terça-feira, 15 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13402: Convívios (613): IX Encontro do pessoal da CART 3521, levado a efeito no passado dia 7 de Junho de 2014 (Henrique Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Martins de Castro (ex-Soldado Condutor Auto, CART 3521, Piche, Bafatá e Safim, 1971/74), com data de hoje, 15 de Julho de 2014:

Camarada Vinhal.
Mais uma vez e pela última organizei, no passado 07/06/14, um convívio da CART 3521. Devido à atual conjuntura económica, ao falecimento de alguns camaradas e à falta de vontade de mais de 70% dos ex-militares em estarem presentes, estiveram 19 e as respetivas famílias, e apesar de no convite informar que tinha para oferecer 2 DVD, um com um filme feito por mim na Guiné e o nosso primeiro encontro e outro com 2 horas de gravação com o 1.º, 2.º, 3.º e 4.º encontros, o 7.º está gravado no Youtube, assim como o 9.º, estou desanimado e resolvi encerrar este ciclo.

Agradeço que publiques estas fotos no blogue e que escrevas também que o filme está no Youtube. Para ser visto basta escrever CART 3521.

Henrique Castro


Vídeo do IX Encontro do pessoal da CART 3521 alojado no Youtube

Bolo comemorativo do Encontro da CART 3521

O camarada Vieira e o Comandante da CART 3521

O casal Magalhães, sentados, e a esposa do Coimbra

 A viúva do falecido camarada Massarelos e a esposa do Henrique Castro
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13384: Convívios (612): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 17 de Julho de 2014, em Cascais (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P13401: Notas de leitura (612): "O Arauto" noticia a primeira ida para o ar da Emissora da Guiné, em meados de Março de 1953 (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), com data de 10 de Julho de 2014:

Olá Carlos
1. Só hoje vi a recensão do Beja Santos ao art. de Teresa Montenegro e Carlos Morais sobre os Djumbai. É um assunto de que me falou há pouco tempo o Tony Tcheka e que me interessa para o livro que estou a escrever. Vou procurar a revista para tentar ler o art. na íntegra.

2. Estou muito interessada em saber o ano em que o Kumba Ialá veio para Loulé. Será que o Cherno Baldé me saberá dizer?

3. No decorrer das minhas investigações encontrei informações sobre os inícios da Emissora da Guiné. Não sei se vos interessa mas de qualquer modo envio-vos.

Lucinda


A Emissora da Guiné

A Emissora da Guiné foi para o ar, pela primeira vez, em meados de Março de 53. Funcionava então durante duas horas por dia com início às 20h30m. Tinha uma programação ambiciosa e bastante variada para o tempo que estava no ar a qual chegou a ser publicada com todo o detalhe diariamente pelo jornal da terra, O Arauto. Uma das rubricas de maior sucesso foi a de música de dança que está logo presente na programação do 1.º dia de emissão. A título de exemplo, transcrevo do jornal dois programas. O primeiro respeita ao dia 17 de Março, provavelmente o dia de abertura e o segundo ao dia 21 do mesmo mês.



1. Dia 17 de Março de 1953

NOVIDADES QUE INTERESSAM A TODOS PROGRAMA DA EMISSORA DA GUINÉ 
(20,30 h.— 22 h. / 51,37 m.)

20,33 h.— ORQUESTRAS LIGEIRAS:
Canaro—Luis Rovira—João Nobre—Artie Shaw
20,45 h.— PRIMEIRO NOTICIÁRIO
20,50 h. – Interpretações de Carlo Buti e de Lucienne Delyle
21,00 h. – MÚSICA DE CÂMARA: Quinteto em lá maior de Shubert
21,15 h. – CANÇONETISTAS PORTUGUESES:
Julia barroso—Tony de matos—Maria de Lurdes
F. José—Maria Clara—José António e Margarida Amaral
21,50 h.— MÚSICA PARA DANÇAR

2. Dia 21 de Março de 1953

UTILIDADES QUE A TODOS INTERESSAM
OUÇA HOJE NA EMISSORA DA GUINÉ
(20,30 h.—22 h. /51,37 m.)

20,33 h. – Cançonetas americanas:
Dany Kay and his sisters; Dorothy Squires;
Paul Rbeson; Bing Crosby.
20,45 h. – PRIMEIRO NOTICIÁRIO
20,50 h. – Artistas Italianos:
Emilio Levi; Carlo Butti; Tito Scippa; Caruso.
21,00 h. – O artista da Semana. MARIA DE LURDES
Alcobaça; Leiria; Mulher Pequenina;
Moleirinha; Rosinhas de Toucar.
21,15 h. – SEGUNDO NOTICIÁRIO
21,25 h. – Música Variada:
Ana Mª Gonzalez; G. Boulanger; Mª Clara;
Tino Rossi; Manuel Monteiro e outros.
21,50 h. – Música de dança
22,00 h. – HINO NACIONAL e Fecho da Estação.

Na data do seu décimo aniversário, segundo O Arauto de 15 de Março de 63, a emissora duplicou o seu tempo de emissão diário. Cresceram então as expectativas, havendo quem defendesse que se devia optar por programas ao vivo, inspirados nos modelos metropolitanos de modo a fazer despertar vocações na rádio. Sonhou-se com o teatro radiofónico, com um concurso de revelações, tipo programa de variedades com conjuntos e artistas locais, com um prémio votado pelos ouvintes e patrocinado pelos anunciantes. De forma não inocente, motivada pela conjuntura de guerra, houve quem propusesse a abertura diária da emissão com uma gravação do hino nacional tocado por instrumentistas mandingas ou fulas como já acontecia em Moçambique com os tocadores de marimba de Zavala. Também a guerra da libertação explica a propaganda veiculada pela Emissora Nacional com início nesse mesmo ano de 63. Mensalmente, passou a transmitir o programa A Presença da Guiné de produção da Emissora Provincial. Deste modo, os portugueses da metrópole ficariam a conhecer a labuta e o empenho dos «seus irmãos da Guiné Portuguesa» nas palavras do governador Vasco Rodrigues.

