quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13111: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte IV: Programa + Cinco Cartazes: "Pior do que a guerra, é fazer de conta que ela nunca existiu" (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Cabeçalho do primeiro de cinco cartazes com a história militar do José Henriques Mateus (1944-1996). São da autoria do seu amigo, colega de escola e conterrâneo e membro da nossa Tabanca Grande Jaime Bonifácio Marques da Silva. Foram impressos em Fafe (e custeados pelo Jaime). Vão estar em, exposição, durante um semana, a partir de 11 de maio próximo,  no clube da Areia Branca, Lourinhã, terra natal do malogrado José Henriques Mateus, que tem finalmente a homenagem que lhe é devida, ao fim de meio século, numa singela cerimónia com a participação dos seus conterrâneos, familiares, amigos e antigos camaradas. (LG).




Cartaz 1 [Clicar na imagem para ampliar]



Cartaz 2 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 3 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 4 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 5 [Clicar na imagem para ampliar]


1. Mensagens,  de 5 e 7 do corrente, do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques
da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã, e residente em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande]:


(i) Amanhã à noite [, 6 do corrente,] a Comissão vai reunir-se, mas já está confirmado para domingo 11 de maio o seguinte programa:

10.15 h – missa na capela do lugar da Areia Branca,  em memória do José Henriques Mateus [, mais conhecido na sua terra como "o Valente"];

11.30 h – Cerimónia evocativa.

Segue-se a apresentação pública dos 5 cartazes que descrevem o seu percurso militar,  na sede do clube. Estes ficarão expostos durante a semana.

No final, averá um lanche convívio.  

Estive no Jornal Alvorada. A próxima edição só sai a 16 de maio.

(ii) Ontem [, 6,] realizou-se a reunião de coordenação e ficou combinado:

(a) tu [, em representação do blogue,] e o pessoal da companhia do Mateus [, CART 1484,]  são nossos convidados e temos gosto na vossa presença;

(b) ficou em aberto a hipótese do Benito Neves ou outro elemento da companhia poder usar da palavra;

(c) irá estar presente uma sobrinha do Mateus (estive a falar com ela e mostrei-lhe os cartazes), bem como a Câmara e Junta de Freguesia da Lourinhã e, eventualmente, um representante da Liga dos Combatentes.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13110: Em busca de... (243): Comandante José [Luis] Pombo [Rodrigues], dos antigos Transportes Aéreos Civis, que operavam no CTIG... (Rui Vieira Coelho, ex-alf médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)





Guiné > s/d, c. 1972/74 > Imagens do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante [José] Pombo, dos Transportes Aéreos Civis, em que o nosso camarada Álvaro Basto  [ex-fur mil enf, CART 3492, Xitole, 1971/74)  fez várias viagens enre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão.

Fotos: © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico   BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74)  [foto actual à esquerda]


Assunto: Comandante Pombo

Fiz muitos percursos aéreos entre Bissau e Galomaro,  entre Bissau e Bubaque,  entre Bafatá e Bissau,,  entre Bissau e Fulacunda nos Transportes Aéreos da Guiné Bissau com o Comandante Pombo.

Alguém me sabe dizer o que é feito deste grande Comandante? Onde se encontra? O que lhe aconteceu? Qual o seu percurso de vida após a independência do território?

Alguém sabe dizer alguma coisa para satisfazer toda a minha curiosidade e passar a fazer parte da História da Guiné ? (*)

Vou aguardar. Um alfa bravo do Rui Vieira Coelho.


2. Comentário de L.G.:

Rui, essa pergunta já aqui foi feita há uns largos anos atrás (**) e ficou sem resposta... Ou melhor, há dois comentários de leitores (***) que dão algumas pistas: o Zé Pombo terá ficado na Guiné-Bissau, depois da independência,  no tempo do Luís Cabral, como piloto e um dos responsáveis dos então Transportes Aéreos da Guiné-Bissau... O que é feito dele, hoje, ninguém sabe. Pode ser que, agora, "na volta do correio", tenhas boas notícias dele e do seu paradeiro. Oxalá.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  30 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13072: Em busca de... (242): José Santos Nogueira Augusto, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2636, procura o seu camarada Eduardo Pires de Oliveira, ex-Soldado Radiotelegrafista, natural de Chaves

(**) Vd. poste de 6 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2411: O que será feito do Comandante Pombo e do seu teco-teco, o Cessna vermelho dos Transportes Aéreos Civis ? (Álvaro Basto)

(...) Gostava de lançar aqui um novo debate na Tertúlia sobre a importância que os Transportes Aéreos Civis tiveram na Guiné.

Acho que a sua popularidade foi por de mais constatada, já que atravessaram transversalmente várias gerações de companhias e batalhões com o seu magnífico teco-teco Cessna, que tantas alegrias nos trazia com a correspondencia fresca ou algo urgente que nos chegava rapidamente de Bissau.

Fiz muitas viagens naquele Cessna vermelho pelo mítico rio Curubal desde o Xitole a Bissau e vice-versa. O Piloto, o comandante Pombo, era homem afável e muito profissional. O respeito que inspirava a ambas as partes em conflito, era mítico. As viagens eram feitas sempre com imensa segurança, tanto quanto me lembro.

No entanto gostaria de ver aqui no Blogue relatos que outros camaradas possam ter sobre esta transportadora e que decerto iria enrriquecer a nossas memóras colectivas.

Deixava pois aqui o desafio: que terá sido feito do Comandante Pombo e do Cessna vermelho que tantas alegrias deu a tanta gente? Alguém sabe se algum dia foram atacados?

