quarta-feira, 2 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13357: (Ex)citações (235): A 'Máfrica' (EPI, Mafra) dos nossos verdes anos (Vasco Pires, camarada da diáspora lusitana no Brasil; ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Comentário do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) (*)


Sim, a metáfora é minha, aliás, a citação.

Vamos lá, então, explicar para os mais apressados.

Muitos de nós - inclusive eu - vínhamos da Academia Coimbrã, em um momento de "clivagem", na segunda metade da década de 60 do século passado.

Mafra: Convento... Fonte desconhecida
Só para relembrar: Barricadas de Paris, De Gaulle  voa para Baden-Baden para se encontrar com Massu, Guerra do Vietname, Universidade de Kent 70...

Então, "Máfrica" exprimia a reação,  de jovens inocentes e provincianos que se julgavam na vanguarda da modernidade e pensavam que iam mudar o mundo, à disciplina militar, reforçada, por ser num curso acelerado [, o COM].(**)



No meu caso, o impacto foi "amortecido", pois dormia e comia fora do quartel [, EPI].

Quanto a juízos de valor, nada tenho contra quem os faz, todavia, eu  procuro não fazê-los. (***)

forte abraço a todos
Vasco Pires
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13355: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): IV (e última) Parte: A Máfricacomo "instituição totalitária", no sentido sociológico forte do termo...

(**) Vd. também:

1 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12662: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (15): Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes (Vasco Pires)


...(...) O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha... E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". 

Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes. (...)



16 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' 

(...) Meu avô materno era filho de comerciante, e como seus irmãos emigrou para o Brasil, e ao contrário deles voltou a Portugal, no fim da primeira década do século XX, casou com uma professora, que era duma família profundamente ultramontana, originaria da Madeira.

A minha infância e adolescência foi passada em escolas da região, seguida de uma passagem de cinco anos pela efervescente cena Coimbrã da segunda metade da década de 60.

Em 69, saí desse "borbulhar" de novas ideias e atitudes, para a disciplina EPI na "Máfrica" de tantos de nós. Logo começou a minha boa sorte, de ter camaradas, subordinados e superiores que me ajudaram nesta caminhada de três anos pelos quartéis de Portugal e África.

Nesta caminhada de soldado-cadete, apareceu o Raul, que era da Mealhada, professor, com família constituida, e lá rumávamos todo Domingo para Mafra. O Raul era um gordo bem humorado, que fazia todos os exercícios como qualquer atleta, mas comer do rancho já era pedir muito, logo tratou de desarranchar e alugar apartamento, e lá fui eu "no vácuo". E assim foi-se amortecendo o choque da irreverência da Academia Coimbrã, com a disciplina do quartel.

Onde quer que estejas, Raul, o meu muito obrigado! (...) 


Guiné 63/74 - P13356: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (44): uma seleção de fotos do Jorge Canhão...



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mais uma foto de família.O encontro juntou 145 participantes. E o próximo, o 10º, já está marcado para 18/4/2015.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Uma aspeto parcial da esplanada, antes dos aperitivos. Devido ao calor, os aperitivos foram servidos no interior.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Aspeto parcial da sala onde se tomaram os aperitivos.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Ao centro, Jorge Picado (Ílçhavo) e  o J. Casimiro Carvalho (Maia)... À esquerda, o David Guimarães (Espinho).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Em primeiro plano, o Fernando Súcio (Vila Real) que se fartou de tirar fotos mas não mandou nenhuma para a organização...


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O J. Casimiro Carvalho e o Alexandre Coutinho e Lima


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > As "nossas caras lindas"; da direita para a esquerda, a Giselda, a Maria de Lurdes (esposa do fotógrafo), a Gina e Lígia (de costas)



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > A comissão organizadora: da esquerda para a direita, J. Mexia Alves, Carlos Vinhal, Luís Graça e Miguel Pessoa.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Aspeto parcial de alçgumas meses na sala de almoço


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Um aspeto parcial do almoço, com o Joaquim Peixoto (Penafiel), em primeiro plano, de perfil

I
IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O J. Casimiro Carvalho (Maia) e o Agostinho Gaspar (Leiria), mais um outro camarada, de pé,. ao meio, que não sei identificar


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O "régulo" da Magnífica Tabanca da Linha, Jorge Rosales, e o seu "secrtário geral", Zé Manel Dinis.. Dois grã-tabanqueiros de Cascais...


Fotos: © Jorge Canhão (2014). Todos os direitos reservados. {[Edição e legendagem: LG]
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Guiné 63/74 - P13355: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): IV (e última) Parte: A Máfrica como "total institution", no sentido sociológico forte do termo...


