segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12105: Estórias avulsas (68): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro 2 (José Ribeiro)


1. O nosso Camarada José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões na CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72, enviou-nos mais algumas fotos de Galomaro:

Aspectos do 
Aquartelamento Galomaro 

Postal do meu orgulho pessoal.
Galomaro > Gen. Spínola discursando para a tropa presente.
Galomaro > Com a minha G3.
Galomaro > A malta das transmissões.
Dulombi > Operação no mato.
Cassamba > após ataque do IN.
Galomaro > Unimog destruído em emboscada.

Um abraço para todos,
José Fernando dos Santos Ribeiro
1º Cabo Trms da CCS do BCAÇ 2912

Fotos: José Fernando dos Santos Ribeiro (2013). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P12104: Inquérito online sobre o futuro das relações da Guiné-Bissau com Portugal, 40 anos depois da proclamação (unilateral) da independência em Vendu Leidi, na região do Boé, na fronteira leste com a Guiné-Conacri: Resultados finais (n=178)... Os pessimistas tem maioria absoluta (59 %), contra 17 % de indiferentes e 24 % de otimistas...

Os resultados da nossa última sondagem (de 21 a 27 do corrente) são conclusivos... Numa amostra (de conveniência, portanto de modo algum representativa da nossa população de leitores, amigos e camaradas da Guiné), e num total de 178 respostas, os pessismistas estão em larga maioria (59%)... Os indiferentes somam 17% e os otimistas não passam de 24%...


Resumo. Distribuição (agregada das respostas) (=178)

1/2.Muito (n=31) ou bastante (n=27) 
pessimismo (n=58) (32,6%)

3. Algum pessimismo (n=47) (26,4%)

4. Indiferença. nem pessimismo nem otimismo (n=30) (16,9%)

5. Algum otimismo  (n=36) (20,2%)

6/7. Bastante (n=5) ou muito (n=2) otimismo (n=7) (3,9%)

 Votos apurados: 178


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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores:



(...) Sondagem > 40 anos depois da independência da Guiné-Bissau, a 24 de setembro de 1973, vejo o futuro das relações (políticas, diplomáticos, económicas, sociais, culturais, etc.) deste país com Portugal com...

[Resposta numa escala de 1. Muito pessimismo,  a 7. Muito otimismo... Só se pode escolher uma hipótese de resposta.]


1. Muito pessimismo
2. Bastante pessimismo
3. Algum pessimismo
4. Indiferença. nem pessimismo nem otimismo
5. Algum otimismo
6. Bastante otimismo
7. Muito otimismo

(...)

Guiné 63/74 - P12103: (In)citações (55): Eu desejo acreditar na Guiné-Bissau, nos seus jovens, mulheres e homens de boa vontade, que trabalham nas bolanhas, nas matas, nos rios e no mar... (Paulo Salgado, ex-alf mil, cav, op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; cooperante)

1. Mensagem de Paulo Salgado, com comentário a propósito da nossa sondagem, que encerrou a 27 do corrente, sobre o futuro das relações da Guiné-Bissau com Portugal (*)


Data: 28 de Setembro de 2013 às 18:34

Assunto: As minhas ideias - à guisa de sumário


Luís e restantes Camaradas do Blogue,


Por diversas vezes tenho manifestado o quão importante foi para mim ter "regressado" à Guiné em trabalho da minha profissão [, como administrador do Hospital Nacional Simão Mendes, Bissau].

Tive oportunidade de conhecer grande parte do território daquele País Irmão (sim. repito, Irmão, sem qualquer pejo e sem deslumbramentos...), de contactar muitas pessoas, mesmo antigos combatentes do PAIGC.

Tive oportunidade de escrever alguns textos sobre algumas experiências que vivenciei.

Sobre o tema das relações entre os dois Países, direi o seguinte (é a minha opinião, claro):

Primeiro: As relações entre os nossos Países deveriam caracterizar-se pelo direito de reciprocidade (entenda-se: igualdade, solidariedade, justiça); nenhum tem mais culpa ou menos culpa de as mesmas decorrerem bem ou mal. Que fique bem claro: há muitos aspectos destas relações que poderiam estar mais transparentes e amistosos se Portugal tivesse uma postura mais proactiva com todos os PALOP - esta questão tem anos e nunca foi resolvida devidamente...

Segundo: Existem, desde há alguns anos, interesses externos que convergem para a ganância de uns tantos, através de processos indignos de corrupção. Sabemos todos quem são os mestres desta "aventura", comendo à mesa da corrupção activa e passiva (ou são as duas activas?), prejudicando o normal desenvolvimento e crescimento da Guine-Bissau.

Terceiro: Permito-me recordar algumas ideia do grande cineasta Flora Gomes (Atual - Expresso, de 18 de maio de 2013: «Tenho confiança que a África vai mudar. O problema é a velocidade a que as coisas hoje se processam, o que pode dar azo a novos atropelos. Temos muitos jovens formados cheios de boas ideias, à espera de uma alternativa.»

Eu desejo acreditar na Guiné-Bissau, nos seus jovens, nas mulheres e homens de boa vontade, que trabalham nas bolanhas, nas matas, nos rios e no mar... (**)

Paulo Salgado

[ex-alf mil cav, op esp.,  CCAV 2721, 
Olossato e Nhacra, 1970/72; 
administrador hospitalar reformado, 

domingo, 29 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12102: Convívios (534): O 1º encontro dos bedandenses em Peniche: 28 de setembro de 2013, sob a batuta do Belmiro da Silva Pereira (Parte I) (Luís Graça)


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > Na tasca secreta do Belmiro, o bolo do encontr0  > Depois da Mealhada, Peniche, que como é sabido é ponto mais ocidental de Portugal continental a norte do Cabo da Roca.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013  > No Cabo Carvoeiro, junto ao restaurante "Nau dos Corvos",  o Rui Santos (, um  dos veteranos, da 4ª Companhia de Caçadores Indígenas) e o João Martins, artilheiro: ambos passaram pela CCAÇ 6.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 
28/9/2013 >  
Cabo Carvoeiro, com as Berlengas ao fundo: Lassana Jaló, fula, da CCAÇ 6, ferido em combate, a viver em Portugal; o Gualdino José da Silva (fur mil, de 1967/69); e o Rui Santos.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Algures no promontório do Carvoeiro, onde atacámos a sardinhada... Da esquerda para a direita, o Hugo Moura Ferreira,  e o Belmiro da Silva Pereira ( ex-alf mil, 1969/71, hoje médico, e a alma deste encontro na sua adorada terra, Peniche).  Com o Belmiro, está o seu filho.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Em primeiro plano, à esquerda: o ex-cap inf, hoje cor  ref,  com 78 anos (que comandou a CCAÇ 6 em 1967/68), bem como o ex-alf mil médico João António Carapau... 

