcanjo São Gabriel (o nosso cripto da CCAÇ 12) ao poste P9195 (*), com isso inaugurando esta série que será reservada à troca de memórias e outros eflúvios natalícios:


Lembro-me perfeitamente dessas festividades Natalícias em Bambadinca no ano de 1970, organizadas pelo nosso capelão Arsénio Puim. Na festa, à qual dei o meu contributo, recordo-me também do duo composto pelo Machado e pelo Vacas de Carvalho, que interpretaram "As Janeiras" , do saudoso Zeca Afonso. Foi uma festa bonita,  pá!

Ainda hoje tenho pena de não ter cantado uma música alusiva à quadra festiva, de autoria do maestro Alves Coelho Filho, que se intitula "Boas Festas". Como mais vale tarde que nunca, aqui vos deixo os versos, que servem de mensagem de Natal, para todos os camaradas da nossa tertúlia e respectivas famílias:

BOAS FESTAS

I


Em pequeno bem me lembro
Que meus pais com toda a fé,
Nesta noite de Dezembro
Esperavam Deus, p'la chaminé.

II

Hoje sou crescido, e sei
Que essa lenda, toda luz,
É do céu bondosa lei,
Em louvor do Bom Jesus!

Refrão

Boas festas, digo eu na minha voz,
Boas festas, é assim que o povo diz,
Boas festas, Deus nos dê, a todos nós,
Boas festas e um Natal muito feliz!

III

Se este mundo em desalinho,
Acorresse à chaminé,
Talvez Deus, no sapatinho,
Lá deixasse, amor e fé.

IV

E p'la noitinha ao deitar,
Mesmo os que a Deus são ingratos,
Ide pôr sem hesitar,
Na chaminé os sapatos!

Refrão

Boas festas etc etc

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Nota do editor:



(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9195: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (10): O nosso Natal de 1970, em Bambadinca 

Guiné 63/74 - P9195: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (11): O nosso Natal de 1970, em Bambadinca





Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Natal de 1970 > O presépio construído pelo Alf Mil Capeleão, Arsénio Puim... Na foto, o Fuir Mil At Inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao presépio e na capela da missão católica de Bambadinca.

Fotos: © Arlindo Roda 2010). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, com data de 16 do corrente, do nosso muito estimado amigo e camarada Arsénio Puim, açoriano de Santa Maria, ex-capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):

Amigo Luís Graça

Volto hoje a mandar um pequeno trabalho para o blogue, evocando, a propósito, o Natal que passámos em Bambadinca em 1970.

Para ti um abraço, com os meus melhores votos de Natal e de Ano Novo, extensivos à tua família.

Arsénio Puim


2. Recordando os meus Natais na tropa, e em especial o de 1970, em Bambadinca
por Arsénio Puim
De todos os Natais que, na minha já longa vida, passei, em localidades e situações muito variadas, não foram menos marcantes e significativos os dois Natais que vivi na Tropa, como alferes capelão.

O primeiro, a que já me referi num texto que escrevi neste blogue há uns três anos, foi vivido no Regimento de Artilharia Pesada 2, na Serra do Pilar, em Gaia. 

Terminado o Curso de Capelães Militares, em Lisboa, eu chegara há um mês àquela Unidade, onde estava a ser mobilizado o Bart 2917, que integrei desde então. Era o ano de 1969.

Uma impressão forte que guardo deste Natal, o primeiro que passei fora das ilhas dos Açores, é a ausência e o vazio causados pelo despovoamento do Quartel em razão da partida da quase totalidade dos militares – penso eu, umas boas centenas – para as suas terras naquela noite. Só ficou atrás um reduzido número de soldados – talvez menos que uma dúzia - necessário para a guarda e o funcionamento mínimo do Quartel. 

A consoada foi a grande celebração dessa noite, que aquele «resto» do Regimento do Pilar protagonizou, no Bar dos Oficiais, com todas as praxes e circunstância, discursos e saudações, farturas e magia próprios da noite natalícia. O serão, pela noite dentro, caracterizou-se por boa comida e bebida, muita cordialidade, conversação calma e evocativa e um clima de emoção e saudade, que o horizonte, já próximo, da partida para a Guiné naturalmente aguçava.

O outro Natal foi na Guiné, em Bambadinca, onde havíamos chegado no dia 31 de Maio de 1970.

Aqui, houve Missa do Galo, na capela da Missão, situada na área do Quartel, muito desejada pelos militares e bastante concorrida por estes assim como pelas crianças e civis nativos. 

Fizemos um bonito presépio a céu aberto, na parada, com a colaboração do cabo sacristão, Mário Baptista [, ou 1º Cabo Serviço Religioso   Mário Augusto Teixeira Alves, de seu nome completo] , e outros soldados, que foi apreciado pelos militares e alguma população nativa. 

A gruta do Menino era em forma de tabanca, feita de capim e ramos, albergando as figuras tradicionais do presépio, de boas proporções, tudo inserido num cenário natural de selva africana e dispondo de iluminação coada e música de fundo. Faltou talvez, neste presépio, a integração de algumas figuras de raça negra - para além do Rei Mago Belchior, que até não sei se estava lá presente - para lhe dar um ainda maior enquadramento no meio e um sentido mais universalista.

