sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13952: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte I)


Foto nº 31 > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Vista na direção norte-sul (ao fundo a bolanha, e as instalações do comando, quartos e messes de oficiais e sargentos; ao centro a parada e a capela de Bambadinca)


Foto nº 31 A > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Vista na direção norte-sul (ao fundo a bolanha, e  em primeiro plano as instalações do comando ( à direita) ew quartos e messes de oficiais e sargentos (edifício em U, à esquerda)



Foto nº 31 B >  Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >  Em primeiro plano, o refeitório das praças; ao fundo, a parada e o edifício do comando



Foto nº 31 C > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Do lado direito, a capela e anexa à capela a secretaria da CCAÇ 12 (a partir de julho de 1969); do lado esquerdo, as oficinas de rádio e em frente as oficinas auto, paralelas à messe e quartos dos sargentos (ala esquerda do edífício em U).

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.


Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Fotos aéreas do quartel e posto adminidtrativo de Bambadinca, tiradas de heli AL III, do lado da pista... Ao fundo, a sul, vê-se uma parte da extensa bolonha de Bambadinca. Delimitámos, a amarelo, o perímetro a norte e a oeste do quartel. Nesta última foto aparece em primeiro plano a antena de rádio mais alta de Bambadinca. Foi dela que o João Calado Lopes, alf mil art, do BAC 1, tirou as fotos que publicamos acima (fotos nº 31)

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Fotos: © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem do João Calado Lopes, com data de 22 do corrente, enviada ao seu colega de liceu João Martins:

Caro camarada João Martins

Antes de mais muito te agradeço as mensagens que me enviaste.

Ao saber que também tinhas estado em Bambadinca e ao tomar conhecimento do blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné,  lembrei-me que tenho slides de Bambadinca.

Para fazer estes slides trepei até ao topo da torre das antenas de comunicações!!! Bons tempos... foi preciso pernas e uma boa dose de inconsciência!!!

Anexo essas imagens.

Podes partilhar com o Luis Graça e ele pode usar as imagens no blogue,  se assim o entender.

Um abraço do
João Calado Lopes

2. Mensagem anterior, mas do mesmo dia, enviada pelo João Martins ao João Calado Lopes:


Caro camarada João Calado Lopes

Pensando na nossa conversa de ontem, passo a explicar os diversos passos que dei na composição das minhas memórias.
Foi um tio meu que esteve em Catió, João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, cunhado da Lena, que me levou a optar pela fotografia slide em vez da convencional, e, também, me deu a conhecer o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  de que já te enviei uma página com fotografias do encontro da "Magnífica Tabanca da Linha", onde, por hábito, estamos presentes. 

Foi esse blogue que me incentivou a escrever as minhas memórias a que juntei as fotografias, slides digitalizados por uma loja Kodak do Centro Comercial do Lumiar e as gravou num CD. Do CD passei para o computador.

Também coloquei as memórias no Facebook e enviei-as para o  UtramarTerraweb  que lhes deu um certo tratamento e me permite partilhá-las com os amigos do Facebook. Alguém as colocou no Google, onde as poderás encontrar em "João José de Lima Alves Martins".

Como me disseste que estavas a tratar de as deixar para os teus descendentes e para a posteridade, penso que este é um caminho alternativo.

A propósito, indica-me o teu nome de Facebook e pede-me amizade para "João José Alves Martins", e eu dar-te-ei mais pormenores.
Grande abraço
João Martins

3. Mensagem, do editor LG,  remetida no mesmo dia ao João Calado Lopes com conhecimento ao João Martins:


 João Calado:

Magníficas fotos!...E tiradas de um posição temerária!...Não lembraria ao diabo!... Vou dar-lhes o melhor tratamento e enquadramento...
~
Diz.-me quando estivestes em Bambadinca, e qual era a tua unidade, posto e especialidade...

Faz todo o sentido sentares-te  aqui, à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande!... Somos já quase 700, de A a Z... Quero o teu nome nos J, ao lado do João Martins... Também temos uma página no Facebook, mas o blogue tem outra lógica... Já existimos há mais de 10 anos... 

Na coluna do lado esquerdo podes ver os nossos mais de 3 mil marcadores...Bambadinca é um  deles... Mas pelo Google Imagens apanhas muito mais coisas, a grande maioria nossas.. Já devemos ter publicado cerca de 30 mil fotos...e cerca de 14 mil postes. Vamos a caminho dos 7 milhões de visualizações de páginas, 55 mil comentários.,..

Tens aqui os meus contactos relef´´onicos para podermos falar mais  à vontade... Ou manda-me o teu nº, que eu ligo.

Obrigado ao João Martins. Um abraço para ti. Luis

4. Mensagem do João Martins, enviada para ambos;

 Fico muito feliz por constatar que um antigo colega de turma do Liceu Nacional de Oeiras e amigo, além de ser da mesma unidade na Guiné, a BAC 1, se juntar a nós nestas andanças em que procuramos que aquelas horas difíceis e dolorosas por que passámos não sejam esquecidas.

