domingo, 27 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12209: Memória dos lugares (247): Galomaro e Cutia, ontem e hoje (António Tavares / José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 13 de Julho de 2013, a propósito de um monumento existente em Galomaro que terá a ver com uma homenagem da CCAÇ 2405:




HOMENAGEM DA CCAÇ 2405 A (?) …

Em 1970 junto ao heliporto do quartel de Galomaro existia um monumento de HOMENAGEM DA CCAÇ 2405 A (?) …

Eu leio: C I P. PIL. AT. ANTÓNIO F. M…

A certeza, não tenho!

Nas duas primeiras imagens vemos os proprietários das fotos.

Fotos do tempo das CCS dos BCaç 2912 e 3872 portanto de 1970 a 1974.
Passados 42 anos esse monumento ainda existe como se vê na terceira fotografia, da autoria de Gil Ramos, da Missão Dulombi - 2012.

A CCaç 2405 era muito respeitada e lembrada pela POP de Galomaro talvez a razão de o monumento, com as deteriorações devidas ao tempo, ainda ser visível.

A história da CCaç 2405 consta de escritos na Tabanca Grande, nomeadamente no P11835.

Aos autores das fotografias as devidas vénias e agradecimentos.

António Tavares
Foz do Douro, 13 de Julho de 2013

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1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Caros editores
No poste 12150 mostra uma foto de Cutia no texto do Ernesto Duarte.
Em 2013 passei por Cutia e tirei as fotos que se seguem e creio que correspondem ao mesmo abrigo.

Abraço
Zé teixeira




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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12011: Memória dos lugares (246): Gabu / Nova Lamego, 1972/73 (Joaquim Cardoso)

Guiné 63/74 - P12208: Coimbra Hotel & Spa- Bissau – Preços especiais para os ex_Combatentes.



1. Camaradas, recebi do Miguel Lopes Nunes, gerente do Coimbra Hotel & Spa- Bissau, um pedido de divulgação, entre a malta ex-Combatente, da qualidade e preços que nos são oferecidos por aquela instituição.

Exmo senhor, Muito obrigado por ter aceite o convite de amizade. De Bissau venho por esta forma oferecer os n/s préstimos, enquanto hotel sito em Bissau, (Coimbra Hotel & Spa- Bissau ) para acolher eventuais viagens de v/s colaboradores e companheiros de armas (que tenham estado na GB no tempo da Guerra ), que visitem ou queiram visitar a GB. Manifestamos a n/ disponibilidade para ajudar logisticamente nas viagens. O meu email é : zulupreto@gmail.com

M cumtrs Miguel Lopes Nunes

Noites/ estadias no Coimbra Hotel & Spa em Bissau – três pessoas em suites , ou seja, há suites que têm uma sala com sofá-cama e o quarto com duas camas de solteiro. Nestas suites podem ficar alojadas 3 pessoas. Temos 5 suites novas nestas circunstâncias; 2 suites especiais; 3 suites normais ; ou seja 10 suites onde se podem alojar comodamente 30 pessoas. Faríamos neste caso um preço especial para 3 pessoas em suite, com pequeno-almoço para os 3, a 120 euros por suite. Cada noite ocupada, 120 euros. Daria pois 40 euros por pessoa.

No caso de quererem um quarto com duas camas para duas pessoas apenas em regime de alojamento e pequeno-almoço, contaríamos com 100 euros por quarto, dando pois neste caso 50 euros por pessoa.

Para vossa orientação os nossos preços são 115 euros para uma pessoa em promoção de pensão completa e 130 euros para uma pessoa sem promoção, alojada em quarto normal ou 187 euros em suite quando 1 pessoa alojada em suite simples. Estes preços permitem dar-vos uma orientação sobre os preços que se praticam e como os preços que lhes estou a dar são de facto muito bons para este caso específico.

Na eventualidade de quererem almoçar e jantar no restaurante do hotel, teriam de contar com 6.000 francos cefas (1 euro = 656 francos, logo 6.000 francos são 9,14 euros por almoço ou jantar por pessoa em regime de buffet c/ tudo incluído).

Os jipes para os passeios não são nossos ; nós temos uma amiga que no-los alugam. O preço normal seria 180 euros por dia com motorista por cada Jipe. Mas estou em crer que, se forem vários jipes e se não calhar numa época de eleições em que eles estão todos alugados, poderíamos alugar jipes a 100 euros por dia. Cada Jipe tem 2 lugares à frente, 3 a meio e 2 lá atrás. Contamos pois com 100 euros Jipe incluindo um motorista. O Jipe é entregue com o depósito cheio; teremos de o reencher para o devolver à dona no final do passeio. 

