quarta-feira, 1 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11515: Blogpoesia (335): Estamos à espera de quê ?...(J. L. Mendes Gomes)


Lourinhã > Praia de Vale de Frades > 10 de agosto de 2011 > Rochas antropomórficas...

Foto: © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados-



Estamos à espera de quê?...


Há salteadores prantados
No nosso quintal.
Roubam-nos os trastes
Onde dormimos.
Saqueiam as heranças
De nossos avós…

Nem o pão que guardamos
Com tanto suor,
Eles poupam…
Tudo lhes serve
Para levar nos bornais.

E nós assistimos,
Impávidos e serenos,
Como se tivéssemos morrido.
Só ladram os cães…
Ninguém lhes resiste…
Parecemos drogados,
Perante os chacais.

Não há carabinas,
Nem há varapaus.
Uma cambada de anjinhos
É o que somos.

Onde está nossa honra?...
E o sangue de heróis
Que nos corre no corpo,
Que deixaram os pais?...

Parecemos uns vermes,
Uns caracóis.
Só restam paredes,
E covas bem fundas,
Onde iremos parar.


Nem sinos a rebate,
Tocam nas igrejas!...
Ó cemitério
De palácios reais!...


Ovar, 1 de Maio de 2013, 20h58

Joaquim Luís M. Mendes Gomes
[ex-alf mil, CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11493: Blogpoesia (334): Regressei da Guiné (Joaquim Luís Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P11514: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (38): Respostas (nº 73/74): Mário Bravo (ex-alf mil médico, CCAÇ 6, Bedanda, dez 71/mar 72; e HM 241, Bissau, 1972); José Cancela (ex-sold apont metr, CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70)


Resposta nº 73 >  Mário [Silva] Bravo , [ex-Alf Mil Médico, que passou por Bedanda, neste caso pela CCAÇ 6, entre Dezembro de 1971 e Março de 1972 e depois por Teixeira Pinto, ficando o resto da comissão no HM 241, em Bissau]

Amigo e Camarada Luis Graça

Boa tarde: Começo por pedir desculpas pelo atraso na resposta ao questionário, mas chama-se a isto a " preguiça dos 67 ". Para simplificar, vou nomear as alíneas do questionário e responder :


1- Descobri o blogue em 2007.

2- Conheci o mesmo através do camarada Amaral Bernardo, aquando duma visita ao Hospital de Sto. António, Porto.

3- Sou membro [da Tabanca Grande] desde Janeiro de 2007.

4- Visito diariamente o nosso blogue.

5- Tenho mandado material para o Blogue. Não mando mais por falta de inspiração ou fotos alusivas à minha estadia na Guiné.

6- Conheço a página do Facebook.

7- Visito de modo semelhante o Facebook e o Blogue.

8-  [O que mais gosto:] A vertente informativa e de relato de acontecimentos relativos à vivência na Guiné.

9- Não há nada que possa definir como o que não gosto.

10- Houve uma época em que tinha algumas dificuldades em aceder ao Blogue. Essa fase passou e poderia estar relacionada com anomalias no meu PC.

11- O Blogue e o  Facebook representam um mecanismo de comunicação com antigos camaradas e amigos.

12- Já participei num Encontro Nacional e gostei. [ VI Encontro Nacional, 2011]

13 - Este ano não posso participar, pois coincide com uma comemoração familiar de importância relevante.

14/15- Sinto e entendo que o Blogue não irá sofrer de "agonia".  Poderá haver fases em que pode ter menos actividade, mas pode ser uma consequência da "crise".

Vamos caminhando e "siga a marinha" . Lembram-se deste dito atribuído a um major que conheci em Bissau.!!! Piadas de guerra !

E após responder a todos os quesitos, dou por terminado o inquérito e aguardo as conclusões do mesmo !!!!!!

Um grande ABRAÇO para todo o Comando do Blogue e também para todos os comandados. Boa saúde.


Resposta nº 74 > José [Manuel Moreira] Cancela [, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70]

[Foto à esquerda: O Cancela e a sua lavadeira. Foto da sua página no Facebook]

1) Em finais de dois mil e nove.
2) Por mero acaso,procurava no Google algo da Guine,.........e  Luís Graça &  Cmaradas da Guiné, bingo!
3) Sim [, sou membro da Tabanca Grande.] A partir da descoberta. [9 de fevereiro de 2009].
4) Visito o blogue] diariamente, e mais que uma vez.
5) Quase nada. Mas vou repensar. Como sabes, em dois anos de Guiné, também tive as minhas aventuras e desventuras.
6) Conheço [o facebook] , mas gosto mais de visitar o blogue.
7) O facebook para mim é mais uma campainha que avisa....Há qualquer coisa nova no blogue.
8) !!!!!!
9) Detesto o lavar de roupa suja, entre camaradas, e algumas histórias a cheirar a ficção.
10) Nem por isso.
11) Mais que muito, foi graças ao blogue que encontrei amizades fantásticas.
12) Sim.desde que o nosso encontro é no Palace Hotel, [em Monte Real], portanto desde 2010.
13) Claro que sim, fui dos primeiros a inscrever-me.
14/15) É meu desejo que continue,e vai continuar...
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11509: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (37): Respostas (nº 71/72): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74) e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70)


(...) Questionário ao leitor do blogue:
(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?


(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Guiné 63/74 - P11513: Bom ou mau tempo na bolanha (7): És pessoal do Lisboa? (Tony Borié)

Sétimo episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), Bom ou mau tempo na bolanha.




O Cifra abre o seu diário de guerra e nessa página lê-se que nesse dia, que era 4 de Novembro, que devia de ser de 1964, foi jantar a casa do Primeiro Sargento de uma parte da Companhia de Engenharia que estava estacionada em Mansoa durante a construção do novo aquartelamento, e que vivia com a esposa na vila, sendo o responsável por tudo o que dizia respeito a cimento que se usava nas obras do aquartelamento. Dizia-se que o camião de três rodados que transportava os sacos de cimento da capital, não era lá muito seguro, pois deixava “cair” alguns antes de chegar a Mansoa, pois o referido camião quase sempre chegava pouco mais que meio. O Cifra era operador cripto, não era polícia, portanto vamos continuar a ler o diário. Foi um grande convívio, e comeu-se uma gazela assada no forno do aquartelamento, com batatas cozidas com a pele, regadas com muito vinho. Devia ter sido também batatas e vinho roubados no aquartelamento, não explica porque o convidaram, mas falando no forno do aquartelamento, devia ter metido o Arroz com Pão, que era o cabo do rancho e o “Tótó”, que era o padeiro e responsável pela distribuição do vinho, que eram seus amigos, e não faziam nenhuma “patuscada” sem avisarem o Cifra. Gostavam da “farra”, tanto ou mais que o Cifra.


Numas páginas mais à frente, vem a dizer, numa linguagem um pouco primitiva, que por certo vão desculpar, que veio à capital da província, no carro dos doentes, na companhia do furriel miliciano que andava sempre a fumar um cigarro feito à mão, que não tinham doença nenhuma, estavam única e simplesmente de folga das suas tarefas. Vieram sem qualquer licença, portanto “desenfiados”, andaram a visitar os pontos de referência que normalmente os militares visitavam quando vinham do “mato” à capital, meteram-se nos “copos” e não regressaram no carro dos doentes. Dormiram num local, que diz no diário que era “piolhoso”, próximo do quartel general, onde havia uma grande tabanca com muitas “moranças” e raparigas africanas, que não falavam crioulo, nem usavam somente um pano em volta da cinta, não tinham “mama firme” e argolas no pescoço e nas pernas a servir de enfeite. Não andavam descalças e vestiam roupas com uma cor “berrante”, justas ao corpo, principalmente a segurarem a mama, que já não era “firme”, lábios com alguma pintura, um perfume barato a cheirar a álcool, e com gestos sensuais e provocatórios. Quando se aproximavam do Cifra, já falavam aquelas palavras obscenas em português, que todos os antigos combatentes conheciam, e diziam mesmo:
- És pessoal do Lisboa? Queres água ou licor do Lisboa? Olha aqui, “mama firme”, anda dá “patacão”!