Grande abraço e até à próxima
João Martins. 

5. Resposta pronta do João Calado Lopes [, de que aguardamos as duas fotos da praxe para a apresentação formal, regulamentar, á Tabanca Grande]:
Viva

Obrigado pela tua mensagem. Eu fui Alferes Miliciano de Artilharia, tal como o João Martins. Pertencemos à Bateria de Artilharia de campanha nº 1, BAC 1 (unidade da Guiné).

Em Bambadinca comandei um pelotão de obuses 10,5. Não sei exactamente quando estive lá, mas foi no 2º semestre de 1968. Para saber com rigor tenho que ir ver a correspondência que troquei com a família. 

Não estive lá muito tempo pois o meu pelotão foi logo destacado para Piche.

Curioso é que recentemente comprei um scanner que dá para digitalizar slides (na altura era o que preferia) e tenho-me entretido aos serões a digitalizar tudo o que tenho. Pois foi precisamente nesta altura que o João José Martins, de quem não sabia há mais de 40 anos, entrou em contacto comigo através de pessoa amiga de ambos.

Ainda não percebi bem como me inscrevo no blogue mas certamente não é difícil. Logo que o faça ponho mais fotos.

Um abraço

João Luis Calado Lopes

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (361): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)

1. Mensagem de Luisa Tiago de Oliveira, com data de 22 do corrente:

Assunto - Livro "Militares e Política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira, CEHC-IUL - Centro de Estudos de História Contemporânea, ISCTE-IUL

Sessão no dia 29 de Novembro, sábado, às 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras

Venho convidar-vos para uma sessão sobre um livro que organizei e cujo índice é o seguinte:

Militares e Política: o 25 de Abril
Introdução - Luísa Tiago de Oliveira
Abertura: Grândola Vila Morena. Cinco instantes para uma canção - Carlos de Almada Contreiras

Parte I - Ramos Militares e 25 de Abril
Capítulo 1: Caracterização sociológica do Movimento dos Capitães (Exército) - Aniceto Afonso
Capítulo 2: A Marinha e o dia 25 de Abril de 1974 - Pedro Lauret
Capítulo 3: Força Aérea Portuguesa: uma realidade militar e sociológica - Luís Alves de Fraga

Parte II - Rupturas iniciais com o Estado Novo
Capítulo 4: O fim da PIDE/DGS e a libertação dos presos políticos - Luísa Tiago de Oliveira
Capítulo 5: A descolonização: libertação dos presos políticos e fim da PIDE/DGS nas colónias de África - Ana Mouta Faria

Biografias dos autores
Índice onomástico


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Guiné 63/74 - P13950: Efemérides (179): Deixem-me celebrar o dia de Ação de Graças, o Thanksgiving Day, no meio de vós, nos dois lados do Atlântico (José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56)



1. Mensagem dirigida à Tertúlia do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de hoje, 27 de Novembro de 2014:

Meus queridos amigos,
Amanhã, Quinta-Feira, irei celebrar o Dia de Acção de Graças nos Estados Unidos da América.

Eu e muitos de nós escolhemos este grande País americano para nossa segunda Pátria. Aqui fizemos as nossas vidas, formámos e vimos crescer as nossas famílias, realizámos muitos dos nossos sonhos. 
De uma maneira geral fomos recebidos sem reservas pelos EUA. Em troca apenas nos pediram que compreendêssemos e respeitássemos as suas instituições. Na verdade, pediram muito pouco para aquilo que recebemos em troca.

Sou agradecido e penso que a maioria dos que aqui vivem me acompanham nesse sentimento. Também celebro com estes. Lá longe, onde a Europa acaba e a América começa vivem muitos familiares, companheiros e amigos da escola, da minha juventude, do trabalho, do desporto.

Do serviço militar reconheço os camaradas que ao longo dos anos viveram as mesmas horas de aflição, os mesmos sacrifícios e também os grandes momentos de alegria e camaradagem, que também os houve, que só a guerra do Ultramar poderia proporcionar.
Se me permitem, deixem-me também celebrar o dia de Ação de Graças, o Thanksgiving Day, no meio de vós, nos dois lados do Atlântico.

Com um abraço,
JC


2. Comentário do editor

Caro amigo, camarada e irmão José
Em nome da tertúlia muito obrigado por te lembrares dos teus camaradas e amigos, neste Dia de Acção de Graças, festividade com muita tradição nesse país onde a comunidade portuguesa foi integrada e é reconhecida como gente de bem, e que, como dizes, pouco pediu em troca.

Retribuímos, desejando um dia muito feliz para toda a família Câmara.