Capa da brochura, s/d, usada no COM - Curso de Oficiais Milicianos, ministrado na EPI - Escola Prática de Infantaria, Mafra (ou a Máfrica, como lhe chama o Vasco Pires, nosso camarada da diáspora lusitana no Brasil), 


Planta do EPI, Mafra





EPI - Salas de aula
































Reprodução da quarta (e última) parte do guia do instruendo do COM (Curso de Oficiais Milicianos), usado na EPI - Escola Prática de Infantaria, em Mafra (*):  Informações úteis para o instruendo (Correio, telefone, sslas recreativas, cantinas, barbearias, farmácias, parques de estacionamento, retificação de documentos, datas de casamentos, talhes de barba e cabelo...).

Imagens: © Mário Vasconcelos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. O documento original, sem data, chegou-nos, devidamente digitalizado, por mão do nosso camarada Mário Vasconcelos [ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72. Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à esquerda].

Recorde-se que já publicámos o guia do instruendo do CSM - Curso de Sargentos Milicianos, documento que nos chegou por mão da parelha Fernando Hipólito / César Dias, e que é claramente mais "ideológico" do que o guia que estamos agora a publicar. Comparando os dois guias, há claramente um tratamento mais "classista", de maior deferência, em relação ao instruendo do COM, futuro "oficial e cavalheiro".

Não encontro este documento na Biblioteca do Exército.

Estas "indicações" ( e não "instruções") dadas aos instruendos dos COM remetem, por sua vez, para o Regulamento Geral de Instrução do Exército (RGIE).

2. De qualquer, a grande escola de cadetes e fábrica de oficiais  que depois seguiam para os teatros de operações do ultramar, a grande 'MÁFRICA' (, a expressão é do nosso grã-tabanqueiro Vasco Pires), que terá formado dezenas e dezenas de milhares de oficiais subalternos e comandantes operacionais, era, como em qualquer parte do mundo, uma verdadeira "instituição totalitária" ("total institution") no sentido forte, sociológico, do termo.

Se não,  vejamos alguns traços comuns às instituições e organizações a que poderíamos aplicar a tipologia desenvolvida, e,m 1961, pelo sociólogo americano Erving Goffman (Asyluns: essays on the social situation of mental patients and otther inmates. New York: Anchor, 1961).

(i) Este tipo de institituições  são organizações "muralhadas",  fechadas, com "barreiras" delimitando claramente as trocas ou transações com o exterior, tanto ao nível das entradas no sistema  (inputs) como das saídas (outputs);

 (ii)  como em qualquer estabelecimento militar (mas também prisional, conventual, hospitalar psiquiátrico...), essas barreiras tanto são físicas (sob a forma de muros altos, arame farpado, áreas minadas, portões, janelas gradeadas, portarias, guichés ou balcões de atendimento, pessoal e sistemas mais ou menos sofisticados de vigilância e protecção, áreas de acesso interditas ao público, etc.; como a própria arquitectura dos edifícios, marcada por uma grande volumetria ou monumentalidade, mais evidente ainda em Mafra, já que o  EPI está instalado num antigo convento);   como são  barreiras imateriais, culturais ou simbólicas (logótipos, regulamentos, valores, práticas, ritos, vestuário, normas de acesso, códigos linguísticos, sistemas de sinalização, etc.).;

(iii) tais barreiras servem fundamentalmente para demarcar as fronteiras do sistema de acção interno e definir a identidade organizacional (por ex., o soldado fardado e armado junto a uma barreira de arame farpado, as formaturas, as divisas e galões, os toques de clarim);

(iv) os instruendos (neste caso...)  estão colocados sob uma única e mesma autoridade (o comandante da EPI);

 (v) comem, dormem e trabalham sob o mesmo teto;

(vi) cada fase da atividade quotidiana desenrola-se, para cada instruendo, , numa relação de grande promiscuidade com um elevado número de outros instruendos, submetidos às mesmas regras, procedimentos, deveres e obrigações;

(vii)  todos os períodos de atividade são regulados segundo um programa estrito, isto é, todas as tarefas estão "encadeadas", obedecem a um plano imposto "de cima" por um sistema explícito de normas e regulamentos cuja aplicação é assegurada pelo pessoal militar (de instrução e de apoio), fortemente hierarquizado (oficiais, sargentos e praças); e, por último,

(viii)  as diferentes atividades assim impostas são por fim reagrupadas segundo um plano único e racional,concebido expressamente para responder ao fim ou missão oficial da instituição (, formação militar, humana, técnica e operacional de oficias subalternos em tempo de guerra).