Um abraço amigo a todos,  Álvaro Basto (...)

(***) Há dois comentários a este poste anterior, de datas diferentes, de leitores que não deixaram endereço de email  ou outro elemento de contacto:

(i) 6/1/2008

O Comandante Pombo foi durante os primeiros 5 ou 6 anos da Independencia da Guiné, piloto e um dos responsáveis da TAGB, transportes aéreos da Guiné. [Septuagenário]

(ii) 30/11/2013

Estive na Guiné em 1960//63 e o Zé Pombo foi o amigo dos bons e maus momentos, fomos mantendo contacto até 1963, intermitente, é certo, até 1968. Ainda hoje o considero um grande amigo, mas gostaria que um dia, antes que seja demasiado tarde, me permita dizer quanto apreciei a sua amizade, o seu companheirismo. É bem fácil, no Skype ou no Facebook / Ana Bela [Ana Bela]

Guiné 63/74 - P13109: Carta aberta a... (10): Minha neta Raquel que fez 15 anos... (Dedico também esta carta aos ex-combatentes, avós babosos e babados) (O avô Mário)

1. Mensagem, com data de 22 de março último, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68; autor do livro "O corredor da morte", a ser lançado no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, no próximo dia 22 de maio]:


Camaradas e Amigos Luís e Carlos


Pedia-lhes um grande favor. A minha neta Raquel, faz 15 anos no dia 28 de Março. A maior prenda de um avô, igual a qualquer outro avô, para o aniversário de um neto, mais que uma prenda, é uma carta escrita com carinho e amor.
Como digo na carta, sei que todos os avós do mundo desejam para os seus netos, no meu caso uma neta, razão muito forte porque não tive uma filha, e a Raquel é o fruto que mais desejava. É verdade que também tenho um neto.

Escrevo esta carta em nome de todos os Ex Combatentes que têm netos e netas, e que são babosos ou babados, e é normal pretenderem para os seus tudo aquilo que nunca tiveram.
Depois das poesias, pensei no assunto, e julguei importante enviar este modesto texto, já escrito há algum tempo.
Como também é uma mulherzinha, e a mulher foi tão esquecida na Guerra: a Mãe; a Noiva; a Namorada; a Madrinha de Guerra, e até a enfermeira que aguardávamos pacientemente nas evacuações. Sempre a mulher.

Um grande abraço do Ex Furriel Miliciano N.º 03163264 Mário Vitorino Gaspar, também Homem Grande da Tabanca Grande, aos Camaradas e Amigos Luís, Carlos e para todos os outros Camaradas e Amigos da Tabanca Grande. 



2. Comentário de LG.:

É um gesto lindo, da tua parte, camarada. 

Lamentavelmente, não consegui satisfazer, no dia 28 de março, o teu pedido, por razões que se prenderam com a minha pessoal e a gestão do meu tempo. Passou a data, mas não o pretexto. E todos os dias são bons para se homenagear os netos e os filhos... Como costumamos dizer, os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são. E hoje, em que o muito que nos preocupa, em relação a eles, é a esperança e o futuro, temos que saber dar-lhes ao menos esperança no futuro.

Um beijinho de felicidade para a tua Raquel, a pensar também em todos os netos e netas dos camaradas da Tabanca Grande que são, como tu dizes, avós babosos e babados. 

Um alfabravo do Luís Graça que ainda não chegou a esse patamar de felicidade.  Espero poder abraçar-te, a ti e aos demais avós babosos e babados, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 14 de junho de 2014.


3. Carta à minha neta Raquel 


“(…) onde era possível inventar outra infância que não lhe ferisse o coração”.

Al Berto, in “Medo”



A minha neta Raquel nasceu a 28 de Março de 1999, no Hospital da Cruz Vermelha, na freguesia de São Domingos em Benfica – Lisboa.

Quando veio a este mundo, era muito desejada, não tendo viajado, como nos tempos antigos, carregada no bico de uma cegonha.

Tenho dois filhos – nascidos após a Guerra Colonial – seu pai, o meu filho mais velho. Aguardava, como todos nós, ex Combatentes, o primeiro neto. Ansioso e aguardando a oportunidade para vê-la. E, curiosamente – tal como tinha sucedido com o nascimento do pai – reconheci logo a minha novíssima descendente, antes inclusive de ler no berço o seu nome. 

Foi uma manhã maravilhosa, tocaram os trompetes e os sinos de todas as igrejas. Como estávamos junto do Jardim Zoológico, muitos pássaros lindos e de colorido pintado, esvoaçavam e cantavam aos céus o acontecimento.

Havia guardado religiosamente, em 1968, uma garrafa de cognac francês Rémy Martin, comprada depois de terminar o serviço militar na Guiné para abrir no dia que fosse avô. Esperava fazer uma festinha, um cálice por pessoa, para bebermos nós e os amigos. À tarde, do dia seguinte pedimos uns copos no bar e festejámos no terraço do Hospital.

Senti necessidade de lhe escrever uma carta no seu 15.º aniversário, dando-lhe de novo as boas vindas a este mundo.

“Amar a Deus sobre todas as coisas; Não tomar o seu Santo Nome em vão; Guardar domingos e festas de guarda; Honrar pai e mãe; Não matar; Não pecar contra a castidade; Não roubar; Não levantar falso testemunho; Não desejar a mulher do próximo e Não cobiçar as coisas alheias.” São os Mandamentos da Lei de Deus, mas bem se podiam resumir a um: “O Amor”. Palavra que tudo engloba.

Eis a carta:

“Querida netinha.