Um grande abraço do camarada, amigo e irmão
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

Último poste da série de 18 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13910: Efemérides (178): Evocação do Centenário da I Grande Guerra na cidade de Vila do Conde (Núcleo de Matosinhos da LC / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P13949: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, que já cá canta... e agora para todo o mundo!


1. "O cante do Alentejo já é património mundial: Portugal passa agora a ter três bens que fazem parte da herança imaterial da humanidade." (Público, 27 nov 214, 10h17)

A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, acaba de integrar o cante alentejano na lista do património imaterial da humanidade. Eram 10 e picos   em Lisboa!

Depois do fado e da dieta mediterrânica, classificados em 2011 e 2013, respectivamente. Portugal passa a ter o cante alentejano na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade... Uma candidatura absolutamente irrepreensível, exemplar, que tinha dado entrada  formalmente  a 28 de março de 2013 no comité internacional da UNESCO. As expetativas eram muito altas, mas o nervoso também era miudinho...

2. A adoção provocou emoção em todos os que seguiram os trabalhos, em direto (em áudio, como eu), mas também no representante do Governo brasileiro que fazia parte do comité internacional (aliás, o único país lusófono presente)... Imagino a alegria dos membros do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa que viajaram até Paris, bem como nos demais elementos ligados à candidatura.

"A partir deste momento, esta forma tão singular de cantar ligada às jornadas de trabalho e de convívio do Alentejo, não é apenas uma tradição do sul do país – é do mundo. O mesmo mundo que fica agora a saber que, em Portugal, há uma região que canta como os homens do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que fizeram 1800 quilómetros para brindar os delegados da UNESCO em Paris com a moda Alentejo, Alentejo." (Fonte: Público)

O cante alentejano tem um sítio oficial, Casa do Cante, em Serpa, de que é diretor o antropólogo Paulo Lima, e coordenador da candidatura. Mas a festa faz-se, no Alentejo, em Portugal e em toda a diáspora lusitana onde haja portugueses, alentejanos ou não,  que cantam (e emocionam-se a cantar ou simplesmente a ouvir) o cante alentejano.

“É de salientar a importância destas duas candidaturas, a do fado e esta”, disse ao Público o cantor Vitorino, presente na sede da UNESCO, em Paris. “O fado é muito solitário e individual. O cante é uma expressão colectiva – ele implica entre 18 e 30 vozes. É inclusiva. É muito atenta ao movimento social.” O cantor, que tem inscrito o cante no seu trabalho musical, acredita que o reconhecimento do mesmo como património da humanidade “vai eternizá-lo”.

Parabéns à Antena 1 que acompanhou esta candidatura e ao nosso camarada da Guiné, antigo locutor do PFA, em Bissau, Armando Carvalhêda, um grande profissional da rádio, que realiza e apresenta esse excecional programa da Antena 1 que é "Viva a Música"  (no ar desde 1996), e que nos foi dando notícias desde Paris sobre o andamento dos trabalhos da UNESCO...

Que o Cante seja um crescente fator de coesão social, de solidariedade intergeracional e de identidade cultural para todos os que, dentro e fora do Alentejo, o praticam, são os meus votos. Um qucbra-costelas para os camaradas e amigos da Guiné que se reveem nesta manifestação cultural da nossa terra.  O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande!... Que viva o Cante! (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13948: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, Património Cultural Imaterial da Humanidade

Guiné 63/74 - P13948: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, Património Cultural Imaterial da Humanidade




Vídeo (2' 46''). Alojado em You Tube / Nhabijoes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do  nosso camarada, amigo e grã-tabanqueiro José Saúde ["Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €)] (**)


1. Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa. Um homenagem sentida a um combatente da terra, o José Romeiro Saúde, nascido em Vila Nova de São Bento (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas. Os dois concelhos viram sacrificados no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa...

Isto não é "cante", mas tem as suas raízes na música tradicional alentejana.  No cante não se usam instrumentos musicais. A voz é o único (e grande) instrumento do cante, música do trabalho e do lazer, cantada nos campos, na rua e na taberna... Em grupo, sempre em grupo..  Homens e mulheres, se bem que os grupos corais femininos só tenham começado a aparecer há 3 décadas, por razões socioculturais... Mas as mulheres sempre cantaram, em grupo, com os homens no duro trabalho agrícola... Em grupo, num coro polifónico que não deixam indiferente... Um alentejano (do Baixo Alentejo) nunca conta(va) sozinho (*)...

A "moda" que acima se reproduz evoca esses duros tempos em que os mancebos partiam para o Ultramar, India, Angola, Guiné, Moçambique ... Ver, mais abaixo, a respetiva letra que começa assim: "É tão triste ver partir / Um barco do Continente, / Para Angola ou Moçambique / Lá lai outro contingente"...(LG)

Lá vai uma embarcação

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares fora
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração,
Por esse mares a fora
Lá vai uma embarcação.
____________________

Letra: Reproduzida, com a devida vénia, do sítio Joraga Net > O Cante do Cante: Grupos Corais Alentejanos, página criada e mantida por José Rabaça Gaspar.