O traço essencial destas instituições, como a MÁFRICA, é a aplicação ao indivíduo dum tratamento coletivo (e, nalguns casos, coercivo) de acordo com um sistema burocrático que cuida de todas as suas necessidades. Daí decorrem alguns consequências importantes, segundo a sociologia da "total institution":

(ix) A tarefa principal dos profissionais (pessoal dirigente e de enquadramento) não é tanto a de dirigir, controlar, ou supervisionar o trabalho, como numa empresa, como sobretudo a de vigiar e punir toda a infracção às regras, todo o comportamento desviante (, isto é mais evidente nas instituições ligadas á justiça, à reinserção social, e  até `á saúde mental - caso dos manicómios, no séc. XX e primeira metade do séc. XX);

(x) Há um fosso intransponível entre o número restrito de dirigentes e de pessoal de enquadramento (instrtutores, neste caso) e a massa de indivíduos dirigidos lou em formação (instruendos);

(xi) Os instruendos são forçados a viver no interior do estabelecimento, por períodos variáveis  (entre 3 a 6 meses),  mantendo com o mundo exterior contactos limitados, enquanto os profissionais continuam , entretanto, oficialmente integrados nesse mundo exterior (têm as suas famílias e as suas casas,  as suas relações sociais, os seus hobbies, etc., no exterior, na comunidade, "lá fora");

(xii) Cada grupo tende a ter  uma imagem estereotipada (e muitas vezes negativa e até hostil) um do outro: para o instrutor, o instruendo  é, incialmente,  visto como um simples mancebo, um ser virado sobre si mesmo, egocêntrico, infantil, reivindicativo, efeminado, mole, cobarde, muitas vezes agressivo, mentiroso, desleal e ingrato; para o instruendo, o instrutor  começa por ser visto  um ser poderoso e muitas vezes prepopente e até tirânico; em todo o caso, quase sempre distante, frio, mesquinho e desumano;

(xiii) Os contactos entre os dois grupos são restritos: a própria instituição impõe a distância espacial e temporal entre eles; mesmo quando certas relações são inevitáveis (a interação na instrução); há barreiras selectivas (as regras da hierarquia militar,  baseadas da unidade comando controlo); há segregaçºão socioespacial (messe de oficiais, messe de sargentos, refeitório de praças);

(xiv) Os instruendos são mantidos sistematicamente na ignorância das decisões que lhe dizem respeito, quer os motivos alegados sejam de ordem militar, legal, administrativa, disciplinar, penal; por outro lado,. nem têm qualquer poder reivindicativo, dada a sua situação de total subordinação e a sua sujeição ao regulamento de disciplina militar;

(xv) A instituição no sentido lato do termo (edifícios, instalações, equipamentos, recursos técnicos, humanos e financeiros, razão social, história, políticas, nome, logotipo, etc.), é vista, tanto por uns como por outros, como ‘propriedade’ dos dirigentes (comandante, instrutores, pessoal de apoio), sendo o pobre do instruendo visto, condescendentemente, quando muito um ‘hóspede’; não há visitas e as saídas (tal como as entradas) são estritamente regulamentadas e controladas em função da lógica do processo de instrução militar, não das necessidades, expectativas ou preferências do instruendo (ou da sua família); como "hóspede" que é, a ele aplica-se o provérbioi popular: "O peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem", isto é, cheira mal:

(xvi) A relação de trabalho (nas "total institutions") tende a estar  mais próxima da relação senhor/servo do que da relação de trabalho livre (embora subordinado), que é uma das estruturas-base das sociedades modernas: o conteúdo, a organização e as demais condições de trabalho, os horários, os planos de actividades, as regras de funcionamento, o regimento, etc., são impostos e sancionados pela instituição,


Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1964 > Curso de Sargentos Milicianos (CSM) > "Mafra, 26 de Janeiro de 1964 > O 1.º pelotão, da 1.ª Companhia,  ao 2.º dia de tropa"... Foto (e legenda) do nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67).


Foto: © Veríssimo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



(xvii) A "nstituição totalitária", enquanto comunidade residencial e organização fortemente centralizada, regulamentada e fechada, é, de resto, incompatível com uma outra estrutura básica no processo de socialização: a família; a sua eficácia depende, aliás, em grande parte do grau de rutura que ela provoca com o universo familiar dos seus membros e com os papéis sociais que desempenhavam antes (pai, esposo, educador, etc.). 

