quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10219: Bibliografia de uma guerra (59): Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial, de Manuel Luís Rodrigues Sousa

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa* (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 27 de Julho de 2012:

Envio para todos os meus contactos o link que suporta o livro que acabei de editar, em situação de pré venda na livraria online de www.sitiodolivro.pt.

Em breve estará à venda quer neste site, quer na livraria "Leya na Barata", na Av. de Roma, nº 11, Lisboa.

Vejam a apresentação do livro. Oportunamente, em breve, enviar-vos-ei uma apresentação mais detalhada do livro em pps.

http://www.sitiodolivro.pt/pt/livro/prece-de-um-combatente/9789892030685/

Cumprimentos
Manuel Sousa

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2. "PRECE DE UM COMBATENTE - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial"

Sinopse

Pela Pátria…

· Fomos arrancados ao convívio dos entes queridos, interrompendo e adiando promissores projectos de vida;

· Vivemos a pungente despedida do zarpar lento de um navio, pejado à proa de lenços brancos a acenar para outros que se agitavam no cais, pairando a incerteza de, um dia, podermos ali voltar;

· Aportámos em terras de África, cujo clima nos causticou a pele e nos tornou pasto fácil para turbilhões de insaciáveis insectos;

· Estreitámos relações com as populações nativas e as suas crianças que, no dia a dia, nos surpreendiam com os seus rituais, a sua cultura;

· Não resistimos à beleza das bajudas, (raparigas) vivendo com elas romances de “amor em tempo de guerra”;

· Calcorreámos trilhos e picadas, ora sob poeira asfixiante e calor intenso, ora sob chuvas tropicais diluvianas;

· Transpusemos linhas de água e pantanosas bolanhas que quase nos submergiam;

· Passámos fome e sede, bebendo, muitas vezes, a água insalubre das bolanhas;

· Fomos acometidos de doenças tropicais;

· Vimos rebentar minas sob viaturas e companheiros de armas, as quais deixavam rasto de destruição e de morte;

· Rastejámos e irrompemos sob o fogo intenso inimigo, debaixo do arrepiante sibilar das balas e dos estilhaços das granadas, ora a atacarmos, ora a defendermos;

· Como toupeiras impregnadas de pó ou de lama, abrigámo-nos do fogo inimigo nas labirínticas trincheiras dos quartéis, defendendo essas nossas posições;

· Vimos companheiros no campo de batalha a agonizar, balbuciando as últimas palavras que guardamos na alma como fiéis depositários;

· Disparámos para não morrermos;

· Pairaram sobre nós vorazes abutres, atraídos pelo sangue que nos jorrava da carne rasgada;

· Honrámos o nome dos companheiros que tombaram em combate, gravando-os de forma indelével em singelos monumentos, autênticas obras d’arte disseminadas no chão colonial africano;

· Sofremos mazelas físicas e psicológicas que nos vão acompanhar durante o resto da vida;

· Tivemos saudades que desfiámos em longas missivas na troca de correspondência com os familiares, namoradas e madrinhas de guerra, além do célebre “adeus até ao meu regresso”, difundido através da Rádio Televisão Portuguesa na quadra natalícia;

· Fomos irreverentes, brigámos, brincámos, rimos, cantámos e chorámos;

· Finalmente chegámos de regresso ao cais onde ternos abraços de saudade nos cingiram, contrastando com o drama daqueles que não tiveram a mesma ventura de abraçar os nossos companheiros, em cujo navio os seus lugares vieram vazios.

· Enfim, com sublime abnegação, tudo isto foi, por ela,

…LUTAR!


Ficha Técnica:

Editora: Edição do Autor
Colecção:
Data de Publicação: 08-2012
Encadernação: Capa mole - 398 páginas
Idioma: Português
ISBN: 9789892030685
Dimensões do livro: 149 x 210 mm
Capa / Paginação: Marco Martins / Paulo Resende
Depósito Legal: 343300/12

(Com a devida vénia a Sítio do Livro)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8310: As Nossas Madrinhas de Guerra (5): Avé-Maria do Soldado (Manuel Sousa)

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9250: Bibliografia de uma guerra (58): Pequenas partes do Lugares de Passagem aqui juntas com algum sentido (José Brás)

Guiné 63/74 - P10218: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (5): O baú do Zé Martins (Parte I): recortes de imprensa sobre a inauguração das lápides com os nomes dos militares mortos ao serviço de Portugal, junto ao Forte do Bom Sucesso, em 5 de fevereiro de 2000


Folheto do Ministério da Defesa convidando a população a assistir á cerimónia de inauguração das lápides com os nomes dos militares que morreram ao serviço de Portugal, a realizar dia 5 de fevereiro de 2000, em Lisboa, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar...


