[Obrigatório visitar esta página, que contem um repositório riquíssimo de dezenas de "modas" da músicas tradicional Alentejana. Letras e músicas recolhidas e gravadas por Francisco Baião e Manuel Aleixo, São Matias, Beja, 2011]

Contacto de "Os Alentejanos", música tradicional Alentejana,
Serpa, Telem: 962 766 339 / 938 527 595. Email: joaocataluna@gmail.com

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Notas do editor

(*) Último poste da série > 25 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13941: Manuscrito(s) (Luís Graça) (51) O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante!

Guiné 63/74 - P13947: Fotos à procura de... uma legenda (45): o obus 10,5 (ou 105 mm, Krupp), de Mansambo, onde, em 1968, o Torcato Mendonça posou para a posteridade... com o seu relógio Rolls Royce Breitling, comprado no libanês de Bafatá!





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O alf mil Torcato Mendonça junto a obus 10,5 ou 105 mm.


Foto: © Torcato Mendonça  (2007). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Um leitor nosso, Luís Laranjeira, militar da marinha  que se interessa pela temática da artilharia de campanha (usada na guerra de África) (*), mandou-nos o seguinte pedido:


Boa tarde,

Vi no seu blog [, no poste P6929] (**), a foto que anexo [, vd, acima,], pode dizer o que o obus tem escrito no cano?

Com os meus melhores cumprimentos,

Luis Laranjeira

PS - foto de Torcato Mendonça. Legenda: "Fotos Falantes II > Sem título > Mansambo > Junto do obus 10,5"

2. Reeditei a foto, a partir do original, que guardo em arquivo e remeti ao seu autor, com o seguinmte pedido:

Torcato: O obus 10.5 era de origem alemã, marca Krupp... No cano parece ler-se N(M)agul 1895(6)... Magul 1895 ou 6 ? Nagul ? Magol ?... Ampliei o mais que podia... Tens alguma ideia ?

Boa noite... Luis

3. Resposta pronta do meu amigo e camarada Torcato Mendonça:

Não sei,  Luís e também ampliei. O relógio é um Royce (Breitling - linha branca), vendido por um Libanês de Bafatá.  Para me convencer um Unimog (grandes?) com malta passou por cima de um... Preço ? Menos que uma mina anti-carro, 2000 pesos, mas lá perto,  se bem me lembro.  Está ali a funcionar bem, com cronómetro e tudo. 

A foto é de 68 e eu vim em Dezembro de 69,  dia 10.
Tenho que escrever ou contar algo sempre...feitios de caca...
Ab,T.

4. Comentário de L.G.:

Pode ser que algum artilheiro da Tabanca Grande possa ajudar o pobre  infante do editor a dar a competente resposta ao pedido de esclarecimento feito pelo o nosso 1º sargento da Marinha, Luís Laranjeira,  que nas horas vagas se dedica, como "hobby", à construção de modelos de peças de artilharia e carros de combate...

O dono da foto, Torcato Mendonça, era atirador... de artilharia. Nunca percebi que raio de especialidade era essa, tal como a minha (armas pesadas de infantaria... a única que me deram no TO da Guiné foi a G3 que pesava, diziam os manuais, 4,4 kg, descarregada...).

Lembro-me de ver no Xime a inscrição do fabricante alemão, Krupp, num obus 105 mm. Mas não sei o significado da inscrição que está no cano deste obus de Mansambo... Magul 1895 ? Temos de perguntar á malta do BAC 1. Ou a quem saiba responder (***).

Ouvia-se bem em Bambadinca, quando ele começava trabalhar, no meu tempo (1969/71)... Havia mais dois, se não erro, deste calibre. Nunca houve obus 14 no setor L1,  pelo menos no meu tempo. O 10.5  do Xime era curto para bater algumas zonas da margem direitra do Rio Corubal  onde fazíamos operações, como o Poindom / Ponta do Inglês...

Quanto ao nosso amigo Luís Laranjeiro, teremos muito gosto em ajudá-lo, cedendo-lhe cópias de imagens com melhor resolução do que as publicadas no blogue (e que em geral  tem  resolução *a volta de 0,5 MB). Ele que nos volte a contactar.

_________________

Notas do editor:

(*)  O nosso leitor já há tempos nos tinha contactado há uns tempos atrás:

De: Luis Laranjeira
Data: 24 de Março de 2014 às 18:33
Assunto: Artilharia em África

Boa tarde, Chamo-me Luis Laranjeira, tenho 44 anos e sou militar, 1º Sargento Artilheiro, na Marinha.

