segunda-feira, 21 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

1. Mensagem que nos chega de Dakar, Senegal, onde está em trânsito, vinda de Iemberém, a nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda, em janeiro de 2012, em Catesse, no Cantanhez; foto: cortesia da AD - Acção para o Desenvolvimento]:


Data: 21 de Maio de 2012 11:53
Assunto: De regresso a Portugal
Para: Família, amigos, amigas, ex-colegas e ex-vizinhos:



Tendo em conta a forma como as organizações internacionais, inclusive a ONU, resolveram o problema na Guiné-Bissau, penso que eventualmente poderei pensar em regressar à Guiné em 2013, após a realização de  eleições legislativas e presidenciais.

Assim, está na hora de regressar a Portugal e de procurar novos projetos. Irei na próxima 6ª feira para Lisboa, de onde seguirei de imediato para Alcobaça e depois dos anos da minha irmã irei para Coimbra. Lá para Julho/Agosto devo ir até ao Algarve e em Setembro Alcobaça/Coimbra. 

Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a  um trabalho como voluntária noutra ONG. 

Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira  receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em  Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física.

Desde que vim da Guiné já comecei a ter dores na coluna por passar muitas mais horas ao computador. Se tiver engenho e arte ainda vos escreverei uma "crónica" sobre as  minhas aventuras e desventuras em Dakar.

Um abraço para todos e até breve,
Anabela

2. Comentário de L.G.:

Por razões de segurança, a Anabela Pires - desde janeiro de 2012, a viver e a trabalhar como voluntária da AD em Iemberém, no sul da Guiné-Bissau - foi temporariamente "deslocada" para o país vizinho, o Senegal, uns dias depois do golpe de estado de 12 de abril. Num dos mails que nos mandou, a 5 de maio, ela contava-nos as "venturas e desventuras de uma turista à força em Dakar" (sic), dava-nos conta das suas já muitas saudades da Guiné e das suas gentes e, por fim, concluía, com alguma amargura, mas também com uma réstea de esperança e sobretudo sem nunca perder o seu bom humor (e a sua cana de pesca): 


"(...) E nesta mágoa e impotência que pode uma alminha fazer? Bom, vou à pesca, mas o que me apetecia mesmo era voltar e já para a Guiné-Bissau. Se os meus colegas da AD e a população em geral lá podem estar, quer gostem ou não, por que é que eu não posso? Só não volto porque não quero poder ser mais uma preocupação para o Pepito, mas se ele me disser 'vem', eu vou. Não sei em que poderei ser útil nas atuais circunstancias, mas se houver alguma coisa em que possa ajudar… eu volto. Sinto que não tenho medo e todos os que lá estão, com medo ou sem ele, estão, até porque a maioria nem tem para onde ir." (...)


Infelizmente, a aventura guineense da Anabela fica por aqui este ano. Mas,  sabendo como ela é determinada e corajosa, voltaremos a ter notícias dela em breve, e daqui talvez a um ano, de novo na Guiné-Bissau, conforme é seu desejo. 


O exemplo desta mulher (, nossa amiga e recente membro da nossa Tabanca Grande) é inspirador e eu quero saudá-la, agora que volta a casa, com alguns sonhos desfeitos. Recebe, Anabela, um xicoração tão largo como o Rio Cacine destes teus amigos grã-tabanqueiros. Obrigado pela tua atitude positiva e pelo teu amor à Guiné e ao seu povo que, mais do que nunca, precisa de ser acarinhado e apoiado por todos os seus amigos em todo o mundo.


Não te esqueças, por outro lado, que tens para aí umas crónicas prometidas sobre a tua estadia em Iemberém (que foi, apesar de tudo, uma grata experiência para ti). Os amigos e os camaradas da Guiné agradecem-te o teu gesto solidário, e querem aprender com a tua sabedoria. Bom regresso a casa, o mesmo é dizer, à pátria, à mátria e à fátria... 
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Nota do editor:



Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > Fotos do álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb > O autor, no cais do Xime, ao pôr do sol. Aqui era a porta de entrada do leste... Aqui chegavam navios da marinha, em especial as LDG, além dos barcos e batelões civis, ao serviço do exército... O rio era navegável até Bambadinca. Aqui no Xime teria cerca de 400 metros de largo, entre as duas margens.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime... Havia um aquartelamento na margem esquerda, guarnecido por uma companhia de quadrícula, além de um Pel Art (obus 10.5). Havia ainda uma tabanca. Na margem direita, situava-se a povoação do Enxalé,  outrora importante. Nesta altura havia lá um destacamento (guarnecido por 1 gr comb do Xime).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... O mistério do Geba, o fascínio dos rios e braços de mar da Guiné: o que havia para além daquele cotovelo, a montante e a jusante ? Gostavamos de imaginar que para além do Xime, a ponta Varela, a foz do Corubal, Porto Gole, Bissau, o Atlântico, o Tejo, o regresso a casa... Como diz o nosso Álvaro de Campos / Fernado Pessoa, "todo o cais é uma saudade de pedra"...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... Homens e viaturas esperando o desembarque da LDG, vinda de Bissau, com tropas frescas...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda > Dois furrieis (o Roda e o madeirense Zé Luís de Sousa, mais o condutor do Unimog 411, cujo nome já não recordo... (Talvez algum camarada da CCAÇ 12 me possa ajudar!).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O Arlindo Roda na ponte do Rio Udunduma, afluiente do Rio Geba, onde havia um destacamento permanente... A defesa desta ponte (sabotada em 28 de maio de 1969, por ocasião do ataque a Bambadinca) era vital  para o trânsito na estrada Xime-Bambadinca... Era desde então defendida permanentemente por um grupo de combate (o9ra da CCAÇ 12, ora de outras subunidades como os Pel Caç Nat).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > 'Refeitório' e 'sala de estar' do destacamento da ponte do Rio Udunduma. Pessoal do 3º gr comb: sentados  à esquerda, identificao o fru mil Arlindo e o alf mil Abel Rodrigues...