Lucinda
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13398: Notas de leitura (611): "Estados de Alma: cem sonetos de vida e amor", por Tomás Paquete (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos... precisam-se!

1. Amigos e camaradas da Tabanca Grande e demais leitores:

Estamos já em plena "época estival" e o blogue ressente-se da falta de colaboração... O Carlos Vinhal costuma queixar-se, nesta altura do ano, de ter pouco trabalho... Por outro lado, em agosto  o blogue, as férias e a praia são três coisas que não combinam bem... Eu, LG,  ainda estou no ativo e vou tirar férias em agosto (altura em que o meu estaminé fecha, parcialmente, durante 2 semanas...).

À boa maneira dos senhores professores, vamos  pedir-vos  um TPC, trabalho de casa, para alimentar o blogue durante a canícula... O tema é: "Os libaneses da Guiné"...

(i) Uma questão interessante é a de se saber quantos libaneses viviam na Guiné, antes e durante a guerra colonial (1963/74); .

(ii) Algumas famílias terão ficado por lá mesmo depois da independência, ou emigraram, para lá a seguir; se sim, quantas ? onde ? [Lemos, numa reportagem do jornal Expresso, de 2006, que seriam uns 200, a maior parte concentrados em Bissau];  (*)

(iii) Do nosso tempo estão sinalizados (ou têm sido referidos)  alguns comerciantes libaneses, ou de origem libanesa, em Bissau, Bafatá, Xitole, Gondomar e outros sítios:

(a) Bissau > Na baixa, havia as lojas do Taufik Saad, do Azis Harfouche, do Mamud el Awar;

(b) Bafatá > As "manas libanesas";

(c) Xitole > Jamil Nasser;

(d) Nova Lamego > (?)

(e) Bissorã > (?)

(f) Teixeira Pinto / Canchungo > (?)

(g) Xime > Amin (?)

(h) Gondomar > Regala (?)

(i) Catió > ?

(j) Piche > Taufick ?

(iv) Não há estatísticas... Ou há ?  De qualquer modo, a diáspora libanesa é já muito antiga, e remonta aos seus antepassados fenícios que chegaram à nossa costa, atlântica,  muitos séculos antes de Cristo... Calcula-se que, para uma população atual de 4,4 milhões a viver no Líbano [, "Lebanon", em inglês], haja o dobro ou o até o triplo de libaneses, ou seus descendentes, pelo mundo fora, com destaque para o Brasil (5 a 7 milhões), a Argentina, os EUA,a Venezuela, a Austrália, etc. Mas também países árabes, África ocidental francófona (Costa do Marfim, Senegal, Guiné-Bissau...).

(v) Antiga colónia ou protetorado francês, depois da desintegração do império otamano, o Líbano alcançou a independência em 1943; as tropas francesas sairam de lá em 1946; e  a emigração para a África Ocidental francófona deve ser dessa época, ou até anterior (antes e depois da I Guerra Mundial); em geral, são cristãos, mas também muçulmanos xiitas, os que emigram, e são reconhecidos como uma comunidade próspera e influente, de gente que se dedica ao comércio (veja-se  o caso do Brasil);

(vi) Quando é que os libeneses começaram a vir para a Guiné ? [O Expresso diz que foi há mais de 120 anos] (*);

(vii) Não sei se o Joaquim Mexia Alves e outros camaradas que privaram com o Jamil Nasser (**), no Xitole, têm alguma informação sobre a história da família, sua chegada à Guiné, etc.

(viii) Alguns foram nossos camaradas como o cap grad comando Zacarias Saiegh, por exemplo, tendo começado como fur mil do Pel Caç Nat 52,antes e ingressar na 1ª CCmds Africanos.


2. Quem quer dar uma ajudinha para este TPC coletivo ?

Boas férias para quem for de férias, bom descanso para quem ficar em casa... Passear, a pé, é importante... Mas também conviver, pensar, ler, escrever... e blogar!

Um abraço (ativo, produtivo, saudável, camarigo...) para todos. Luís Graça, Carlos Vinhal e demais equipa.
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Notas do editor:

(*) Vd. excerto de reportagem, Expresso, de 7/972006 (Os libaneses na actual  Guiné-Bissau")

(...) O cônsul do Líbano em Bissau, o comerciante Hassib el Awar, garante que os "sirianus" – como eram conhecidos os libaneses antes da independência da Guiné-Bissau – estão cá há pelo menos 120 anos. Este druzo de 73 anos, natural da região de Baabda, no centro do Líbano e a 40 quilómetros de Beirute, sabe do que fala. Chegou à ex-Guiné Portuguesa em 1949, para trabalhar com o tio, de quem herdou a "Casa Mamud el Awar", loja que ainda hoje conserva o mesmo nome.

Hoje, o cônsul tem um registo de apenas 200 libaneses. Mas supõe-se que são muito mais, na maioria muçulmanos, xiitas. Discretos, por vezes, não hesitam em exibir as suas preferências políticas, como durante o recente conflito com Israel, em que o restaurante "Ali Baba", em Bissau ostentou um retrato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.