Mais informação em:


Guiné 63/74 - P12207: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte V): A caminho das férias na Metrópole, em meados de 1970



Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Viagem de avioneta civil, até Bissau, para gozo de licença de férias na Metrópole. O Luís Nascimento  é o segundo a contar da esquerda (. É o mais alto do grupo, com 1 metro e 86, segundo o seu BI militar)... Não se consegue distinguir o logo do saco de viagem: se era o logo da TAP - Transportes Aéreos Portugueses, se era o da TAG - Transportes Aéreos da Guiné (voos internos). Inclino-me mais para esta segunda hipótese.

Recorde-se que a 2 de Setembro de 1965 foi criado o serviço autónomo Transportes Aéreos da Guiné (TAG), visando a exploração dos transportes aéreos de passageiros, carga e correio naquela província ultramarina. Na realidade foi a criação da primeira companhia aérea da Guiné. O seu nome será posteriormente alterado para Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP).


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Foto s/d, s/l... Presume-se que  seja junto à secretaria, em Canjambari, no dia da partida para Bissau, no início das férias... A legenda diz: "À espera do passaporte, de ida e volta".


Guiné > Bissau > c. meados de 1970 > Avenida Marginal, Cais do Pijiguiti > Fazendo horas... O Luís Nascimento é o terceiro a contar da esquerda para a direita.



Guiné > Bissau > c. meados de 1970 > O Luís Nascimento à entrada do célebre Pelicano (1)... Este estabelecimento era o mais moderno restaurante, cervejaria e esplanada de Bissau, naquela época. Tinha as melhores ostras de Bissau... O Luís Nascimento veste já à moda... Digam-me lá onde se compravam estas camisas todas "hippies" ?

Chegavam rapidamente, à Europa,  do outro lado do mundo,  da costa californiana,  nos EUA,  novos padrões estéticos, éticos, musicais e culturais... A canção "San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair)", composta por John Phillips do grupo "The Mamas & The Papas", e interpretada por Scott McKenzie, é lançada em São Francisco na primavera de 1967,  quando a América estava atolada na guerra do Vietname...  [ Ver e ouvir aqui um vídeo, no You Tube, já com c. de 13 milhões de visualizações.... O "San Francisco", interpretado pelo próprio Scott McKenzie (1939-2012), no festival pop de Monterey. Ao que parece, esta canção tornou-se um ícone, durante a primavera de Praga, na antiga Checoslováquia, em 1968. Também se cantava, na Guiné, no meu tempo, nas longas noites de insónia, no mato, em Bambadinca, "longe do Vietname"... Lembras-te, GG ?].


Guiné > Bissau > c. meados de 1970 > O Luís Nascimento à entrada do célebre Pelicano (2).


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Em Bissau, e depois em casa, na Metrópole, esquecia-se, durante um mês, a dura e obscura vida no mato... Dura e obscura mesmo para um 1º cabo cripto, que mal podia ser sair do quartel e não era operacional... Na foto, o Luís Nascimento na "esplanada (sic) do centro cripto"...


Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição / Legendagem complementar: L.G.]

1. Continuação da publicação de uma seleção e fotos do álbum
o nosso camarada, Luis Nascimento, o ex-1º cabo operador cripto Nascimento (também conhecido, na tropa por Assassã, do francês "assassin", assassino, alcunha que ganhou no tempo em que era... júnior do Académico de Viseu) [, foto atual à esquerda].

O nosso grã-tabanqueiro Luís Nascimento pertenceu à CCaç 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71). As fotos foram-nos enviadas pela sua neta, Jessica Nascimento em 1/10/2013.
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12164: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte IV): Tempo(s) de lazer(es)... "Chorei, sofri, lutei mas venci"...

sábado, 26 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12206: FAP (78): Nunca tão poucos fizeram tanto com tão pouco... (António Martins Matos / Helder Sousa / Luís Graça)... Fotos do Artlindo Roda


Guiné > Zona leste > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério (1)... 