O mundo que encontras à tua frente é uma selva. E, por vezes torna-se num labirinto sem saídas. Mas tu és capaz de encontrar os melhores locais para caminhar em segurança. És boa moça e igualmente uma excelente aluna. Vai em frente mesmo quando as vias que percorres, se tornem enigmáveis e perigosas. Após resolveres as situações que vais encontrando, outras de altíssimos riscos, mais que evidentes, resolves porque és capaz. Não pares! Só quando necessitares de meditar. Continua.

Encontrarás também as faustosas e maravilhosas florestas; arbustos; cataratas e cascatas lançando repuxos de águas correntes, fortes e suaves que morrem no rio; nascentes de águas puríssimas; lagos e lagoas (casos até artificiais); ervas rastejantes e outras subindo pelos penhascos; lindos jardins floridos, de grande variedade de cores; rios correntes e outras ofertas da natureza.

Verás lindos pássaros, de lindas, infinitas e nunca vistas cores; borboletas navegando nos ares em bailes por entre jardins e matas, e pintado a natureza de multicores e até dóceis macacos, saltitando.

E os lindos peixes, de enorme variedade, também salpicados com o mais belo colorido? Algumas cores que nem o arco íris conhece.

E os sorridentes, inteligentes e brincalhões golfinhos, com quem o avô brincou no rio Tejo? Sabias que neste rio existiram noutros tempos golfinhos? Falavam comigo, e eu respondia-lhes. Sabes que me beijavam o corpo? Na primeira vez tive medo, mas depois fiquei muito amigo deles.

Sabes que o avô esteve na guerra. Cuidado com as ervas daninhas e parasitas (que se alimentam à custa dos outros); com os trilhos armadilhados; lamaçais escorregadios; pântanos e outras perigosidades que vão surgindo pelo caminho.

Acautela-te, com os animais bravios, que nos habituámos a ver nos zoos; colmeias de abelhas perigosas; formigas de asas que concebem aquelas grandes habitações, mais parecendo construídas com cimento armado com formatos apalacetados; animais rastejantes e não rastejantes, mas perigosos que vivem nas selvas, nos rios, e outras variedades.

Continua caminhando e vais-te cruzar com a beleza que Deus concebeu. Ultrapassarás a maldade. Vencerás!

Raquel, és uma mulherzinha, não te esqueças. O mundo espera por ti, e neste ano vais ter de optar, para a escolha do teu futuro profissional. Tenho a certeza que o vais fazer bem. Constou-me que pretendes seguir Medicina, com a Especialidade de Cardiologia.

E não te desviarás do trilho traçado no terreno – mesmo com todos os perigos que se aproximam – percorrerás o teu caminho, e ultrapassarás os percursos irregulares, desta selva. Um mundo sem guerras e repleto de AMOR.

O avô Mário


Nota: O meu outro neto, o Pedro Guilherme, nasceu a 3 de abril de 2005, também no Hospital da Cruz Vermelha, fez agora nove anos.

Dedico esta minha simples carta aos ex Combatentes avôs e babosos e babados. Esta seria também a Carta enviada à sua neta ou ao seu neto no dia do seu aniversário.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13108: Convívios (591): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, no próximo dia 15 de Maio de 2014, no Oitavos, Estrada do Guincho (José Manuel Matos Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), o animador-mor da "Magnífica Tabanca da Linha", com data de 4 de Maio de 2014:

Ora Viva o Editor de Matosinhos, Caarlos Vinhaaal !!!
Claro que isto é um escrito, mas pretende-se que tenha tanta propagação, quanto a projecção do Blogue através da autorizada e dedicada acção do Carlos Vinhal.

Hoje, meu Caro, venho pedir-te a publicitação de novo encontro na Estrada do Guincho, no restaurante de Oitavos, muito perto do local onde a terra acaba, e começa o imenso mar que levou caravelas e navios de portugueses numa gesta heróica.
A nossa geração já não pratica heroísmos, mas comemora amizades, e o local parece uma escolha feliz para tantos que partiram para azimutes queimados pelo sol, onde estabeleceram os especiais laços que, volta e meia, exigem oportunidade para refeiçoar e confraternizar.

No final de Abril telefonou-me o Marcelino a dar notícia de que já estava em casa, num intervalo da nova luta em que está envolvido. Por aquele meio os homens comuns não falam de muita coisa, mas ele fez questão de me perguntar por um camarada e de referir que deseja participar no encontro da Magnífica.
Mostrou carência de energia positiva. Logo aí ocorreu-me que o mês ímpar estava à porta, pelo que passei a contactar o Senhor Comandante, que prontamente me indicou um dia do calendário, no sentido de tomarmos as providências necessárias.

Já as tomámos. Voltamos a Oitavos que é um local onde se ganham anos de vida só pela contemplação. Será no dia 15, pelas 12H30.

A ementa será simplificada como da última vez. Quando o gerente propôs arroz de marisco, o olhar guloso do Senhor Comandante rejubilou de brilho. Ainda contrapus com polvo, mas aqueles dois venceram na contagem democrática dos votos. Será para outra vez.
Adiantámos que esperamos por doses mais generosas de entradas e sobremesas, e, em princípio, acertou-se que o vinho será da Ferreirinha.

Agora só faço apelo às forças transcendentais, para que um conjunto de energias positivas possam contribuir para o reencontro dos camaradas, sendo que dois têm estado adoentados - o Cruz junta-se ao Marcelino, para além do Segundo-Comandante Rogério que tem andado arredado por diferentes razões.
A meteorologia pode proporcionar-nos um belo dia de raios solares e ausência de vento, o que permitirá um pequeno passeio pedestre pela via adequada ao lado da estrada, onde se pode apreciar a maresia, fazer algum exercício, e abrir o apetite para o almoço.