Em suma, e segundo o sociólogo norte-americano Erving Goffman, as ‘instituições totalitárias’ (prisões, hospícios, asilos, lazaretos, hospitais psiquiátricos ou manicómios dos séculos passados, mas também estabelecimentos militares e militarizados,  unidades da marinha de guerra e mercante, frota da pesca do bacalhau, colégios internos, reformatórios, centros de reclusão/reinserção social, mosteiros, conventos, seminários, etc.); seriam, nas sociedades humanas, lugares de coerção destinados a modificar a personalidade, as atitudes ou o comportamento do indivíduo, e a que o indivíduo responde através de dois tipos de "adaptações":

(a) primária ou manifesta (por ex., aceitação das regras, interiorização das normas e valores, submissão à disciplina, compliance ou adesão ao tratamento prescrito, ressocialização);  e

(b) secundária ou latente (como meio de escapar ao papel e ao personagem ou ao label que a instituição lhe impõe — instruendo, educando, interno, noviço, aprendiz, louco, doente, recluso, recruta,  etc.. — e que o leva a assumir uma vida clandestina no seio da instituição. (LG)

PS - Claro que este "modelo sociológico" também se aplicava, com as necessárias adaptações e cautelas, tanto à 'MÀFRICA' como  ao CISMI, Tavira, por onde muitos de nós passámos (e fomos "passados")... antes de ir parar, alegremente,  às bolanhas da Guiné.
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Nota do editor:

(*) Postes anteriores:

18 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13003: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte I: Finalidade, Funcionamento, Provas de aptidão, classificação e Faltas

25 de abril de 2014 > Guiné 63774 - P13041: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte II: Averbamentos; Serviço interno; (...); Salas de estudo; Comportamento; Saídas do quartel; Passaporte de dispensas ou licenças; Cartas de recomendação, pedidos feitos por interpostas pessoas, etc.. etc., [vulgo, "cunhas"].

28 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13055: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte III :vi - Serviço interno; vii -Dispensas, pretensões; viii- Fardamento; ix - Uniformes, equipamento e armamento; x- Revista de saúde e curativos

terça-feira, 1 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13354: Agenda cultural (330): Atenção, Viriatos, ao lançamento, no dia 9, às 17h30, no Salão Nobre da CM Lisboa, do livro inédito, "As Viríadas", a epopeia portuguesa setecentista escrita pelo médico Isaac Samuda (Lisboa,1681 - Londres, 1729)









1. Por mail de Manuel Curado, professor de filosofia da Universidade do Minho,  Braga,  chegou-nos este convite da Câmara Municipal de Lisboa, da Rede de Judiarias de Portugal e da Imprensa da Universidade de Coiimbra, para o lançamento do livro "As Viríadas do Doutor Samuda", edição crítica,  a cargo do prof dr Manuel Curado,  da epopeia setecentista,  inédita,  dos médicos judeo-portugueses Isaac Samuda  (Lisboa, 1681- Londres, 1729) e Jacob de Castro Sarmento (Bragança, 1691-Londres, 1762),

A sessão realizar-se-á  no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, dia 9 (3ª feira), às 17h30.

2. Sobre a obra (que vem enriquecer a língua e a cultura portuguesas), ver  a seguir uma sinopse, transcrita, com a devida vénia, da página da Imprensa da Universidade de Coimbra [, negritos nossos]:



As Viríadas do Doutor Samuda
Autor: Manuel Curado
Língua: Portuguesa
ISBN: 978-989-26-0659-0
Editora: Imprensa da Universidade de Coimbra
Edição: 1.ª
Data: Maio 2014
Preço: 25 euros
Dimensões: 240 mm x 170 mm
N.º Páginas: 688

Uma epopeia portuguesa setecentista inédita, mas não ignorada, em décimas bem ritmadas, cujo autor, Isaac Samuda, é um dos judeus de talento que o fantasma da Inquisição chegou a aprisionar por um tempo e ameaçava persegui-lo de novo, pelo que teve de emigrar, é o livro que temos o gosto de aqui apresentar.

A obra era inédita, conforme dissemos, mas não se desconhecia a sua existência, porquanto várias publicações, entre as quais o Dicionário de Inocêncio, haviam falado dela. Tão-pouco o era a figura do seu herói, tantas vezes enaltecida ao longo dos séculos, nomeadamente na célebre epopeia de Brás Garcia Mascarenhas, Viriato Trágico, que é anterior a esta.

Do autor das Viríadas, Isaac Samuda, também se conheciam dados significativos, para além dos já mencionados: bacharel em Artes, estuda Medicina na Universidade de Coimbra, e, devido à sua origem judaica, é forçado a exilar-se; chega a Londres nos primeiros anos do século XVIII; aí efectua a mudança de nome, como era de rigor, e começa a exercer a sua profissão junto da colónia portuguesa. Dentro de poucos anos é admitido em duas instituições britânicas de grande prestígio: O Real Colégio de Médicos e a Real Sociedade de Londres (na qual foi o primeiro judeu a ser recebido).