Organizámos ainda, nesta quadra, um jornal de parede ou de caserna, com colaboração muito inspirada e espirituosa, e promovemos uma festa de Natal, com variedades e um conjunto musical, a qual teve muito brilho e nível. Num mundo de várias centenas de militares, de formação, graduação e origem diferentes, como era o caso das Companhias de Bambadinca, encontram-se sempre elementos com notáveis dotes e capacidades em diversas áreas.

E não faltou também o almoço de confraternização, para todos os militares estacionados na CCS, em ambiente familiar e natalício.  

Na ocasião, o comandante do Batalhão [, ten cor art Domingues Magalhães Filipe, já falecido, ] leu uma mensagem do Comandante Chefe e Governador da Guiné, general Spínola. Exprimia, em bom estilo, ideias cristãs de paz, amor e afastamento dos ódios neste dia de Natal, um ideal que, por certo, não pode ser visto a prazo nem pairar acima das guerras que os homens fazem.

Foi assim que, no pequeno e vistoso planalto de Bambadinca - situado no centro da Guiné, tendo o grande Geba a passar por perto e os arrozais, as tabancas e abundantes espaços florestados em redor – foi celebrado em 1970 o Natal de Jesus, num clima, por sinal, isento de acções bélicas, onde não faltou a festa, a magia e também aquela saudade que a quadra natalícia sempre proporciona, com maior razão, entre os soldados destacados em zonas de guerra.

Aproveito a oportunidade para saudar todos aqueles com quem passei estes dois Natais, e todos os companheiros do Batalhão 2917, com os meus sinceros e cordiais votos de Bom Natal e Bom Ano Novo.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9194: Tabanca Grande (310): Luís Gonçalves Vaz, professor, filho do Cor CEM Henrique Vaz (1922-2001)



Guiné > Arquélago dos Bijagós > 1974 > Luís Vaz na pista da Ilha de Bubaque




Foto: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados




1. Mensagem de Luís Gonçalves Vaz, com data de ontem, respondendo ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*)


Caro Luís Graça:


É com muita satisfação e "alegria interior" que li as palavras que me dirigiu... Penso que as "pesou bem" antes de mas dirigir, e revelou também ser uma pessoa que conhece "muito da natureza humana", pois percebeu a verdadeira razão dos meus artigos para o "Nosso Blogue"... a verdadeira essência, nada mais simples do que homenagear e perpetuar a memória do meu falecido Pai, entre nós, sua família, bem como entre os amigos e os ex-combatentes nesse teatro de operações [, Guiné, 1973/74,].

Os Barcelenses, esses, o irão poder lembrar, lendo o Dicionário de "lustres Barcelenses" que em Junho próximo irá ser publicado.


Quanto ao convite que me faz, a resposta é SIM, e pode-me listar no seu Blogue, como colaborador "Luís Gonçalves Vaz". 

A "estória" que brevemente lhe irei enviar é sobre o "ataque ao edifício da Pide" em Bissau, penso que em 27 ou 28 de Abril [de 1974]... Fugi do Liceu Honório, com alguns colegas guineenses (mais velhos que eu) e eu era o único branco, além dos paraquedistas que cercaram a área, a assistir a este acontecimento na recente História da Guiné... Brevemente enviarei o artigo, meu caro Luís Graça.

Falando de mim, a saber: sou professor de Matemática e Ciências da Natureza numa escola aqui na zona de Braga, com formação académica em Biologia e Geologia (Ainda não fui à Lourinhã ver as pegadas de Dinossauros...). 


A minha Guerra foi na EPC [, Escola Prática de Cavalaria,] em Santarém, onde estive no 2º Curso de Milicianos do ano de 1983, e onde passei 18 longos meses como um operacional... Claro tinha de me relacionar com "prisioneiros de guerra",  isso mesmo que está a pensar. Fui Furriel Miliciano da PE (Polícia do Exército) e transportei centenas de presos entre a prisão de Lisboa e o presídio militar de Santarém. Levei também muitos à Polícia Judiciária Militar em Belém, realizei segurança às altas individualidades Militares e Civis no Exercício Militar "Órion 84", já que o QG das Operações era na EPC e o Teatro de Operações foi no Campo Militar de Santa Margarida, etc.

Ainda convivi e fiz serviço com o Capitão Salgueiro Maia em 1984 (na altura tenente-coronel ou major, vindo dos Açores). Tive o privilégio de ser recebido no meu 1º dia de tropa na EPC pelo na altura capitão Abrantes, que era o mesmo "Tenente Abrantes" que o meu pai fala nas suas notas (adjunto do Brigadeiro, Comandante do CTIG). Convivi com outros oficiais de Cavalaria e ex-combatentes, nomeadamente o já falecido Major Caetano: foi o meu professor nas aulas de "Tácticas de Guerrilha" no Curso de Milicianos (no EIQC da Escola Prática de Cavalaria) e que nos apresentou os filmes de emboscadas no teatro da Guiné. 

