segunda-feira, 25 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10069: Cartas do meu avô (10): Oitava carta: finalmente, jurista da CGD (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

[Imagem  à esquerda: cartaz  comemorativos dos 40 anos do MRPP -  Movimento Reorganizativo do Proletariado Portugues, cortesia do blogue Restos de Colecção, de José leite



Segundo  este blogue, o MRRP  [que em 26 de dezembro de 1976 deu origem ao PCTP / MRPP]  "publica 'Bandeira Vermelha' em 1970, como órgão teórico,  e 'Luta Popular' em 1971, como órgão de massas e órgão central ". 


(...) "O MRPP foi um partido muito activo antes do 25 de Abril de 1974, especialmente entre estudantes e jovens operários de Lisboa e sofreu a repressão das forças policiais, reivindicando como mártir Ribeiro Santos, um estudante assassinado pela polícia política durante uma manifestação ilegal em 12 de Outubro de 1972. Arnaldo Matos era o seu Secretário Geral" (...).


O MRPP, influente nessa época na academia portuguesa, e em particular na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (segundo o testemunho do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, trabalhador-estudante até 1974/75), terá sido também a primeira das organizações políticas a liderar, a seguir ao 25 de abril de 1974, uma primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para o Ultramar, mais exatamente em 4 de Maio de 1974: 


 "O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios". [ Centro de Docu,entação 25 de Abril da Universidade de Coimbra]



A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à direita, com os netos]. 


As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. Oitava quadra > O Quadro Técnico


Finalmente, a feroz irreveverência e espírito de luta maquiavélica e arrasadora dos MRPP conseguiu apoderar-se da universidade. 



Arquitectaram um curso impregnado das doutrinas de Mao e abriram de novo as portas, com professores oriundos dos mais variados sítios. Bastava-lhes jurar fidelidade aos ideais que reinavam e eram aceites como professores.

A competência não contava. O que importava era que tinham conseguido a aprovação do poder político reinante. Os cursos eram válidos. E as licenciaturas também.

Era preciso acabar o curso, de qualquer maneira. O resto da preparação que faltava, ficaria para depois. Com a experiência prática.


Naquele ano e meio de convulsão escolar, houve alunos que fizeram dezenas de cadeiras em catadupa. Com passagens administrativas à farta. Na faculdade de direito, nas clássicas e, pasme-se, em medicina.


Esse tsunami de licenciados à pressão entrou portas dentro das empresas e serviços públicos. 


Em 1974, na CGD [, Caixa Geral de Depósitos ] , havia meia dúzia de trabalhadores a frequentar cursos superiores e, alguns, o de direito.

Em 1976, irrompeu, nos quadros da Caixa, um movimento interno de trabalhadores recém-licenciados, chefiados pelos MRPP. Reivindicaram ao seu modo, junto da administração, o seu imediato ingresso no quadro técnico.



A pusilanimidade da administração, por receio do saneamento imediato, abriu - lhes as portas. De repente, a lista dos licenciados atingiu os trinta e tal.

O administrador encarregou-os de elaborarem o seu próprio escrutínio, para preenchimento da dúzia e meia de vagas abertas de propósito. Por causa da decidida descentralização de crédito à habitação, agricultura e pescas. Por todo o país.

A administração queria colocar um núcleo jurídico em cada filial de distrito. 



De novo, se desencadeou uma luta selvagem entre os candidatos. Havia-os com dois ou três anos de Caixa, acabadinhos de concluir o curso. Eu era o mais antigo, em todos os sentidos: Tinha já uns onze anos de serviço na Caixa. Tinha mais cadeiras obtidas dentro da normalidade escolar, antes das convulsões.


Apareceram e defenderam-se as mais desavergonhadas e aberrantes propostas oportunistas. Desde a abolição do critério de antiguidade na obtenção do curso, à da classificação final.

No final, felizmente, consegui ingressar no quadro técnico. Este feito representava uma melhoria enorme na minha condição. Só por isso, estava reparado e bem, todo o sofrimento e esforço para obter a licenciatura.



