sábado, 18 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12600: Convívios (558): Notas de reportagem do XI Encontro da Tabanca da Linha, que teve lugar no dia 16 de Janeiro de 2014 (José Manuel Matos Dinis)

1. Em mensagem do dia 16 de Janeiro de 2014, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), mandou-nos a habitual crónica referente ao último convívio da Magnífica Tabanca da Linha, levada a efeito no passado dia 16 de Janeiro.
Reza assim:


16JAN2014, 5ª. feira

O céu alternava entre nublado com chuviscos, e aberto.
Da serra provinha uma ligeira brisa propiciadora do bom encontro entre camaradas da Guiné. Entre estes, avultava uma ausência, a do Sr. Comandante Rosales. De facto, a contas com uma prolongada complicação na zona ilíaca (deve ser lá prós confins ribatejanos), tem cedido às dores que isso lhe provoca, apesar das tréguas passageiras que as drogas lhe permitem, e só sai de casa, muito a custo, quando vai ao médico.

Ainda recentemente, convocou-me para o transportar, e foi um horror. A certa altura, eu já não via o caminho, nem onde punha os pés, e passou a faltar-me a respiração, quando S.Ex.ª fez um movimento que me comprimiu as narinas e a boca, contra umas adiposidades que o estado não remove, enquanto lá de cima da confusão me encorajava mais ou menos nos seguintes termos:
- "Zé! tás a ver a tua sorte, já perdi dez quilos!"

Arriei a carga, quando desfaleci, por acaso junto da viatura transportadora. O país e a tertúlia não sabem o que me devem. Nem eu imagino do que me possam acusar.

Mal tínhamos tomado lugar à mesa em atitudes de domínio territorial para não irmos almoçar para sítios menos dignos, e tocou o telefone. Era S. Exª. que, baixinho, me transmitia umas instruções que antes já delineara. Atento, como só os grandes repórteres são capazes, o grande Pires mandou-me dizer-lhe que já o contactávamos, sacou de um aparelho à profissional da rádio e informação, pôs aquilo a falar em alta voz, e S.Exª. teve ocasião de dirigir uma bonita mensagem aos presentes, entre os quais se registam cinco novidades. Cinco, que aproveitaram a campanha de inverno para se transferirem dos indistintos, para o grupo de Magníficos Tabanquistas da Linha.

Mas o telefonema acabou por transmitir uma preocupação disciplinar de S.Exª., no sentido de que nesta Magnífica Tabanca, ninguém deve ser maior do que S. Exª. o Comandante. É óbvio e eticamente merece toda a legitimidade. Por isso, o camarada Pires, com os seus palmos aferidos, foi encarregado de medir a barriguinha do confrade Miguel, iniciativa que veio revelar que aquele importante elo da formação está nos limites do aceitável, pelo que não deve exagerar. E não exagerou.

Com a chegada dos chouriços convenientemente resfriados, bocadinho quase invisível de paté, e uns queijinhos aceitáveis, o pessoal começou a aquecer as máquinas e a conversa a fluir com agrado. Cá o escrevente, antes que se esqueçam de o referir, tinha preparado umas fichas de presença, que o Canhão levou para tratar em "excel", deu a explicação sobre o preenchimento, e passaram sem sobressalto de mão em mão. Mais uma iniciativa de grande alcance exclusivamente da minha lavra, de cujo sucesso que antecipo, espero que S.Exª. me dê o merecido louvor. Alguém tem que o informar, e eu farei para que não se esqueça.

Nota de razoável interesse sobre a estratégia seguida, antes da primeira parte ter terminado, já se reclamava das instâncias locais a reposição de outros tantos jarros com vinho.

Era uma casa portuguesa, concerteza!

Os excepcionais homens do retrato regalavam-se a praticar no tiro daquela espécie de percutor que às vezes alumia o ambiente, e aproveitavam as poses mais extraordinárias para as fixar em registo para o futuro, não vá alguém dizer que não estivemos na Guiné. No seu canto de retiro, o Sr. Mata trinchava peixes e carnes com visível satisfação. E foi ele que deu o alerta, o inimigo (tempo) passava inexoravelmente, e ele tinha necessidade de recolher a casa. A pedido de alguns tertulianos, enquanto cedia mais alguns momentos, atestou para a viagem com mais um bocado do "buffet" de doces. Espero que tenham reparado e aprovado o magnífico estilo da expressão "o inimigo passava inexoravelmente". Ainda hei-de compreendê-la, e nessa ocasião vou transmitir-vos o significado.

Nesse interim, vou fazer a necessária paragem na reportagem para jantar e deixar-vos em paz de espírito.
Seguem-se alguns retratos do Manuel Resende.
Para amanhã, o Jorge Canhão promete mais artilharia.