Expresso, 5 de fevereiro de 2000










Jornal de Notícias, 6 de fevereiro de 2000


1. O nosso muito querido amigo, camarada e colaborador permanente José Martins [, foto à direita,] foi ao seu baú desenterrar a sua coleção de recortes de imprensa e outros documentos relativos à guerra do ultramar e aos antigos combatentes.  Das cerca de 4 dezenas de imagens digitalizadas que nos mandou, no âmbito do dossiê Monumento aos Combatentes do Ultramar, selecionámos estas... 

Por estes documentos percebe-se que o Monumento aos Combatentes do Ultramar é cronologicamente anterior às lápides com os nomes dos nossos camaradas mortos entre 1958 e 1974, na guerra do ultramar... O mural foi inaugurado em 2000. O monumento, da autoria de Carlos Guerreiro e Batista Barros, é de 1994. 

Agradecemos a sua gentileza. É também mais um contributo para o nosso Passatempo de Verão... Boa continuação de férias, para os nossos estimados leitores... que não ficam dispensados de nos visitar todos os dias... (Luís Graça,  a banhos, na Praia da Areia Branca).
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Nota do editor:

Último poste da série >  1 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10215: Guiné 63/74 - P10215: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (4): O soldado tranquilo, o soldado silencioso...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10217: Tabanca Grande (352): Ricardo Marques de Almeida, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim, K3, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Ricardo Marques de Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71), com data de 28 de Julho de 2012:

Caro amigo Vinhal,
Boa tarde e bem assim para toda a tertúlia da Tabanca Grande, onde também me revejo e, ter alguma coisa para dizer acerca da Guiné, enquanto ex-combatente naquela província.

Sou o 1.º Cabo 08922568, Ricardo Marques de Almeida da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 que esteve no Oio, sector 2, entre 1969 e 1971.

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2. Um poema meu escrito na minha primeira noite passada em Lamel:

Foi numa noite de breu
que tudo aconteceu
perdidos naquela mata!

Uma forte trovoada
com vento forte a soprar
e chuva diluviana
que até uma liana
não suportando o temporal
veio cair mesmo à frente,
onde eles estavam deitados
e num circulo apertados
mais parecia um festival.
Pondo à prova a sua mente
e num arrepio constante
deixaram de ter noção
do perigo que então corriam!
E pondo à prova o coração
deram um salto para diante,
e nas armas então pegaram
desafiaram a natureza
e com alguma ligeireza,
suas armas disparavam.
Também queriam tomar parte
daquele festival oferecido!
E com o coração dorido
de já tão empedernido
Gritavam
gritavam
Portugal! Portugal! Portugal!

Com um abraço
Marques de Almeida




 Ricardo Almeida, na foto de baixo com uniforme completo


3. Comentário de CV:

Caro camarada Ricardo Almeida, bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde acabas de entrar pela porta principal. Parece termos em perspectiva mais um vate.

Esperamos a tua colaboração com textos em prosa, ou verso como foi o caso de hoje, assim como em fotos que devem trazer as legendas respectivas para sabermos a data (se possível), o local e o nome dos fotografados. No caso da foto que hoje publicamos, os camaradas que estão contigo muito gostariam de ver os seus nomes referidos.

Tens que te habituar ao tratamento por tu, já que aqui na tertúlia não se fazem distinções de espécie alguma entre os camaradas da Guiné. Respeitamos as nossas diferenças, isto sim é uma norma a seguir. Sempre que utilizamos uma imagem ou partes de textos que não sejam nossos, devemos indicar o seu autor ou a sua proveniência. Não acalentamos discussões estéreis nem trocamos insultos. Os editores sentem-se no direito de não publicar ou eliminar os comentários que não cumpram estas condutas elementares de convivência.

Não te sintas atingido porque isto não é (só) para ti porque convém de vez em quando lembrar que para vivermos em comunidade, mesmo virtual, o respeito mútuo é fundamental.

Não sei se sabes, mas tens no nosso Blogue um camarada da tua Companhia, o ex-Fur Mil Carlos Silva, hoje advogado em Lisboa, que faz parte da Associação Ajuda Amiga que na Guiné-Bissau tem como alvo a tua tão conhecida Região do Oio, sector de Farim. Clica aqui  para saberes mais.
Por outro lado podes, e deves, visitar a sua página em: http://www.carlosilva-guine.com/, onde poderás recordar muito da tua Unidade e dos teus camaradas.

Já agora, por curiosidade, se bem te lembras, no fim da comissão quando o teu Batalhão saiu de Farim com destino a Bissau, indo pela estrada que começava no K3 e atravessava Mansabá, Cutia e Mansoa, nas imediações de Mansabá era a minha Companhia que estava a fazer a segurança enquanto vocês passavam.

Não tenho muito mais para te dizer, a não ser que deves enviar a tua correspondência para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores (Carlos Vinhal ou Eduardo Magalhães), cujos endereços estão no lado esquerdo da página.