Os irmãos Mazeh, xiitas, instalados a partir dos anos 90, abriram a primeira fábrica de espuma da capital guineense, onde está o grosso dos libaneses. Mas ainda há um punhado de comerciantes nas regiões. É o caso de Abibe Fares, ex- colaborador do general Aoun, que vive em Bissorã, no Norte. Outro apoiante do líder cristão, Ghassam S. Makarem, um famoso jornalista, explora duas papelarias em Bissau.

As diferenças confessionais não impedem a comunidade de coabitar. Em Julho, cristãos e muçulmanos organizaram uma marcha de protesto contra a ofensiva israelita no sul do Líbano. Mas difícil é manter a associação local, que apenas funcionou um ano.(...)


(**) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)









Guiné > Zona Leste > Setor L6 (Pirada) > Paunca >  CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Cerimónia do Ramadão de 1970 em Paunca. Nesse ano o Ramadão começou a 31 de outubro e terminou a 30 de novembro.

Fotos: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)

1. Está a decorrer desde 29 de junho e vai  até 28 de julho, no mundo ilsâmico, a festa do Ramadão, o  nono mês do calendário muçulmano, durante  o qual os crentes praticam o seu jejum ritual,   um dos cinco pilares do Islão.

A palavra Ramadão vem do árabe "ramida", “ser ardente”,  palavra talvez associada ao facto de o Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano. Em termos simples, para um crente é um tempo cracterizado por : (i)  renovação da fé; (ii) prática mais intensa da caridade; (iii) vivência profunda da fraternidade; (iv) reforço  dos valores da vida familiar; (v) aior proximidade aos valores sagrados; (vi) leitura mais assídua do Alcorão; (vii)  freqüência da mesquita; (viii) correção pessoal e autodomínio.

No Alcorão, é  o único mês  que vem mencionado pelo nome. É o  mês em que foi revelado o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Durante a guerra colonial, os preceitos deste mês (e nomeadamente o jejum durante o dia)  era escrupulosamente respeitado pelos nossos soldados muçulmanos do recrutamente local, e pelas milícias, e muito possivelmente pelos guerrilheiros do PAIGC que eram islamizados (caso dos beafadas, mandingas, fulas, nalus, balantas manés...). Mas em geral os nossos graduados (a começar pelos oficiais) não tinham grande sensibilidade para o problema, e sobretudo para o potencial conflito entre a exigências da atividade operacional e as restrições alimentares impostas pelo  Ramadão.

Na CCAÇ 12, o jejum era respeitado, tanto quanto me lembro pelos nossos soldados. Ainda este ano, durante o Campeonato Mundial de Futebol, se levantou de novo a polémica sobre a religião e o futebol, a propósito da seleção nacional argelina de futebol, por causa da imposição do jejum durante o Ramadão, incompatível, em princípio, com a prática da alta competição desportiva.

2. Publicam-se em cima fotos do Ramadão de 1970,  em Paunca, na zona leste,, uma ceriomónia que era seguida à distância, com respeito e curiosidade, pelos militares portugueses metropolitanos.

As fotos são do Abilio Duarte [ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; bancário reformado). Foram enviadas em 12 do corrente com a seguinte nota:

(...) "Nesta época de Ramadão, junto te envio umas fotos que tirei em Paunca no Ramadão de 1970. Nestas cerimónias esteve presente um alto dignitário, e que,  segundo me disseram, viera da Mauritânia, e andou naquele períoao do, pelo Senegal e terras do Leste da Guiné, em actividade religiosa.

"Não te incomodo mais, e mais uma vez os meus agradecimentos pela existência do Blog."

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Nota do editior:

Último poste da série > 12 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13273: Efemérides (163): O 10 de junho de 2014 em Belém, Lisboa... Um dos fotógrafos da Tabanca Grande estava lá (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P13398: Notas de leitura (611): "Estados de Alma: cem sonetos de vida e amor", por Tomás Paquete (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
Tomás Paquete tem nas veias sangue guineense, cabo-verdiano e são-tomense, nado e criado em Lisboa, assumiu depois as suas origens africanas e partiu para a Guiné-Bissau.
Como funcionário das Nações Unidas tem corrido Seca e Meca e Olivais de Santarém, ásias, américas e áfricas.
A sua poesia não é rotulável, é quase académico, oscila entre o gosto popular e o romantismo desabrido. Uma poesia cosmopolita de quem calcorreou muito mundo e descobriu as âncoras do amor e as desvela, com alegria e exaltação.

Um abraço do
Mário


Estados de Alma: Cem sonetos de vida e amor

Beja Santos

Tomás Paquete apresenta-se como produto da multiculturalidade lusófona, filho de pai guineense, mãe cabo-verdiana e avô paterno são-tomense. Nasceu em Lisboa e passou a juventude entre a Amadora e a capital. Frequentou os liceus Pedro Nunes e Passos Manuel e as Oficinas de São José. Foi funcionário do Instituto Nacional de Estatística e partiu para a Guiné-Bissau depois de assumir as suas origens africanas, foi professor e depois diretor-adjunto do Internato Domingos Ramos, no Boé. Foi seguidamente produtor e chefe do departamento de produção da Rádio Nacional da Guiné-Bissau. Participou na primeira antologia poética da Guiné-Bissau, “Mantenhas para Quem Luta”, 1977, tem vasto currículo ao serviço das Nações Unidas.

“Estados de Alma” é o seu primeiro livro de poesia. Como prefacia António Soares Lopes Jr. (Tony Tcheka), este livro marca a rotura do poeta com o passado, este conteúdo de sonetos medularmente românticos nada tem a ver com a longa luta de libertação nacional, é uma extensa e avassaladora crónica de amor, escrito por vezes num ritmo febril, por vezes mais distenso, elegíaco, temente das perdas desses amores, lançando apelos confessionais, desculpando-se, sofrendo, vitoriando as coisas do amor.