Em conversa com estes dois camaradas, descobri que o Mundo é Pequeno (e a nossa Tabanca... é Grande): o nosso "mais velho" nasceu na Lourinhã, em Reguengo Pequeno, tendo ido para Lisboa com um ano; aí fez a sua vida, seguiu a carreira militar, com comissões em Moçambique, Angola, Guiné, Timor e Açores... 

O João António Carapau, conceituado pediatra, está reformado do Hospital da Estefânia, vive na Portela, tendo sido amigo e vizinho do Prof Mário Faria, meu amigo e colega na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, e também ele alf mil médico em Moçambique (entretanto já falecido). 

Por nada deste mundo consegui convencer o "nosso capitão" a ir fazer uma visita ao nosso blogue: ele não usa o computador, não tem endereço de correio eletrónico e... "tem raiva a quem tem" (, que é uma maneira airosa de nos mandar à fava...).  De resto, é um homem de espírito e camaradão.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Aspeto parcial  da mesa dos bedandenses e seus amigos... Do lado esquerdo, o Fernando Sousa, o José Guerra (1º cabo,  1971/73) e o João Martins (pelotão de artilharia, 1968/69, o único que esteve ainda com o alf mil Belmiro Pereira da Silva).


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > O "patrão" da casa, Belmiro da Silva Pereira, dando as boas vindas.



Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Um artista português, do tempo dos Beatles... Ao fundo, ao canto esquerdo, um dos bedandendes de 1972/73, o Joaquim Pinto Carvalho, ex-alf mil, hoje advogado.


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > O Fernando Sousa  (, que é de 1971/73), mais a esposa, atentos à atuação do "one man show" que é o Belmiro  (que já foi diretor do Centro de Saúde de Peniche, e era meu conhecido das lides da saúde). Tem página no Facebook.



Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Uma  tarde bem passada, garantiram-me o Renato Vieira de Sousa (ex-cap inf) e o João António Carapau (ex-alf mil médico)


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > O "alfero" Joaquim Pinto Carvalho (Cadaval), à direita; mais o 1º cabo do SPM, Luís Nicolau, vizinho da Benedita, Alcobaça... São compadres - o Joaquim é padrinho de casamento de um filho do Nicolau. "Cumplicidades" bedandenses...



Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > O Hugo Moura Ferreira, que tomou a peito o desafio de "substituir", à última hora, o Tony Teixeira, que ficou de baixa, em Espinho. Tem página no Facebook.



Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > Da esquerda para a direita - Victor da Luz Calado, ex-fur mil do Pel Caç Nat 53 (maio de 1968 a maio de 1970, tendo estado em Bambadinca de novembro de 1968 a novembro de 1969!), o João Martins e o Lassana Jaló, o mais bedandense dos bedandenses... 

O Victor, alentejano de Almodovar, vive em Setúbal, e tem um belíssimo queijo de Azeitão, que eu provei!... O mais incrível é que estivemos juntos em Bambadinca, pelo menos 3 a 4 meses!... E não temos nenhuma ideia um do outro...



Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > As esposas: do Joaquim Pinto Carvalho (à ponta esquerda), do Gualdino José da Silva (ao centro), e do Hugo Moura Ferreira (à ponta direita; a Lorena viveu 4 meses na Guiné, no tempo da comissão do Hugo).


Peniche >  O 1º encontros dos bedandenses, em terras do sul... > 28/9/2013 > A tasca secreta do Belmiro > O nosso querido grã-tabanqueiro Belarmino Sardinha e a esposa, do lado direito... Brincámos com os apelidos: à sardinhada não faltou o Sardinho nem o Carapau... Foto das despedidas... à esquerda, de costas, o Belmiro...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição:   Blogue Lu
ís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O 3º e último encontro do pessoal que passou por Bedanda, com destaque para a CCAÇ 6, tinha sido na Mealhada, no passado dia 29 de junho último (se não me engano).  

Embora sempre gentilmente convidado pelo Tony Teixeira, de Espinho, nunca me foi possível alinhar, a mim e à Alice,  por razões de calendário. Mas desta vez não podia dizer mesmo que não ou arranjar qualquer desculpa: afinal, era aqui em Peniche, ao pé de casa, ou melhor, da casa da Lourinhã (, donde sou natural)... E nesse sábado eu estava lá.

Bom, o 4º encontro foi ontem, em Peniche, sob organização do Belimiro da Silva Pereira que foi alf mil da CCAÇ 6, em 1969/71. tendo juntado três dezenas e meia de bedandenses, familiares e amigos. 

O Belmiro já estava no 2º ano de medicina quando foi chamado para a tropa. Na altura não deu as habilitações académicas corretas, pelo que foi parar ao contingente geral. Mas alguém (creio que o capitão) descobriu  a marosca e o nosso Belmiro lá foi, contrariado, para a EPI, para o COM, em Mafra. Quis o azar que, depois, fosse parar com os quatro  costados ao então tão temido TO da Guiné. De rendição individual, como os demais, lá foi fazer a guerra em Bedanda, na CCAÇ 6.

Quem foi do seu tempo, ou que ainda o apanhou em Bedanda foi o nosso  grã-tabanqueiro João Martins. Dos bedandenses do blogue, ou meus conhecidos, estiveram presentes, além dos já mencionados (Hugo Moura Ferreira, Rui Santos e João Martins), eu, a Alice, o Joaquim Pinto Carvalho (que falta apresentar formalmente à Tabanca Grande), mais a esposa, Maria do Céu.  e ainda o Belarmino Sardinha e a esposa (têm casa no Cavadaval, e vieram com o Pinto de Carvalho). 

O grande ausente, por razões de saúde, foi o nosso querido Tony Teixeira, de Espinho. Para ele vai um especial abraço, com desejos de rápidas melhoras.

2. Entretanto, e em jeito de homenagem aos nossos amigos e camaradas bedandenses, aqui ficam alguns dos versos que improvisei, ontem, em cima do joelho. São quadras populares, de sete sílabas métricas, e onde refiram sobretudo os bedandenses que já conhecia:


Homenagem aos camaradas bedandenses

Se ele há crise, … que se lixe!,
Gritam alto os bedandenses,
Aqui presentes em Peniche,
Quer tugas quer guineenses.