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) >  Mais uma bonita paisagem: o porto fluvial de Bambadinca, no Geba Estreito... O Arlindo aparece na foto à civil... Aqui fazia-se a cambança para Finete e Missirá, os únicos destacamentos que tínhamos no Cuor... Bolanha de Finete em frente. 

Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb, CCAÇ 12 (1969/71). Edição e legendagem: L.G.

Fotos: © Arlindo Teixeira Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça








Fonte: História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado, pp. 38/39. [ Documento escrito, datilografado e reproduzido a stencil por L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Havia sinais de que, no setor L1, já estávamos todos cansados da guerra, os combatentes de um lado e do outro... E ainda faltavam quatro anos, quatro longos anos,  para acabar este conflito absurdo...  A CCAÇ 12 tinha tido uma intensa atividade operacional, na época das chuvas, coincidindo com o final da comissão de serviço do BCAÇ 2852 (1968/70). 

Os novos senhores de Bambadinca (BART 2917, 1970/72) estavam desejosos de mostrar serviço... Como a gente dizia, em linguagem de caserna, vinham de Lisboa "com a tusa toda"!... De forma que a desgraçada da minha companhia, de intervenção ao setor L1, não tinha mãos (nem pés) a medir... 

Do lado do PAIGC, comemorava-se, sem grande entusiasmo, as efemérides revolucionários: no dia 3 de agosto de 1970, o grupo de roqueteiros de Ponta Varela, cumprindo ordens do comissário político, atacaram em pleno dia a LDG... Sem consequência para o navio da marinha, mas há que reconhecer que sempre era uma ação temerária, dado o poder de fogo da LDG... Uma coisa é atacar um barquinho civil cujo armador não tem as quotas em dia... Outra coisa é enfrentar a resposta da LDG, dotada de duas peças Boffors, antiaéreas, de 40 mm...  

Para celebrar a revolta do cais do Pidjiguiti, no já longínquo 3 de agosto de 1959, a guerrilha local também flagelou o Enxalé e Mansambo... Mas tínhamos informações sobre problemas intestinos a nível do bigrupo que residia na área do Poindon / Ponta do Inglês...  Foi preciso vir, em agosto de 1970,  gente do Cuor, de Madina/Belel, dar uma maozinha do subsetor do Xime (vd. croquis do setor, em baixo)...

Mesmo no mês da maior pluviosidade na Guiné, não tivemos direito a qualquer descanso. Importantes tabancas fulas, em autodefesa e guarnecidas com pelotões de milícias, como Amedalai (onde hoje vive o nosso grã-tabanqueiros J.C. Suleimane Baldé) e Dembataco foram atacadas, com agressividade, obrigando a entrada em ação do nossos piquetes... Fora disso, era a chuva e a rotina dos dias, repartidos pelos destacamentos de Nhabijões, Bambadincazinho (MIssão do Sono), ponte do Rio Udunduma, sem esquecer as colunas logísticas, os patrulhamentos ofensivos e outros exercícios que nos obrigavam a fazer para manter a boa forma... Mas nuvens negras espreitava-nos no fim da estação... (LG).



Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Detalhe > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil)... Lugares que continuam no nosso imaginário..


Infografias: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados

Guiné 63/74 – P9929: Convívios (439): 32º Encontro do pessoal da CART 3331, dia 2 de Junho de 2012, em Ansião (Gumerzindo Silva)


1.   O nosso Camarada Gumerzindo Caetano da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331, Cuntima, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 18 de Maio de 2012:

Meu Caro Luís,

Uma vez que não tenho computador em Portugal, pedi ao meu cunhado, que te enviasse este pedido de divulgação, para que possa publicar no nosso blogue.

Desde já agradeço imenso.

Com os melhores cumprimentos,
Gumerzindo Caetano da Silva
Tlm. 912850767



32º Convívio da CART 3331
dia 2 de Junho de 2012
em Ansião




  
Emblema e Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:  

19 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9926: Convívios (256): Almoço de confraternização do pessoal do BCAÇ 2879, dia 26 de Maio de 2012 em Monte Real (Carlos Silva)


domingo, 20 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9928: Tabanca Grande (340): Lázaro Ferreira, ex-fur mil art, GA 7 (Bissau, Gadamael e Ingoré, 1974), hoje advogado em Braga




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > Convívio do pessoal.

Fotos: Lázaro Ferreira (2012). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Lázaro Ferreira, com data de 16 do corrente
Luis,

Como te disse [, ao telefone], hoje tirei um pouco de tempo à minha monotonia,  de modo a permitir fazer em scanner algumas fotos que tinha no meu álbum.

Algumas fotografias são passadas em Bissau, a piscina que se vê é (ou era) junto à residência dos oficiais, onde se via o cinema. Outras são tiradas em Gadamael [, vd. as duas fotos acima]. 


O soldado que está com os copos é o Virgílio, tinha acabado de ter a notícia do nascimento de um filho (confidenciou-me ele em 74); há mais duas do Virgílio, uma junto ao Obus em 1973 que depois em 74 passei eu a ser responsável por ele, sob a minha direção e do tal alferes que falas [. C. Martins].

Há uma fotografia com o Virgílio e o Furriel Oliveira à entrada da messe dos sargentos em Gadamael; Conheci o Virgílio quando veio do Benfica ou Sporting para nos finais de 60 e princípios de 70 jogar futebol para o Riopele, clube onde joguei nos Juniores algum tempo, daí a nossa amizade. Mas nunca mais o vi.