Uma DO 27, onde se presume que o Arlindo Roda tenha apanhado boleia até Bafatá, onde foi apanhar o Dakota para Bissau... Também é possível ter ido diretamente para Bissau.. Em dia de sorte... Outros, como o Humberto Reis, tinham amigos pilotos na FAP... Eu cheguei a ter o cu sentado numa DO 27 ou num heli AL-III para um "desenfianço" até Bissau.. Acabei por ir barco da "Casa Gouveia", rio Geba abaixo...  Apareceu, à última hora, alguma mulher grávida, ou algum doente civil  ou algum militar "mais estrelado" do que eu, que apanhou a minha boleia... Perdi, nessa altura, a minha (única) oportunidade de "andar de cu tremido" em DO 27 ou em heli AL III. 




Guiné > Zona leste > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério (2)...






Guiné > Zona leste > Batatá (?) > Aeródromo  > c. 1970 > Viagem do fur mil Arlindo T. Roda, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), de Bambadinca, de DO 27, até Bafatá, e de Bafatá, em Dakota, até Bissalanca, Bissau, onde foi apanhar o avião da TAP, no seu mês de férias... Não sei se a sequência está correta... Nem sei se as fotos, com o Dakota, são de Bafatá ou de Bissalanca... Peço a ajuda da malta da FAP...


Guiné > Zona leste > Batatá > Aeródromo  > c. 1970 >  Dois T6 G na pista, prontos a descolar. O fotógrafo está de camuflado, deve ter ido de Bambadinca a Bafatá, em serviço... Presumo, portanto, que o aeródromo seja o de Bafatá... onde não tenho ideia de alguma vez ter posto os pés... (E eu ia com frequência a Bafatá City!).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > 1970 > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Um helievacuação de feridos em combate, no decurso da Op Boga Destemida (7 de fevereiro de 1970).


Fotos do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]



1. Comentário de António Martins Matos (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; hoje ten gen ref) [, foto à esquerda, junto a uma DO 27, embora fosse sobretudo piloto do caça-bombardeiro, Fiat G-91] (*)


Caros amigos

Analisando o tema com atenção verifica-se que há dois tipos de "[gloriosos] malucos das máquinas voadoras", os que só são "malucos" por terem escolhido a profissão de piloto e que sempre a encararam com rigor e profissionalismo ( ainda que até possam fazer parte de patrulhas acrobáticas) e ... "alguns outros ".

Esses "outros",  quando longe das vistas e do enquadramento hierárquico,  por vezes têm tendência a "apardalar".

Não sei do Honório, penso que metade do que dizem dele é apenas lenda, mas sei de, no meu tempo de Guiné e no Leste, dois  "gloriosos malucos" perderam a vida em demonstrações pró pessoal terrestre, arriscaram e ...morreram.

Dir-me-ão, eram "gloriosos malucos das máquinas voadoras", o risco era a sua profissão. Pena foi que levassem com eles o José Valoura e o António Madeira, não tinham que morrer, só queriam participar na "maluqueira".... para mais tarde recordar.

Para alguns o Honório (paz à sua alma) pode ter sido uma lenda... mas está longe de "valorizar a memória dos nossos camaradas da FAP".

Querem valorizar a FAP? Escrevam sobre o Tcor Almeida Brito, Maj Mantovani Filipe, Fur Baltasar da Silva, Fur Carvalho Ferreira, a Enfermeira Paraquedista Celeste Costa ...
Abraços
AMM


2. Comentário de Hélder de Sousa  (fur mil trms TST, Piche eBissau, nov 1970 / nov 1972) [, foto à direita, em Piche] (*):

Parece-me que a expressão "gloriosos malucos das máquinas voadoras", que é o título em português de um filme que presta homenagem a todos aqueles que dedicaram a sua vida (em muitos casos,  literalmente) à aviação, talvez não tenha sido muito bem compreendido.

Digo isto por via do comentário de AMMatos.

É claro que, como em todas as situações, é preciso que tudo se faça com o maior profissionalismo e que sempre, ou quase sempre, que se pretende 'inventar', podem suceder percalços ou situações lamentáveis.
Não me parece que esta 'chamada à ribalta' do Honório possa ser usada para fazer clivagem entre uns 'pilotos malucos' que faziam exibicionismos e outros 'malucos pilotos' por terem seguido uma actividade tão cheia de riscos.