P’ró Belmiro não estar só,
Veio o Sousa, veio o Guerra,
Veio o Lassana Jaló,
E até eu, da minha terra.

Não fui da CCAÇ 6,
Logo não sou bedandense,
Fui da 12, como sabeis,
E por isso bambandinquense.

Tenho-vos a todos no coração,
Mas faltei à Mealhada,
Amigo, camarada, irmão,
Aqui estou p’ra sardinhada.

Ao Tony estou obrigado
P’lo seu gesto de carinho,
Aqui estou eu, convidado,
E ele, retido em Espinho.

Quem faltou à sardinhada,
Foi o nosso amigoTeixeira,
Faltou-lhe a pedalada,
‘Tá desculpado, diz o Pereira.

Saúdo o Pinto Carvalho.
E os demais bravos alferos.
Gente de rimbimba o malho,
Sempre fortes, leais e feros.

O Rui Santos é o mais velhinho,
Da quarta, de caçadores,
De bajuda, foi paizinho.
Na Guiné teve dois amores.

[Ele e a esposa tiveram a primeira filha,
na Guiné, hoje com 50 anos]

Na guerra do anda e desanda,
Foi Martins o artilheiro,
Do grande obus de Bendanda,
E de tiro muy certeiro.

Hugo Moura Ferreira,
Outro grande tabanqueiro.
Tuga com eira e beira,
Foi de Bedanda o primeiro.

[A entrar para o nosso blogue, ainda na I Série, em 2006, portanto um histórico da Tabanca Grande]

Luís Graça

_____________

Vivam todos em geral,
Vivam todos os que aqui estão,
Viva o dr. Belmiro,
Mais o nosso capitão.


[Um espontâneo, o Gualdino José da Silva, ex-fur mil 1967/69]


De Bedanda para Peniche.
Numa bela sardinhada,
Que tremenda gulodice,
Com uma guitarra a vibrar.
Ó que bela rapaxiada,
Para seu passado lembrar!


Fernando Sousa

[É leitor do nosso blogue, fiz-lhe o convite para integrar a nossa Tabanca Grande, tem histórias para contar]

Vd. mais fotos (e vídeos) no Facebook > Grupo Bedanda / CCAÇ 6
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12062: Convívios (533): Confraternização anual do pessoal da CCAÇ 2797 e Pel Canh SR 2199, dia 5 de Outubro de 2013, na Mealhada (Luís de Sousa)

Guiné 63/74 - P12101: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (9): Continuação do balanço - Usos e costumes

1. Em mensagem do dia 23 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio, o nono, da sua série Pós-Guiné 65/67:


O PÓS-GUINÉ 65/67

9 - E A SAGA UMBIGAL CONTINUA

USOS E COSTUMES

(continuação do balanço)

Outro uso esquisito à brava, era aquele de todos comerem no mesmo prato. Punham lá dentro as mãos, embrulhavam a bianda fazendo bolas e metiam-nas na boquinha ávida.
Nisso não havia grandes diferenças com o que fazíamos no meu Alentejo, onde tragávamos todos do mesmo barranhão, mas aqui, cada um ia tirando para a sua própria malga, usando a sua própria colher.
E qu'alegria quando nos calhava também um pedacinho de conduto.

Experimentei, porque a psico assim o obrigava, amassando relutantemente, com o tamanho dos berlindes com que joguei na escola. Isto inicialmente, porque depois e porque o petisco até nem era nada mau... aviava... aviava, acabando por me tornar "garganêro" quanto baste.

E foi assim bastas vezes na tabanca em Farim, do meu amigo Felupe o 44, mas ao mesmo tempo, vinha a galinha de chabéu preparada por uma das suas mulheres e isso sim, era de comer e chorar por mais. Tudo regado naturalmente, com água de Lisboa, que eu levava num garrafão oval de 14 litros, mas do tinto para que não restem dúvidas.

Frango de chabéu - Foto: © Fernando Gouveia

Completava-se a refeição com um pedaço de ouvido de porco, outro da focinheira do mesmo animal, que previamente haviam salgado e cozinhado (ensinara-lhes eu) só para o "furriel", qu'eles não comiam, por via da religião, o que eu achava óptimo. Não comiam eles, mas deglutíamos nós depois no K3 o restante do "ólimal", o que era uma festa e aquela rapaziada estava sempre desejosa que eu chegasse.

Assavam o bicharoco em brasas de lume especialmente acendido para a ocasião, não sem que antes o besuntassem com toda a especiaria picante que por ali houvesse. O frigorífico a petróleo ficava vazio de bazucas nestas ocasiões e o vinho jorrava sim senhor, para além daquela bebida barata (50 pesos), o Vat 69, que nunca provara, mas que vira os cow-boys beberem, enquanto se matavam uns aos outros.

A princípio nem gostei por saber a tintura de iodo, mas depois de lhe ganhar o gosto, jamais abandonei. Hoje sorvo-o por imposição médica e às vezes até biso. A seguir e se houvesse qualquer operação na mata, parece que os IN's eram mais qu'a muitos quando afinal eram só muitos.

Oh maléficos benefícios do álcool!!! Só que então não havia disponíveis os vallium's, lexotans e quejandos.


E DEPOIS DO ABRIL DE 1974 

Passaram-se anos, foi-se tornando mais fraco aquele grito da "luta continua", insisto, curiosamente a mando dos que nunca lutaram... em bocas de quem tece elogios aos desertores e fugitivos e na destes.
Mas qu'a raio percebem eles de luta e do sangue que daí advém?
Calem-se de vez e respeitem os combatentes.
Utilizem "o povo unido jamais será vencido" a outra "o povo é quem mais ordena", ainda a outra "a terra a quem a trabalha" (Tá bem dêxa, - deixem-me rir - e quem é que foi ou vai nisso ainda hoje?).

Tentem que sejam verdades, mas não esqueçam o que disse um Presidente dum País que esteve lá onde se reúnem os deputados, coitados que tão sacrificados e mal vistos continuam. Foi o seguinte: "a política é para os políticos... o trabalho para os trabalhadores".
Outro, 1.º M cá do burgo na altura, ainda foi mais concreto: "não gosto nada de ser sequestrado... Bardamerda".