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José Colaço e Pardal

Manuel Joaquim e José Rodrigues

Graça de Abreu e José Dinis

Veríssimo Ferreira, Armando Pires e Graça de Abreu

Enf.ª Pára Giselda Pessoa e Maria Helena

Casal Fitas, Maria Helena e Mário Fitas

António Marques e esposa Gina

Miguel Pessoa, à direita, e seu primo (?)

Jorge Canhão

Graça de Abreu e Manuel Joaquim à volta dos livros

Graça de Abreu, José Dinis, Jorge Canhão e Manuel Resende
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12553: Convívios (557): Próximo encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 16 de Janeiro de 2014, no sítio do costume. Abertas as hostilidades (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12599: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (3): Tavira, uma terra com história... (António Manuel Conceição Santos, ex-fur mil op esp, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique, Nhacra, 1972/74)



Tavira >  Foto nº 13 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António Manuel Conceição Santos [Tomanel]  > Quartel da Atalaia, RI1, CISMI (1)...




Tavira >  Foto nº 13 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  > Quartel da Atalaia, RI1, CISMI (2)...


Tavira >  Foto nº 15 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  > Quartel da Atalaia, RI1, CISMI (3)...


Tavira >  Foto nº 17 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  >  Quartel da Atalaia, RI1, CISMI (4)...


Tavira >  Foto nº 18 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  > Quartel da Atalaia, RI1, CISMI (5)...



Tavira >  Foto nº 4 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  >  > Centro histórico


Tavira > Foto nº 6 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Rio Gilão


Tavira > Foto nº 21 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Ponte (romana) sobre o Rio Gilão


Tavira > Foto nº 23 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  nosso Antóinio Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Um das 30 igrejas e ermidas...


Tavira > Foto nº 25 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Ponte (romana) sobre o rio Gilão


Tavira > Foto nº 32 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Vista parcial da cidade, e a ria de Tavira e as famosas salinas...


Tavira > Foto nº 27 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > Estação da CP  e conjunto escutório (o militar e a mulher tavirense), da autoria do belga  Francis Tondeur (1)


Tavira >  Foto nº 27 >  Álbum  fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel]  >  Estação da CP  e conjunto escutório (o militar e a mulher tavirense), da autoria do belga  Francis Tondeur (2)



Tavira > Foto nº 29 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] >  Estação da CP  e conjunto escutório (o militar e a mulher tavirense), da autoria do belga  Francis Tondeur (3)






Tavira > Foto nº 33 > Álbum fotográfico do nosso camarada António  Manuel Conceição Santos [Tomanel] > > O autor, na ponte sobre o Rio Girão.

Fotos: © António Manuel Conceição Santos (2014). Direitos reservados.


1. O nosso camarada (e membro da nossa Tabanca Grande, desde 21/4/2008)  António Manuel da Conceição Santos (Tomanel, para os amigos) foi  Fur Mil Op Esp,.  CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique, Nhacra, 1972/74)... Vive em Faro, mas nasceu em Tavira. O que poucos sabem é que um apaixonado pelas coisas e gentes da sua terra, o Algarve, tendo criado, entre outras páginas na Net, o blogue Um Raio de Luz e Fez-se Luz -. Algarve.. Sigo esse blogue (que não é muito amigável...por excesso de informação)  e há muito que tinha guardado um precioso ficheiro, em power point, com texto e fotos sobre Tavira. Trata-se um "slideshow", com 33 slides, que vale a pena ver e ouvir. Aqui.[Tavira - Tu que já passaste em Tavira].

Eu, que passei por Tavira, no 4º trimestre de 1968,  e que fiquei apaixonada por aquela terra (uma das mais belas do nosso país), não resiti a aproveitar algumas das imagens e do texto do Tomanel... para que pudessem chegar mais longe, através do nosso blogue. De algum modo, estou a antecipar a "romagem de saudade" quevou  lá fazer no último fim de semana deste mês, prenda de anos da patroa... (LG)


Com a devida vénia e um alfabravo para o autor. (LG).


2. TAVIRA – uma terra com história
Brasão de  Tavira. Fonte:  Wikipedia



por António Manuel C. Santos [Tomanel]
[Texto recuperados do "slide show" de visita obrigatória, disponível aqui]


Tu!!!!, que por aqui já passaste … por favor, não te emociones. Sei que vais deitar uma lágrima…

Vamos recuar no tempo em que os fenícios em pleno século VIII a.C. construíram uma fortaleza na colina,  hoje designada de Santa Maria.

Depois vieram os Romanos e é no século I a.C. que Tavira começou a ter um enorme valor,  quer estratégico, quer a nível económico,  devido à arte da pesca, à indústria da salga do peixe e aos produtos agrícolas. Deixaram em Tavira marcas que se encontram ainda bem visíveis e outras que estão a ser postas a descoberto.

Mais tarde, durante o domínio islâmico que ocorreu entre os séculos VIII e XIII, Tavira torna-se uma localidade muito importante, devido ao seu castelo e ao movimento do seu porto.