Há outras fotografias que vão desde os meus 14 anos, tiradas na cidade de Braga, quando estava no Seminário Diocesano; e outras recordações fotográficas até hoje, perpassando pelos tempos da Universidade do Porto e de Coimbra, retratando o meu amor pelo desporto: fui sócio da Académica, jogador do Grupo Desportivo de Joane e, mais tarde, de 1993 a 2006,  durante 13 anos, membro do Conselho de Disciplina e de Justiça na Associação de Futebol de Braga.


Entretanto, tirei dois cursos de pós – graduação em direito de desporto profissional pela Universidade Lusíada do Porto e de Coimbra.

Outras fotos retratam a minha queima das fitas, embora aqui não envie, tenho outras com os meus pais na queima das fitas que foi um grande acontecimento para eles e uma alegria para mim.

Envio 2 fotos sobre a festa,  memorável, que meus pais me fizeram quando terminei o curso de direito, em Abril de 1986. Em em 1976 passei pela Universidade do Porto, onde completei o 1ª ano do curso de História.

No ano 2010 recebi a RTP 1 e a SIC no meu gabinete em Braga.  porque tinha acabado de ganhar um processo sobre o vírus da Sida/Hiv2, que contaminou e matou um  constituinte meu, o qual tinha recebido sangue de um bom dador guineense, mas  nem sequer ele sabia que estava infetado nem havia rastreio para o detetar.

Também fui eu que despoletei o célebre "caso Mateus”, em 2006, ao colocá-lo nos Tribunais Administrativos, caso que contribuiu para a mudança dos regulamentos de transferências desportivas que estupidamente impediam um atleta, em certos termos, de se profissionalizar ao meio ou no final da época.

Em 2010, requeri o Tribunal de Júri num Julgamento na Guarda na sequência de um homicídio qualificado perpetrado por um homem que tinha morto à facada sua mulher com 17 facadas, estando por aí enxertos de entrevistas nos jornais nacionais, da Guarda, da agência Lusa….. E assim vamos.

Li o que escreveste sobre mim no blogue que criaste, obrigado.

Até qualquer dia, um abraço.

Lázaro


2. Comentário de L.G.:

Falando há dias ao telefone com o nosso novo grã-tabanqueiro, apurei mais o seguinte:

(i) O Lázaro Ferreira foi  furriel mil art do  Pel Art 23 de Gadamael (que se terá fundido com o 15, segundo informação do seu último comandante, o alf mil art C. Martins):

(ii) Foi para a Guiné depois já do 16 de março de 74;

(iii) Passou pelo GA 7, em Bissau;

(iv) Esteve três meses em Gadamael, presume-que  de abril a junho;

(v) Em Gadamael, apanhou os primeiros contactos com a malta do PAIGC;

(vi) Diz-me que "era um tipo popular, bom jogador de pingue.pongue, esquerdino", mas não se lembra do alferes Martins" (pelo nome);

(vii) Em contrapartida, o alf mil art Martins deve lembrar-se bem  dele, porque uma vez - já com os obuses desativados - o nossa pira foi para fora do quartel, mais uns tantos, dar uns tiros ao alvo, no mato... O que causou, naturalmente, algum alvoroço no quartel...  Podia ter apanhado uma porrada...

(viii)  Falou-me de alguns nomes, como o cozinheiro Tin-tin e o  jogador de futebol do Riopele, o Virgílio...

(ix) Depois disso, foi para Ingoré, junto à fronteira norte, com o Senegal, onde fez a retração do aquartelamento;

(x) Voltou à metrópole em 8 de setembro de 1974;

(xii) Estudou e viveu em Coimbra (a partir de 1978, se bem percebi);


(xiv) Apesar de ter pouco tempo, prometeu-me contar mais algumas histórias da Guiné.

O Lázaro Ferreira acaba de me mandar algumas das fotos do seu álbum. Fica apresentado formalmente à Tabanca Grande. É o grã-tabanqueiro nº 559. 
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9909: Tabanca Grande (339): João Caramba, ex-1º cabo trms, Pel Rec, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, alentejano de Beja, nosso grã-tabanqueiro nº 558

Guiné 63/74 - P9927: Parabéns a você (422): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2529 (Guiné, 1969/71)

Para aceder aos postes do nosso camarada Mário Pinto clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9923: Parabéns a você (420): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

sábado, 19 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9926: Convívios (438): Almoço de confraternização do pessoal do BCAÇ 2879, dia 26 de Maio de 2012 em Monte Real (Carlos Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), com data de 18 de Maio de 2012:

Meu Caro Carlos Vinhal
Junto envio a convocatória/anúncio para o convívio do Bat Caç 2879.
Agradeço que publiques no Blogue para ver se aparece alguém, apesar de nos anos anteriores nunca ter aparecido qualquer camarada através do Blogue, mas vamos tentando.

Um abraço nosso para vocês
Carlos Silva


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9917: Convívios (255): Almoço/Convívio do Batalhão de Cavalaria 8323, dia 2 de Junho de 2012, em Coimbra (António Rodrigues)

Guiné 63/74 - P9925: Em busca de ... (188): Manuel Joaquim Gonçalves, de Montaria - Viana do Castelo, procura os seus camaradas da CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1973/74)

1. Mensagem de Victor Gonçalves, filho do nosso camarada Manuel Joaquim Gonçalves que integrou, com a Especialidade de Atirador, a CCAÇ 4152/73 que esteve em Gadamael e Cufar:

Boa tarde,
Em nome do meu pai (Manuel Joaquim Gonçalves), gostaria de encontrar os colegas que andaram com ele na Guiné.

Meu pai disse-me que era da companhia 4152, atirador. Dezembro de 1973 a Setembro de 1974.

Meu pai é de Montaria - Viana do Castelo. Nasceu em Janeiro de 1952.