Estes e muitos outros dados, incluindo a multiplicidade dos interesses científicos de Samuda, são cuidadosamente analisados pelo autor desta edição, Manuel Curado, professor de Filosofia da Universidade do Minho - Braga. Assim, não deixa de pôr em relevo a presença dos ecos das epopeias clássicas, como a intervenção dos deuses, a paixão de Viriato por Ormia, que Tântalo, um dos guerreiros lusitanos, também pretende.

Mas não esqueçamos que o poema está cheio da descrição de combates, da alegria dos banquetes, das exortações de Viriato aos seus companheiros de armas. Ao lado destes temas, surge a descrição de paisagens e monumentos (designadamente os de Évora), que põe em destaque a sensibilidade artística do poeta. 

Não menos evidente é o seu interesse pela Botânica, ao descrever com minúcia e saber as plantas e os seus frutos. São igualmente significativos os seus conhecimentos na área da Física. Para o provar basta ler a estrofe 40 do canto VI, onde se descrevem as alterações do rosto de Ormia, ao ouvir a declaração de amor de Tântalo. Manuel Curado observa: "Ao descrever a alteração da cor do rosto de Ormia" ele a comparava "a um prisma newtoniano que decompõe a luz". E, em nota, acrescenta ainda que Samuda fez mais duas alusões "ao prisma de Newton que decompõem a luz branca". Do saber filosófico que premeia toda a obra nem se torna necessário fazer menção.

Samuda não viveu o suficiente para completar a sua longa epopeia. Na estância 58 do canto XIII, Viriato acaba de celebrar mais uma vitória e de se coroar com ramos de azinheira. As estrofes seguintes (58-108) são já da autoria do seu grande amigo Jacob de Castro Sarmento, porquanto o tema se transformou na apologia de um Deus único e Verdadeiro. É um velho sírio que dá essa longa explicação, que Viriato agradece na estância com que finda o poema.

O destino do texto das Viríadas passou por muitos acidentes até se recuperarem duas cópias - as únicas que se conhecem até à data - que surpreendentemente estão guardadas em bibliotecas da América do Norte: uma na Thomas Fisher Library, na Universidade de Toronto, outra no Jewish Theological Seminary, em Nova Iorque.

É nesses dois exemplares, portanto, que se baseia a presente edição crítica. A riqueza e profundidade do trabalho executado por Manuel Curado, além de acrescentar mais uma epopeia à nossa Literatura, é um estudo profundo e seguro das Viríadas. Nele se evidencia o rigor e experiência que caracterizam os estudos deste investigador e professor.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de junho de 2014 > ao Nober da CM LisboGuiné 63/74 - P13342: Agenda cultural (329): Lançamento do livro "Capitão de Abril", de Fernando Salgueiro Maia, apresentado pelo Cor Vasco Lourenço, dia 1 de Julho de 2014, pelas 18h30, na Associação 25 de Abril, Lisboa

Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)

1. Mensagem de ontem, às 23h03, do Ernesto Pacheco Duarte [ex-fur mil. CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67], que me tocou muito... São escritas por um dos nossos poetas da Tabanca Grande, algarvio, a quem só posso desejar muita saúde e longa vida porque ele merece tudo. (LG)


Um recado


Caro Luís

Duas linhas simples para te dizer 

aquilo  que tu sabes melhor do que eu, 
que os anos não perdoam !
Não tem nada a ver com o blogue, 
perdes dois segundos e ficas a saber 
que eu, embora mais perdido, 
mais longe de tudo, 
ainda cá ando !
Os sinais de o fulano A ter mais anos do que o fulano B, 
maneira muito simpática de dizer 
que não sou velho, 
mas sou usado, usado em demasia, 
começam a aparecer aos poucos 
e das mais diversas maneiras.
Comigo começaram com mais nitidez no esquecimento, 
tendo-me esquecido onde deixei parte da alegria, 
onde deixei a força de vontade.
Esquecendo-me de cumprir aquelas palavras tão velhinhas , 
ditas por um sábio, 
só podiam ter sido ditas por um sábio !
Soldados não vão para a guerra porque morrem !
Os soldados responderam morreremos sempre ! 