_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 e junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10052: Cartas do meu avô (9): Sétima carta: A universidade, o 25 de abril... (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)


domingo, 24 de junho de 2012

Guiné 63/74 – P10068: Convívios (456): 6º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Guimarães, 23 de Junho de 2012 (Benjamim Durães)



1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, enviou-nos notícias da festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas: 

6º ENCONTRO-CONVÍVIO 
GUIMARÃES
23 de Junho de 2012 



Camaradas, 


Realizou-se no passado dia 23 de Junho, na Penha em Guimarães, o 6º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917, cuja organização esteve a cargo do Manuel Ribeiro (Pechincha) do Mário Teixeira (Sacristão) e do Durães, que reuniu 60 combatentes da Guiné (3 da CArt 2714, 3 da CArt 2715, 1 da CArt 2716, 1 do Pel Caç Nat 63, 1 do Pel Mort 2268, 2 da CCaç 12, 1 da Cart 3493 que foi mais tarde transferido para a CCaç 12, 1 da CCS do BCaç 4612/74, 1 da CCav 8350/72, 1 da CCaç 4540 e 45 da CCS/BArt 2917), num total de 114 convivas. Neste convívio tivemos a presença de 14 novos combatentes.

No fim do almoço, fomos visitados pelos nossos Camaradas Casimiro Carvalho, Eduardo Campos e Magalhães Ribeiro, que se aliaram aos demais convivas, onde se incluíam alguns dos tertulianos: Jorge Cabral, Luís Moreira, José Almeida e António Duarte. 

ATENÇÃO: O 7º Encontro-Convívio ficou marcado para Maio de 2013 em Viseu


Os Combatentes das diversas Unidades presentes

Os Combatentes, seus familiares e Amigos 

Aspecto do salão com os convivas 

 Eu com a esposa e 2 netos (Flávio e Rafael)


Luís Moreira, Benjamim Durães, Eduardo Campos e Virgílio (Amigo que o Eduardo Campos não via há 20 anos)


 Magalhães Ribeiro, Luís Moreira, Jorge Cabral, Benjamim Durães, António Duarte, Casimiro Carvalho, Virgílio e Eduardo Campos
 Dr. Vilar (médico do BART 2917), Torres, Carvalho e Campos

Jorge Cabral, Casimiro Carvalho, Magalhães Ribeiro e Benjamim Durães 

Um abraço,
Benjamim Durães 
Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P10067: Convívios (455): Confraternização do BCAV 2922, decorreu no dia 16 de Junho de 2012, em Estremoz (Francisco Palma)


1. O nosso camarada Francisco Palma, que foi Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, sobre a festa da sua Unidade:

BCAV 2922 CONFRATENIZOU EM ESTREMOZ


Amigos e Camaradas,

O Bat. Cav. 2922 confraternizou e celebrou, em 16 de Junho 2012, os 40 anos do seu regresso da Guiné, contando com a presença de cerca de 200 Combatentes e seus familiares. 


Alem da colocação de uma lápida com a alusão ao evento, honraram-se também os nossos camaradas caídos em campanha, com a colocação de uma coroa de flores e honras militares. 

Registamos a amável colaboração e presença do Sr. Comandante do Regimento de Cavalaria 3, bem como de várias altas patentes militares e do Sr. Capelão da nossa Unidade, em Estremoz, donde havíamos partido em Julho de 1970. 

Foi um dia muito curto para tanta alegria, abraços e convívio de camaradagem.

Bem hajam a todos e obrigado por mais um dia em que relembramos velhas memórias das nossas vidas. 








Um abraço,
Francisco Palma
Sold Cond Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



23 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10064: Convívios (454): Encontro do pessoal da CART 2412 levado a efeito no dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira) 

Guiné 63/74 - P10066: Parabéns a você (440): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)

Para aceder aos postes do nosso camarada Vasco Joaquim clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10059: Parabéns a você (436): António José Pereira da Costa, Coronel de Artilharia Reformado (Guiné, 1968/69 e 1972/74)

sábado, 23 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10065: Em busca de... (193): Pormenores do acidente de aviação que vitimou o Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva em Angola no dia 10 de Novembro de 1961 (Liliana Ramos)

1. Mensagem da nossa leitora Liliana Davis Ramos, neta do nosso camarada Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva que faleceu num acidente no Chitado, TO de Angola ocorrido em 10 de Novembro de 1961:

Boa noite,
Hoje encontrei no vosso site http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/12/guine-6374-p9158-as-nossas-queridas.html um artigo àcerca do acidente de aviação do Chitado em 1961, sou neta do 1.º Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva, que infelizmente se encontrava a bordo do avião, será que era possível obter mais informações deste acidente?