O diário continua a dizer que ao outro dia acordaram não sabem onde, mas sem perderem a calma, e com uma certa compostura, retiraram algumas garrafas já vazias de bebida, do seu redor, sem nenhum “patacão” nos bolsos, que não sabem se foram roubados ou se simplesmente gastaram tudo, e sentindo muito orgulho no que tinham feito, com o braço no ombro um do outro, pois mal se continham em pé, apresentaram-se no aeroporto militar de Bissalanca, pregando uma grande mentira, que tinham sido “agredidos e roubados”, mas que agora estavam bem, mas tinham que regressar já a Mansoa. O furriel Honório, o “Pardal”, pois era assim que era conhecido no aquartelamento em Mansoa, que tinha correio e medicamentos para Mansabá, trouxe-os na avioneta. Quando a secção de combate foi prestar segurança e recolher os sacos do correio, onde não havia correio nenhum, deparando com o Cifra e com o furriel miliciano, que andava sempre a fumar um cigarro feito à mão, ambos com um aspecto de pessoas abandonadas, logo disseram:
- Só podiam ser vocês, o comandante vai dar-vos uma “porrada”, que estão fod...!

O Cifra nunca soube porquê, mas nada aconteceu. Que “porrada” maior podiam levar, se tinham sido “agredidos e roubados”, e mesmo assim, obedientes, voltaram ao local de tortura?

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11483: Bom ou mau tempo na bolanha (6): A ida da sua aldeia para Nova Iorque (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11512: Agenda cultural (266): Último encontro do 1.º ciclo da tertúlia Fim do Império na Invicta, dia 9 de Maio, na Messe da Batalha/Porto


1. Convite que nos foi enviado por Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (hoje Coronel reformado e que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, 1964/66): 

Caros camaradas e amigos nortenhos, seria útil e agradável se pudéssemos contar com a presença de quem puder no último encontro do 1.º ciclo da tertúlia Fim do Império na Invicta, dia 9, na Messe da Batalha. 

Irei de Lisboa com o general Chito Rodrigues. 



Ficai bem, abraços de M Barão da Cunha 

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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P11511: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (18): Canquelifá, Pirada, Bissau, Gadamael (Carlos Costa, Carlos Ferreira, Mário Serra Oliveira, C. Martins)



Guiné > Bissau > c. 25 de abril de 1974 > As primeiras manifestações da população local: Abaixo a DGS... Viva o Spínola... Fotos do álbum J. Casimiro Carvalho.

Fotos: © J. Casimiro Carvalho (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


 A. Comentários ao poste P11470 (*), de 4 leitores (e camaradas nossos):

(i) Carlos Costa, ex-fur mil BCAÇ 4516  

Nesse dia estava eu em Canquelifá, a notícia foi recebida com natural surpresa e curiosidade de saber o que na verdade se estaria a passar. Escutavamos a rádio avidos de saber notícias. 

No dia seguinte o capitão chamou,  a uma reunião, sargentos e oficiais, comunicando-nos que tinha duas mensagens para nos transmitir, um seria dada a conhecer naquele momento e a outra passadas 24 horas. Assim a mensagem lida de imediato anunciava que estaria iminente mais um ataque do PAIGC. 

Passaram-se as 24 horas, debaixo de uma enorme tensão, à espera do primeiro "bum" que não chegou a acontecer. Foi então lida a 2ª mensagem que revelava ter havido os primeiros contactos do MFA com os movimentos de libertação das colónias, tendo sido acordado que as escaramuças seriam evitadas: não haveria mais ataques e, se encontros houvesse no mato, haveria apenas alguns tiros para o ar, sinalizando a presença, seguindo cada força em sentidos opostos. 

Os dias que se seguiram foram calmos,  com uma excepção,  com os paraquedistas em segurança de uma coluna,  um deles pisou uma mina, perdeu a vida. 

Como eu era do batalhão de intervenção da Guiné 4516, passado algum tempo regressámos a Bissau e,  até Setembro, mês do regresso à metrópole,  fizemos segurança à cidade.

(ii) Carlos Ferreira, ex-fur mil at cav,  3ª CCav/BCav 8323

Um dia inesquecível, para mim. Estava em Pirada, em uniforme nº. 2, pronto para embarcar numa aeronave, com destino a Bissau, via Lisboa, para gozar as minhas férias disciplinares. Nesse interim, fomos atacados pelo IN, com um potencial de fogo muito superior ao do ataque que tivemos em Março.

Saltei para a vala mais próxima e aguardei que acabasse a flagelação. Não houve vítimas militares, mas pereceram, creio que 8 senegaleses, que se encontravm ao balcão, de uma loja, de um comerciante local.

(iii) Mário [Serra] de  Oliveira [, ex-1.º Cabo Escriturário, BA12, Bissalanca, Bissau, 1967/68; empresário, vive atualmente nos EUA]

Preados camaradas:

Primeiro, refiro-me á mensagem do camarada Cerqueira (*), por mencionar Bissorã onde, se não estou em erro de nome, um amigo meu de apelidos Lavinas, tinha um café, cervejaria e restaurante. Lá dormi num fim-de-semana bem passado, já depois da independência.

No dia 24 de Abril, corria o "ram-ram" do dia-a-dia, comigo na cidade de Bissau às compras para o meu restaurante "O Ninho de Santa Luzia", localizado na estrada do QG.

No dia 31 de Março tinha feito as escrituras por trespasse (400 contos) na aquisição daquilo que foi inicialmente "A Meta" mas que, na ocasião, se chamava "A Tabanca", junto ao campo de futebol.

O local andava em remodelação, na intenção de abrir no 1º de Maio [de 1974].

Assim, eu ali na cidade, .tendo deixado a minha R4L estacionada junto ao café Bento, em frente da Casa Gouveia", oiço um alarido enorme vindo do lado do Grande Hotell, na estrada que segue para o QG. Olhei e vejo uma enorme multidão de africanos expressando toda a espécie de contentamento e fazendo alguns desacatos (especialmente nalguns carros por ali estacionados),  com gestos e algazarra diversa.

Ora, estando a minha famila para além da multidão, eu não sabia o que se tinha passado até ali, uma vez que o Ninho ficava na rectaguarda da multidão, na direcção do QG. Agarrei, meto-me no carro, entro na avenida e sigo direito ao Palácio. Faço uma direita, logo uma esquerda em direcção ao Ninho.

Chego, dei ordens para não se abrir...(seriam umas 11:30). Ali fui confrontado com uma situação de uma familia,  ainda meus parentes em 3º grau, cujo marido era radiotelegrafista da DGS. A mulher ali a choramingar, porque o marido (meu 3º primo) tinha saído para ir à DGS, passando antes pelo Dr. de crianças. Creio que foi o que lhe valeu porque, horas mais tarde,  a tropa ocupou aquilo, dando ordens a que todos os agentes se entregassem na Amura.

Já contei antes, noutra mensagem, que dali fui ao consultório do Dr. à procura de pai e filho, para acalmar a mulher e mãe. Encontrei-os e trocamos de carro porque o dele era conhecido como sendo da DGS e o meu não. A ideia seria...se atacassem o carro pensando que ia lá dentro um da DGS, eu mostrava a cabeça dizendo que era eu.

Porquê? Não era porque não tivesse medo mas sim porque eu tinha "boa reputação" entre o pessoal local. Ao mesmo tempo, com o meu primo na minha carrinha, confiei - e saiu certo - que não iriam atacar uma "coisa" minha, pela reputação do dono. 

Entretanto, eu tinha as chaves de um armazem que antes tinha sido a "fábrica das malas" na Estrada de Antula, junto ao Ninho, saindo da estrada de Sta Luzia, junto ao QG.

Ali escondi o carro do meu primo a quem dei guarida até o convencermos a entregar-se na Amura. Ele não queria mas lá foi. Depois foi com todos os outros para o Cumuré.

Entrentanto, vou à Tabanca e digo ao pessoal que "nem mais um prego" espetam até se ver como vão ficar "as coisas". Dali em diante..."turbulência" enorme e decisões nem sempre as mais acertadas. E por ali fiquei até 1981. 