Era o PREC e hoje pergunto-me: "préc... é qu'isso serviu"?
O pobre povo acreditou, as ocupações iam-se dando numa fugaz tentativa de melhoria de vida e desejo honesto que tal se desse, e as "manifes" no único trabalho útil. Como dizia o antes citado, numa dessas demonstrações populares:
- "È SÓ FUMAÇA"... enquanto iam rebentando uns realmente fumarentos e barulhentos petardos ali mesmo no Terreiro do Paço.

E acrescentou depois: -
"O POVO É SERENO".

O resultado está à vista: Os pobres estão mais pobres, os coitados dos ricos mais ricos e até estes recorrem à sopa do Sidónio, à Cáritas, às igrejas... e alguns até vão de Mercedes, onde transportam as lancheiras que entram vazias e saem cheias.

Azedume? Qu'al quê!!! Realidades que magoam.


6 DE JANEIRO DE 1992

Enriqueci neste dia e o acontecimento para além do mais, fez-me esquecer as baralhações e a inquietude que me acompanharam nestes anos subsequentes à desmobilização e depois, e pior, após a revolução.
Contudo tinha boas vidas, familiar e profissional. Nasceu o meu primeiro neto que, para além do mais, foi um ouvinte atento e A GUINÉ SEMPRE PRESENTE.
Nunca me interrompeu (o que fez, sim, quando começou a falar)... e serenamente adormecia.

Contei-lhe as minhas vivências boas e de tal forma que ele agora ao ler os "Melhores 40 meses da minha vida" apenas diz: "Já conhecia".

Rejuvenesci, foram-se algumas dores d'alma... ganhei nova vida e a alegria foi tanta que proclamei:

- A PARTIR DE HOJE QUE ESTE DIA SEJA RESPEITADO, CONHECIDO E COMEMORADO, COMO O "DIA DE REIS".

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12069: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (8): Continuação do balanço

Guiné 63/74 - P12100: Blogoterapia (235): Quando a morte nos retorna aos princípios - Reencontro com Benjamim Lopes da Costa, 1.º Cabo do Pel Caç Nat 52 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
É empolgante quando alguém que estimamos profundamente e constou que tinha morrido nos telefona a dizer que tem saudades nossas, que nos quer ver com urgência, que no fim do mês regressa a Bissau, depois de uma longa estadia com tratamentos médicos.
Foi esta a grande alegria que me deu o Benjamim Lopes da Costa, um dileto colaborador que tive no Cuor, mesmo que em circunstâncias penosas houve que lhe dar voz de prisão, como aqui se descreve.
Há algo de muito forte nesta camaradagem da Guiné que não cabe nas palavras.

Um abraço do
Mário


Quando a morte nos retorna aos princípios

Beja Santos

Chama-se Benjamim Lopes da Costa. Tem 70 anos. Vive no Bairro da Ajuda, em Bissau. É funcionário reformado do BCEAO. Estudou e foi enfermeiro. Frequentou Bolama e chegou ao Xime, era o cabo Costa. Do Xime foi transferido, em Abril de 1969, para o Pel Caç Nat 52, em Missirá. Vinha substituir o Paulo Ribeiro Semedo, tragicamente sinistrado em Chicri. Dedico-lhe uma referência no Diário da Guiné, nas Terras do Soncó: “Chegou o Benjamim Lopes da Costa que veio substituir o Paulo. O Benjamim será um camarada inesquecível, mesmo quando, cheio de sofrimento, lhe darei voz de prisão após uma emboscada em que ele perdeu a cabeça e me chamou branco assassino”. Cordato, sempre leal, cooperativo, contei sempre com os seus primores de caráter. Aquela fatídica noite de 3 de Agosto, porém, foi um tremor de terra na minha existência, parece que um chicote me tagantou todo o sistema nervoso. Talvez valha a pena recordar o que sobre esse infausto evento se impôs escrever:

Mataste uma mulher, branco assassino!

Em 1 de Agosto, parto para Finete acompanhado de uma dúzia de colaboradores. Assentara com o Casanova e com o Pires o que havia a fazer em Missirá nesta primeira semana do mês, sendo que as idas a Mato de Cão nos seriam sempre comunicadas em Finete, para onde se deslocaria um contingente de 15 homens, respetivamente com morteiro 60, dilagramas e bazuca, e que aqui seria reforçado com milícias, e eu assumiria, sempre que possível, o comando. Continuávamos a ter muitos doentes, militares e civis, quase todos os dias o David Payne atendia sofredores de malária e múltiplos vírus. Levei rações de combate, colchões, mosquiteiros, o indispensável Lion Brand para afugentar a bicharada, algum material de engenharia para apoiar as obras em curso, e, a despeito dos vendavais e novas enxurradas de água, sempre dentro do ciclo "chove agora copiosamente, daqui a um bocado faz sol, troveja depois", recordo um tempo magnífico, patrulhamentos à volta de Boa Esperança, travessia até Canturé e descida até à bolanha de Gambana. Ao fim da tarde do primeiro dia, encontrámos marcas de sandálias de plástico em trilhos que ligavam Gambana até Malandim. Que desaforo! As gentes de Madina passeavam-se mesmo junto a Finete. A 2, conferi carga de material enquanto os Cabos Benjamim Costa, Domingos Silva, Alcino Barbosa e António Queirós ajudaram nas obras do novo balneário e de um abrigo reforçado, no alto do morro, com uma posição estratégica para os acessos de Malandim.

É nessa tarde que escrevo à Cristina: "Faz agora exatamente um ano que recebi uma guia de marcha para seguir para Bambadinca. Cheguei a 3 de manhã ao cais de Bissau foi uma longa viagem que acabou ao anoitecer no cais de Bambadica. Eu era o “periquito de Missirá”. Na tarde do dia seguinte, há de aparecer o Saiegh acompanhado de Mamadu Camará e Campino, todos me olham como curiosa novidade. Nunca mais esqueci o olhar do Saiegh, dois carvões iluminados, resguardados por pestanas muito bonitas, olhos como azeitonas brilhantes que não iludiam um grande ressentimento, como vim a comprovar. Nesse dia, em Missirá, a gente da Madina deixou na fonte panfletos a convidarem os "colonialistas" a desertar; na véspera, Uam Sambu, também não muito longe da fonte de Cancumba, viu o seu peito estilhaçado por uma granada mal armadilhada. Será uma noite muito difícil, esta primeira noite em Missirá: oiço uma língua que mal percebo, parece um português arcaico entremeado com diferentes linguajares, o que não estava longe da verdade. Choro mansinho dentro do meu mosquiteiro, num abrigo onde se ouve o tossir áspero do rádio de transmissões para onde o Teixeira de vez em quando se dirige e fala acaloradamente. Estou a dimensionar uma pavorosa solidão, depois de ter visto alguns despojos macabros que o Saiegh guardava em frascos. Desculpa as longas descrições, os pormenores entediantes, os sustos que te dei. Sei que sofreste muito com as minhas cartas, com os meus mortos e feridos, as flagelações. Desculpa tudo, estou certo que Deus assim andou connosco, e nos deu força".