Como hobby, construo modelo à escala (1/35) de carros de combate e especialmente peças de Artilharia na mesma escala.

Quando faço pesquisas no Google, sobre Artilharia Portuguesa durante a guerra em Africa, encontro sempre o Vosso blog fotografias de peças de artilharia. O único problema é que estão com pouca definição e dificilmente se conseguem ver pormenores, que preciso para a construção dos modelos terem o rigor que desejo.

Deste modo, pergunto se me podem facultar fotografias, de peças de Artilharia Portuguesas com melhor definição, comprometendo-me em nunca as publicar, seja lá onde for.

Com os meus melhores cumprimentos, Luis Laranjeira.

(**) Vd. poste de 4 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6929: Parabéns a você (147): Torcato Mendonça, 66 anos, uma referência do nosso blogue, um português pré-esforçado, um orgulhoso ex-combatente (Luís Graça)

(***)  Último poste da série > 25 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13939: Foto à procura... de uma legenda (44): na Tasca do Zé Maria, na Bambadinca ribeirinha, comendo lagostins do Rio Geba Estreito... Na foto, Humberto Reis, Tony Levezinho e José António Rodrigues (já falecido)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13946: In Memoriam (208): Carlos Manuel Sousa Linhares de Almeida (Bissau, 1942 - Bigene, 1967), alf mil da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Bula, Bigene, 1966/68), Juca para os amigos do Liceu Honório Barreto (Manuel Amante da Rosa / António Estácio)

1. Duas mensagens de camaradas nossos, nascidos na Guiné, que conheceram, em vida, o Carlos Manuel Sousa Linhares de Almeida, nosso saudoso camarada, alf mil da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Fá Mandinga. Nova Lamego, Bula, Bigene, 1966/68), morto em combate a 1/4/1967 (*)

[foto à esquerda, quando ainda estudante do Liceu Honório Barreto, em finais de 1959, princípios de 1960; terá nascido em 1942, em Bissau; aparece num foto de grupo do Liceu, identificado com o nº 2 como sendo o "Juca - Carlos Linhares de Almeida (irmão do 'Banana')!... A foto de grupo (14 elementos), sem data, é da autoria de Armindo do Grego Ferreira, Jr. Cortesia do blogue NhaGente, de Amaro Ligeiro (**)]


(i) Manuel Amante:

Ainda que mais velho 10 anos, pude conhecê-lo antes de ir para a tropa. Irmão mais velho de dois amigos meus, o Banana, ainda em Bissau e o Bananinha, em Lisboa, que até há pouco tempo era jurista na Presidência da República de Portugal.

O malogrado Juca era pessoa muito conhecida e popular no velho Liceu Honório Barreto. (***)


(ii) António Estácio (****):
Meu caro Luís e demais malta amiga.

Eu raramente respondo [a mails], apreciando mais o que leio das respostas dos outros.

Mas desta vez toco a responder sobre a [tua] pergunta feita há dias sobre quem era o Alferes Juca, que teve dois irmãos, ou melhor dizendo meios irmãos, ou seja,  o Fernando António de Oliveira Ribeiro de Almeida (que reside em Bissau), e  José Luciano Ribeiro de Almeida (, que vive em Lisboa; se precisarem de saber quem quem se trata, terei  todo o gosto em facultar-lhes, arranhar-vos, o telefone).

Depois da independência,  houve mudança do nome da Rua Alferes Linhares de Almeida... passou a ser Rua 17, de acordo com o dia 20 de Janeiro de 1975 - Dia dos Heróis Nacionais.

Eu ainda apanhei o  Juca nos anos em que andei com ele no Liceu, sendo ele um pouco mais velho do que eu.
Morava na avenida que vai desde a Amura, passa pelo Hospital, as traseiras do edifício por detrás da Associação Comercial de Bissau e entra na estrada que segue para Santa Luzia.

Ainda bem que conseguiram apresentar um foto com o nome do alferes abatido e, por sinal, quando o mesmo fez a última patrulha, já depois de terminada a sua comissão de serviço.

Sem mais me despeço, desejando a todos um bom Natal e já de seguida uma óptima passagem de Ano.

António J. Estácio

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Notas do editor;

(*)  24 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13938: Consultório militar, de José Martins (11): Quem foi o alf mil Linhares de Almeida, da CCAÇ 1547, morto em combate em 1/4/1967, e condecorado, a título póstumo, com a cruz de guerra de 2ª classe ?

(**) Amaro Ligeiro, fundador, administrador e editor do blogue Nhagente;

(ii) Natural de Coimbra, foi criado em terras de África desde tenra idade, tendo vivido na agora Guiné Bissau, e posteriormente em Angola;

(ii) "Passados que foram 41 anos desde que deixei a Guiné Bissau, e 33 desde que saí de Angola, é sempre com saudade, que recordo a minha infância e adolescência em Bissau, e posteriormente a minha vida em Novo Redondo e Luanda, onde permaneci até à independência daquele território, depois de ter terminado uma comissão como militar" (...).