Só abri a Tabanca creio que em Novembro de 1974, tal com tinha ficado no dia 25 de Abril de 1974. O 1º jantar foi um calote do Governo que demorou a pagar tanto como um bebé a nascer - não prematuro, mas com dias de atraso. Recordo que foram ter comigo ao Ninho para que abrisse "aquilo" para receber a 1ª delegação estrangeira à Guiné depois da Independência. Era da Argélia. Na ocasião, era o único local com ar condicionado, porque o resto ainda não estava nada a funcionar com deve ser. Só eu é que tinha algo operacional, excepto o Grande Hotel. O Pelicano não tinha ar condicionado que eu saiba. Ventoinhas, sim. Enfim, uma longa história já contada em parte.

Hei-de tentar arranjar as memórias para publicar no bloge "http://pidjiguiti.blogspot.com

Abraço a todos e Viva o 25 de Abril.

(iv) C. Martins [,ex-cmdt Pel Art 23, Gadamael, 1972/74]

Bem,eu estava em Gadamael,e após fazer a minha ronda higiénica,  liguei o rádio em onda curta e percorri as ondas do "éter"..."rádio Habana, Cuba, território libre in America", nada; "rádio Moscovo", nada; "Deutchsvella", nada: "rádio Globo", nada.."BBC.. golpe militar em Portugal, general Spinola, coiso e tal"... O  quê ?... Porra,.finalmente!...

Contactei o Sr. comandante H.Patrício, dizendo-lhe que estava a decorrer um golpe militar,e este pergunta se era o nosso General Spínola que estava à frente... E eu..claro que é.. (eram 7 da manhã e eu não fazia a mais pequena ideia)... Ah, sendo assim eu alinho...BOA.

Não houve a flagelação da ordem, já não saiu uma companhia para o mato  e o resto continuou tudo como dantes... Apenas troca intensa de mensagens com Bissau, que pouco ou nada sabiam,ou não queriam dizer.

Foi assim o meu 25A.

Guiné 63/74 - P11510: Parabéns a você (570): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1974)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11497: Parabéns a você (569): A nossa ilustre Enf.ª Pára-quedista Giselda Pessoa (BA 12, 1972/74)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11509: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (37): Respostas (nº 71/72): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74) e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70)

1. Respostas ao questionário do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74):

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Já perdi a memoria mas foi há muito 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Informação de camarada 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Sim mas não lembro de quando 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - Mais do que uma vez por semana 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Tenho enviado mas pouco irei fazê-lo mais 


(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Sim mas ainda não aderi 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Mais ao blogue 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - Por norma acompanho tudo 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Não gosto das polémicas que se geram à volta de determinados temas 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não tenho sentido 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - A importância que tem é tão grande, basta ver o numero de visitas, que penso já não se poder dispensar este trabalho em prol de todos para que a memoria não fique esquecida, faz-me lembrar aquele general Americano que deu ordem para que tudo fosse registado ate à exaustão pois podia haver alguém que um dia negasse que tal pudesse ter acontecido, este blogue é à sua semelhança algo muito próximo. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real? 
R - Gostaria mas ainda não sei se me vai ser possível 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Enquanto houver alguém que lhe dê “corda” não deve parar, tornou-se demasiado importante. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Gostaria de deixar aqui um apelo aos meus camaradas para que não façam deste espaço um espaço de divisão pelas opiniões expressas, cada um de nós é uma realidade e tem uma personalidade própria moldada pela vida que teve e pelo que a cada um é dado como experiência de vida, somos como somos e é neste diversidade que nos completamos como seres viventes. 

Um abraço fraterno,
Armando Faria

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2. Respostas do nosso camarada Raul Albino (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Mansabá e Olossato, 1968/70):

1 - Descobri o blogue em 2006, salvo erro. 

2 - Através do Mário Beja Santos, que me arregimentou. 

3 - Sou membro da Tabanca Grande a partir dessa altura. 

4 - Visito o blogue três vezes por semana, em média. 

5 - Gosto sempre de mandar material para o blogue, mas o tempo não abunda e estou a tentar ajudar um filho que perdeu o emprego. 

6 - Não conheço a vossa página do Facebook, porque nunca lá fui e sou discreto demais para exposições. Não gosto do uso e abuso que se faz dele. 

7 - Só vou ao Blogue. 

8 - Gosto praticamente de tudo no Blogue, com algumas reservas. 

9 - O que gosto menos no blogue é a incapacidade de fazer certas pesquisas específicas e limitadas, sem vir atrás um corrupio de "lixo" que não preciso. 

10 - Já tive recentemente grandes dificuldades em aceder. Tinha a versão 8 do Internet Explorer. Depois de actualizar para a versão 10, a situação melhorou. 

11 - O Blogue representou e representa uma troca importante de experiências com todos vós ex-militares, sobre a nossa amada ex-Guiné (agora Guiné-Bissau). 

12 - Participei em todos os Encontros (convívios), menos um, por motivos de força maior. Adoro estar convosco. 

13 - Estarei presente também no VIII encontro. Espero lá encontrar todos os que já são meus amigos, pelo menos. 

14 - Tem força animica para continuar. Mas cada melhoria vai sendo mais difícil de implementar, como por exemplo, a melhoria de pesquisa dentro do blogue, tal como foquei no ponto 9. 

15 - A única crítica que posso fazer é a de que não compreendo como nunca se concretizou a realização de jornadas para abordar o que se pretende obter com este item. E, no entanto, pareceu-me que já houve intenção de o fazer.

Raul Albino
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11506: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (36): Respostas (nº 69/70): António Rosinha (ex-fur mil, Ango9la, 1971; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, 1979); João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)

Guiné 63/74 - P11508: Blogoterapia (227): Nhabijões: dois anos, dois pedaços de vida que muito valem (Francisco Santiago, ex-1º cabo trms, CCS/BART 3873, Bambadinca, 1972/74, e monitor do Posto Escolar Militar, nº 69)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > 1971 > CCS/BART 2917 (1970/72) > O estado em que ficou o burrinho, o Unimog 411, depois de accionar uma mina anticarro à saída do reordenamento de Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971, por volta das 11h25. Duas horas depois, era acionada outra mina A/C por uma GMC. Balanço: um morto e seis feridos graves. Estes brutais acontecimentos já aqui foram narrados em verso (*).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem, com data de 28 de abril,  de Francisco Santiago, membro recente da nossa Tabanca  (nº 614) (**), ex-1º cabo trms, CCS/BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), ex-monitor do Posto Escolar Militar nº 69, no grande reordenamento de Nhabijões (1972/74):

Amigo Luís Graça:

Meus agradecimentos pelo comentário ao P11460 (*), na verdade a Guiné fará sempre parte das nossas vidas, por isso a vivemos desta forma...

Sobre a mina à porta de Nhabijões, devo dizer que senti um arrepio, lendo o sucedido, por alguém que viveu essa tragédia, pois visitei o buraco proveniente desse rebentamento...é como se tivesse vivido o momento !

Abrimos uma capelinha, feita no tronco do primeiro mangueiro, com imagem de uma santa oferecida pelo Capelão, julgo ter essa foto algures...

Nhabijões foi o que foi e não tenho razão de me queixar. Foram dois anos, dois pedaços de vida que muito valem... Mesmo sobre o acidente no Xime que ceifou a vida a três militares, já no nosso tempo, nos enchem de emoção intensa..

Renovo meus agradecimentos.

Os melhores cumprimentos, um até sempre pela admiração do vosso trabalho. (***)

Francisco Santiago
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde...Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)

À uma e meia da tarde...

Era uma hora e meia da tarde
quando o meu relógio parou,
na estrada de Nhabijões-Bambadinca. (...)


(**) Vd poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11460: Tabanca Grande (405): Francisco Alberto Cardoso Santiago, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BART 3873 (Nhabijões, 1972/74)

(...) Francisco Santiago:  Sê bem vindo,camarada!... Muito me contas: então foste

 'desterrado"' quase dois anos para Nhabijões... Estou curioso em saber as tuas recordações, boas e más, desse tempo...