Agradecia se tivesse alguma informação, fotos, endereços.

Envio em anexo uma foto da época.

Atentamente,
Victor Gonçalves
victormmgoncalves@gmail.com


2. Notas do editor:

Sobre a CCAÇ 4152/73, do qual fazem parte da nossa tertúlia os ex-Alf Mil Carlos Milheirão e José Gonçalves, podemos dizer:

- Foi mobilizada no RI 1 - Amadora
- Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel
- Embarcou para a Guiné em 29DEZ73
- Regressou em 12SET74

 - De 09JAN74 a 06FEV74 realizou o IAO no CIM de Bolama, de onde seguiu em 09FEV74 para Gadamael, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5.

- Em 02JUN74 assumiu a responsabilidade do subsector de Gadamael, substituindo a CCAV 8452/72.

- Em 12JUL foi transferida para Cufar, onde substituiu a CCAÇ 4740/72, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector.

- Em 07SET74, após a desactivação e entrega do aquartelamento de de Cufar ao PAIGC, recolheu a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Elementos recolhidos na Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), edição do Estado-Maior do Exército - 2002)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente

Guiné 63/74 - P9924: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (54): Mesmo com um atraso de 4 anos, farei chegar a vossa mensagem a meu pai, Joseph Turpin (Iracema Turpin)



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > 7 dde Março de 2008 > Último dia do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Mensagem do Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, para  o nosso camarada da FAP, hoje major piloto reformado, António Lobato, que esteve prisioneiro em Conacri, sete anos, de 1963 a 1970.

Vídeo (melhorado) (1' 36''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes.



Imagem à esquerda: capa do livro do António Lobato, Liberdade ou Evasão. Amadora. Erasmos, 1995


1. Mensagem da nossa leitora Iracema Turpin, da Guiné-Bissau:

De: Iracema Turpin
Data: 17 de Maio de 2012 15:02
Assunto: Joseph Turpin

Boa tarde:

Antes de mais agradeço a sua publicação que veio elucidar um pouco mais sobre o PAIGC de hoje comparado com o tempo de luta.


Apesar de já terem passado alguns anos desde a publicação do video referente aqui disponível:

27 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3246: Simpósio Internacional de Guileje: Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, saúda António Lobato, ex-prisioneiro (Luís Graça) (*)

 Farei chegar ao meu pai a sua mensagem.

Mais uma vez obrigado pelo gesto e vontade que demonstrou em que fosse do conhecimento dele que "a carta chegou a Garcia". (**)

Sem mais agradeço desde já a sua atenção.
Cumprimentos
Iracema Turpin
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Notas do editor:

(*) Trata-se de um pequeno vídeo (1' 36''), gravado por mim em Bissau, no Hotel Palace, no último dia do Simpósio Internacional de Guileje, em 7 de Março de 2008. 
As condições de luz eram más e a máquina era uma digital, de fotografia e não de vídeo.

Joseph Turpin, um dos históricos do PAIGC, pediu-me para mandar uma mensagem para o nosso camarada António Lobato, o antigo sargento piloto aviador portuguesa, cujo T 6 faz uma aterragem de emergência em 1963, na Ilha do Como.

Feito prisioneiro pelo PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à sua libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde.

"Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim..." - são as primeiras palavras deste representant do PAIGC, na altura a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta.

Turpin recorda a seguir os momentos em que, por diversas vezes, visitou o nosso camarada na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que revelaram o melhor da nossa humanidade...

"Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade"... Joseph Turpin agradece ao Lobato as palavras de apreço com ele se referiu à sua pessoa, ao evocar há tempos atrás, em entrevista à rádio, a sua experiência de cativeiro. Agradece o exemplar do livro que o Lobato lhe mandou e que ele leu, com interesse. Diz que ficou sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato. "Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau" - são as últimas palavras, deste homem afável, dirigidas ao teu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada...

O Joseph Turpin insistiu comigo para entregar pessoalmente ao António Lobato esta mensagem. Infelizmente só em setembro de 2008, seis meses depois é que tive oportunidade de divulgar o vídeo no nosso blogue esperando que ele acabasse por chegar ao conhecimento do seu destinatário.

Não tinha, ma altura, como continuo a não ter, nenhum contacto pessoal com o António Lobato, nem sei se ele nos lê, pelo que não posso garantir ao Joseph Turpin que "a carta chegou a Garcia".

Na altura, enviei, para o António Lobato, da minha parte, e da parte dos demais editores, bem como de toda a nossa Tabanca Grande, uma palavra de respeito, camaradagem, solidariedade e apreço. Quanto ao Joseph Turpin, também nunca mais tive notícias dele... Da conversa havida em Bissau, recordo-me de ele me ter dito o seguinte:

(i) O Élisée Turpin era seu tio e foi um dos fundadores do PAIGC;

(ii) O Amílcar Cabral, em Conacri, ficava originalmente em casa do pai do Joseph;

(iii) Os Turpin eram uma família de comerciantes;

(iv) Não falavam português, mas francês - o próprio Joseph aprenderia  o português mais tarde...

Na minha simples qualidade de mensageiro, espero que "a carta tenha chegado a Garcia", neste caso, ao conhecimento do Lobato. Por outro lado, é gratificante saber que a filha do Turpin localizou-nos, viu o vídeo e vai transmitir a notícia ao pai... Mesmo que se tenham passado quatro anos, o que é muito na nossa nova galáxia ...

Posso entretanto concluir: (i) que o Joseph Turpin está vivo (Mantenhas para ele, votos de boa saúde e longa vida!); (ii) que somos lidos/vistos na Guiné-Bissau e em toda a parte; e (iii) que o Mundo é Pequeno e a nossaTabanca... é Grande!... 