Sempre 14 versos, sonetos que cuidam da rima, métrica rigorosa. Um português castigado, depurado, saltitando entre o gosto popular e o evanescente ultrarromantismo, sem tibiezas. Assim, um poeta raro, indiferente à escola, ao estilo castigado, ao pendor académico. Poesia de consagração, de concelebração, de cântico da dor, de promessa, de registo da mulher que transformou a existência do poeta, ode à sensualidade, pranto na hora da despedida, registo da angústia nos diferentes momentos da incerteza. Fala-se do amor mulato, dos tons mate, da sensaboria do amor vertigem, curtíssimo. Trata-se de uma longa crónica de amor e de alguém que buscou e encontrou um porto de abrigo, que faz confissões ao Tejo, que tem nostalgia das ruas de Lisboa, que lança promessas e que se despede com versos feitos vida, com esta delicadeza e esta intemporalidade:

Vieste num belo formato, nada pequenina,
lembra-me o galão do mata bicho, morena.
Pele delicada em porcelana, tal loiça da china,
que até o tocar-te, não vás partires-te, me dá pena.

Vestida ou não em roupa muito ou pouco fina,
tens sempre um porte real e a voz amena.
E ao teres sido assim pensada e criada, menina,
ao teu corpo só poderiam ter dado uma alma divina.

A água de dois rios famosos fizeram-te, soberana
e quantas esperanças desfeitas, de quem queria
ocultar a beleza, que é, do Nilo e Tejo, a predileta.

Se tudo em ti, é tão sublime, apesar de humana,
espero que percebas, que és a minha única moradia,
e que um dia, transformes os versos, na vida, deste poeta.

Tomás Paquete apresenta-se assim numa toada vibrante, a pulsão é mesmo a paixão ardente. Vale a pena regressar a Tony Tcheka e ao que ele pensa destes estados de alma: “Descortina-se por entre as palavras rimadas, eivadas de estética e ternura, uma musa inspiradora à qual o autor também dedica muitos dos textos escritos num hiato de dois anos. Outros motivos vão aparecendo à medida que a esteira de sentimentos se alarga e abrange outros espaços físicos e geográficos. Ainda quando fala de lagos, rios e montanhas que foi conhecendo por esse mundo fora, é o amor sublime aos cantos”. Ingénuo nesta sua vivacidade de contar, atento à melodia dos sons, este seu livro é a exaltação pelo amor descoberto, nada mais que a vida e o amor se atravessam nesta poesia simples e calorosa.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13389: Notas de leitura (610): "Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no Século XIX", por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13397: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (26): O Honório que eu conheci em Angola e em Cabo Verde (Albertino da Silva, West Palm Beach, Florida, USA, antigo piloto dos TACV, em 1979/80)

1. Mensagem do nosso leitor, residente em WestPalm Beach, Florida, EUA, Albertino Dasilva

Data: 13 de Julho de 2014 às 07:14

Assunto: O Piloto Honorio...

Hoje li um boletim no www.barrosbrito.com, acerca do Piloto Honório [Brito da Costa, nascido na Praia, Cabo Verde, em 28/8/1941; foto à direita, cortesia da página do da família Barros Brito ](*).

O Honório era mulato. Filho de um advogado preto de Cabo Verde. A sua mãe era branca, não sei se nascida na cidade da Praia.

Eu conheci a mãe do Honório.

Eu fui Piloto dos TACV [, Transportes Aéreos de Cabo Verde,] cerca de dois anos (em 1979 e1980). Eu tenho agora 68 anos. Vim de Angola e foi em Luanda que conheci o Honório quando ele saiu da Força Aérea. O Honório fez pulverização aérea nas fazendas de Malange... e depois trabalhou nos Táxis Aéreos em Luanda até à  Independência; tendo regressado a Cabo Verde com medo do MPLA.

Quando chegou a Cabo Verde, o Governo inicial da Independência que tinha um ramo associado aos cubanos, mandou prender o Honório. Pois era um Governo do PAIGC contra o qual o Honório bombardeou na Guiné.

Depois de largos meses na prisão, a sua mãe que por acaso era amiga do Presidente Aristides Pereira (PAIGC),  lá conseguiu que o Honório fosse libertado e depois de uma recuperação de longos meses ele foi admitido nos TACV.

O piloto Alexandre Pina Ferreira, que foi colega do Honório na Força Aérea (neste caso,  em Angola) deu-lhe a mão e ajudou o Honório a entrar na companhia.

Em Luanda éramos todos amigos e sempre prontos aos copos... lá no Baleizão... e uns valentes churrascos com bom vinho e cerveja,  não esquecendo as mulatas bonitas que por lá andavam...
Pois eu também era piloto em Angola e o Alexandre Ferreira também me chamou para trabalhar nos TACV, onde estive 2 anos.

Depois disso vim para os EUA e aqui estou há 32 anos, agora reformado na Flórida.

Tenho um filho (Paulo da Silva) que agora voa nos 777 da US Airways (International).

Soube que o Honório teria morrido antes de 1990. E também o Alexandre Ferreira se passou [...].

Claro que o Honório ainda era meio maluco lá na cidade da Praia. Eu fui co-piloto de alguns voos onde ele era comandante. Confesso que não era nada fácil entendê-lo [...].

Na Praia, quando eu lá estive, assisti a várias palhaçadas...
O Honorio tinha um cão Pastor Alemão... como ele se esquecia de dar comida ao cão, o bicho ia definhando lentamente... E um dia o cão morreu mesmo. O Honório sai-se com esta: 
- Então agora que ele se habituou a não comer é que morre ?!... Tenho que treinar outro cão...