No meu tempo (1969/71), a malta dizia que era um aglomerado populacional 'turra', sob duplo controlo... Depois fez-se o reordenamento, quase 300 casas, juntando os vários 'Nhabijões' num só...

Em 13 de janeiro de 1971, caímos em duas minas A/C à saída do reordenamento. Já aqui escrevemos muita coisa sobre este trágico evento... Também dormi lá, no destacamento, algumas boas noites (várias semanas)...

Enfim, temos que pôr a conversa em dia!...  Luis Graça (...) 


(***) Último poste da série > 10 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

Continuação da (re)publicação do texto Teresa,  amores e desamores, da autoria do nosso coeditor, jubilado,  Virgínio Briote,  ex-alf mil em Cuntima, CCAV 489, e comando em Brá, do 2º curso de Comandos do CTIG, tendo sido comandante do Grupo Diabólicos  (1965/67) (*)


(Continuação)

4. QUE ESTOU AQUI A FAZER?

“Temos que ser nós a pô-los daqui para fora, esta terra é nossa, não nos faltam apoios, é todo o mundo a dar-nos razão! Desde meados deste século, os colonialistas têm sido corridos de todo o lado, ficaram os portugueses e porquê, camaradas? Porque de todos os impérios, o deles é o mais atrasado, não só economicamente como também em termos culturais. Uma taxa de alfabetização baixíssima, um país inculto, atrasado, governado por um grupo de lacaios em nome dos interesses de meia dúzia de famílias. Por isso dizemos e insistimos, somos aliados do povo português na mesma luta contra o colonialismo e contra o fascismo. Mas esta situação, camaradas não duvidem, está a mudar e ainda vai ser no nosso tempo e vamos ser nós que vamos acabar com o colonialismo na nossa terra. Temos amigos em todo o mundo, URSS, Suécia, China, Noruega, Cuba, toda a África, toda a Ásia, todo o mundo, amigos que nos ajudam com armas, comida, medicamentos, técnicos. Mas temos que ser nós, camaradas, nós é que temos que fazer o trabalho aqui na Guiné e em Cabo Verde, pô-los daqui para fora!”

O partido precisa de todos nós, caboverdianos e guineenses, não posso deixar de contribuir com a minha parte, Benilde, há muito que conheces o meu modo de pensar, esta terra é pobre mas é nossa.

Não sei não, Vasco. Estamos tão bem agora, a nossa vida não teve um começo fácil, demos uma volta
tão grande na nossa vida, abandonámos a nossa terra, os nossos pais, e agora que a Teresa está tão bem nos estudos, todos os anos no quadro de honra, não sei que te diga, Vasco, temos levado uma vida tão sossegada, damo-nos bem com toda a gente, a nossa vida vai mudar tanto. Tenho medo, muito medo, Vasco!

Mas o partido necessita de todos, não viste o Aristides, com uma posição tão boa aqui, também abandonou tudo para ir com os camaradas. E tantos outros. Até agora tenho sido só simpatizante, uma vez ou outra colaboro quando me pedem, mas agora é a minha vez de participar mais activamente, não compreendes, Benilde?

Aqueles tempos calmos, com tempo para tudo, o sossego das tardes de Bissau estavam cada vez mais longe. Depois dos incidentes do Pidjiguiti (3), a vida nunca mais foi a mesma. Pide e mais pide, tropa todos os dias a chegar, incidentes em todo o lado, prisões durante a noite, a vida cada vez mais difícil. Benilde pensava muitas vezes em como era boa a vida na Praia, difícil a subsistência, mas o ambiente era outro, como era bom se o Vasco conseguisse ser colocado em Cabo Verde, na Praia ou no Mindelo. Chegou até a falar-lhe, mas ele não recebeu bem a ideia. Casaste comigo, as nossas vidas estão juntas para o melhor e para o pior.

Não te esqueças da Tesa, Vasco, lembra-te da nossa menina!

Benilde, a menina continua a estudar, se algo correr mal, voltas com ela para a Praia, para junto dos teus pais.

Teresa estava com 19 anos, vivia intensamente com a ansiedade própria da idade o que ouvia contar em casa e entre os amigos, as gloriosas lutas que se travavam nas matas contra a tropa colonialista, as tentativas de alfabetização das populações, nas escolas dispersas pelo mato, os progressos pela emancipação, o caminho irreversível para independência.

O relacionamento dela com aquele militar era motivo de reprovação dos amigos e do próprio pai. Coisas separadas, pai, não têm nada que ver, já não sou menina!

A mãe Benilde contou ao papá da tua visita, sabes? A princípio, ficou muito calado, continuou a comer, mas não ficou de muito boa cara, não. No fim de jantar, então falou, que ainda sou muito nova, que tenho muito tempo à frente. É mesmo a sério, virado para mim, que tudo indica que sim, não é? Quer conhecer-te, falar contigo quando te apetecer, claro, jantarmos todos, quando pode ser? Um dia quando, não pode ser amanhã?

A Teresa a querer saber novidades, a mandar recados pelo Alegre, chegara até a ir a casa do Sany. Paludismo forte, mas só, mais nada. Entrar em Brá não podia, não a deixaram, deixou recado, 2 abacaxis pequenos, um cartão, dois corações, uma seta neles, pingas da cor do sangue de saudades, um beijo imenso, maior que o embrulho, nem parecia dela.

Encontraram-se depois das febres. O jantar fica então para amanhã, 6ª feira, posso dizer à mamã? Mas espera, Teresa, jantar? Então, não ficou combinado, apresentar-te ao meu pai? Apresentar-me ao teu pai? Gil, as febres deitaram-te abaixo, precisas de te alimentar bem, recuperas num rápido! Mas, Teresa, apresentar-me ao teu pai, para quê?

Teresa no varandim, com aqueles olhos. A mãe como se fosse para a festa, música de morna, o salão grande, sente-se Gil, esteja à vontade, a Tesa faz-lhe companhia, vou ver as coisas, dá-lhe um sumo de ananás com pouco gelo, quer?

Sentia-se fraco, não lhe estava a apetecer nada estar ali, era bem melhor não ter vindo. Os dois sentados, ele a passar a vista pelo salão, a mesa ao canto, fotos antigas de outras terras, rostos desconhecidos, pau preto, a cadeira de palhinha, a luz suave filtrada pelos cortinados, o que estou eu aqui a fazer e os pais a entrar.

Ora viva, então, como, ah, senhor Gil, Gil quê, Gil Duarte, muito prazer, então? Sorriso sem palavras, cumprimentos, quer beber alguma coisa fresca, ah já está servido, então? Então nada, desta vez apeteceu-lhe mesmo responder.

Calor, hem, esta humidade não deixa a gente respirar, então? Então, como? Que vocês lá na metrópole tem um clima bem mais ameno, mais temperado, mas muito frio no Inverno. Acho que vocês nunca prepararam as vossas casas para o frio, se calhar porque estão lá só de passagem, não é, no regresso de todos os Brasis por onde andam, só param em Lisboa para descarregar o ouro, a prata, as madeiras, o sisal, café, cacau, tudo às toneladas, não é, gargalhada trocista. Assim! O pai da Teresa além de trabalhar nos escritórios da maior empresa colonialista, era também um humorista!

Talvez, nunca pensei nesse assunto, ainda não tive tempo. Na sua idade também não, pensava noutras coisas, não é, a Mabilde e um ajudante de travessas na mão, cadeiras a afastarem-se, então é melhor sentarmo-nos.

Galinha à cafreal, saladas, fruta por todo o lado, ananás, bananas, e para beber, cerveja, Casal Garcia, tinto do Dão, o que lhe apetece?

Então? De onde é o senhor Gil Duarte, o que faz na vida civil, os seus estudos, como vai a metrópole, o que dizem de lá, como vêem esta guerra, o Salazar está para durar? Não vai durar a vida toda não é, vem outro a seguir, já deve estar escolhido, claro, quem lhe parece que seja?

