quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12132: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (22): Referência a jornais e jornalistas no CTIG

1. No seu Diário da Guiné, o António Graça de Abreu (AGA) faz referência a jornais e jornalistas, de diversos quadrantes político-ideológicos e nacionalidades, que vinhyam à Guiné, em trabalho... António de Spínola e Bettencourt Rodrigues perceberam a importância que a comunicação social tinha a nível da opinião pública nacional e internacional. Eram generais do seu tempo. Alguns desses jornalistas, passaram pelo CAOP 1, caso do Avelino Rodrigues. Escreveu o António, em comentário ao poste P12128: " O Avelino Rodrigues foi recebido no nosso CAOP 1, em Teixeira Pinto pelo coronel Rafael Durão e desculpem a imodéstia, também por mim, alferes pequenino no CAOP 1. Falámos muito sobre o chão manjaco e as nossas vidas..Os seus textos no Diário de Lisboa têm muita qualidade".

2. Fomos procurar referências a jornais e jornalistas, ao seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007). Aqui vão os excertos, com a devida vénia, e um abraço para ele (que já deve ter regressado de um longo périplo pelo China profunda):


Teixeira Pinto ou Canchungo, 26 de Julho de 1972


Abro muito os olhos e os ouvidos, meto tudo dentro de mim, falo pouquíssimo, quase não reajo, não demonstro nada. Mas sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.

No labor quotidiano no Comando de Operações, passam pelas minhas mãos documentos fundamentais para se entender a guerra na Guiné. Chegam de Bissau e são as informações diárias e semanais, os relatórios mensais de operações com todos os dados, bombardeamentos, flagelações, ataques, emboscadas, os números dos milhares de quilos de bombas lançadas pelos nossos aviões, o número de mortos e feridos, NT e IN, dias, horas, particularidades dos ataques, etc. Esta documentação tem a classificação de confidencial e secreta. Vêm também as informações da PIDE/DGS com dados sobre a movimentação dos guerrilheiros, natureza dos acampamentos IN e outros elementos. Um exemplo, pela PIDE de Canchungo soubemos que neste momento estão dentro da Guiné sete jornalistas de nacionalidade checa, búlgara e russa. Entraram, vindos do Senegal, pela fronteira junto a S. Domingos, uns oitenta quilómetros a norte daqui. O meu major P. não gosta muito do Sr. Costa, o agente da PIDE/DGS em Canchungo, que tem uma vivenda aqui na avenida. O major diz que o Costa, para mostrar serviço, de vez em quando inventa factos e notícias. Parece-me bem possível. Estive em casa dele a semana passada e, no desempenho de funções, tive de lhe apertar a mão. Coisas impensáveis em Lisboa.

Voltemos à guerra. (…)


Canchungo, 27 de Outubro de 1972


Há dois dias fui à pista, na chegada do avião de Bissau como de costume e os oficiais superiores também foram todos. Vinha um jornalista, aí de três em três semanas cai cá um bicho destes para fazer propaganda do regime. Vi-o sair e disse para comigo “este tipo tem um aspecto decente”. Depois soube quem ele era, Vítor Direito, do jornal “República”. O coronel açambarcou-o, levou-o ao Pelundo e a passear pela sala de visitas do chão manjaco. O que vai ele escrever? Terá de meter a pena no saco, a censura corta se redigir textos que não sejam marmeladas. Usando pinças, não é fácil escrever sobre a Guiné.

O meu coronel partiu um dedo a fazer desporto, karaté, ouvi-o eu contar sorrindo ao Vítor Direito. Foi mesmo. Mandou um murro num soldado pára-quedista e quando ia a mandar o segundo, o rapaz desviou-se e o murro acertou numa parede. Resultado, um dedo partido. Desporto, karaté! (...)

Canchungo, 17 de Janeiro de 1973


Os meus alunos. Vou-os conhecendo, têm uma visão restrita e parcelar do mundo, o que se compreende, fechados na Guiné. Talvez por isso, o seu raciocínio seja tão lógico.

Em Português, mandei-lhes fazer uma redacção e dei quatro temas. Eles escolhiam só um e deviam desenvolvê-lo. Os temas eram: o que é ser velho, a morte, a minha viagem à Lua e uma história de animais. A maioria dos rapazes foi para os animais. Um deles disse que “os quadrúpedes têm duas patas nos pés” e sobre os outros temas escreveram coisas de pasmar, ou talvez não, como: “uma pessoa quando morre fica sem alma, com os olhos fechados e o corpo morto.”, ou “eu não gosto de morrer, mas se o meu dia chegar, morro, porque cada um de nós tem um dia para morrer.”, ou “ser velho é perder de vista a juventude” ou ainda “ser velho é estar frio e mais perto do sol”.

A propósito de mestres e alunos, estiveram cá o general Spínola e o Dr. Azeredo Perdigão, com uma grande comitiva. Vieram inaugurar a escola do Ciclo que já funciona há dois anos e meio, e foi construída com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian. Muita festa, muita gente, houve manifestações “espontâneas” de alegria. Até a Caió, que dista vinte e seis quilómetros daqui, as Berliets foram buscar umas dezenas de pessoas.

Contaram-me (mas é invenção!) que em idioma fula, umas das etnias da Guiné, António de Spínola se diz Caco Baldé. Pois o general Caco, desde que regressei das férias em de Portugal há menos de um mês, já veio a esta vila por três vezes e por três vezes lhe fiz continência, e apertámos as mãos.

Ainda a propósito da última visita do Spínola, nesse dia meti uma vez mais o pé na argola.

Não foi propriamente devido ao general, mas por causa dos fotógrafos e do jornalista de um pasquim de Bissau, dois mais um, que o acompanhavam.

Eu conto.

O governador e comandante militar, com o Azeredo Perdigão e comitiva, chegaram às nove horas da manhã em avião especial, um DC 3. Entretanto, às oito já haviam aterrado duas DOs, uma com a equipa militar de Bissau que vinha montar a instalação sonora para os discursos, e outra com os fotógrafos e o jornalista. Fui à pista no jipe duas vezes, trouxe os pilotos e o pessoal militar. Deixei lá ficar os jornalistas, é tão perto, só quatrocentos metros até ao quartel, eles são civis, podiam muito bem vir a pé. E vieram, não pensei mais no assunto.

Ontem ao regressar da pista com o meu coronel, diz-me ele: “Um destes dias você procedeu muito mal.” E ficou calado um bom pedaço. Eu, mesmo sem querer, como militar procedo mal tantas vezes que não sabia a que é que o meu chefe se estava a referir. Perguntei-lhe: “Mas quando, meu coronel?” Resposta: “Então, você deixou os fotógrafos e o jornalista na pista e eles tiveram de vir a pé!...” Desculpei-me, eu conduzia o velho jipe de serviço que nem sequer bancos atrás tinha e fiquei com a ideia de que eles queriam mesmo vir a pé, já estavam na placa à saída da pista e não me pediram transporte nenhum. Se tivessem falado comigo, mudava de jipe e não me custava nada ir buscá-los. Desta vez o coronel aceitou a justificação, mas porque raio é que os estupores dos homens foram fazer queixa de mim?!...

As coisas com os meus superiores vão um pouco melhor. Tento desempenhar as minhas funções com “zelo, proficiência e dedicação”. No fim da comissão ainda sou premiado com um louvor. (...)