Uma emboscada com uma crise de nervos

E, portanto, em 3 de Agosto vamos emboscar em Malandim, vamos mostrar a quem se abastece em Mero e Santa Helena que não estamos impassíveis ao descaro. Trabalhou-se até cerca das cinco da tarde, escolhi um grupo de quinze homens, cuidadosamente, com o auxílio do Benjamim Costa e do Domingos Silva expliquei como íamos atuar: ficaríamos em linha numa clareira, muito perto do mato denso que vem da destilaria de aguardente abandonada da fazenda de Malandim; ficaria no meio rodeado do Cherno e de Mamadu Djau; ninguém dispararia a não ser à minha ordem, e a haver uma retirada viríamos pelo trilho até Finete, deixando as sentinelas de sobreaviso quanto a essa emergência. Levara para Finete alguns livros, tais como "A vida de Charlot", por Georges Sadoul, um volume com as aventuras Sherlock Holmes, um belo livro policial de Ellery Queen, um romance que mal iniciei de Truman Capote e estava a meio de um policial de Erle Stanley Gardner, " O caso do pato afogado". Este último, envolto num plástico, acompanha-me até à emboscada de Malandim. Estamos devidamente posicionados quando a repentina noite tropical caiu sobre nós. Aqui e ali ainda se ouve um cantil que vai à boca, um mastigar de comida, um pedaço de cola que ajuda a passar o tempo e quebra a secura. Penso mais no dia de amanhã que no de hoje, amanhã quero levar as folhas dos vencimentos a Bambadinca, procurar trazer arroz, encomendar comida para a nossa messe em Missirá, ver se já chegaram alguns cunhetes para suprir as munições desaparecidas na noite de 15 de Julho. Em 5 de Agosto vou escrever à Cristina: "Não podes imaginar a dor com que te escrevo, estou chocado e não sei conter a amargura que me trespassa a alma. Tens que me ouvir. Montei uma emboscada na noite de 3 perto de Finete, onde estive até ontem. Aguardávamos com ânimo elevado a borrasca dos céus e o desfiar das horas, até alta madrugada. Eu estava estirado na pequena picada que conduz às ruínas da fazenda de Malandim. Silêncio sem o piar das aves até que, passava das sete, não estávamos ali há mais de uma hora, oiço o brado do Mamadu Camará que passa como um chicote pelas minhas costas: “alto, alto já!” Rodopio, há um vulto que avança para mim, é um manto que me parece esverdeado que vacila diante de mim, não sei se vem armado, crivo-o de balas, oiço um suspiro breve, é como se uma massa mole que me cai nos braços. Estala o pânico, ouvem-se passos em fuga, é naturalmente o grupo que se reabastecera em Mero que parte em fuga. Acometido por uma violenta histeria, o cabo Costa pragueja e insulta-me: “Matou uma mulher, és um branco assassino!”. Uns procuram dominar o dementado, outros querem caçar os fugitivos, é uma desordem geral que se cruza com a berraria do cabo Costa que continuava a vociferar e a insultar-me. Coisa curiosa, estou sereno, ordeno a retirada para Finete, aqui peço ao Bacari para ir buscar o corpo e os despojos, informo que vamos todos seguir para Bambadinca, sei e sinto que é necessário cortar pela raiz este sinal de insubordinação. Os quilómetros enlameados que levo até Bambadinca dão para pensar no que devo ao Benjamim Lopes da Costa, seguramente o mais culto dos meus cabos, sempre prestável, militar aprumado a quem reconheço a qualidade da solicitude e o valor da lealdade. Mas não se pode passar uma esponja sobre o que aconteceu". Atravessado o Geba, parece que corremos até à rampa de Bambadinca, em segundos alcanço a messe de oficiais onde Jovelino Pamplona Corte Real joga bridge. Cá fora fica o grupo acompanhante, tudo gente que presenciou os acontecimentos de Malandim.


Um diálogo extraordinário com o novo comandante

- O que o traz aqui a estas horas? 
- Meu Comandante, fizemos uma emboscada perto de Finete, surpreendemos um grupo que ia para Madina, matei um dos elementos, um dos meus cabos perdeu a cabeça e insultou-me, chamando-me "branco assassino". É indispensável que se reponha a ordem. Tem que ficar aqui preso. É a si que compete dar voz de prisão. 
- Homem, nem pensar. Na guerra, não se prende toda a gente só porque se perde a cabeça. Fale-lhe a bem, obrigue-o a pedir desculpa, vai ver que não houve insubordinação nenhuma. 
- Meu comandante, mantenho com todos os militares em Missirá e Finete uma relação de autoridade e estima que não posso nem quero perder. Não vou agora fazer um relatório com este episódio aldrabado. Não pudemos capturar o inimigo por este desrespeito, este ato insensato que estragou o patrulhamento ofensivo. Os meus soldados nunca entenderiam ter-se feito silêncio sobre este acontecimento. Aliás, não aceito desculpas aos soldados que adormecem no posto, nunca deixo passar em branco as tentativas àqueles que querem pagar reforços para fugir ao serviço. O cabo Costa ou é punido ou eu não volto para Missirá. 
- Acalme-se, vamos para o meu gabinete.

E fomos, eu fiz sinal para que todos viessem atrás de nós. Entrei a seguir ao comandante no seu gabinete, a luz acendeu-se, ele sentou-se e voltou a propor-me um exercício de cortesia. 
- Veja se serena. Quando se é implacável em excesso, corre-se o risco de perder o verdadeiro respeito que a tropa nos deve ter. O melhor é o cabo ficar aqui, eu converso com ele, eu trago-o à razão. 
- Não, meu comandante. O cabo Costa chamou-me branco assassino na presença de todos os camaradas. Sei que é um excesso, conheço as suas qualidades, mas a vida militar faz-se de exemplos. Ou ele entra na prisão à sua ordem, ou eu informo os meus soldados que a partir de hoje não os comando. E juro-lhe que não voltarei ao Cuor se não se fizer justiça pelas suas mãos. Asseguro-lhe que não volto atrás.