Que não estava a par, não fazia ideia. Mas esse assunto não é do seu interesse? Quando lá estive no mês passado, a estudantada andava toda alvoroçada, a guarda a cavalo em Coimbra, na rua da Sofia as lojas todas trancadas. Isto está um problema, senhor Duarte, não pode continuar assim, na vossa metrópole e aqui, a tendência é para agravar, a URSS, a China do Mao (4) , a própria América veja lá, a Suécia, a Noruega, o mundo todo, menos a Espanha do Franco, o vosso governo de portas fechadas em quase todos os países, agora até o Brasil, sabia? Servem-se da vossa juventude, quando regressam deixaram o melhor das vossas vidas, muitos deixam bocados deles aqui, outros nem regressam, não é?

O cafreal da galinha não passava, atravessado na garganta, não havia maneira de ir para baixo, sumo na mão, a da Teresa, a acalmá-lo, a brincar-lhe no joelho por baixo da mesa.

Que estava a par da agitação estudantil, que deveriam ter alguns motivos, mais outros da idade, adiante se veria.

E então, senhor Duarte, a Tesa o que é para si? A Tesa é muito boa menina, já reparou? Um bocado senhora do seu nariz, às vezes teimosa demais, muito boa estudante, até agora…

Como é que a conheceu? O senhor gosta mesmo dela?

5. MAIS DO QUE ESTAVA À ESPERA

Um interrogatório, perguntas atrás de perguntas. Depois, ofegante, braços cruzados, calada, a exigir respostas. O que é feito de ti, porque não tens aparecido, estás cansado de mim, já não tenho novidades para ti, vocês são todos iguais, espera, onde vais, toma nota do que te vou dizer, mas porque viras os olhos, já não me queres ver?

Olhos, uns olhos grandes, agora cinzentos de zangada, brilhantes, húmidos, ele quase esquecido de respirar, momentos de silêncio, tréguas.

Arrependimento a seguir. Coisas que mal a gente diz se arrepende logo, sabes bem como sou, tu também és assim, às vezes dizes coisas que não gostarias de dizer, não é? Mas diz-me, o que vês em mim, Gil?

Um feitio complicado numa figura agradável, Teresa. E o que conheces de mim que eu nem imagino? Não é possível continuarmos assim, Teresa, com esses modos não…

A força das mãos nos braços dele, os olhos molhados, a exigir-lhe silêncio agora, não digas nada de que te arrependas a seguir, pára um minuto só, pára! Pessoas a chegarem, a olharem para eles, os dois a olharem para o lado, como se não fosse nada com eles, os dedos dela a tapar-lhe a boca, a situação a alterar-se. Não posso, Teresa, já não tenho mais disposição para estar aqui contigo, boa noite!

Não se conseguia ver livre dela, só se desse escândalo, mãos dela no pescoço dele, não me deixes agora, sou tão tua amiga, deixa-me estar assim, só este bocadinho, as coisas que se dizem nestas alturas.

Como me podes fazer uma coisa destas, Gil, ele vencido, outra vez a história a andar para trás, tudo a correr tão bem para o fim, afinal nem tinha sido ele a desencadear as hostilidades e agora outra vez, tentativas para se descolar com meiguice, pior ainda, ela a arrastá-lo para o jardim, a empurrá-lo para a rede, em cima dele, vencido.

Isto está a ir longe demais, tens que parar já, é tempo para começares a pensar nos passos que vais dar para te saíres bem, magoá-la o menos possível, nada de choros, o que vai ser difícil, falar-lhe com calma, nem pensar em meiguices, alegar outros compromissos, cada um para o seu lado.

Passou pelo Bento, arranjou transporte para Brá, copo de água no bar da messe, desceu para o quarto, um bom banho e meteu-se na cama com os documentos que lhe deram na 2ª repartição.

“Cassaprica é o maior acampamento IN existente na área deste posto administrativo. Há um caminho bastante perigoso, porém muito importante, uma vez iludida a vigilância dos sentinelas, pois corta a retirada do IN para a república da Guiné-Conackry em caso de operação em Camissorã. Ainda o mesmo disse que em Bagadai perto de Cane Faque, estão a construir uma jangada de paus para transportar a Cane Faque e daí para Caule uma arma bastante pesada. Também informou que mais de metade dos elementos da guerrilha passou para Caule onde existe um acampamento e um pequeno estabelecimento. Que no entroncamento da estrada velha de Cacafal com a estrada de Cambeque, do lado esquerdo de quem vai para Cabo Nepo, junto a uma árvore grande, existe um abrigo onde o IN aguarda oportunidade de montar emboscada à tropa”.

Três folhas com os depoimentos de guerrilheiros apanhados. Tinham dito tudo o que sabiam e, nada de admirações, também coisas que só se lembraram quando lhe apertaram as unhas, a polícia dizia e assinava por baixo, localização dos acampamentos, disposição, nº de guerrilheiros em cada, armas, os nomes dos comissários políticos em alguns casos. Dentro de uma pasta, uma etiqueta na capa a classificá-los. Estivera a lê-los, o sono a chegar, enfiara-os na pasta e fechou o mosquiteiro.

No outro dia, no QG, quis dar andamento às informações que lhe tinham fornecido. Os documentos vistos outra vez um por um, notas ao lado, localização de guias, onde falar com eles, transportes, esboçar os planos de operações. Da 3ª rep ficaram de lhe dizer as melhores datas, meios, as horas das marés, as coisas do costume.

No VW preto de aluguer que lhe tinham entregue logo pela manhã em Brá, meteu a pequena pasta dentro do porta-documentos. Começou a descer para Bissau, um fim de tarde agradável, sentia-se bem sem saber porquê, nada que fazer agora, e se passasse pela casa da Teresa, para arrumar o assunto, era capaz de ser boa ideia, não?


Guiné > Bissau > s/d > "Av Carvalho Viegas"... Bilhete postal, nº 129, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

A rua sem movimento àquela hora, viram-se logo, ela deitada na espreguiçadeira com os cadernos espalhados pela relva.

Era ele, nem parecia naquele carro, onde o arranjaste, apetece-me sair, levas-me a dar uma volta? É só um instante, arranjo-me depressa, não vou mudar de roupa, só pentear-me, um minuto, ele dentro do carro, à espera.

O pai dela a subir a rua, olhos a cruzarem-se, teve que sair do carro, senhor Duarte, então? Muito trabalho, senhor Vasco? O costume, vocês dão-nos muito que fazer, que bom não é senhor Vasco, é…é… de facto. Então o que diz àquela história da orelha, senhor Duarte? Que orelha? Então, olhos fixos nele, o caso do hotel Portugal! Não sabe? Toda a cidade sabe, um horror!

Um grupo de fuzos (5) ao passar na esplanada do hotel, um deles destacou-se, directo a uma mesa cheia de pessoas de cor, puxou pela orelha de um, facalhão na mão, zás, cortou-a, a correr pela rua abaixo, a rir-se, o ferido cheio de sangue atrás, dá-ma, dá a minha orelha! Não é para rir, senhor Duarte! Um horror! É verdade! Não acredita? Testemunhas é o que não falta!

Não sabias ainda? Sempre metido em Brá, como podes saber, a Teresa parecia que tinha acabado de tomar banho, toda fresca a chegar, a dar um beijo no papá. Isto está cada vez pior, senhor Duarte, cada vez pior! Para onde vão? Tenham cuidado, isto está a ficar de cortar à faca!

Como da primeira vez em que saíram sós, pouco movimento a esta hora, o carro devagar, mal se ouvia o motor, pelas ruas a descer para o porto, o quartel dos fuzileiros, a caminho da Sacor. Encostaram o carro, o Geba orgulhoso lá em baixo, a Teresa a chegar-se, ele a abrir a porta, a pé pela estrada uns metros até lá à frente, a olhar para o rio, deu a volta por dar, olhou para o carro, a Teresa com uns papeis na mão, quê?

Deu-lhes a pressa aos dois, ele a voar sem correr, ela atrapalhada a meter tudo de qualquer maneira no porta-documentos. A cara dela, ah, que cabeça, já me esquecia, tenho uma lembrança para ti, lembra-me depois quando chegarmos a casa, a propósito, quando voltamos a jantar todos juntos? Mal respirava, palavras atrás de palavras.

