quinta-feira, 20 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12857: Blogpoesia (369): No equinócio da primavera, no dia internacional da felicidade e na véspera do dia mundial da poesia... Poetas da guerra, da paz e do amor, acordai!


1. Sábado de sol...


por J. L. Mendes Gomes




Casei-me num sábado de sol,
Com a terra negra,
Florida em pradaria.



Voavam pássaros em bando.
E muitas borboletas,
De cores garridas,
Batiam suas asitas desconexas,
Beijando as pétalas reluzentes.


Houve um cortejo longo
De nuvens brancas,
Lá no alto,
Pareciam caravelas,
Num mar azul,
Carregadinhas de esperança
E de promessas,
A caminho do oriente.


Ouviu-se coros magnos,
De tantas vozes lindas,
Em uníssono,
E a sinfonia potente e cristalina
Duma orquestra.


Chegaram reis,
Engalanados,
De todas as casas reais
Da Família em festa.


Recebi, ufano,
A mão da noiva,
Sorridente,
Em estado puro,
Das mãos do Pai,
Junto ao altar.

Choveu orvalho, em gotas d’oiro,
Sobre os olhos de convidados.
Choveram palmas,
Muitas flores,
Muitos sorrisos,
Quando jurámos amor
Para todo o sempre...
Ali, à frente.



Ouvindo Lohengrin, de Wagner > Marcha nupcial

Mafra, 20 de Março de 2014, 8h20m

Joaquim Luís Mendes Gomes



2. Amanhã, 21, é Dia Mundial da Poesia


Amigos e camaradas, filhos, netos, bisnetos e por aí fora de Camões e dos nossos maiores bardos (e bardas)...

Amanhã é dia mundial da poesia...

E a gente não celebra ?

Não há para aí uma cantiga de amigo, escondida no baú ? Ou uma cantiga de escárnio e maldizer ? Um soneto ? Uma simples quadra ?

Poetas da guerra, do amor, da paz, acordai!... 

Vamos lá mostarr esses talentos... Desculpem se o lembrete vem muito em cima da hora...

Um alfabravo fraterno. Luís Graça

PS - Já recebi logo de manhã, em menos de uma hora,  poemas de: José Brás. Jaime Machado, José Teixeira, Manuel Amaro e Joaquim Mexia Alves... Que serão publicados amanhã. (Este pedido circulou internamente pelo correio da Tabanca Grande, logo de manhã).

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Nota do editor:

quarta-feira, 19 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12856: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte I: Os dez primeiros deveres de um militar...


























Reproduzção das cinco primerias folhas da brochura "Deverese Militares", 2ª edição, SPEME, 1969. A 1ª edição é de 1963.  O documento chegou-nos, digitalizado, por intermédio do Fernando Hipólito e César Dias.


1. O César Dias mandou-nos ontem mais uma brochura que era distribuída na instrução militar: 


 Boa noite, Luis:

O nosso amigo Hipólito tem um baú bastante fundo, tirou mais esta. Dá uma olhada pode ser que dê para uns postes humoristicos.
Um abraço
César
PS - Mensagem do Fernando {, foto atual à diereita]::

Olá, .César: Aqui vai ,ais um livrinho que nos davam, sobre os deveres miliatres, um edição de 1969. Se interessar, envia ao blogue. Tenho mais, vou enviando a pouco e pouco. Abraço, Hipólito.

2. Comentário de L.G.:

César, doa noite, o Fernando ficou com a arca de Noé!... Que rico baú, e que grande aquisição fez a Tabanca Grande...

Mas, ó Fernando, a gente também quer histórias de amor, paz e guerra... A história do miúdo merece ser contada!...

Um abração. Luis


3. Resposta do Fernando Hipólito:


Meus Amigos

Histórias de paz, amor e guerra... Vou tentar arranjar algo desse género, passadas no meu mundo da tropa. Tentarei algo que pode ter acontecido em qualquer parte do território Português,em tempo de Guerra. Vou colaborar no que me for possível.

Abraço, Fernando Hipólito.[ex- fur mil, CCAÇ 2544, Angola, e em especial Lumege, 1969/71; o pessoal tem um blogue, desde janeiro de 2006, animado pelo Zé Oliveira e onde o Fernando Hipólito também colabora]


4. Referência bibliográfica desta brochura, na Biblioteca do Exército:

Título: Deveres Militares

Edição: 1ª ed. - 1963, 4ª ed.- 1973

Publicação: [S.l.] : SPEME

Descrição física: pag. var. : fig. ; 15 cm

Colecção:(Regulamentos)

ISBN:(brochado)

Assuntos: Deveres Militares

Cota: 901 BER 2 exemp.

Tipo de documento:Texto impresso

País de publicação:PT


Guiné 63/74 - P12855: Agenda cultural (304): O Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa, exibe 5ª feira, 20 de Março, às 18h00, o documentário “Pabia di Aos”, de Catarina Laranjeiro... Comentário de Alberto Branquinho

1. O Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) exibe 5ª feira, 20 de Março, às 18h00, o documentário “Pabia di Aos”, de Catarina Laranjeiro [, foto atual à esuerda].

O filme reúne testemunhos de guineenses sobre a guerra colonial/guerra de libertação que se travou no  país, entre 1963 e 1974.

Na Guiné-Bissau, quarenta anos depois da guerra, aqueles que aderiram ao movimento nacionalista de Amílcar Cabral e  aqueles que lutaram no exército colonial põem em cena uma multiplicidade de discursos e memórias, fragmetadas e irreconciliáveis.

A exibição integra o programa dos Seminários CesA 2014, uma
iniciativa do Centro de Estudos Africanos do ISEG especialmente dirigidas a estudantes do (i) mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional e do (ii) doutoramento em Estudos de Desenvolvimento.

Fotograma do filme Pabia de Aos, de Catarina Laranjeira (Portugal, 2013)
A sessão contará com a presença da realizadora, Catarina Laranjeiro, que é mestre em Antropologia Visual e dos Media pela Universidade Livre de Berlim e atualmente doutoranda em Pós-Colonialismo e Cidadania Global, pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Dedica-se, desde 2011,  a projetos de investigação e criação que cruzam o cinema e a antropologia.

Entrada livre. (*)



Alberto Branquinho
2. No poste P12225, de 31 de outubro de 2013 (**), demos notrícia da estreia, em Lisboa,  deste documentário da jovem Catarina Laranjeira. Ainda não tivemos a oportunidade de ver o filme.  Mas o nosso camarada Alberto Branquinho [, foto à esquerda, advogado, escritor, ex-alf mil,ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, GandembelCanquelifá, 1967/69,] viu.o por nós e deixou-nos aqui, em tempos, as suas impressões (**):

Luís

Fui HOJE ver o "Pavia de Ahos". Parece ser de corrigir a grafia (Ahoj/Ahoje?), embora não existam regras oficiais.