Recebe da tertúlia e dos editores deste blogue um fraterno abraço de boas-vindas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10180: Tabanca Grande (351): Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932 (Cabedú, Catió e Farim, 1967/69)

Guiné 63/74 - P10216: Efemérides (106): Romagem ao Cemitério de Lavra, Concelho de Matosinhos, no dia 8 de Agosto de 2012, em homenagem aos militares mortos em campanha na Guerra Colonial (Carlos Vinhal)

1. Convite do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes para a cerimónia de Homenagem aos militares de Lavra - Matosinhos - caídos em campanha na Guerra do Ultramar, a levar a efeito no próximo dia 8 de Agosto de 2012, pelas 11 horas, no cemitério local.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10058: Efemérides (72): A nossa malta no 19º Encontro de Combatentes em Belém/Lisboa. 10 de Junho de 2012 (2) (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P10215: Guiné 63/74 - P10215: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (4): O soldado tranquilo, o soldado silencioso...

(,,,) Chamam-lhe o "soldado tranquilo" , ou o "soldado silencioso". Jaz em silêncio e aguarda. Chove , a terra abre  fendas e ele continua a emboscar. Já foram assinados acordos em cerimónias solenes algures,, em capitais longínquas, em pomposos salões, à luz de candelabros refulgentes. Inimigos apertaram as mãos e prometeram que "nunca mais". Mas nada disso lhe interessa. Os rumores acerca da paz não chegaram à remota parcela de terra onde ele se oculta em segurança sob a densa vegetação e onde espera, Esteve cá ontem, estará cá amanhã. Até cumprir o que lhe foi 
determinado (...).


Caro/a leitor/a: Quem será este "soldado tranquilo" ? A que realidade se refere o autor ou autora deste texto  ? Tente adivinhar e comente... Boa continuação do tempo de paz, de praia, de férias... Eu vou hoje começar as minhas... (LG).


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Nota do editor:


Último poste da série > 31 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10213: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (3): A arte nalu... em vias de extinção (António J. Perereira da Costa)

terça-feira, 31 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10214: Blogues da nossa blogosfera (53): Tabanca do Centro - Recordações da memória - O Arraial (Joaquim Mexia Alves)

1. Com a devida vénia ao Blogue da Tabanca do Centro e ao nosso camarada Joaquim Mexia Alves, reproduzimos a publicação de hoje, 31 de Julho, daquele Blogue.


RECORDAÇÕES DA MEMÓRIA - O ARRAIAL

Num almoço da CART 3492 que tivemos em Monte Real há uns anos, o António Azevedo, nosso médico no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.

Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar, para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo nas festas ou coisa parecida.

Conta também que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima.

Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!

Se fosse hoje, com o meu peso, esmagava-o!!!!

Se a história não for bem assim, peço ao Azevedo que a emende, (se por acaso a ler), e já agora que venha ter connosco numa Quarta feira para saborear o cozido à portuguesa!


"Resultados" na sala do soldado da primeira flagelação ao Xitole em 04.04.1972

Empenagens de granadas de canhão sem recuo recuperadas depois da primeira flagelação ao Xitole em 04.04.1972. Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.

Fotos: © Tabanca do Centro, com a devida vénia

Joaquim Mexia Alves
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10164: Blogues da nossa blogosfera (52): Estrada fora... de Gama Carvalho, a viver em Braga, e que esteve em Piche e Buruntuma, no BCAV 8323 (1973/74)

Guiné 63/74 - P10213: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (3): A arte nalu... em vias de extinção (António J. Perereira da Costa)


Trim-trim


Banda


Matumbó


Canoa inhominga


Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692/BART 1914, 1968/69 > Peças de arte nalu, da autoria do mestre Mussé, e que integram a coleção de arte popular da Guiné do nosso camarada António J. P. Costa, ao tempo alf art QP.


Fotos: © António J. Pereita da Costa (2012). Todos os direitos reservados










Guiné-Bissau  > Região de Tombali > Cacine > 2 cde março de 2008 > Visita no âmbito do Simpósio Interbnacional de Guiledge (1-7 de março de 2008) > Cacine vista de uma embarcação no rio... à esquerda o antigo posto de socorros no tempo da CART 1692... Ainda hoje a povoação, embora degradada, está coberto de magníficos poilões e cabaceiras.


Foto: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa [, cor art ref], que estava aqui, na secção das reservas, à espera dos nossos Passatempos de Verão (*):


Assunto - A arte popular da Guiné

Olá, Camarada:

Já levantei este tema e, agora que tudo parece perdido, julgo que devemos voltar a ele e divulgar.

É um tema que pode interessar aos ex-combatentes e aos coleccionadores.

Conheci, em Cacine, um único artesão da arte Nalu. Passava horas a esculpir numa madeira branca que se cortava com facilidade.

Era o Mussé que usava, na cabeça, um gorro de linha, julgo que fabricado pelos fulas. Entre a cabeça e o gorro colocava, com o fornilho para fora, um cachimbo artesanal, já muito usado.