Mansoa, 28 de Fevereiro de 1973

Domingo passado, cometi mais uma “gaffe”.
Fomos visitados por uma equipa da TV alemã, quatro moços desembaraçados e tagarelas. Eu cometi o grave erro de falar alemão com as criaturas. Os muitos meses de imersão na sociedade germânica, o estudo, os anos de liceu e faculdade, os três anos de namorada alemã fazem com que me movimente razoavelmente bem no idioma de Goethe e Marx. Gott sei danke! Ich spreche ein bisschen Deutsch… ( Graças a Deus, falo um pouco de Alemão!) Isto causou engulhos nos meus superiores, não entendiam do que falávamos, comiam-me com os olhos, talvez eu estivesse a contar coisas pavorosas aos jornalistas alemães, segredos de Estado ou algo semelhante. Os rapazes eram de Hamburgo, a cidade onde vivi, falei-lhes da minha experiência por lá e pouquíssimo da guerra na Guiné.

Hoje, o major Malaquias chamou-me a atenção, muito delicadamente. Em frente dos oficiais superiores eu não devia ter falado alemão, eles não entendiam, era falta de respeito.


Mansoa, 23 de Maio de 1973


O jornal Primeiro de Janeiro traz uma notícia sobre o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar, a acontecer no Porto entre 1 e 3 de Junho. No texto dos promotores do Congresso, lêem-se as seguintes palavras:

Patrioticamente, com total independência e acima de qualquer ideologia ou facções políticas, um grupo de Combatentes do Ultramar decidiu organizar o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar que se realizará no Porto de 1 a 3 de Junho de 1973, com um sentimento, uma mística, uma determinação.

Um sentimento: Reencontro e confraternização de camaradas.

Uma mística: O orgulho da honrosa missão cumprida e a consciência do seu valor na história nacional.

Uma determinação: Unidos na retaguarda contra tudo o que ameaça a integridade de Portugal.

Estiveste no Ultramar em missão de Soberania? Simples soldado ou oficial, missão cumprida? VEM. (…)



Cufar, 24 de Julho de 1973


Ontem tivemos cá o general Spínola e o Silva Cunha, ministro do Ultramar. Aterraram na pista de Cufar no Nordatlas e depois apanharam os helicópteros e deram uma volta por alguns aquartelamentos da zona. Tudo em paz, tudo controlado. Vieram também jornalistas, homens da TV, o José Mensurado, por exemplo. À partida do Nordatlas para Bissau, encontrando-me por motivos de serviço ao lado do meu coronel, bati uma bruta continência e cumprimentei as duas personalidades, um governador, um ministro. Os tipos da televisão estavam a filmar, o que quer dizer que talvez este brioso alferes venha a aparecer por estes dias nas casas de milhões de portugueses. (...)

Cufar, 6 de Dezembro de 1973

O governador, general Bettencourt Rodrigues foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é de que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos pelas NT devido à ausência de interesse estratégico da região, no extremo sudeste da Guiné. O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC haver usado aquela “zona libertada” para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária. Também é verdade que não encontraram viva alma na antiga povoação do Boé, destruída pela guerra em anos passados. Onde estavam os heróis do PAIGC que declararam a independência da Guiné em Madina do Boé? Talvez não estivessem longe, mas ninguém os viu. (...)

Guiné 63/74 - P12131: Blogpoesia (356): Foi no tempo... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007, pp. 104-105. (Reproduzido com a devida vénia).

Mansoa, 24 de Maio de 1973


Foi no tempo
em que o riso das crianças
era azul como o mar
que inventei no fundo dos teus olhos.

Foi no tempo
em que eras a princesa
habitando o meu castelo,
de pedra, vento e sol poente.

Foi no tempo
em que amanhecias luz dentro dos meus braços

 e a tua boca desenhava espirais de fogo 
nos meus lábios abertos à loucura.

Foi no tempo
em que eu colhia rosas na covas do teu rosto,
esvoaçávamos por pinhais, montes e rios,
e o teu corpo
povoava as searas onde o trigo cresce.

Foi no tempo
em que o teu ventre soluçava
em ondas rubras de alegria
e viajavas na fúria doce do meu sangue.

Hoje, a guerra,
uma lágrima quente enevoando os dias.



[ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; poeta, escritor, tradutor]

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Nota do editor: 

Guiné 63/74 - P12130: Agenda cultural (286): Novidade: Livro "Alcora: o acordo secreto do colonialismo", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Lisboa, Divina Comédia, 2013, 400 pp.


1. Mensagem do Carlos Matos Gomes, com data de 30 de setembro último:

Assunto - Alcora - a aliança secreta do colonialismo, no programa Agora, RTP2


Meus caros amigos, junto envio o link para uma entrevista feita para o programa Agora, da RTP2, transmitido ontem e que tem por tema o meu livro e do Aniceto Afonso , "Alcora, a aliança secreta do colonialismo" e o livro "Salazar, Caetano e o Reduto Branco", de Luís Barroso.

Os dois livros tratam da aliança política e militar entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia. Revela a importância decisiva e determinante da Africa do Sul na condução da política ultramarina do governo português nos anos 60 e 70 e de como esta aliança podia (ou não) ter sido uma solução tentada por Marcelo Caetano...

Para os interessdos, a entrevista passa entre os minutos 30 e os 40. Desculpem o incómodo.

http://www.rtp.pt/play/p1235/e129809/agora


2. Sobre o livro:

Ficha Técnica

Título: Alcora - O acordo secreto do colonialismo
Autores: Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes
Prefácio: Fernando Rosas
Selo (editora): Divina Comédia
1ª edição: maio de 2013
ISBN: 978-989-8633-01-9
Nº de páginas: 400
PVP: 19.90€

Sinopse (Fonte: Divina Comédia)

Um documento histórico fundamental que desvenda a existência de um acordo estratégico entre Portugal, África do Sul e Rodésia realizado no final da Guerra colonial.

“O livro que agora se dá à estampa – Alcora, O Acordo Secreto do Colonialismo – vem revelar a existência de um acordo estratégico formalizado em Outubro de 1970 ao mais alto nível entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia, envolvendo os domínios político, económico e militar, com o fito de preservar o poder nas mãos do regime colonial português e dos regimes racistas dos outros dois países, desde logo assegurando a derrota militar das guerrilhas de libertação nacional.

"O que o livro agora presente revela, precisamente, é como as chefias militares sul-africanas, paralelamente ao crescimento da sua ajuda financeira, operacional e logística à guerra, vão ganhando um concomitante poder de opinião e interferência na condução das operações em Angola e Moçambique, que hoje surge, apesar de tudo, como surpreendente, pelo seu carácter inusitado e intrusivo. Não só levando as chefias portuguesas a deslocarem o centro das operações de contra insurgência, em Angola e em Moçambique, mas até opinando quanto aos aspectos mais imediatos da condução da guerra no terreno e quanto ao mérito dos oficiais ou funcionários responsáveis.” Fernando Rosas (in Prefácio)



3. Autores:


Aniceto Afonso > Coronel de Artilharia na situação de reforma, membro da Comissão Portuguesa de História Militar e investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Antigo director do Arquivo Histórico Militar e do Arquivo da Defesa Nacional; antigo professor de História da Academia Militar. Mestre em História Contemporânea Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1990. Comissões militares em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975). Participante no Movimento dos Capitães e membro da Comissão Coordenadora do MFA em Moçambique (1974-1975).