Mas para onde vamos? Porquê, Gil? Ainda agora chegámos, que pressa é essa, que te deu, não falas? Não estou a perceber nada, Gil, andas tão estranho ultimamente, o que se passa contigo?



Guiné > Bissau > s/d > "Aspecto parcial e Câmara Municipal"... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


6. PONTO FINAL?

Estás mesmo tramado, todo enrodilhado, e agora, como é que te vais livrar deste sarilho? Não tem outro nome, sarilho só, com letras grandes. Se tivesses procedido com ela como tens feito com outros conhecimentos, não estavas agora aqui a matutar, a cabeça ainda por cima a doer-te. Tens pouca corda na mão, é o que é, deste-lhe demais e a ti também. Problema chamado Teresa, não? Como te vais sair dele, quando te resolves?

A Teresa fora um simples conhecimento, no início só para passar o tempo. Engraçou com dela, os olhos primeiro que tudo, atraíram-no, meteram-lhe medo e como os meninos curiosos quis espreitar, ela mostrou-lhe outras coisas que tinha com ela. Uma mulher diferente das que tinha conhecido aqui, estas sim só para passar as mãos pelas redondezas todas e depois parágrafo.

Nem conseguiu viver debaixo do mesmo tecto com a Matilde! Adiantou-lhe um mês de renda para a ter numa casa, equipada com tudo, apenas para os intervalos das guerras, tomar uma chuveirada com ela, levá-la ainda molhada nos braços para o quarto, um banho outra vez, vou dar uma volta, hoje não posso ficar, tardes e noites seguidas, sempre assim.

Nem conseguiu dormir com ela uma noite inteira que fosse, no início ainda disse que tinha compromissos no quartel, um serviço qualquer para fazer, ela a desconfiar que fosse outro motivo, mas não. Estou habituado à minha almofada, trá-la então, à minha cama, trá-la também, traz tudo contigo, mas não me deixes só que não posso. E deixou-a sempre. Teve pena muitas vezes de a deixar, custava-lhe suportar os olhos dela. Chatices que arranjou e arrumou sempre, melhor ou pior. Porquê?

Matilde, é simples, gosto de ti, o teu rosto, o cabelo negro que te fica tão bem assim, o teu peito pequeno e tão bem feito, a tua barriga lisa, as tuas coxas redondas, as pernas como acho que nunca vi. A tua figura toda, mas acho que tu e eu queremos outras coisas que os dois não temos. Só isso, mais nada, Matilde! De modo que é melhor seguirmos cada um o seu destino, amigos para sempre, quando te apetecer outra coisa comigo, se verá, estás de acordo?

Sacana, porquê? Matilde, não posso ficar mais tempo, tenho que me ir embora! Fica aqui um mês de renda para te arranjares.

Não queres, deita-o pela janela fora, faz o que quiseres dele, não me interessa, esse dinheiro é teu, um beijo, Matilde, não dás? Os outros casos foram entretimento para dois, sem dinheiros nem nada!

A Teresa já não é só Teresa como se apresentou da primeira vez, agora tem um nome mais comprido, Teresa Problema, proporções com que nunca sonhaste.

Os olhos, o sorriso, a figura, o andar dela, só isso? Ou terão a ver mais com outras coisas de que não estavas à espera e muito menos aqui? O gosto pela leitura, de assuntos em que nem tu próprio estavas sensibilizado, nem ainda estás, a solidariedade, o interesse pela sociedade guineense. A cultura geral, invulgar para a idade dela.

E a disposição para te afrontar, para lutar contra ti, contigo, puxar por ti, lutar pelos ideais dela, do povo dela! Para te dizer na cara, com aqueles olhos magníficos, aquilo que ela achava no seu direito de dizer. Os teus olhos a fugirem, os ouvidos que não queriam ouvir, tu a disfarçares, com a mão nela, como quem diz, vamos mas é ao que interessa! Um merdas, um Rasas, nem sempre com cheiro a uísque azedo, mas um Rasas na mesma! A aproveitares-te da sensibilidade dela, a fazeres-te caro, de um momento para o outro, a invadi-la com as tuas mãos, ela a acreditar em ti! Miserável, Rasas de merda!

Nem tanto assim! Mas que chatice! O que fizeste com ela este tempo todo, o que fizeram os dois juntos, afinal? Nada do outro mundo, brincadeiras, uma vez ou outra mais ousadas, mas nada mais do que isso, sempre travaste as tuas incursões e as dela também, e bem te custou às vezes, ninguém imagina! De resto, das tuas mãos está inteira, ou quase, não te lembras de lhe deixar marcas irreparáveis, fisicamente falando, claro.

Então porquê esta atrapalhação toda, porque não vais falar com ela, directa nos olhos, assim, Teresa, temos que alterar a relação que temos vindo a manter, não temos razões suficientes para prolongá-la, devemos dar por terminado o nosso conhecimento, não, não te amo nem um pouco, apenas comecei contigo porque te achei graça, tu também, pelos vistos, este tempo passado diz-me que é melhor não continuarmos, e pronto! Já agora, Gil, continua Rasas até ao fim!

Os olhos dela não acreditavam, continuavam insistentes a furá-lo todo, para onde fores vou atrás, senão sei lá o que faço! Inscrevo-me nas forças combatentes do partido, hei-de encontrar-te, nem que seja de arma na mão! Quero ver como te defendes! O que se diz nestas ocasiões, as mãos amarradas aos braços dele, depois largou-os de uma vez, um metro para trás a tomar balanço.

Como quiseres, tu é que sabes, não tenho que me impor a ninguém, não preciso! Tenho amigos, não me vou perder a chorar por aí! Fui ingénua pela primeira vez, vou ser outra e outra vez ingénua, infelizmente para mim.

Enganei-me, pensei que os teus sentimentos eram verdadeiros, que podíamos fazer vida juntos, afinal…mas não tenhas remorsos, a culpa foi também minha. No fundo, pensando bem, é melhor assim.

Já te vais embora? Espera aí, ouve! Há tempos, quando estava a ler um livro, algo me fez pensar em ti, de uma forma diferente do costume. Pensei que fosse impressão minha, mas não, agora já sei porque me lembrei de ti naquele momento.

Afinal, és exactamente o que pareces, dentro de ti não há calor nenhum. Como o gelo, quando se quebra é só água fria por baixo. Só tens água fria por baixo, Gil. Queres ir-te embora, não queres? Vai então, vai!


7. NOTÍCIAS OUTRA VEZ

“Não estranhes esta carta, não te vou pedir nada! Estive a fazer exercícios de Trigonometria até ficar cansada, já estive na cama mas não consegui adormecer.

Há dias que ando a tentar escrever-te, a certa altura paro para reler e rasgo. Tem sido assim, folha atrás de folha, acho-as sem jeito. Nem sei se deveria escrever-te. Estou a fazê-lo para mim, como se estivesse a falar comigo. De resto o que temos para dizer que já não saibamos, não é? E, fico-me a pensar, será também que a gente quer mesmo saber um do outro?

Tenho sabido notícias tuas, de alguém que te vê todos os dias, até já te viu a tomar banho à noite na piscina do QG. Só mesmo tu! Por acaso, falou nos colegas dele e tu és um deles. Como isto é tão pequeno! E uma noite destas quando saía da explicação, quase que me encontravas, mais um minuto e ficávamos frente a frente. Também foi melhor assim, não é? Olha, acho que desta vez vou mesmo conseguir escrever-te. Mas não quero que te sintas obrigado a responder, fá-lo só se tiveres vontade, sem obrigação. Mas quero dizer-te Gil, que gostava muito das nossas conversas, às vezes lembro-me e fico não sei como…

A mamã Benilde está melhor agora, mas o papá acha que é melhor ela ir a Lisboa fazer exames, ela não quer, mas o papá insiste, até já escreveu para as tias em Benfica, elas dizem que tratam de tudo, para a gente ir, a mamã não quer, que não pode deixar a casa, diz que não deve ser nada, a humidade é muita, o tempo também não ajuda, não é? Diz que só vai se eu for com ela, eu só posso nas férias e este ano é muito complicado para mim.