Tavira é então conquistada aos mouros, em 1242, sendo ocupada pelos cavaleiros da Ordem Militar de Sant´Iago, seguindo-se a tomada de Cacela (vide UM RAIO DE LUZ E FEZ-SE LUZ e procure COISAS DO NOSSO ALGARVE: Cacela Velha – Um cheirinho a Árabe)

Tavira é elevada a cidade em 1520 por D. Manuel I. 

Os anos foram passando e, com o abandono das Praças do Norte de África, com a deslocação dos grandes morgados para o Sul de Espanha à procura de melhor sorte de vida no comércio com as Índias, aliadas ao declínio das pescas e ao assoreamento do rio Gilão, Tavira deixou de ter aquele tão grande interesse e passou a ser uma cidade pacata e, em termos económicos, apenas restava a pesca do atum.

Mas Tavira continuava a ser um ponto estratégico-militar. O que nos interessa aqui é destacar que em 1640 esta pacata cidade passou a ser guarnecida por um Destacamento de um dos dois Regimento do Algarve provindo da Organização do Terço Novo da Guarnição da Corte.

Em 1795, a Rainha D. Maria I manda construir o Quartel da Atalaia, assim era conhecido e assim hoje continua a ser conhecido. Por aqui passaram várias Unidades, mudou de nome algumas vezes, mas, foi em 1948 que aqui começou a funcionar o CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos).

Hoje, este Quartel da Atalaia recebe Companhias de várias especialidades com vista a aprofundar conhecimentos geoestratégicos, como o Centro de Instrução de Quadros (CIQ), bem como o Centro Militar de Férias de Tavira (CMFT).

Foi aqui que,  nas décadas de 60/70 [do Século passado],  milhares de instruendos foram chamados a obter especialização nas várias vertentes para Sargentos Milicianos.

Após a especialização, partiam para serem integrados em Companhias, que depois de receberem instrução, o destino era as guerras de África. Na verdade, eu próprio, natural desta Terra e que aqui fui instruendo, afirmo que este Quartel tornou-se pequeno para a imperiosa necessidade de “fabricar” furriéis milicianos, tendo sido mais tarde, acrescentado um 1º andar.

A falta de camas para todos os instruendos era uma realidade e,  por isso, quem quisesse ou pudesse, poderia pernoitar na cidade em quartos alugados. Nessa altura, Tavira tinha muito movimento devido aos militares que por aqui passavam e aos familiares que aqui vinham.

Ao anoitecer enchiam-se os bares junto ao Rio Gilão e muitos passeavam pelas ruas estreitas à procura de amizades passageiras ou não com as moças da nossa Terra. Morenas, de olhares esguios, passeavam pelo jardim do coreto,  tentando captar a simpatia dos rapazes. Muitas arranjaram namorados e muitas ficaram como madrinhas de guerra.

Sendo certo que Tavira é a Cidade das Igrejas, são cerca de 30 ao todo com ermidas, muitos de nós, instruendos, deambulávamos pelas ruas, por vezes fazendo apostas, na tentativa de descobrir quantas eram.

As margens do Rio Gilão, que divide a cidade ao meio, enchiam-se de casais de namorados. AH!!!! QUE SAUDADES… A ponte Romana era palco de passagem de uma margem para a outra. Naquela altura ainda por aqui circulavam os carros, hoje está vedado ao trânsito automóvel.

Aos fins-de-semana, os que podiam, deslocavam-se à sua Terra, outros ficavam por cá. Os primeiros iam de comboio e levavam o namorico até à estação. Os segundos iam ao cinema ou passeavam por estas bandas. 

Em memória a esta fase da vida local, o belga Francis Tondeur foi convidado a fazer duas esculturas que perpetuassem esta envolvente taviresca.  Essas duas esculturas estão junto à Estação da CP, uma está junta à porta da Estação e representa um soldado. A outra está à beira da rotunda junto à Estação e representa uma rapariga da terra. Ambos fazem adeus, esse mesmo gesto simboliza emoções ambíguas que foram vividas neste local, não se sabe se é de felicidade do regresso ou da aflição do adeus da partida para a guerra.  É uma incógnita que fica e que ninguém deve ousar perguntar ao seu autor.

Hoje, Tavira é uma cidade em franco desenvolvimento, pode-se dizer que é uma cidade limpa.  Vive do comércio local, do turismo, pois tem duas bonitas praias, e sem embargo, é uma localidade do Algarve que obrigatoriamente deve ser visitada.

Aqui vos deixo mais um recanto de COISAS DO NOSSO ALGARVE. Fim 

Por favor: Se acabaste de visitar este blog, faz o teu comentário. Há lá um cantinho que diz “comentários”. O autor agradece.

Imagens: Da responsabilidade do autor.