Entre as ferramentas que usava,. lembro-me de uma haste limpa-para-brisas de Unimog, devidamente afiada.

Trabalhava sentado no chã, à beira-rio,  no sítio que a figura mostra, perto do posto de socorros civil (à esquerda da foto).

Um capitão que por ali tinha passado, tentou arranjar-lhe um aprendiz. O miúdo ficava ao pé dele, mas não me parece que aprendesse com o "Mestre".

Por mim, comprei algumas peças e não permiti que as pintasse. Costumava pintá-las "a Robbialac" talvez por já ter perdido o saber das pinturas ancestrais.

Comprei uma Banda que os dançarinos colocam na cabeça, com um dos bicos para frente. E um tambor - um Matumbó (em minatura) -, um pássaro da palmeira - um Trim-trim - e um par de canoas inhomingas, em miniatura.

Mas ele fazia outras coisas.

António Costa

2. Comentário de L.G.:

Poucos de nós conviveram com os nalus, durante a guerra colonial. Para quem quiser saber mais este povo, que habita o Cantanhez há cinco  séculos, recomenda-se um trabalho, já aqui publicado, do nosso amigo Pepito.

Recomendamos também os vídeos sobre os "donos do chão", disponíveis na página da AD - Acção para o Desenvolvimento,  no You Tube. São excertos de um filme que está a ser realizado por Pedro Mesquista, com apoio dos nossos amigos e parceiros da ONG AD - Bissau.

Os donos do chão nalu 2012

Cantanhez de Pedro Mesquita em 2010

[Pedro Mesquita, cineasta português, e a sua equipa têm estado a recolher imagens para um filme cujo título provisório é "Os Donos do Chão", e que precisa de apoios para a sua finalização. Restante ficha técnica: Argumento - José Marques; Edição - Micael Espinha/Roughcut; Produção - Pedro Mesquita, José Marques, Catarina Schwarz, Joana Roque de Pinho; Música - João Bernardo; Apoios : AD, IUCN].

De acordo com a lógica com que foi criado esta série Passatempos de Verão, esperamos mais contributos dos nossos leitores sobre este este tema: a arte popular da Guiné, em geral, e arte nalu, em particular.

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10196: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (2): O pangolim de cauda longa, do Cantanhez (António J. Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P10212: Do Ninho D'Águia até África (3): Uma pausa para reflectir, guerra é guerra (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)

1. Continuação da publicação de Do Ninho de D'Águia até África, de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Op Cripto, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177. O Tony Borié, natural de Águeda, vive nos EUA, Flórida, há 40 anos.


Do Ninho D'Águia até África (3)

Uma pausa para reflectir,
guerra é guerra

Ou se está no conflito, ou não se faz parte desse mesmo conflito. Isto é, o que qualquer e normal cidadão poderia dizer. O Cifra foi colocado em possível cenário de guerra. Tiraram-no do ambiente da sua aldeia no vale do Ninho de d’Águia, do seio da sua família, deixou de ouvir o comboio das seis e meia, que todos os dias o acordava, e de que tanto gostava, trouxeram-no para a cidade, com costumes e pessoas diferentes, deram-lhe uma instrução básica, concentrada em matar, ensinaram-lhe as partes do corpo, em como se matava, com prolongamento de dor, rápido, com faca, ou simplesmente com as mãos, ensinaram-no a manusear uma pistola ou uma metralhadora, e que a usasse, para disparar, contra um ser humano.

Embarcaram-no. Atravessou o oceano, e largaram-no dentro de um conflito, a milhares de quilómetros de distância da sua aldeia no vale do Ninho d’Águia, da sua família e dos seus amigos. Ficou na frente, e com uma arma nas mãos, a combater pessoas que não conhecia, e que não tinham nada a ver com ele, e de quem ele nada tinha contra. Só única e simplesmente, a tal frase, e o blá, blá, blá, de alguns dos seus instrutores, tal como o chefe do governo de Portugal, de defender a bandeira e a Pátria, que é a sua mãe, ir para a guerra, em força, contra os canhões, marchar, marchar. Tudo isto a milhares de quilómetros de distância, da sua aldeia do Ninho d’Águia.
- Meu Deus!. Que injustiça!. Porque razão me mandaram para aqui? Estes naturais olham para mim, e vêm tal e qual, como eu os podia ver, se eles invadissem a minha aldeia, no vale do Ninho d’Águia!. Esta é uma verdade, que eu não posso esquecer, e me vai atormentar.

Isto era o que pensava o Cifra. Mas também sabia que todos os seus instrutores tentaram tudo o que sabiam para modificar todo o seu comportamento. Pois, nunca lhe explicaram que do outro lado, lá em África, também havia pessoas normais, com direito a viver uma vida normal, junto de suas famílias, criando os seus filhos, tratando dos seus animais, cultivando a sua terra, tomando banho na água do seu rio, construindo a sua casa, caminhando pela sua floresta, respirando e vivendo em liberdade. Liberdade essa que o Cifra nunca teve em Portugal.