Este último oficial entrou em várias operações no TO da Guiné para tentar recuperar áreas "libertadas" pelo PAIGC. Morreu no ido ano de 1984 no rio Tejo, quando praticava caça aos patos (fui eu que levei os Sapadores da EPC para iniciar buscas do seu corpo na zona do Tejo em Alpiarça).

Adorei esses 18 meses de "grande paz", mas fui formado por oficiais e sargentos "que fizeram" a guerra colonial, mas com muita actividade e emoções.

Hoje em dia sou professor, estudo uma Alcateia de Lobos na Serra da Peneda e escrevo pequenas Biografias de outros meus antepassados ou parentes militares.

Por hoje já chega de falar de mim...

Um forte abraço.

Luís Gonçalves Vaz



2. Comentário de L.G.:


Luís, um das nossas regras de ouro, no blogue, é o tratamento por tu, "entre camaradas"... E por camaradas entende-se aqueles que "dormiram" - etimologicamente e fisicamente falando -  na mesma cama (do latim, camerate), na mesma caserna, no mesmo abrigo, no mesmo buraco, no mesmo bunker, no mesmo Bu...rako,  na mesma morança, por detrás do mesmo bagabaga ou do mesmo poilão... O conceito é mais vasto do que o simples operacional... Na Guiné, no "mato", éramos todos combatentes, do simples auxiliar de cozinheiro, básico, até ao comandante operacional, em geral, comandante de companhia... Mas também os oficiais superiores, nas sedes de batalhão, estavam sujeitos a "apanhar com elas"... Mais raro era a participação, apeada,  de oficiais superiores em operações no mato. No meu tempo, o Gen Spínola dava o exemplo, indo cumprimentar-nos por vezes nos sítios mais insólitos e até perigosos...


Outra das nossas regras de ouro é... considerar que "os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são"... Em  todo o caso, eles pertencem à categoria dos amigos da Guiné, e também já são algumas dezenas. Neste caso, o tratamento por tu é faculatativo.


O mais importante é, hoje, juntos, partilharmos memórias e afetos, valorizando sobretudo o que nos une mas sem ignorar ou escamotear aquilo que nos pode separar, e que também nos enriquece enquanto comunidade virtual... Costumamos dizer também, por graça, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!  E que é debaixo de um mítico, mágico, centenário, gigantesco, protetor, solidário e fraterno poilão - como aqueles que existiam no nosso tempo nas tabancas da Guiné - que nos sentamos hoje, à sua sombra, sem divisas nem galões, sem heróis nem vilões, contando as nossas histórias, mostrando os nossos álbuns fotográficos, trazendo mais uma peça para a reconstituição/reconstrução do "puzzle" da nossa memória... As nossas motivações podem ser as mais diversas, mas  há um elemento comun, o dever de memória, a camaradagem, a obrigação (moral) de transmitirmos vivências e valores à geração seguinte, etc.


Dito isto, meu caro Luís, és o tabanqueiro nº 530. Bem vindo a bordo! LG


PS - Na Lourinhã, de que sou natural, terei muito gosto em proporcionar-te uma visita guiada ao nosso Museu, conhecido nacional e internacionalmente pelas suas valiosíssimas colecções de fósseis de dinossauros (incluindo ovos) do Jurássico Superior... Sou sócio e já fui presidente, durante vários anos,  da assembleia geral da associação que é a proprietária e a gestora do museu... As famosas pegadas de dinossauro (o maior trilho do mundo), a que te referes,  ficam perto, mas mais a norte, já no distrito de Leiria, no Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros, na antiga "pedreira do Galinha", abrangendo os concelhos de Ourém e Torres Novas... Lourinhã é o último concelho do distrito de Lisboa...

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Notas do editor:

(*)  Convite ao LGV. enviado ontem:

Meu caro Luís:

Você já deu mais contributos para a preservação e divulgação da nossa memória na Guiné do que muitos ex-combatentes... Você é um dos nossos, e nessa medida a sua presença na nossa Tabanca Grande (a nossa comunidade virtual, constituída por cerca de 530 "amigos e camaradas da Guiné") só nos pode honrar e orgulhar... Reitero, pois, o meu convite para ingressar neste blogue coletivo e "autorizar" que o seu nome seja acrescentado à nossa lista alfabética... Como quer ser "listado" ? Luís Vaz, Luís Gonçalves Vaz ? 

Já conhece os nossos 10 mandamentos... De resto, pacíficos. Somos um blogue de paz e tolerância... Aqui só não entra a nossa atualidade, nem as questões do domínio da política, da religião e do futebol... Partilhamos memórias e afetos à volta da Guiné do tempo em que estivemos a fazer a guerra e a constrtuir a paz... Já vi que a sua família é minhota, eu também sou casado com uma nortenha e tenho casa no Marco de Canaveses... Gosto muito das "gentes do norte", pese embora as minhas raízes "sulistas", ou melhor, "estremenhas"...

Gostaria de ter uma pequena história sua, do tempo em que passou em Bissau..., muito possivelmente, já adolescente, e com os seus manos e pais. Se quiser, fale-me também um pouco mais de si para eu o poder apresentar ao nosso Batalhão... Dou-lhe os parabéns pela sua demonstração de amor filial. 