O comandante olha-me intensamente, o tempo suficiente para perceber que era escusado tentar demover-me. Não estou em pânico nem exaltado, a dor que me atravessa não é reparável por qualquer voz de prisão. 
- Bom, vou mandá-lo prender, ele fica à minha custódia. Depois vejo o número de dias de prisão que lhe vou dar. 
- Desculpe, o meu comandante vai mandá-lo conduzir para a prisão na nossa presença. Os meus soldados precisam de ver com os seus olhos quem faz justiça, quem castiga a insubordinação.

Levantando-se a custo, como se deslocasse todo o peso do seu corpo e da sua decisão, Jovelino Pamplona Corte Real chama o oficial de dia. Quando este chega, ordena-lhe que conduza o cabo Costa para a prisão, que era qualquer coisa como um galinheiro ali em frente. Apercebendo-se do que estava a acontecer, o Benjamim procurou justificar-se. Insensível a qualquer pedido de reparação, perfilei-me e informei que ia partir imediatamente para Finete. Não falo com ninguém, nem durante a viagem nem depois. Mais tarde, frente a toda a tropa formada na parada de Missirá, leu-se a ordem de serviço com a punição: 8 dias de prisão disciplinar por se ter dirigido ao seu comandante em tom e termos denotando falta de respeito, atitude que impediu a perseguição imediata de um grupo inimigo, porque o seu comandante tinha aberto fogo e abatido um dos seus elementos. E não era mais rigorosamente punido devido às suas qualidades e capacidades de colaboração”.

Um pouco mais tarde, reconciliámo-nos, também está escrito no Diário da Guiné. O Benjamim esteve no jantar do meu casamento no restaurante Pelicano, em 20 de Abril de 1970. Logo a seguir, abandonou o pelotão, já levava mais de três anos de vida militar. Empregou-se como enfermeiro (instrumentista), no Hospital Central de Bissau. Em 1978, fez concurso para o BCEAO, aqui se reformou há dois anos atrás. Azar meu, alguém me informara que morrera num desastre de viação, não muito depois da minha estadia como cooperante por vários meses, em 1991, houvera mesmo um lauto almoço em sua casa, apareceu outro querido amigo, o irmão do Benjamim, Benício Lopes da Costa, então secretário-geral da Assembleia Nacional Popular, era um quadro brilhante do PAIGC, uma grande promessa. Com o Benjamim carteei-me nos primeiros anos após o regresso a Portugal, em Agosto de 1970. Comunicou-me o casamento, enviei-lhe as alianças. Depois a alegria do reencontro, em 1991. Seguiu-se o silêncio, a notícia da sua morte tinha sido tão chocante que nada mais averiguei.

Ora em 1 de Dezembro de 2010 reencontrei o Benício em casa do Chico Bá, encontro mais emocionante não podia ter sido, chorámos convulsivamente, ele tinha escapado a um poderoso AVC, faltou-nos tempo para conversar, seguia para Dakar, para um exame de rotina, eu regressava no dia seguinte a Portugal. Fui aí que perguntei pelo Benjamim, como estaria a família e a resposta calma do Benício alegrou-me: “Ele está bem, a mulher e os sete filhos também”.

E passaram os anos, sem rasto do Benjamim. Há dias toca o telefone, ouviu-se o seu vozeirão inconfundível: “É o Benjamim, finalmente encontrei o Mamadu Camará que me deu este número de telefone. Quero vê-lo rapidamente, sei que há livros que escreveu sobre os nossos tempos, marque encontro”.

Apareceu ao anoitecer de 26 de Setembro, em minha casa. Tirei-lhe várias fotografias, escolhi esta que vos mando. E depois fomos jantar fora e falámos do futuro. No restaurante, tirámos outra fotografia, para que conste.

O Benjamim vem regularmente a Portugal, o assunto é sério e tem a ver com a próstata. Regressa agora a Bissau com os livros e promete telefonar-me, estar em contacto, para o ano, queira Deus, voltaremos a ver-nos.

Há mortes que modificam as nossas vidas, aquela de 3 de Agosto de 1969 reajustou a nossa existência, o que estava quebrado soldou-se, agora pesa o que pesa a nossa amizade. Temos razão para dizer que para todo o sempre. O Benjamim é um dileto camarada da Guiné.

Joaquim Lopes da Costa

Joaquim Lopes da Costa e Mário Beja Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12024: Blogoterapia (234): É muito difícil para mim falar da guerra da Guiné (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P12099: Parabéns a você (629): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66) e Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12072: Parabéns a você (628): Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do Comando Agrupamento 16 (Guiné, 1964/66)

sábado, 28 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12098: Estórias avulsas (67): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro (José Ribeiro)

1. O nosso Camarada José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões na CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72, enviou-nos algumas fotos de Galomaro:




Aspectos do  
Aquartelamento Galomaro 

Galomaro > Aquartelamento em construção > Vista aérea
Galomaro > Aquartelamento > Vista da porta-de-armas
Galomaro > Abrigo
Galomaro > Trincheira
  Galomaro > Para a foto 
Galomaro > No bunker das transmissões (Op. De Mensagens Cripto)
Galomaro > Hastear da Bandeira Nacional
Galomaro > Mato

Um abraço para todos,
José Fernando dos Santos Ribeiro
1º Cabo Trms da CCS do BCAÇ 2912

Fotos: José Fernando dos Santos Ribeiro (2013). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P12097: Recordações de Contuboel: o fur mil que era ilusionista, hipnotisador, mágico e tocador de viola, o Joaquim João dos Santos Pina, natural de Silves, 1º gr comb, 2ª secção, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Abíliio Duarte, CART 2479 / CART 11)

1.  Mensagem do nosso camarada Abílio Duarte: [, ex-fur mil art, CART 2479, mais tarde CART 11 - e finalmente, já depois do regresso à metrópole, CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70]


Data: 26 de Setembro de 2013 às 23:37

Assunto: Recordações de Contuboel

Estive agora a ver o nosso Blog, e encontrei a noticia do falecimento de um militar da vossa companhia [, o ex-1º cabo at inf José Marques Alves, da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71].  o que me entristeceu. 

No entanto ao ver estas fotos, vi o Branquinho, que eu já conhecia da Amadora , e veio-me á memória, uma cena que se passou em Contuboel, numa noite, em que ainda as nossas Companhias estavam juntas, em que um furriel,  vosso camarada, fez umas exibições de magia e hipnotismo. 