Resta-nos lutar, 
lutar para que esse dia vá para muito longe, 
e que, quando o encontro se der, 
seja com o máximo de dignidade !
Mas eu optei mais por cumprir com aquele dito popular, 

mas ao contrário !
Não faças hoje o que podes fazer amanhã !
E assim fui deixando desaparecer,
desfazer-se estes últimos tempos, 
principalmente parte de Maio e Junho !
Presto muita assistência aos meus netos, 
devido aos horários que os pais começaram a ter, 
mas é pouco para mim !
Por ser algarvio 
e amar o Algarve, 
fiquei com a casa dos meus pais 
e, como os tempos eram outros,
ainda arranjei uma barraca junto a uma praia !
Quando eu tinha 60 anos 
vinha e ia a caminho de Lisboa, 
com facilidade, 
com prazer, 
com alegria, 
conhecia toda a gente.
Nos últimos anos é mais uma obrigação 
e levo muito tempo a prestar aquela assistência mínima 
às casas velhas e fechadas 
e foi perdido nisto 
que eu passei os meus últimos tempos,
fazendo visitas esporádicas ao correio, 
mas dando para saber que tenho muito correio,
a que tenho a obrigação, o dever e o gosto de responder.
E o mais engraçado é que, 

há uns anos atrás, 
eu condenava este comportamento 
e agora convivo com ele 
com uma certa naturalidade, 
sem muita energia para protestar muito comigo próprio.
Eu não apago os emails,
transfiro-os para um disco 
e depois um dia com todo o tempo do mundo 
vou os ler todos, e responder !
Claro que no meio de isto 

também começou a aparecer a solidão, 
melhor, a solidão não existe !
Sim, a solidão não existe ! 
Existe é a saudade de ontem, 
uma saudade muito grande de uma vida passada !
Não nos isolamos, 

gostamos é de estar sós, 
porque não nos apetece falar, 
apetece-nos é recordar, 
não gostamos de ir aqui, ou ali, 
gostamos de ir é a sítios que têm significado para nós, 
onde fomos felizes, 
mas sabemos que esses dias passados não voltam mais 
e arranjar substitutos,
quando as forças começam a faltar,
os movimentos limitados porque os ossos começam a doer...
É certo que também houve aqui uma ajuda 
dos donos de Portugal.
Pois é a partir de uma certa altura, 
de uma certa idade,
a vida perde muita da cor natural 
e é preciso muita ginástica para arranjar alguma cor artificial !
Não é pessimismo, 

muito menos um lamento, 
quando muito um recado, 
de quem, mesmo com menos energia, 
ainda tem a mania de tentar perceber 
o mundo que o cerca, 
que o condiciona.

Um grande abraço

Ernesto Pacheco Duarte

[Fixação de texto: LG]

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Guiné 63/74 - P13352: Notas de leitura (607): Livro de memórias de guerra, de António Ramalho de Almeida, médico pneumologista, do Porto, ex-alf mil, GG, Bissau, 1964/66



Guiné > Bissau > Finais de 1965 > Numa esplanada da capital (Hotel Portugal?), da esquerda para a direita, Júlio Abreu (1º cabo), Virgínio Briote (alf mil) e Tony Ramalho (alf mil, mais tarde médico no Porto).

Fotos (e legendas): © Júlio Abreu (2008). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


Guiné > Bissau > Hotel Portugal > Novembro de 1965 > Da esquerda para a direita,  Vilaça, Valente S, um 3º elemento não identificado, Gião, Virgínio Briote, Marques e Tony Ramalho (hoje, médico pneumologista, no Porto, e escritor: de seu nome completo, António Herculano Ramalho Nunes de Almeida).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2014). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Em 2 de junho último, o Virgínio Briote deu-me notícia da existência do seu (e nosso) camarada António Ramalho de Almeida a quem fica, desde já, o convite para integrar a nossa Tabanca Grande:

Viva Luís,

Há muitos anos que não o vejo [, ao Tony Ramalho]. Tenho o livro que ele escreveu sobre a comissão dele na Guiné e comprei-o na Barata há já alguns meses.

Sei que ele é pneumologista e trabalhou no Hospital Rodrigues Semide (Gaia). De funções oficiais está certamente reformado.

Anexo uma foto em que estamos à mesa do hotel Portugal onde tínhamos mesa reserva para jantar. É uma foto de Novembro de 1965, talvez.

Abraço, V Briote


Título: "Guiné Mal Amada - O inferno da guerra"
Autor: António Ramalho de Almeida
Editor: Fronteira do Caos Editores
Local: e data: Porto, 2013
Distribuição:  Gradiva Publicações Lda
Rua Almeida e Sousa, n° 21, R/C – Esq.
1399-041 Lisboa
Nº de pp.: 224
ISBN: 989-864-70-47
Preço de capa: 14,76€

2. Sinopse (excerto da capa):

Promissor estudante de medicina, António Ramalho de Almeida vê-se subitamente mobilizado para o serviço militar obrigatório na sequência da contestação estudantil ao regime ocorrida no Dia do Estudante no ano de 1963, em Lisboa. 