Mas o que era isso liberdade? O Cifra, nem sabia o significado da palavra liberdade. Pois até à idade de fazer parte do exército de Portugal, nunca precisou de saber. Tinha toda a liberdade que os pais lhe davam na sua aldeia, no vale do Ninho d’Águia, que era o trabalho na agricultura, alguns trabalhos menores na vila, que ninguém queria fazer, mas o Cifra fazia, pois era o único meio de ter alguns trocados, tinha família, as ovelhas, os porcos, as galinhas, a represa do seu lameiro, o rio da vila, lembrava as raparigas suas amigas, que pelo menos mostravam que morriam de amores por ele, o seu comboio da seis e meia, que adorava ouvir o som do seu apito, quando descia o vale do Ninho d’Águia, em direcção ao mar. Que mais queria ele?

Sim, mas fora do seu ambiente familiar não havia de facto liberdade. Lembrava, quando a sua mãe Joana, num ano de seca, em que as terras do pinhal não deram trigo nem aveia, lá na sua aldeia, do vale do Ninho d’Águia, e com alguma angústia, pois queria dar de comer aos quatro filhos, foi pedir dinheiro emprestado, para comprar um porco bebé, na feira dos vinte e quatro, que haveria de engordar e matar, por altura do Natal, que era a única alegria que a família tinha, pois nessa altura, enquanto o pai Tónio não salgava as carnes que seriam o governo para quase todo o ano, era uma fartura, com rojões e tudo.

A pessoa importante da vila que lhe emprestou alguns trocados depois da mãe Joana lhe bater à porta, por duas vezes, pois da primeira estava sentado debaixo de uma frondosa árvore, na frente de sua casa, a descansar, no fim de talvez um lauto almoço, e mandou dizer pela criada, que lá trabalhava, ninguém sabia desde quando, e trabalhava pelo comer e vestir, mas era uma fiel servidora, e disse à mãe Joana:
- O senhor não pode ser incomodado agora, venha para a semana, Joana. Quer um bocado de broa? Se quiser, eu vou buscar sem o senhor saber?! Ande, leve para os garotos, que devem de andar com fome. Principalmente, o mais novo, o Tó d’Agar, gosta tanto da broa que eu lhe dou. Quem me dera ter um filho assim!

A mãe Joana apareceu na semana seguinte, a lastimar da sua sorte, e o dito senhor, além de uns grandes suspensórios, também usava um grande cinto, a segurar a barriga. Depois de a ouvir, quase suplicar, põe a mão no bolso da samarra, com pele de raposa na gola, tira uma carteira recheada de notas novas, e disse:
- Quanto precisas,  rapariga? Vocês não têm meio de controlar a boca aos vossos filhos?

A mãe Joana, a medo, lá lhe disse quanto era, ao que ele respondeu:
- É só isso, espera que não tenho aqui trocado, vou lá dentro e volto já.

Regressa com o dinheiro e um papel escrito que lhe estendeu, dizendo:
- Assina aqui. Ninguém sabe o dia de amanhã, com estas doenças novas, há morrer e viver, e vocês que andam sempre mal alimentados, e nesse caso, alguém terá que pagar.

A mãe Joana assinou, de cruz, um papel onde hipotecava todas as suas terras. Pagou, assim que pode, mas teve que ir a casa da dita pessoa, três vezes para reaver o papel, a desculpa era que o papel estava no banco da vila. Era assim o sistema. Pagava-se a dívida, mas ficava-se devedor para o resto da vida, obrigando o pobre a andar de chapéu na mão, curvando-se e dando lugar na rua ao senhor, que queria que o tratassem por Vossa Excelência.

Quanto mais miséria no País, e principalmente nas aldeias, mais força tinham esses senhores, protegidos pelo sistema, de governar e passar por cima de quem entendiam. Em outras palavras, quanto mais miseravelmente vivessem as populações, melhor era para esses senhores que controlavam os bons empregos, a que só a família e alguns amigos, que se curvavam, tinham acesso, e beneficiavam de todas as regalias que o governo de então proporcionava a alguns.

Outros tempos... O seu Portugal, a tal Pátria que os seus instrutores constantemente lhe diziam que era a sua mãe, que agora defendia, sem saber de quê e qual a verdadeira razão, era um País de uns quantos. Assim lhe explicavam agora alguns companheiros, já mais vividos, que como ele se encontravam na mesma aflita e angustiante situação. Mas o Cifra não sabia, não foi treinado para isso. Foi treinado para matar, custe o que custar, a palavra final era sempre, em frente, contra tudo e todos, não importa a razão, se necessário for, não hesites, mata, para isso tens uma arma nas mãos e para isso te ensinámos a manuseá-la. Pode custar a vida a uma, duas, ou centenas de pessoas, não importa, não ouças ninguém, vai em frente, em força, e mata, a Pátria é a tua mãe, (não a verdadeira mãe, que era a Joana), mata e morre pela Pátria, não importa que a guerra seja injusta e não tenhas nada a ver com estas pessoas.