O preço continua fixado em 15 euros.

Agora, só preciso que os aderentes façam a confirmação até ao próximo dia 12, segunda-feira. 

 Encarrega-me S. Exa. o Senhor Comandante de informar os senhores tertulianos, que todos não são demais, e que celebrar, numa perspectiva pragmática, é acto para aproveitar enquanto podermos, e transmite um saudoso abraço.

Igualmente me retiro, com vossa licença, protestos da maior admiração, e um abraço fraterno
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13093: Convívios (590): 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71), 31 de maio, em Canas de Senhorim, Nelas (Abílio Duarte)

Guné 63/74 - P13107: (Ex)citações (231): O PAIGC também uma vez, em junho de 1968, "arrasou o campo fortificado de Mansambo" e "matou dezenas de soldados colonialistas", segundo a Maria Turra... Nós éramos apenas... 50 a defender-nos!.. Houve 2 feridos que não figuraram sequer no relatório: o 1º cabo cozinheiro, que se queimou na G3, e eu que me queimei no mort 60... (Torcato Mendonça, ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)


Fotos Falantes III, nº 11 [O Torcato Mendonça é o segundo a contar da direita]



Fotos Falantes III, nº 3 [O memorial da CART 2339 no seu início]


Fotos Falantes III, nº 8 [O memorial da CART 2339 depois de completada a sua construção, incluindo o livro com os mortos da companhia]


Fotos Falantes III, nº 13 [ A célebre árvore que servia de mira para os artilheiros do PAIGC, 
e que um, dia teve de ser sacrificada.,..]


Fotos Falantes III, nº 5 [O espaldão do obus 10.5]




Fotos Falantes III, nº 6 [O Torcato Mendonça junto ao obus 10.5]



Fotos Falantes III, nº 12


Fotos Falantes III, nº 14


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339, Os Viriatos (1968/69) > Fotos Falantes III > O "campo fortificado" de Mansambo, segundo a Maria Turra...


Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.[Edição: LG]


1. Excerto de um comentário do Torcato Mendonça, um dos "históricos" do nosso blogue, ao poste P13103 (*)

(...) Eu concordo com estes arquivos e todo o tratamento que lhes é dado, conducente, claro está, a uma análise futura correcta e o mais próxima da verdade. Isto aqui publicado é falso, creio eu. Logo devia ser escrito "Propaganda IN".

Os tipos disseram, na Rádio que creio estava em Conackry, terem arrasado o "campo fortificado" de Mansambo, morto dezenas de soldados colonialistas (estavam lá cerca de 50), destruido máquinas e viaturas (2 Unimogs 404 e 411) e etc. Não fizeram nada disso: dois feriditos - o cabo cozinheiro que se queimou na G3, e eu que me queimei no morteiro  60 (não ficámos a constar do relatório). (**)

Estes trapaceiros mentiam em 1963, 1973, 1983 e continuam a mentir. Não só, não só. Uma das mentiras é: "Nada temos contra o povo português, temos é contra os colonialistas"...Mentira. (...)

A propaganda deve ser tratada como tal. Falsa, mentirosa e perigosa porque sempre algo, dessa falsidade,  fica (, já dizia o Mao Tsé Tung).

O ódio do PAIGC ao "campo fortificado" de Mansambo deve-se a esse arraial de porrada que eles lá levaram e a um "internacionalista" cubano [, em junho de 1968,]  ter levado com um dilagrama no traseiro (deixou lá metade do cinto, o coldre e a Ceska)...

Obrigado, Luís,  por te teres preocupado pela minha saúde. Vai bem mas não se recomenda...são quase 70 e muitas costuras....Eu não tenho estado cá há muito tempo ?...Nem tanto assim. mas o suficiente para ter "isto entupido" e vou lentamente lendo... Oxalá (Insha'Allah) que a tua recuperação esteja óptima, mas tem cuidado, estou sempre presente no Blogue e com estes bons camaradas. (***)

Abraço-te, T.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13103: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (11): Comunicado de Osvaldo Vieira, sobre a atividade operacional do PAIGC, nos dias 30 de junho e 1, 2, 3, 5, 6 e 10 de julho de 1963, na região do Oio, incluindo Bissorã, Dandu, Olosssato e Fajonquito, em que se contabilizariam... 116 mortos entre os soldados portugueses, quase 3 vezes e meia mais do que o total dos nossos mortos em combate nesse ano (n=34)...

(**) Vd. poste de 8 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9582: Nós da memória (Torcato Mendonça) (13): Mansambo - Fotos falantes IV

(...) Meses depois a nossa Companhia, no meio daquele nada, deu inicio à construção de aquartelamento. Um grupo, depois outro e um dia, meses depois, estávamos lá todos.

O IN (inimigo de então), atacou, barafustou, conseguiu fazer alguns estragos e nada conseguiu. Claro que a rádio em Conakry noticiou mortos e feridos, destruições tamanhas que, a serem verdade, davam para aniquilar um Batalhão. Propaganda. Era engraçado ouvir e vê-los a espreitar na orla da mata.

Eles sofreram mortos e feridos e, depois da chegada dos obuses 10.5 nunca mais atacaram de muito perto.

Confirmado por eles através de elementos capturados. Um, parece ter sido um cubano a quem foi apanhado meio cinturão e coldre e pistola Ceska (Jun/68). Outro cubano comandou a emboscada à fonte (Set/68). Sofremos dois mortos e alguns feridos. Baixas a mais, foi mau, demasiado mau.