Não, nada disso. Acho que o Honório (que não conheci, de que não fui contemporâneo, logo não tenho nada 'empatado') foi credor de alguma fama que também creio ser algo romanceada mas não deixa de ser verdade que essa sua fama atravessou os tempos já que ouvi (não vi) histórias dele, mais ou menos no teor daquelas que já por aqui foram referidas. E sabe-se como o 'povo comum', desde tempos bem antigos, se pela por 'pão e circo'.

Não vejo que possa 'vir mal ao mundo' respigar esses 'pequenos' apontamentos.

Agora, também concordo que seria bom dar mais visibilidade, mais protagonismo, a outros valorosos elementos da FAP, como os que AMMatos cita mas acho que isso não pode vir assim, do "nada".

Se as suas histórias não aparecerem, se não as referirem, aqueles que com eles privaram, conviveram, etc., como irão elas chegar aqui? Inventadas? Mais ou menos no 'parece que', 'ouvi dizer que', etc.,? Logo a seguir aparecem os 'correctores' a dizer que "não falem do que não sabem, não estiveram lá", o costume.

Por exemplo, sobre as nossas valorosas enfermeiras paraquedistas não tem sido já por aqui referido quão importante foi o seu trabalho? A importância, tantas vezes decisiva, das suas intervenções? Desde as meramente 'curativas' às psicológicas? Claro que sim! Referidas em artigos próprios, em grande 'culpa' por causa da Giselda, mas não só, e em referências em artigos de memória de vários protagonistas.

E quanto a Pilotos? É verdade que foram mais salientados o Miguel Pessoa, o António Matos, o Jorge Félix (e talvez mais algum de que agora, neste momento, não me ocorre) porque estão vivos (e recomendam-se, felizmente!) mas também porque são interventivos.

Quanto a outros apenas aparecem nas referências às ocorrências que os vitimaram mas quem pode adiantar mais? Se houver, venham elas!

Abraços

Hélder S.

3. Comentário de L.G. (*)

No último ano da guerra, havia,  no TO da Guiné,  46 aeronaves operacionais, menos 12 do que em 1971: seis  TG6, doze  D0 27, três C47 (Dakota), oito G91 (Fiat), quinze Al III (heli) e dois Nord-Atlas.

Havia, por outro lado,  cerca de 60 pistas, 1 base aérea, 2 ou 3 aeródromos dignos desse nome... E, o mais importantes, havia sobretudo gente, preparada e qualificada (dos pilotos aos caçadores paraquedistas, dos melec às enfermeiras paraquedistas)...

Numa guerra, prolongada, de onze anos, travada em condições extremamente adversas para "homens e máquinas", pode dizer-se da FAP, com verdade... que nunca tão poucos fizeram tanto com tão pouco (**)...

Saibamos honrar a memória de camaradas, da FAP, que morreram no TO da Guiné, nos últimos anos da guerra, e aqui tão justa e oportunamente evocados pelo António Martins Matos: ten-cor Almeida Brito, maj Mantovani Filipe, fur mil Baltasar da Silva, fur mil Carvalho Ferreira, enf paraquedista Celeste Costa... Faço votos para que surjam mais postes sobre estes camaradas de quem, de facto, temos falado tão pouco, no nosso blogue.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de outubro de 2013 > Guiné 634/74 - P12198: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (24): Voando com o srgt mil pil Honório, no apoio a colunas logísticas para Beli e Madina do Boé (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

(**) Último poste da série > 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12201: FAP (77): Fotos do destacamento de Nova Lamego (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

Guiné 63/74 - P12205: Bom ou mau tempo na bolanha (33): A sua boina (Tony Borié)

Trigésimo terceiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Pelas suas contas, e se o Comandante não “fala mentira”, o Cifra daqui a dois meses devia regressar a Portugal. Não andava contente nem triste, estava na expectativa, fazia contas, como iria ser a sua chegada, encontraria tudo na mesma, enfim a sua mente andava um pouco ocupada, mas não tanto que não reparasse na falta de recursos que os seus amigos e amigas, na tal aldeia com casas cobertas de colmo, que existia perto do aquartelamento, e que o Cifra visitava quase todos os dias em que estava livre das suas tarefas, pois tinham falta de tudo, pelo menos no parecer do Cifra.
Levava comida e pão do aquartelamento assim como rebuçados que comprava na loja do Libanês, mas não compreendia a alegria que alguns mostravam nas suas faces ao ver o Cifra de novo, pois viviam na mais profunda miséria, mas eles sentiam-se bem, nas suas casas térreas, com toda aquela falta de utensílios domésticos, com falta de água potável, pó e lixo em tudo o que fosse lugar, mas eles improvisavam quase tudo, e o Cifra nunca ouviu da sua boca uma lamúria que fosse a esse respeito.