Autor de: A Hora da Liberdade, 2012 (com Joana Pontes e Rodrigo de Sousa e Castro); Portugal e a Grande Guerra, 2010 (1.ª ed., 2003); Anos da Guerra Colonial, 2009; e Guerra Colonial – Angola, Guiné, Moçambique, 1997-1998 (todos com Carlos de Matos Gomes); O Meu Avô Africano, 2009; As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, 2008 (Coordenador); Portugal e a Grande Guerra, 1914-1918, 2006; História de Uma Conspiração. Sinel de Cordes e o 28 de Maio, 2001; e Diário da Liberdade, 1995. Colaborou na História de Portugal, 1993; e na História Contemporânea de Portugal, 1986 (ambas dirigidas por João Medina).


Carlos de Matos Gomes > Nascido  em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reformado). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

Co-autor com Aniceto Afonso de obras sobre a guerra colonial: Guerra Colonial e Os Anos da Guerra Colonial, de textos para publicações especializadas; co-autor com Fernando Farinha de Guerra Colonial – Um Repórter em Angola, coordenador, com Aniceto Afonso, da obra Portugal e a Grande Guerra; autor de textos para a História de Portugal, coordenada por João Medina, e Nova História Militar de Portugal, coordenada por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira; autor de Moçambique 1970 – Operação Nó Górdio.

Fonte: Divina Comédia Editores

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12110: Agenda cultural (285): Guiné-Bissau: as memórias de Gabu, 1973/74 (José Saúde)

Guiné 63/74 - P12129: Parabéns a você (635): José Carmino Azevedo, ex-sold cond auto, CCAV 2487 / BCAV 2868 (Bula, 1969/71)


O nosso camarada J. Carmino Azevedo, transmontano,  está na Tabanca Grande desde 17 de fevereiro de 2009.

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12123: Parabéns a você (634): Bom dia,comandante Jorge Rosales!... Um feliz e magnífico dia de aniversário! (José Manuel Matos Dinis, Armando Pires, Beja Santos, Hélder Sousa, Luís Graça)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12128: Notas de leitura (524): Reportagem do enviado especial do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues, CTIG, agosto de 1972 (Mário Beja Santos)



Reprodução da capa do Diário de Lisboa, edição de segunda-feira, 28/8/1972, e da primeira de quatro crónicas do enviado especial Avelino Rodrigues.

Imagens: Cortesia da Fundação Mário Soares.

Nesse espaço de tempo, entre a primeira (28/8/1972) e a  última crónica (31/8/1972), dois militares (metropolitanos), do Exército,  morreram noTO da Guiné: Francisco José Pacheco Marques, soldado, a 29, por acidente; e António João Carreiras das Neves,  alferes, a 30, em combate. O primeiro era do Alandroal, e pertencia à CCAV 3366 / BCAV 3846. O segundo, alf mil art,  era natural de Aviz e pertencia à 2ª CART  / BART 6520/72.

(Preciosas e detalhadas informações retiradas, com a devida vénia, do portal Ultramar Terraweb [Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, Angola, Guiné, Moçambique,  1959-1975], a quem saudamos fraternalmente, na pessoa do seu fundador e principal editor António Pires, e demais colaboradores,  pelo seu gigantesco e exaustivo trabalho de pesquisa, registo e divulgação,  nomeadamente sobre os mortos da guerra do ultramar).



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de hoje (há outras notas de leitura, anteriores,  que aguardam entretanto publicação; a decisão é sempre do editor de serviço, em função de critérios de interesse e oportunidade editoriais):

Assunto -  Envio de texto sobre a reportagem de Avelino Rodrigues na Guiné publicada em 4 edições do Diário de Lisboa

Queridos amigos, 

Há pontos surpreendentes nesta reportagem: guerra assumida, sem ambiguidades; a ênfase no desenvolvimento e no reordenamento; a imagem de Spínola como um pacificador, veja-se a captura de Balantas na região de Ponta Varela que serão devolvidos à precedência depois de visitarem o Xime, receberem rádios, roupas e dinheiro; a noção de que a africanização da guerra é uma realidade; o chão Manjaco mostrado como a região modelo de acordo com o projeto de Spínola. 

A despedida da reportagem é cabalística, como consta: o pior será quando a guerra acabar. Para juntar a todas as peças que devem fazer parte da História da Guiné. Um abraço do Mário


2. Reportagem do jornalista Avelino Rodrigues na Guiné, Agosto de 1972

por Beja Santos [, foto à esquerda, 2006]


A reportagem publicada por Avelino Rodrigues nos dias 28, 29, 30 e 31 de Agosto de 1972, no vespertino Diário de Lisboa, está disponível no site da Fundação Mário Soares [, cicar aqui.]

Spínola, em meados de 1972, “namora” a imprensa de oposição, estabelece relações formais com Ruella Ramos e Raul Rego, responsáveis respetivamente pelos jornais Diário de Lisboa e República.

Avelino Rodrigues é convidado a deslocar-se à Guiné, são lhe dadas garantias de ver o que é preciso ver da região em guerra. O jornalista enceta as suas crónicas dizendo:

 “Chega-se a Bissau e logo os canhões do aeroporto, o arame farpado e os postos de sentinela nos dizem que a guerra é a sério”. 

Será uma digressão de nove dias por terras da Guiné. Ouvirá o comandante-chefe dizer: “Infelizmente, ainda tenho que dar tiros”, ao jornalista é dado ver que a ênfase é posta nos reordenamentos e no progresso, a contraguerrilha parece ser um epifenómeno. Nunca se fala em policiamento, é sempre em guerra. Desembarca e sobre Bissau comenta:

 “Tem-se a impressão que a cidade se transformou num grande campo militar e, todavia, os quarteis não se impõem à vista e é preciso procurá-los para os encontrar”. 

É alojado no Grande Hotel, sairá de lá com poucas saudades e nenhumas recomendações.

Se o primeiro texto foi intitulado “Paradoxos da guerra camuflada” [28/8/1972], o segundo, para leitor desacautelado, é enigmático: “A simpatia como arma de guerra” [29/8/1972]. Assim, de chofre, ouvem-se rebentar granadas em Ponta Varela, do outro lado do rio Corubal, quando o comandante-chefe está a impor os galões de capitão nos ombros de um alferes em Gampará. O moço é oficial miliciano e comanda um pelotão da companhia instalada na Península, depois que em Novembro passado numa operação de fuzileiros apoiados pela Força Aérea foi possível abrir a primeira cunha apontada ao território Beafada. 

Gampará, na descrição do jornalista, intimida:

 “À sombra das metralhadoras vivem em Gampará cerca de 900 Beafadas atraídos pelas melhores condições de habitação, de fomento agrícola e de assistência sanitária".

Como se os tempos estivessem sincronizados, os helicópteros põem-se em movimento e atravessam o Corubal, vem em direção a Ponta Varela, está-se no rescaldo de uma operação, destruíram-se cerca de uma dezena de celeiros. E anota: 

“Despojos não houve nenhuns, além de uma carta de Havana estampilhada com selos de Fidel e contendo retratos de família de um possível instrutor cubano”.