Guiné 63/74 - P9193: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (4): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - IV Parte - Movimento de cargas e descargas em Gadamael Porto

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 10 de Dezembro de 2011:

Camarada Vinhal
Junto envio a IV parte da comunicação para a integrares no blog.
Cumprimentos
Manuel Vaz



MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (4)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (IV Parte)

Uma das missões da Companhia era o apoio logístico de Guiledge e Sangonhá, o que implicava a descarga e o transporte dos reabastecimentos a partir de Gadamael Porto. O que se entendia por “Porto”, na altura, eram as condições naturais para pequenos barcos e LDM´s descarregarem. Um simples “degrau” de 50/70 centímetros entre a margem plana em rocha e o início do lodaçal, permitia a operação, numa zona mais larga e desprovida de tarrafo. (8)

A caixa de carga de uma viatura permite a aproximação do Unimog ao barco encalhado, sem entrar no lodo que mais parecia cimento amassado

Cais de acostagem era coisa de que se falava e até por lá apareceu um furriel da Engenharia Militar, mas nunca se iniciou, durante a permanência da Companhia (9). Havia que improvisar soluções, conforme as circunstâncias.
Quando o reabastecimento era feito por um barco, a solução para a descarga era pacífica por parte da tripulação: encalhavam os barcos, ficando ali de um dia para o outro.

A fotografia ilustra bem uma espécie de “cais submerso” sobre o qual as LDM´s tombavam a porta. Quando a água baixava as LDM´s recuavam e então começavam os problemas.

Para as LDM`s a solução era mais complicada, visto que a Marinha não encalhava as lanchas e se isso acontecesse era sinal de avaria ou “azelhisse” da tripulação. As lanchas chegavam com a praia-mar e baixavam a porta sobre o degrau natural que referi anteriormente. A partir daí iniciava-se o trabalho de estiva, carregando a mercadoria para as viaturas que ficavam a 20/50 metros, conforme o nível da água, que variava durante a descarga. (10)

As descargas ocorriam com os militares metidos na água, utilizando o pequeno barco de patrulhamento no rio e as canoas dos nativos, ali acostadas.

Por vezes a Marinha trazia duas lanchas e então a estiva complicava-se para ultimar o trabalho durante a praia-mar. As fotografias mostram a dureza dos trabalhos mas não revelam as situações verdadeiramente críticas:
- quando a água começava a baixar, as Lanchas iam-se afastando, ampliando a distância até às viaturas e obrigando os “estivadores” a caminharem no lodo do rio. Houve mesmo situações dramáticas, dada a força da corrente na baixa-mar. Eu próprio protagonizei uma situação dessas, quando o pequeno barco onde estava começou a ganhar velocidade. Valeu-me estar relativamente perto do tarrafo a onde me consegui agarrar.

A fotografia mostra duas Lanchas a descarregar. O Unimog do lado direito, em primeiro plano, está já a uma distância considerável, para efeitos de descarga.

Se a toda a dificuldade, facilmente imaginável, juntarmos o desespero do furriel vagomestre quando algo caía à água, temos o quadro completo de uma descarga no “Porto” de Gadamael. (11)

Resta acrescentar que o reabastecimento feito através de Gadamael era extensivo a tudo o que a “tropa” precisava, ou seja, mantimentos, combustível, cimento, arame farpado, chapas de zinco, munições, geradores, frigoríficos e sei lá mais o quê!... e tudo com esforço braçal.

O transporte para cada uma das Companhias a reabastecer, era uma operação coordenada que implicava deteção de minas e segurança em pontos considerados críticos, de maneira que a coluna de viaturas percorresse o trajecto sem grandes riscos, o mais depressa possível.

Uma vista mais ampla do “porto” com um batelão encalhado

Aqui surge o papel importante da Secção Auto e particularmente dos Mecânicos da Companhia na manutenção e recuperação de viaturas.

O dito “Porto” de Gadamael também servia para evacuar viaturas, a pedido do BSM, (12) o que raramente acontecia, por incapacidade de dar resposta a tantas solicitações. As viaturas começaram a acumular-se, até a Secção Auto decidir ultrapassar o protocolo de reparações a nível de Companhia, o que o BSM acabou por detectar e tacitamente autorizar. A partir daí algumas das viaturas “encostadas” voltaram a andar.

Esta nova valência da Companhia implicava a criação de condições mínimas de trabalho para a Secção Auto, com a organização e ampliação da Oficina e do próprio Parque Auto. Mas isto vai ser tema para a próxima intervenção.

(Continua)

(8) - O Tarrafo era uma vegetação própria da margem do rio em que as raízes, autênticas lianas, mergulhavam no lodo, dificultado a entrada ou a saída da água.
(9) - Suponho que o Cais foi construído no tempo da CART 1659. Sugiro que os Camaradas desta Comp.ª ou quem saiba do acontecimento indique o ano da sua construção.
(10) - As viaturas não entravam na água, mesmo quando o piso o permitia, para evitar os danos provocados pelo sal nos sistemas mecânicos.
(11) - Para quem não saiba, o reabastecimento tinha o lado burocrático, obrigando à conferência de Guias de Remessa, Autos de Receção, de Extravio, de Incapacidade, etc.
(12) - BSM – Batalhão de Serviço de Material
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9108: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (3): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - III Parte - A emboscada na estrada para Gandembel

Guiné 63/74 – P9192: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (16): Partida e viagem para a Guiné

1. Mensagem de Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 9 de Dezembro de 2011:

Caros Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro:
Recebam um grande abraço com o desejo de que estejam em forma. Abraço esse extensivo a outros co-editores e colaboradores deste insuperável Blogue.