Não me consigo lembrar dele, pelo que te pedia, se souberes, quem era e se ele está bem.

Desde já o meu agradecimento pelas tuas buscas.

Um grande abraço.

Abílio Duarte, CArt 11



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > O José Joaquim dos Santos Pina, fur mil da CCAÇ 2590//CCAÇ 12, ferido em combate em janeiro de 1970. Vive no Algarve,  em Silves. 

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

2. Resposta de L.G.

Caro Abílio: O nosso de convívio em Contuboel, entre 2 de junho de 1960 e 18 de julho de 1969, enquanto demos a instrução de especialidade e a IAO aos nossoss soldados africanos a quem vocês, antes, já tinham dado a recruta, foi para mim um tempo mágico, os melhores tempos de Guiné... Já aqui tenho falado do "oásis de paz" que era Contuboel nesse tempo, podia-se andar desarmado num raio de 15 a 20 quilómetros. Ía-se a Sonaco ou a Bafatá nas calmas, fizemos a IOA, de G3 com munições de salva, e em frada nº 3, como se estivessemos ainda  em Santa Margarida, a brincar aos índios e cowboys...

Pois,  o tal furriel que fazia uns truques de "magia e hipnotismo" era no nosso querido Pina, Joaquim João dos Santos Pina, um marafado, algarvio,  de Silves... Tem cá, na Tabanca Grande, dois amigos o Amílcar Ventura e o Arménio Estorninho, que já me deram, notícias dele. Sei que era professor de trabalhador de trabalhos, está reformados e pelo que vejo na Net é caçador... de javali.

O Pina, tal como o Branquinho,  pertencia ao 1º Gr Comb, comandado pelo alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira (que era o homem de confiança do Cap Inf Carlos Alberto Machado Brito, e depois major, substituindo-o na intensa actividade operacional a que esteve sujeita a CCAÇ 12)...  

Foi ferido com gravidade, na frente de combate, e evacuado para o HM 241 (Bissau), no decurso da Op Borboleta Destemida (região do Xime, 14 de janeiro de 1970), juntamente com 1º cabo at Manuel Monteiro Valente (, apontadopr de dilagrama),  o sold trms José Leites Pereira e o sold at inf Mamadu Au (Ap Metr Lig Hk 21), todas da 2ª secção (que ele comandava).

A imagem que eu tenho do Pina, tocador de viola, e mágico amador,  ilusionista, hipnotisador, artista de variedades, era  a  de um homem sereno, afável, tão deslocado naquele cenário de guerra como tu ou eu... Não sei quanto tempo ficou no hospital, sei que regressou a Bambadinca mas nunca mais foi operacional, nem substituído (ou melhor, estava lá eu, de armas pesadas, para ir substituindo os camaradas com baixa)...Um ano e picos regressávamos a casa. Creio que só o voltei a reencontrar uma vez, em Lisboa. Ainda deve andar com o estilhaço de morteiro 82 que apanhou, e que lhe poderia ter ceifado a vida...

O Pina deve seguir o nosso blogue, com irregularidade. Já aqui fez vários comentários. Nunca me respondeu ao meu convite, de 3 de setembro de 2010:

(...) "Joaquim: em nome dos amigos e camaradas que fizemos em Contuboel e Bambadinca, de Junho de 1969 a Março de 1971, convido-te para partilhares connosco, sob o frondoso poilão da nossa Tabanca Grande, as tuas memórias, histórias e fotogrfias... Para já, manda-nos uma foto atual, para a gente te reconhecer... Pelo que vejo, já cá tens, no nosso blogue, gente conterrânea tua, o Amílcar Ventura e o Arménio Estorninho... Da CCAÇ 12, já somos bastantes... embora alguns sejam pouco ou nada interventivos... Vou, dentro de dias, evocar a operação em que foste ferido, a Op Borboleta Destemida, região do Xime, 14 de Janeiro de 1970... Um grande abraço do Henriques."  (...)

Para ti, Abílio  Duarte e para o Joaquim Pina (se me estiver a ler), aquele abraço de camaradagem e de saudade dos melhores tempos de Contuboel e Bambadinca. L.G.

Guiné 63/74 - P12096: História da CCAÇ 2679 (64): Comportamentos e decisões determinantes (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 26 de Setembro de 2013:

Viva Carlos!
Trago uma nova estória para o contexto da CCaç 2679, mas que, no meu entender, também se refere a comportamentos ou decisões determinantes da coesão e eficácia dos grupos de combate.
A instrução era bastante frágil, e a ordem que devia identificar cada força, era tão mais acessível, quanto a facilidade de relacionamento entre todos - a camaradagem, a intuição e tarimba que o dia-a-dia aprimoravam.
Aqui vai!

Envio-te um grande abraço de amizade, extensivo ao tabancal.
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

64 - COMPORTAMENTOS E DECISÕES DETERMINANTES

Após o pequeno-almoço reuniu-se o Foxtrot em frente ao edifício da messe, onde eu os esperava. Para aquele dia tínhamos uma patrulha de combate, com uma deslocação para nordeste, saindo na direcção de Copá, direccionando em seguida para a linha de fronteira, que acompanharíamos na direcção leste/oeste, até um marco situado na divisória das ZA de Bajocunda e Pirada. Depois, aproximar-nos-íamos para perto da fonte, onde passaríamos a noite.

O pessoal juntava-se com as chalaças costumeiras, em conversas de amigos, ou envoltos em pensamentos privados, mas, no geral, todos se apresentavam bem dispostos e preparados.

Confirmei que estavam todos, e também o radiotelegrafista e o enfermeiro, dois especialistas indispensáveis em cada deslocação no mato, que nos transmitiam a confiança e segurança suplementares às nossas próprias capacidades para lidar com as diferentes situações susceptíveis de acontecerem.


Arrancámos, com a despreocupação própria de uma viagem rotineira, e a confiança resultante do hábito de não encontrarmos inimigos que nos surpreendessem, nem causassem danos. Até à porta de saída o pessoal deslocava-se com alegria, brincando e respondendo a brincadeiras, uns com os outros, ou com camaradas que ficavam no aquartelamento, ou com membros da população, principalmente as bajudas, a quem se faziam promessas de amor eterno após o regresso da acção.