(i) Mora em Corroios, Seixal.


(****)  Vd. poste de 19  de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6432: Tabanca Grande (220): António Estácio, nascido em Bissau, no chão papel, escritor, amigo do Pepito, do Zé Neto, do Mário Dias e do Graça de Abreu, autor de Nha Carlota

(...) António Júlio Emerenciano Estácio nasceu em Bissau, a 3 de Maio de 1947, no tchom de Papel. Estudou no Liceu Honório Barreto, onde foi condiscípulo do nosso amigo Pepito. Conheceu, ainda na Guiné, o nosso camarada Mário Dias. 

De 1964 a 67 estudou, em Coimbra, na ex-Escola Nacional de Agricultura, onde tirou o Curso de Regente Agrícola, posto que estagiou no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).

De Janeiro de 1969 a Abril de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de Março de 1970 a Maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (R.M.A.) e estado aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

Em 28.09.1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na, então, Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (M.E.A.U.). Neste território, conviveu com o Mário Dias e com o José Neto, de quem ficou grande amigo.

De 28 Setembro de 1972 a 2 Dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções. (...)

Guiné 63/74 - P13945: (Ex)citações (252): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (4) (Coutinho e Lima)

1. Conclusão do comentário feito pelo nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado no Blogue "O Adamastor":


2.ª Parte do Comentário ao artigo
"Guiné, Guileje e o desnorte do reino" (2)

Qualquer pessoa minimamente informada sobre o que se passava na altura, na região, podia prever, com grande probabilidade de acertar, que o PAIGC, logo que entrasse em Guileje, deslocaria todo o seu dispositivo para Gadamael, tanto mais que tinha ainda uma grande reserva, nomeadamente de munições da armas pesadas, que podia utilizar contra o novo objectivo.

Em minha opinião, impunha-se, ao novo Comandante do COP 5, em Gadamael - Sr. Coronel Durão, promover as seguintes acções:

1. Evacuar, o mais rapidamente possível, a população de Guileje para Cacine, porque em Gadamael só atrapalhava e não tinha nenhumas condições para ali permanecer.
2. Solicitar, de imediato, o reforço urgente de Gadamael, com tropa especial, para impedir, ou no mínimo, criar as maiores dificuldades ao In na fase de instalação do seu dispositivo. Logo que chegasse o reforço, evacuar, para Cacine os militares que estivessem em piores condições, não só para permitir a sua recuperação, como aliviar a sobrelotação da guarnição.
3. Melhorar as defesas do aquartelamento.
4. Patrulhar a zona de acção, com a intensidade possível.

Das 4 acções indicadas, tenho a certeza que a 4.ª foi efectuada.
Relativamente à 3.ª, admito que tenha havido alguma actividade.
As duas primeiras não foram promovidas.

Foi com as tropas no estado em que o Sr. Coronel Durão descreveu e nas situações física e psicológica indicadas pelo médico, que o Sr. Comandante do COP 5 preparou a guarnição para a acção, mais que provável, do PAIGC sobre Gadamael.

Nos diversos patrulhamentos efectuados no período de 22/31MAI, verificaram-se alguns contactos com o In que, compreensivelmente, se furtava ao contacto porque, estando numa fase de implantação do seu dispositivo de ataque, era essa a conduta mais apropriada aos seus objectivos.
Não foi este o entendimento do Sr. Coronel Durão, porque no dia 30 MAI, foi para Cufar (saiu de Gadamael, via fluvial) onde assumiu o Comando do CAOP 3 (Comando de Agrupamento n.º 3), ficando a comandar o COP 5, em Gadamael, o Sr. Capitão Comando, Ferreira da Silva, que tinha chegado nesse mesmo dia 30MAI.
Esta mudança de Comando deve ter sido proposta pelo Sr. Coronel Durão. Se este previsse o que iria acontecer, seguramente que não teria saído naquela data.
Penso que o Sr. Coronel Durão, durante o período em que comandou o COP 5, em Gadamael (22/30MAI73), não pediu nenhum reforço ao Comando-Chefe, pois se isso tivesse acontecido, tal reforço teria sido atribuído.

E pode perguntar-se qual a actuação do Comando Chefe e do seu Estado Maior, no período de 22/31MAI73.

Em 16MAI73, a CCAÇ 3566 (Empada), comunicou por mensagem à REF/INFO do Comando Chefe, “ a presença de carros de combate, na fronteira”, possivelmente para actuar sobre Gadamael, onde a configuração do terreno, mais aberta, era propícia aqueles veículos.