Havia muitas histórias do Honorio lá na Praia.

Ele tinha um feitio que não se explica muito bem... Foi o único filho e muito mimado. Depois deixou Cabo Verde para ir para a Escola Agrícola. Como sabemos, la há bom vinho e presunto... Pois também se contam muitas histórias da sua estadia lá em Santarém...

Pois se esta informação pode ser acrescentada lá na sua página,  pode elucidar alguma gente do tempo da guerra. Mas não ponha lá esta história toda...

Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

domingo, 13 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13396: Ser solidário (161): Uma assinatura pode fazer uma grande diferença - Assinem a petição "Emissão da RDP África no Porto"


Mensagem de Liliana Granja com data de 9 de Julho de 2014

Assunto: RDP África | Uma assinatura pode fazer uma grande diferença!

Boa tarde,
Conforme será de vosso conhecimento, a emissão da rádio RDP África foi transmitida em Portugal durante muito tempo apenas em Lisboa, passando depois a ser ouvida em Faro e em Coimbra. Infelizmente, e incompreensivelmente, a emissão não foi ainda alargada ao Grande Porto. Nesse sentido, foi criada a petição «Emissão da RDP África no Porto» e o caminho que está a ser traçado é a recolha de assinaturas.

Neste momento, mais de 400 pessoas já assinaram a petição "Emissão da RDP África no Porto"!
A quem já assinou a petição, o nosso MUITO OBRIGADO!
A quem ainda não assinou... pode fazê-lo aqui agora mesmo! Não custa, nem demora nada... é só uma assinatura, que pode fazer uma grande diferença!

O próximo passo é DIVULGAR!!! Só com a ajuda de todos será possível e pedimos o favor de divulgarem entre os vossos contactos, para conseguirmos atingir as tão ambicionadas MIL assinaturas!

As pessoas que não tenham BI ou Cartão de Cidadão podem colocar o Passaporte. Foi criado este campo especial para que as pessoas dos PALOP não fiquem impossibilitadas de assinar.

Gostaríamos também de informar que estamos a efectuar a recolha de assinaturas em formato papel. Caso pretendam algum esclarecimento ou desejem partilhar alguma sugestão/opinião, pedimos o favor de nos contactar através do email granjap@gmail.com.

Em breve contamos trazer-vos boas novas sobre este assunto!
Até lá... por favor DIVULGUEM!

Juntos, levaremos a RDP África a bom Porto!

Link directo para a petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT73372
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13270: Ser solidário (160): Petição: Parem imediatamente o tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau!... (Patrício Ribeiro / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)

1. Mensagem do nosso camarada José Zeferino [, ex-alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74; foto à esquerda],  com data de hoje:

Ainda o Jamil (*)

Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.

Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra,  foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.

O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?

O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.

Abraços para todos

José A.S. Zeferino

2. Comentários do editor L.G. (*):


 A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir  reproduzir.

Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...

Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...


[Foto à direita: Paulo Santiago, Pombal, 2007; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]


Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .

Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!

Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...

Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.

O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.

Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp
Joaquim Mexia Alves, da CART 3492
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves  [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui  reproduzido com a devida vénia (**)

Recordações da memória – o Jamil

por Joaquim Mexia Alves 

[, à esquerda uma  rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves;   cortesia do autor] (**)

Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.

Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.

Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.

Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!

O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.

A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.

Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!

Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!

É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de 
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a 
outras histórias com ele.(***)

Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]

[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
 ________________

Notas do editor:


(**) Vd. blogue Tabanca do Cnetro >  10 de Julho de 2012 > Recordações da memória – o Jamil [, por Joaquim Mexia Alves]

Guiné 63/74 - P13394: Memória dos lugares (270): Bafatá: o Sporting Club Bafatá, a piscina, o mercado, a Casa Gouveia, a estátua de Oliveira Muzanty... (Fotos de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Sede do Sporting Club Bafatá


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Mercado (1)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Mercado (2)



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina  (1)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina (2)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque  da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty e ao fundo a Casa Gouveia


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Parque  da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty, junbto ao Rio Geba


Fotos do álbum de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp,  Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).


Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13332: Memória dos lugares (269): Bissorã, Casa Gardete, do dr. Manuel Gardete Correia (1928-2009), autoridade mundial no combate à doença do sono, a única casa de pedra e tijolo da vila, construída por seu pai José Gardete Correia, comerciante, natural de Rosmaninhal, Idanha-a-Nova (Armando Pires / Fernando Cristo)

Guiné 63/74 - P13393: Parabéns a você (762): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)

sábado, 12 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952

.


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Edução: LG]




Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Manuscrito(s) (Luís Graça)

Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte VII (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo,  utilliza
igualmente o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).

Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo antropólogo Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.

Ironia da história (ou talvez não, os “vencedores”, em todas as guerras, ficam sempre com os melhores despojos…): “o melhor edifício” de Bissau, na opinião qualificada da nossa cicerone e especialista em arquitetura colonial estadonovista,. Ana Vaz Milheiro, é(era) a sede da nossa conhecida Associação Comercial. Industrial e Agrícola da Guiné, junto ao palácio do governador...

O propjeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves, e a remonta a 1959-1953. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974,a sede da Associação Comercial  passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou sejas. dos novos senhores do território, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.

Mas quem era Jorge Chaves ? Um jovem (e ainda relativamente pouco conhecido) arquiteto de Lisboa que não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial. Nasceu em 1920 e morreu em 1981. Seu nome completo: Jorge Ribeiro Ferreira Chaves

 (…) “Activo profissionalmente entre 1941 e 1981, é considerado um dos mais perfeccionistas arquitectos portugueses.