Ao atravessarmos a pista já se formava a fila de pirilau, e adiante, num segmento da picada com mais visibilidade, eu arredava da progressão, para chamar a atenção aos que tinham tendência para se agrupar em conversas. Costumava deixar para o fim dois ou três dos melhores elementos que garantiriam a boa ordem, enquanto os prevaricadores aceleravam o passo, e tomavam lugar a seguir a mim, no inicio da progressão. Fazia esta manobra com frequência, pois sabia da tendência para acontecerem ajuntamentos na retaguarda.

O passeio corria bem. Algures, junto da fronteira, abancámos para a merenda. Depois de reatarmos o caminho remanescente, fui informado de que um elemento estava doente. A progressão estava comprometida. Com ele já se encontrava o enfermeiro, que diagnosticava paludismo. Acrescentou que ia ministrar um injecção, mas que o estado de saúde se agravaria, e a melhor decisão seria deslocarmo-nos a Bajocunda para o deixarmos sob os cuidados da enfermaria. E foi o que decidi. De inicio amparado, depois deitado numa improvisada maca, a partir de dois ramos de árvore e de um pano de tenda, chegámos ainda cedo. Falei com o capitão e preparava-me para sair e montar a emboscada, quando surgiu o sargento David, equipado de camuflado, arma e munições, que me perguntou se poderia acompanhar-nos. Respondi que não via razão para sair connosco, mas, se era voluntariamente que se apresentava, eu punha a questão do comando. Que não, apenas desejava ter uma experiência, e não pretendia comandar, que ficava ao meu cuidado.

Voltámos a sair, mas já não concluímos o traçado original para a patrulha. Dei uma volta até à aproximação do crepúsculo, e montei a emboscada nas proximidades da fonte, como era previsto. Tal decisão tinha que ver com a referência da posição perante os obuses de Bajocunda e Pirada, na eventualidade de uma aparição do IN, e permitir-nos-ia, em coordenação com as defesas dos aquartelamentos, proceder a um envolvimento da força atacante. Chamei dois elementos de confiança e dei-lhes a incumbência de vigiarem o sargento, normalmente dado a exuberâncias, no sentido de que a nossa posição não fosse denunciada nas cercanias.

Não houve qualquer incidente nem perturbação, e o sargento não levantou qualquer problema, apesar da estranheza da iniciativa. Cada deslocação de uma força militar fora do arame, era susceptível de uma diversidade de incidências inesperadas, e nós deveríamos ter a capacidade para tomar as melhores decisões, sob pena de prejudicarmos condições singulares ou colectivas.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12017: História da CCAÇ 2679 (63): O jogo do Poker (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12095: Bom ou mau tempo na bolanha (32): A importância da família na guerra (Tony Borié)

Trigésimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros,
Este texto é uma homenagem a todos os que por lá andaram mas não tinham família, eram combatentes, a maior parte do tempo solitários e quase não recebiam notícias. Cá vai.

Para os militares que estavam lá, no tal cenário de guerra, os momentos mais felizes, eram sem qualquer dúvida, quando recebiam o correio. O furriel Honório, conhecido por “Pardal”, quando rasava com a avioneta do correio, a “mangueira do Setúbal”, a tal árvore de grande porte, que existia no aquartelamento, e fazia os macacos e periquitos fazerem a algazarra do costume, sabia que era bem vindo, pois ia dar alguma alegria aos militares.

Depois de receberem o correio, todos se retiravam, cada qual procurando o local mais sossegado e distante dos outros, para melhor se concentrarem no resumo das suas cartas. Alguns choravam, riam, tremiam de emoção, limpavam a cara e os olhos com as costas da mão, os que liam sentados, quando se levantavam, esticavam os braços na direcção do céu, fechavam os olhos por momentos, e diziam algumas palavras baixinho, ficavam quase todos, depois de lerem as notícias da família, com outra disposição e com um aspecto de quem não estava num cenário perigoso, onde havia guerra.

O Curvas, alto e refilão, não recebia correio. Durante os dois anos em que esteve na companhia do Cifra, nunca recebeu uma carta, pois não tinha família, a sua mãe abandonou-o em criança, e como já foi dito por diversas vezes, andava “na vida”, mas na sua mente, isso não fazia qualquer diferença, pois não sabia o que eram as notícias dos seus, da sua família, fossem elas boas ou más. Até ficava admirado com tanta alegria de alguns ao lerem as cartas, e às vezes dizia:
 - O que se passa com aquele, está tão contente? Não vai dormir hoje à “pildra”? Roubou algum turista, com a carteira com dollares? A “garina” fez boa “massa”? Descobriu uma nova rua, com movimento e turistas, que passa a ser a sua zona de “acção”? Conseguiu fugir, e iludir a polícia? Encontrou algumas sandes de fiambre ou presunto em bom estado, no caixote do lixo, daquele restaurante de luxo? Não foi atropelado, quando atravessou a rua, a fugir à polícia? Tem uma navalha nova, de “ponta e mola”? O sindicato, não lhe cobrou, pelo aluguer da caixa de engraxar sapatos? Encontrou umas botas em bom estado e que lhe servem, no caixote do lixo? Encontrou uma porta aberta, onde pode dormir num vão de escadas? Esta noite não chove e pode dormir naquele banco, que por sinal está desocupado? Vai haver festa de São João, naquela rua, e pode pedir e roubar comida? O amigo saiu da cadeia, e traz nova informação de como se deve roubar uma carteira, ainda com mais habilidade? Aquela senhora rica, naquela rua, veio cá fora pôr a malga do leite para o gato, e pode lá ir roubá-lo? Aquele velho que ocupava aquele lugar, junto ao banco do jardim, que é um lugar privilegiado, pois até tem luz daquele candeeiro, morreu à fome e ao frio, e deixou livre todas aquelas folhas de cartão, onde ele se pode ir abrigar, nos dias de maior frio ou chuva?

Enfim, um sem número de frases, próprias de quem viveu sempre sem ninguém que lhe desse um carinho, lhe perguntasse se tinha dores, ou lhe limpasse o ranho do nariz.

O Cifra, quando ele se encontrava em momentos de alguma tristeza, dizia-lhe que as outras pessoas tinham família e que era bom sentir o seu apoio e ter notícias de alguém, para se desabafar, contar o que ia na alma. Ele ouvia calado, limpava uma lágrima e dizia:
- Vamos roubar o frasco álcool ao Pastilhas, estou com sede.

Tony Borie, 2013.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12036: Bom ou mau tempo na bolanha (31): O computador na guerra (Toni Borié)