Um dia, seis anos depois, a última Companhia saiu de lá. O ódio do IN veio ao de cima e a destruição foi total. Restam hoje, segundo fotos de camaradas que por lá passaram, pequenas recordações.

Certo é que se acredite ou não, os espíritos vagueiam por lá. Para eles o meu abraço de respeito a quem, de um lado ou de outro da contenda,  deu o máximo dele – a vida. (...)


Guiné 63/74 - P13106: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte IV : A vida em campanha (cont.), e a alegria do regresso e dos convívios (Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor inf ref)



1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte IV (Cap Inf Silvino R. Silva, hoje cor ref)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp,  inumeradas, de fotografias).  Esta publicação é uma obra coletica, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças). As primeras 25 páginas são do cap Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref.

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande).  Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as andanças do pessoal da CCAÇ 2533, que esteve em  Canjambari e Farim, região do Oio, estando na dependência do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras, cuja história já aqui foi publicada pelo nosso camarada e amigo Carlos Silva, carinhosamente tratado por "régulo de Farim".

Recordo, por outro lado, que as nossas duas companhias, a minha CCÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), e a CCAÇ 2533, do Sidónio Ribeiro da Silva, do Joaquim Lessa e do Luís Nascimento, viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Ah! uma fantástica coincidência!...

Publicamos agora a parte correspondente às pp. 17 a 26, onde o ex-cap inf Sidónio R Silva continua a falar de diversos aspetos da "vida em campanha" da sua companhia, a "33": (x) as transferências por motivo disciplinar; (ii) o comando operacional (COP); (iii) as baixas (mortos e feridos); (iv) a transferência para Farim, sede de batalhão, ao fim de 14 meses; (v) a evocação, emocionada, do malogrado alf mil António da Fonseca Ambrósio, morto em combate em 21/12/1970, no famigerado corredor de Lamel...

E por fim, o tão desejado regresso à metrópole e, depois, os convívios anuais da companhia. E termina com um "epílogo", em que se faz o balanço dos dois an os vividos em comum. Deixem-me destacar o último parágrafo do autor: "Para terminar reafirmo o orgulho e o privilégio que tive em comandar tão valorosos cidadãos para um Serviço - leia-se Sacrifício - que os políticos nos indicaram ser necessário para bem da nossa Pátria... Para sempre o vosso Capitão (...)".

Bolas, este homem (e camarada, uma vez que foi um comandante operacional) merece sentar-se à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande. Agora sou eu que insisto em repetir o convite já feito há dias: "caro capitão, aliás, coronel, seria um orgulho e um privilégio tê-lo aqui, plenamente integrado no batalhão da Tabanca Grande!"... (LG)


A VIDA EM CAMPANHA (cont)






















Cortesia de Sidónio Ribeiro da Silva (ex-comandante da CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), do Joaquim Lessa e do Luís Nascimento

(Continua)
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:


18 de abril de 2014> Guiné 63/74 - P13005: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte II: Embarque e as primeiras impressões do aquartelamento e tabanca (Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor inf ref)

16 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12998: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte I: A minha nomeação para comandante da companhia (Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor inf ref)


Guiné 63/74 - P13105: Os Nossos Regressos (31): O meu regresso prematuro por doença (Joaquim Cardoso)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 29 de Abril de 2014:

Caríssimo amigo Carlos Vinhal
Completando-se no próximo mês de maio, 40 anos do meu regresso da Guiné, eis-me aqui a dar-te de novo trabalho, enviando-te este texto, que descreve o que ainda consigo ler no meu arquivo neurológico, relativamente ao referido regresso.
Sem mais, para ti Carlos Vinhal e toda a tertúlia, um grande abraço.
J. Cardoso


O meu regresso prematuro da Guiné

Foi em meados do mês de abril de 1974.
Passados que foram 40 anos, não recordo o exato dia da semana nem a quantos dias do referido mês, porém, tomando como ponto de referência o 25 de abril, em que, quando este acontece, tinha sido hospitalizado há cerca de uma semana, presumo que rondasse o dia 20, somando por isso nessa altura, 20 meses de Gabu - Nova Lamego.

Pelas 14 horas de um desses dias, foi-me diagnosticada uma hepatite e, uma ou duas horas depois, fui evacuado para o Hospital Principal de Bissau num avião Nordatlas que se encontrava ocasionalmente estacionado na pista de Nova Lamego. A hora da descolagem do avião, aligeirou os meus preparativos de partida, seguindo com a farda que na altura envergava e, na mala de viagem, mais algumas peças de roupa militar, alguma roupa civil e, umas pequenas lembranças que havia adquirido na área.

Apesar de me encontrar em estado muito débil, (o meu peso rondava os 48 kg), pensava regressar a Nova Lamego, mas efetivamente não regressei!

Concluída a viagem, dei entrada no Hospital ao anoitecer, tendo sido colocado imediatamente a soro e, posteriormente fiquei a cumprir receituário.
Alguns dias depois de ter sido internado, ouvem-se notícias de um golpe de estado na Metrópole provocado por militares revoltosos que haviam destituído o Governo de Marcelo Caetano, e tomado o poder.
Era a revolução dos cravos, o 25 de abril, a implantação da Democracia em Portugal.

Após cerca de três semanas de internamento, numa consulta de rotina, o médico pergunta-me se estaria interessado em regressar à Metrópole! A esta pergunta fui tentado a responder com outra, perguntando se aquela, era pergunta que se fizesse! Mas, depois de uma breve pausa, inferi qual a razão por que a fez.