Após a recruta em Mafra,  foi colocado na Escola Prática de Cavalaria em Santarém, onde tirou a especialidade na Arma de Cavalaria. É mobilizado para a Guiné, como oficial miliciano, e recebe como missão dar instrução aos locais, entretanto organizados em companhias de milícias. Mas a sua presença na Guiné não se esgota na instrução das milícias. Em Guiné Mal Amada, o inferno da guerra o autor descreve-nos o território, as populações, a presença portuguesa, e a guerra. A guerra na Guiné em toda a sua complexidade: as patrulhas, as colunas logísticas, as emboscadas, o perigo das minas, a contra-informação, os boatos, as traições. Tudo isto e muito mais, escrito por quem esteve presente, e viveu os acontecimentos na primeira pessoa. São estes os ingredientes que fazem deste livro um testemunho original, apaixonante, e intenso. (Fonte: Fronteira do Caos Editores).


3. O livro do nosso camarada, ex-alf mil  do QG, Bissau  1964/66, António Ramalho de Almeida (*) foi apresentado no Porto e depois em Lisboa, na sede da Fundação Portuguesa do Pulmão, em 5 de Julho de 2013. A explicação é simples: o autor de “Guiné Mal Amada, o Inferno de Guerra” é hoje médico pneumologista, reformado..

Segundo contou o autor à jornalista Cláudia Pinti que o entrevistou, a ideia da obra partiu de uma pergunta inocente de uma das netas do autor. Da ideia à sua execução foi um salto. O livro foi redigido e concluido em poucos meses. Dessa entrevista, disponível na página da Fundação Portuguesa do Pulmão, extraímos alguns excertos, com a devida vénia:

(...) Como surgiu a ideia de escrever este livro?

Uma das minhas netas perguntou-me um dia o que tinha sido a guerra de África e se a mesma estava relacionada com o 25 de Abril. Fiquei surpreendido com aquela pergunta de uma menina de 12 anos e já com alguma escolaridade e disse-lhe que iria escrever duas ou três páginas para que ficasse a saber o que foi a Guerra do Ultramar. Comecei a escrever em manuscrito mas entusiasmei-me e fui desenvolvendo. Entreguei o que tinha escrito às minhas netas mas achei que ter aquele material apenas manuscrito não era suficiente e falei com o meu editor. Com a sua insistência e interesse, acabei por desenvolver a escrita do livro e foi um processo muito rápido. Em três, quatro meses concluí o livro.

A escrita é uma paixão. Podemos afirmar que se ganhou um médico pneumologista e perdeu-se um escritor?

Este é o 10º livro que publico mas não me considero escritor. Sou muito amigo de um verdadeiro escritor, o Mário Cláudio, que me diz que um escritor sente uma necessidade compulsiva de escrever. Sou médico, gosto muito da minha profissão mas praticamente todos os meus livros estão relacionados com situações que se vão passando na minha profissão. Enquanto pneumologista, tenho-me dedicado muito ao estudo da tuberculose e já publiquei vários livros relacionados com a doença cuja leitura está ao alcance de todas as pessoas.

A quem aconselha a leitura deste livro?

Aconselho este livro a todas as pessoas que tiveram no Ultramar porque irão rever muitas das situações pelas quais passaram e aos jovens porque não imaginam o que foi a guerra. Por aquilo que a minha neta me deu a entender, os jovens têm uma noção muito “leve” daquilo que foi a guerra que na verdade foi um conflito que matou cerca de 4000 portugueses. Muita gente ficou sem pai e muitas mulheres ficaram sem marido. Foi uma batalha dura sobretudo quando os militares viam que aquele conflito só tinha uma saída política. O fim daquela guerra não seria militar mas sim politico.

Foi difícil escolher o título do livro?

Escolhi o título “Guerra mal amada, inferno de guerra” porque para além do cenário de guerra, havia paralelamente uma beleza fantástica que só a África sabe dar. Passávamos por aquelas matas e víamos coisas fantásticas. Descrevo no livro uma noite em que fiz uma emboscada e em que havia um silêncio total no mato, quase um silêncio incomodativo. Era de uma beleza enorme a que uma pessoa não consegue ficar indiferente. Este foi o palco de uma guerra em que morreram muitas pessoas mas inserido num cenário da beleza africana.

(...) A sua neta deve sentir-se muito orgulhosa deste seu projecto e do facto de a ideia ter partido de si…

Para uma jovem de 12 anos, é um orgulho muito grande assistir ao lançamento de um livro cuja ideia partiu dela. Nunca imaginou que o desfecho da sua questão sobre a guerra fosse o lançamento deste livro e obviamente ofereci-lhe um exemplar com uma dedicatória muito especial que julgo que irá guardar toda a sua vida.