Textos: Pesquisas locais e Roteiro de Tavira “passear e conhecer”

 Uma produção de:



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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12597: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (2): Caldas da Rainha, a cidade onde estava sediado o Regimento de Infantaria 5, onde era ministrado o Curso de Sargentos Milicianos (Carlos Vinhal)

Sobre Tavira, o Quartel da Atyalaia, o CISMI... vd também (enter outros):

16 de outubro de  2012 > Guiné 63/74 - P10538: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (2): 3.º episódio: O 2.º Turno, no CISMI, na bela terra de Tavira

2 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6919: Memória dos lugares (95): Tavira, CISMI, 1968: Foto de família depois das salinas (Carlos Cordeiro)


Guiné 63/74 - P12598: Os nossos seres, saberes e lazeres (64): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (8) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 29 de Dezembro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 8.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.



7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 8

Ainda se lembram? No último dia dormimos no estado de Ilinois, na cidade de Rockford, a umas tantas milhas da cidade de Chicago.

Abandonámos o hotel depois do pequeno almoço, tomámos a normal medicina de prevenção, vendo o tempo que parecia agradável, deixámos o hotel, enchemos o tanque com gasolina, o GPS em direcção algures para leste e eis-nos de novo na estrada número 90, em direcção a Chicago, pois era essa a nosso rota. "Chi...cáaa...go, Illinois”, como dizem na rádio.

Havia tráfico, a estrada estava em reparação, em algumas zonas pagava-se portagem, mais construção e por fim avista-se a cidade ao longe. Começa o tráfico a abrandar, cada vez mais devagar, lá fomos andando com algum progresso, até chegarmos a uma zona onde dizia: “Downtown”.


Aí saímos da estrada número 90, por entre um trânsito onde havia táxis, carros grandes e pequenos, alguns camiões fazendo descargas, pessoas atarefadas, querendo passar com a luz do semáforo ainda encarnada, mas lá fomos progredindo até chegar mesmo ao “Downtown” da cidade de Chicago. 

Estávamos no “Downtown” de Chicago, aquele Chicago cuja cultura popular é encontrada em romances, peças teatrais, filmes, músicas, vários tipos de revistas e meios de comunicação, que lhe chamam a todo o momento de “Chi-town”, “Windy City” e “Second City” e alguns até lhe chamam “a mais americana das grandes cidades”.


Esta cidade foi fundada em 1833, num lugar onde naquela altura se guardavam e reparavam as embarcações que navegavam entre os Grandes Lagos e a bacia do rio Mississipi. Dizem que hoje tem perto de 2,7 milhões de habitantes e é a terceira mais populosa dos Estados Unidos, claro, depois de Nova Iorque e Los Angeles.

Andámos por umas ruas ou avenidas, sempre alguém a buzinar ao nosso lado, ou atrás do jeep, não sabíamos se buzinavam por fazermos alguma manobra menos correcta ou se pelo estado em que se encontrava o jeep, sujo, mesmo muito sujo, com algumas sacas de lona e dois tanques extras de gasolina amarrados na parte de trás, entre outras coisas próprias de quem viaja por lugares quase desertos e anda muitos dias fora de casa, o que lhe dava um aspecto um pouco parecido com aquelas caravanas dos “ciganos amigos”, que me lembra quando jovem, passavam na estrada nacional, próximo da minha aldeia do vale do Ninho d’Águia, em Portugal.
Na nossa opinião, só faltava mesmo aquele “cão rafeiro”, que seguia sempre amarrado com uma corda debaixo do carro, puxado quase sempre por um “burro manhoso e faminto”. Enfim, esta barafunda toda, fazia-nos ter saudades das estradas desertas do estado de Wyoming, onde o pessoal das motos levantava a mão, saudando-nos, quando por nós passava, talvez querendo dizer, “tem calma e desfruta a paisagem”. Estes aqui, empurravam- nos, buzinando, por certo queriam dizer: “anda, que não há tempo a perder”.
Decidimos estacionar, procurámos e por fim vimos o letreiro, “parking”, entrámos, tirámos o bilhete, rodámos por um labirinto de carros, subimos alguns andares e finalmente encontrámos um espaço livre. Parámos e estacionámos.
Fechamos o jeep, levando connosco o telefone, documentos e alguns valores, pois estávamos em Chicago. Saímos à rua, que sorte, estávamos mesmo no “Downtown”.


O comboio passava nuns carris instalados numa grande estrutura, mesmo por cima da rua, portanto por cima de nós, fazendo aquele barulho característico dos comboios de cidade em fraco estado de conservação, como se vê nos filmes, as pessoas andavam depressa na rua, parece que alguém os chamava, nós olhámos e decidimos andar para norte, pois era para onde as pessoas iam, e em boa hora o fizemos, pois para esse lado era a zona mais bonita, o canal, as pontes, um passeio na beira do canal, edifícios altos e com bonita arquitectura, muitos monumentos, nas ruas e na beira do canal, barcos passando com pessoas tirando fotos, enfim era um Chicago lindo, mais lindo que Nova Iorque, dizia um casal ao nosso lado, que parecia oriundo do Japão.