A própria REP/INFO, no seu PERINTREP (Relatório Periódico de Informações) n.º 21/73, (período de 20/27 MAI 73), referia:

“ …INIMIGO
…sendo provável que o IN continue a flagelar… ou GADAMAEL, com a Artilharia de KANDIAFARA, instalando bases de fogos na Rep. Guiné. De assinalar, ainda, os reconhecimentos efectuados ultimamente na área de GADAMAEL, constituindo possível indício de uma acção em força.”

Não obstante tudo isto, nomeadamente a última transcrição, o Comando-Chefe, que, seguramente, tinha muito mais informações do que o Comandante do COP 5, em Gadamael, como é óbvio, não tomou a iniciativa de enviar, para esta guarnição, o reforço que se impunha.

Em 31MAI73, pelas 14H00, o In iniciou as intensas flagelações a Gadamael; até às 18H00 do dia 02JUN73 caíram no aquartelamento cerca de 700 granadas, que provocaram às Nossas Tropas 5 Mortos e 14 Feridos (entre estes os 2 Capitães, Comandantes das Companhias de Gadamael e da que tinha vindo de Guileje), além de avultados danos materiais.

No início da acção do In, a maior parte dos militares e a população saíram para fora do quartel e espalharam-se pelas margens do rio a caminho de Cacine, sem que se conheça, verdadeiramente, o que provocou tal procedimento.

No dia 01JUN, aterrou um helicóptero, em Gadamael, transportando o Sr. Coronel Durão, o Sr. Capitão Manuel Monge e o Sr. Capitão Caetano; o primeiro, depois de inteirar da situação regressou a Cufar, tendo os outros ficado em Gadamael, tendo o Sr. Capitão Monge assumido o Comando do COP 5.

No dia 02JUN, deslocou-se a Gadamael, de helicóptero, o Sr. General Spínola, acompanhado do Sr. Coronel Durão. Pouco depois de aterrar, tiveram que se abrigar numa vala, em consequência do início de mais um flagelação do In. Aproveitando um pequeno interregno do bombardeamento, embarcaram rapidamente. Imediatamente após a descolagem, caiu uma granada, no preciso local onde estivera o helicóptero.

Foi entretanto accionado o reforço, tendo chegado a Gadamael no dia 03JUN a Companhia de Caçadores Paraquedistas 122 (CCP 122), vinda de Cufar (Sector do COP 4); com esta veio o Sr. Major Pára Mascarenhas Pessoa, que assumiu o Comando do COP 5.
No dia 05JUN voltou o Sr. Coronel Durão, reassumindo o Comando do COP 5, até ao dia seguinte quando voltou para Cufar.
No dia 06JUN, chegou a Gadamael a CCP 123, acompanhada do Sr. Ten. Cor. Araújo e Sá, que passou a comandar o COP 5; mais tarde, juntou-se-lhes a CCP 121, que até 31MAI estivera de reforço a Guidage.
Desta forma, o BCP 12 (Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12), com as suas 3 Companhias, esteve de reforço a Gadamael.

Não quero deixar de referir que o COP 5, em Gadamael, no período de 15 dias (22MAI/06JUN73), teve 6 Comandantes:
22/30MAI - Sr. Cor. Durão
30MAI/03JUN - Sr. Capitão Ferreira da Silva
01/03JUN - Sr. Cor. Monge
03/05JUN - Sr. Major Pessoa
05/06JUN - Sr. Coronel Durão
A partir de 06JUN - Sr. Ten. Cor. Araújo e Sá

Foi, seguramente, um recorde absoluto, fruto da indecisão do Comando-Chefe sobre Gadamael.
Apesar do considerável e muito importante reforço do Batalhão de Caçadores Para-quedistas (BCP) 12, apresentou-se em Gadamael, em 10JUN, o Sr. Major Leal de Almeida, enviado de Bissau, com a missão de preparar a retirada de Gadamael, que acabou por não se efectuar.

É de toda a justiça realçar a brilhante actuação do BCP 12, em Gadamael, sem a qual, estou certo disso, a guarnição não tinha condições para resistir à acção em força do PAIGC.

Para concluir esta análise sobre Gadamael (porque não estive lá, socorri-me, principalmente, das informações dos Oficiais da Companhia que veio de Guileje, bem como de alguns documentos oficiais), a minha opinião é que o que ali aconteceu foi por NEGLIGÊNCIA e INCOMPETÊNCIA, quer do Sr. Coronel Durão, quer do Comando-Chefe e seu Estado-Maior, pois nenhuma destas entidades teve a capacidade de prever o que, após a retirada de Guileje, tinha grande probabilidade de se verificar, no que respeita à actuação do PAIGC.
Se Gadamael tivesse sido devidamente reforçado, logo a seguir à retirada de Guileje (22MAI 73), tenho a firme convicção que a actuação do In, a verificar-se, teria tido para as NT, consequências bem menos gravosas.