Obrigado, Iracema. E viva o povo irmão da Guiné-Bissau!


Guiné 63/74 - P9923: Parabéns a você (421): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso camarada Xico Allen clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9907: Parabéns a você (420): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9922: (In)citações (39): Integrar o Suleimane na Tabanca Grande foi de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os guineenes que serviram na guerra da Guiné (Cherno Baldé)

1. Comentário do nosso amigo tertuliano Cherno Baldé*, com data de 16 de Maio de 2012, deixado no Poste 9903**:

Caro Luís Graça,
A tua decisão de integrar o Suleimane na nossa Tabanca Grande terá, certamente, pouco efeito prático, mas reveste-se de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os ex-milícias e soldados africanos que serviram na guerra da Guiné que, como costumo referir, foram voluntários da sua própria desgraça.

A desgraça das pessoas como o soldado José Carlos Suleimane não é só o facto de ter ou não ter descontado para a aposentação porque, nas circunstancias em que tudo aconteceu, duvido eu que houvesse alguém que tivesse a plena consciência da sua importância, mesmo entre os metropolitanos. Mas no fim, estes homens que serviram de forma abnegada foram esquecidos, abandonados e o valor do seu esforço, a causa por que lutaram e viram seus irmãos morrer foi reduzido a nada. As suas vidas foram reduzidas a nada e entregues as mãos dos seus inimigos de ontem, a máquina criminosa dos comissários do PAIGC. O sinal escuro, bem visível na testa do Suleimane mostra o ardor com que ele se dirige(ia) ao todo poderoso, na solidão do seu (auto)isolamento, quando não lhe restava nenhuma outra forma segura de proteção.

 José Carlos Suleimane Baldé


Esta marca de profunda devoção e quiçá de desespero humano acompanha todos os antigos combatentes fulas que eu conheci.
A primeira vez que a vi, por volta de 1975/76 foi na cara de Mamadu Baldé, aliás Tenente Mama que fazia parte da 2.ª (?) Companhia de Comandos Africanos que, no entanto, acabou por conseguir chegar a Portugal e viver os seus últimos anos em paz e reunir parte da sua família. Nunca mais voltaria a Guiné.

Quero com isso dizer que o valor do reconhecimento é muito superior ao valor do dinheiro, porque quem arrisca a sua vida numa causa fá-lo com convencimento do seu valor intrínseco, seja ele politico, social, religioso etc. e não pelo valor monetário que lhe é pago para o fazer.
É importante que as pessoas, em especial aqueles que foram seus camaradas de armas, percebam isso.

Obrigado por este teu imenso gesto humano.

Um grande abraço,
Cherno Baldé
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9817: Tabanca Grande: oito anos a blogar (15): Mensagem do Cherno Baldé, num momento de dor mas também de esperança para o povo guineense

(**) Vd. poste de 15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9631: (In)citações (38): Para uma leitura não-etnocêntrica dos nossos usos e costumes: o caso do casamento tradicional entre os guineenses (Cherno Baldé)

Guiné 63/74 - P9921: Agenda cultural (203): "Confidencial / Desclassificado", uma exposição do artista Manuel Botelho, até 7 de Julho de 2012 no Espaço Fundação PLMJ, em Lisboa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Abril de 2012:

Queridos amigos,
Para quem vive na área de Lisboa ir a esta exposição é uma proposta irrecusável.
Botelho sabe manejar a comunicação para dosear o sofrimento ou os saltos da memória. Visitar estas fotografias prodigiosas é ficar de posse de uma dimensão fulcral do projeto que ele leva a cabo há cerca de 5 anos, ao que parece sem desfalecimento.
Temos aqui armas a que só falta falar, o militar e o seu duplo (será a sua consciência?), aquartelamentos transformados em pandemónio, há por ali muitas facas, sexo em segredo, militares incompreendidos do lado de cá, como aliás fomos.

Um abraço do
Mário


Confidencial / Desclassificado, por Manuel Botelho 

Beja Santos 

Esta exposição de Manuel Botelho está patente até 7 de Julho, de 4.ª feira a Sábado, das 15 às 19 horas, no espaço Fundação PLMJ, na Rua Rodrigues Sampaio, 29, em Lisboa. O curador da exposição, Miguel Amado, refere na introdução a que intitulou “Imagens de Guerra” que “A guerra constitui um dos principais assuntos da cultura visual moderna. Tanto no presente como no passado, a imagética bélica marca significativamente os modos de ver o mundo no plano cultural”. E refere o quadro de Goya, “O 3 de Maio de 1808 em Madrid”, as reportagens de Robert Capa, o Apocalypse Now, de Copolla, os diretos televisivos da Guerra do Golfo Pérsico da CNN. Anota que nas artes plásticas estas imagens acabam por emergir como uma das áreas de trabalho mais prementes, há uma atração e uma recusa no espetáculo do aparato militar, o artista tem outra lógica de tratamento, distancia-se do universo noticioso, a sua imaginação pode socorrer-se de um conflito particular que acabe por assegurar a sua problematização à guerra em geral.