O médico informou-me que, devido à nova situação na Metrópole, estavam a facilitar o regresso dos militares hospitalizados com casos mais complicados, por ali haver cada vez menos condições para os tratar. Aceitei de imediato. No dia 18 de maio, embarquei em Bissau num avião 727 dos TAM de regresso a Lisboa, onde cheguei ao fim da tarde.

Tal como havia acontecido na ida, viajei isolado dos meus camaradas. Na ida, viajei mais tarde cerca de um mês, por motivos por mim desconhecidos. Na volta, viajei mais cedo, por doença, ou seja: fui mais tarde e vim mais cedo em relação aos meus camaradas.

Após a chegada a Lisboa, foi servido o jantar aos presentes num refeitório algures nas redondezas. O prato que escolhi tinha como condimento o azeite e, quando me preparava para começar a jantar, uma das senhoras do Movimento Nacional Feminino que acompanhavam e davam apoio, abeirando-se de mim, perguntou qual era o meu problema de saúde, uma vez que estava muito magro e amarelo! Quando respondi que estava com hepatite, a senhora pretendeu retirar-me o prato, dizendo, muito aflita que, com tal doença, não poderia comer gorduras, como era o caso e, que me serviria um prato diferente.

- Não se incomode - disse - Deixe-me comer que este é meu prato preferido e, se isto me faz mal, o que comi na Guiné já me tinha morto há muito tempo!

A senhora insistia com os seus argumentos, e eu contrariava com os meus, acabando ela finalmente por desistir.

Terminada a refeição, fomos transportados em autocarro para os diversos destinos. Durante a viagem vi, claramente visto e não presumo, (como dizia o poeta), o que jamais havia visto, o entusiasmo, para não dizer loucura, de pessoas anónimas que nas diversas ruas por onde ia passando o autocarro militar, batiam palmas, faziam com os dedos o V de vitória etc.
Sentia-se que a revolução estava em marcha, e era notório o sentimento carinhoso do povo para com o MFA!

Fiquei internado no HMDIC (Hospital Militar de Infeto-Contagiosas). Ali, senti a enorme diferença nos tratamentos administrados, em comparação com os do Hospital de Bissau.
Na Guiné não me recordo se alguma vez comi algo à base de dieta. No HMDIC, todas as refeições eram confecionadas nessa base, nada de gorduras e, a tomar soro em permanência.

Ao terceiro dia de internamento aconteceu-me o que na Guiné seria considerado normal, mas que, enquanto lá permaneci, nunca me tinha acontecido, um ataque de paludismo!
Passei cerca de 2 dias como que em estado de emergência. Recomposto deste último susto, ali continuei internado, e ao fim de um mês e meio, aproximadamente, fui transferido para o Hospital da Estrela, onde estive cerca de um mês. Dali, segui para um Quartel de Adidos, na Graça, para convalescença, indo a partir daí ao Anexo fazer as várias análises.

Após uma junta médica realizada no Hospital da Estrela, cito o que consta na minha caderneta militar:
Por despacho de 22 de outubro, foi confirmada a opinião da SHI (?), reunida no HMP em 27 de setembro, tendo sido julgado pronto para todo o serviço! (Fim de citação).

Regressado a casa após tão redutora sentença, alguns dias depois fui fazer o espólio ao RI 15 em Tomar. Ao entregar cerca de metade da roupa que me tinha sido distribuída, o militar do armazém perguntou pelo que faltava. Respirando nessa altura já ares de um país em liberdade, respondi-lhe com ironia que, nada mais tinha para entregar por ter vindo evacuado da Guiné, mas que aguardasse que era provável que um dia chegasse pelo correio!
E para admiração minha, chegou mesmo!
Não pelos Correios, mas pelos Caminhos de Ferro. Mais de 1 ano depois de ter regressado, recebi um postal da CP, avisando-me que na estação de Vila Meã, tinha uma encomenda para levantar.

Embora de nada estivesse à espera, compareci e, foi-me entregue a respectiva encomenda. Tratava-se de um caixote em madeira, com cerca de 70×70 centímetros, remetida pelo Ministério do Exército.

Duvidando que fosse eu o destinatário da dita, ali mesmo e na presença do chefe da estação, se retiraram duas tábuas ao referido caixote, para se verificar o que continha. E o que continha, era roupa militar. Mas nada que se estivesse em boas condições, que eu pudesse usar, dadas as suas dimensões, muito menos em farrapos como era o caso.

No meio de toda aquela miséria, a única peça que se "salvou", foi um quico camuflado, dado a um amigo, a seu pedido que, querendo ser figurante militar por momentos, o colocou na cabeça, batendo a pala ao pessoal presente.
De seguida, solicitei ao chefe da estação o favor de se dignar mandar colocar toda aquela farrapada no lugar correspondente, (caixote do lixo), ficando complementado desta forma o espólio respetivo.

Peluda... Regresso à vida civil.

 Nova Lamego - Eu junto ao obelisco da CCS do BArt 6523

Nova Lamego - Mostrando a nossa musculatura, o camarada Graça à esquerda, ao centro o António Santos e eu à direita.

Nova Lamego - Eu de guarda redes, que não era a minha posição em tempos de bola, e o António Santos, amigo inseparável, a rematar em tribela. Não me recordo se deu golo.

 Nova Lamego - Eu junto ao obelisco do pessoal das Daimlers.

Nova Lamego - Eu à direita com o António Santos, junto à porta do Centro de mensagens e Posto de Rádio onde fazíamos serviço.