Isto foi o treino, contínuo de dias e dias, que chegou a meses, em que os companheiros se envolviam em luta de treino para melhor aprenderem a maneira de se ferirem uns aos outros. No meio de todo este cenário, o Cifra, todas as manhãs, tirava uns minutos de reflexão, meditando e tentando não perder os sentimentos de honestidade que a mãe Joana e a avó Agar, de quem herdou o nome, lhe ensinaram.

Nos seus momentos de reflexão, o Cifra tinha a firme certeza de que não tinha sido bem treinado. O treino a que o submeteram não resultou em pleno nele. Entre muitas, havia três fortes razões para pensar assim. Primeiro, odiava esta maldita guerra, segundo, não estava motivado para conflitos, terceiro, nunca teria coragem para matar alguém.

Então por que carga de água estava num cenário que odiava? Cada vez se convencia mais de que as pessoas que o instruíram, ou eram fracos instrutores, ou o Cifra tinha uma mentalidade muito forte e não se deixou convencer de todo. De uma coisa o Cifra estava convicto, que era:
- Vou sobreviver e tentar sair vivo deste conflito, sem pelo menos, matar ou ferir alguém. E se para aqui me trouxeram, também daqui me vão levar, nem que seja num caixão, mas aqui, não vou ficar.

Pedia a Deus para que isso fosse uma realidade e se o conseguisse, a sua guerra estava ganha. E dizia a todos os militares, seus colegas:
- Se eu morrer, quero ser enterrado na minha aldeia do vale do Ninho d’Águia.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10190: Do Ninho d'Águia até África (2): Montando o Centro de Cripto (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)

Guiné 63/74 - P10211: Parabéns a você (453): Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso camarada Manuel Reis, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10207: Parabéns a você (449): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930; Francisco Palma, ex-Sold. Cond. Auto da CCAV 2748; Júlio Abreu, ex-Comando do Grupo Os Centuriões e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Paraquedista da CCP 121

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Guiné 63/774 - P10210: Ser solidário (134): A água potável já chegou a Cautchinké (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 24 de Julho de 2012:

Caríssimos amigos editores.
Junto a informação de mais um poço de água potável na Guiné-Bissau, por acção da Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau.
Gostava de a ver publicada no blogue de todos nós.
A descrição sobre as fotografias está a seguir.

Abraços fraternos do
Zé Teixeira


A ÁGUA POTÁVEL JÁ CHEGOU A CAUTCHINKÉ

Foi coroada de êxito a tentativa de encontrar água potável no subsolo da tabanca de Cautchinké no sul da Guiné-Bissau, para benefício da numerosa população com cerca de 100 crianças.

Segundo informações da nossa parceira na Guiné, a AD – Acção para Desenvolvimento, a ONGD local que promove a construção dos poços por administração direta, a nossos pedido, o poço agora aberto no fim da estação seca, apresenta-se com água em quantidade. Foi uma excelente surpresa para a comunidade populacional, que só muito recentemente soube que alguém, cá de longe, tinha pensado nela e se tinha disponibilizado para financiar a construção de um poço e um fontenário para que a água ali tão perto pudesse beneficiar diretamente a população de Cautchinké.

Até há pouco tempo a água para consumo era extraída de um buraco existente a cerca de dois quilómetros para onde escorriam as águas das chuvas sem qualquer garantia de salubridade.

Agora, segundo a AD, a água recolhida a cerca de 15 metros de profundidade tem boa qualidade, com a garantia de alguma salubridade pelo filtro natural que a própria terra lhe concede e pelos cuidados no isolamento do poço para que as águas à superfície não escorram para o seu interior.

A segunda fase será iniciada no fim da época das chuvas com a montagem do sistema de elevação da água através da energia solar e do respetivo depósito para que possam ter água durante as 24 horas do dia.


Início da construção

Ensaio sobre a qualidade e quantidade de água do poço

A água é boa, pelo que as mulheres utilizaram os alguidares para fazer tambores e expressar toda a sua alegria

As crianças tambem apoiaram fazendo pequenos rebocos...
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Julho de 2012 > Guiné 63/774 - P10139: Ser solidário (133): Conversas - Guiné-Bissau, dia 13 de Julho de 2012, das 21 às 23 horas, na Fundação Nortecoope em S. Mamede de Infesta - Matosinhos (José Teixeira / Tiago Teixeira)

Guiné 62/74 - P10209: A minha CCAÇ 12 (26): Outubro de 1970: o jogo do rato e do gato... (Luís Graça)








Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Imagens da progressão de um força da CCAÇ 12 (três mais grupos de combate, 1º, 2º e 3º), no subsetor do Xitole, na época das chuvas (as quatro ou cinco primeiras imagens de cima);  uma helievacução no tempo seco, no subsetor do Xime (última imagem). 