Aqui vai mais uma página “arrancada” das minhas memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”, curiosamente uma das primeiras.

Manga de saúde para Vocês.
Rui Silva


Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

Das minhas memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”

A PARTIDA (… e a viagem)

Fui mobilizado, como Furriel miliciano e com a Especialidade de Armas Pesadas, integrado na Companhia de Caçadores n.º 816, para servir o Exército no Ultramar, mais propriamente na colónia da Guiné, pedacinho de terra na Costa Ocidental de África, aonde portugueses de antanho destemidos e aventureiros levaram e implantaram o nome de Portugal.

Depois de algumas semanas em Santa Margarida, e após formação no BC 10 em Chaves, as Companhias de Caçadores, entretanto tornadas independentes (após dissolução do Batalhão), 816, 817 e 818 abalaram para a Guiné.
E foi assim que aos 21 de Maio de 1965 embarcámos no Niassa então aportado no cais de Alcântara em Lisboa.
O Niassa ia então fazer uma longa viagem, a viagem toda. Levava tropa até Timor, deixando alguma em Angola, Moçambique e julgo que em Cabo Verde e S. Tomé também.
Sairíamos em Bissau. A viagem mais curta no tempo, mas a mais temerária. A Guiné naquela altura era o pior sítio da guerra Colonial, ao que se dizia.

Nunca mais esqueço aqueles momentos da maior emoção que vivi no cais de Alcântara, naquela manhã de sol radioso e céu limpo e azul aquando do embarque da Companhia.
Eram avós, pais, irmãos, esposas, madrinhas de guerra, namoradas a despedirem-se daqueles que partiam, e partiam com o espectro de não se saber se voltavam. Lágrimas, longos abraços e beijos, tudo que um grande estado emocional podia despojar na hora de uma separação algo dramática.
Gente anónima ou curiosos, também por ali.

Era cerca do meio-dia, a hora pré-fixada para o embarque.
Esses momentos de rara emoção foram também, primeiro, do desfile de nós, militares, que antecedeu o embarque; depois, a subida na escarpada escada que ligava o chão do cais ao convés do barco, diante daquela multidão que nos acenava vibrante e incessantemente, e, depois, o Hino Nacional que, com ênfase, foi tocado pela Banda Militar, ao mesmo tempo que o barco se afastava lenta e progressivamente do cais e deixava para trás, a nossa terra, a nossa família, os nossos amigos… e muitas das legítimas ilusões.
Senti um arrepio.
Quadro só ali visto e sentido.
Não suportei que duas lágrimas se me aflorassem nos olhos.


Antes de ir para o meu camarote (?) (3-4 camas em beliche) olhei ainda lá em cima, do outro lado do Tejo, o Cristo-Rei que, de braços abertos, parecia querer abençoar-nos.

E a ponte sobre o Tejo já em fase adiantada de construção.

Foto reproduzida, com a devida vénia de “mlisboaantiga.web.siplesnet.pt”

Deparei então com as mais variadas das reações nos meus colegas naquela hora de desenlace: uns, impotentes, deixavam as lágrimas correrem livremente o seu curso; outros denotavam apenas uma expressão de tristeza, outros ainda, aparentando serem fortes, davam palmadas nas costas daqueles que exteriorizavam a sua amargura. Outros ainda continuavam a acenar… a acenar… a acenar até que o cenário da multidão no cais se diluiu com a distância.

Um bocado de todos tinha ali ficado.

Foram cinco dias de amena e agradável viagem, sempre num mar calmo. Um pequeno conjunto musical, julgo privativo do Niassa, e já com alguma veterania, com suave e tranquila música, na sala do bar, procurava também minimizar a ansiedade da tribo.

Uma foto muito especial no convés do Niassa, pois nela podem-se ver o Comandante da Companhia (Luís Riquito), Oficiais, Sargentos e Praças, todos da 816.

Estes dias serviram também para enfortalecer mais os laços de amizade e companheirismo reinantes entre a malta. Afinal éramos companheiros da desdita.
Em alegre confraternização, conversando, jogando às cartas - logo na primeira noite perdi 400 “paus” a jogar ao “abafa”, depois nas outras passei a ser um simples espectador.

O plafond pré-estabelecido tinha-se esgotado logo ali -, tirando fotografias por todo o barco, contando anedotas, falando das “madrinhas de guerra”, escrevendo (o primeiro contacto com os aerogramas) à família, ou àquela que poderia vir a entrar naquela, ou simplesmente contemplando a linha do horizonte, (quantas vezes!) delimitativa daquela imensa toalha de água que envolvia o barco – impressionava aquele cenário aparente de ser só nós e a água, no mundo -, assim se passou o tempo a bordo. Isto sem esquecer a bebedeira do Luís José (meu camarada também Furriel da 816) no dia em que ele arranjou muitos amigos ao abrir a mala e sacar do bom presunto e do bom chouriço que a sua mãe muito bem soubera aprontar.
Tudo em latas com pingue hermeticamente fechadas a solda de estanho. Era para uns tempos.
O que ele levava para uns tempos ficou-se praticamente por aquela noite.