Aqui vão, assim, no imediato, os meus pontos de vista:

(i) São, efectivamente, "...memórias irreconciliáves..." como a autora diz e, acrescento, contraditórias, como tudo o que é sujeito ao juízo dos homens a esta distância temporal e, também, porque colocados em diferentes espaços físicos de um mesmo território.  Seja não só quanto aos naturais que colaboraram com a tropa portuguesa (fuzilados), seja quanto ao reconhecimento (aos sobrevivos) dos seus direitos pelas autoridades portuguesas, seja sobre a independência, a democracia, seja sobre o momento da morte ou a morte de A. Cabral, etc.;

(ii) A tese de mestrado da realizadora poderá focar-se "...em artefactos visuais (fotografias e outros) que antigos combatentes da Guiné, sejam do PAIGC ou do exército português...", mas este filme não. Este filme só contém as tais "memórias irreconciliáveis", tiradas da parte de guineenses (combatentes ou não); nunca de antigos combatentes portugueses. (Aliás, surgem, a dada altura, imagens onde estão enquadrados dois indivíduos de raça branca, que, pela nossa experiência das viagens à Guiné, serão antigos combatentes em visita à Guiné. Ambos são filmados de longe e um tenta manobrar uma antiga anti-aérea enferrujada. Nenhum depoimento foi colhido deles; ali no filme, claro.);

(iii) Acho que uma intervenção do lado português poderia esclarecer um aspecto chocante que ficou, com certeza, na mente das pessoas que viram o filme. Conviria esclarecer se o lançamento de guerrilheiros (?), ao mar a partir de aviões, era prática das forças armadas ou da PIDE;

(iv) Nas declarações a realizadora agradeceu a um senhor guineense os conselhos recebidos, pois passou a compreender que "nem tudo é a preto e branco"(sic). Não há dúvida que foi um bom ponto de partida.

Alberto Branquinho

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Notas  do editor:

(*) Último poste da série > 11 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12825: Agenda cultural (307): Tiveste medo, pai?... Lançamento do livro de Catarina Gomes, jornalista do Público, com a participação de Lídia Jorge... Lisboa, FNAC Chiado, 27 de março, 18h30... Doze histórias de ex-combatentes e dos seus filhos, incluindo a do Tiago Teixeira & José Teixeira e a de um filho do João Bacar Jaló

(**) Vd. poste de 31 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12225: Agenda cultural (293): Estreia do filme da jovem realizadora portuguesa Catarina Laranjeiro, "Pavia de Ahos", sobre memórias guineenses da guerra de libertação / guerra colonial. Doclisboa'13, hoje, 5ª feira, 31/10/2013, 17h00, Cinema São Jorge, Sala 3

Guiné 63/74 - P12854: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte IX): Canquelifá era uma tabanca bonita, com grandes árvores frondosas e população de gente muito alta, panjadincas, muçulmanos


~








Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Sector L4 >  Canquelifá > > Março de 1974 > A desolação da guerra... A tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas, em 18 de março de 1974.

Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau (**) ... Resposta, com data de 16 do corrnte, do Valdemar Queiros à pergunta sobre a origem do cognome "Lacraus": ~


[, foto à esquerda, Valdemar Queiroz, ex-fur mil CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]. 


Boa noite, Luís Graça

Nós, da CART 2479,  "Poucos quanto fortes", somos "Lacraus"  por que quando chegámos à Guiné e, depois, em Brá, em tendas de campanha, fomos surpreendidos com aracnídeos venenosos, mas sem nos assustarmos ficámos com as primeiras recordações da Guiné e dos lacraus, mas sempre com aquela:  

"Quando abrires o teu armário das surpresas imprevistas, não desistas, não desistas... E se encontrares dentro dele farrapos velhos, desdenhados, desbotados, não desistas. E se vires viscosa aranha com peçonha no seu ventre,  olha pra ela de frente que  ela passa sem tocar -te".... (Nnão me recordo, mas julgo que isto foi dito, pelo Renato Monteiro, em Contuboel),

E, em Contuboel, voltamos a ter várias visitas de lacraus. Quando formamos a CART 11 resolvemos chamarmo.-nos "Os Lacraus" ((Nada tem a ver com as viaturas destinadas a provocar a explosão de minas nas vias de comunicação,)

O meu 4º.Pelotão foi para Canquelifá reforçar a guarnição lá existente, após um grande ataque à povoação. Já lá estava outro  Pelotão da nossa CART 11. Tinha havia um grande ataque a Canquelifá, com grande grande utilização de morteiros e tentativa de assalto do IN à povoação. Mas Canquelifá só tremeu, com as morteiradas à nossa messe e a algumas casas mais centrais, mas aguentou o assalto e escorraçou o IN, que tentou ultrapassar o cavalo de frisa, na entrada. 

O 1º.Cabo Paiva, da nossa CART11, sofreu um ferimento no peito, esquisito. Um sopro de rebentamento que lhe abriu o peito sem qualquer vestígio de estilhaço.

Sairmos de Nova Lamego, Dare, Piche, Dunane e chegar 
a Canquelifá não era "pera doce". . Sempre acompanhados com escoltas e picagens. Mas chegar a Canquelifá era refrescante, na entrada da povoação havia um grande cartaz, com uns desenhos alusivos:

"BEM-VINDOS ÀS TERMAS DE CANQUELIFÁ"...

E era certo, Canquelifá ficava num pequeno planalto bem mais fresco que lá em baixo,  o do Gabu, mas havia à entrada da povoação um cavalo de frisa e sentinela que assustava. 

 Canquelifá era uma tabanca bonita, com grandes árvores frondosas e população de gente muito alta,  panjadincas (muçulmanos). Assisti lá ao final do Ramadão, com os festejos de batuques, lutas-livres, etc.

Não me recordo, ao certo, mas julgo chegou a ser a nível de três (?) Pelotões, sei que lá chegou a estar o Cap  Analido Pinto, da nossa CART 11.