E estamos chegados à guerra colonial, temática incómoda ou que deixou durante décadas o artista indiferente. Manuel Botelho está a investir muito num projeto singular que ele intitula “Confidencial/Desclassificado”, desde 2007, quase que abruptamente, o artista que aparecia dominado por uma linha expressionista, muito agarrado às figuras retocadas, dispostas quase numa sequência narrativa, lançou-se num projeto experimental sobre os conflitos da guerra, manejando o vídeo, a fotografia, a montagem e aguarela. Depois escolhe temas: as aguarelas têm legenda que ele vai buscar a aerogramas, temos quartéis, partidas de barcos, madrinhas de guerra, viaturas explodidas por minas; a sua série de fotografias tiradas a espingardas provoca agitação interior, o banal de uma arma dentro da fotografia ganha, graças ao recurso da iluminação, aspetos letais, proporções descomunais; autorretrata-se em fardamento de guerra, explora o grotesco na dicotomia civil/militar, numa aceção de que o civil permanece como uma intranquilidade no tempo militar; e esgota-se fisicamente na imagem, toda aquela exaustão de um certo militar ser fotografado num estado de abatimento e indiferença leva o espetador a afastar-se, tal o contágio da inquietação; o artista monta cenas de guerra com tabaco e cinza, garrafas empoeiradas, copos com bebidas, dinheiro espalhado, cartas de jogar, um garrafão, um gira-discos e ilumina de tal modo que a imagem se torna sufocante, incómoda. Um prato com sardinhas em tomate, em cima de um imaginário mapa é suficientemente nojento para ter que se admitir que aqueles alimentos, dignos de uma ração de combate, são expostos propositadamente com facas de mato para nos causar náusea; há códigos subtis como um Estado-Maior ser representado como um baralho de cartas montadas em castelo, também sob um mapa, apoiadas em copos e tendo por baixo pratos cheios de restos, seguramente que o código é que de tudo é periclitante nas decisões tomadas à porta fechada; há maços de cartas presos por atilhos como se clamassem por segredos a serem desvendados, gritos guardados, sofrimentos quase pessoais e intransmissíveis; e há o autêntico arrebol das montagens, fala-se do sexo interdito, imagem de derrisão; montagens barrocas, com copos, material de campanha, baldes, um militar à espreita debaixo de panos de tenda, como se estivesse a descobrir qual é a lógica da guerra; há a ilusão de um mundo caótico onde coabitam bombas de inseticida, troféus, chapa ondulada, catanas, serrotes, vestígios de material de construção civil; há os seus vídeos intermináveis, imagens do Natal do Soldado, tudo sem som como se competisse ao espetador impor uma forma de comunicação dentro de um cerimonial onde o espetador não cabe.

O que se acaba de referir é muito pouco para as linhas criativas de um artista que anda à procura de aerogramas, que reconstitui numa instalação as conversas do Nando, a militar no Bachile, com a sua namorada em Lisboa, gera o horror da incomunicação, ela expõe a sua vivência quotidiana, o soldado das transmissões descreve permanentemente que se encontra no deserto.

Questiono muitas vezes o que levou um artista consagrado, com carreira universitária, a entregar-se a um quase exorcismo que mete flagelações, olhares paranoicos, aproveitamentos de aerogramas, a tornar fotograficamente uma arma com elemento consagrado à morte, em estado expectante, criando simulações de ambientes em aquartelamentos de guerra, em possíveis fantasias eróticas, explorando novas dimensões do corpo como até então nunca praticara, misturando sonho com fantasmas, onde é permanente um diálogo silencioso entre ele e o seu duplo. Haveria um tempo, digo eu, em que as artes plásticas tivessem de pôr a nu a tal indiferença, a tal incomodidade que a guerra colonial causou em gente que só era sobressaltada quando o membro da família embarcava para aquelas regiões do Equador. Aos 60 anos, Botelho lançou-se impetuosamente na recriação de bastidores, na reificação de armas, no emudecimento do Natal do Soldado, numa certa paródia de códigos, numa viagem desassossegada a todos os meandros da guerra. Usando fantasmas, parece que os quer exorcizar. O que era confidencial, fingidamente atirado para trás das costas, ele desclassifica, brutaliza ou enternece.

Temos aqui Manuel Botelho para durar. Felizmente que alguém procura ir ao fundo dos diferentes poços fundos e das muitas linhas de água por onde se forjou a guerra colonial.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9920: Agenda Cultural (202): No Dia Internacional dos Museus, inauguração e animação do Museu da Guerra Colonial, V. N. Famalicão

Guiné 63/74 - P9920: Agenda Cultural (202): No Dia Internacional dos Museus, inauguração e animação do Museu da Guerra Colonial, V. N. Famalicão





Página do portal do Município de Vila Nova de Famalicão




1. Segundo informação que nos mandou o camarada Carlos Pinheiro, através de notícia da Agência Lusa, o concelho de Vila Nova de Famalicão vai inaugurar hoje - Dia Internacional dos Museus -  os museus do Automóvel e da Guerra Colonial.


(...) "O Museu do Automóvel, resultado da parceria entre a Câmara de Famalicão, o Clube do Automóvel Antigo e Clássico daquele concelho e o Lago Discount, contará com cerca de meia centena de veículos, entre clássicos e modernos.  Alguns modelos, como o Fiat 500 e o Carocha, serão apresentados nas suas versões mais antiga e mais recente, com o objetivo de mostrar a evolução do design na indústria automóvel". (...)

Quanto ao  Museu da Guerra Colonial, "com uma área de 1.500 metros quadrados, contará com um auditório e três módulos principais.  Numa primeira fase, apenas abrirão ao público 500 metros quadrados com uma exposição de painéis que relatam a história da Guerra do Ultramar, abordando a cronologia, as operações militares, os horrores e ferimentos de guerra e a correspondência, entre outros temas (...). Numa fase inicial, o centro museológico abrirá mediante marcação prévia para receber visitas de grupo de escolas e outras associações. Posteriormente, abrirá em dias específicos, sempre com entrada livre.(VCP / Lusa)...



2. No portal da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, pode ler-se o seguinte:

"A história do Museu da Guerra Colonial começou a desenhar-se durante o ano lectivo de 1989/90, quando trinta alunos oriundos de várias freguesias dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Braga participaram num projecto pedagógico-didático conjunto a que chamaram 'Guerra Colonial, uma história por contar'.