Havia autocarros com dois andares, sem cobertura para fazer o “tour” na cidade, perguntámos o preço, o bilhete podia ser usado por um período de três dias, estava um pouco fora do nosso alcance, decidimos pedir o roteiro, fomos buscar o jeep ao parque de estacionamento, que nos levou uma “fortuna”, por duas horas e meia de estacionamento, e seguimos um dos autocarros sem cobertura, percorrendo a cidade e os seus mais importantes lugares, tirando fotos, (por curiosidade, muitas pessoas também nos tiravam fotos a nós, quando parávamos nos sinais de trânsito), vendo monumentos, canais, edifícios, alguns com uma arquitectura deslumbrante, as docas, parques, alguns limpos e bem cuidados, onde algumas pessoas praticavam exercícios ou simplesmente caminhavam.

Foi bonito e recomendo.

Voltámos à estrada número 90, passámos a fronteira para o estado de Indiana, que é um estado com um terreno pouco acidentado, portanto com grandes planícies, um solo bastante fértil, que fazem deste estado um grande produtor de trigo, o que podemos comprovar pelas enormes áreas cultivadas, próximo da estrada onde seguíamos, na rota em direcção ao Atlantico, passando por South Bend, Elkhart, entrando no estado de Ohio.


O estado do Ohio, que na língua “iroquesa” significa “Algo Grande”, “Grandes Águas”, “Belo Rio”, “Grande Rio” ou “Bom Rio”, pois eram estes os nomes utilizados pelos nativos americanos, para descrever o rio Ohio, antes da chegada dos primeiros exploradores europeus, os franceses.
Também chamam a este estado “Mother of Modern Presidents”, ou seja a Mãe dos Presidentes Modernos, pelo facto de sete dos Presidentes dos Estados Unidos nasceram e cresceram no Ohio, estando em segundo lugar, pois o estado de Virgínia, tem um total de oito presidentes.


Continuando na rota do Atlântico, passámos próximo de Toledo, Elyria e Cleveland, que fazia parte do nosso roteiro, embora já tivéssemos por outra altura estado na cidade, havia alguns lugares a visitar, mas já era ao pôr-do-sol e não havia muito tempo com luz do dia para admirar esses lugares, portanto seguimos e fomos dormir e comer na povoação de Austinburg, no estado de Ohio, onde não havia vagas nos hotéis, mas por especial favor, dormimos num, onde pelo menos nós não vimos computadores. A recepcionista pediu-nos para preenchermos uma folha com o nosso nome e direcção, e uma cópia dessa mesma folha foi a nossa factura. Este hotel tinha o sugestivo nome de “American B.... V.... Inn”, com uma “maravilhosa” vista para a estação de serviço na área e com um som característico dos camiões rolando fora de horas a toda a velocidade, na auto-estrada número 90.

Este foi o resumo do dia 8, e ainda estamos muito longe da nossa casa, na Florida.

Tony Borie
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12541: Os nossos seres, saberes e lazeres (63): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (7) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12597: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (2): Caldas da Rainha, a cidade onde estava sediado o Regimento de Infantaria 5, onde era ministrado o Curso de Sargentos Milicianos (Carlos Vinhal)

1. Dando cumprimento ao desafio do Editor Luís Graça, vou falar, não da cidade que mais amei ou odiei, mas de todas cidades (vilas e/ou lugares) onde estacionei no meu tempo de tropa, antes de embarcar para a Guiné.
Gostei de todas elas porque nenhuma tinha culpa da minha situação, temporária, de militar em trânsito. De todas me ficaram boas e más memórias.



Começarei pela cidade das Caldas da Rainha, onde assentei praça no RI5 como Soldado Instruendo do CSM.

Acho não ficar mal confessar que antes de ir para a tropa, o mais a sul que tinha ido, tendo como referência a minha residência no concelho de Matosinhos, fora Fátima com os meus pais, aos 10 anos de idade, no ido ano de 1958.

Ir para as Caldas, no dia 21 de Abril de 1969, tornou-se portanto uma aventura, minimizada pelo facto de a viagem ser partilhada por largas dezenas, ou centenas, de mancebos que de todo o norte do país convergiram para a Estação de S. Bento a fim de apanharem o comboio-correio da meia-noite. Um grupo bem numeroso, onde eu me incluía, saiu de Leça da Palmeira no autocarro das 22 horas a caminho da cidade Invicta. Assim se iniciou uma longa viagem de quase 12 horas.

Não me perguntem como, mas sabíamos de antemão que tínhamos de fazer dois transbordos, um em Alfarelos para apanhar outra composição de um ramal que nos levaria até à estação de Lares, na Linha do Oeste, onde aguardaríamos por outro comboio que nos levaria finalmente às Caldas.