Nova Lamego - Parte da equipa de futebol. Na fila de cima, só recordo o nome de dois: o Morim ao centro de camisola encarnada e à direita o António Santos. Em baixo, à esquerda: eu, o Pereira, o Cunha e o Graça. 

Castelões - Penafiel, aos 29 dias do mês de abril de 2014

J. Cardoso
Ex-Soldado TRMS
Nova Lamego - Guiné
1972/74
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12978: Os Nossos Regressos (30): A nossa vinda foi, em Abril, há 40 anos (Jorge Araújo)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13104: Estórias do Juvenal Amado (51): Amendoins e bajudas, cheiros antigos

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 28 de Abril de 2014:

Carlos e Luís
Cá vai mais uma historieta.
Mando algumas fotos de bajudas de Galomaro mas se alguma delas for a Jarulema será a que vai a na 1ª foto a cores. Parece-me ela mas não tenho a certeza.

Um abraço
Juvenal Amado


ESTÓRIAS DO JUVENAL

51 - AMENDOINS E BAJUDAS, CHEIROS ANTIGOS

Tem estado um clima pouco amistoso. Com chuva e algum frio, mas fazendo jus ao ditado que diz que Abril tira e põe a velha no covil, só fica admirado quem não compra o Borda D´Água, ou não se lembra dos ditados antigos. Mas não é sempre assim e intercalado nesses dias pouco convidativos, tem aparecido um aqui e outro ali, que nos faz despir o casaco.

Hoje foi um desses dias e é de dele que eu venho falar.
Está um dia claro e solarengo bem apetecível e há muito desejável. Sempre que posso saio de casa no meu passeio, passo pela rotunda Sul sigo pela Alameda do Santuário, ultrapasso-o e finalmente do lado Norte existe uma praça com várias esplanadas agradáveis e bastante convidativas.

Sentei-me na esplanada com vontade de beber uma imperial. Passa-se tempos sem que beba, mas hoje veio-me aquele desejo irresistível de beber uma e vai daí passei da vontade ao acto.
Chamei o empregado, pedi uma imperial e juntamente trouxesse também uns amendoins para fazer peito.

Passado um bocado lá chega ela loira, transbordante e a acompanhá-la, vem a decepção na figura de um pequeno saco onde se lia “amendoins com mel, sal e piri-piri” em vez dos com casca tão simples, tão honestos, tão usuais em qualquer sítio que se preze, pelos menos há algum tempo.
Perguntei se não havia doutros! O empregado num português lá dos lados do Brasil disse-me que não e que se eu quisesse, também havia uns pacotinhos de caju com o mesmo tempero ou parecido. Disse-lhe que deixasse estar, pois teria que ser mesmo com aqueles que eu iria matar o desejo. Mas nestes amendoins processados industrialmente, se não estou em erro por empresas espanholas, não há o encanto de descascá-los, soprar as finas películas que ainda os envolvem e só depois trinca-los, sentir o estaladiço crocante deles bem torrados sem mais temperos.

Parte do prazer de comê-los está aí, faz parte do vício, assim dizia o meu avô Lino, quando parava o que estava a fazer, calmamente tirava a onça de tabaco do bolso com as respectivas mortalhas e fazia o cigarrito, saboreando o momento mesmo antes do acender. Também eu fumei e muitos anos, tentei combater o vício fazendo como ele fazia, mas não me valia de nada pois os hábitos e a vida agitada, ditavam a rapidez com que eu os fumava por vezes acendendo-os uns nos outros. Por graça dizia então que era para poupar nos fósforos. Enfim uma estupidez.

Mas os amendoins e a imperial fizeram-me voltar atrás mais de quarenta anos, quando na Guiné ansiava por uma. Que eu soubesse só havia um local em Bissau que servia cerveja a copo e por isso mesmo ainda hoje, opto sempre por beber uma, em vez da tradicional cerveja em garrafa.
Em Galomaro, todos os dias por volta das cinco horas da tarde, juntamente com as lavadeiras, vinha a Jarulema da “mancarra” com a dita dentro de uma cesta de verga larga e rasa, que era comum as mulheres usarem para vários dos seus afazeres. Era uma bajuda de mama firme, muito sorridente, olhos marotos, mas que era do tipo toca e foge. Quero eu dizer com isto, que ela prometia o Céu mas não se passava da terra. Aquando de alguma aproximação de algum soldado mais assanhado, ela sabiamente lá ia desviando as mãos dos mais afoitos e ia vendendo o amendoim que ela própria torrava.
Enquanto para nós a mancarra era divertimento, para os naturais da população ela era a vida como se poderá assim dizer. Pelo caminho ficavam os soldados, que fazendo uso de um charme rasteiro e de mau gosto, eram pura e simplesmente afastados do seu convívio e mimoseados com uns palavrões ditos nas duas línguas, com o devido encaminhamento para as mães e pais, senão para toda a família.

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores

Com a devida vénia a José F.S. Ribeiro do BCAÇ 2912

Com a devida vénia a Manuel Madeira Guerreira do BCAÇ 2912

Ainda hoje é melhor cair em graça, do que ser engraçado lá diz o ditado e assim uns com mais jeito e falas mais mansas, podiam aproximar-se dizer-lhe coisas, que a levariam aos arames ditas por outros. Tinha fama de já não ter cabaço. Fama que já vinha das “más línguas” da companhia 2912 aquando da nossa chegada.
Feitas as apresentações às lavadeiras e à Jarulema, a tal fama passou da boca dos desejosos, espalhou-se pelos invejosos do 3872 qual “pústula” passou a bajuda a padecer. Não sei se era verdade ou não, mas ela por vezes ria-se com os nossos avanços, naquele jogo de sedução que nos deixava assim como arrebitados, mas que nunca esclarecia as dúvidas.
Ficávamos com a água na boca e os amendoins para enxugarmos umas Cristais, se os comprássemos, senão nem isso.

Porta de armas de Galomaro - Juvenal Amado, José Manuel e Confraria

Passados alguns meses, correu o boato que ela era a mais que tudo de um graduado, por sinal boa praça, que alinhava com a malta, desde que o comandante não o bispasse. Confraternização entre praças e graduados era coisa proibida em Galomaro.
Inicialmente como bons “machos” latinos, não se quis acreditar que tal fulano tivesse passado a perna à malta e se tivesse chegado à frente no caso da vistosa bajuda. Com preconceito e chauvinismo, entenderam que ela não estava à altura de quem a partir dali desfrutaria os seus favores. Mas lá vem a velha questão sobre as razões do coração, porque há razões que a própria razão desconhece.

Bastou isso para que os assédios à Jarulema abrandassem, porque o respeitinho é muito bonito e recomendava-se. Ela nunca deixou de aparecer à porta de armas com o seu sorriso, os seus panos coloridos e a sua deliciosa mercadoria, por vezes reforçada com castanha de caju.
Toda ela cheirava ao perfume torrado dos seus produtos.

Foi esse cheiro essa imagem que me veio à cabeça quando pedi amendoins ao empregado da esplanada.
Provei o saquinho de amendoins com mel, sal, piri-piri, decididamente fiquei triste e decepcionado.

Um abraço para todos
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12559: Estórias do Juvenal Amado (50): Em Alcobaça, assinaturas do tempo

Guiné 63/74 - P13103: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (11): Comunicado de Osvaldo Vieira, sobre a atividade operacional do PAIGC, nos dias 30 de junho e 1, 2, 3, 5, 6 e 10 de julho de 1963, na região do Oio, incluindo Bissorã, Dandu, Olossato e Fajonquito, em que se contabilizariam... 116 mortos entre os soldados portugueses, quase 3 vezes e meia mais do que o total dos nossos mortos em combate nesse ano (n=34)...

1. Documento disponível na Casa Comum, da autoria de Ambrósio Djassi [nome de guerra do caboverdiano Osvaldo Vieira,  de seu nome completp, Osvaldo Máximo Vieira, 1938-1974]

[Clicar aqui para ampliar o documento]

Instituição:Fundação Mário Soares

Pasta: 04613.065.158

Título: Comunicado [Região 3]

Assunto: Comunicado de Ambrósio Djassi sobre a sabotagem às pontes Mansabá-Mansoa, Mansoa-Bissorã, Mansoa-Bissau, Bissorã-Olossato e Olossato-Farim, a emboscada na estrada Bissorã-Dandu, o bombardeamento da tabanca de Dandu, o ataque ao quartel de Olossato, a emboscada entre Olossato e Fadjonguito, a emboscada na estrada Mansabá-Bissorã e o ataque dos soldados portugueses à base de Matar.

Data: Julho de 1963

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Documentos

Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Fonte: (1963), "Comunicado [Região 3]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40691 (2014-5-5)

2. Transcrição e fixação do texto por L.G.:

Comunicado [, manuscrito, de 2 páginas, contendo  a última apenas  o nome do signatário]

Página 1: 

R[ecebido] em 18/7/1963

Domingo dia 30 [de junho de 1963]
Foram saboetados [sic] as seguintes pontes: Mansabá-Mansoa; Mansoa-Biossorã; Mansoa-Bissau; Bissorã-Olossato: Olossato-Farim.
Neste mesmo dia também a jangada do Burro foi queimada.

Segunda feira, dia 1 [de julho de 1963]. 
Numa emboscada na estrada entre Bissorã e Dandu forma mortos 37 soldados portugueses e [houve] um grande número de feridos. (**)

Terça feira, dia 2. 
A tabanca de Dandu foi bombardeada por dois aviões portugueses [d]onde resultou 2 mortos e um ferido da tabanca [Posteriormente, corrigido, com letra diferente, talvez do Amílcar Cabral: “vários feridos, mulheres e crianças (?)" ].

Quarta feira,dia 3. 
Ataque no [sic] quartel do Olossato, foram mortos 9 soldados portugueses e muitos feridos.

Sexta-feira, dia 5. 
Os soldados portugueses caíam na emboscada entre Olossato e Fadjonquito [sic] [d] onde resultou 25 mortos. (***)

Sábado, dia 6. 
Numa emboscada na estrada Mansabá e Bissorã foram mortos 15 soldados portugueses e um camião queimado; e os outros soldados fugiram a pé.

Quarta-feira, dia 10. 
Os soldados portugueses atacaram a base de Matar à[s] 6 h da manhã. E resultou 21 mortos na parte do inimigo.(***)

Até agora da nossa parte não houve nenhum morto, não [?] 2 feridos [Correção posterior, com outra letra, em francês, possivelmente do punho de Amílcar Cabral:  “9 morts,  [et] autant [de] blessés”, 9 mortos e   e outros tantos feridos]

Pagina 2: De: Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira]

(**) Não há registos de quaisquer mortos do Exército, em combate, no TO da Guiné,  nesta data (1/7/1963).. CDE qualquert modo, este número (fantasioso) de 116 mortos ultrapassa o total dos nossos mortos no ano de 1963 que foi de 54, por todas as causas, segundo os nossos registos oficiais: 46 da metrópole e 8 do recrutamento local... (Em comabte, foram 34, nesse ano).