Fomos visitados pelo Spínola, que enalteceu os nossos soldados, a falar para a povoação:  "Eestes homens são pescadores da Nazaré,  são pastores da Covilhã,  esta terra não é deles, é vossa. Vocês têm que defender esta terra e esta bandeira A Bandeira de Portugal.". (Isto devere ter sido em Fev/Mar.1970, em Canquelifá,  cercada de arame farpado que tinha sido bombardeada)

Um abraço
Queiroz

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974

terça-feira, 18 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12853: Facebok...ando (34): I want you, António Alves da Cruz!... Conta-nos a tua história, das salinas tavirenses (CISMI, 1972) às picadas de Buba-Aldeia Formosa (CTIG, 1973/74)...



Foto nº 1 >  Tavira, CISMI, 1972 >  António Alves da Cruz,  em farda nº 2, junto às salinas, tendo o antigo Convento das Berrnardas ao fundo



Foto nº 2 > Tavira, CISMI >  4ª Companhia, 3º Pelotão >  16/6/1972 >  Salinas... O antigo Convento das Bernardas ao fundo...



Foto nº 3 >  Tavira, CISMI  >    Fim do CSM,  Outubro de 1972... O António Alves da Cruz  é o terceiiro , da segunda fila, de pé, a contar da esquerda para a direita... Tem página no Facebook, trabalha na Autoeuropa e vive em Almada.




Foto nº 4 > António Alves da Cruz, fur mil, a bordo do T/T Uíge, a caminho do TO da Guiné > Março de 1973... Tem hoje página no Facebook,  é alfacinha, trabalha na Autoeuropa e vive em Almada. Passou pela Lisnave, e trabalhou também no estrangeiro. Faz anos a 1 de março. É da colheita de 1951. É, portanto,  dos últimos soldados do império... "I want you, António!"...


Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2014)  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Excelentes documentos, António... E em especial os dois primeiros, nas salinas de Tavira... E ainda por cima,. no caso da  primeira foto de cima, em farda nº 2... Todo janota...

As famigeradas salinas, o terror do instruendo...E ao fundo o Convento das Berrnardas, com a chaminé da moagem, que ainda funcionava no meu tempo (1968)... Hoje é um magnífico e monumental edifício recuperado pelo nosso prémio Nobel da Arquitetura (ou Pritzker), o "morcão" do Eduardo Souto Mouro, da grande escola de arquitetura do Porto!...

Pois que viva o Porto que tem dois prémios Prizker, o Souto Moua e o Sisa Vieira... e que viva  Tavira que tem sabido estimar, preservar e valorizar o seu património edificado, contrariamente a outras terras algarvias onde a especulação desenfreada, o camartelo camarário, o 'lobby' imobiliário e o desastre urbanístico é quem mais ordenam...

Pedi-te licença  para publicar a foto de cima, nº 1, e tu autorizaste-me...  no nosso  blogue. Dei uma salto à tua página, no Facebook, e explorando os teus álbuns encontrei mais fotos que gostaria de poder divulgar e partilhar com os nossos camaradas da Guiné. Tens fotos de Buba, Aldeia Formosa... Fica para um próximo poste, se tu concordares...

Para já convido-te a sentares-te à sombra do poilão da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, intergares este blogue coletivo que conta já com 650 membros, entre vivos e falecidos... Gostaria que aceuitasses os nosso convite, e fosses o  nosso greâ-tabanqueiro nº 651... És nosso amigo do Facebook, mas queremos que sejas também camarada... aqui, no blogue.

Tens por certo histórias para contar. E a gente nem sequer sabe a que unidade pertenceste... Só sabemos que fechaste a guerra e que estiveste na entrega de Buba ao PAIGC presumivelmente em julho ou agosto de 1974. Fala-nos desses tempos, que não foram fáceis, dos últimos soldados do império"... Como eu entendo o teu amargo comentário: "Tanto sofrimento para quê ?!,,, A  entrega de Buba ao PAIGC, o arrear da nossa bandeira nacionbal,  e o hastear da bandeira do PAIGC"...

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12640: Facebook...ando (33): Eu Queria pra Brancos Voltar Governar Guine de Novo... Bubacar Baldé dixit... Filho de 1º Cabo Tcherno Baldé, CCAÇ 11 (Paunca, 1974)... À conversa com J. Casimiro Carvalho (ex-fur mil op esp, CCAV 8350 e CCAÇ 11, 1972/74)

Guiné 63/74 - P12852: Convívios (570): CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74): 29 de março, Sezures, Penalva do Castelo... Notícias, boas, por outro lado, do Cherno Baldé, o "Chico de Fajonquito", que está a trabalhar, em Bissau, num projeto do PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento




1. Através de mensagem deixada na página do Facebook da Tabanca Grande, soubemos do anúncio do 15º convívio da CCAÇ 3549 / BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74), que se vai realizar no próximo dia 29, em Sezures, Penalva do Castelo, distrito de Viseu (Vd. localização aqui no mapa do Google).

Aqui fica o lembrete. Não temos mais informações: programa, preços, local de encontro, comissão organizadora...

Nos últmos  anos, um dos organizadores dos convívios anuais da malta da CCAÇ 3549 costumava ser o nosso grã-tabanqueiro José Cortes, autor da série Fajonquito do meu tempo

[, José Cortes, de Coimbra, foto atual à esquerda]. 

De qualquer modo, desejamos desde já aos nossos camaradas da CCAÇ 3549, seus amigos e familiares, uma bela e saudável jronada de convívio no próximo dia 29.

2. Temos, em contrapartida,  boas, reconfortantes, notícias do Cherno Baldé, o "menino e moço" de Fajonquito, o Chico de Fajonquito... [, foto à direita, com os 4 filhos, machos, na "festa do carneiro"]

Há dias perguntei por ele, já que o seu silêncio me estava a preocupar:

(...) "O que é feito de ti, querido amigo e irmão Cherno Baldé ? Estou preocupado com o teu "silêncio"... Ou és tu que não estás bem ou, mais provavelmente, somos nós que estamos mal"... (...)

Resposta, trranquilizadora, com data de hoje, de manhã:

Bom dia, irmão Luís Graça:

Eu estou bem e vocês continuam os mesmos de sempre, irreverentes e amigos da Guine e dos Guineenses.



Acontece que desde 2011 já nao estou no meu pacato mas pobre e desorganizado Ministério das Obras Públicas, primeiro passei pela célula de apoio da UE (Coordenação e gestão dos projetos financiados pelo FED) em Bissau,  e muito recentemente passei para um projeto do PNUD  [, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvinmento] e o tempo escasseia.

Um grande abraço,

Cherno Baldé

Guiné 63/74 - P12851: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (5): O porco que não consegui comer

1. Quinto episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

5 - O SEGREDO DE...