Realiza, em atelier próprio, desde 1946, várias dezenas de projectos, para Portugal continental, Madeira, Guiné e Angola, dos quais se destacam a Pastelaria Mexicana, a loja Palissi Galvani, os Laboratórios Cannobio, um edifício de habitação na Rua Ilha do Príncipe e o Hotel Florida, em Lisboa, o Hotel Garbe, o Hotel da Baleeira e o Hotel Globo, no Algarve, a Câmara de Comércio de Bissau e a Caixa Geral de Depósitos de S. Pedro do Sul.” (..)
(Fonte: Jorge Ferreira Chaves, Wikipédia)

Nascido em Cabo Verde, Jorge Chaves fixou-se definitivamente em Lisboa a partir de 1931.  Mas deixemos à Ana Vaz Milheiro a apresentação do edício:

(…) “O projeto é escolhido em concurso lançado em Lisboa, no Porto e em Bissau, em 1949. O representante do Sindicato Nacional dos Arquitectos no júri é então João Simões, arquitecto experimentado em projetos para os Trópicos. De estrutura pavilhonar, em L, o edifício do PAIGC introduz uma qualidade de desenho que será difícil igualar em outros momentos da cultura arquitectónica luso-guineense. No interior o programa de decoração deve ter contado com a colaboração de Luís Possolo, arquitecto do Gabinete, ainda que treinado na Architectural Association, em Londres, No início dos anos cinquenta, a resposta portuguesa a uma arquitectura tropical encontra aqui, portanto, a sua melhor expressão” (p. 26).

Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que nós deixámos em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.

Jorge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.

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Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13379: Parabéns a você (760): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13390: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XV: Encontro do sold cond auto João Bento Guilherme com a morte em Lamel, em 14/12/1970... Era natural de Almeirim e pertencia à CCS//BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) (Armando Mota, ex-alf mil, 1º pelotão)


















1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XV (Armando Mota, alf mil at inf, 1º pelotão):

Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).(*)

Desta vez vamos publicar mais 1 das histórias, contadas pelo ex-alf mil Armando Mota, do 1º pelotão: (i)  o encontro do sold cond auto Guilherme com a morte em Lamel (pp. 65/67). (**)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13371: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIV: (i) a queda granada da bazuca; (ii) samba em Lisboa; e (iii) a caçada dos passarinhos (Armando Mota, ex-alf mil at inf, 1º pelotão)

(**) Segundo a preciosa informação constante das listagens,  por concelho, nos mortos no Ultramar,  e disponinbilizadas pelo portal UItramar Terraweb, o nosso infortunado camarada João Bento Guilherme, era natural de Fazendas de Almeirim, freguesia do concelho de Almeirim onde repousa em paz.

Guiné 63/74 - P13389: Notas de leitura (610): "Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no Século XIX", por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
Asseguro-vos que a leitura desta obra vos irá surpreender, os nomes sonantes dos exploradores portugueses, que irão depois alcançar o estatuto de heróis, vão aparecer nestas páginas a viajar até às faustosas capitais dos poderosos reinos africanos. Exploradores que são envolvidos numa teia de exigências, caprichos régios e intrigas palacianas.
É um livro original, escrito como um romance de aventuras, desvela relatos empolgantes de viagens que são hoje uma janela sobre o mundo desaparecido. Viagens que preludiaram a partilha de África pelas potências europeias e que atravessaram, para o melhor e para o pior, o sistema político liberal, a I República e o Estado Novo.
Lê-se este livro e tem-se a noção exata como o Império era um gigante com pés de barro.

Um abraço do
Mário


Exploradores portugueses e reis africanos: Um documento assombroso sobre viagens em África no século XIX

Beja Santos

“Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no século XIX”, por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde, A Esfera dos Livros, 2013, é o que se chama uma lança em África, é original, arrebatador, são histórias muito bem contadas, um thriller dos sertões, páginas desconhecidas ou esquecidas de um período febril das nossas incursões de Angola à contracosta. Logo no prólogo percebemos que temos uma gloriosa empreitada pela frente: “Este é um livro sobre África, a história da exploração de África e um conjunto de portugueses que no século XIX entraram por esse continente dentro e nos deixaram testemunhos do que aí encontraram, descobriram e viveram. São eles António Gamito, Joaquim Rodrigues Graça, António da Silva Porto, Alexandre de Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique Carvalho. Alguns ainda hoje perduram na memória coletiva, outros estão votados a um cada vez maior esquecimento (…) Algures entre a Antropologia, a Literatura de Viagem e a História, é um livro para pessoas que, como nós movidas por uma curiosidade adolescente, folheiam todo o relato de exploração que encontram e sentem verdadeiro prazer em ler alguns deles. Têm aqui particular destaque os fascinantes e intensos encontros que os exploradores tiveram com os sobranos dos três maiores impérios centro-sul-africanos desse tempo: a Lunda, o Cazembe e o Barotze. Noéji, Sekeletu, Lobossi, Xa Madiamba, não são certamente nomes conhecidos do leitor comum, mas encarnavam o supremo estatuto que uma sociedade pode conferir a um dos seus membros, o de ser um rei sagrado (…) A importância destes homens advém, não da fama que gozaram em vida, mas dos textos em que relataram as suas viagens e experiências e que nos oferecem uma janela que nos dá a ver uma África e um modo de encontro entre africanos e europeus que o tempo há muito fez desaparecer”.