Nunca consegui obter muitas informações, será possível obter mais conhecimento junto das enfermeiras Maria Arminda e Aniceto Carvalho que se deslocaram ao local?

Aguardo uma resposta. É muito importante para mim e para a minha mãe, pois infelizmente não conheceu o pai...

Atentamente,
Liliana Davis Ramos
liliana.ramos7@gmail.com
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10041: Em busca de... (192): O ex-1.º Cabo Escriturário Mário Serra de Oliveira procura o seu Tenente Mário da Silva Ascensão, 1967/1968

Guiné 63/74 - P10064: Convívios (454): Encontro do pessoal da CART 2412 levado a efeito no dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 19 de Junho de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Camarada e amigo Carlos
Como sempre apelo à tua boa vontade e disponibilidade para fazeres o favor de publicar, se for possível, o nosso encontro/convívio que aconteceu em Vizela em 19-05-2012.

Um abraço, obrigado e desculpa a trabalheira.
cumprim/jteix



Foi na linda cidade de Vizela, no dia 19-05-2012, que aconteceu conforme estava previsto, o 15º encontro/convívio da CART 2412 "SEMPRE DIFERENTES" organizado e bem, pelo nosso camarada António Ferreira Machado (Machadinho), 42 anos depois do nosso regresso da Guiné à metrópole, que como sabem aconteceu no dia 14 de Maio de 1970. Ainda se lembram?...

A concentração do pessoal começou bem cedo. Bem cedo?... bem, seriam 11:00 horas seus malandros! Mas bem mandados, começaram a aparecer no "ponto de reunião".

Depois, conforme constava na "ordem de serviço", começaram a "perfilar" na Câmara Municipal.
Era a recepção que o Sr Presidente fez questão em nos receber.



Já na câmara o presidente, Sr. Dinis Costa no uso da palavra a dirigir-nos as boas-vindas e dissecando sobre o concelho mais jovem de Portugal, Vizela, e o seu magnifico património cultural e religioso.

Depois da recepção, que muito agradecemos, as fotografias da praxe para a posteridade.


Seguiu-se uma missa na capela de S. Bento das Peras em honra dos camaradas já falecidos.

O Sr. Padre fez uma homilia alusiva à circunstância dos encontros dos ex-combatentes e no fim fez questão de nos cumprimentar. Agradecemos a amabilidade.


É aqui que começava a verdadeira "guerra" ou não estivéssemos nós já habituados a montar verdadeiras emboscadas. É evidente que o IN aqui não era o "bigodes, ou te calas ou te..." e ele não se calou e leu em poesia os "planos da pólvora" até ao fim, grande seca... ...tábem prontos, não foi.

Seguem-se as fotos do "ataque" propriamente dito, sem comentários. Estavam todos concentrados a contar munições e a relatar os factos vividos à muitos anos atrás quando o "rancho" era outro.
Olhem para eles, nem se ouvem tal a concentração...


...ide pró mato malandros!
O pessoal já começava a dispersar para desgastar...

Finalmente o bolo e seus carrascos, que diga-se de passagem estava muntabooomm!

Mas há aqui um "piqueno quiproquó" que convém esclarecer e que já vem dos anos anteriores. Façam o favor de rectificar que não é o 42º convívio, porque só fizemos 15, mas sim o 42º aniversário do nosso regresso da Guiné.

E para acabar, fim de festa: tchim, tchim... Na foto os manfios esq/dta: Godinho, Teixeira, Ventura, Machado (o trabalhador desta coisa), Barbeitos (meio escondido) e finalmente o Feliciano (e a sua mãozinha extra, para o que der e vier!). Até pró ano camaradas, um abraço para todos.
cumprim/jteix

(Fotos e legendas retiradas do Blogue da CART 2412)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10033: Convívios (453): 2.º Encontro Nacional dos "Onças Negras de Bedanda" - CCAÇ 6, ocorrido no dia 9 de Junho na Mealhada (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P10063: Tabanca Grande (345): O nosso camarada Miguel Pessoa deu uma queda, fracturou o úmero, estando internado em Santa Maria para colocação de uma prótese

Através da Tabanca do Centro, tomámos conhecimento ontem que o nosso camarada Miguel Pessoa sofreu uma queda e partiu um braço.

A coisa podia ser mais fácil de resolver não fora a fractura se localizar no úmero, junto ao ombro. Como homem jovem e activo que é, o nosso camarada Miguel, para ficar como novo, vai ter que levar uma prótese, como quem diz, uma dobradiça nova no braço.
Camarada C. Martins, se estiveres por aí, explica à gente como se fazem estas coisas.

Falei há minutos via telemóvel com o Miguel, que está internado no Hospital de Santa Maria (Lisboa), que me autorizou a dar esta notícia, que não sendo nada agradável, não é de todo infausta como foi afirmado no Blogue da Tabanca do Centro.
Quando li o título apanhei cá um susto de morte.

Lá para o meio da semana o nosso camarada será então sujeito a uma intervenção cirúrgica para poder voltar à normalidade. Ficará como novo, todos desejamos e cremos.

Pela minha parte vou tentando estar a par da evolução das melhoras do nosso camarada sinistrado, servindo-me para o efeito dos diversos meios de comunicação, reportando-as aqui para conhecimento da tertúlia.

Caro Miguel, a Tabanca Grande está contigo e a torcer para que voltes à normalidade o mais rápido possível, sempre cumprindo as normas clínicas vigentes.

Recebe um abraço colectivo de amizade e solidariedade.
Carlos Vinhal

Hoje, como ontem, o nosso camarada Miguel Pessoa pode contar com o seu "Anjo da Guarda" privativo, a sua esposa Giselda.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10039: Tabanca Grande (344): José Alberto Leal Pinto, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74 (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné 63/74 - P10062: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (57): Tenho na minha colecção peças de fardamento, de 1961, de António Sousa Teles, Major de Infantaria (Miguel Andrade)

1. Mensagem datada de 19 de Junho de 2012 do nosso jovem leitor Miguel Andrade a propósito do nosso Poste 9483*:

Muito boa noite
Desculpe incomodá-lo com este meu email mas não consigo não dizer nada após ter lido com atenção o seu blog e a troca de mensagens entre os participantes.

Eu tenho apenas 30 anos, quando o senhor e seus Camaradas já defendiam e honravam Portugal, eu ainda nem projecto era de meus pais, portanto informação importante para a questão que é debatida no blog confesso que não tenho.

Eu sou coleccionador de militaria, portuguesa e estrangeira e sempre que consigo comprar alguma coisa tento sempre obter mais alguma informação sobre ela... É exactamente este meu hábito que me fez chegar a vós... Recentemente adquiri um uniforme de Coronel de Infantaria do Exército Português, tanto na etiqueta do casaco como na etiqueta das calças estava escrito o nome do seu antigo proprietário e uma data:

"Major António Sousa Teles, 12/08/1961"

Uma das questões debatidas era realmente a arma dos oficiais em questão, neste caso o uniforme tem a arma de Infantaria. Não sei se será o mesmo oficial ou não, decerto que Sousa Teles não será exclusivo dos dois irmãos de que falavam, mas seria uma grande coincidência não corresponder ao que é debatido e as datas parecem-me bater certo.

Vou enviar algumas fotos do uniforme.

Outra coincidência engraçada é ver que uma pessoa que sempre estimei, o sr. engenheiro Hélder Sousa, pessoa com quem trabalhei na empresa Tecnep há uns largos anos atrás,  é colaborador neste blog. Um abraço para ele pois deixei de ter qualquer tipo de contacto com ele.

Resta-me enviar-lhe,  a si e a todos os seus camaradas ex-combatentes da Guerra do Ultramar,  a minha profunda gratidão e o meu obrigado sincero por todos os sacrifícios. Apesar de não os conhecer enchem-me de orgulho.

Com os melhores cumprimentos
Miguel Andrade






____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9483: As Nossas Tropas - Quem foi quem (8): António Sousa Teles (1922-2006), ten cor art, comandante do BCAÇ 4514/72 (Cadique, 1973/74)

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10049: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (56): Desde a ilha de Luanda, evocando o bom irã de Bedanda e enviando um abraço para todos os bedandenses que estiveram no 2º encontro das Onças Negras, e em especial o Tony, o Pinto Carvalho e o Belmiro Pereira (Luís Graça)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10061: Notas de leitura (371): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Foi um privilégio conhecer o soldado Calvário. Telefonei-lhe para a sua terra, Caçador, em Viseu, ficou feliz por saber que o seu livro fora desencantado de uma estante. Juntou a contracapa do seu diário original, onde ele registou o que se encontrava gravado num pequeno monumento situado dentro da Amura. Reproduz também uma página do seu documento.
O Leonel Barreiros tem vários livros publicados . Andou emigrado na Alemanha, foi continuo em duas escolas secundárias, andou sempre envolvido em ranchos folclóricos.
É uma alegria acolhermos mais um genuíno diário da Guiné.

Um abraço do
Mário


Diário do soldado Calvário, da Companhia de Polícia Militar 590, Guiné 1963/1965 (3)

Beja Santos

Devemos ao diário do soldado Calvário um relato minucioso das atividades da Polícia Militar em Bissau e arredores, entre finais de 1963 e 1965. É um rol infindável de escoltas, rondas, segurança no Hospital Militar, ordenança ao comandante militar e misteres afins. Calvário é pândego, namoradeiro tipo Don Juan, gostou de Canjala, teve derriço por Arcanja Patrícia, gosta agora de Mariana e vai ficar pelo beicinho por Liége. E regista a captura de guerrilheiros, o aparecimento de armas, os bailes, as informações que lhe chegam de vários pontos do teatro de operações, quando encontra patrícios ou malta conhecida. Dá-nos igualmente um quadro vivacíssimo da caserna, das idas ao Pilão e desmandos de vária ordem durante as rondas e até fascinas ao refeitório. Tem imensa correspondência com madrinhas de guerra, o dinheiro é pouco para aquelas praças a viver as delícias citadinas, ele e os camaradas vão vender regularmente sangue, sempre são mais umas centenas de escudos para a estroina.

O alferes Mário Tomé foi promovido, a malta da PM gosta imenso dele. A religiosidade é uma das marcas de água de Calvário, como ele escreve em 12 de Outubro de 1964: “Não faltei ao ato religioso que se celebrou na catedral”. Apesar de só o fazer de vez em quando, vive impressionado pelo Nazareno. Com frequência, somos inteirados da chegada de feridos ao Hospital Militar. As queixas sobre a alimentação levam-nos a percorrer a generalidade das tasquinhas de Bissau, ele, o Rei do Sono, o Cabo Banharia, o Entretela, o Arrentela, o Narciso, mas há muitos mais. Há aviões alvejados, dá para perceber que o armamento do PAIGC se aperfeiçoa mês após mês.

Há descrições tocantes: “Um militar dos comandos de Angola veio visitar um irmão que acabara de chegar da metrópole. Quando estava prestes a partir para Luanda adoeceu gravemente. A doença não perdoou e morreu aos olhos do irmão”. E também: “Um militar do B490, que sofria de úlcera, foi internado de urgência. Pouco lhe valeram as pressas. Acabou por sucumbir antes de ser operado. De olhos abertos, sem vida, ali ficou para sempre, naquela parcela do mundo vivo”. E assim se passou um ano de comissão. A PM tem artes e manhas para fugir à rotina. Logo no dia de S. Martinho vão até à caça e nesse dia assistem a um espetáculo de folclore no cinema UDIB. Vai aparecendo gente que esteve na operação Tridente, deixou sequelas, anda muita gente em consulta no hospital militar. Um camarada fala de coisas insólitas que se passaram na ilha do Como: “A um, uma bala partiu-lhe dois dentes; a outro, furou-lhe a orelha. Um outro levou com uma bala no pescoço e saiu por o outro lado sem cuidados de maior; a um fuzileiro levou-lhe a cabeça do dedo quando carregava no gatilho. A um colega meu a bala bateu-lhe no salto da bota e arrancou-lho. Era tudo assim…”.

Recusa mostrar o diário seja a quem for. E verseja, pois claro, já leva um romanceiro longo, assim: “A tua boca é um cravo/ Os dentes são as folhinhas/ As tuas falas me agradam/ Além de serem pouquinhas./ Sem ti são tristes os dias/ É penoso o meu viver/ Salta daí vem comigo/ Atenua o meu sofrer”. Se há muitos feridos que chegam ao hospital, também impressiona o seu registo em inúmeros desastres, envolvendo militares e civis. Deixa lavrado que consta que James Pinto Bull é dado como presidente da Guiné caso Portugal venha a dar independência à região. No final de Novembro é acionada uma mina que fez explodir uma viatura que transportava bidons de gasolina, ficaram carbonizados 10 homens. Calvário e os camaradas já não aguentam mais o arroz e o peixe do rancho, até já se insinua um levantamento de rancho. De vez em quando aparece pela Amura gente da sua região: “Chegaram do mato os vizinhos de Fragosela. Para os recompensar das novidades que me mandava quando me escreviam, ofereci-lhes um jantar na taberna do ligeiro, com o dinheiro do sangue. Quim Bispo, Tó Vicente, Zé Pêssego, Tó Medo e furriel Lourenço, dificilmente nos voltaríamos a juntar todos naquela mesa. Na opinião de todos nós, era de facto triste ver cair um companheiro; vê-lo cheirar a flor da vida no chão da terra”.

É impressionante como Calvário é imparável nos amores, nas diversões, na galhofa, em apontar tudo quanto ouve, os guerrilheiros que se entregam, os acidentes aparatosos, a audição da rádio Argel, a alegria nas patuscadas, as peripécias nas rondas, botes que se voltam e militares que se afundaram nos rios, temo-lo de faxina à cozinha, de serviço à porta de armas, de plantão, a gozar desabridamente nas suas folgas, o serviço no hospital militar é sempre acompanhado de relatos de dor. Chegam navios repletos de tropas, ele próprio anda aturdido com a extensão daquela guerra, tanto avião cheio de bombas. A comissão avança e também os processos disciplinares crescem: as orgias do Cabo do Rancho, os que irão presos porque prometeram casar com as meninas, é um nunca mais acabar de tragicomédia. Há cada vez mais álcool e farras com o passar dos meses. Cresce a pancadaria na caserna.

É uma arte tratar matéria comezinha com tanto enredo e cores vivas, a sinceridade de Calvário impõe-se nesta escrita do quotidiano, é um processo infatigável de se encontrar, era nesta escrita que ele aportava como numa enseada de serenidade, vagabundeia, olha as estrelas, o Geba, vibra com todos os seus engates o que lhe permite escrever coisas como: “Achávamos tudo tão inocente naquelas horas que chegávamos a procurar a nós próprios que raio andávamos por ali a fazer”. Calvário anda dividido, ama Mariana mas quer regressar descomprometido. Os encontros são descritos com sensualidade discreta: “Brincamos como duas crianças e acabámos trancados nos braços um do outro como dois amados legítimos. Despedimo-nos daquela noite com o respirar leve de quem amava e sofria sem saber do seu futuro”.

Estamos nos reboliços dos últimos dias, há ainda mais cenas de paixão, o embarque avizinha-se, Calvário descreve a euforia da partida. Faz o discurso do adeus a Bissau e escreve: “E, quando fores país, que a tua felicidade prospere e cresça, sem barreiras. Que as tuas necessidades cresçam no pleno esplendor da democracia. Desejo-te um destino nobre”. O navio “Niassa” chega à rocha de Conde de Óbidos, lá está a sua mãe para o abraçar. E assim conclui: “Hoje, nos momentos curtos e loucos em que escrevo, debruço-me sobre a folha branca e procuro-lhe fazer o mais belo poema da minha vida (refere-se à madrinha de guerra que virá a ser sua mulher) mas a grande ansiedade de começá-lo faz com que tudo se me afunde”.

Leonel Barreiros enviou-me, autorizando a divulgação no blogue, de elementos do seu diário. A carta que me enviou termina assim:

Rezo por aquele belo povo guineense para que procure a sorte de caminhar por caminhos novos e diferentes, mesmo dentro dos perigos e guerras forçadas, a que tanto tem estado sujeito. 
Abraços fraternos do seu amigo Calvário”.

Em 2009 ele conclui o 12.º ano de escolaridade. Tem 11 livros publicados. Este achado trouxe-me ainda mais entusiasmo para continuar a ler esta literatura escondida em edições de autor, estou em crer que há pedras preciosas, pepitas de ouro a juntar para o tesouro da literatura da guerra da Guiné.


____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10045: Notas de leitura (370): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (2) (Mário Beja Santos)