Outra foto de militares da 816 no Niassa

Muitas vezes apoiado na amurada do navio olhava a linha do horizonte procurando respostas para as minhas interrogações. Como será? Como não será? Da Guiné só ouvi falar, - e de forma muito vaga - nos bancos da primária. Dizem que aquilo é de morrer com o calor. Que a água é péssima e provoca doenças. Cada um dava a sua dica, ou positiva ou negativa e conforme o seu estado d’alma.
Que trabalhos, que sacrifícios me esperavam?
Falou-se também que a estatística apontava em média para 2 mortos por Companhia em toda a comissão. Ora como uma Companhia tinha cerca de 160 homens…

Após cinco dias e cinco noites de ininterrupta e tranquila viagem, chegamos!

Começamos por vislumbrar ao longe a costa africana. O denso matagal num verde luxuriante a contrastar com o azul do céu totalmente limpo. Cada vez a terra mais nítida, mais próxima.
Já com o cenário da Guiné a ocupar-nos o campo visual, via-se algures no mato aqui e ali colunas de fumo. Era a guerra? Supostamente que sim. “Fazem aquilo para nos meter medo”, alguém disse.

E a pouco e pouco, Bissau se foi tornando nítida e próxima.
A marginal, orlada das típicas palmeiras, com todo o ar de belo e natural que tem as paragens africanas.

O barco ancorou um pouco ao largo (~1/2 milha) do cais, pois a profundidade da água, na altura, ali, era pouca para a envergadura do Niassa se aproximar mais.

Foi nas LDM,s (embarcação rudimentar, de linhas a direito e construída em chapa de ferro), que cobrimos aquela distância que separava o agora imobilizado Niassa do cais de Bissau.
E pronto, ali estávamos para o que desse e viesse. Tudo ainda era ilusão, tudo era esperança, tudo fervilhava no meu cérebro em inúmeras interrogações.
Ainda me recordo, - ficou-me na retina - quando peguei no meu saco de campanha e na minha mala (civil) de cartão e pus o primeiro pé na Guiné.

No convés do “Niassa” eu e o meu grande amigo e Furriel de Transmissões da 816, Luís José

Três Furriéis empoleirados no Niassa; os das pontas, da 816

Ao acabar de subir os poucos de degraus de pedra que separavam a linha da água do piso do cais, deparei com um Alferes conhecido do RI6 do Porto que assistia ao nosso desembarque. Logo “metralhei-o” com perguntas: Como é isto? Para onde vamos, sabe? etc., etc..
Compreensível e com muita paciência foi-me respondendo como sabia ou como não sabia.

Fomos então conduzidos em viaturas militares até ao quartel de Brá. Atravessámos a cidade a uma boa velocidade (parecia que a guerra era já ali) e ainda me recordo como casualmente fixei um café com uma esplanada arborizada, o qual viria a ser, também por casualidade, o “meu” café, sempre que vinha a Bissau: O Café Bento. O café onde eu comia uma sandes de tablete de chocolate a puxar a cerveja.

Quando pedi ao nativo empregado que me trouxesse um pão partido ao meio a tablete tal e uma cerveja ele olhou-me com cara de quem estaria a ser gozado. Convenci-o e ele atendeu-me. O café ficava cá em baixo, ao fundo da Avenida principal (avenida esta que começava lá em cima na Praça do Império onde estava o Palácio do Governador -na altura este era Arnaldo Schultz-), muito perto do ângulo com a marginal e do lado esquerdo para quem se voltava para o mar.
Já em Brá deram-me uma G3. A Companhia não tinha armas pesadas, só… serviço pesado… à nossa espera.

Palácio do Governador na Praça do Império em Bissau. Cá fora, sou eu, não é o Governador

(Segue-se: O REGRESSO - muita sorte!)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 – P9001: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (15): As “Piscinas” dos Furriéis da 816

Guiné 63/74 - P9191: Agenda cultural (177): Apresentação do romance histórico de Paulo Aido, A Primeira Derrota de Salazar, que teve lugar no dia 1 de Dezembro de 2011 (José martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2011:

Boa noite
Há pouco estive presente no lançamento do livro de Paulo Aido, na cidade de Odivelas.
Apesar de ter no título "primeiro", não é a primeira obra do autor.
Aqui vão as fotos do lançamento

Abraço
José Martins


Apresentação do Romance Histórico de Paulo Aido

A PRIMEIRA DERROTA DE SALAZAR*


Pelas 17 horas teve lugar do Restaurante “O Forno da Cidade” em Odivelas e, num ambiente intimista e de boa disposição, foi apresentado o livro já citado, pelo jornalista Joaquim Letria, edição de Zebra Publicações. Em fundo revistas sobre o mesmo tema.