Estou a ter explicações de álgebra e trigonometria, numa sala em frente ao Pintosinho, é uma turma pequena, só raparigas, somos 4. O professor é um militar que chegou, parece que há dois meses, um jovem com muito bom aspecto, muito inteligente, elas andam perdidas por ele, tu nem imaginas, ficam a passear na rua, para trás e para a frente, à espera que ele saia, ele não lhes liga nenhuma, nem as vê, boa noite, até depois de amanhã. Eu por acaso, não simpatizo muito com ele, isto é, acho-o giro, mas ele só fala em senos, co-senos e tangentes, sabes como são os matemáticos, além disso, não te rias, não gosto muito da colónia ou aftershave ou lá o que é que (desculpa isto ir tudo riscado, ia escrever o nome dele mas ele não quer que se saiba) ele usa. É às 2ªs, 4ªs e 6ªs, das 9 às 11 da noite, às vezes um pouco mais tarde, depende. Estou a gostar muito das aulas, acho que ele explica muito bem, tem muita lógica a ensinar, também quem é que vai para Matemática, não é, só quem tem feitio para os números, para a trigonometria, só de ver os exercícios do Palma Fernandes, é de desanimar! Mas estou a gostar muito e acho que vou conseguir fazer a cadeira logo à primeira.

E tu, tens trabalhado muito no bar da cantina? É lá que estás agora, não é? Tem-te corrido bem a vida? Quando vais embora? A semana passada encontrei a Dora na Ultramarina. Disse que deixaste de lá ir, eu também já não vou lá há muito tempo.
E pronto, desta vez foi mesmo a sério, amanhã vou ver se te mando esta carta. É tardíssimo, sabes que horas são, quase duas e não tenho sono nenhum! Um beijo da tua amiga e, podes acreditar, para sempre tua amiga,

Teresa Correia
Rua dos Rouxinóis, Vivenda Correia, nº 14, Bissau.

P.S. Gil, quero pedir-te desculpa da minha reacção, a conversa apanhou-me desprevenida, eu já desconfiava mas mesmo assim não contava que fosses tão bruto, desculpa se magoei a tua cara, mas também me magoaste muito, na cara não, mas cá dentro. Mesmo assim não te sintas obrigado a responder. Escreve-me só se te apetecer.
Bom, agora é mesmo, tchau!”

8. PONTO FINAL

Encontramo-nos então logo à noite, agora temos que ir a um funeral. Quem morreu? Uma aluna do Ramos, morreu de repente, o funeral é agora às 3, o Manaças contrariado. É pá, se não vens depressa já não vale a pena, o Ramos no jeep!

Chegou-se a um grupo, o Daniel no meio a contar a vida no Xitole. E se fosse até à cidade? E foi, por ali abaixo, o calor a apertar àquela hora, sem trânsito nenhum, uma viatura militar ou outra, o rádio a tocar Capri, c’est fini, o chato do locutor não se cansava de interromper.

Deu a volta à praça do Império, meteu-se a descer a avenida, em direcção ao cais, uma mancha de pessoas lá ao fundo, muitos carros, jeeps e outras viaturas militares à frente dele, a afrouxarem junto à Sé, deve ser o tal enterro.

Pessoas a saírem da igreja, muitos jovens, a Teresa também deve ir ali, as roupas dos padres, a carreta a andar com o caixão em cima, quatro pretos de camisa branca e calça preta ao lado, muitas pessoas atrás, senhoras de véu, rostos mais escuros, deve ser o choro, não quero ver mais, que ideia que tive, vir cá abaixo a esta hora! O cortejo a andar, a virar para a esquerda, para a rua da Teresa, em direcção ao cemitério para os lados da Amura. Não quero ver mais nada.

Meningite, um ataque fulminante, pá! Uma miúda de 20 anos, vê lá tu! Ninguém pode estar descansado, porra! Uma chatice, pá, a mãe desmaiou no cemitério, a comunidade cabo-verdiana toda em peso, até pides lá estavam, pessoal dos correios, muita gente mesmo, o pai é muito conhecido…

“Como foi? Só uma dor. Mamã, não sei o que tenho na cabeça, uma dor muito forte, um saridon que a Benilde costuma tomar para as dores dela, não passava, disse que tinha frio, devia ser paludismo, que é que havia de ser, começou a chorar, não aguentava as dores, quando o pai pegou nela ao colo, que não podia com a cabeça, ele mandou logo a Mabilde chamar o doutor que a conhecia desde menina, ele nem demorou muito.

Quando o médico entrou no quarto e a viu, disse que não devia ser paludismo, que o pescoço estava muito rígido, depois olha, quando deram por ela, estava já desmaiada. Ainda foram a correr para o hospital. Foi assim que o pai contou”. A Dora, a Mabilde e a Cesária inconsoláveis.

A missa foi num final de dia. Os pais da Teresa, a Mabilde, muita gente do Liceu, estudantes e professores, a Dora, a Matilde, a Cesária e alguns amigos cabo-verdianos mais chegados. À saída, cumprimentou os pais, a Mabilde, os amigos. Foi a última vez que os viu.

© Virgínio Briote (2006)
_____

Notas do autor:

(4) Mao Tse Tung, na altura Presidente da China
(5) Fuzileiros

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Nota de L.G.

Último poste da série > 29 de abril de 2013 >  Guiné 63/74 - P11500: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (10): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte I) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

Guiné 63/74 - P11506: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (36): Respostas (nº 69/70): António Rosinha (ex-fur mil, Ango9la, 1971; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, 1979); João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)



Resposta nº 69 > António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou,  como ele gosta de dizer, colonialista em Angola de 1959 a 1974; cooperante na Guiné de 1979 a 1993]:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Desde o início

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Tudo que se escreve sobre as ex-colónias, vou lá.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Há uns 5 anos (?) [, desde 29 de novembro de 2006]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Mando o que vem à rede

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Não


(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Só blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Só blogue, está bem como vai indo.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Resposta anterior

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Tudo normal.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

O blogue diz pouco a muita gente, porque a Guiné diz muito pouco a muita gente. Representa para mim, muitos anos da minha vida pelos trópicos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Uma vez em Pombal ], 2007,] e gostei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não, em casa não sou só eu a definir prioridades

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Graças ao Graça e seus braços direitos pode durar infinitamente.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Está tudo bem, desde que quem andou aos tiros ou aos mosquitos e paludismo e regressou da Guiné vivo possa escrever para não esquecer


Resposta nº 70 >   João Martins [, ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


1 - Descobri o blogue em fevereiro de 2012.

2 - Foi o João Gabriel que esteve em Catió em 65/66 quem me indicou o blogue.

3 - Fui admitido em fevereiro de 2012, e logo comecei a escrever as minhas memórias a que juntei as fotografias digitalizadas a partir de slides, tendo enviado tudo para o blogue.

4 - Vejo o blogue diariamente, a não ser quando não me é possível.

5 - Não costumo participar porque gosto mais de ouvir do que de falar, e, frequentemente, sou uma voz crítica e discordante, o que pode chocar certas pessoas, mais sensíveis, que não gostam de ser contrariadas. Há quem prefira ser da "situação", eu, pelo contrário, como regra, pertenço à "oposição", seja ela qual for.

6 - Conheço o facebook.

7 - Vou lá de vez em quando para me manter informado acerca de outros pontos de vista, o que, apesar de se desviar do tema central, tem a vantagem de percorrer outros horizontes.

8 - Gosto de conhecer as experiências e os pontos de vista de todos os outros porque consigo aceitar outras ideias que sempre respeito e compreendo, e que me permitem aumentar e aperfeiçoar as minhas convicções.