 Apareceram entretanto Balantas capturados, Spínola tranquiliza-os, não lhes irá acontecer mal algum, serão levados ao Xime, para verem as obras do Governo e depois serão conduzidos de helicóptero ao mesmo lugar onde tinham sido encontrados. Não será exatamente assim que as coisas irão acontecer, os Balantas capturados serão recebidos dois dias depois no gabinete do Governador antes de serem devolvidos ao mato. Levarão rádios, apresentaram-se de indumentária afiambrada e levaram dinheiro não se sabe bem para que compras. De Ponta Varela partiram para Ingoré, onde Spínola visitou população vinda do Senegal, na região de Tandé, 400 pessoas voltaram para as suas antigas tabancas, eram Balantas Bravos, que meses antes estavam ainda na órbita da guerrilha.

Passamos agora para o terceiro texto de “Guiné, crónica imperfeita” [30/8/1972], a cargo do enviado especial do Diário de Lisboa. Alguém informou  mal o jornalista  [, foto à direita, disponível aqui] e este vazou dados imprecisos, assim:  

“A guerra eclodiu em 1963, logo depois de Amílcar Cabral, então funcionário dos Serviços de Agricultura de Bissau, ter acabado o trabalho de recenseamento agrícola”. 

A realidade Balanta interessou o jornalista, que escreve: 

“A etnia Balanta continua a fornecer ao PAIGC a maioria dos seus combatentes”. 

No Congresso do Povo, em finais de Julho de 1972, Spínola dirigiu-se a esta etnia dizendo-lhes: “Vocês já tiveram oportunidade de verificar de que lado está a justiça, a felicidade da raça Balanta”. E, coisa curiosa como é que a censura deixou passar na íntegra a observação do jornalista:

 “O fruto do trabalho dos Balantas era absorvido pelas duas grandes casas comerciais de Bissau, cujos entrepostos recebiam o arroz e a mancarra por preços irrisórios, para venderem depois a preços especulativos”.

Segue-se um curto historial da guerra, o jornalista observa:

 “Ao contrário do que aconteceu noutros territórios ultramarinos, o movimento separatista da Guiné surgiu desde logo organizado politicamente e provido de estrutura militar eficaz. A ocupação portuguesa limitava-se a pouco mais de três mil brancos, quase todos funcionários administrativos ou comerciantes. Os chefes militares de Bissau reconhecem hoje que o avanço do PAIGC parecia imbatível nos primeiros anos, atingindo o ponto forte em 1968” (Spínola e o seu círculo sempre insistiram em comunicar com o exterior que o ponto de inversão era 1968, por acaso o ano em que chegou à Guiné”.

Avelino Rodrigues teve acesso aos elementos fornecidos pelo comando-chefe, escreve que 2000 combatentes do PAIGC manobram a partir das zonas de “duplo controlo” e a reportagem mostra o mapa da Guiné polvilhado na fronteira de 31 bases onde estariam sete mil combatentes, dos quais cerca de dois mil se internariam no território para espalhar o terror. Outros dados, a força africana era composta por cerca de cinco sodados regulares, cerca de seis mil milícias, mais de seis mil autodefesas, doze companhias de caçadores são comandadas por graduados nativos e diz-se algo de surpreendente: 

“Os milícias são militares em part-time só em circunstâncias especiais participam em operações”.

A última reportagem [31/8/1972] passa-se em chão Manjaco, é aí, essencialmente, que se está a desarmar a subversão. O repórter escreve: 

“Não vi guerrilheiros nas estradas que percorri de jipe sem a proteção de qualquer arma desde Teixeira Pinto ao Pelundo e a Churobrique, onde fui encontrar no reordenamento de Zinco lado Demba que há três anos se apresentou com um grupo de 30 homens”.

 Informa o jornalista que ali está assegurado do domínio militar, aqui é o campo de ensaio da política de Spínola, um exemplo de que foi possível fazer em menos de quatro anos o trabalho de quatro séculos.

Noutra incursão, conversa com Augusto, chefe de tabanca de Bissássema, antigo carregador do PAIGC. O repórter interroga-se sobre os nervos de aço e a temperança indispensáveis para aguentar uma comissão militar tão violenta. Um comandante de um quartel, a tal propósito, fez-lhe o seguinte comentário: 

“Mentalizei os rapazes para aguentaram os dois anos de guerra como pagamento do direito de continuarem a viver em paz na Metrópole. O que é preciso é não morrer, safarmo-nos como podermos”. 

As últimas deambulações decorrem à volta dos reordenamentos. É aqui que Spínola lhe diz que a guerra não se pode ganhar aos tiros, é por isso que os militares trabalham pelo progresso da província. E a reportagem termina de um modo cismático: 

“Mas quando acabar a guerra, quem poderá mobilizar os técnicos para o serviço civil na paz? Parece paradoxal mas é verdade: o pior será quando a guerra acabar”.

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12092: Notas de leitura (523): "Missão na Guiné", publicação do Estado-Maior do Exército e "Histórias de Guerra, Índia, Angola e Guiné, Anos 60", por José Pais (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d [ c. 1968] > Foto de Luís Guerreiro.

O Luís Guerreiro  foi fur mil da CART 2410, Os Dráculas (Guileje, Gadamael e Ganturé), e do Pel Caç Nat 65 (Piche, Buruntuma e Bajocunda), nos anos de  1968/70. Vive  em Monterreal, Canadá.  Outro camarada nosso que pertenceu à CART 2410 é o José Barros Rocha, de Penafiel. 

Foto: © Luís Guerreiro (2013).. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Com data de ontem, e em resposta ao poste P12124, recebemos a seguinte mensagem do nosso camarada Luís Guerreira:


Assunto: Memória de Guileje

Amigo Luis

Em resposta ao P12124 (*) sobre Memória de Guileje, do amigo Pepito,  sobre a placa da Parada Alf. Tavares Machado:

Envio uma foto aonde se vê a dita placa que estava instalada no edifício da messe de sargentos.

Espero que esta informação seja útil.

Um abraço, Luis Guerreiro

2. Comentário de L. G.:

Obrigado, Luís Guerreiro, camarada da diáspora, pela tua rápida e valiosíssima resposta. O Domingos Fonseca,  que dirige os trabalhos de reconstrução de Guileje, e que é um colaborador direto do Pepito, diretor executivo da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento,  vai ficar felicíssimo pela preciosa informação que nos acaba de dar. 

Eu sei que nada disto é relevante para a Grande História... Ou talvez não: a História com H grande é como um rio, que é alimentado por milhares de pequenos rios e ribeiras. 

Neste caso, a pequena história (a "petite histoire", como dizem os franceses) ajudou-nos a recuperar a memória de mais um bravo de Guileje, esquecido há muito, o alf mil Tavares Machado. Honremos a sua memória, para que o seu sacrifício não tenha sido inútil. 

E aos meus amigos (sim, meu amigos da AD - Bissau!!!) Pepito e Domingos Fonseca [, foto à esquerda,]  eu mando um grande abraço com o meu apreço e a minha admiração pelo trabalho que estão a fazer, em Guileje e em Gadamael,  ajudando a reconstituir o "puzzle" da(s) nossa(s) memória(s) comum(uns)... 


Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Fotos do álbum do Zé Neto (1929-2007) Grupo 4 > Fotos diversas de instalações e atividade operacional... Não sei (porque as legendas são insuficientes) se nalgumas destas imagens aparece o malogrado alf mil Tavares Machado ou alguém do seu grupo de combate especial, Os Lordes. O Zé Neto, que exercia entºão as funções de 1º sargento da companhia, não era um operacional, pelo que as fotos que tirou (e que nos disponibilizoui em vida) foram todas tiradas dentro do quartel. Trata-se de um coleção de "slides", que foram posteriormente digitalizados.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Salancaur, a noroeste de Guileje e de Mejo, por onde passava o corredor de Guileje.

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011):


Quanto às operações no terreno, as nossas principalmente patrulhas de reconhecimento e nomadizações destinadas a manter o controle possível no itinerário de Gadamael Porto  decorriam sem sobressalto de maior, porque, era mais que evidente, o IN evitava o contacto para não denunciar os trilhos que utilizava nas suas infiltrações para o interior do território.

Mas, como já referi, era a partir de Guileje que se lançavam as operações conjuntas e de maior envergadura sobre o corredor de penetração dos turras. Para executar as ordens do Comando do Batalhão ou até do Sector (sediado em Bolama),  as unidades empenhadas deslocavam-se até Guileje, onde permaneciam o tempo necessário para a planificação, um, dois dias, e na hora H iniciavam a marcha para o alvo previamente referenciado.

Geralmente os resultados destas operações eram nulos ou pouco compensadores. Nós tínhamos um serviço de informações razoável, com a ajuda dos reconhecimentos aéreos, mas não éramos tão ingénuos que não soubéssemos que nesse aspecto o IN nos levava a vantagem da sua maior mobilidade, conhecimento do terreno e algumas cumplicidades de elementos das populações.

Além disso, o planeamento das operações era feito com as regras copiadas à pressa dos manuais clássicos e algumas leituras dos teóricos da guerrilha e, como tal, se não causavam autênticos descalabros nas nossas tropas isso se devia à bravura dos nossos soldados e ao discernimento dos seus comandantes que sabiam avaliar o momento em que deviam mandar às malvas o rigor dos papéis e actuarem em conformidade com o que deparavam no terreno.

Um pequeno exemplo: as cartas topográficas assinalam correctamente todas as características do terreno, ponto final. Ponto final,  no Alentejo ou nas Beiras. Na Guiné nem sequer chega a ser vírgula, porque quando a maré sobe o mar engole uma parte considerável da área total do território.

Por outro lado, as bolanhas são assinaladas como terreno alagado e vistas de avião até têm o aspecto de solo enlameado com farta vegetação, facilmente transponível. A realidade é bem diferente. Extensas zonas que, com os seus socalcos, tinham sido férteis campos de arroz, eram agora, quase abandonadas, autênticas armadilhas onde à mínima distracção um homem se afogava ou ficava atolado até ao pescoço.

Ganhou alguma notoriedade o diálogo entre o Celestino (1) e o Capitão Cadete. Numa operação em que as nossas tropas pretendiam desmantelar a fortificação que os turras tinham implantado em Salancaúr, o Celestino comandava comodamente instalado num avião Dornier. A companhia do Capitão Cadete estava, a pouco mais de duzentos metros do objectivo, a ser fustigada por fogo de canhão sem recuo do IN e o Celestino berrava pela rádio:
─ Avance! Organize o assalto pelo flanco esquerdo!!!

O Capitão, homem experiente, sabia que era de todo impossível dar mais um passo em direcção ao objectivo, estrategicamente defendido pelos lodaçais e, perante a insistência, gritou pelo microfone:
─ Venha cá abaixo e enterre o seu focinho na bolanha, seu…

Isto foi ouvido em todo a rede de transmissões das unidades da zona que, em sintonia, seguiam o desenrolar da operação e… nunca constou que o Capitão Cadete tivesse sido punido.

A zona de Salancaur, que era uma pequena península quando a maré subia, foi durante muito tempo um espinho cravado na nossa garganta. As informações diziam que os turras tinham ali instalado vinte e quatro canhões sem recuo (talvez um exagero), ao mesmo tempo que o reconhecimento aéreo dava conta de actividade rural por parte da população da tabanca nas redondezas,  o que punha fora de hipótese a destruição por bombardeamento da aviação.

Os comandos não desistiam de eliminar aquele importante ponto de apoio do corredor de Guileje e as surtidas das nossas tropas sucediam-se sem resultados palpáveis. Numa dessas operações, poucos dias depois do Natal desse ano de 1967 (sei a data precisa, mas não a quero referir) [28/12/1967, L.G.] , tivemos mais três baixas estúpidas, a juntar à de São João.

As nossas tropas saíram ao alvorecer e, excepcionalmente, os Lordes (2), do Alferes Tavares Machado, ficaram no quartel, constituindo a segurança das instalações. Menos de uma hora depois,  ouvimos um tiroteio aceso. Os turras tinham emboscado a frente da nossa coluna. Pelo rádio o Capitão Corvacho disse que não havia novidade, que estavam a reagir à emboscada e que o IN estava a retirar.

Em resposta o Alferes Tavares Machado disse que sabia por onde os turras iam fugir e que lhes ia dar uma coça. O Capitão mandou-o ficar onde estava pois a situação estava controlada. Qual quê? Reuniu os seus homens rapidamente e, ele de calças de ganga e camisola branca, embrenharam-se na mata em direcção ao sítio onde deflagrara o tiroteio.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Mais um "achado  arqueológico", descoberto recentemente... A placa com o nome do alf Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


 Pouco tempo depois, talvez meia hora, ouvimos novo arraial e não tivemos dúvidas de que agora eram os Lordes que estavam sob o fogo bem conhecido das Kalash. Posto ao corrente do sucedido, o Capitão retrocedeu ainda a tempo de enfrentar os turras e evitar uma chacina completa. Só não conseguiu evitar as mortes dos  (i) Alferes Nuno da Costa Tavares Machado,  (ii) Soldado António Lopes (cuja alcunha era o Sargento, devido aos seus modos bruscos) e (iii) Soldado António de Sousa Oliveira (o Francesinho).

Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português,  eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.

José Neto (2006)

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Notas do autor:

(1) Celestino era o nome com que depreciativamente tratávamos o comandante do BART 1896, sediado em Buba, personagem muito sombria da minha memória pois ameaçou-me com cinco punições, nunca concretizadas. Algumas vezes o trato por besta nesta narrativa, com alguma propriedade.

(2) Os Lordes era a designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebeu instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem.



Relatos, na primeira pessoa, da Operação “Bolo Rei”

Toy Sardinha esteve num desses combates e foi um dos feridos graves

Balas de raiva

Debitei, recentemente, um texto no nosso blogue onde trouxe à luz o nosso camarada, e meu particular amigo, Toy Sardinha, um soldado que fez parte da CCAV 1747, sendo o seu destino o destacamento em Bissum. Tive o cuidado de refazer, superficialmente, o seu trajeto militar pelos trilhos da Guiné até ao momento da trágica emboscada sofrida, resvalando o conteúdo do meu tema para os momentos dolorosos pelos quais passou.

Frisei o contacto com IN num dia em que o entoar dos sinos já tocavam os celestes sons natalícios. Estava-se precisamente do dia 24 de dezembro de 1967. Recordo que o balanço final dessa inesperada emboscada montada pelo IN, resultou num morto e quatro feridos.