O tema deste romance é a queda da Índia Portuguesa, com alusões a factos históricos passados no ano em que nasceu o autor. É o “resultado” de quatro anos de pesquisa, para ler, segundo palavras de Paulo Aido, de um só fôlego. Será, obviamente, a minha próxima leitura.

Da esquerda para a direita: O autor Paulo Aido, o apresentador Joaquim Letria e o editor Rui Braz

Aspecto da assistência. Ao fundo está o balcão de serviço

Aspecto da assistência, com a garrafeira ao fundo

Como a publicidade não faz mal a ninguém, é um local agradável de frequentar. Eu próprio costumo, apesar de não ser cliente assíduo, de almoçar, de vez em quando, no Forno da Cidade, em Odivelas (http://www.blogger.com/www.fornodacidade.com).

José Marcelino Martins
8 de Dezembro de 2011
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9115: Agenda Cultural (172): Lançamento do livro A Primeira Derrota de Salazar, de Paulo Aido, dia 1 de Dezembro pelas 17 horas, na Casa de Goa, em Lisboa (Teresa Almeida)

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9157: Agenda cultural (176): Apresentação da obra Elementos de Cultura Militar, de João Freire, sociólogo, dia 12 de Dezembro de 2011, pelas 18 horas, na Associação 25 de Abril

Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)



Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.



1. Continuação da publicação de alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos, do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné.

Recolha e transcrição do seu filho Luís Gonçalves Vaz (LGV) que estava, nesta época (1973/74), com a sua família, em Bissau. É professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga. Aceitou, com muito gosto, o nosso convite para integrar a Tabanca Grande.


Nota do LGV:

"Peço desculpa, se ao transcrever algumas notas pessoais do meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz ,troquei ou alterei o nome de algum militar português, interveniente nestes últimos meses, no Teatro de Operações da Guiné, pois foi sem intenção e devido à dificuldade de ler algumas passagens nos seus registos pessoais" (...)





 
Bissau, 2 de Abril de 1974
“…Visita do Brigadeiro Sales Grade (Director da Arma de Transmissões) e jantar ás 20h30…”
“… Às 08h14m levantamos voo, em avião do TAGP para a Aldeia Formosa, com o nosso Brigadeiro Comandante, o Tenente-Coronel Maia e Costa, Cmdt do Bat Eng, o Major Marques, [...] o Tenente Abrantes, adjunto do Nosso Brigadeiro e eu. Chegamos e o Ten Coronel Ramalheira, Cmdt de Batalhão, e o 2º Cmdt, Major Lopes, fizeram um Briefing, rápido [...] e depois de darmos uma volta ao aquartelamento, fomos pela estrada com uma escolta. [...]

Alferes Campos: Verdadeiro espírito de missão, entusiasmo e eficiência. Estivemos em 2 Pedreiras… De regresso paramos em Manpatá (Saltinho, no extremo sul do território) e vi a árvore que dá o nome à Povoação. Regressamos às 12h 00 e não aterramos em Buba. [...]"

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 3 de Agosto de 1974

"... Estamos de prevenção, pois hoje é o Aniversário do Massacre do Pigiguiti [, 3 de Agosto de 1959]. Tropas Europeias [...] nas Unidades. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 12 de Agosto de 1974


"...Reunião exploratória, dirigida pelo Comandante Militar com novas orientações do planeamento pela 4ª Repartição. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 16 de Agosto de 1974


"... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade! Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 20 de Agosto de 1974


"... Despediram-se o Major Barreto Fernandes e o Tenente Abrantes, respectivamente, chefe da Secção de MM e Adjunto do Brig Comandante. Desde 17 que oficialmente se constitui o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.

Soube-se hoje após o almoço que irá vigorar o esquema:
- Totalidade de pessoal (-6000) evacuado até 20 de Setembro de 1974 [...]
- Restantes até Dezembro (?)
- Entretanto vai-se “evacuando” o material  ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 22 de Agosto de 1974
"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320 (**) do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 23 de Agosto de 1974

"... Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima [...] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...]  ceder!,  fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre  à atenção para a gravidade da situação. ..."

"... Reuni com a comissão que veio de Lisboa sobre os 'Planos de Retirada': Hipótese A e B. Mandei  fazer a lista uma a uma para [...]."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 24 de Agosto de 1974


"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive atento no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 26 de Agosto de 1974


"... Hoje à tarde, soube-se que sairíamos da Guiné até 31 de Outubro de 74 e em 10 de Setembro será proclamada a Independência da Guiné! FIM de uma triste aventura, muito Inglória a que nos levaram os [...]."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 30 de Agosto de 1974

"... Reunião no Palácio do Governador às 18 00 h, de acordo com os acontecimentos na Metrópole, de apoio ao General Costa Gomes e repúdio das manobras reaccionárias ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

[Continua]

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Notas do editor



(**) BCAV 8320/72:  Mobilizado pelo RC 3, partiu para a Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve sediadoe m Bula. Comandante: Ten Cor Xav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Constituído por 1ª Companhia (Bula, Pete, Nhamate, Bissau), 2ª Companhia (Bula, Nhamate) e 3ª Companhia  (Bula, Bissorã, Captió, Pete). Todos os comandantes de conmpanhia eram capitães milicianos.

