sexta-feira, 6 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10125: Notas de leitura (377): Massacres em África, de Felícia Cabrita (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
O objetivo destas recensões é juntar o maior número de possível de materiais para quem quiser conhecer ou estudar aquela guerra que vivemos.
Tive que ler duas vezes com muito cuidado a reportagem da Felícia Cabrita sobre a operação Tridente. Creio que a jornalista brincou com coisas sérias, vinha na predisposição de registar uma epopeia, sonegou dados e transformou os cerca de 70 dias que durou a batalha num cerco de Leninegrado, um épico de onde certamente esperava que a convidassem a fazer uma série televisiva para mostrar como os militares portugueses se revelaram incapazes de conquistar posições onde pontificavam mulheres heroínas.
É uma reportagem inqualificável, convém deixar escrito.

Um abraço do
Mário


Massacres em África

Beja Santos

A jornalista e escritora Felícia Cabrita conheceu a notoriedade em reportagens sensacionais denunciando, por exemplo, o caso Casa Pia. É autora de séries televisivas como “O Ouro Negro”, “Capitão Roby”, “Ballet Rose” e a “Joia de África”. O seu livro “Amores de Salazar” tem tido reedições sucessivas e estes “Massacres em África” vão já em terceira edição (A Esfera dos Livros, 2011). A jornalista investigou um conjunto de situações que vão desde o massacre em S. Tomé, no tempo do governador Carlos Gorgulho, em 1953, as atividades terroristas em Luanda, em 1961, até à execução de Sita Valles e o drama de uma mãe que pretende tudo saber sobre a morte de um filho em Angola, numa ação de comandos do Galo Negro. Quando se esperava encontrar referências ao massacre do Pidjiquiti vamos encontrar a operação Tridente e mais adiante a morte de vários oficiais, em 20 de Abril de 1970, em pleno chão manjaco.

Depois de lida a reportagem que Felícia Cabrita efetuou na Ilha do Como, de colaboração com Nino Vieira, fica-se com sérias dúvidas se alguma vez consultou a documentação existente em Portugal sobre esta operação. Em estilo bombástico, a jornalista usa sem artifícios o enredo de uma telenovela, com arremedos de caráter épico: “Mal pisei terra, tinha à espera alguns dos combatentes que enxovalharam a tropa portuguesa. Começámos por fazer o reconhecimento do terreno. Parecia ter caído no Vietname. Fora em Como, a sul da Guiné, que, em 1963, fora hasteada a bandeira de independência. Para pôr fim à afronta, mil e tal homens dos três ramos das Forças Armadas, crentes de que ali estava instalado o santuário da guerrilha apetrechada à soviética com abrigos antiaéreos, hospitais construídos abaixo do chão e centenas de guerrilheiros com armamento sofisticado, partiram para o ocupar. Por lá andaram por dois meses e meio à sede e à fome sem conseguirem penetrar na mata que, afinal, era defendida por mulheres e um punhado de homens”. De premeio, temos peripécias mirabolantes e os picantes da superstição e da macumba: “Numa tabanca perto da praia, vive Sona Camará, uma balobeira, mulher de visões capaz de influenciar os mortos para o combate. Sempre estive do lado das minhas fontes sem sobranceria. Os homens são conduzidos a maior parte das vezes pela sua fé ou pela ausência dela”. Confessa que depois de publicada esta reportagem no Expresso Alpoim Calvão a chamou de doida. Sona Camará aparece na reportagem como uma padeira de Aljubarrota, no Como estariam 20 guerrilheiros, 8 armas e 4 granadas. Nino Vieira, escreve, pedira reforços a Como para atacar um quartel (historicamente improvável, Nino fora para Cassacá, para uma reunião convocada por Amílcar Cabral que acabou por se transformar em congresso). E temos aqui um relato de batalha, os homens dividem-se em grupos de 5 e vão travar as tropas portuguesas no tarrafo. Se passou a haver a lenda de Sona Camará também nasceu a do Kabi, o Leão. Felícia Cabrita viaja com Nino Vieira até ao Como. Temos mais espetáculo: “Aterrámos em Como, onde jipes militares nos aguardam. O chefe da segurança trepa para os estribos de todo-o-terreno que leva o presidente. As mulheres dos bijagós, nas saias de palha de arroz multicolores dançam ao ritmo da batucada. Ao almoço fala-se daquilo que os une, não do que os separa. Da pobreza. Sona Camará, a mulher que batizou Nino de Leão, leva-o à sua baloba, onde abundam as garrafas de aguardente de cana com que alimenta os espíritos”. Nino Vieira fala da sua juventude e da instrução militar que recebeu na China.

Chegou a hora da reportagem entrar na operação. A vivacidade da repórter não tem freio: a aviação larga panfletos nas ilhas, as mulheres e os poucos guerrilheiros põem-se em movimento. Se tudo já faz prever o épico temos agora cinema a três dimensões: Muk Na Pono era um jovem que nada assustava, pegou na Mauser e foi à luta, N’Dine Na Barne entrincheirou-se na mata com a única metralhadora pesada que havia; do lado português, Júlio Santos sente-se protagonista de O Dia Mais Longo, filme do desembarque da Normandia; começam as baixas e o suplício de remover os feridos para um improvisado posto de socorros; do lado português, acentua a repórter, há medo e desespero, há quem invente doenças e há gente enlouquecida e segue-se uma descrição para fazer chorar as pedras da calçada: “Joaquim Ganhão negou-se a olhar para Henrique, porque coreu entre os soldados mil e uma coisa. Que o corpo estava decepado, os olhos furados, ele acreditou e chorava como uma criança”. A epopeia, a fazer fé no que escreve a jornalista, andou sempre do lado guerrilheiro: enquanto as forças portuguesas disparavam fogo, os guerrilheiros levavam os seus feridos no fundo das canoas, esgueiravam-se entre fragatas e regressavam atafulhados de armas. A força portuguesa queria progredir mas não podia: “Na mata de Como vivia-se ao ritmo das bombas. As copas dos poilões e das palmeiras formavam uma carapaça que abrigava a guerrilha. A tropa portuguesa experimentou tudo para perfurar a selva que se fechada como uma ostra para os expulsar. O napalm apagava-se num segundo, mal encontrava a folhagem densa e verde, e as bombas lançadas pelos velhos Dakotas rebentavam assim que tocavam o topo dar árvores. Tentaram bombas de profundidade com 250 kg de trotil que só tinha poder de sopro, rebentavam os tímpanos da tropa e faziam pouco estragos. Nas primeiras três semanas, explodiram 262 bombas, foram lançados 347 foguetes e dispararam 31 846 balas”. Maior heroísmo não podia haver: “As mulheres faziam sabão, continuavam a parir, e à noite subiam para cima das árvores, espiavam a floresta enquanto os guerrilheiros descansavam”.

Do lado português aumentavam as neuroses, militares que se motivavam, até o médico Francisco do Nascimento tomava Librium 10 para se manter de pé. Até há cenas de um Apocalypse Now: “Ao domingo, no fim da tarde, na imensa praia de Caiar, onde o comando estava instalado, o médico assistia à missa do padre Gama, foi das mais lindas que ouviu, e por uns momentos sossegava. Ao fundo, na areia molhada, Alpoim Calvão cantava ópera ou descarregava a arma nas garrafas de cerveja”. Os dias arrastavam-se, havia um alferes conhecido por Shelltox que se vangloriava de matar até se fartar, talvez fosse um gabarola, do dia em que foram rodeados pelo inimigo recuou sem dar ordem de retirada. Fernando Cavaleiro, o comandante da operação Tridente garantia o sucesso da operação mas ninguém acreditava, escreve a jornalista que sintetiza: as derrotas são osso duro de roer. Terá entretanto ouvido Alpoim Calvão que tinha outra leitura: “Não há vitórias absolutas, mas também não foi uma derrota. Já não havia gente suficiente na ilha que justificasse a nossa presença. Mas Como foi uma grande escola, encontrámos o inimigo muito aguerrido e manobrador”. As mulheres guerreiras personificaram as gesta sublime, a tal ponto que Amílcar Cabral, quando soube das baixas, ordenou que abandonassem a ilha, mas Cadi Camará, a única mulher que usava pistola que conhecia as profecias, gritou aos homens: “Se estão com medo, dispam as vossas calças e vistam as nossas saias que nós vamos combater”.

Não tivesse lido o que outros camaradas aqui têm escrito sobre a operação Tridente e teria de cismar como é que mil e tal portugueses tinham sido travados por um punhado de homens e mulheres extraordinárias, tudo previsto por uma balobeira que previa um milagre. São estes despautérios que levam a perguntar como é possível ser tão leviano na descrição da operação Tridente.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10101: Notas de leitura (376): "Aviltados e Traídos - Resposta a Costa Gomes", por Mello Machado (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10124: Vídeos da guerra (9): Vida e obra dos Viriatos - CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) (Parte I) (Henrique Cardoso)



Vídeo do ex-Alf Mil Henrique J.F. Cardoso. Cópia gentilmente cedida pelo seu/nosso camarada ex-Alf Mil Torcato Mendonça, para ser divulgado através do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Esta subunidade, a CART 2339 (que tem c. 135 referências no nosso blogue) esteve na zona leste da Guiné, setor L1 (Bambadinca), ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70) e da CCAÇ 12 (1969/71), subunidade de intervenção ao serviço daquele batalhão (e depois do seguinte, o BART 2917, 1970/72).


Os Viriatos, nome de guerra da valorosa CART 2339, unidade de quadrícula, construiram de raíz  um aquartelamento em Mansambo (c. 180 referências), entre Bambadinca e o Xitole [, vd. carta do Xime]. Participaram em grandes operações como a Lança Afiada (Março de 1969). 

O Alf Mil Cardoso foi também comandante (interino) da CART 2339. Estamos-lhe gratos pela cedência do vídeo (originalmente, uma sequência de pequenos filmes em super 8 mm, que ele depois montou, digitalizou e sonorizou). 


O vídeo, no total, tem uma duração de 50 m. O camarada Torcato Mendonça (ou o Carlos Marques dos Santos ?, já não posso garantir com toda a certeza..) fez-me chegar às mãos, há uns atrás, uma cópia com autorização do autor para a sua divulgação pública. Por razões técnicas (incompatibilidades de formato, duração, etc.), só agora (em maio de 2012) nos  foi possível carregar o vídeo (em duas partes) na nossa conta no You Tube (nome da conta: Nhabijoes).

O mínimo que se pode dizer é que é um documento,  excecional e raro,  que vai enriquecer o nosso blogue e sobretudo vai emocionar alguns de nós, pela reconstituição detalhada da vida quotidiana de uma heróica unidade de quadrícula no leste da Guiné, colocada no sector L1, a que correspondia, grosso modo, o temível triângulo Bambadinca - Xime - Xitole. 


A câmara de filmar (em super 8 mm, julgo eu: tinha sido lançadas no mercado por volta de 1965) acompanha o autor desde o dia da partida da companhia (em 14 de janeiro de 1968) até ao regresso à metrópole (em finais de 1969).  Além de disciplinado, o nosso camarada Cardoso é uma pessoa com "olhar treinado", e "mão firme", além de grande sensibilidade e gosto estético,  o que lhe permitiu captar aspetos surpreendentes da nossa vida quotidiana de combatentes, bem como da dos guineenses.


Através do Torcato Mendonça (Fundão) ou do Carlos Marques dos Santos (Coimbra), ou de ambos, eu vou convidar o nosso camarada Henrique Cardoso a integrar a nossa Tabanca Grande. Seria uma honra para nós e uma forma, singela, de lhe dizermos quão gratos estamos pela existência e a disponibilização deste documento precioso, pro aí esquecido (mas não perdido). Sabemos que ele: (i) vive na Senhora da Hora, Matosinhos; (ii) é amigo do Jaime Machado (nosso grã-tabanqueiro); (iii) tinha um plano de filmagens,  e usava de facto uma câmara super 8. (Informação dada ao telefone pelo TM, a quem desejamos um fim de semana descansado, heart friendly & healthy week-end (o mesmo é dizer, um fim de semana de sopinhas e descanso)...

Aqui fica uma sinopse da Parte I do vídeo. A II Parte será inserida, em breve, no nosso blogue (Já está também disponível no You Tube > Nhabijoes, inclui o regresso dos Viriatos a casa).


Parte I: Vida e obra dos Viriatos (nome de guerra do pessoal da CART 2339) 


(i) Embarque para o TO da Guiné (em 14 de janeiro de 1968), 
(ii) viagem no T/T Ana Mafalda, navio da marinha mercante, da Sociedade Geral (SG), 
(iii) partida e despedida no Cais da Rocha Conde Óbidos [, quem é o valente - Viriato ? - que aparece a emborcar uma garrafa de uisque para matar a saudade ?] 
(iv) as dificeis (e nada seguras) condições da vida e de trabalho a bordo, 
(v) passagem por Cabo Verde (Ilha do Sal, em 19 de janeiro), c/ escolta de navio da Marinha de Guerra, 
(vi) chegada a Bissau (em 21 de janeiro), 
(vii) visita (demorada à cidade, monumentos, sítios emblemáticos), 
(viii) desfile militar defronte do palácio do Governador (gen Schulz), a célebre charanga militar,
(ix) viagem de LDG pelo rio Geba acima (em 25 de janeiro), 
(x) aproximação à temível Ponta Varela, antes do Xime, e o habitual reconhecimento por fogo de morteirete, pelos marinheiros da lancha (momento sempre de alguma tensão para os 'piras'), 
(xi) chegada ao porto fluvial de Bambadinca (, sem dúvida, a LDG não ficou no Xime), 
(xii) apresentação e estadia em Fá Mandinga, 
(xiii) a vida quotidiana no aquartelamento (higiene, limpeza, lazer, futebol, correio, convívio...), 
(xiv) a alimentação, as refeições. 
(xv) a partilha das 'sobras' com os putos da tabanca, 
(xvi)  a descoberta da África "exótica" (fauna e flora), 
(xvii) visita a uma tabanca dos arredores (regulado de Badora, 
(xviii) as bajudas, a fonte, 
(xix) a primeira visita a Bafatá, a bela "capital" da zona leste, 
(xx) o rio Geba, as canoas,
(xxi) o regresso em coluna, a Fá Mandinga, na estrada alcatroada Bafatá-Bambadinca,
(xxii) a transferência da CART 2339 para Mansambo,
 (xxiii) a heróica construção, de raiz, do aquartelamento de Mansambo (documentada com muito detalhe), 
(xxiv) a (despreocupada) ida à famigerada fonte (, poucos tempo depois, a 11 de julho de 1968, o bigrupo da zona apanhou à unha um Viriato mais descuidado...), 
(xxv) a morte e o esquartejamento da vaca, 
(xxvi) o fabrico do pão, 
(xxvii) as queimadas, 
(xxviii) a visita a uma tabanca em autodefesa, e  entrega da bandeira verde-rubra ao chefe da tabanca, 
(xxix) as Trms desejam aos Viriatos uma Páscoa feliz (em 1968 ?, em 1969 ?,  o domingo de Páscoa em 1968 foi a 14 de abril; em 1969, foi a 6 de abril), 
(xxx) uma partida de futebol, 
(xxxi) a equipa da  "televisão Mansambo",  o bom humor dos Viriatos,
(xxxii) a população na fonte, as crianças, as bajudas,
(xxxiii) o início (violento, tropical, precoce) da época das chuvas (talvez em maio de 1969, com o quartel já construído ao longo de 1968), 
(xxxiv) chegada de pessoal em viatura, 
(xxxv) uma banho de chuveiro,   já dentro do quartel (o que pressupunha a abertura de um poço dentro do perímetro no quartel, dispensando a perigosa ida à fonte, exterior),   
(xvi) instalação e teste dos obuses 10.5,
(xxxvii) operação Cabeça Rapada (grande mobilização da população civil para capinagem da estrada Bambadinca-Xitole) [, 
 desenrolou-se de finais de Março a meados de Maio de 1969, talvez por seis fases ou seis operações, diz o Torcato Mendonça],  
(xxxviii) instalação da força de segurança, 
(xxxix) os trabalhos de capinagem, 
(xl) o regresso de militares e civis... 

Fim da I Parte. (**)

Vídeo (35' 33''): Henrique Cardoso. Alojado em You Tube > Nhabijoes




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Fase de construção do aquartelamento (que o PAIGC, através da rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")...Os Alferes Milicianos Cardoso e Rodrigues apanham banhos de luar...


Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos  a chegar ao nosso blogue, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça:


A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: Abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval. CMSantos".



Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005)
_________________

Notas do editor:

(*) 23 de novembro de 2006 >

(**) Último poste da série > 12 de março de 2008 >

Guiné 63/74 - P10123: Os nossos seres, saberes e lazeres (48): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte II): A banda da Associação Musical da Atalaia... é uma festa! ... (E onde se fala também dos antigos prisioneiros portugueses na ìndia, 1961/62) (Luís Graça)




Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho. Atuação da banda da Associação Musical da Atalaia.


Vídeo (4' 16''): Luís Graça (2012). Alojado em You Tube > Nhabijoes 




1. A 2º edição da Festa do Pão do Moinho (a 1ª edição realizou-se o ano passado) foi organizada pela Associação Musiscal da Atalaia (AMA) e abrilhantada pela sua banda (*)...

A AMA tem uma escola de música e uma banda de música, composta essencialmente por gente jovem. Lê-se no sítio desta associação:

(...) "A Escola de Música, iniciou a sua primeira aula no dia 1 de Dezembro de 1985 com 18 alunos e teve a sua primeira actuação no dia 6 de Setembro de 1986 com a designação de Escola de Música da Atalaia, criada por Joaquim Isidoro dos Santos e Luís Fernando dos Santos, tendo sido na altura, inserida na Associação Desportiva e Recreativa Marítimo de Atalaia.

(...) "Mais tarde, por imperativos legais e legítimos, verificou-se a necessidade de ser separada da Associação Desportiva e Recreativa Marítimo de Atalaia.


(...) "[Em finais de ] 2007, foi legalmente criada a AMA – Associação Musical da Atalaia, no Cartório Notarial da Lourinhã por um grupo de outorgantes que quiseram dar à Banda a existência legal como é seu direito e melhorar as suas condições de vida como Órgão Cultural (...).

"Como Sede, foi-lhes cedida pela Câmara Municipal da Lourinhã a antiga e desactivada E.B.1 [, antiga escola do ensino primário,] da Cabaceira,  em Atalaia, local onde são dadas as aulas de instrução musical e realizados os ensaios gerais. A actual direcção  [está a construir de raiz uma sede, a qual vai permitir] oferecer melhores condições aos jovens músicos.

"A finalidade desta Associação destina-se ao cultivo das artes, visando a formação Humana através da Educação Cultural e Recreativa e encontrando-se aberta a pessoas de ambos os sexos para o ensino da música. Neste local ensaia, para além da Banda, uma Orquestra Ligeira e poderá surgir a formação de outros grupos, nomeadamente um Grupo Coral e/ou um Rancho Folclórico.

"Actualmente a Banda é composta por 45 elementos maioritariamente jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 66 anos, com uma média de idades de 16 anos. São na sua maioria adolescentes, estudantes do Ensino Secundário, sendo que, existem alunos do Conservatório e estudantes em Escolas Profissionais de Música. (...).





 Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > Uma terra de gente trabalhadora, mas que gosta e sabe divertir-se e conviver: terra de agricultores, pescadores, mariscadores, "viveiristas de frutos do mar", comerciantes, improtadores e exportadores de marisco, músicos, padeiras, moleiros e... moleirinhas! Foto de L.G.

2. Sobre os dois fundadores da Escola de Música da Atalaia convirá dizer o seguinte:

(i) Luís Santos é o atual maestro da banda da AMA. Nasceu na Atalaia, em 1941;Começou a aprender música aos 10 anos.  Em 1959, ingressou como voluntário na Banda de Música da Escola Prática de Infantaria, em Mafra. Em 1967, através de concurso público, entra para a  Banda de Música do Comando Geral da Guarda Nacional Republicana (GNR).

Em 1982, é sargento ajudante, e fica a desempenhar as funções de Subchefe da Banda de Música do Comando Geral da GNR.

Em 1984, é promovido ao posto de sargento chefe e em 1989 ao posto de sargento mor, desempenhando as funções de chefe adjunto da referida Banda de Música.

Desde 1975 dirige a Banda do então Batalhão de Sapadores Bombeiros, hoje Regimento. Reformado da GNR, dirige igualmente a banda da AMA.

(ii) O Joaquim Isidoro Santos, o outro dos fundadores da primitiva Escola de Música da Atalaia, em 1985, é irnão do maestro da banda da AMA. Foi taxista, é também nascido na Atalaia. Tinha 21 anos quando foi para Índia, em cumprimento do serviço militar. Pertencia à CCAÇ 8 do RI 5, Caldas da Rainha. Em Goa, foi nomeado encarregado da messe de sargentos, tarefa que cumpriu desde Março de 1961 até à invasão do território pelas tropas da União Indiana, em 18/19 de Dezembro de 1961. Foi então feito prisioneiro.



Caldas Rainha, RI 5... S/d... Convívio de antigos prisioneiros na India (1961/62). Pertenciam às Companhias de Cacadores 6, 7 e 8 , do RI 5.



O estandarte da CCAÇ 8, do RI 5, Caldas da Rainha.


Fotos da página do Joaquim Isidoro no Facebook (Reproduzidas com a devida vénia...)





Já aqui, no nosso blogue, tínhamos falado deste meu conterrâneo e camarada lourinhanense, um homem voluntarioso e decidido, e da sua  iniciativa, inédita, em 2008, de homenagear publicamente o seu antigo comandante, o gen Vassalo e Silva, prisioneiro como ele das tropas indianas, conforme

(…) “Manuel António Vassalo e Silva, último governador português de
Goa, Damão e Diu, foi homenageado no passado dia 22 de Junho [de 2008] na Atalaia, naquela que foi a primeira cerimónia pública do género no país. Para prestar a homenagem, foi descerrada uma lápide em sua memória junto à praceta que passou a designar-se Praceta General Vassalo e Silva, localizada a cerca de 600 metros a norte da Igreja de Nª Srª da Guia”. (...)

O Joaquimn Isidoro também é um dos co-fundadores, em 2000, [, originalmente, Associação dos Ex-Prisioneiros de Guerra da Índia e de Timor]. Tal como no passado, fui de novo encontrá-lo na Festa do Pão do Moinho. Falámos, naturalmente, como camaradas, das coisas da guerra e da paz, e das dificuldades que os antigos combatentes enfrentam, a começar pelas da sua representação e organização... Até um dia destes, Joaquim!

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 5 de julho de 2012 > Guné 63/74 - P1020: Os nossos seres, saberes e lazeres (47): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte I): O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até Bambadinca..., tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10122: Em busca de... (195): Informação sobre o Soldado Escriturário Carlos da CCAÇ 3476, Canjambari, Chugué, 1971/73 (Jaime Vieira)





1. O nosso Camarada Jaime Vieira, ex-Sold da CCAÇ 3476, Canjambari, Chugué, 1971/73, enviou-nos o seguinte apelo:


Boas noites ou bons Dias a todos os camaradas da Guiné,


Os meus parabéns por terem se lembrado de nós. 

Fui soldado na companhia de caçadores 3476. 

Estive em Canjambari - sector de Farim, nos anos de 1971 e 72, e depois estive no Chugué – junto a Mansoa -, em 1973. 

Regressei a casa em 16 de Dezembro de 1973. 

Tínhamos o nome de “Bebés de Canjambari”, por a companhia ser muito jovem ou a mais jovem de todas. 

Agora meus amigos, tenho uma curiosidade que gostava de ver satisfeita: no ano de 1972 desapareceu um soldado escriturário, com o nome de Carlos, creio que era de Trás-os-Montes. Era meu amigo e sempre me preocupei em saber o que lhe aconteceu posteriormente. 

Se algum camarada souber algo sobre este meu amigo, peço o favor de me informar para o e-mail: 52_j@live.com

A companhia era açoriana. 

Por agora é tudo.

Um abraço a todos,
Jaime Vieira


2. O nosso Camarada José Martins já nos enviou a ficha desta Unidade:

A Companhia de Caçadores 3476 foi mobilizada no Batalhão Independente de Infantaria nº 18, em Ponta Delgada. Esta unidade tinha como divisa “Os Bebés de Camjabari”.

Embarcaram em 25 de Setembro de 1971, chegando a Bissau no dia 30 desse mês.

Sob o comando do Capitão Miliciano de Infantaria Jorge Alberto da Conceição Hagedorn Rangel, substituído em data não referida pelo Alferes Miliciano de Infantaria António Augusto Pires e Castro.

Realizaram no CMI – Centro Militar de Instrução, no Cumeré. A Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, no período de 02 a 30 de Outubro de 1971.

Parte para Camjabari a 2 de Novembro de 1971 para, em sobreposição com a Companhia de Caçadores nº 2681, efectuar o treino operacional, assumindo a responsabilidade do subsector de Camjabari, em 28 de Novembro de 1971, integrando o sector à responsabilidade do Batalhão de Artilharia 3844. A missão prioritária a esta subunidade era proceder pressão sobre a linha de infiltração de Sitató.

Substituída pela Companhia de Caçadores nº 4143/72 a 14 de Novembro de 1972, segue para Dugal a 16, para sobrepor e render a Companhia de Artilharia nº 3332, assumindo a responsabilidade do subsector, com destacamentos em Fatim, Chugué e Fanhe, e para missões de segurança de instalações e populações da área, integrada no dispositivo do Comando Operacional nº 8.

É transferida para o COMBIS (Comando de Bissau) em 30 de Setembro de 1973), sendo rendida em Dugal pela 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4610/72 e, em 3 de Outubro de 1973 rende, em Bissau, a Companhia de Cavalaria nº 3420.

Dois meses depois, a 6 de Dezembro é rendida no COMBIS pela Companhia de Caçadores nº 3565 e embarca de regresso em 13 desse mês.

Foi rendido neste subsector pela Companhia de Caçadores nº 4143/72, seguindo em 14 de Novembro desse ano para Dugal, onde, a partir do dia 16 seguinte,

É substituída pela Companhia de Caçadores 2548/BCAÇ 2879 em Julho de 1969, recolhe a Bissau e embarca de regresso à Metrópole em Junho de 1971. 
_____________
Nota de M.R.:

5 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10118: Em busca de... (194): Camaradas do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969 1971 (Carlos Alberto Pinto)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10121: Agenda Cultural (210): “Não sabes com vais morrer” um livro do nosso Camarada Jaime de Jesus Froufe Andrade – Moçambique -, 1968-70 (José Martins)





1. O nosso Camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos a troca de e-mails entre ele próprio, o nosso Camarada Juvenal Amado e o autor do livro “Não sabes como vais morrer”, que contem, segundo as suas palavras, “… histórias que 'apenas diferem' nas longitudes ou latitudes, porque guerra é sempre guerra".



O autor é Jaime de Jesus Froufe Andrade, pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2842 e fez parte da Companhia 2358, Maio de 68 a Maio de 1970, "sempre na província de Tete e a minha companhia esteve no Bene, Tembué e Vila Coutinho, tendo o meu pelotão estado nesses sítios e ainda nos destacamentos do Tsangano e Cantina do Freitas. A companhia esteve também em Tete na chamada intervenção".


2. Sobre o livro pronunciou-se assim a Agência Lusa:


Trata-se de um conjunto de oito histórias da guerra colonial que o autor viveu em primeira pessoa durante a sua comissão de serviço em Moçambique, como alferes miliciano de Operações Especiais ("rangers"), entre 1968 e 1970. São outros tantos retratos da vida que centenas de milhar de jovens portugueses viveram, nos anos da guerra colonial, no meio do "mato", em Moçambique, Angola ou na Guiné-Bissau.


As histórias são escritas com dramatismo, em que cabem momentos de humor, perplexidade, angústia e ansiedade, mas também a profundidade psicológica, que faltam a muitos relatos de guerra.

As pelo menos duas gerações de portugueses que viveram a guerra em África reconhecer-se-ão facilmente nestas linhas escritas por Froufe Andrade.

Noutro capítulo, o autor narra o regresso atribulado de Moçambique a Portugal, a bordo do navio Vera Cruz, sobrelotado com três mil militares.

Quando navegava perto do Cabo da Boa Esperança (o mítico Cabo das Tormentas de Camões), na África do Sul, o enorme navio foi atingido, na sequência do efeito conjunto de duas ondas sísmicas e de uma tempestade, por gigantescas vagas, sofrendo graves avarias e tendo estado a ponto de soçobrar.

As circunstâncias desta viagem são narradas em primeira pessoa por Froufe Andrade e ainda por um conjunto de 12 depoimentos por ele próprio recolhidos junto de outros militares, oficiais, sargentos e praças, que consigo viajaram. O autor entrevistou ainda o oficial-piloto que estava de turno na ponte de comando do navio e pesquisou ainda o diário de bordo do navio, no Arquivo Central da Marinha, onde recolheu elementos dos dois comandantes que seguiam a bordo, o comandante do navio e o comandante dos militares a bordo.

Jaime Froufe Andrade nasceu em 1945, no Porto. É jornalista profissional, trabalhou durante muitos anos do Jornal de Notícias e integra actualmente os quadros da revista Notícias Magazine, distribuída semanalmente com o aquele jornal portuense e com o lisboeta Diário de Notícias.



Livros: Froufe Andrade publica histórias da guerra colonial na primeira pessoa Porto, 19 Nov (Lusa) - A Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) lançou "Não sabes como vais morrer", de Jaime Froufe Andrade, um novo título da Colecção Memória Perecível, anunciou hoje fonte da AJHLP.

Notas:

- na imagem Froufe Andrade num Aloette III, pronto para mais uma operação.
- o livro está à venda nos escaparates das livrarias Bertrand e FNAC, pelo preço de 7 € (Sete Euros).

3. A divulgação do livro pelo pessoal do blogue iniciou-se com o seguinte e-mail do nosso camarada Juvenal Amado:

Caros camaradas

Há dias recebi esta mensagem que com a devida autorização divulgo.

"Começo por lhe pedir desculpa por este meu atrevimento, que espero releve sem grandes dificuldades, em nome daquilo que penso ajuizará de mim.

Acaba de sair a segunda edição de um pequeno livro que escrevi sobre a minha experiência de guerra durante a minha comissão em Moçambique como alferes miliciano. Confesso que fiquei com o ego em alta por esta aposta da editora numa segunda edição.

Infelizmente não tenho posses para poder oferecer um exemplar, como tanto gostaria, a cada amigo. Resta-me propor que me "comprem" esta obra-prima com o sombrio nome "Não sabes como vais morrer"...

Outra boa novidade para mim é a prerrogativa que desta vez terei de comprar livros à editora a preço de custo ou seja a 2.80 Euros, quantia que decidi arredondar para os 3 (três) Euros por causa dos portes do correio.

Gosto grande para mim seria tê-lo como leitor. Se estiver nisso interessado só terá de me dar a sua morada (não esquecer o código postal) para eu lhe enviar o livro pelo correio.

A quitação seria pela forma mais prática: uma passagem pelo multibanco e transferência dos ditos três Euros para o NIB 0035 0651 0031 2990 2003 4. 


Pedidos:
froufe.andrade@yahoo.com
Telemóvel:939 320 807 

Que me diz? Confio na qualidade da sua resposta, vá ela em que sentido for.

Abraço
Jaime Froufe Andrade"


4. O Juvenal Amado, recebeu do Froufe Andrade a seguinte resposta:

Caro ex-Combatente Juvenal Amado!

Esta minha "campanha" (venda a preço de custo) é para manter enquanto houver livros. Optei por uma maior divulgação do meu trabalho em detrimento do lucro. É aquela velha realidade: nunca se pode ter tudo...

Segunda-feira de manhã irei ao correio expedir vários livros e aproveitarei para enviar já os vossos. Normalmente o correio demora entre dois a quatro dias a fazer a entrega. Peço-te por favor que mal os dois livros cheguem à tua posse que me avises para eu ficar tranquilo. Sobre esse ponto começo a ficar convencido de que os correios portugueses são muito fiáveis.

Um bom fim-de-semana e até breve. Um abraço.



5. No mesmo dia, 27 de Junho, o Juvenal recebeu esta mensagem: 



Hoje de manhã expedi o teu livro e o do Dinis. Amanhã seguirá o do Manuel Reis. Estou-te muito grato por esta tua acção de divulgação. A editora irá colocar o livro nas livrarias a Sete Euros. No entanto, eu vou tentar ir comprando o mais possível à editora livros a preço de custo (2,80 €) para os passar para as mãos de ex-Combatentes interessados a três euros por causa dos vinte e tal cêntimos de portes).

É verdade que em cada livro expedido perco dois cêntimos, mas vou buscar esse prejuízo nos livros que chegam ao destino sem ser pelo correio. No fim, julgo que "fico em casa" ou seja nem ganho nem perco. 

A minha opção é de facto a da divulgação em desfavor do lucro à custa dos ex-Combatentes. Estás a ver o ponto. O meu objectivo é legar este testemunho vivencial ao maior número de pessoas incluindo pessoas de gerações posteriores à guerra e que também merecem ser esclarecidas através de testemunhos deste tipo de como as coisas se passavam connosco em África. 

Se esta perspectiva te fizer sentido, não te canses de fornecer o meu contacto a eventuais interessados pela temática. Como te disse já, avisa-me por favor quando os livros chegarem para eu poder ficar tranquilo, embora a minha confiança nos correios seja grande. Quem estiver interessado pode enviar o respectivo pedido para:
NIB 0035 0651 0031 2990 2003 4. 


6. Com esta informação enviei ao Froufe Andrade o seguinte e-mail:

A notícia chegou-me através do nosso amigo Juvenal Amado.

Segue, de acordo com mail recebido, as indicações necessárias;

José Marcelino Martins
Rua Dr. Sidónio Pais, 14-1º dtº
12675.503 Odivelas

Agradeço dedicatória do autor no livro pois, como diz um amigo meu, só não tenho "Os Lusíadas" autografado. Mas ainda não perdi a esperança pois, sendo contemporâneo de D. Sebastião, numa manhã de nevoeiro aparecerão os dois.
Um abraço
José Martins
Guiné 1968/70


________________

Nota de M.R.:

4 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10115: Agenda Cultural (211): Lançamento dos livros "Filhos da Terra - A Comunidade Macaense Ontem e Hoje" e "O Livro de Receitas da Minha Tia/Mãe Albertina", Instituto Internacional de Macau, Lisboa, 11 de julho, 4ª feira, 18h.

Guiné 63/74 - P10120: Os nossos seres, saberes e lazeres (47): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte I): O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até Bambadinca..., tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (Luís Graça)



Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho.  Um dos moinhos da Atalaia, construído em 1928, que ainda continua em atividade. Um regalo para os cinco sentidos... e para o estômago, porque graças a ele e ao moleiro (sem esquecer o burro do moleiro) faz-se o melhor pão do mundo, o da nossa infância no oeste estremenho, onde chegou haver mais de 10 mil moinhos de vento, soberba herança da civilização árabe (os árabes, ou melhor, os mouros do norte de África, comandados por uma aristocracia árabe, invadiram a península ibérica em 711 e por cá ficaram até 1492)... O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até à Guiné. Tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito na casa das minhas tias do Nadrupe, com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (LG)


Vídeo (1' 44''):  Luís Graça (2012). Alojado em You Tube > Nhabijoes



1. Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho, 2ª edição.  [, Imagem do cartaz publicitário, à esquerda].


A iniciativa foi  da Associação Musical da Atalaia (AMA) e tinha como objetivo a angariação de fundos para o acabamento das obras da sua sede.  Tal como no passado, a festa realizou-se junto aos moinhos da povoação, que é vila e sede de freguesia.

Com entrada livre, houve lugar ao lazer, ao convívio, a 
visitas aos moinhos em atividade, à visita, 'in loco', do fabrico de pão à moda antiga, à exposição e venda de produtos hortícolas e artesanato, à uma exposição molinológica, a um esmerado serviço de bar, à animação  musical (a cargo da banda da AMA), à exibição de um rancho folclórico, e, por fim e não menos importante, à venda e degustação  das mais variadas formas de pão, de trigo, de centeio, de milho, com azeitonas, com chouriço, com passas, com figos, com sardinhas, etc.





Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > Os sabores da infância ao alcance de um euro e meio... Que os eventuais lucros destinam-se ao financiamento do acabamento das obras da AMA.






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > O pão com sardinhas... com que os pobres matavam a fome nos anos 50 do século passado...



Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho> Exposição molinológica (pormenor)




Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho > Travessa dos Moinhos... Uma imagem de moinhos espelhada numa vidraça...






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moínho > Exposição molinológica (pormenor) > O diretor da AMA, o dr. Manuel José Vitorino, técnico superior de turismo na Câmara Municipal da Lourinhã, tem-se dedicado à molinologia, se bem que da perspectiva da tríade turismo, desenvolvimento sustentado e património cultural. Julgo que estes dados são da sua tese de dissertação de mestrado, recentemente defendida em provas públicas, no Instituto Politécnico de Leiria, polo de Peniche. Segundo o levantamento que ele fez, haveria cerca de um centena de moinhos no concelho da Lourinhã.Apenas 1 em cada 10 está atuamente em atividade.




Lourinhã > Atalaia > Travessa dos Moinhos > Um dos belos mais exemplares de moínhos de vento do concelho da Lourinhã. Foi construído em 1928, e o dono é um orgulhoso moleiro da Atalaia...


(Continua)
__________________________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)

Guiné 63/74 - P10119: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (3): Crianças de Mansambo, jamais vos esquecerei!

Crianças de Mansambo, ao tempo da CART 2339 (1968/69)
Foto ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados




1. Em mensagem de 2 de Julho de 2012, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74), enviou-nos este texto,  lembrando as crianças de Mansambo do seu tempo.



PEDAÇOS DE UM TEMPO

3 - AS CRIANÇAS DE MANSAMBO

Crianças de Mansambo,  que será feito de vós? O Cherifo foi o nosso primeiro faxina, de olhar atento e profundo, por vezes sem nada dizer, ele dizia não. Um dia os condutores chatearam-se com ele, (não sei porquê, eu tinha vindo de férias à Metrópole), foi embora. Veio o António, bonacheirão e descontraído, para ele tudo estava bem, um dia abalou, os outros meninos diziam que tinha ido para o fanado e por essa razão deu lugar ao pequeno e frágil Demba, (era muito novo) pouco esforço podia fazer, foi faxina até à nossa ida para Cobumba.

Uma das coisas que mais gostavam de fazer era jogar futebol, alguns até já falavam no nome do Eusébio e do Cubillas, influências de Benfiquistas e Portistas, o calçado é que não ajudava, mas eram ágeis a correr. Quando o tropa jogava, eles esperavam e jogavam depois. Uns descalços, outros com trinta e oito de pé e botas rotas quarenta e dois.
Também a Califa que foi minha lavadeira, menina e mulher ao mesmo tempo, sem ter sido criança. Outros havia, por não terem sido faxinas dos condutores nunca soube o seu nome.

Que será feito de vós, meninos daquele tempo? Espero que para vocês a mudança tenha trazido um tempo novo, diferente e melhor, o que parece não ter acontecido a alguns dos mais velhos.
Se mais não tiveram, espero que tenham podido esquecer a palavra guerra e conhecer o que para vocês era desconhecido, viver em paz.
Fiquei feliz por saber que passaram a poder tomar banho na fonte sem necessitar de segurança, apanhar bananas sem medo de haver armadilhas. Poderem ir de Mansambo a Candamã ou a Afiã, sem picadores na frente.

Ao pequeno Demba a quem tinha prometido levar uns sapatos quando viesse de férias segunda vez e, que a minha ida para Cobumba não permitiu, ficaria feliz se pudesse saber que também ele passou a usar sapatos novos, como os que levei ao Cherifo e que a ele eu não pude cumprir a promessa.
Ficava magoado e triste quando alguém lhe dirigia palavras menos próprias, pensava sempre no meu filho que ainda não conhecia, também ficaria triste, muito triste, se alguém lhe dirigisse,  a ele, palavras assim! Não era com intenção de magoar, que essas palavras eram proferidas, eu sei, mas, sim, tentando descarregar a revolta que com o passar do tempo se ia acumulando. Só que, em quem não tinha culpa da situação em que nos encontrávamos… as crianças.

Há momentos na vida que nunca conseguimos esquecer, e eu jamais esquecerei aquele em que um grupo de meninos da tabanca veio até ao meu abrigo levar-me uma galinha, retribuindo e agradecendo assim os sapatos novos que eu tinha levado ao Cherifo quando fui de férias. Não pelo valor da galinha mas pela pela felicidade que todos eles deixavam transparecer naquele momento, que era contagiante.

Crianças de Mansambo, jamais vos esquecerei!
António Eduardo Ferreira (*)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > Quase 40 anos depois... Meninos de Mansambo... e tugas, agora turistas de saudade, entre eles o  antigo... mansambeiro Saagum. 

Junto à fonte, a tristemente famosa fonte de Mansambo: aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setembro de 1968, o Saagum, do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Recorde-se o relato do nosso camarada Carlos Marques dos Santos, sobre os três graves incidentes ocorridos em 1968 neste lugar, enquanto o pessoal construía, de raíz, numa clareira da floresta,  o aquartelamento de Mansambo:

(...) "A 11 de Julho de 1968 o IN reteve um dos nossos elementos, na fonte, e na perseguição, em conjunto com as NT, o Cmdt do Pel Milícias 103 accionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. Deste nosso camarada só houve notícias depois do 25 de Abril de 1974. Em 19 de Setembro de 1968, a CART 2339 sofre uma emboscada, vinda da copa das árvores, também na fonte, enquanto procedia ao abastecimento de água, que causou 11 feridos (5 graves) e um morto. Um dos feridos graves viria a falecer no Hospital Militar de Bissau (241) a 25 desse mês. Em 30 de Setembro nova emboscada na fonte ao Pelotão de Milícia e uma mulher da Tabanca". (...)

Na foto acima, de 2006, os tugas, da esquerda para a direita, o José Clímaco Saagum, o António Almeida, o Manuel Costa, o Aguiar e o Casimiro. Legenda de Albano Costa, foto de Hugo Costa (Guifões / Matosinhos).

Foto: © Albano Costa/ Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados

_____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10043: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (2): Gazelas em Mansambo

Guiné 63/74 - P10118: Em busca de... (194): Camaradas do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969 1971 (Carlos Alberto Pinto)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Alberto Pinto* (ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71), com data de 2 de Julho de 2012:

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal;
É com muito gosto que estou de novo a contactar a Tabanca Grande e Amigos da Guiné para, e se for do agrado dos Camaradas, dar conhecimento de que já consegui contactos de alguns dos ex-Camaradas do meu Pelotão de Reconhecimento Daimler 2208, que esteve a prestar serviço em Mansabá, Mansoa e Bissau de 6/2/1970 a 18/12/1971.

A partir desta data só tinha tido o privilégio de ter contactado, via Blogue, com o meu ex-Comandante do Pelotão, o ex-Alferes Ernestino Caniço e de o poder abraçar pessoalmente no VII Encontro em Monte Real no passado dia 21/4/2012.

Assim como também tive o gosto de poder conhecer e conviver naquele belo dia na companhia de todos aqueles ex-camaradas que lá estiveram presentes, entre eles tive o gosto de também rever o ex-Capitão Jorge Picado e o ex-Alferes Vacas de Carvalho.
Já mais recente no dia 10/6/2012 tive o gosto de cumprimentar os camaradas Vacas de Carvalho e o Jorge Cabral, no recente encontro do 10 de Junho em homenagem aos Combatentes mortos no Ultramar.

Monte Real, 21 de Abril de 2012, VII Encontro da Tabanca Grande > Na foto: De costas João Paulo Dinis, à esquerda da foto, de camisa branca, Ernestino Caniço seguido de Carlos Alberto Pinto

Mas a finalidade da minha visita ao Blogue é dar a conhecer à Tabanca Grande os nomes dos meus ex-camaradas já encontrados:
António Augusto Proença (Covilhã);
Mário Augusto Alves Francisco (Cantanhede);
Fernando de Oliveira Carneiro (Lisboa);
José Ramos Romão (Alcobaça);
Firmino Manuel Rosado Correia (Budens, Vila do Bispo, Algarve);

Os Camaradas que ainda não consegui encontrar são:
Manuel Domingos Fernandes (de Olhão);
Rui José Cabrita do Nascimento (Alcantarilha, Silves);
António Francisco Rosa (da mesma zona do Rui pois são primos);
João Manuel Leirão Barco (Alentejano);
José Francisco Galrito Potra (Alentejano) é ou foi Funcionário na Segurança Social em Entrecampos Lisboa.

Saudações
Carlos Pinto
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10065: Em busca de... (193): Pormenores do acidente de aviação que vitimou o Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva em Angola no dia 10 de Novembro de 1961 (Liliana Ramos)

Guiné 63/74 - P10117: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (54): Bula - A guerra das minas (4) - Imprevistos

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 1 de Julho de 2012:

Amigo Carlos Vinhal
Como deverás estar a ir de férias e para que descanses um pouco da “fazedura” das malas e te entretenhas (?!), cá vai mais um troço de “Viagem…” que mandarás para a valeta, assim o julgues.

À rapaziada que à falta de melhor faz (ia dizer goza, mas se calha era chato!!) férias… saúde, boa viagem, boa estadia, bom descanso e DIVIRTAM-SE

Abraços
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (53)

Bula - guerra das minas (4)

Imprevistos

Logo aos primeiros dias no campo minado, estou em crer não estar muito errado ao dizer terceiro, um “Eleito” não esfacela um membro mas é crivado por estilhaços na cara.

Mais BUMMM… iriam acontecer por aqueles dias de inferno e altura houve em que a incerteza e o receio provocados pelas dificuldades na detecção de muitas minas começou a fazer com que a moralização que animava(?) o grupo “mineiro” praticamente caísse por terra para muitos, acabando por acontecer um “Briefing” com o Comandante e os “Eleitos”, onde se tentou ajuizar dos porquês e procurou arranjar uma solução de modo a serem minimizados os danos. O maior problema eram as bastantes e pequenas minas plásticas italianas que estavam deslocalizadas à toa e muitas das vezes difíceis de encontrar dada a sua dimensão e só serem detectáveis pela pica ou pelo pezinho, sendo claro que neste ultima situação relativamente fácil de acontecer, perdoem a ironia, se economizava tempo e trabalho na sua neutralização !!

É bom de ver que a reunião não passou de uma sessão de “psícola” não se encontrando solução alguma ou por outra, como “perguntar não ofende (?)” ainda aventei, santa ingenuidade a minha, da possibilidade de um veículo rebenta – minas, aquele do género bulldozer com correntes rotativas que já à altura existiam, pelo menos noutros exércitos e que poderia ser usado na maior parte do campo. É claro que fui logo perguntado “você está maluco…?” para propor uma tal solução e em pensamento na certa, se era parvo ou imbecil! Para além de não ter achado graça nenhuma, fiquei foi com a impressão de que o homem me “tirou o azimute”! A ver iria.

Perante a resposta e o tom, deduzi que a nossa Engenharia não tinha essa maquinaria nem outra, que um brinquedo desses seria muito caro e como tal, havia substitutos bem mais baratos tais como a nossa cabecinha pensante, as nossas mãozinhas c’as picas e facas em conjugação c’os nossos pezinhos, à mesma eficientes na resolução do problema, mas de manutenção e eventual “oficina” talvez bem mais em conta! A relação custo – benefício era (é?) normalmente decisora da opção.

Pelo meio de BUMM… e mais BUMM, sinónimos de estropiação e mais estropiação, situações que não tenciono abordar à excepção de uma, por a meu ver ser inédita, lá fomos carpindo e digerindo muito mal os dias negros que nos iam assolando. Mais não aconteceram por, sei lá, até porque para alem das contingências “normais", imprevistos potenciadores de desastre aconteciam. Um que hoje recordo e tentarei descrever, pode talvez fazer rir ou pelo menos sorrir ao imaginar-se a cena, mas à altura… podia bem ter descambado em tragédia, bem grande se a dimensão fosse outra.

No meio do campo minado e em dia acalorado andam os “Eleitos” atarefados nas suas lides. Por lá me encontro também, armado com faca e pica e ataviado só com calção e as omnipresentes nessas situações, botas em couro de meio cano alto.

Em pé e peganhento de suor olho para o céu limpo, talvez num daqueles descansos em que era useiro para descompressão, quando dou por uma “formação” de abelhinhas logo ali, que velozmente se aproximam.

Aviso mas não sei se alguém me ouve já que de imediato a minha plena atenção se fixa na visita indesejada de todas ou pelo menos uma parte delas, que começam a passear-se umas pela cabeça e tronco a nú, outras esvoaçando e zunindo em prevenção e algumas fazendo explorações mais alongadas. Destas, uma mais militante, talvez com óculos de visão nocturna ou sensibilizada por qualquer odor atractivo (?) resolve inspeccionar mais a fundo e entra pelo parco e escuro(?) espaço entre o cano da bota e a canela.

Já tinha estado em situações idênticas, quer na minha terra como na Guiné em Capó (P-4031 de14 de Março de 2009) e conforme os ensinamentos adquiridos sabia bem que a hora era do ficar estático e “não pestanejar sequer” ou em gíria castrense “não mexe nem que um cara… lhe passe pela boca”(!) . Seria a única hipótese na tentativa de não sofrer ataque.

Concentrado ao máximo, um dos meus grandes problemas era conseguir ficar estático de modo a evitar que a “bendita que entrou pelo cano” fosse apertada e me brindasse com uma ferroada que em sequência provocasse um movimento instintivo que incitasse as outras ao ataque e aí podia estar feito, já que para alem das ferroadas, para o BUMM… era só preciso descontrolo e umas passadas ou nem tanto!

Após breve tempo que me pareceu infindo, as “queridas” deram às asas sem causar mossa, tendo a inspectora ainda ficado um pouco mais talvez a verificar algo de pormenor ou nauseada, obrigando-me a manter a postura de respeito submisso! Quanto aos “Eleitos” nada recordo mas creio que acabaram por não ser alvos e se calha ficaram a “gozar (!!) o prato”, digo eu !?

Imagine-se agora se o ataque tivesse sido em grande escala e múltiplo, como aconteceu em “Capó”, originando a debandada quase geral… podia causar um verdadeiro desastre. Felizmente assim não aconteceu e mais um dia que podia ter sido negro, foi ganho.

Luís Faria
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10006: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (53): Bula - A guerra das minas (3) - Acontecia... Bummm!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10116: Inquérito online: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte III) (Luís Graça / Hélder Sousa / José Rocha)


Sondagem realizada, "on line", de 28 de junho a 4 de julho de 2012. Opinião dos nossos leitores (n=115) sobre o conteúdo da afirmação do historiador francês René Pélissier sobre o nosso blogue ("É um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude")...

Como se pode avaliar pelos resultados expostos acima, as opiniões estão extremadas: uma maioria relativa de 48.7 % (n=56) concorda totalmente ou em parte com a afirmação do René Pélissier; outra parte dos nossos leitores, ligeiramente mais pequena (41.8%; n=48),  discorda totalmente ou em parte ... Apenas 1 em cada 10 parece não ter opinião.

Não se tratava de opinar sobre o historiador (e a sua obra) mas apenas sobre a percepção que ele tem do nosso blogue. Alguns dos nossos leitores acabaram por centrar-se demasiado na pessoa do mensageiro, ignorando ou escamoteando a sua mensagem. Pessoalmente, também discordei frontalmente da opinião do nosso leitor René Pélissier, que me parece redutora. De qualquer modo, todos os que votaram nesta sondagem e/ou expressaram os seus pontos de vista, são credores dos nossos encómios e agradecimentos. (LG)



2. Um dos nossos leitores (camarada, amigo e colaborador permanente) que publicitou e justificou o seu voto foi o o Helder Sousa [, foto à direita]... Aqui fica a sua opinião:

(...) Caros amigos e camaradas: Também exerci a minha possibilidade de votar e votei 'discordo'. Esta questão parece-me simples e fiquei um tanto admirado com o teor de alguns comentários que fui lendo.

Vi as coisas do seguinte modo: um senhor chamado René Pelissier, tido por 'especialista' em questões africanas e em particular relacionadas com Portugal, apreciou e comentou um livro dum camarada nosso, o Fernando Gouveia, que o escreveu a partir do impulso que a sua vivência no nosso Blogue lhe incutiu.

Por via disso, o René, para além de elogiar o livro "Na Kontra Ka Kontra",  acaba também por referenciar o nosso Blogue caracterizando-o como sendo "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude".

Também por via disso, foi colocado o inquérito para saber em que medida nos revemos nessa classificação.

Vamos por partes: temos, por um lado, uma apreciação a um trabalho de um estimado camarada e, sendo positiva (até podia não ser),  é agradável. Há depois a referência ao nosso Blogue. Não o hostiliza, não o ridiculariza, apenas o classifica segundo os seus (dele) preconceitos, segundo o que ele 'pensa' que é.

Discutir o René, é perda de tempo. Aliás, é inútil, porque o que quer que seja que se venha aqui a teorizar sobre os méritos ou deméritos do 'escritor', do 'jornalista', do 'historiador', não terão grande efeito para além da esfera da nossa audiência.

Portanto, fica a pergunta do inquérito. Não, não acho, que seja um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude. Aliás, grande parte dos comentários que se foi lendo explicam isso muito bem. Pode haver 'nostálgicos', isso sim. Nostálgicos da guerra? Alguns, sim!

Nostálgicos dos tempos da juventude? Também haverá, certamente, e como não poderia isso acontecer, se é normal que o avançar na idade faça muitas vezes recuar as lembranças? Mas não é essa a 'imagem de marca' dos milhares de textos, de poemas, de artigos, que por aqui vão passando.

É, para alguns, um acerto de contas com a 'sua' história, é 'blogoterapia', é tantas vezes o sublimar da amizade...

Ná, não é, definitivamente, "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude". É de gente solidária, veja-se a ajuda aos vários projectos que se vão desenvolvendo na Guiné, é até de 'filhos de veteranos', portanto o meu forte 'discordo'. (...)




3. Outro camarada, o José Barros Rocha (ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70), também expressou um ponto de vista pessoal e original sobre o tópico em apreço:

(...) Não se trata de uma nostalgia da juventude 'lato sensu' nem de uma nostalgia limitada a um período curto - 3 anos?! - da nossa juventude, apesar de, este, ter sido vivido em intenso ambiente de guerra.

Trata-se antes - e é esse, se bem interpreto o espírito da Tabanca - da comunicação pessoal das nossas vivências de tempos tão difíceis, tempos de imprevistos, tempos de incógnitas, tempos de indefinições.

É a libertação de alguns pesadelos, uma sessão de psicanálise, uma catarse, que se manifestam quer pelas palavras e quer também pelas fotografias com todo o seu significado intrínseco e intenso.

Por tudo isto, discordo frontalmente da opinião do 'historiador'. (...)

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10110: Sondagem: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte II) (A. Graça de Abreu / António Rosinha /Armando Pires / Carlos Nabeiro / J. Pardete Ferreira / Manuel Joaquim / Manuel Maia