O PORCO QUE NÃO CONSEGUI COMER

Nesse mês de Junho, iria começar uma nova função, que acumularia com as já habituais; passaria a desempenhar a função de gerente da messe de oficiais. Na necessidade de, mais uma vez, me afirmar responsável e competente, quase como a ter que ganhar o direito a existir, eu que me sentia de fora, pouco "militar", deslocado na classe privilegiada, assumi mais esse encargo como um desafio. Iria empenhar-me para melhorar a qualidade das refeições servidas na messe, dentro dos estabelecidos 30 escudos por pessoa e por dia. Ganharia melhor alimentação e evitaria as duras críticas e acusações que tinha ouvido, dirigidas ao camarada que me antecedera nessas funções.

Uma profícua papaeira do horto do batalhão. Ou uma prova de que com querer, algum trabalho, organização e técnica, a Guiné seria uma terra produtiva e próspera.

Depois de me inteirar do serviço a desempenhar, reuni com o Cabo Vagomestre transmitindo-lhe os meus propósitos visando ganhá-lo para a minha causa. Diariamente, procurava acompanhar as contas dos gastos e as ementas planeadas, incentivando-o a que se melhorasse a confeção das refeições e se variasse, quanto possível. Mas tinha uma circunstância a contrariar os meus intentos: a horta do batalhão, que nos meses anteriores tinha sido generosa e farta em verduras, alguns legumes e leguminosas, estava em final de ciclo produtivo; estava quase tudo seco e já pouco se poderia colher.

Ficaríamos dependentes dos reabastecimentos vindos de Bissau, em coluna, uma vez por semana, com poucos frescos. Era o recurso ao arroz, às massas, aos enlatados e ao peixe da bolanha. Nem com muita imaginação e boa vontade se conseguiriam ementas que agradassem. Por repetitivas, tornar-se-iam enjoativas.

O Mamadú, (?) auxiliar do soldado hortelão. Diariamente prestava serviço no quartel, ou no horto ou no corte da lenha para a cozinha e para o forno do pão. Sempre descalço e de cachimbo na boca.

Perante a marcação que fazia ao cabo vagomestre para que não se caísse na rotina e desmazelo de ementas contestadas, coloquei-me a jeito para que ele me lançasse o repto: “Se o meu alferes quer que se melhore a alimentação, só temos uma solução: ir às tabancas comprar víveres.” E eu aceitei o repto. Segundo o vagomestre (e disso deveria ele saber), as populações das tabancas tinham a obrigação, imposta pela administração civil, de fornecer alguns animais ao batalhão, para a alimentação da tropa.

Depois de me informar melhor, e tomar as providências necessárias, lá fomos, acompanhados de um Cipaio, que serviria de intérprete nas “negociações” e representava a Administração Civil.

Acompanhavam-me, para além do vagomestre, que faria de tesoureiro, alguns soldados do meu grupo e pessoal adstrito à cozinha da messe, em duas viaturas, creio que uma unimog e uma mercedes.

Chegados à tabanca escolhida, não sei se Beniche, se Bajope, se Chulame, que eram ladeadas de férteis bolanhas, iniciou-se o “jogo da apanhada” às galinhas, aos cabritos e aos porcos, que por ali andavam em liberdade, em volta das moranças e das cercas. E o “negócio” lá se ia fazendo, com a intermediação do cipaio e o pagamento feito em espécime (sem fatura e sem recibo).

As férteis bolanhas ao redor das tabancas da zona de Teixeira Pinto. Um grupo de homens (poucos) a preparar a terra para as sementeiras/plantações, virando a leivas com os seus arados. Alguns são ainda meninos outros já velhos. Os jovens adultos faziam a guerra, dos dois lados da contenda. E eu pensava: como seriam produtivos estes campos, se fossem introduzidas outras técnicas e mecanização. Mas o esforço ia todo para a guerra.

As mulheres manjacas, mulheres de trabalho, nos viveiros do arroz, procedem à repicagem para o transplante.

Aspeto exterior das moranças das muitas tabancas dos arredores de Teixeira Pinto; onde pessoas e animais viviam em harmonia e liberdade. Só a guerra e os militares levavam o desassossego.

Já com uma boa “caçada” consolidada, surge à vista um esmerado e bem nutrido leitão. A rapaziada entusiasmada com o “jogo,” enceta uma perseguição ao bicho, que lá se ia esquivando, ensarilhando entre as cercas e as moranças. Mas perante a determinação dos bravos pegadores, não foi longe. Amarrado e transportado para a viatura, grunhia e guinchava que nem um desalmado.

Surge então um ancião, que tomei como sendo o dono do animal, com modos pouco amistosos. Tentou-se a conversação e a negociação, mas o homem estava irredutível. Não percebi uma palavra do que disse, mas entendi que ele não queria vender o porco. Perante os factos, disse ao cabo vagomestre que seria melhor libertar o bicho, mas ele replicou que não o devíamos fazer, que o homem tinha a obrigação de vender o porco e que se não quisesse receber ali o dinheiro, que o fosse levantar à Administração, que era esse o procedimento habitual.

Não me agradava aquela situação, mas perante esta argumentação e as circunstâncias (novamente a minha condição de “pira”, inseguro e pouco firme, a vir ao de cima) cedi e viemos embora com o porco, sem o pagarmos, deixando para trás o ancião furioso, que com o seu olhar agressivo parecia querer fuzilar-nos. Se não era já afeto ao IN, após esse dia passou a sê-lo, com certeza.

Durante a viagem de regresso, autocensurava-me pelo que se tinha passado; deveria ter sido mais firme e não ter consentido em trazer o porco sem o pagar, mas também não tive iniciativa de voltar atrás e devolvê-lo ao dono. Achava que isso me deixaria diminuído na minha autoridade para com o vagomestre, para continuar a pedir-lhe todo o empenho para melhorar o serviço na messe. Mas pensava também no risco que corria, se o ancião, que eu desconhecia quem era, fosse fazer queixa ao Régulo e se este fizesse chegar a queixa até Bissau, ao Com-Chefe, talvez não me livrasse de uma “porrada”; e isso era a última coisa que eu queria; lá se iriam os meus 35 dias de licença, tão desejados. Se isso acontecesse, não sei como me iria aguentar.

Quando passados alguns dias o leitão foi servido na messe, não consegui comer dele. Ou porque estava mal cozinhado, pareceu-me só gordura, ou por remorso. E lá fui, mais uma vez, compensar-me no bar com uma lata de fruta enlatada e uma garrafa de leite achocolatado. Eu tratava-me e cuidava-me bem, para me manter com saúde e em forma.

Durante estes 40 anos esqueci muita coisa, quase tudo, nomes de pessoas e de locais, episódios, etc. Até o número da companhia e do batalhão eu tinha esquecido, mas este acontecimento nunca o esqueci e considero-o uma nódoa no meu comportamento, que desejei impoluto e pautado pelos elevados valores éticos, que tinha levado na mente e no coração, que procurei preservar, cultivar e ser fiel, não o tendo conseguido. A par de outros atos incorretos, confessados a quem de direito na devida altura, este, de caráter mais público, fica bem aqui retratado, nesta série “O segredo de:”. Dele peço desculpa, pelo que representa, a quantos se sintam por ele, atingidos e prejudicados.

Foto tirada da pista que ficava próxima do quartel. Ao fundo, o aspeto exterior das muitas tabancas de Teixeira Pinto. Uma área arborizada com as moranças circulares feitas de barro e cobertas de colmo. Arquitetura ancestral, bem adaptada às gentes e ao clima. Bem melhores que os reordenamentos que a tropa fazia, em áreas descampadas, retangulares, com blocos de barro cozidos ao sol e cobertura de zinco. Na zona havia alguns, mas pouco habitados. O objetivo principal não era servir as populações a quem se destinavam, mas sim controlá-las.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12841: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (4): Teixeira Pinto, adaptação às pessoas e ao terreno

Guiné 63/74 P12850: (In)citações (62): Agradecimento da família Schwarz da Silva ao nosso blogue por, metaforicamente falando, ter emprestado os seus cavaleiros e tambores para glorificar o Homem, que foi o Pepito, na vida e na morte (João Schwarz da Silva / Luís Graça)




Poema datilografado, sem data, com emendas manuscritas pelo autor, Artur Augustio Silva, cortesia do seu filho João Schwarz da Silva

Morreu o homem
Artur Augusto Silva
(Nova Sintra, Ilha da Brava,
1912- Bissau, 1983)

Ao meu amigo Mamadú Baldé

por Artur Augusto Silva [, foto à direita,]



Mamadú Baldé,
filho de Salifo,
filho de Indjai,
filho de Tchamo,
filho de Monjur,
filho de Mutari,
cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos
nas terras do Egito,
e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé
e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu.
Mamadú Baldé, 

o sábio que falava com Alá
e era bom
e era justo,
morreu.
Cavaleiros e tambores levaram a notícia a toda a parte:
subiram as encostas do Futa-Djalon
e desceram para o mar.
Percorreram o Sudão até Cao e Tombucutú
e desceram o lago Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu:
morreu Mamadú Baldé.
O sol parou o seu caminho,
espreitou para Labé,
viu Mamadú morto,
e continuou.
A lua parou também o seu caminho,
espreitou e continuou.
Os rios que nascem no teto do mundo,
pararam na sua corrida para o mar
e prosseguiram.
E o poeta pegou num pedaço de papel
e escreveu:

Morreu o Homem.

In: Artur Augusto da Silva - E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu: Poemas.
Bissau, Instituto Camões - Centro Cultural Português. 1997. p.21 (*) (**)

[Fixação de texto / Revisão em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]




Lisboa > São Sebastião da Pedreira (ou S. Martinho do Porto?) > Em primeiro plano, o Carlos, ainda bebé, mais os irmãos Henrique (Iko) e João. 

Foto: © António Lopes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de João Schwarz da Silva, irmão do Pepito, e que vive em Paris [, foto à esquerda, cortesia do sítio European Alliance for Innovation]

[Engenheiro de formação e profissão, é doutorado em "Performance Analysis of Mobile Packet Radio Systems" pela Universidade de Carleton, Ottawa, Canadá, 1981; foi alto quadro da Comissão Europeia (1991-2010), diretior de seviços na Direcção-Geral da CE para a Sociedade da Informação; é atualmente investigador da Universidade do Luxemburgo; autor de uma centena de artigos e livros técnicos e científicos nas suas áreas de especialização; entre outras atividades sociais, é presidente da direcção da Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar]

Data: 14 de Março de 2014 às 14:38

Assunto: Agradecimento

Caro Luís Graça,

Graças a si e ao seu formidável blogue, que eu já conhecia, foram muitos aqueles que viram a noticia da morte do meu irmão Carlos. Durante a conversa telefónica que tivemos há poucos dias, agradeci a sua contribuição para o conhecimento da Guiné e para o conhecimento das actividades do Carlos. Penso no entanto ser preferível deixar-lhe uma mensagem escrita a agradecer tudo o que tem feito para celebrar a memória do Carlos.

O nosso pai Artur escreveu um dia um poema intitulado "Morreu o Homem" no qual fala dos cavaleiros e tambores que levaram para toda a parte a noticia da morte de Mamadu Balde. De certo modo o seu blogue corresponde aos cavaleiros e tambores, no caso do Carlos.

Em breve vou tentar acrescentar ao site que comecei a fazer há já uns tempos, uma parte onde irei tentar retraçar a vida do Pepito (mais exactamente Agapito que era um herói do "Cavaleiro Andante" mas que o Carlos não conseguia restituir devidamente quando era miúdo).

Convido-o desde já a dar uma vista de olhos ao site www.desgensinteressants.org onde encontrara nomeadamente um capitulo sobre o nosso pai Artur. Convido-o também a comunicar-me alguns elementos que possam fazer parte do capítulo que será dedicado ao Carlos.

Mais uma vez um grande obrigado e um grande abraço. (***)

João Schwarz da Silva

Anexo: Original de "Morreu o Homem"


Lisboa, campus da ENSP/UNL, 6 de set 2007; da esquerda para
a direita,  Nuno Rubim, Pepito e Luís Graça. Foto: LG 
 2. Resposta de Luís Graça, 
com data de 14 do corrente



Meu caro João:

A amizade não se agradece. A perda do Pepito toca-nos a todos, A si e aos seus, seguramente, de uma maneira única, e para mais numa família como a vossa que tem, do lado materno (os Schwarz), um historial de perdas trágicas,

Já dei uma "vista de olhos" ao seu sítio na Net ("Des Gens Intéressants", Gente Interessante, em português). E incentivo-o a prosseguir. Por si, pelo Carlos, pela família, pelos amigos, por todos nós.

Dou-lhe os parabéns pela filial devoção, rigor documental e riqueza iconográfica do extenso capítulo dedicado ao seu pai, Artur Augusto Silva (e, e donde constam preciosos documentos, como, por eemplo, a foto do funeral, em 1935, do Fernando Pessoa). É a história de uma vida, de um homem, cidadão, advogado, escritor,  intelectual, português, pai e esposo; é a história de uma família mas também de uma época, e de três países lusófonos, que nos são caros, a todos nós:  Cabo Verde, Portugal e Guiné-Bissau.

Tenho mais fotos (e vídeos) do seu mano Pepito que llhe enviarei com todo o gosto: 

(i) da viagem que fiz à Guiné, em fev/mar 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje;

 (ii) da viagem que o meu filho João Graça (médico e músico dos Melech Mechaya, a única banda klezmer portuguesa) fez, um ano depois, à Guiné-Bissau, em dezembro de 2009, tendo privado com o Pepito e a famíla, em Bissau, no Quelelé, mas também em São Domingos, num festival intercultural;


(iv) dos nossos encontros anuais, na Tabanca de São Martinho do Porto, em agosto, nas férias da família, na mítica Casa do Cruzeiro... 

 Há, além disso, fotos diversos dos nossos camaradas que privaram com o Pepito, em Bissau, por ocasião de entregas de ajuda humanitária em Bissau... Enfim, tenho que consultar os meus arquivos fotográficos, que já são vastíssimos...e estão em diversos suportes (CD-Rom e discos externos), para alénm das inúmeras referências que há, no nosso blogue, (na I e II Série) ao Pepito e à sua querida ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, "o seu 5º filho", depois do DEPA - Departamento de Experimentação e Produção de Arroz, da Cristina, da Catarina e do Ivan...

Sinto uma dor imensa por não ter podido conviver mais e conhecê-lo melhor... E de ter "falhado", por razões profissionais, o seu convite para ir à inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, em 20 de janeiro de 2010. Mas mesmo assim tenho guardadas largas dezenas de emails que trocámos nestes últimos anos...e de que poderei mandar-lhe uma seleção... 

O Pepito e a Isabel tornaram-se rapidamente amigos da nossa família e chegaram a vir jantar a nossa casa algumas vezes, em Alfragide e na Lourinhã... Quando vinha a Lisboa, o Pepito andava sempre num pandemónio, alimentando as suas redes de contactos e resolvendo assuntos da sua ONGD. E, infelizmente, nos últimos tempos, nos hospitais... A Alice e os meus filhos Joana e João tinham uma grande admiração e afeto por ele. O mesmo se passa com muitos dos meus camaradas e amigos da Guiné que tiveram o privilégio de o conhecer.

Se mo permitir, vou publicar a sua mensagem para conhecimento dos muitos amigos que o Carlos tinha no nosso blogue, que é, como sabe, uma criação coletiva. Aliás, é espantosa a nossa aproximação, a partir de finais de 2005, tendo nós sido homens que combateram o PAIGC de Amílcar Cabral... O Pepito percebeu, primeiro que ninguém, que Guileje podia e devia ser um traço de união entre todos nós, portugueses, guineenses, caboverdianos, lusófonos...

E estou-lhe muito grato, a si, João, pelo poema datilografado, lindíssimo, em que o seu pai faz o luto pela morte de um amigo e "homem grande", a que chamou simplesmente "o homem".  Também o Carlos não precisava de adjetivos: ele era o homem, o que honrou (e continuará a honrar) a nossa comum humanidade, a nossa condição humana... Hei-lhe um dia destes fazer-lhe um poema, para o seu sitio Des Gens Intéressants..

Dê um beijinho á sua querida mãe, Clara Schwarz, que faz o favor de ser nossa amiga. Ainda não arranjei um bom pretexto (!) para lhe falar,  coisa que fazia com alguma regularidade. E tenciono continuar a fazê-lo. Como sabe, ela é a nossa "decana" e queremos fazer-lhe uma grande festa daqui a um ano, poor ocasiaão do seu 100º aniversário!...

João, vamos comunicando. Julgo que já regressou ou vai regressar a França. Boa viagem. Saúde e longa vida para si e os seus. Um abraço. Luis.

PS - Já em tempos tinha publicado o texto original do poema "Morreu o Homem", (que é em prosa). Tomei, no entanto a liberdade de o converter para o fornmato de verso, procurando reconstituir a magnífica oralidade do texto. (*)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd-. poste de 18 de setembro de 2011 >  Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

(**) Vd. recensão feita ao livro pelo nosso camarada Beja Santos, no  poste de 

13 de abril de  2011 > Guiné 63/74 - P8093: Notas de leitura (228): Poemas, de Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)


(***) 8 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12695: (In)citações (61): Pepito, Clara, Isabel, estamos convosco! ...E fazemos votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz, nesta hora difícil (Luís Graça)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12849: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (34): Homenagem nacional e internacional ao Pepito, organizada pelos seus amigos e colaboradores, um mês depois da sua morte: 3ª feira, 18 de março, em Bissau, no Quelelé, no seu "chão"... Seguramente que ele não quereria um "choro" à moda tradicional, mas sim uma festa onde os seus valores, os seus sonhos, os seus projetos e a sua equipa fossem celebrados como um legado vivo, fecundo e proativo... (Luís Graça)


Lisboa, campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 7 bde setembro de 2007 >

Neste rosto luminoso, há carisma, afabilidade, determinação, coragem física e moral, visão estratégica, cinco qualidades pessoais que eu identificava e admirava no engº agrº Carlos Schwarz da Silva (1949-2014), mais conhecido por Pepito ("nickname" que vem da primeira meninice: segundo o irmão João,  o Carlos tinham um herói, uma das figuras de banda desenhada do "Cavaleiro Andante", o Agapito, um nome com 4 sílabas, dificeis de pronunciar por uma criança, e que ele simplficava, chamando-lhe "Pepito"...).

No nosso blogue, sempre o tratámos, carinhosamente, como Pepito. Tem mais de 130 referências... E foi um dos nossos primeiros 111 "tertulianos" (, designação  criativa  para os "membros" da nossa tertúlia, a comunidade virtual que se juntou à volta da primeira série do nosso blogue, entre 23 de abriul de 21004 e 1 de junho de 2006).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.



1. Um mês depois da sua morte, o nosso querido amigo Pepito vai receber a homenagem que lhe é devida por parte dos seus amigos e colaboradores da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, de que ele foi, durante 23 anos,  o ideólogo, o líder carismático, a figura de proa e o diretor executivo, pelas comundidades (rurais e urbanas) com quem trabalhou, e ainda pela sociedade civil guineense e bem como representantes do poder político, nacional e internacional.

Chega-nos agora o programa, disponível no sítio da ONG AD, que reproduzimos a seguir.

Para a  família do Pepito,  e em especial Isabel e as filhas, Cristina e Catarina,  que voltaram  à Guiné-Bissau, no sábado passado, dia 15,  os nossos melhores votos de regresso.  Sei que o Henrique Schwarz também as acompanhou e vai estar presente, e falar, na festa de amanhã.