Fonte: GOMES, C.M.; AFONSO, A. - Os anos guerra colonial: volume 13: 1972: negar uma solução política para a guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 116.

Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)



Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71) > Jardim da Bafatá > Eis o autor das quadras que aqui se publicam, buscando inspiração na espuma dos dias, o José Luís Tavares, sentado, à direita, sob a estátua de João Augusto Oliveira Muzanty, um dos pacificadores da Guiné tal como Teixeira Pinto. Primeiro tenente da Marinha,  foi governador do território entre 1906 e 1909.

O monumento a Oliveira Muzanty, inaugurado em 28 de Maio de 1950, foi obra do escultor António Duarte e do arquitecto Fernando Pessoa. Encontra-se hoje parcialmente destruído (só resta a base em pedra onde assentava a estátua do nosso antepassado).

Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71) > O Manuel Mata em cima de uma Autometrelhadora Daimler.

Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados


1. Manuel Mata é dos mais antigos membros da nossa Tabanca Grande. Na I Série do nosso blogue tem diversos postes publicados. Foi 1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 (, máquina de guerra que nem sequer havia no TO da Guiné...). É do meu tempo do leste: pertenceu ao Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71, e era amigo (e confidente) do velho Teófilo, do Café Teófilo.

Há cinco anos atrás, ele mandou-nos algumas quadras que foram agrupadas, com maior ou menor propriedade sob a designação de Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá. Foi a minha maneira de fazer uma pequena homenagem aos nossos camaradas da arma de cavalaria que penaram lá para os lados de Bafatá, Nova Lamego, Piche, Buruntuma... Também iam a Bambadinca, mas menos vezes. Bambadinca tinha o seu Pel Rec Daimler, que fazia o que podia (e podia pouco) para, com dignidade e coragem, ir aos pontos mais críticos e difíceis (sobretudo na época das chuvas) do Sector l1, como Mansambo, Xitole, Saltinho...

Do alentejano Manuel Mata, que vive no Crato, aqui vão algumas quadras do seu amigo José Luís Tavares, "homem de transmissões, companheiro do Esquadrão e das lides de organização dos convívios anuais" (sic)... Ele fez, em 2006, questão de sublinhar que se destinavam aos "amigos que gostam de quadras com algum sentido crítico-satírico"... 


Nunca cheguei a saber, junto dele, se na Cavalaria de Bafatá se cantava o fado... marialva ou não. Presumo que sim... Mas não tenho qualquer indicação de música de fado (ou outra) para acompanhar esta letra...  As quadras, com versos de 7 sílabas, são perfeitas (depois de um retoque final),  tocam-se com música de um fado tradicional, haja uma viola, um guitarra e uma garganta afinada. Pode ser o fado corrido, que casa bem com as quadras populares. Chamei-lhe nesta revisão o Fado do Bart 2857, com uma 1ª parte, Obras em Piche... (Com a devida vénia, ao autor da letra e ao Manuel Mata, que a recolheu) (*) (LG)


2. Fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche (***)

Aqui em Piche é mato,
Mas manga de animação,
Tem cá uma [bela] piscina,
Foi hoje a inuguração.

F'zeram várias brincadeiras
Que meteram muita graça,
Jogaram também f'tebol
E, ao fim, entrega da taça.

Foi um jogo de grande interesse,
Como já é natural,
Mas ao fim, em vez da taça,
Deram uma cerveja Cristal.

Vou dizer-lhes o resultado.
Só para nós em comum,
Que perderam os furriéis
Por nove golos a um.

Foi um jogo bem disputado,
Ouvi eu, numa entrevista,
Que mais par'cia uma final
Com Sporting e Boavista.

Passou-se isto a vinte e oito,
Mais nada, vou terminar,
E quanto à arbitragem
Acho que foi regular.

José Luis Tavares - Radiotelegrafista
28 de Junho de 1970


[Recolha: Manuel Mata] (**)

[Revisão /fixação de texto: L.G.]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de Dezembro de 2011 Guiné 63/74 - P9165: O nosso fad...ário (6): Fado Canção da Fome: Livrou o autor de levar uma porrada do célebre Pimbas (Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


(**) Vd. I Série >
 Poste de 31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (1): Obras em Piche

(***) Ao tempo do BART 2857 (Piche, 1968/70), que tem um blogue próprio, aqui. Pelo "slideshow" com fotos do João Maria Pereira da Costa, vê-se que era malta danada para jogar á bola...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9188: Documentos (12): Província da Guiné. Agência-Geral do Ultramar (Magalhães Ribeiro)



1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74, Mansoa - 1974:


Camaradas,

Para os interessados no conhecimento da documentação que circulava nos anos 70, relativa à Guiné, publica-se aqui um desdobrável da responsabilidade dos serviços técnicos da AGU (Agência-Geral do Ultramar), que penso ser oferecido pela TAP aos seus passageiros naquele tempo.

Integra alguns interessantes dados sobre o governo e administração, a economia, educação e ensino, saúde e assistência, história, geografia, fauna e flora, população, comunicações e um mapa à escala 1:1.000.000














Um abraço,
Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74

Documentos: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: