segunda-feira, 19 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13162: Notas de leitura (592): "Operação Mar Verde" em banda desenhada, por A. Vassalo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
O artista Vassalo Miranda tem vários álbuns de banda desenhada publicados e recentemente recuperou o episódio da Operação Mar Verde, relevando na introdução a admiração que sente por Alpoim Calvão, de quem se fez amigo e admirador.
O grafismo, com o concurso do texto, tem o mérito de poder explicar a um leigo no que constituiu a Operação Mar Verde em si, sem tirar quaisquer implicações de política internacional que, como é sabido, foram tremendas, agravando o isolamento do governo de Lisboa.
Não sei exatamente se é um acontecimento inédito esta banda desenhada, de tudo o que tenho lido e folheado nada encontrei de tão singular e com uma qualidade de desenho que não se pode minimizar.

Um abraço do
Mário


Operação Mar Verde em banda desenhada

Beja Santos

António Manuel Constantino Vassalo Miranda foi combatente na Guiné e é artista plástico, assina Vassalo de Miranda, na banda desenhada tem diversos álbuns publicados onde assina A. Vassalo. “Operação Mar Verde” é a banda desenhada que criou para um dos episódios mais violentos da guerra na Guiné, trata-se de uma edição Caminhos Romanos, 2012.

Na introdução, o autor escreve: “Na Guiné, em 1964, conheci um homem incrível, que me catapultou para o imaginário. Ambos pertencíamos a unidades de elite das Forças Armadas. Eu, furriel dos Comandos e ele, 1º tenente, comandante do 8º Destacamento de Fuzileiros Especiais. Homem valente, altruísta, desvalorizando situações constrangedoras, animando os seus homens e, sobretudo, de uma grande humanidade tanto para os seus como para os adversários. Qualquer um de nós seguíamo-lo sem questionar. Nasceu entre nós uma grande empatia que dura até hoje. Obrigado comandante Alpoim Calvão".

Vemos Vassalo Miranda dos “Comandos” a conversar com Alpoim Calvão na Ilha do Como, Calvão fala-lhe de uma missão especial e secreta em território estrangeiro para libertar um piloto, Vassalo Miranda mostra disponibilidade. Anos depois, em princípios de 1969, há a informação que a URSS fornecera à Guiné-Conacri 4 vedetas rápidas do tipo Komar e ao PAIGC 3 lanchas do tipo P-6. Escreve-se: “Esta situação era explosiva para a segurança dos nossos navios mercantes e militares, que pela calada da noite poderiam ser atacados. Foi o mote aproveitado pelo comandante Alpoim para convencer o comandante-chefe a despoletar uma operação arrojada para eliminar aquela ameaça e libertar os prisioneiros. Calvão idealizou uma operação de aniquilamento das 7 lanchas. De acordo com esse plano, uma lancha de fiscalização grande aproximar-se-ia do porto de Conacri, durante a noite, seriam lançadas algumas equipas de homens-rãs que fixariam algumas minas-lapas nos cascos das vedetas, regressariam a Bissau, os navios explodiriam, não se conheceria a mão destruidora. Spínola aceitou o plano, Calvão comprou na África do Sul as minas necessárias, em Setembro, pela calada, uma lancha disfarçada de um navio do PAIGC dirigiu-se a Conacri e fez um levantamento de todo o porto e cais acostáveis, a missão foi um sucesso. Calvão arquitetou um plano ainda mais vasto e audacioso, além de destruir as lanchas e libertar os 26 militares portugueses, sugeriu a destruição das instalações do PAIGC e o apoio a uma tentativa de golpe de Estado para depor Sékou Touré, destruindo também os MIG-17 existentes nesta república. Spínola aprovou, Calvão foi ao encontro dos dissidentes da Guiné-Conacri. Pelo caminho, Marcello Caetano aprovou a operação. Dissidentes e comandos africanos foram concentrados na ilha de Soga. Ninguém levava documentação pessoal ou distintivos de identificação, o próprio armamento e equipamento não eram usados pelas Forças Armadas portuguesas. Enfim, tudo fora congeminado para que as instâncias internacionais, quando inteiradas do golpe, pensassem tratar-se de uma operação de mercenários".

O autor descreve os acontecimentos da “Mar Verde”, a partir das oito horas da noite de 20 de novembro, envolvendo lanchas, 200 elementos dissidentes, uma companhia de Comandos africana e um destacamento de fuzileiros especiais, o 21, também africano. A banda desenhada elucida o evoluir das diferentes fases das operações, a destruição das lanchas, as 7 explodiram, conforme o previsto. Seguiu-se o avançar dos Comandos sobre a prisão onde estavam os 26 militares, o ataque às instalações do PAIGC, a tentativa de assassinato de Sékou Touré a que se seguiria o ataque ao campo da milícia popular de Conacri. A prisão é assaltada e os prisioneiros libertados; outro grupo irrompe nas instalações do PAIGC, destroem casas, fazem alguns mortos e rebentam com viaturas. Sékou Touré não se encontra em Villa Silly, dirigem-se então para o campo das milícias populares que puseram a ferro e fogo.



Lisboa, Belém, 10 de Junho de 2006 > 13º Encontro Nacional de Combatentes > O João Parreira, à esquerda, e o Vassalo Miranda, à direita: dois veteranos dos velhos comandos de Brá. O Miranda, do Grupo Os Panteras, foi instrutor do Parreira, do Grupo Os Fantasmas. O João Parreira é membro da nossa Tabanca Grande.

Foto: © Luís Graça  (2006). Todos os direitos reservados.


Noutra vaga vão 40 Comandos que se aproximam da guarda republicana, a força da elite de Sékou Touré, provocam imensos estragos e libertam 400 presos do regime. Uma outra equipa, composta por 10 Comandos e um engenheiro eletrotécnico dissidente, dirigiu-se à central elétrica, desligou a iluminação e deixou a cidade na escuridão. Outra equipa composta por Comandos e dissidentes dirigiu-se ao campo militar de Samory onde se travou uma luta renhida, ficaram os dissidentes que resistiram à tentativa de reocupação pelas tropas leais a Sékou Touré e acabaram por ser chacinados. A equipa que recebera a missão de calar a rádio Boudinet andou à deriva, isto enquanto outra força atacava uma coluna de blindados com relativo êxito. Calvão vem a terra já que a rádio Boudinet não se calava. A equipa que recebera a missão de destruir os MIG-17 encontrou o aeroporto só com aviões civis. Uma notícia que cai que nem uma bomba: o tenente Januário desertara com 20 dos seus homens. Como escreve o autor na banda desenhada, Januário perpetrara esta deserção, arrastou consigo vinte dos seus homens. Finda a operação Mar Verde, fez declarações na rádio comprometendo Portugal. Sékou Touré foi implacável, mandou fuzilá-los a todos. No turbilhão instalado em Conacri, segmentos da população vitoriam o golpe. Mas as forças atacantes não podem esperar mais, destroem pistas comprometedoras, reembarcam. Calvão tivera tempo para verificar que os dissidentes não tinham a implantação que apregoavam. Diz o autor: “O resultado desta operação foi espetacular, e enuncia os objetivos alcançados com plena execução”. Terminando assim: “Que se calem os velhos do Restelo”. Na reta final da banda desenhada ainda deixou outro elogio: “Terminara a única operação realizada pela nossa Armada desde a batalha de São Vicente (1833) com implicações de ordem estratégica, com possibilidades de alterar o curso de uma guerra. Foi também, a última ação em que os portugueses tiraram partido do domínio dos mares, para tentar ganhar uma guerra”.

Tanto quanto sei, é a única banda desenhada referente a feitos que se realizaram na guerra da Guiné.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13152: Notas de leitura (591): Michel Té, uma voz original na literatura luso-guineense (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13161: Parabêns a você (735): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13154: Parabêns a você (734): António Pinto, ex-Alf Mil do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

domingo, 18 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13160: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte VII: (i) Os primeiros dias, a viagem de LDG até Farim, e depois em coluna até ao nosso destino... (ii) O meu primeiro aniversário...(Fernando Pires, ex-fur mil at inf)

1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte VII (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Continuamos a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão. O poste de hoje corresponde às pp. 35/40 e nele se descreve  (i) o seu dia de aniversário; e (ii) os primeiros dias de Guiné. (LG).
















____________

Guiné 63/74 - P13159: (Ex)citações (232): "Tristes artilheiros solitários" no meio dos infantes... (Vasco Pires, (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem de do 7 do corrente do nosso camarada Vasco Pires (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]


"Vasco: Se calhar tens que ser... mais explícito... Onde é que o "cerne" da tua irresponsabilidade... Nem toda a malta conhece a "cultura" da artilharia... Abração, Luis" (*)


Caro Luis,

Cordiais saudações.

O teu oportuno comentário, sobre um post meu; me alertou que, realmente, a maioria dos Camaradas não está familiarizada com a "cultura" da Artilharia.

Logo que saímos de Vendas Novas, onde já éramos poucos, fomos para os quartéis, com muitos de nós dando instrução básica de Infantaria, para futuras CART (nominalmente).

Já éramos poucos, e assim continuava quando normalmente três de nós (caso da Guiné) éramos agregados a uma Companhia ou Batalhão de Infantaria, fazendo humor fácil com a letra de uma canção antiga éramos "...tristes Artilheiros solitários..." sem a "âncora" de Companhias ou Batalhões, e assim continuava quando voltávamos para casa, sem os salutares e terapêuticos convívios.

Operacionalmente, tínhamos uma formação "express" na "fábrica" de Artilheiros em Vendas Novas, diga-se de passagem com excelentes instrutores, mas com manuais dos tempos da guerra clássica; eu por exemplo, fui treinado para, supostamente, ser observador e para fazer a ligação do Batalhão ou Brigada com a Artilharia Divisionária. Então, éramos "jogados" em África, numa guerra de guerrilhas, que poucos Oficiais acima de Major, faziam ideia do que fosse.

Na Guiné, a tropa era Africana, nos Pelotões onde estive, éramos somente três da tropa Continental.

Quanto ao material era de bom a excelente, principalmente os Obuses 10,5, porém, mais uma vez, "hardware" e "software", transplantados da gelada Europa, para as tórridas e húmidas bolanhas dos deltas dos rios da África Ocidental.

Não irei discorrer sobre a complexidade do tiro de Artilharia, pois, o Nobre Artilheiro C. Martins já o fez neste Blog, com notável maestria.

Dentro do Aquartelamento, havia ordem expressa para não sair - imaginemos o efeito que teria a propaganda IN apresentar um "canhão" aprendido às NT - basicamente os trabalhos eram de ataque a bases IN, e resposta a ataques ao quartel, o que se tornou relativamente fácil para mim,  pois tive a sorte de ter uma equipe competetente ágil e leal.

Quando de um ataque ao quartel e o Comandante ordenava: todos para as valas e abrigos, o Artiilheiro era o único de pé a descoberto, não porque fosse mais "valente", mas porque era lá, no espaldão, que se sentia seguro.

Dando apoio às tropas de Infantaria, por vezes debaixo de fogo num ambiente com poucas referências, com cartas com a precisão que todos nós conhecemos, era sem dúvida o momento de maior tensão do Artilheiro, com necessidade de decisões e cálculos rápidos, por vezes acumulando as funções de Observador, Chefe do Posto de Comando de Tiro e Comandante de Bataria.

Espero, caro Luis, ter começado a responder à tua "ordem" de Comandante desta " Grande Brigada"!!!

forte abraço a todos

E siga a Artilharia...(**)

Vasco Pires
Ex-Soldado de Artilharia (IOL)

______________

Notas do editor:

(*) Vd. 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(**) Último poste da série  > 6 de maio de  2014 > Guné 63/74 - P13107: (Ex)citações (231): O PAIGC também uma vez, em junho de 1968, "arrasou o campo fortificado de Mansambo" e "matou dezenas de soldados colonialistas", segundo a Maria Turra... Nós éramos apenas... 50 a defender-nos!.. Houve 2 feridos que não figuraram sequer no relatório: o 1º cabo cozinheiro, que se queimou na G3, e eu que me queimei no mort 60... (Torcato Mendonça, ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)

sábado, 17 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13158: Bom ou mau tempo na bolanha (56): Las Vegas, Las Vegas (Tony Borié)

Quinquagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dizem que, se perguntarmos a mil pessoas se ganharam algo nos casinos de jogo em Las Vegas, talvez cinco, vão dizer que sim. Mas isso não importa, todos procuram Las Vegas com a ideia dos casinos, restaurantes, encontros de ocasião, enfim divertirem-se nesta cidade que muitos dizem que é a “cidade da perdição”.

Nós dormimos a poucas milhas da cidade de Las Vegas, pela manhã, fomos para lá, estacionámos o nosso carro utilitário no parque de um famoso casino dizendo que íamos jogar, mas na verdade, depois do carro estacionado, saímos pela porta principal para a Las Vegas Boulevard, a tal a que chamam “Strip”, onde as pessoas caminham em qualquer sentido, é uma avenida que não dorme, de um lado e de outro, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos caminham, entram e saem dos diversos casinos, alguns simplesmente distribuem cartões de apresentação, nem sempre sendo de assuntos honestos, oferecem-se, dão alguns sorrisos, procuram companhia num local onde companhia não falta, pois por ali circulam milhares de pessoas.


Os primeiros relatos sobre aquilo a que hoje chamam Las Vegas, foi de alguém de ascendência europeia, Rafael Rivera, por volta do ano de 1829. Las Vegas foi nomeada por espanhóis, que utilizaram a água da área durante a jornada iniciada em Texas e direcionada a norte e a oeste ao longo da Antiga Trilha Espanhola (Old Spanish Trail). Em 1800, os domínios de Las Vegas Valley continham poços artesianos que suportavam extensas áreas verdes ou prados “vegas” em espanhol, daí o nome Las Vegas.

Contam dezenas de histórias sobre Las Vegas, pessoas importantes que queriam converter a população indígena, construindo igrejas e fortalezas, servindo de uma importante escala de viajantes, no “Corredor Mormon”, entre Salt Lake City e uma próspera colónia em São Bernardino, na Califórnia, no entanto, os “mórmons” uns anos mais tarde abandonaram Las Vegas, os anos foram passando, e em 1905 Las Vegas foi criada como uma vila ferroviária, quando 110 acres, propriedade da Ferrovia San Pedro, entre Los Angeles e Salt Lake do Senador William A. Clark de Montana, foram leiloados no que é hoje centro de Las Vegas.


Resumindo um pouco, Las Vegas começou como uma escala nas trilhas dos pioneiros na “Marcha para o Oeste”, tornando-se uma cidade ferroviária popular no início do século passado. Com o desenvolvimento do caminho de ferro, Las Vegas passou por um período de decadência, mas a conclusão da barragem “Hoover Dam”, nas suas proximidades, por volta de 1935, trouxe de novo o crescimento da população e com ela o turismo.

Também dizem que o jogo, legalizado por volta do ano de 1931, levou ao surgimento dos casinos/hotéis, nas quais a cidade tem fama internacional, e que o êxito inicial dos casinos na cidade está relacionado claramente com o “crime organizado”. A maioria dos primeiros grandes casinos eram gerência, ou financiados por figuras da dita “Máfia”, ou por mafiosos da época, no entanto, por volta de 1960, com a chegada de uma personagem bilionária, portanto com grandes recursos financeiros, comprou muitos casinos, hotéis e estações de televisão na cidade, corporações legítimas começaram a comprar os tais hotéis/casinos, e a máfia foi exterminada pelo governo federal ao longo dos anos seguintes.


Continuando com a nossa narrativa, andámos de casino em casino, vendo festas, as pessoas alegres, talvez gastando o que não têm, em alguns casinos vimos pessoas famosas cantando, num desses locais, aproximámo-nos do balcão do bar, pedimos um copo com bebida, o empregado muito sorridente, colocou-nos na frente uma garrafa, cheia da referida bebida, um copo, e que podíamos beber o que quiséssemos, pois era de graça, e muito sorridente disse que nos queria ver felizes.

Como nós o compreendíamos!

É assim Las Vegas, tudo, ou quase tudo é livre, casamentos, divórcios, encontros amorosos, traições, restaurantes com especialidades de todo o mundo, vive-se vinte e quatro horas ao dia, os melhores artistas do momento procuram protagonismo, filmam-se películas na Las Vegas Boulevard, pessoas com grandes possibilidades financeiras chegam de helicóptero ou em aviões privados, chegam aos casinos com grandes mordomias e de limousine, mas também se podem ver na rua alguns “descamisados”, trajando roupa suja e, fora da medida do seu corpo, alguns empurrando um carrinho, talvez “desviado” de algum supermercado, cheio de latas vazias, de sacas de plástico, de nada que possa ter valor a não ser para eles, pois um simples naco de pão, ou o resto de uma garrafa de água, tudo apanhado no caixote do lixo, equivale a uma majestosa refeição de “steak & lobster”, com lagosta fresca, vinda do estado do Alaska, e o steak vindo do estado do Wyoming ou de Montana, de carne curada de búfalo, tudo regado com champanhe da Califórnia, servida por vários empregados, com todas as mordomias, num dos luxuosos restaurantes, lá no vigésimo ou trigésimo andar, com paisagem para o deserto do Nevada, equivalente a milhares de dólares e, esses “descamisados” por vezes acariciando um animal, que pode ser um cão ou um gato, que também deve passar fome, mas tem algum carinho e não os abandona, calçando um sapato diferente do outro, onde transportam toda a sua fortuna.


Na nossa idade não podemos pensar em “justiças ou injustiças” companheiros, vamos passar o melhor possível os anos que nos restam e, no próximo episódio, se vocês consentirem, iremos continuar com a narrativa, pois tudo isto é Las Vegas, Las Vegas, onde na rua se falam diversos idiomas, com pessoas provenientes dos mais remotos países do mundo.

Las Vegas, Las Vegas!.

Tony Borie, Maio de 2014.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13125: Bom ou mau tempo na bolanha (55): Entre militares em cenário de guerra (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13157: Manuscrito(s) (Luís Graça) (27): Os nossos convívios anuais: não há fome que não dê em fartura... Os (des)encontros do BCAÇ 2852, do BART 2917, da CCAÇ 12 e outras subunidades, gente de Bambadinca, 1968/72...

I. Comentério de Luís Graça ao poste P13141


1. Podemos lamentar, podemos até achar triste esta coincidência de eventos... Ou melhor, estes (des)encontros... Mas há que compreender: a malta do BCAÇ 2852 e do BART 2917 (que o veio render em finais de maio de 1970) não se conhece. 

O tempo de sobreposição era curto, às vezes de dias... Os "velhinhos" queriam ir para casa, no "gosse, gosse"... Não havia tempo para "socialização"...

E hoje passados, 44 anos, continuam sem se conhecer... O mesmo aconteceu com os "piras" que, individualmente, vieram, render a 1ª geração de graduados e praças especialistas da CCAÇ 12, por volta de março de 1971... Não nos conhecemos, não nos reunimos, não convivemos... Somos estranhos uns aos outros... E, como diz o povo, "longe da vista, longe do coração"... A 1ª geração da CCAÇ 12 reune-se, em geral, com o pessoal de Bambadinca de 1968/71, ou seja, à volta da CCS/BCAÇ 2852. A 2ª geração da CCAÇ 12 reune-se também em separado...

Nestes casos, o único elo de ligação entre o pessoal de Bambadinca de1968 a 1972 ainda é (ou pode ser) o nosso blogue...

Em boa verdade, os antigos combatentes nunca foram (nem poderão ser) uma "equipa forte" mas sim uma "coligação fraca"... Apesar de tudo, há coisas que os moblizam e motivam para sair de casa e encontrarem-se a 200 ou 300 km de distância, com tudo o que isso implica de custos em termos de emoções, de tempo, de dinheiro, etc.. Pelo menos uma vez por ano, e nalguns casos mais do que uma vez... E isso é bonito e deve ser valorizado!

São encontros que têm, todos os anos, um organizador diferente, e um local de reunião diferente. A "pasta" vai passando de ano para ano, e há inércias que é difícil de parar, alterar ou mudar... A data e o local  convívio do ano seguinte são sempre  são marcados com antecedência de um ano, em geral no próprio convívio do ano... De forma que alterações de calendário são sempre difíceis, por falta de flexibilidade.

O Jorge Cabral, que comandava o Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) costumava não falhar nenhum dos convívios do pessoal de Bambadinca: ou seja, tanto ia ao convívio do BCAÇ 2852 como ao do BART 2917...  Também ele, como eu, serviu "dois senhores"... Este ano, só pode ir a um... já que não tem, como Deus, o dom da ubiquidade... Os convívios dos dois batalhões do nosso tempo de Bambadinca (somos ambos de 1969/71)  estão marcados para o  dia 24 de maio mas em locais separados, por 200 km: um nas Caldas da Rainha (BCAÇ 2852 e subunidades adidas) e outro na Torreira, São Jacinto, Murtosa (BART 2917 e subunidades adidas).

Eu e outros camaradas (como o Humberto Reis) já temos ido aos convívios dos dois batalhões... O Humberto, apesar de tudo, é muito mais "militante" do que eu... Tal como o nosso "alfero Cabral"...

Este ano estou fisicamente limitado e, quando muito, se for à Lourinhã, lá irei de canadianas, ao fim da tarde, beber um café, às Caldas da Raínha, e abraçar os meus antigos camaradas de Bambadinca do tempo do BCAÇ 2852 (1968/70)... De Lisboa às Caldas são 70 km... e ainda não posso conduzir. Tenho pena de não poder dar o mesmo abraço aos meus camaradas de Bambadinca do tempo... do BART 2917 (1970/72)...

Enfim, vou ver se também consigo dar um salto a Óbidos, no dia 31 de maio, para dar também o meu alfabravo fraterno aos camaradas, de rendição individual, que nos substituiram em março de 1971, na martirizada CCAÇ 12, e com quem queremos reforçar os nossos laços de camaradagem. São poucos, tantos os da 1ª como os da 2ª geração, para não falar da 3ª... (A companhia foi desativada e extinta em 18/8/1974). O grosso da companhia, os nossos soldados do recrutramento local,  e maioritariamente de etnia fula, ficaram na Guiné, e tanto quanto sabemos mais de 80% já faleceram, uns de morte matada, outros de causas ditas naturais...

E,por fim, temos os nosso IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no próximo dia 14 de junho de 2014, para o qual temos que mobilizar as "nossas tropas"....

2. Num comentário atrás (poste P13149), estava o Jorge Cabral intrigado com o nº de comandantes da CCS/BCAÇ 2852. Diz ele que só conheceu um ... 

Expliquei-lhe que o comandante da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/0) era, originalmente, o cap inf Eugénio Batista Neves.

Por causa do ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969 (, segundo se dizia lá na 5ª Rep de Bambadinca, a dos mexericos & boataria...), o senhor oficial (de quem eu tenho apena uma vaga ideia) foi "transferido por motivos disciplinares" e substituído em agosto de 1969 pelo cap art António Dias Lopes (de quem  não tenho a mais pequena ideia)...

Estou a citar a história do BCAÇ 2852 (de que tenho cópia em papel e em pdf)... Não sei o que se passou, mas este cap art António Dias Lopes não teve tempo de aquecer o lugar... Foi também "transferido por motivos disciplinares" e substituído em setembro de 1969 pelo então cap inf Manuel Maria Pontes Figueiras (ao que sei, hoje cor inf ref, e que vai ao 20º encontro do pessoal de Bambadinca, 1968/71, organizado pelo meu amigo e camarada José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, da CCAÇ 12, 1969/71).

É sabido, das gentes de Bambadinca desse tempo, que houve uma série de "saneamentos" no topo da hierarquia do BCAÇ 2852... Nessa época, usávamos um eufemismo para a expressão "transferência por motivos disciplinares": dizíamos, entre dois uísques, que o Spínola ou o Velho ou o Caco Baldé "tinha posto os patins no fulano tal"... Na realidade, o nosso Com-Chefe subverteu a hierarquia militar, ao exigir confiança pessoal e político-militar aos seus oficiais superiores...

Nós, CCAÇ 12, mal tínhamos chegado a Bambadinca, por volta de 18 de julho de 1969 (se não erro),  e não nos deixaram respirar... Fomos literalmente chupados até à medula pelos comandos de batalhão que queriam mostrar serviço, tanto o BCAÇ 2852 como o BART 2817...

Afinal, éramos todos gente de 2ª classe, os nossos nharros (que eram, literalmente,  "soldados de 2ª classe" por não terem a 4ª classe, com exceção do 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé) e os nossos graduados e praças especialistas... Além disso,  metaforicamente falando,  éramos "tropa macaca", "carne para canhão"...

De qualquer modo, é importante dizê-lo, tivemos sempre as melhores relações, de camaradagem e até de amizade, com os milicianos e o pessoal do contingente geral dos dois batalhões, bem como com o pessoal das subunidades adidas, como era o caso dos Pel Rel Daimler, os Pel Mort, os Pel Caç Nat (como, por exemplo, o Pel Caç Nat 63, do "alfero Cabral, do Pel Caç Nat 52, do "Tigre de Missirá"), etc.

Não confundimos nunca os "patrões" (o comando dos batalhões) com o pessoal da caserna... E o Jorge Cabral sabe bem do que eu falo!

Espero, de resto,  poder abraçá-lo, a ele e a outros camaradas do meu tempo de Bambadinca,  em Monte Real, em 14 de junho próximo.

__________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13156: Agenda cultural (316): Dia Internacional dos Museus, com entrada à borla no Museu da Lourinhã: e, a propósito, o que é os dinossauros têm a ver com a guerra colonial ?



Sítio do Museu da Lourinhã ou Museu dos Dinossauros que faz 30 anos (1984-2014)





1. Dia Internacional dos Museus. domingo, 18 de maio


Este ano subordinado ao tema: “Museus: as coleções criam conexões”.

O Museu da Lourinhã, procurando sempre a conexão entre o património e a comunidade, entre o espaço e cultura, numa permanente dinâmica de conservação e divulgação do património, assinala este dia com uma entrada livre e atividades.

Às 10:00, com a participação de voluntários do museu, iremos fazer pão à moda tradicional, cozendo-o em forno de lenha.


2. Comentário de L.G.:

O que é que o Museu da Lourinhã (. mais conhecido por Museu dos Dinossauros, ) tem a ver com a guerra colonial da Guiné ? Aparentemente, nada. Na prática, muito. Daí este destaque no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Se não, vejamos:

(i) Se os dinossauros não se tivessem extinto (ou sido extintos...)  há 65 milhões de anos, os primatas não teriam existido;

(ii) Se os primatas não tivessem existido, não teria existido a espécie Homo Sapiens Sapiens, ou seja, a nossa espécie humana:

(iii) Se nós não tivessemos existido, muito menos teria nascido uma Nação chamada Portugal nem muito menos o Zé Portuga;

(iv) Se Portugal (e Zé Portuga) não tivesse existido, muito menos teriam existido "Novos Mundos para dar ao Mundo";

(v) Se Portugal (e o Zé Portuga)  não tivesse existido, nunca poderíamos  ter chegado aos rios da Guiné;

(vi) Se ninguém tivesse chegado aos rios da Guiné, etc., etc., etc., nunca teria existido... a guerra colonial, de 1961 a 1974;

(vii) Se a guerra colonial, na Guiné (1961/71) não tivesse existido, não teria nascido este blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Tudo isto são algumas das razões para tu, caro leitor, conheceres a Lourinhã (onde eu nasci e parti para a tropa e a guerra) bem como o Museu da Lourinhã, "capital dos dinossauros" ( de que sou sócio e admirador) e, desse modo,  saberes alguns dos segredos que aquela terra guardou durante 150 milhões, do tempo do Jurássico Superior, quando os dinossauros dominavam o planeta azul...

Vai lá no dia 18 de maio. Entrada à borla. Vale a pena a viagem.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > > 17 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13155: Agenda cultural (315): Dia 18, domingo, Dia Internacional dos Museus: entrada gratuita no Centro de Interpretação das Linhas de Torres, Sobral de Monte Agraço


Guiné 63/74 - P13155: Agenda cultural (315): Dia 18, domingo, Dia Internacional dos Museus: entrada gratuita no Centro de Interpretação das Linhas de Torres, Sobral de Monte Agraço



Fonte: Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT)  (com a devida vénia...)



1. Através do nsso amigo e camarada José Pereira, ten cor inf, ref, do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes, recebenos a seguinte mensagem


Assunto - O Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT) associa-se ao DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS, dia 18 de maio


No próximo dia 18 de maio celebra-se o Dia Internacional dos Museus, uma iniciativa do ICOM (International Council of Museums; UNESCO).

Este ano o tema é 'Museus: As coleções criam conexões'.

O Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT) junta-se a esta comemoração através de um dia de ENTRADA GRATUITA.

Aproveite para conhecer ou revisitar-nos.

Centro de Interpretação das Linhas de Torres – CILT

Praça Dr. Eugénio Dias, n. 12 | 2590-016 Sobral de Monte Agraço

Tel. 261 942 296 | E-mail: cilt@cm-sobral.pt

Horário: De terça-feira a domingo. Das 10h30 às 13h00 e das 14h00 às 18h30 (encerra à segunda-feira e feriados)

Atenciosamente,

Serviço de Turismo de Sobral de Monte Agraço

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13090: Agenda cultural (314): Palestra "Vidas marcadas pela História: a Guerra Colonial portuguesa e os deficientes das Forças Armadas", dia 7 de Maio de 2014 na ADFA - Av. Padre Cruz - Edifício ADFA - Lisboa

Guiné 63/74 - P13154: Parabêns a você (734): António Pinto, ex-Alf Mil do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

____________

Nota do editor

Último poste da série > 16 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13147: Parabéns a você (733): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13153: Efemérides (154): Inauguração do Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar [1961-1974] no Município de Portimão (Jorge Araújo)


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 7 de Abril de 2014:



MEMORIAL AOS COMBATENTES NA GUERRA DO ULTRAMAR [1961-1974] NO MUNICÍPIO DE PORTIMÃO


INAUGURADO EM 9 DE ABRIL DE 2014


I – INTRODUÇÃO 

No passado dia 9 de Maio, quarta-feira, quando me preparava para abandonar Portimão rumo a Lisboa, depois de aí ter concluído a minha actividade académica semanal, reparei que algumas artérias do meu itinerário pedestre haviam sido cortadas ao trânsito por elementos da PSP, e que o número de pessoas na rua indiciava estar a acontecer algo de importante.

Percorridas algumas dezenas de metros, cheguei à Praça 1.º de Maio, onde está situado o edifício principal da Câmara Municipal de Portimão [foto 1] e, do meu lado esquerdo, uma pequena multidão circunvolvia a Rotunda do Sapal [foto 3], tendo no centro um Monumento, sendo possível destacar a presença de uma força militar devidamente organizada, fanfarra dos bombeiros equipados a rigor e muitos civis de diferentes idades – entre jovens e menos jovens.

Perguntei a um agente da autoridade o que se estava a passar, e a resposta surgiu de imediato: “estão a inaugurar o Memorial aos Combatentes na Guerra do Ultramar, naturais de Portimão, que tombaram nos três T.O.”. 

Foto 1 – Edifício da Câmara Municipal de Portimão. À esquerda da imagem está situada a Rotunda do Sapal, local onde foi colocado o Memorial aos Combatentes na Guerra do Ultramar [1961-1974].

Porque fiquei muito sensibilizado com o ambiente humano que estava a sentir e porque dispunha ainda de quinze minutos, em relação ao horário do Expresso, aproveitei para fazer umas fotos com o TM.

Considerando que decorreu já um mês, e nenhum camarada local ousou dar conta deste evento de grande significado regional e nacional, tomei a iniciativa de o divulgar através deste nosso espaço de partilha. Esta narrativa é, com efeito, produto de uma pequena investigação histórica para enquadrar algumas imagens. 

II – A IDEIA 

A ideia de homenagear os militares do Município de Portimão caídos em combate na Guerra do Ultramar [1961-1974] teve a sua génese na Direcção do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, presidida à data por Jaime Marreiros. Este apresentou a ideia/proposta em ofício remetido ao então Presidente da Câmara Municipal, Manuel da Luz [edil no mandato autárquico anterior], tendo a mesma merecido a sua superior aprovação.

A resposta definitiva surgiu na sequência da reunião da Autarquia, realizada em 25Jul2012, onde o seu executivo “inscreveu a nossa cidade na lista de inúmeras localidades que não esquecem os seus filhos mortos, perpetuando as suas memórias na pedra. A maneira e atenção que prestou ao nosso pedido e a rapidez e proficuidade como o resolveu, mereceu o nosso profundo agradecimento” (Jaime Marreiros).

III – A PRIMEIRA PEDRA

Em conformidade com as etapas que um processo deste tipo comporta, o Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, após ver aprovado o seu projecto, agendou para o dia 21Out2012, domingo, a realização da cerimónia do lançamento da primeira pedra do monumento a erigir em Portimão, em homenagem aos que morreram na Guerra. Esse acto, então realizado na data prevista, contou com a presença de individualidades civis e militares. 

A construção do monumento tinha sido decidida fazê-la, inicialmente, na Alameda da Praça da República, local onde foi colocada a lápide correspondente à primeira pedra, conforme imagem.


Foto 2 – Lápide divulgando o local do lançamento da 1.ª pedra do Memorial aos Combatentes na Guerra do Ultramar, a construir na Alameda da Praça da República, colocada, em cerimónia pública, em 21Out2012.

IV – INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL AOS COMBATENTES

A inauguração do Memorial aos Combatentes na Guerra do Ultramar, realizada em 9Abr2014, pelas 15:00 horas, coincidiu com o início das Comemorações do 40.º Aniversário do 25 de Abril, na Cidade de Portimão.


Foto 3 – Rotunda do Sapal. Inauguração do Memorial aos Combatentes na Guerra do Ultramar do Município de Portimão. A Presidente da Câmara Municipal, Isilda Maria Gomes, no uso da palavra (foto CMP, Filipe da Palma).

“A escultura hoje inaugurada representa uma homenagem aos militares portimonenses que tombaram nos cenários de guerra da Guiné, Angola e Moçambique, tendo resultado das contribuições de sócios e simpatizantes do Núcleo Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, que contou com o apoio logístico da Câmara Municipal de Portimão para a concretização deste projecto. ...”.

a) – A cerimónia e as principais presenças

A cerimónia de inauguração do monumento, em Portimão, aos Combatentes no Ultramar, concretizando “um velho sonho perseguido por muitos ex-combatentes”, foi presidida pela actual Presidente da Câmara Municipal, Isilda Maria Prazeres Varges Gomes. Nela participaram, também, o Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, o Presidente Honorário e o actual Presidente da Direcção do Núcleo Lagoa/Portimão da referida Liga, respectivamente Paulo Neto e Jaime Marreiros, Presidente da Comissão de Honra da construção do monumento, Coronel Jaime Marques, Vereadores e outros Autarcas, bem como de muitos ex-combatentes nos três cenários de guerra, muitos deles de boina e crachá. Ao acto juntou-se, ainda, o antigo Capelão Nacional das Forças Armadas, Coronel Monsenhor Joaquim Cupertino, que benzeu o Memorial. 

As honras militares estiveram a cargo de um Grupo de Combate de Tropas Comandos e os toques de ordem foram desempenhados por uma equipa da fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão.

Todos os oradores na cerimónia, nomeadamente Paulo Neto, Jaime Marreiros, Jaime Marques, Chito Rodrigues e Isilda Maria Gomes, foram unânimes ao referir que a inauguração desta obra evocativa é a manifestação do respeito devido a todos os ex-militares e combatentes no Ultramar que cumpriram o seu dever na defesa dos interesses da Pátria. 

Entretanto, o General Chito Rodrigues recordou que a prestação dos milhares de militares nas três frentes - "o seu esforço, dedicação e sofrimento" - contribuíram para que ao fim de catorze anos fosse possível a ocorrência do 25 de Abril. 

Por outro lado, a Presidente do Município, Isilda Maria Gomes, lembrou que "antes do 25 de Abril não havia hipótese de dizer não" e os jovens de então "iam para a guerra no cumprimento de um dever, obrigação de que se saíram muito bem", adiantando, neste contexto, "que um dia a história da Guerra do Ultramar terá de ser reescrita".

De referir, a terminar, que este Memorial, um dos trezentos e sete existentes no país, foi construído com o apoio logístico da Câmara Municipal e com dádivas de ex-combatentes. Foi concebido e projectado por Mário Cruz, também ex-combatente e incluiu um memorial com o nome dos dezanove portimonenses mortos em combate [nove em Angola, seis na Guiné e quatro em Moçambique].

b) – Os camaradas que tombaram na Guiné naturais de Portimão

Quadro com informações complementares. 
Individualidades presentes

Fontes:
www.barlavento.pt – 28.09.2012
www.planetalgarve.com – 09.04.2014

Com um forte abraço,
Jorge Araújo
09Mai2014
___________
Nota de M.R.: 

Vd. Também o poste em referência:


Guiné 63/74 - P13152: Notas de leitura (591): Michel Té, uma voz original na literatura luso-guineense (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
Não profetizo que Michel Té vai ser um caso sério na literatura luso-guineense, mas rendo-me à qualidade e ao inequívoco pendor lírico do que publicou na V Antologia de Poetas Lusófonos.
Constrói palavras e sentimos-lhes o sentido, a frescura. Entremeia o português e o crioulo, temos um corpo novo, um hálito primevo.
Não é um europeu com lembranças de África, é um artífice luso-guineense que não emite caligramas e ressentimentos, é um figura de duas culturas sentidas e maturadas.
É algo de novo, de respeito pelo passado, de vínculo ao chão, a trilhar novos rumos na vida.

Um abraço do
Mário



Michel Té, uma voz original na literatura luso-guineense

Beja Santos

Tem 24 anos, nasceu no Biombo e na altura em que publicou os seus poemas era aluno do curso Científico-Humanístico de Artes Visuais na Escola Secundária de Santo André. É esta a sua participação na V Antologia de Poetas Lusófonos, com prefácio de Adélio Amaro, Folheto, Edições e Design, 2013, que reúne 147 poetas oriundos de 15 países irmanados pela lusofonia, os poetas candidatam-se e quando são aceites veem os seus nomes inseridos junto de outros que se exprimem na língua de camões. Para se avaliar da sua voz original oiçamo-lo no poema

A Tchaudade

Se há coisa na terra mais infeliz

É sentir-se a tchaudade1 de ontem
É ter na mente histórias imortais
É sentir-se o que os mortos já não sentem
É partilhar a mesma indesejada solidão incurável
É não esquecer-te de esquecer
É ter nos olhos imagens invisíveis
É ouvir vozes distantes
É desdeliciar-se dos sabores da origem
É contentar-se de descontente
É não conformar-se com o novo cheiro de tchon2

Tenho tchaudade sim tenho a tchaudade

De tchifri3 que ronca a sua maturidade
De Lua-fogo que ateia na hora de kussundé4
De bobolom5 que manifesta entre cá e o além
De penoso adeus do suludemba6
De sikó7 com os seus encantos
De murmúrio de tina

Tenho tchaudade sim tenho a tchaudade

Das intimidades das tabankas8
Das fábulas da mandjudadi9
Das canções sedutoras das mães produtoras
Das crianças que rasgam o segredo da bida10
Dos saberes enterrados na mata sagrada
Dos Omis Garandis11 afinadores do silêncio
Dos djidius12 poetas historiadores filósofos médicos cientistas

Tenho tchaudadi, tenho a tchaudadi
Até da própria tchaudadi
Ampus13


Fomi bai ku bin na ora di quêbur 
(fome, a partida e a chegada na véspera da colheita)

Encharcado pelo primeiro sol de novembro na bolanha
Cansado, deprimido e faminto
Tristemente acompanhando o embelhecimento de arroz

Do Djidiu chegaram-me as 9dades de tabanka

Lá na tabanka apenas uma kabana tem tranças de fumo
As panelas da sua esposa ainda estão na arrecadação
E que os seus rebentos já não a reconhecem
Os teus pais só falam da outra bida utópica

Não tardara o astro ardente o consumiu
E de imediato parti

Ao regressar a kabana apenas uma manga na mão para as crianças
[desafomearem
A de sete meses partiu antes de engolir a polpa de manga e jamais se fala
de comida}
Todos acoitaram-se no ventre das lágrimas
Dói-me imenso ver a minha esposa a lacrimar após pagar o engano castigo
Na casa do régulo
Kora anima a chegada de um novo herdeiro.
____________

Notas:

1 - É uma junção de duas palavras: adeus e saudade
2 - Chão
3 - Cifre
4 - Ritos da Guiné-Bissau
5 - Instrumento tradicional da Guiné-Bissau que é tocado nas cerimónias de toca-choro
6 - Tristeza
7 - Instrumento tradicional da Guiné-Bissau
8 - Aldeias
9 - Pessoas da mesma geração
10 - Vida 
11 - Velhos 
12 - Contadores de histórias 
13 - Enfim
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

Guiné 63/74 - P13151: (De) Caras (17): A nudez da pedra, o Vasco da Gama e os seus "tigres do Cumbijã"... Convívio anual da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74)








Portalegre, 3 de maio de 2014 >  Convívio anual dos "Tigres de Cumbijã", CCAV 8351, Cumbijã (1972/74)


Fotos: © Vasco da Gama   (2014). Todos os direitos reservados


1. A Minha Querida CCav 8351...e....A NUDEZ DA PEDRA

por Vasco da Gama [, ex-cap mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74]

O frenesim que de mim se apodera com a chegada do dia da reunião anual da minha Companhia parece que cresce todos os anos, apesar de saber que por cada comemoração que passa, menos uma nos resta para o fim do percurso.

Desta feita foi em Portalegre que se seguiu à reunião de Sever do Vouga e que antecede a de Torres Novas.

Portalegre, “cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,”que José Régio imortalizou na sua Toada, viu-nos partir, há quarenta e dois redondos anos, com destino à Guiné.
Aqui permanecemos por três ou quatro semanas, vindos de Estremoz, aguardando embarque para a guerra! A pátria, que por vezes não sabemos bem o que é, chamara por nós e nós ali estávamos prontos a cumprir com a obrigação (que não dever?) já que outra saída não descortinávamos para o nosso futuro! Até de França, Camarada nosso então se apresentou para que sobre ele não caísse o anátema de refractário ou de desertor, anátema que alguns, nos dias que correm, ( como é fácil hoje em dia fazê-lo) transformaram em elogio, vá-se lá saber porquê! Falo nele, no “Francês”, pois desta feita e pela primeira vez veio abraçar os seus Camaradas, que não via há quarenta anos!

O B. C. 1 de onde saímos em 1972 é hoje um Centro de Formação da G.N.R.

Em finais de Março solicitámos autorização ao Comando para que pudéssemos visitar as instalações e colocar uma lápide em honra dos Camaradas mortos na Guiné.

O tempo ia passando e a resposta não vinha! O meu Camarada Parola, o organizador do convívio, alertou-me e eu, sem demora, liguei para o Centro no dia 20 de Abril. Depois de vários “não se encontra” tive de dizer ao meu interlocutor que não desligava enquanto não fosse atendido por quem quer que fosse, pois a minha pergunta não ficaria sem reposta.

Lá veio um senhor sargento, muito simpático e solícito que, admirado, me disse:
- O senhor Comandante já fez o despacho no dia 2 de Abril, a autorizar a vossa visita.

 Prometeu falar com o senhor Capitão para que cópia do despacho nos fosse enviada, ao meu Camarada Parola e a mim mesmo. Tal veio a verificar-se a 23 de Abril.

Porventura esta demora terá a ver com a programação de alguma operação, quiçá a da perseguição ao senhor Manuel Baltazar, um tuga conhecido por Manuel Palito, lá para as bandas de São João da Pesqueira, que ,ao que sei, ainda não teve resultados práticos.

Demorássemos nós, CCav 8351, enquanto na Guiné, todo este tempo a encontrarmos a base de onde o IN nos atacava e, por certo, ainda a esta hora por lá andávamos à procura de Nhacobá, de Lenguel do rio Habi ou de Samenau. Outros tempos....outra gentes..

O nosso encontro estava marcado para 3 de Maio, e no dia primeiro, portador que fui da lápide, lá me apresentei para a colocar no local indicado. O oficial de dia, um jovem alferes, recebeu-nos com simpatia e a meu pedido prometeu-me que a lápide, no dia da visita, estaria coberta pela bandeira nacional para que o seu descerramento tivesse o mínimo de dignidade. Perante a minha insistência mandou-me ir descansado, pois a bandeira de Portugal estaria em seu devido sítio!

A malta começou a chegar logo pela manhãzinha do dia três de Maio. O encontro foi no largo fronteiriço ao do antigo B.C.1. Abraços, gargalhadas, uma ou outra lágrima furtiva, o relembrar da emboscada do dia xis ou os ataques ao arame no Cumbijã, mais o assalto a Nhacobá, fazem sempre parte do primeiro contacto.

Subimos então a rampa de acesso à entrada do Centro e, antes que fosse transporta a porta de armas, avistava-se lá ao fundo a lápide, tal qual eu a deixara dois dias antes. Não avancei mais! O meu Camarada Parola lá foi falar com o oficial de dia, um capitão, que de pronto lhe disse não haver bandeira disponível para a cerimónia e que a fôssemos comprar a uma loja dos “chineses”.

O meu Camarada lá foi comprar a bandeira com que se cobriu a nudez da Pedra.

Este lavar de mãos do cavalheiro e oficial senti-o como se de ofensa se tratasse à memória dos meus Camaradas mortos em combate e, logo ali, no discurso que fiz, tive de expressar, para que dúvidas não restassem, o meu repúdio perante tamanha indiferença.

Porventura se tivesse ido ao beija-mão talvez me tivessem dado fanfarra e me prestassem tributo, mas eu não vou por aí e cito outra vez Régio :

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

["Cântigo Negro", de José Régio, "Poemas de Deus e do Diabo", 1925]


Cerimónia finda, ala que se faz tarde e lá foram os cinquenta e um Combatentes acompanhados pelos familiares para a missa da praxe, celebrada na sé de Portalegre por um padre simpatiquíssimo. Foram lidos os nomes dos vinte e dois mortos que são do nosso conhecimento e à medida que cada nome era referido ecoava na vastidão dos claustros um arrepiante PRESENTE a provocar um estremeção de emoção.

Os arredores de Castelo de Vide acolheram-nos num local perfeito para o almoço e lanche!

Esquecidos os contratempos, em vivência íntima e familiar,  de novo o recordar dos momentos mais difíceis nos vinte e dois meses que passámos juntos.

Vinte e dois meses que nos marcaram de tal forma, que ninguém, mas mesmo ninguém, será capaz de destruir.

Esta imensa solidariedade dos Combatentes da minha Companhia parece vir a cimentar-se com o passar dos anos e eu apenas peço que para o próximo ano estejamos os mesmos deste ano e mais uns quantos a quem a saúde e a crise impediram de ir a Portalegre, “cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros” [, "Toada de Portalegre", de  José Régio,  do livro de poesia "Fado", publicado em 1941].

Vasco Augusto Rodrigues da Gama

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12897: (De) Caras (16): Quem tramou o alf mil capelão Mário de Oliveira, do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69) ?... Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Mário de Oliveira, a PIDE tinha escritório aberto em Mansoa (Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, CCAÇ 1698, Mansoa, 1967/69)