À Isabel Miranda, presidente da Direção da AD, as nossas melhores saudações pessoais e bloguísticas... Ela é uma figura fundamental para fazer a transição neste momento difícil e manter vivo, fecundo e proativo o enorme legado do Pepito. Pepito ca mori, Isabel!... O seu exemplo continuará a ser inspirador para todos vós e para nós, seus amigos de Portugal.

O nosso alfabravo (ABraço) fraterno também para o Nelson Dias, vizinho e amigo do peito  do Pepito, presidente do Conselho Fiscal da AD, alfabravo extensível a toda a vasta família da AD, a segunda família do Pepito.

Ao novo diretor executivo da AD, eng agr Tomané Camará (que eu conheci em 2008, como braço direito do Pepito na comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guiledje, um dos "oito magníficos",) vão os nossos votos de sucesso a nível pessoal e profissional, na esperança que a AD continue a desenvolver o seu trabalho e a realizar a sua miss
ão, com o rigor,  a paixão, a indepedência, a ética e a visão de futuro que o Pepito sempre quis transmitir no  seu pensamento e na sua ação. O Tomané Camará é nosso grã-tabanqueiro desde 2008.

Desempenhava até agora funções como "coordenador de Programas da AD, responsável pela planificação, implementação, monitorização e avaliação dos componentes que constituem os quatro Programas Integrados da AD". Era, além disso, "responsável da Direcção Nacional da AD pela área Financeira".


Para mim, o Pepito era um perfeito exemplo do líder (etimologicamente falando, "o que vai à frente, mostrando o caminho"). E mais: para ele a liderança não era um fim em si mesma, mas apenas um meio para  pôr as pessoas a trabalhar em conjunto, de maneira cooperativa, construtiva, solidária e criativa. Ele era um exemplo vivo do trabalho de liderança em equipa: "trabalhar com a equipa, através da equipa e às vezes contra alguns... para concretrizar os objetivos da equipa"...

Era um lider carismática e uma figura de proa, mas nunca o vi em bicos a dizer a equipa sou eu, a AD sou eu... Pelo contrário, gostava muitas vezes de ficar fora das luzes da ribalta... O Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008)  foi disso exemplo extraordinário, uma lição magnífica de liderança: "Pepito e os oito magníficos da sua equipa", escrevi eu aqui, em tempos, na véspera de partir para Bissau onde fui participar no evento (*):

"Por detrás de um grande líder, há sempre uma grande equipa. No caso da organização do Simpósio Internacional de Guiledje - uma ideia que nasceu no seio da ONG AD há dois anos e tal - esse líder chama-se Pepito e a equipa é constituída, pelo menos, por oito magníficos, três dos quais são mulheres: a Anésia Fernandes, a Cadidjatu Candé e a Conceição Vaz"...

Por outro lado, era bem patente, nesta iniciatiava de um "paisano" e um "pacifista" (que nunca na vida pegou em armas), a grande sensibilidade sociocultural e a visão de futuro, que só um homem com as qualidades dele podia ter,  ao fazer questão de acentuar que aquele  simpósio (i) não pretendia " celebrar a derrota de ninguém";  pelo contrário, (ii) representava "o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história, da ciência sobre a propaganda, da amizade sobre o ódio"... Enfim, era também  ou pretendia ser  (iii) "a afirmação (ou a reivindicação) da apropriação da história por parte dos guineenses, e de certo modo da recusa do círculo vicioso da pobreza e da dependência"... 

Pepito ca mori, amigos da AD- Bissau!... Foi um privilégio conhecê-lo (e tê-lo como amigo e parceiro da nossa Tabanca Grande). (LG)


2. ATO SOLENE DE HOMENAGEM A PEPITO EM BISSAU

Campo polivalente de Quelele, 18 de março de 2014

16:45 Chegada dos participantes

16:50 Os participantes tomam os seus lugares

1ª parte: mensagens da AD 

17:00 Hino da AD

Família AD, Sofia Rodrigues e Verónia Gomes (solistas)

17:05 Boas vindas aos participantes

Alfredo Simão da Silva, Presidente da Assembleia Geral da AD

17:10 Introdução ao Ato Solene

José Filipe Fonseca, AD

17:20 Interlúdio

Demba Galissa (cora)

17:25 Resumo das mensagens recebidas até ao momento

Isabel Miranda, Presidente da Direção da AD

17:40 A obra de Carlos Augusta Schwarz da Silva (Pepito)

Nelson Gomes Dias, Presidente do Conselho Fiscal da AD

17:55 Interlúdio

Cooperativa Cultural Os Fidalgos

2ª parte: mensagens das comunidades urbanas e rurais 

Comunidades urbanas

18:00 Mussa Candé, Associação dos Moradores de Quelele

18:05 Emília Lopes, representatnte das Mandjuandis de Cacheu

Comunidades rurais

18:10 Hadja Djenabu Baldé, Presidente da APALCOF, Contuboel

18:15 Interlúdio

Mandjuandadi Amizadi Ca Facil, Quelele

18:20 Quissima Ducuré, representante da comunidade de S. Domingos

18:25 Momo Silá, representante de Cubucaré

18:30 Interlúdio 

Professores e alunos da Rede das Escolas de Verificação Ambiental (EVA)

18:40 Mandjuandcadi Firquidja di Bula

3ª parte: Mensagens da Sociedade Civil, setor público e parceiros  internacionais 



18:45 Luís Vaz Martins, Presidente da Liga Guineense dos Direitos do Homem

18:50 Augusta Henriques, Conselheira da Tiniguena

18:55 Sambu Seck, Secretário Executivo da Kafo

19:00 Interludio 

Mandjuandis de Cacheu

19:05 Ibraima Sori Djaló, Presidente da Assembleia Nacional Popular

19:10 Representante da Delegação da União Europeia

19:15 Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Senegal, Decano do Corpo Diplomático

19:20 Interlúdio

Por: Patchi di Rima

Agradecimentos

19:25 Henrique Schwarz, representante da família do Pepito

19:35 Interlúdio

Por: Cooperativa Cultural os Fidalgos

19:40 Tomane Camará, Diretor Executivo da AD

19:45 FIM DO ATO SOLENE (**)

Guiné 63/74 - P12848: Notas de leitura (573): "Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa", por Pires Laranjeira e "Jornal Português" e a notícia do assassinato de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
A Universidade Aberta editou em 1995 um conjunto de ensaios sobre as literaturas africanas de expressão portuguesa. Aqui se faz o registo do que ao tempo era o balanço da literatura da Guiné-Bissau onde pontificava (como pontifica) a lírica.
Igualmente se junta uma referência a um jornal da extrema-esquerda publicado em Paris, tendo como público mais interessado os desertores e refratários, estamos em 1973, noticia-se o assassinato de Cabral e deixa-se claro que a morte do líder não irá desmotivar a luta armada em curso, fala-se também de atos de destruição perpetrados pelas Brigadas Revolucionárias.
Para que conste.