Mesmo debaixo desta miséria, quando comiam, chamavam os cães magros e famintos, que por ali andavam, e repartiam o pouco que tinham, e o Cifra ao ver isto, por vezes comovia-se, e não sabia se era por lhe faltar pouco tempo para regressar a Portugal. Já sentia saudades destas pessoas que deviam ter muito bom coração. Havia uma criança que não largava o Cifra, vinha sempre ao seu encontro e agarrava-lhe a mão.
Queria algum carinho e rebuçados, pois logo lhe colocava a mão no bolso, o Cifra, às vezes embaraçado, não sabia como agir para se despedir dessa criança, os seus olhos falavam, eram humildes e diziam tudo o que lhe ia na alma, não necessitava de abrir a boca, aqueles olhos falavam todos os idiomas do mundo.

O Cifra veio embora e deixou umas botas de cabedal, e parte da sua farda, que já não estava em muito boas condições, e algum dinheiro a essa família, mas essa criança, não queria a roupa da farda, queria a boina com o emblema, e o Cifra deu-lha com um grande beijo, quase chorando, mas ela não chorou, tirou o dedo da boca, limpou o ranho do nariz, com as costas da mão, e riu-se, com um sorriso, que dispensava palavras, pois a sua alegria, também falava todos os idiomas do mundo!

Tony Borie, 2005

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12095: Bom ou mau tempo na bolanha (32): A importância da família na guerra (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes




1. Historial da Escola Prática de Cavalaria, localizada em Abrantes, trabalho de compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), integrado na sua série Historial das Escolas Práticas do Exército.





















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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12193: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (2): Escola Prática de Infantaria de Mafra

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12203: Convívios (543): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte III): Quando uma foto vale por mil palavras... (Luís Graça)







Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Cabreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2017 > Diz o cartaz publicitário: "aniversários, batizados, casamentos, divórcios, choros, reconcialiações, debates,  encontros e desencontros, concerto e desconcertos, sempre tudo à medida e ao gosto do cliente" ...

Eu, que lá fui pela primeira vez (e vim de lá deliciado), tomei nota no meu caderninho, para memória futura:  "Às vezes pode não  ser fácil ser régulo deste regulado, mas que a Tabanca é Magnífica... é!"...

E tirei fotos. Eis aqui três "apanhados" (ou quatro, com a carrinha): o Comandante Jorge Rosales, o Secretário José Manuel Matos Diniz e o Sínico, o António Graça de Abreu,  que às vezes se pega com o Secretário (e viceversa) por questões de "lana caprina" (ou por "chinesices", sem ofensa aos nossos amigos chineses, que por sua vez não entendem as nossas "portuguesices")...

Se as imagens valem por mim palavras, eu vou tentar adivinhar o que é que Comandante está pensar (ou a tentar dizer-nos)... Parafraseando a célebre e genial canção  "Cálice" (escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973, com o propósito de despistar a censura militar da época...), eu diria que as palavras que saem da boca do Comandante Jorge Rosales, só podem estas:

"Pai, afasta de mim este cálice!... ... Pai,  Pai, afasta de mim este cálice!.., Pai, afasta de mim este cálice!... De vinho tinto de sangue!"... 

Ao que o Durão do Zé Dinis (, agora graduado em coronel,) vai invectivando o Sínico, e retorquindo, a seguir à palavra "Cálice": ... Cale-se!... "Cálice"... Cale-se!...

Deixem-me dizer-vos que fiquei  feliz, por perceber,  depois da diplomática, hábel e sábia explicação que o Comandante teve a amabilidade de me dar, que os dois sempre foram, são e serão bons camaradas e melhor amigos, e que se divertem, de tempos a tempos, a mandarem um ao outro os seus remoques, que não passam afinal de deliciosos e inofensivos duelos de palavras!

Fotos: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:


Vd. também:

20 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12174: Convívios (541): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte II): Texto do José Manuel Dinis; fotos do Miguel Pessoa

Guiné 63/74 - P12202: Agenda cultural (290): O nosso amigo e camarada de Beja, José Saúde, convida os camaradas da região de Lisboa para a sessão de apresentação do seu livro de memórias do Gabu (1973/74): Casa do Alentejo, sábado, 26, às 15h30... Há depois animação e convívio!