É inegavelmente uma época de explorações emocionantes, como os autores igualmente recordam: “Em meados de Oitocentos, a zona central dos mapas de África era um enorme espaço em branco. Cinquenta anos depois, estava preenchida nos seus traços principais. Em breve, por força de uma súbita e feroz competição imperial, sobrepor-se-iam às linhas da geografia as fronteiras políticas das novas colónias europeias”. É esta a África misteriosa e palustre (malária, disenteria, febre…) que atrai homens ousados e audazes com diferentes preparações e graus de conhecimento. Alguns deles vão morrer durante a exploração, outros terão a temeridade de ir vencendo os obstáculos, conseguirão revelar África e surpreender vastos auditórios. Oiçamos os autores: “A fama de alguns deles – David Livingstone, Richard Burton, John Speke, Verney Cameron, Henry Stanley, Pierre de Brazza e alguns portugueses de que este livro se ocupa – tornou-se maior do que as suas vidas, por intensas que estas possam ter sido. A nova geração de exploradores africanos beneficiava do conhecimento dos erros cometidos pelos seus antecessores e assim entraram em África com meios de defesa suficientes para garantir a segurança das pessoas e dos muitos bens que transportavam para pagar os custos de manter alimentada a expedição e os direitos de passagem, por vezes exorbitantes, exigidos por todo o pequeno, médio e grande chefe e soberano africano. Beneficiavam também de meios técnicos e humanos por vezes impressionantes. Stanley transportou um barco desmontável da costa oriental até ao Lualaba, no centro do continente, Livingstone fez o mesmo na sua expedição ao Zambeze; e algumas expedições partiam da costa com 300 ou 400 carregadores e, até onde isso era possível, com dezenas de bestas de carga. Por último, e talvez mais fundamentalmente, beneficiavam de recentes descobertas da medicina que, entre outras coisas, havia criado o primeiro profilático da malária, a mais mortal das doenças africanas”.

É escusado insistir na tecla de que este livro é empolgante do princípio ao fim, quem já leu As Minas de Salomão e os romances de Emílio Salgari irá sorver estas expedições perigosas onde se envolviam também sertanejos e ambaquistas, reis déspotas e cruéis, será confrontado com choques de civilizações, descrições que hoje nos arrepiam os cabelos, mas dentro do quadro oitocentista de valores, um exemplo em Capelo e Ivens: “O negro típico tem basta carapinha, espessa como a lã, raras vezes barba ou bigode, é de baixa estatura, tem a fronte deprimida, proeminente o occiput, bem como as queixadas e arcadas zigomáticas, adiantando-se-lhe do mesmo modo que nos quadrúpedes glutões, a boca, guarnecida de largos e grossos lábios”. Os autores deixam outra advertência que tornam a leitura ainda mais estimulante: “A faixa do continente atravessada pelas explorações de que este livro trata é sob todos os pontos de vista – geográfico, climático, linguístico, cultural – imensamente diversa. Do extremo Norte até ao extremo Sul, as florestas tropicais tornam-se gradualmente em savanas húmidas e cada vez mais secas que se transformam em extensas zonas desérticas. Hidrograficamente é dominada pelas bacias do Congo e do Zambeze que correm em direção ao Atlântico e ao Índico. A maioria da sua população era de raiz banta (…) Nesta faixa, a maioria das sociedades tinha sistemas políticos de média escala, organizados a partir de princípios de parentesco linhageiros e de relações clientelares em que a integração dos grupos era situacional. Mas havia também pequenos bandos politicamente acéfalos de caçadores-recolectores que sobreviviam em termos igualitários e desde tempos imemoriais em limites extremos de subsistência. E, por fim, impérios, governados por aristocracias e soberanos despóticos e que estendiam o seu domínio por enormes áreas”.

Todos estes exploradores portugueses caminhavam para as capitais e cortes dos principais impérios centro-africanos do século XIX, e os autores precisam: “António Gamito alcançou o Cazembe em 1831. Silva Porto, o europeu que porventura melhor conhecia os caminhos dessas regiões de África, esteve várias vezes no Barotze, então sob o domínio dos invasores Macocolos, e em várias zonas do império lunda, cuja capital foi visitada por Rodrigues Graça e Henrique de Carvalho. Serpa Pinto, na sua travessia de Benguela a Durban, foi também de encontro ao Barotze”.

O rei português era conhecido por estes povos como o “imão” Muene Puto, irmão que será sempre invocado para a diplomacia e para o comércio. Prepare-se pois o leitor para expedições onde se passará fome e sede, se viverá o terror, a doença, o deslumbramento da paisagem, serão referidas páginas de diário, algumas delas de inegável beleza e outras de confrangimento extremo; há relatos de esplendor e terror, encontros memoráveis como o de Silva Porto com Livingstone, que dará pasto para enormes controvérsias, falamos do mesmo Silva Porto que se suicidou em 1890, envolto na bandeira de Portugal sobre um barril de pólvora, ao ver ruir o mundo dos sertanejos com a chegada dos britânicos, que tinham imposto o ultimato. Este livro é um filme onde também contracenarão figuras como Serpa Pinto e Henrique de Carvalho.

Leitura indispensável para se perceber como o império português tinha pés de barro, que naquele século XIX provocou furor e esperança mas que rapidamente desiludiu as promessas de futuros de abundância, até que um dia se extinguiu, de forma condizente com o que sempre fora.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13372: Notas de leitura (609): "Às 5 da tarde", por António Loja (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13388: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (86): A banda musical portuguesa Melech Mechaya de novo em terras escandinavas, Finlândia e Suécia (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)


Suécia, Urkult. Cortesia de José Belo. Fonte:  Laplandkeywest.blogspot.com/

1. O Zé Belo (Joseph, para os "vikings"), grande régulo da Tabanca da Lapónia, o "tuga" que vive entre Kiruna (a 140 e tal km do círculo polar ártico) e Key West, na Flórida, EUA, mandou-nos um mail para a caixa do correio da Tabanca Grande, dando conta da passagem, por terras do norte da Europa, da banda portuguesa Melech Mechaya, de que faz parte o nosso grã-tabanqueiro João Graça.