"Através da metodologia da história contada oralmente, os alunos recolheram o espólio dos combatentes das suas áreas de residência. Surgiram então vários documentos como processos de morte e de ferido, correspondência, diários de companhia, diários pessoais, diários de acção social e psicológica, relatos e processos confidenciais, objectos de arte, fotografias, bibliografias, objectos religiosos, fardamento e armamento, enfim um manancial de fontes que permitiu, entre outras coisas, organizar uma exposição e nela reconstruir o "itinerário" do combatente português na guerra colonial.



"Em 1992, iniciou-se um trabalho de colaboração com a Delegação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Vila Nova de Famalicão, em que foram efectuados novos estudos regionais com base nos arquivos e membros desta instituição, bem como foi ampliada a exposição com a integração de novos estudos e materiais. Como resultado desta colaboração, a exposição percorreu vários eventos culturais e várias localidades.


"Finalmente, em Maio de 1998, foi celebrado um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Delegação da ADFA de Famalicão e Externato D. Henrique de Ruilhe de Braga, que serviu de acto solene e formal para a criação do Museu da Guerra Colonial.


"O Museu rege-se pela recolha, preservação e divulgação de fontes e estudos, reformulação técnica da exposição permanente, constituição de um centro documental e o alargamento de novos estudos na região".


Fonte: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão > Museu da Guerra Colonial


Contactos > Centro Coordenador de Transportes, Sala 1
Rua Henriques Nogueira
4760-038 Vila Nova de Famalicão

Espaço Museológico > Parque Lago Discount
Rua do Xisto
4760-727 Ribeirão

Telefone: 252 322 848 / 252 376 323 | Fax: 252376324
E-mail: info@adfa-famalicao.rcts.pt

Horário > Segunda a Sexta-feira: 09h30 - 12h00 e 14h00 - 19h00
Sábados: com marcação prévia.

Ingresso > Entrada Livre

Entidade Gestora >  Associação do Museu da Guerra Colonial



3. Programa do Dia Internacional dos Museus > Museu da Guerra Colonial, V.N. Famalicão


Museu da Guerra Colonial

Dia 18 Maio:

Início da Campanha - “Memória Viva de um Passado Recente”- Recolha de espólio relativo à Guerra Colonial para exposição no museu
Destinatários: Público em geral
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita

Dia 20 Maio:
38º Aniversário Delegação da ADFA de Vila Nova de Famalicão
- Encontro Nacional de Ex-Combatentes e Deficientes das Forças Armadas

Abertura do Museu ao público 
Destinatários: Público em geral
Hora: 10h30
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita

Visita ao Museu e homenagem aos ex- combatentes falecidos
Destinatários: Público em geral
Hora: 11h00
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita
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Debate sobre o tema “O papel do Museu da Guerra Colonial e as suas perspetivas de futuro.”
Destinatários: Público em geral
Hora: 11h30
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9916: Agenda cultural (201): Conversas com Veteranos da Guerra Colonial. Sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" (Museu Militar do Porto)

Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)





Guiné > Região de Tombali >  Picada de Gadamael / Guileje >  1969 > Foto do álbum fotográfico de João Martins, Guiné 1967/69, disponível na sua página do Facebook >  Foto nº 188/199 >  "Na picada a caminho de Guileje onde os contactos eram frequentes e muito pesados"...


 [Depois de ter estado em Piche, desde setembro de 1968 (com férias em agosto, na Metrópole, na sua amada praia de São Martinho do Porto), e de ter regressado a Bissau, para dar instrução, no BAC 1, o nosso camarada João Martins é colocado no sul, na região de Tombali, passando sucessivamente por Bedanda, Gadamael e Guileje, antes de ir de novo de férias a Portugal, em agosto de 1969... Esta foto, uma coluna de Gadamael até Guileje, deve ter sido tirada nos primeiros meses de 1960, na época seca... Parte das legendas foram recuperadas da página do Facebook.]



Guiné > Região do Oio >  Farim > 1969 (?) > Foto º 79/199 > "Uma Dornier e um T6 na pista de Farim" [, Quando o João Martins regressou, de Piche a Bissau, de Dakota, em finais de 1968 ou princípios de 1969]



Guiné > Região de Tombali >  Catió > 1969 (?) >  Foto do álbum do João Martins > Foto º 119/199 >"Quartel de Catió" [, De passagem para Bedanda, na época seca, princípios de 1969] 



Guiné > Região de Tombali >  Catió (?) > 1969 (?) > Foto nº 16/199> [O autor diz que esta foto é de Catió, quando por lá passou a caminho de Bedanda... A mim, parece ser o campo de futebol de Mansoa, por onde o João Martins andou quando voltou de Piche, para dar instrução do GA 7, em Bissau]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa> 1969 (?) > Foto º 54/199 > "Habitações tradicionais"...



Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 48/199 > [Vivenda colonial]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 52/199 > [Rua com candeeiros de iluminação pública]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 53/199 > [Rua, com vivenda e mulheres a caminho da pesca (?)...]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 49/199 > [Rua,  edifício público (?) e agente da polícia administrativa]




Guiné > Região do Oio >  Mansoa> 1969 (?) > Foto º 47/199 >  " Monumento Nacional e escola primária atrás" [de 1951?].



Guiné > Bissau ou Mansoa > 1969 (?) > Foto nº 18/199 > "Mercado"


Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.; no que diz respeito às legendas, o editor  correu deliberadamente o risco de ter cometido algum erro grosseiro, pelo que todas as ajudas serão bem vindas para posteriores correções]



ÍNDICE

1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha Nº. 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8.  Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto
11. Guilege
12. Bigene e Ingoré
13. Em anexo, artigos do jornal Defesa da Beira de Esmeralda Antas e de Pinheiro Salvado




Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte V (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69)

(Continuação)




8. Bissau, BAC 1


[Depois uma temporada em Piche, para onde fui em setembro de 1968, recebi ] uma guia de marcha para me apresentar em Bissau. Lembro-me de ter regressado [, por Farim,]  num Dakota, que parecia ser da última grande guerra tal era a vibração da fuselagem e o barulho que fazia o motor.