Imagens de diapositivos digitalizados, do  valioso e magnífico álbum fotográfico do ex-fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12 (1969/71), posto generosa e solidariamente à nossa disposição.  Natural de Leiria, é professor do ensino secundário, reformado,  é uma apaixonado jogador de damas e de xadrez, e vive em Setúbal. [Foto à direita, tirada nas margens do Rio Geba]


Fotos: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*)





Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971, mimeog., pp. 40-41




B. Comentário de L.G.:

No poema "Esquecer a Guiné..." que publiquei em 16 de junho de 2005, na I Série do nosso Blogue, mas que remonta ainda ao meu tempo de Bambadinca (13 de fevereiro de 1971), há uma referência aos páras da CCP 123 e a esta situação de guerra (Op Boinas Destemidas, de 1 de outubro de 1970)...


(...) Os páras 
Que matam à queima roupa,
E ainda se dão ao luxo
De contar os impactes,
Fotografar
E armadilhar os cadáveres. (...)

Recordo-me muito bem de os ter visto, no regresso a Bafatá, com paragem em Bambadinca, nesse já longínquo dia 1 de outubro de 1970, aos nossos valorosos camaradas da CCP 123/BCP 12... Estavam em cima dos Unimog, perfeitamente alinhados, disciplinados, frescos, profissionais, exibindo algumas das armas apreendidas aos "turras"... Davam-me a impressão de terem vindo de um piquenique. Contrariamente ao que nos parecia habitual - eles costumvam ser helitransportados até às imediações do objetivo -, a Op Boinas Destemidas (*) era uma operação terrestre, a "penantes". Igual a tantas outras executadas pela nossa "tropa-macaca". Repare-se que eles partiram ainda noite, às 5h00, de Bafatá, vêm em coluna auto pela estrada alcatroada (e segura) até Bambadinca e continuam, para o Xime, na nova estrada em construção, mas ainda não alcatroada... Às 7h00 já vão a caminho do objetivo: têm a vantagem da surpresa: nem toda a população do Xime é de confiança; alguém ficar de noite noite no quartel do Xime é sinónimo de operação no dia seguinte... E os "camaradas" que estão no outro lado, ali mais próximos ao alcance do obus 10.5 do Xime - Gundagé Beafada, Ponta Varela, Poindon, Ponta do Inglês -, ficam logo de sobreaviso...


Tenho ideia que esta cena do regresso dos páras, com passagem por Bambadinca, se passa depois do almoço, a meio da tarde. Lembro-me que as forças da CCP 123 estavam estacionadas frente ao comando de Bambadinca, aguardando provavelmente a chegada do seu comandante que dever ter ido transmitir pormenores do sucesso da operação ao comando do BART 2917... Rapidamente começou a circular no quartel de Bambandinca a notícia de que os páras tinham surpreendido 7 combatentes do PAIGC, em círculo, sentados, encobertos pelo capim... a meio caminho da mítica picada, antiga estrada, Xime/Ponta do Inglês... Caíram em cima deles, fuzilaram-nos à queima roupa e trouxeram 7 Kalashnikov novinhas em folha... Os atacantes teriam tido tempo de contar os impactes (só num dos cadáveres teriam sido contado 27 tiros!), fotografar e armadilhar os cadáveres... 


Quem conta um  conto, acrescenta-lhe um ponto... Vejo, agora, ao fim destes anos todos, ao ler a versão (oficiosa) que é contada na História do BART 2917, que as coisas não se passaram exatamente assim, ou seja como dizia por aqueles dias o jornal da caserna... 


As baixas mortais entre o IN foram de facto sete, em princípio,  combatentes, e o armamento apreendido foram 2 metralhadoras ligeiras Degtyarev e 1 LGFog RPG-2... Não havia Kalashnikov... As Kalashnikov que eu vi, faziam parte do próprio equipamento dos páras, ou pelos menos de alguns dos seus graduados. Esta CCP 123, do BCP 12, estava na época estacionada em Bafatá ou Galomaro, já não posso precisar, ao serviço do COP 7 (criado em agosto de 1969, no subsetor de Galomaro). A Op Boinas Destemidas resultou num duro golpe para  o PAIGC na zona. No entanto, quase dois meses depois, a 26 de novembro de 1970, as NT sofreriam, na mesma região, a mais violenta emboscada de que havia até então memória, e de que resultaram 6 mortos e 9 feridos graves, no decurso da Op Abencerragem Candente. Falaremos dessa operação no próximo poste desta série. No setor L1, como no resto da Guiné, jogava-se o perigoso jogo do gato e do rato...