O lusolapão José Belo...
Joseph Belo
11 jul 2014 19:46

Assunto - Os Melech Mechaya por terras escandinavas

O grupo teve bastante êxito, tanto artístico como pessoal, junto dos finlandeses e suecos no ano passado.

Os nossos Camaradas e Amigos da Tabanca Grande podem sentir orgulho nestes jovens de uma nova geraçäo, cheia de criatividade. Um deles, o João Graça, é membro de pleno direito do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, pelo seu trabalho como médico (voluntário) na Guiné-Bissau, em finais de 2009.

Nós, os "antigos", temos por vezes demasiada facilidade em criticar aqueles que representam o presente, e não menos o futuro.

O meu convívio (aqui) com estes portugueses, no ano passado, depois de um "assuecamento" de quase 40 anos, fez-me sentir orgulho neles.

Um abraço do José Belo.

[ Recorde-se: o José Belo foi alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref,   é  jurista,  vive Suécia há 4 décadas, e onde formou família; tem um blogue, Lapland - Key West].

 2. Comentário de L.G.:

Zé, mais uma vez obrigado pelo acolhimento que fizeste aos rapazes da banda Melech Mechaya, em 2013 e pela  divulgação que acabas de fazer, no teu blogue, sobre a sua presença de novo em terras escandinavas este ano.

Os Melech Mechaya estiveram, de facto, na Finlândia, nos dias 10 e 11 do corrente, e vão estar de novo na tua terra de adoção, em agosto. mais exatamente no festival de Urkult, a 2 de agosto (e não 4...). [Ver aqui a página da banda e também a sua página no Facebook ].  Não sei se nessa altura será possível vocês reencontrarem-se.

De qualquer modo, quero que saibas que eles estão também orgulhosos de ti. Por parte do João Graça, é caso para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande...

Um abraço fraterno, daqui, da ponta mais ocidental da velha Europa...
Luís
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de junho de  2014 > Guiné 63/74 - P13256: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (85): Manuel Mendes, o "Lisboa", o "soldado 29", do 3º pelotão, reencontra finalmente, meio século depois, os seus camaradas da CCAÇ 728 (Catió, Cachil, Bedanda e Bissau, 1964/66), graças aos esforços da sua nora Samdra Moutinho e do nosso blogue... Esteve ontem no convívio anual, em Fernão Ferro, dos "Palmeirins de Catíó"

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13387: Blogoterapia (254): Nos encontros da malta, no meu tempo, no CTIG, ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421, Mansabá, 1965/67)

1. Mensagem de Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio]

Data: 3 de Julho de 2014 às 23:59

Assunto: Execuções

Boa noite, Luís:


Execuções sumárias!,,, Não me fez dar um salto, mas fez-me mexer !

Até 1967 a comunicação entre militares na Guiné era feita de duas maneiras:

(i) o bate estradas, atrasados na própria unidade quando eram enviados para SPM da Guiné;

(ii) encontro de militares

Esses encontros davam-se:

(i) quando faziam operações em conjunto;

(ii) quando faziam limpezas a estradas até se encontrarem;

(iii) e os que iam a Bissau.

Nestes encontros ouvi milhentas histórias, onde tudo era possível, não havia limites para a imaginação.

Eu sempre fui um tipo de tabanca! Sempre falei muito com gentes da tabanca, gentes antes da guerra. Incluindo o Mamadu Seidi.

Eles falavam, mas falavam com medo, notava-se, o medo imperava, era muito difícil conseguir a plena confiança de alguém, até por uma razão, muitos eram refugiados naquela tabanca, a tabanca deles era outra. E diziam que, quando as tabancas se revoltaram, e apareceu a tropa e policias, que se derramou muito sangue !

Mais tarde oiço aos Águias Negras [, CART 1525, Bissorã, 1965/67] que tinham feito o caminho que eu voltei a fazer mais do que uma vez, que tinha havido muito sangue.

Saíamos em operação a uma determinada área que estava, estavam todas cheias de população, havia uns tiros, a metralha disparava, quantos inocentes ficavam naquelas tabancas ? Execuções sumárias ? Não, não, eram execuções sumárias, no sentido exato da palavra, mas...

Eu ter pleno conhecimento de alguém, pura e simplesmente, abater uma pessoa, com convicção,,, não, não tenho, nem sei bem como foi. Mas sei que foram abatidos guias prisioneiros, por comandos que foram heróis nacionais, antes e depois, e que já morreram o que para mim ainda é mais penoso falar.

Havia aqui na minha região uns fulanos de 61, 62 e 63, mas não os encontrei, melhor encontrei uns fuzileiros de 62, mas sabem muito pouco ou não querem falar.

Claro que eu não lhe falei nas execuções, mas tentei que eles me falassem da época deles, época antes da minha !
Luís, não respondi, como pedias, mas eu não podia deixar de dizer duas palavras sobre o assunto, sem falar nos milhares e milhares de tiros que foram dados naquele OIO, com tanta população no meio.

E aqui ponho em duvida se o próprio IN estava organizado para não apanhar os seus, eu penso que não !

Só quem entrou numa dessas tabancas com tiros de todos os lados e morteiradas caindo, caindo, gente fugindo em todas as direções com animais à mistura!...

São cenas loucas de uma tragédia sem limites, só comparada a outra igual e que infelizmente continuam a realizarem-se por esse mundo fora, nos dias de hoje, com a mesma tragédia dantesca, imaginável !

Um grande abraço

Ernesto Duarte
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Nota do editor:

´Último poste da série > 1 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)