Chegado a Bissau, nova tarefa me esperava, dar instrução de manuseamento de obuses a duas secções de instruendos. Depois de umas explicações sobre as partes constituintes, expus o seu funcionamento, e entrámos na parte prática com base no manual de instruções.

Não me foi difícil perceber que o que estava no manual não era o mais eficaz, pelo que alterei a manobra de alguns dos instruendos de modo que passaram a executá-las com mais rapidez como se veio a verificar nas marchas finais, em Mansoa, onde fizemos tiro e pude tirar algumas fotografias.

Dei-me muito bem com estes instruendos, de tal modo que, se ao princípio os obrigava a fazer muitas flexões porque não estavam habituados a estar com atenção ao que se lhes dizia porque não tinham treinado a concentração; para o fim, isso já não acontecia. Estavam de tal modo à vontade comigo que me perguntaram se podiam falar abertamente sem risco de quaisquer represálias, é claro que lhes disse que sim, e expliquei-lhes o meu ponto de vista sobre as causas desta guerra de terrorismo que os nossos “inimigos”, dentro e fora do país, chamavam de “libertação”.

Alguns não sabiam de que lado se haviam de colocar, não tanto por razões do passado, até porque viam nos portugueses da Metrópole pessoas amigas, que lhes queriam bem, mas porque, no futuro, se os portugueses se retirassem, ficariam à mercê do inimigo que provavelmente não lhes “perdoaria”.


Guiné > Zona leste > Piche (?) > s/d > Foto nº 120/199 > [Criancinha, mulata, com a mãe...] "Suponho que era filho de um capitão que por lá passou"…


Expliquei-lhes que o que eles sofriam era idêntico ao que os portugueses da Metrópole também sentiam, um fraco desenvolvimento económico em consequência de uma apropriação de rendimentos do trabalho exagerada por parte do Estado em termos de impostos, e também, regra geral, por parte das empresas que prosseguiam políticas de baixos salários, e ainda pelo facto dos custos energéticos e financeiros serem demasiado elevados. Em consequência, criavam-se poucos postos de trabalho.  

Expliquei-lhes que era frequente as empresas enfrentarem tribunais pouco céleres pelo que, em caso de conflito com clientes com dívidas de cobrança duvidosa, podiam correr o risco de ir à falência; também os intermediários apostados em importar bens sucedâneos e em praticar margens de comercialização elevadas contribuíam para a asfixia económica e financeira dos seus fornecedores nacionais, o que os impedia de aumentar os vencimentos, e, desse modo, contribuir para um poder de compra mais elevado, o que, se tal acontecesse, permitiria um desenvolvimento económico em que todos ganhariam.


 Guiné > Zona leste > Piche > 1968 >  Foto nº 107/199 > [ Gazela, a prisioneira....]  


Dei então o exemplo dos USA, em que a realidade era a inversa, e tendo como consequência um significativo desenvolvimento económico. Expliquei-lhes que Henry Ford II dizia que era um industrial do ramo automóvel que tinha consciência de que, para poder produzir e comercializar os seus automóveis, tinha que ter clientes com poder de compra suficiente para os adquirir, pelo que, em consequência, era importante aumentar os ordenados da generalidade dos trabalhadores; pelo contrário, em Portugal, como nos países do Leste Europeu, a filosofia era a oposta, daí a elevada emigração para países que praticavam políticas salariais mais favoráveis e em que era evidente a preocupação do aumento do poder de compra das populações.

Relativamente à Guiné, disseram-me que, uma das razões que a propaganda do IN apontava.  para justificar a retirada dos portugueses da Metrópole, era que se tal acontecesse as suas casas ficariam para eles.

Expliquei-lhes que não haveria casas para todos, mas só para os “políticos” afetos ao PAIGC, e que, mesmo que ficassem com alguma,  não teriam comida para alimentar mulheres e filhos pelo que teriam que arranjar trabalho, e para isso os portugueses da Metrópole tinham mais conhecimentos e capacidade para criarem empresas que lhes proporcionassem empregos. Caso contrário, teriam que cultivar os campos e voltar à agricultura tradicional ou dedicarem-se à pesca, tarefas a que já não estavam propriamente habituados.

No último dia da instrução, perguntaram-me se não lhes dava mais castigos, que eram por norma dez flexões por distração ou por mau comportamento, respondi-lhes que os castigos que lhes dava eram uma consequência do comportamento deles e que, por isso, eram eles que dariam a resposta, perguntaram-me mais uma vez se podiam falar abertamente, disse-lhes que sempre o tinham podido fazer, perguntaram-me se podiam emitir uma qualquer opinião ou um qualquer pedido, disse-lhes que sim e que o atenderia se me fosse possível.


Para espanto meu o pedido consistia em que eu fizesse dez flexões. Não estava à espera de tal pedido, pensei duas vezes, e rapidamente tomei a decisão de as fazer, recordando “a cena do lava-pés de Jesus Cristo afirmando que tinha vindo à terra para servir e não para ser servido”.  

 Esta minha ação comoveu uns tantos que resolveram também fazer dez flexões. No final da instrução, vieram-me abraçar com o sentimento de amizade que, de facto, nos unia, nos bons e nos maus momentos.

Terminada esta instrução fui colocado em Bedanda onde já se encontrava um pelotão com três obuses 14 cm. Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma Dornier (DO) que,  passando por Catió,  onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda.


Bedanda foi, sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades. Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, uma milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente era imponente.