1.  José Romeiro Saúde, ou só  José Saúde,  ex-fur mil op esp/ranger, CCS/BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74),  vai fazer o lançamento do seu livro (, já editado em 2012), na capital do reino, mas não faz a coisa por menos: (i) joga em casa, o sítio vai ser na Casa do Alentejo, pois claro, ali às Portas de Santo Antão; (ii) tem o editor do nosso blogue e prefaciador do livro a fazer as despesas da conversa; e (iii) traz,  nada mais nada menos,  do que 2 grupos musicais da sua terra natal, Vila Nova de São Bento, Serpa, Baixo Alentejo, para animar a malta!... E (iv) ainda nos convida para beber um copo!...

Digam lá se não é um convite irrecusável ? (LG)

 2. Reproduz-se aqui alguns excertos do convite que ele nos mandou e que já foi publicado há dias (*) [, foto à esquerda, o José Saúde, em Nova Lamego, 1973]

Camaradas



(...)  Revejo as agruras de uma guerra no seu auge e que se deparou, posteriormente, com o emblema da paz. Uma dualidade visionada de posições anteriormente opostas, mas que marcarão eternamente o nosso sentir no decisivo momento do adeus àquela terra que muito nos marcou. 

Os textos expostos neste volume, não longos mas sucintos, mostram o essencial de um olhar atento sobre o contexto de uma guerra cruel que não dava folgas e que se predispunha a autênticas incertezas num terreno que, para nós, se apresentava, a meu ver, diametralmente desigual, tendo em conta que o IN conhecia perfeitamente os terrenos que pisava e a razão da sua luta.

Fui ao fundo do baú do meu passado, e beneficiando de uma memória que teima em manter-se em absoluta atividade, soltei as amarras dos tabus e eis-me a mergulhar livremente no planalto da saudade, trazendo a público as mais diversificadas conjunturas por mim vividas em terras de Gabu.

(...)  Neste contexto, não desafio atos de bravura, cinjo-me, sim, a singelas dissertações que mexem com foros literalmente verídicos e que nos brindam com assuntos por nós vividos.

Adianto, porém, que não tranquei em exclusivo a minha caixa de Pandora com os problemas vividos em campos de batalha, mas lancei ecos noutras direções que trazem evidentes burburinhos sociais, costumes tribais, entre outras temáticas registadas que mexem, em particular, com a intimidade de jovens militares entregues então ao destino.


Camaradas, nas minhas memórias de Gabu relato, também, a forma como a hierarquia tribal impunha regras tacitamente herdadas dos seus antepassados. A ordem de partilha imposta pela tribo. A maneira hábil como uma população sabia viver encaixada com duas frentes de guerra. O sexo praticado ao longo da campanha. Os filhos do vento com a menina de Gabu [, foto à direita]. O djubi Alberto, meu companheiro. A festa tradicional nas tabancas indígenas com o fanado. As colunas. As noites no mato. O Natal de 1973. As lavadeiras. O batismo de fogo. Motes interessantes, entre muitos outros, para puxar pelas nossas memórias mesmo frágeis que elas porventura hoje se apresentem.

Nesta apresentação da obra que farei na Casa do Alentejo em Lisboa, no próximo dia 26 de outubro, sábado, a partir das 15h00, contarei com a presença de camaradas que comigo dividiram o conflito na Guiné e deixarei, obviamente, dicas para que todos, em conjunto, apreciarem e tirarem ilações contundentes, espero, de um pedaço das nossas vidas que marcaram, inquestionavelmente, os verdes anos da nossa juventude.

Luís Graça, autor do prefácio e fundador do nosso blogue, será o camarada que dissecará os ventos trazidos pelo livro GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74, numa tarde cultural onde os sons do Alentejo se farão ouvir.

Lisboa é uma região onde abundam antigos camaradas que percorreram os trilhos da Guiné. E é justamente a eles que dirijo o meu convite para uma profícua presença de gentes que continuam a navegar, tal como eu, no campo da saudade. (...)

José Saúde (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12181: Notas de leitura (527): "As Minhas Memórias de Gabu 1973/74", por José Saúde (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 24 de outubro de  2013 > Guiné 63/74 - P12196: Agenda Cultural (289): "Toda a China", livro de António Graça de Abreu, apresentado no passado dia 22 de Outubro no Museu do Oriente, em Lisboa (Miguel Pessoa)