Perante a realidade contada pelo antigo combatente, insisto no título balas de raiva uma vez que, em meu entender, o rótulo desmitifica a raiva sentida por cada um de nós quando as balas dispersas pelo infinito horizonte, penetravam em corpos de companheiros inocentes que caminhavam ao nosso lado.

Refleti, confesso, sobre o teor do seu ferimento grave e literalmente tracei o seu longo processo de recuperação. Debrucei-me, também, sobre a sua luta titânica que apontava para uma melhoria substancial no seu quotidiano. Objetivo conseguido, não obstante a sua visível deficiência física. Hoje o Toy é, tal como sempre o foi, um homem feliz. 

Aceitando o repto lançado pelo Luís Graça, caminhei no trilho da esperança que visava esmiuçar uma profícua certeza sobre a razão do “embrulhar” numa altura de festa que se previa solene e próspera: o Natal. Tanto mais que o nosso camarada Luís Martins, ex-alferes miliciano, e que conheceu esses combates, já tinha lançado dicas factuais sobre as operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso” que tiveram lugar nesse período natalício de 1967 na zona de Bula.

Num encontro, mais um, em Beja, com o nosso antigo combatente da CCAV 1747, propôs-lhe um desafio memorial que visou, logicamente, trazer à tona da reminiscência razões óbvias que resvalasse para os conteúdos da emboscada e as suas consequências.

O Toy, com as suas faculdades mentais em plena perfeição e com o sorriso nos lábios, como é hábito, começou por nos dizer: “Lembro-me que dormimos no mato na noite de 23 para 24 de dezembro. Essa operação envolveu toda a minha companhia e muitas outras. Foi um ronco enorme. Era gente por todo o lado”.

Reata a conversa e afirma: “Tratou-se efetivamente da Operação Bolo Rei, uma vez que estávamos precisamente na época do Natal. Foi um pandemónio. Não sei se se terá efetuado uma outra em simultâneo. Não me recordo. Esta operação, Bolo Rei, começou no dia 22 de dezembro de 1967 e só terminou a 3 de janeiro de 1968. Eu fui ferido a 24 de dezembro às 11 horas da manhã. Foram combates intensos. Soube mais tarde que no fim da operação se registaram 7 mortos e 32 feridos”.

O Toy, com ar brincalhão, recorda esse malfadado dia: “Estávamos emboscados e demos conta de dois homens e uma mulher no trilho. Eram turras. Houve um grande alvoroço, não conseguimos apanhar os homens, fugiram, mas conseguimos apanhar a mulher. Estava grávida. Depois ouviram-se gritos para deixarmos a mulher em paz. Levantou-se um burburinho de tal ordem que tivemos que abandonar o local que, entretanto, se tornara perigoso e passado pouco tempo estávamos a embrulhar na emboscada. Lembro-me que era para atravessarmos uma ponte, o que não aconteceu, resolvemos ir por um outro lado, só que a emboscada já estava montada e nós caímos nela. Se temos atravessado a ponte teria sido uma grande razia. Tivemos um morto e quatro feridos”.

Memórias de um combatente que foi, no fundo, um dos muitos militares que se depararam com as consequências das balas de raiva num conflito armado que marcou, inquestionavelmente, gerações de jovens enviados para as frentes de combate.

Guiné um território onde António Manuel Moisão Sardinha se deparou com o encurtar da sua comissão. Chegou em julho e foi ferido em dezembro.

Registemos pois o seu depoimento. Que surjam outras opiniões de camaradas que estiveram envolvidos nas Operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso”. 

Proposta deste vosso camarada: Comandante Chefe do nosso blogue, Luís Graça, sugiro que António Manuel Moisão Sardinha, vulgo Toy, se torne membro da nossa Tabanca Grande. Lancei-lhe o desafio, ele aceitou, ficando a minha proposta de uma ida do camarada ao próximo encontro (almoço) dos velhos tabanqueiros. Prontifiquei-me em levá-lo comigo. 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
____________

Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).

Guiné 63/74 - P12123: Parabéns a você (634): Bom dia, comandante Jorge Rosales!... Um feliz e magnífico dia de aniversário! (José Manuel Matos Dinis, Armando Pires, Beja Santos, Hélder Sousa, Luís Graça)



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> VII Encontro Nacional da Tabanca Grande >  O Jorge Rosales, régulo da Tabanca da Linha, ainda do tempo do caqui amarelo (1964/66) e a Giselda Pessoa, a primeira mulher a quem começámos a tratar, por direito próprio, como camarada, na sua qualidade de enfermeira paraquedista no TO da Guiné (1972/74).


Foto: © Manuel Resende (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


  1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis [, foto à direita, do Manuel Resende, 2012], secretário da Magnífica Tabanca da Linha onde pontifica o comandante Jorge Rosales:

Data: 3 de Outubro de 2013 às 13:02

Assunto: O dia de aniversário do Rosales (*)

Don Rosales encantou-se pelo pré-cosmopolitismo da região entre Cascais e Estoril. Mas os laços só consolidaram, quando conheceu uma senhora de uma família tradicional de Cascais, por quem se apaixonou, e foi correspondido. Casaram, e decorridos pelo menos os meses que a natureza impõe, nasceu um robusto rapaz, a que se seguiu uma menina e outro rapazola. O primogénito foi rodeado de mimos, e veio ao mundo com seis quilos, setecentas e oitenta e cinco gramas, segundo dados oficiais da família. Chamaram-lhe Jorge, um nome distinto e com apetências imperiais.

Don Rosales assistia ao desenvolvimento do puto com indisfarçável orgulho, e cogitava, se houvesse mais uma dúzia daqueles matulões, garantia-se a si próprio, Portugal nunca se teria separado da Galiza.

Aos dez anos o meu pai deu-me um passe metálico, com fotografia, onde se colocava um bilhete semanal, e mandou-me estudar para os Salesianos do Estoril, a ESSA. Na minha turma andava um rapazito, também Zé, e de apelido Rosales. Tinha um irmão mais velho, que andava lá para os últimos anos do liceu, vestia-se à adulto, com casaco, levava uns cadernos debaixo do braço que lhe conferiam ar intelectual, e batia-me alarvemente, alegando que eu fazia macaquices ao irmão benjamim. Depois já não alegava nada, batia-me, porque sim. Jurei vingar-me.

Mais tarde, quando eu andava pelos dezassete ou dezoito aninhos, o meu clube de putos, o CAC, mas com grande aura na região, foi treinar algumas vezes contra o Estoril-Praia, clube mais ou menos referenciável em ambientes luminosos e dragonianos, fundado por um grupo de que se destacava um primo meu. Lá andava outra vez o Rosales, o tipo assanhado que eu, ainda lingrinhas, tinha que evitar no meio do campo. Por isso jogava a extremo-direito.

Havia dois defesas na equipe da Amoreira que, alternadamente, me calhavam em sorte, o Coropos, e mais escassamente, porque era direito, o Virgílio. Eram dois bulldozers, e a minha equipa fazia um futebol geométrico de grande efeito prático: antes de recebermos a chicha, já tínhamos que saber a quem a endossar. Era lindo, ver os canarinhos em corridas desenfreadas de um lado para o outro. No meio do campo amarelo, o alferes promovido a capitão levava as mãos à cabeça e clamava por calma.