Tenho em memória que chegámos aos portões do RI5 por volta das 9h30 da manhã de 22, dia que me estava destinado para comparecer no quartel, tendo grande parte do grupo entrado de pronto porque nos disseram que se esperássemos pela tarde, a confusão seria mais que muita.

Vamos saltar as peripécias militares, para aqui não chamadas, e vamos falar da terra propriamente dita.

Ao tempo a cidade era relativamente pacata, destacando-se o velho Hospital Rainha D. Leonor, localizado no frondoso Parque D. Carlos I, o Parque propriamente dito e as várias lojas de artesanato, mais ou menos atrevido, que explorámos nos tempos livres.

Hospital - Foto: http://images.fineartamerica.com/, com a devida vénia

Famoso era também o Café Zaira(*), situado na Praça da República, onde não passávamos muito de perto já que junto ao vidro, do lado de dentro, costumavam sentar-se os oficiais, o que nos obrigava a constantes e arreliadoras paladas.
Diga-se em abono da verdade que no belíssimo Parque acontecia o mesmo, já que era vulgar encontrar muitos oficiais a passear, acompanhados de suas famílias. Como bons recrutas que éramos, o melhor era bater continência a tudo o que tivesse divisas, fosse bombeiro ou porteiro de hotel.
Nesta mesma Praça realizava-se, e julgo que ainda se realiza, o afamado mercado da fruta das Caldas da Rainha, mais um ex-libris desta cidade.

Mercado da Fruta - Praça da República - Foto: EU GOZEI A MINHA ADOLESCÊNCIA NAS CALDAS DA RAINHA NOS ANOS 70 E 80, com a devida vénia

Como bom militar tem de ser bom garfo, lembro o restaurante que frequentávamos quando o rancho não era a contento. Não me lembro do seu nome, também já não existirá, mas da empregada, a Tininha(?), uma jovem que nos atendia com especial carinho, talvez por saber que no quartel se comia muito mal. Que belos bifes com ovo a cavalo, guarnecidos generosamente com batatinhas fritas, arroz e salada. Era o nosso prato favorito. Ainda lhe sinto o cheirinho.

A cidade das Caldas da Rainha tinha já, então, uma actividade cultural e desportiva interessante. Nunca mais esqueci o Museu José Malhoa que revisitei mais recentemente, assim como os torneios de ténis de mesa, uma modalidade ali muito acarinhada, praticada num pavilhão existente dentro do Parque.

Museu de José Malhoa - Foto Wikipédia, com a devida vénia

Já aflorei o artesanato local, que não se limitava só às malandrices que mais aguçava a nossa curiosidade. Eram muitos os estabelecimentos de venda de olaria, verdadeiras montras de obras de arte confeccionadas por gente anónima nas inúmeras fábricas e ateliês que transformavam o barro em peças únicas.

Uma das mais belas recordações que guardo desta magnífica cidade foi o desfile que fizemos no Dia de Juramento de Bandeira(?), ao longo das suas ruas, com as varandas das casas engalanadas com colchas multicolores e as pessoas acenando à nossa passagem. Foi um adeus sentido de parte a parte.

Na tarde do dia 5 de Julho, em que apanhámos o comboio com destino a Lisboa, a caminho de Vendas Novas, já sentia saudades daquela terra e daquela gente.

Do RI5 não guardo boas recordações, pela má comida e porque alguns oficiais e sargentos não distinguiam a disciplina militar da prepotência e do abuso da autoridade que, julgavam, os galões e as divisas lhes conferiam.
Eram um verdadeiro vexame aquelas formaturas de revista, de hora a hora, após o toque de ordem, para podermos sair e ir dar uma volta pela cidade e comer alguma coisa de jeito. Por tudo e por nada nos mandavam para trás, o que acarretava nova tentativa uma hora depois. Estávamos assim à mercê do bom ou mau humor do Oficial de Dia.

Fica desde já aqui registado que em Vendas Novas, na Escola Prática de Artilharia, a disciplina era mais severa e a instrução militar, de longe, muito mais dura, mas éramos tratados com respeito.

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil
CART 2732
Mansabá
1970/72

OBS: - As interrogações são fruto de alguma incerteza, volvidos que são quase 45 anos. Aceitam-se as devidas correcções.