9 - Não gosto de ataques pessoais se bem que saiba perfeitamente que calar é consentir, e que consentir é tornar-se cúmplice e co-responsável. E o pior, é que tenho conhecimentos técnico-teóricos e a experiência profissional que me permitem compreender que é porque nos calamos perante a má gestão governativa e situações em que uns "enriquecem", que outros conhecem o desemprego, a fome, a angústia, e até, o suicídio. Situações de que todos temos a nossa quota de responsabilidade porque fazemos muito pouco ou mesmo nada, e porque nos calamos.

10 - Nunca encontrei qualquer dificuldade em aceder ao blogue.

11 - Ir ao blogue para mim é o dever de, de algum modo, não esquecer todos aqueles que perderam a vida, ou que sofreram e sofrem a perda de familiares, pais, filhos, maridos...e também o dever de solidariedade para com todos os que física ou psiquicamente ficaram afetados ou diminuidos.

12 - Nunca participei.

13 - Este ano irei a Monte Real todo o fim de semana,  de 8 e 9 de junho,  para poder conviver com quem conheceu as agruras da guerra e cresceu e se tornou "homem" através do sofrimento, que, não sendo agradável, tem a capacidade de nos mostrar quanto somos "pequenos" e de um momento para o outro nos podemos "ir embora" pelo que devemos desenvolver laços de "amizade" e de "solidariedade".

14 - O blogue tem toda a razão de ser em memória dos camaradas que precocemente nos deixaram...e que não devemos esquecer, na medida em que há uma dívida de gratidão por liquidar. E o País, no presente, tal como no passado, não dá sinais de estar à altura de todo esse sacrifício e, quando assim é, resvala inexoravelmente para a sua perda de independência e para a sua auto-destruição.

15 - Receio que o blogue se torne num simples depósito de lugares comuns em vez de ser a voz daqueles que clamam por justiça e daqueles que, de algum modo, não esquecendo o muito que tão poucos fizeram pelos 5 continentes, exigem um País com futuro onde os nossos filhos e netos possam viver e trabalhar sem serem explorados. Um grande abraço para todos e até Monte Real. João Martins.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada César Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, com as suas resposta ao nosso questionário:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Finais de 2006 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Pesquisa no Google, procurando por camaradas do meu Batalhão 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Sim desde janeiro de 2007 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - Diariamente, várias vezes 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Mandei alguma coisa mas não sou muito assíduo. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Conheço, já a visitei, ultimamente aderi mas não sou muito fã do Facebook 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Ao blogue 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - A possibilidade de revivermos episódios que narrados por camaradas, ficarmos com a sensação de os termos vivido, tão semelhantes são com situações por nós vividas. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Temas desfasados dos tempos de Guiné. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não, já houve esse problema, mas actualmente é pacifico. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Ainda não descobri bem, mas todos os dias tenho que visitar o blogue, senão falta-me qualquer coisa, ajudem-me, digam-me o que é isto. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não, não tem sido possível. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Também ainda não será este ano. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Penso que sim, ainda há muita gente por aderir, ainda vão aparecer muitas histórias. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Tem havido algumas picardias, mas ainda bem, doutra maneira se calhar já tinha acabado o blogue.

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2. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com as suas respostas ao questionário:


(1) Há cerca de um ano 

(2) Através do nosso camarada Vinhal 

(3) Sou. Há um ano 

(4) Diariamente 

(5) Sempre que posso,e já há mais material na forja 

(6) Conheço. 

(7) Ao blogue 

(8) Comentários, do facebook as carinhas larocas 

(9) Gosto deles como estão 

(10) Não 

(11) É o local certo onde posso expor todas as minhas recordações vividas na Guiné e não só 

(12) Não 

(13) Penso ir conhecer esse grande batalhão 

(14) Ainda tem e terá e ainda vamos ser mais 

(15) Meu caro amigo não tenho críticas apontar 

Aquele abraço 
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11501: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (34): Respostas (nº 64/65/66): Francisco Henriques da Silva (CAÇ 2402, Có,Mansabá e Olossato, 1968/70); George Freire (CCAÇ 153 e 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau e Bedanda, 1962/63); António Estácio (, guineense, alf mil em Angola, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11504: Agenda cultural (265): Lançamento da edição fac-similada do livro "Tarrafo - Crónicas de um Alferes na Guiné", de Armor Pires Mota, dia 9 de Maio na cidade do Porto e dia 10 na cidade de Coimbra

C O N V I T E

LANÇAMENTO DA EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE "TARRAFO - CRÓNICAS DE UM ALFERES NA GUINÉ", DE ARMOR PIRES MOTA

- DIA 9 DE MAIO DE 2013, PELAS 16 HORAS, NA MESSE DOS OFICIAIS, NA PRAÇA DA BATALHA - PORTO

- DIA 10 DE MAIO, PELAS 15 HORAS, NA RUA DA SOFIA, SEDE DO NÚCLEO DE COIMBRA DA LIGA DOS COMBATENTES.


EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE “TARRAFO”
O ÚNICO LIVRO PROIBIDO DE TODA A GUERRA 

Armor Pires Mota que combateu na Guiné, entre 1963-1965, vai lançar no mercado, através da Editora Palimage, a edição fac-similada do livro "TARRAFO Crónicas de um alferes da Guiné", o único livro de toda a guerra colonial que foi censurado, recolhido pela PIDE e proibido de circular. 

A Edição fac-similada, apresenta, em toda a sua nudez, todas as anotações e sublinhados dos censores, o que faz de Tarrafo, que significa pântano, um documento único em toda a literatura de guerra colonial. 
Acontece isto nos 50 anos da mobilização do seu batalhão 490 de Cavalaria.

O primeiro lançamento de Tarrafo será no próximo dia 9 de Maio de 2013, às 16 horas, na Messe dos Oficiais, na Batalha, cidade do Porto. 

Presidirá à cerimónia o general Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes e integra-se na Tertúlia Fim do Império
Será apresentador o escritor, historiador e poeta transmontano, João Barroso da Fonte.

Entretanto no dia seguinte (10 de Maio) será apresentado em Coimbra, pelas 16 horas, na Liga dos Combatentes, Rua da Sofia, tendo a presidir à sessão igualmente o presidente da LIGA.


Livro incómodo para o governo e FA

“Este livro comporta, desde o início da sua escrita, muitas histórias de guerra, páginas escorrendo nervos, gritos, sangue e lágrimas, chagas, cicatrizes, feridos e mortes. Retrata a guerra em toda a sua violência e brutalidade, por vezes, ao pormenor com esta originalidade: era escrito na sequência dos acontecimentos. O que foi uma novidade no jornalismo, quando começou a ser publicado no Jornal da Bairrada (1964). Era uma ousadia, um desafio quase inocente. 

Mas a este livro, o primeiro sobre a guerra colonial, foi acrescentada uma outra história, única em toda a literatura da guerra. Após alguns dias sobre a colocação da obra numa única livraria, a Vieira da Cunha, em Aveiro, era incluído no número dos livros proibidos. Havia de ser censurado e recolhido pela PIDE. Foi considerado um livro demasiado incómodo, muito desconfortável para o governo. Afinal, havia guerra. Não escondia nada. Nem os mortos, nem o desânimo e as lágrimas, muito menos as aldeias incendiadas e seus nomes, os bombardeamentos e o tipo dos aviões utilizados nas operações”, reconhece o autor. 

Passados muitos anos sobre a sua apreensão e o 25 de Abri, “eis que, como que, por mera sorte do acaso, o exemplar censurado veio parar às minhas mãos”, realça o autor. Tem os carimbos do Ministério de Defesa Nacional e de “Confidencial”. “Rara é a página que não tem sublinhados a vermelho, no sentido vertical, à margem, ou na horizontal por baixo da palavra ou da frase, considerada corrosiva ou subversiva, no mínimo incómoda. Há também notas a lápis, deixando a impressão de que houve dois censores, qual deles o pior”.

Armor Pires Mota
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11449: Agenda cultural (264): Indie Lisboa 2013: A estreia, 4ª feira, na Culturgest, às 21h30, do filme de João Viana, "A batalha de Tabatô". O Jorge Cabral será o representante do nosso blogue, a convite da produtora... E 6ª feira, 26, às 23h00, há festa no Ritz Clube, com os "Super Camarimba"!