Já está a idealizar um novo livro?

Sim, estou a preparar o meu primeiro romance mas também relacionado com a tuberculose que conta a vida de um grupo de pessoas que está internado num sanatório privado. Há um conjunto enorme de situações que se vão desenvolvendo ao longo de sete anos muito marcantes do ano de 1958. Escolhi este ano porque foi nesta época que se começou a definir o tipo de tratamento para a tuberculose com medicamentos, foi o ano de eleições do Humberto Delgado e dentro das pessoas que estavam no sanatório, uma das pessoas era um político activista. É uma espécie de um diário com histórias muito engraçadas.

A escrita ajuda-o a gerir o stress do dia a dia?

Sou um médico muito activo porque trabalho com o estrangeiro, tenho um Congresso a que me dedico muito para a Medicina Geral e Familiar, faço investigação, tenho o meu consultório e os meus dois grandes hobbies são a escrita e a tocar música. Ambos colocam-me apto para realizar o meu trabalho no dia seguinte com todo o entusiasmo.

Texto: Cláudia Pinto
Jornalista
[Reproduzido com a devida vénia]
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Nota do editor:

Último poste da série de 30 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13347: Notas de leitura (606): "Camaradas, Independência", fotografias de Tadahiro Ogawa nos campos do PAIGC (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13351: Parabéns a você (757): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13346: Parabéns a você (756): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13350: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (43): A festa do blogue (Juvenal Amado)


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Foto de família.

Fotos: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Juvenal Amado, com data de 27 de junho último, e "um abraço e muito obrigado a todos os que endereçaram os parabéns pelo o meu aniversário"

A FESTA DO BLOGUE
por Juvenal Amado

Fomos corajosos, não medimos as consequências, acreditamos numa Pátria onde a ilusão substituía a razão, enfim éramos jovens, fomos combater como outros combateram ao longo dos Séculos das nações quando a ambição, os interesses e os jogos de bastidores acabaram por nos enviar para o campo de batalha.

Nunca os jovens foram responsáveis pelas guerras. As guerras foram sempre começadas por líderes políticos ou religiosos, reis ou presidentes.

Grandes generais traçaram o destino de milhões de jovens, ceifados aos milhares nos campos de batalha. Foram sempre a ponta da lança, que verteu fez verter rios de sangue, sobre o qual dizem avançou a civilização.

Uns homens tornaram-se vencedores e outros escravos, criaram-se nações e impérios.

De um lado e de outro houve homens bons, com família, muitas vezes acreditaram no mesmo Deus, donde se depreende que as razões que os levaram a tornarem-se animais sanguinários no calor da refrega é que eram más.

Há quem defenda que sem guerras não haveria progresso, não haveriam nações, avanço industrial, tecnologia e a sua utilização para o bem e para a destruição.

Talvez se deva perguntar se vale a pena a destruição que transportamos e leva à destruição do próprio Planeta.

Chegados que fomos a esta idade, continuamos a ser portadores de anseios e mensagens.

Sobre a forma de contos, estórias e poemas tentamos de uma forma ingénua reconstruir um passado.

Estórias, relatos e poesias para nada serviriam se não fosse a emoção com as escrevemos. Facilmente ficariam esquecidas numa gaveta quando não diretamente para a reciclagem. Mas não poderíamos permitir o passar dos anos e deixar que a memória não fosse transmitida a outros.

Encontramo-nos todos os anos na festa do blogue os que vieram e os que não puderam vir, porque esse dia nunca é esquecido por ninguém que habita este espaço. Fala-se dos nomes que não vieram desta vez, pergunta-se pela saúde deles, respiramos de alívio quando não há problemas e que só não estão presentes porque não puderam ou não quiseram.

Para o ano há mais, voltaremos a trocar abraços, lembranças, ouviremos falar de sítios que conhecemos e de outros que nem sabemos para onde ficam. Sítios insignificantes onde se passou sede, onde morreu este ou aquele camarada num ataque, numa mina, ou numa emboscada. Tão importante para quem lá passou, que traz gravado a fogo cada minuto, cada hora, que lá passou há mais de 40 anos.

É deste fermento que se fazem os encontros dos batalhões, das companhias e da nossa Tabanca Grande.

Até para o ano camaradas.
Juvenal Amado
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de junho de  2014 >  Guiné 63/74 - P13338: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (42): Todos bons camigos e melhores camaradas, muitas caras conhecidas de outros encontros, alguns totalistas ou quase totalistas