(*) - Nome do café rectificado por indicação do camarada António Ribeiro
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12594: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (1): Espinho, Porto, Tavira e Torres Novas (José Martins)

Guiné 63/74 - P12596: Parabéns a você (678): Luís Rainha, ex-Alf Mil, CMDT do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12578: Parabéns a você (677): Maria Ivone Reis, ex-Capitão Enfermeira Pára-quedista, 85 anos

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5



Foto nº 6



Foto 7

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 2010 > O regresso do Fernando Gouveia, 40 anos depois... O nosso blogue e sobretudo o Fernando Gouveia acabaram por estar também na origiem de um filme, estreado em 2013, do realizador português, de origem s


Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2014).Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do  "roteiro de Bafatá", organizado pelo  Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf,  Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70;
autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto]

[Fernando Gouveia, foto atual à direita]

Mensagem do Fernando Gouveia:

 Data: 17 de Janeiro de 2014 às 02:09

Assunto: Cinema de Bafata

 Luís:

Como há dias, a propósito do Cinema de Bafata (*), referiste com uma certa imprecisão a existência de um homem que toma conta do edifício, mando-te algumas fotos que esclarecem melhor esse assunto. Assim, quando fui lá em 2010 estive com o tal homem, chamado Canjajá [Mané] que, sem receber nada, guarda o cinema. Em tempos foi o operador da máquina de projecção. Também lá me disseram que ainda hoje ele limpa regularmente a máquina apesar de já não funcionar. (**)

Legendas das fotos:

1 – Vista do edifício em 2010.
2 – Átrio de entrada.
3 – Corredor lateral.
4 – Sala de espectáculos e palco.
5 – Sala de espectáculos e balcão.
6 – Canjajá.
7 – Canjajá admirando o meu cartão de sócio do Sport Club de Bafata, à porta da sede do PAIGC, edifício que penso ter sido a casa de um tal Camilo que costumava dar umas jantaradas a todos os oficiais.

Ab
Fernando Gouveia
______________________

Notas do editor:

 (*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12585: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (14): Foto aérea, nº 3 (Humberto Reis)


(**) Sobre esta figura, Canjajá Mané e a sua história, há um filme documental, Bafatá Filme Clube, do realizador português, Silas Tiny [Lisboa, Real Ficção, 2012, 78' ( fotografama à direita), reproduzido com a devdia vénia]...  Já aqui foi notícia, há meio ano atrás, em poste do Fernando Gouveia (***)

Também, foi referido pela página do Facebook, de uma jornalista portuguesa que vive na Alemangha, "com um pé em África e outro no Brasil... Tomo a liberdade de reproduzir um poste de 8 de abril passado, com a devida vénia:

 Domadora de Camaleões  > 8 de Abril de 2013 às 11:50 ·


A história do projecionista que tomou conta do cinema de Bafatá, na Guiné-Bissau, mesmo quando já não havia espectadores, foi filmada pelo realizador são-tomense Silas e vai ser exibida hoje, em Lisboa, no cinema São Jorge às 15.30.

Integrado na maratona de documentários do FESTin, festival de cinema da língua portuguesa, que decorre até quarta-feira, no Cinema S. Jorge, "Bafatá Filme Clube" conta a história de Canjajá Mané.

O realizador Silas Tiny, nascido em São Tomé, mas que vive em Portugal desde os cinco anos, contou à agência Lusa que tropeçou por "sorte" e "acaso" na história do antigo projecionista de cinema.

"A pessoa cativou-me", justificou, recordando a beleza de traços coloniais da cidade guineense de Bafatá, apesar das "atuais condições".

Canjajá Mané trabalhava como projecionista em Bafatá "desde a altura dos portugueses" e "ficou tempos a cuidar" do cinema local, quando já nem espectadores havia, até ter "que se ir embora, porque não tinha condições para estar lá, porque ninguém lhe pagava", relatou Silas Tiny.

Não há atualmente nenhum cinema a funcionar na Guiné-Bissau, onde os cortes de eletricidade são recorrentes.

Canjajá Mané - que esteve no cinema de Bafatá "anos e anos sem receber qualquer salário" - ainda não viu o filme, "infelizmente", mas Silas Tiny e a produtora portuguesa Real Ficção estão "a fazer tudo" para que isso aconteça.

Apesar de "as condições na Guiné-Bissau" não serem "muito boas neste momento", estão a avaliar a possibilidade de "fazer uma projeção do filme".

Vd. Também aqui o sítio da produtora Real Ficção > O filme está agora disponível em DVD [, à venda na FNAC, por exemplo].ao,

Sinopse >  "Em Bafatá na Guiné-Bissau, Canjajá Mané, antigo operador de cinema e guarda do clube da cidade, repete os mesmos gestos há cinquenta anos. Mas actualmente o cinema está fechado e não existem espectadores. Dos seus tempos como trabalhador do clube até aos nossos dias, restam apenas recordações. Na cidade, somente as pedras, árvores e o rio resistiram à erosão do tempo. E com eles, algumas pessoas, que ficaram para perpetuar na memória do mundo e dos homens, que ali já viveu gente. São essas pessoas por quem Canjajá procura e espera pacientemente até hoje".