Felizmente para eles, os jogos-treino não tinham espectadores, ou seriam varridos com saraivadas de pedras, sempre abundantes no topo norte. A vingança consumar-se-ia muito mais tarde, no Blogue do Luis Graça (**), onde voltei a encontrar a imponente figura, mas mais lento de movimentos, sem as fintas com jogo de cintura, e até umas artroses que lhe tolhem os lançamentos em profundidade.

Por isso aproveito esta magnífica ocasião gentil e solidariamente concedida pelo Boss, para vos dar conta do que o aniversariante tem ocultado de personalidade litigante.

Para não faltar à verdade, ainda acrescento que o dito Rosales foi campeão nacional de ténis de mesa, que se transferiu para a Académica, onde esteve quase a triunfar, se o Dr. Rocha tivesse mudado de ares, e posteriormente optou por ir defender a Pátria, e escolheu Porto Gole como destino de privilégio. Assessorado pelo Alface, distinguiu-se com virilidade e distinção. Também mantevev relações próximas com o chefe local Abna Onsa, temido e fiel à NT, com quem consertava táticas e acções.

A vocação imperial que lhe estava destinada, tem-na praticado com visíveis resultados, em tascas, bares, e outros estabelecimentos de bebidas. Às vezes aparece em minha casa, sempre a dar ordens disfarçadas de perguntas gentis, do género Ó Zé, tens cá algum vinho bonzinho?

Com o óbvio desejo de lhe tornar a vida num castigo, daqui lhe apresento os parabéns, e o desejo longa vida.

JD [ José Manuel Matos Dinis,  ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]


Portugal > Estoril > 1920 > Foto do Grande Casino Internacional Monte Estoril. Autor desconhecido. Postal do arquivo Arquivo de Luís Filipe Dias Gonzaga Ribeiro, bisneto do antigo dono do local. Documento, com mais de 90 anos,  do domínio público. Reproduzido na Wikimedia Commons (com a devida vénia..).



Lê-se na Wikipédia, sobre o Estoril, freguesia do Concelho de Cascais:

(...) "A sua proeminência recente teve início no começo do século XX por Fausto de Figueiredo (detentor da concessão de exploração de jogo, no Casino Estoril). Finalmente, sob a visão de Fausto Cardoso de Figueiredo e do seu sócio, Augusto Carreira de Sousa, surge, em 1913, o projeto do Estoril enquanto centro turístico de ambições internacionais.

O início da I Guerra Mundial implicou atrasos consideráveis na sua concretização, pelo que só em 16 de Janeiro de 1916 se procedeu à colocação da primeira pedra para a construção do casino. Segue-se um período de intensa construção nas zonas conquistadas ao pinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde 1940, pelo fácil acesso rodoviário proporcionado pela estrada marginal, junto ao mar. O concelho assume-se, então, como centro turístico de primeira ordem, recebendo durante e depois da II Guerra Mundial um elevadíssimo número de refugiados e exilados, (...)


2. Mais alguns depoimenntos, pedidos pelo editor à última hora, a alguns dos frequentadores da Tabanca da Linha. Muitos dos seus amigos e camaradas da Tabanca da Linha ficaram, infelizmente, de fora, na impossibilidade de os contactar a todos em tempo útil. Aqui ficam as mensagens que nos chegaram até domingo á noite (LG):


2a.Armando Pires [, aqui na Tabanca da Linha, à esquerda, com o Jorge Rosales, à direita, em novembro de 2012. Foto de Manuel Resende]


Já não sei pela mão de quem, fui ao almoço da Tabanca da Linha.

Conhecia uns dois ou três dos presentes e os outros foram-me sendo apresentados.

Já estávamos dos digestivos, iam-se misturando as histórias do passado, quando um decidiu incluir-me como actor de uma bravata por ele imaginada.

Senti necessidade de sair por ser mais forte o meu respeito por todos.

Foi quando a tua mão forte pousou suavemente no meu ombro, e na tua voz serena me disseste, “tem calma, Armando, a malta aqui da linha conhece o gajo, é um inventor, ninguém acredita nas coisas que o gajo conta”.

O teu gesto, Jorge, tornou-se marca indelével de ti. A um grande Homem bastam pequenas coisas para o tornar admirado, respeitado. À admiração e ao respeito fui somando a amizade que te ganhei.

Gosto de ouvir quando ao telefone me dizes, “Armando, sabes quem fala? É o Jorge, o Rosales, estás bom Armando?”

E sinto até o vazio dos anos, tantos anos, que tardei em te conhecer.

Ainda bem que te conheci, Jorge.

Hoje fazes anos. Leva um profundo abraço meu.

É o melhor de mim que tenho para te dar.


2b. Mário Beja Santos

[Imagem à direita: Coruche > 2010 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missitá, 1965/67) > Da direita para a esquerda, o Mário Beja Santos, o Henrique Matos , o João Crisóstomo e o Jorge Rosales.  Foto do Henrique Matos.]


Meu Estimado Jorge Rosales:

Quem me preparou tão bem os soldados e cabos guineenses de Missirá e Bambadinca ], do Pel Caç Nat 52,] está sempre no meu coração, é uma inerência afetuosa muito apreciada, fica sabendo .

Desejo-te mil alegrias aniversariantes saúde e bonomia nunca te faltem,,espero ver-te em breve, sabe-se se lá na Tabanca da Linha ou coisa parecida. 

Um abraço de gratidão do Mário Beja Santos


2c. Hélder Sousa [, foto à esquerda: com o Zé Manuel Dinis, o "secretário", Tabnaca da Linha, nov  2012. Foto de Manuel Resende]

Ora bem, cá temos mais um aniversário do nosso amigo Jorge Rosales.

Há uns três anos atrás tive oportunidade de descrever como conheci, melhor, como interagi com o Rosales a propósito das reuniões do autodenominado “Grupo do Cadaval”,  para diligenciar a produção do livro “História de Portugal em Sextilhas” do nosso ‘bardo’ Manuel Maia.

Disse que não o conhecia antes, apesar das suas qualidades futebolísticas. E, sendo mais novo e vivendo, à data, na “linha de Vila Franca”, não me tinha cruzado com ele, nem tampouco na Guiné, devido essencialmente à diferença de idades.

Disse que foi através deste incomparável e insubstituível ‘local de encontros’ que é o nosso Blogue, que cheguei ao conhecimento e reconhecimento do Rosales.

Já disse isso tudo e, sendo assim, o que haverá mais?

Ora bem, o tempo foi passando, e por via de circunstâncias várias foi possível um relacionamento mais próximo, com mais cumplicidade, com o Jorge. E, por via disso, todas as ‘coisas boas’ que se foram dizendo do Rosales foram sendo confirmadas.

Desde muito cedo que teve a sina de aturar o Zé Dinis, que como sabem, não é nada fácil, não senhor, depois foi a aventura na Guiné. Nos meus contactos com ele aprendi a apreciar o seu modo sereno de estar, de conversar, de resolver as questões que se passam à sua volta. Vi como se relaciona superiormente com as gentes do Couço, vi como se impõe naturalmente na “Tabanca da Linha”, vi como ao seu redor as conversas se desenrolavam com profundidade e tranquilidade no último Encontro da nossa “Tabanca Grande”.

Por tudo isto posso dizer que o Rosales é um amigo firme e confiável, que estimo e prezo e que ganhei através do nosso Blogue.

Ah, é verdade, hoje é o dia do seu aniversário e sendo assim aqui ficam os meus parabéns e os votos de uma longa vida.