Outros factos de relevo, referentes à atividade IN, no mês de outubro de 1970, no setor L1, segundo a história do BART 2917:

(i) 6 out 1970: Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos emboscou com LGFog e armas ligeiras durante 2 minutos em [XITOLE 9C9-92] um Grupo de Combate da CART 2716 sem consequências para as NT; perseguido por estas,  o IN retirou sem reagir; 


(ii) 13 out 1970:  Forças da CCP 123 realizaram a Operação Golfinho, patrulha de reconhecimento com emboscada, na região de Seco Braima [, subsetor do Xitole], sem vestígios nem contactos com elementos do IN;


(iii) 15 out 1970:  Grupo IN, não estimado, emboscou em Ponta Colia [,. subsetor do Xime,]  um Grupo de Combate da CART 2715 quando este montava segurança a uma coluna vinda do Xime, à sua aproximação; o IN utilizou LGFog e armas ligeiras; as NT reagiram imediatamente apoiadas pelo fogo de Mort 81 e Obus 10.5 do Xime, pondo-se o IN em fuga; as NT não sofreram quaisquer consequências;

(iv) 30 out 1970:   Grupo IN estimado em 5 elementos abriu fogo de armas ligeiras e uma LGFog da direcção de Madina Colhido, sobre o aquartelamento do Xime; as NT reagiram imediatamente ao fogo IN, após o que saiu um Grupo de Combate tentando capturar os elementos IN; julga-se que o IN quis espalhar a confusão dado que nesse momento se encontrava no porto do Xime uma LDG descarregando material e no aquartelamento se encontravam forças de escolta a uma coluna de Bambadinca.


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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)

(**) Op Boinas Destemidas, 1 de outubro de 1970 > Companhia de Caçadores Paraquedistas 123 > Desenrolar da acção

Pelas 5,00 horas, iniciou-se o deslocamento das forças que intervinham na operação, em coluna auto, de Bafatá para o Xime. 

Às 7,00 horas iniciou-se a progressão, rumo Sudoeste, pelo Norte de estada Xime / Ponta do Inglês.

Durante a progressão, quando as NT se deslocavam a corta mato, foi detectada e levantada uma mina A/P, a sul da bolanha de Madina [XIME 3F1-45]. O engenho foi levantado, assim como a carga de reforço, constituída por 7 kg de trótil, uma granada de bazuca e duas granadas de canhão s/r. 

A progressão continuou pela estrada Xime / Ponta do Inglês cerca de 3 km, após o que continuou paralelamente à estrada, pelo lado Norte e a corta mato. Depois de percorridos 1,5 km foi encontrada uma picada bastante batida no ponto da cota 27. Fez-se a exploração do trilho encontrando-se peugadas muito recentes. 

Entretanto, às 11,00 horas, ouviram-se vozes a cerca de 200 metros do local onde as NT se encontravam, e na direcção noroeste. Iniciou-se imediatamente uma progressão cuidada para o local de onde provinham as vozes, tendo as NT conseguido detectar um acampamento IN onde se encontravam alguns elementos. Devido à sua despreocupação, permitiram uma aproximação das NT até cerca de 20 metros. 

O pessoal instalou-se em linha frontalmente ao acampamento, o qual não pode ser cercado devido à densidade da mata. As NT abriram imediatamente fogo tendo abatido diversos elementos IN dos que se encontravam mais próximos, enquanto os mais afastados se punham em fuga desordenada. 


A reacção do IN foi muito ligeira fazendo apenas uma “roquetada” e alguns tiros de armas ligeiras sem consequências para as NT. O objectivo foi imediatamente assaltado, tendo-se encontrado 4 elementos mortos e diverso material. 


Montada a segurança, feita uma busca ao local, encontraram-se, já na picada, mais 3 elementos IN mortos, apesar de gravemente atingidos se tinham posto em fuga. 


Depois de recolhido o material e de ter sido passada revista aos mortos, as NT retiraram em direcção ao Xime, onde chegaram cerca das 12,05 horas regressando posteriormente, em coluna auto a Bafatá. 

Resultados obtidos:


(i) Baixas infligidas ao inimigo 7 elementos IN abatidos. [Estes elementos usavam fardamento esverdeado];


(ii) Inimigos capturados: Nada;


(iii) Material e documentos capturados ao IN:

- 2 M/L DEGTYAREV, municiadas; 
- 1 LROCK RPG-2; 
- 5 fitas M/L DEGTYAREV; 
- 5 tambores de M/L DEGTYAREV 
- 5 granadas de LROCK RPG-2 
- 12 carregadores de KALASHNIKOV; 
- 900 munições de KALASHNIKOV; 
- 4 bolsas para carregadores de KALASHNIKOV; 
- Cantis, marmitas, fardamentos, etc. 
- Documentos diversos. 

Fonte: História do Batalhão de Artilharia nº 2917, de 15 de novembro de 1969 a 27 de março de 1972 (Bambadinca, 1970/72), pp. 62/63 [Versão digitalizada, melhorada e aumentada, da autoria de Benjamim Durães, s/l, s/d].