Guiné 63/74 - P12594: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (1): Espinho, Porto, Tavira e Torres Novas (José Martins)

1. O nosso Editor lançou o repto à tertúlia dos ex-combatentes para falarem das cidades por onde passaram antes da mobilização para a Guiné, cidades estas onde tirámos as nossas Recrutas e jurámos Bandeira, onde nos especializámos nas mais variadas artes de guerrear, onde fizemos os "mestrados" e "pós-graduações", onde conhecemos gente com outros usos e costumes, mas tão portugueses como cada um de nós os forasteiros temporários nessas terras.

Aproveitando um comentário do nosso camarada José Martins, damos o pontapé de saída à série, esperando que correspondam ao desafio e desatem a escrever.

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2. Comentário do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), deixado no poste 12542 em 5 de Janeiro de 2014:


As localidades por onde passei

Olhando para trás, que ficou das localidades por onde penei/passei, os tempos da tropa?
Saudades? Só da juventude.
Raiva? Só da Guerra.


Paramos, Espinho - Recruta, primeiro contacto com a tropa, primeiros contactos com armas, primeiro contacto com milicianos e militaristas, primeiras ilusão e desilusões.

Tive sorte. Consegui desarranchar-me e dispensa de pernoita. Ia e vinha, a partir de Gaia, todos os dias, com a marmita do almoço às costas. Contribuía para a “gasosa” do Mini em que nos transportávamos.

O primeiro amigo militar: O Aspirante Roldão, de Coimbra.
Que será feito dele? Já o tentei encontrar, mas nada consegui.

Da terra nada conheci além do quartel e do caminho que ligava a estação da CP ao quartel.


Porto, Arca de Água - Primeira Especialidade: Teleimpressor.

Pode dizer-se que estava em casa. Utilizava os transportes públicos, desarranchado e com dispensa de pernoita, lá andava com a marmita atrás de mim.

Recordações? Só o cuidado dispensado pelos “prontos” na semana de campo, em que foram incansáveis na procura do meu conforto, quando fiquei com uma gripe dos diabos. Houve quem fizesse a guarda por mim.

A terra já a conhecia mais ou menos, já que estava a trabalhar há uns anos.


Tavira - Segunda especialidade, já no CSM e Transmissões.
Só pedi dispensa de pernoita. Depois da instrução no campo da Atalaia, saía ao toque de ordem direito à casa onde tinha quarto alugado à D. Rosa, uma “mãe” sempre atenta à nossa chegada em dias de instrução nocturna. De vez em quando ainda ouço a sua voz: “Meninos, há leite, café e pão na sala. Comam antes de ir dormir”.
Estes mimos não estavam incluídos na mensalidade, nem nunca foram cobrados.
Havia também a D. Cesaltina, que era uma “irmã mais velha”, sempre a perguntar se necessitávamos alguma coisa que fosse necessário tratar durante o dia, que ela tratava.

Como não tinham água quente em casa, arranjou-nos um local para um banho quente, a dez tostões por banho.
Ao fim de semana íamos ao mercado, os camaradas de quarto, fazer compras para as refeições do fim-de-semana. Claro que convidávamos a comer connosco, já que as refeições eram confeccionadas por elas com os meios de que dispunham.

Da terra, além dos cafés e de um ou outro restaurante, pouco conheci. O afecto pela terra está materializado na memória da D. Rosa e da filha D. Cesaltina.


Torres Novas - Concluída a especialidade a unidade de colocação.
Um serviço de reforço e uma Ronda da Policia da Unidade.

A única visita à cidade, terminando com a “tentativa de aprisionamento” de um refractário a um embarque para o ultramar.
Do período em que lá passei, estive mais tempo em casa do que no quartel: férias da Páscoa e licença de mobilização.
Da terra não me lembro, mas tenho pena. Era a terra dos meus tios paternos, que foram lá professores.



Guiné - Desta terra veio o ódio e depois a saudade.
Mais palavras para quê? É a nossa “Segunda Pátria”.

E siga a “infantaria”.
José Martins

Guiné 63/71 - P12593: Museu Etnográfico de Passos de Silgueiros, em Viseu, onde se podem encontrar objectos relacionados com a guerra na Guiné (Manuel Traquina)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Traquina (ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2013:

Visitei um museu na povoação de Silgueiros nos arredores de Viseu, e surpreendido fiquei ao encontrar ali varias coisas relacionadas com a guerra na Guiné, que terão sido oferecidas pelo padre Manuel Antunes Santos Barranha que foi Capelão Militar na região de Aleia Formosa.

Uma das fotos é de um monóculo do General Spínola, que terá sido oferecido por ele, junto também um cartão de visita do mesmo.
Outra foto trata-se de um crucifixo que executado em Aldeia Formosa onde foram soldados vários estilhaços de granada que ele próprio recolheu após ataques aquele aquartelamento no ano de 1971.

Existem ainda naquele museu vários crachás de companhias e pelotões de morteiros.

Um abraço
Traquina


Objectos que se podem ver no Museu Etnográfico de Passos de Silgueiros