Parabéns! Hélder Sousa


1º Postal de parabéns dedicado ao Jorge Morales. 71º Aniversário, em 2010. Cartoon do Miguel Pessoa (2010), sob foto de, salvo erro, Henrique de Matos.

2d. Luís Graça

Homenagem a um grã-tabanqueiro, 
régulo da Magnífica Tabanca da Linha,
antecipando o almoço-convívio,
no dia 17, na Adega Camponesa
em Cabreiro, Alcabideche, Cascais (**):

Foi craque de futebol
E do pinguepongue  campeão,
Desterrado em Porto Gole,
Tudo por mor da Nação.

É de galega linhagem,
Na Linha nado e criado,
É-lhe devida homenagem
Por ter sido bravo soldado.

Comandante só há um
Na Magnífica Tabanca:
Rosales, e mais nenhum,
Que ainda salta e pouco manca.

Estudou nos Salesianos,
Foi herói de capa e espada,
Faz setenta e quatro anos,
É um bom pai e camarada.

É o melhor pai do mundo,
Diz a Marta, no Brasil.
Tenho-lhe um amor profundo,
Diz o Tiago, no Estoril.

É um camarada porreiro,
Dizemos todos em coro,
É nosso grã-tabanqueiro,
É amigo que vale ouro.

Que este dia se repita,
Por muitos e bons aninhos,
Saúde, sorte e guita,
São os votos dos velhinhos.

Tu, periquito, vai no mato
Que o Rosales segue para Bolama,
Da guerra já ele está farto,
Só quer uísque e uma boa cama.

Adeus, meu povo balanta,
Adeus, caqui amarelo,
Nunca sede tive tanta,
Só queria uísque com gelo.

Água do Couço sabe bem,
Na Adega da Camponesa,
Aparece lá também,
Oh! bajuda, oh! beleza.

Se o bom irã me ajudar,
E me der anos p'ra viver,
...Ao Geba quero voltar,
E Porto Gole rever!
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Notas do editor:

(*) Últimos dois postes anteriores da série >

7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12122: Parabéns a você (633): Obrigado, pai... Tenho muito orgulho  em si (Tiago ). Obrigada, pai, por seres o melhor pai do mundo (Marta): depoimentos dos filhos do Jorge Rosales, no dia do seu 74º aniversário

7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P121121: Parabéns a você (632): Jorge Rosales, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, ex-alf mil, 1ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66
(i) O Jorge Rosales era alf mil, tendo pertencido à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim (Havia mais duas, uma Bedanda, a 4ª CCAÇ, e outra em Nova Lamego, 3ª CCAÇ, que deram origem à CCAÇ 6 e à CCAÇ 5, respetivamente).

(ii) Em Farim, ficou pouco tempo, talvez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos (, da 1ª CCAÇ). 

(iii) Em Porto Gole fez amizade com o mítico Capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”. O seu prestígio, a sua influência e e o seu carisma eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC).

(iv) Jovem (teria hoje 76/77 anos se fosse vivo), o Abna Na Onça era um homem imponente, nos seus 120 kg. Schultz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços …

(v) Recorde-se que, mais tarde, será morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole… Nesse dia o destacamento é abandonado pelas NT:  foi "um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário (Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70);

(vi) O Jorge Rolaes tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. Possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era amarela, o famoso caqui amarelo, antes do camuflado.

(vii) Ficou 18 meses em Porto Gole. Ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.

(viii) Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte, entre as NT e o PAIGC. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). Podiam deslocar-se num raio de 10 km….
(ix) Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (o BART 645), que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá) .

(x) Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e o respeito. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (exceto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves).

(xi) Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais.

(xii) Do outro lado, a nascente estava a CCAÇ 556, no Enxalé, frente ao Xime… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo.

(xiii) Também passou por Fá. E, no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, da ilha de Bolama, partiam para operações no continente…Deu formação a pessoal africano.

(xiv) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que era preciso contar com tempo e vagar (, coisa que ainda aconteceu).

(xv) O Maldonado [, António Aníbal M. C. Maldonado}   é morto, em 4/3/1966, num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte abalou-o,ao Jorge.

(xvi) O Jorge participou no nosso IV Encontro, em 2009.  Na altura, queixava-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter sido de rendição individual. Mais tarde vai criar a Mgnífica Tabanca da Linha, de que se torna "régulo". (O pessoal da Linha reune-se habitualmente na Adega Camponesa, no Cabreiro, em Alcabideche, Telefone: 214 690 328).

(xvii) Está reformado de uma dessas empresas que faziam o reabastecimento de combustível aos aviões, no aeroporto de Lisboa, pelo que conhece muita malta ligada à TAP e à antiga ANA.  Tem dois filhos, Marta (doutorada em antropologia, investigadora, professora auxiliar convidada na NOVA - Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e o Tiago (bancário, em Oeiras).

(xviii) O Jorge vive no Monte Estoril.  Tem também casa e um pequena exploração agrícola, no Couço, Coruche…  Em 2009, quando entrou para a nossa Tabanca Grande, não descartava a hipótese de voltar à Guiné,   "com mais malta do seu tempo"…

Guiné 63/74 - P12122: Parabéns a você (633): Obrigado, pai... Tenho muito orgulho em si (Tiago ). Obrigada, pai, por seres o melhor pai do mundo (Marta): depoimentos dos filhos do Jorge Rosales,no dia do seu 74º aniversário

Tiago Vilar Rosales [, filho, bancário]

Olá,  pai, obrigado, pai,

Obrigado, pelo stick de hóquei que me deu no Natal;

Obrigado, por nadar comigo até à “Rocha”,  na praia de Mingotes;

Obrigado por me ir ver jogar a Évora, Estremoz, Mourão...;

Obrigado,  por me ajudar quando preciso;

Obrigado.

Tenho muito orgulho no pai. E obrigado, por me ensinar e orientar a ser o que hoje sou.

Um beijo.

Obrigado. Tiago



Marta Vilar Rosales [ filha, antropóloga]

O pai ensinou-nos a gostar dos outros,
A ter vontade de os conhecer e respeitar,
Ensinou-nos a ser curiosos e aventureiros
e a não ter medo da diferença,
a ter iniciativa 
e a não desistir.

Usa o seu exemplo 
para mostrar que ser correcto faz sentido, 
que as regras existem para alguma coisa 
e que fazer e manter laços sociais 
dá trabalho, 
exige esforço 
mas vale muito a pena. 

Tudo coisas muito importantes 
para se ser gente (mãe, mulher, filha, irmã, amiga) hoje, 
e para se trabalhar 
no quadro da mais humana das ciências sociais 
como é a Antropologia.

Obrigada,  pai, 
por seres o melhor pai do mundo.

Parabéns!
Marta,  em Ipanema,  RJ,  Brasil

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P121121: Parabéns a você (632): Jorge Rosales, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, ex-alf mil, 1ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66

Guiné 63/74 - P12121: Parabéns a você (632): Jorge Rosales, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, ex-alf mil, 1ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66


Vd. aqui mais postes do Jorge Rosales que entrou para a Tabanca Grande em 9/6/2009 

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12115: Parabéns a você (631): Artur Conceição (ex-sold trms, CART 730, Bissorã, Farim, Jumbembem, 1965/67); e Inácio Silva (ex-1º cabo ap armas pes, Mansabá, CART 2732)