Um abraço do
Mário


Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, por Pires Laranjeira
*
Jornal Português noticia o assassinato de Amílcar Cabral

Beja Santos

A Universidade Aberta editou em 1995 “Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa”, com coordenação de Pires Laranjeira cujo capítulo dedicado à Guiné-Bissau foi redigido por Inocência Mata. Vale a pena um olhar em relance o que nos propõe a investigadora.

A literatura guineense é tardia e escassa. Entre as principais razões que se pode encontrar há que ter em conta a débil implantação das estruturas educacionais, mesmo na última fase do período colonial. Recorde-se que só nos anos de 1960 é que foi implantado decisivamente o ensino secundário no país.

Com a separação da Guiné de Cabo Verde em 1879, instalada a capital em Bolama, foi aqui que surgiram as primeiras manifestações literárias. Logo, em 1920, à volta do jornal Ecos da Guiné. O primeiro jornal editado por um guineense, de nome Armando António Pereira, foi O Comércio da Guiné, que teve curta vida (1930-1931) e onde colaboraram, entre outros, Juvenal Cabral, Fausto Duarte e João Augusto da Silva. A propósito, escreveu Leopoldo Amado na análise que efetuou à literatura colonial guineense: “Antes da chegada em massa de cabo-verdianos, a bifurcação entre a sociedade guineense e a colonial era bastante acentuada, foi o elemento étnico cabo-verdiano que aproximou as duas componentes”. O que importa realçar é que os filhos da Guiné pugnavam por uma crioulização social como modo de inserção dos autóctones na sociedade colonial. Digamos que o balanço desta intervenção foi bastante exíguo. Seja como for há uma especificidade literária que não se pode iludir e onde pontificaram os nomes de Fernanda de Castro e Fausto Duarte.

Por último, merece menção 1963, foi neste ano que se publicou em São Paulo o livro “Poetas e Contistas Africanos”, de João Alves das Neves e o representante guineense foi António Baticã Ferreira. No termo do período colonial, em 1973, foi publicado um caderno de poesia de onze autores, intitulado Poilão, edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino.

Aquilo que é hoje a literatura guineense teve como seu percursor Vasco Cabral, cujos poemas datam de 1955. Os investigadores recusam considerar que Vasco Cabral tenha sido o criador desta literatura, um sistema literário pressupõe uma tradição, Cabral era um poeta muito formal, claramente marcado pela cultura portuguesa, a despeito das suas mensagens anticolonialistas.

A seguir à independência surgiram antologias poéticas: “Mantenhas para quem luta!”, “Antologia dos Jovens Poetas” e “Os Continuadores da Revolução”. Aparecem todos estes poetas irmanados pela carga panfletária, pelo orgulho africano, pelo sentimento da pátria emergente e pelos sonhos de progresso e justiça. Avulta neste período, pela sua inegável qualidade, Hélder Proença. O crioulo aparece claramente como língua de criação literária. Já nos anos 1990, foram publicadas outras duas antologias: “Antologia Poética da Guiné-Bissau” e “O eco do pranto”. Desvela-se uma poesia de grande tristeza pelos sonhos falhados, esses sonhos parecem canalisados na criança. Dois nomes desta geração apareceram como promessas, Jorge Cabral e Domingas Samy.

Resta acrescentar que nos anos 1980 Vasco Cabral viu publicado “A luta é a minha Primavera”, que Inocência Mata observa: “À primeira vista, uma escrita em desfasamento com o tempo. Mas é preciso não esquecer que o mais antigo poema data de 1951, o que explica o compromisso ideológico, a intensão de transformação social, tão cara à ideologia marxista”. A poética guineense iria mudar de rumo mas já não cabe no âmbito da recensão deste livro.

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O “Jornal Português” e a notícia do assassinato de Amílcar Cabral

Vasco de Castro é nome cimeiro do desenho de humor na segunda metade do século XX. Foi em Paris que conheceu o triunfo a trabalhar para a imprensa mais influente. Como escreveu o historiador de arte António Valdemar, a propósito de Vasco: “Conheceu, através do Paris Match, o Siné, o Bosc e o Chaval, nos seus desenhos agressivos. De 1961 a Abril de 1974, quase sempre em Montparnasse, lado a lado com os maiores cartoonistas, colaborou em Le Monde, Figaro, Cannard Enchainé, Harakiri, etc. Viver a vida foi, certamente, mais importante do que isso. Vasco entrou em seis ou sete filmes, esteve nos movimentos underground, nas barricadas do Maio de 68, no ativismo da extrema-esquerda”. É exatamente deste ativismo que Vasco meteu as mãos na massa na produção de jornais que lhe mereceu recentemente um claro elogio de José Pacheco Pereira a propósito da imprensa revolucionária. Em Abril de 1973, surgia Jornal Português, todo o grafismo lhe pertence, era o primeiro jornal de mensagem revolucionária publicado na imprensa parisiense. Logo nesse número, deu-se destaque à notícia do assassinato de Amílcar Cabral, morto em 20 de Janeiro. A notícia classifica o seu desaparecimento como dolorosa perda, não obstante não iria impedir o povo da Guiné-Bissau de prosseguir tenazmente a sua luta contra o domínio colonial.

Basil Davidson, um incondicional amigo de Cabral é citado a propósito de um artigo que escrevera em Le Monde Diplomatique, em Fevereiro anterior, onde dá expressão às preocupações do líder do PAIGC: “Em 1972, decidimos promover um grande número de jovens (homens e mulheres) apostos de responsabilidade, estávamos a ficar rotineiros. Descobrimos que tínhamos demasiados dirigentes reconhecidos, com uma tendência à formação de frações. Por isso, alargamos a direção”.

Jornal Português dá ainda notícia de aeronaves abatidas em Moçambique, ao assalto a instalações do Ministério do Exército pelas brigadas revolucionárias, às explosões nas instalações do Distrito de Recrutamento e Mobilização nº 1, na Avenida de Berna.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12837: Notas de leitura (572): "Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné", de Gomes Eanes de Azurara (Mário Beja Santos)