Comparando a actuação do Comando-Chefe e seu Estado-Maior em Guidage, Guileje e Gadamael, a minha conclusão é:

Guidage - COMPETENTE
Guileje - NEGLIGENTE E INCOMPETENTE
Gadamael - NEGLIGENTE e INCOMPETENTE (até ao dia 03JUN73) - REFORÇO ADEQUADO (após 03JUN73)

Na guerra dos 3 Gs, não há nenhuma dúvida que Guileje foi o “parente pobre”, porque não teve direito a qualquer reforço.

Na parte final deste longo comentário, vou indicar documentos que relatam o conhecimento que o Comando Chefe tinha das intenções do PAIGC relativamente a Guileje, bem como a análise da situação feita na Reunião de Comandos, realizada em 15MAI73, em Bissau.

O processo de que fui alvo e na sua folha 608, pode ler-se uma cópia do seguinte documento CONFIDENCIAL, com data de 27DEZ72 (anterior à criação do COP 5 - 08JAN73) :

“ EXTRACTO DO RELATÓRIO DE INTERROGATÓRIO N.º 108
271800DEC72
DE: MAMADU BALDÉ - SEXO: MASCULINO - IDADE: 25 ANOS
GRUPO ÉTNICO: FULA - NATURALIDADE: CACINE - ESTADO: SOLTEIRO
………………………………………………………………………………………………….


INTENÇÕES DO INIMIGO …………………………………………………………………………………………………..

2. NA FRONTEIRA: 
Refere que o In pretende fazer um ataque com bastante força a GUILEJE, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de GUILEJE. Para isso, ficaram em KANDIAFARA alguns elementos que vieram recentemente dum estágio de Art.ª na RÚSSIA, para fazerem reconhecimentos na área de GUILEJE e preparar essa acção.

MODOS DE ACTUAÇÃO

Os chefes sabem que nas flagelações aos aquartelamentos não têm obtido resultados compensadores e por isso resolveram mandar vários elementos ao estrangeiro receber uma instrução mais adiantada da Artilharia.
Esses elementos ficam a saber trabalhar com cartas topográficas, para poderem determinar com precisão as distâncias de tiro. 
Aprendem também a trabalhar com goniómetros-bússolas e outros aparelhos, assim como ficam a saber através da regra do milésimo converter as correcções métricas em direcção, em correcções angulares. 
Estes elementos ficarão normalmente em observadores avançados durante as flagelações, ligados por telefone às bases de fogos, dirigindo a acção e regulando o tiro.
………………………………………………………………………………………………………………………………”.

Este documento, por mais estranho que pareça, não me foi dado a conhecer, pela REP/INFO do Comando-Chefe, após a minha nomeação para Comandante do COP 5, como era sua obrigação.

Se tivesse tido conhecimento do seu conteúdo, teria apresentado a absoluta necessidade de reforçar Guileje, com o objectivo de impedir ou, no mínimo, dificultar ao máximo, as intenções do In, porquanto os efectivos de que o COP 5 dispunha, não eram, nem suficientes, nem adequados para o efeito.

Mesmo que não me fosse atribuído qualquer reforço, o conteúdo do documento esta-ria sempre nas minhas preocupações e tudo teria feito para contrariar a intenção do In, dentro das possibilidades de que dispunha.

E é lícito perguntar qual o tratamento que tal documento teve por parte da REP/INFO do Comando Chefe. Esta tinha possibilidades e meios para confirmar o que nele era relatado; nem no processo, nem em outra qualquer fonte há informação de que tal tenha sido feito. Se a REP/INFO não procedeu, neste caso, como lhe competia, fez mui-to mal. As intenções do In confirmaram-se plenamente, culminando com a acção em força iniciada em 18MAI73.

Outra pergunta pertinente é a seguinte:  
Como é que um documento tão comprometedor para o Comando Chefe (por, aparentemente, não lhe ter dado a devida atenção), foi parar ao processo?

Em 30JUN73 fiz um requerimento ao Senhor Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, solicitando que me fossem fornecidas cópias de diversos documentos, que considerava importantes para a organização e fundamentação da minha defesa.

Este requerimento foi objecto do seguinte despacho:

“… Os documentos solicitados devem ser entregues ao oficial de polícia judiciária mi-litar para serem apensos ao auto de corpo de delito, devendo o Major Coutinho e Lima deles tomar conhecimento através daquele oficial…”

Para cumprimento deste despacho, foram entregues ao Sr. Oficial da Polícia Judiciária Militar (PJM), para serem juntos ao auto de corpo de delito 124 documentos, que foram apensos ao processo, constituindo as folhas 485 a 627, sendo que o documento referido é a folha 608.

Incluído num conjunto de 124, tal documento passou despercebido, não tendo mereci-do a atenção de ninguém, nomeadamente do Sr. Oficial da PJM; se este o tivesse lido, certamente não seria apenso ao processo, por motivos óbvios.

Acta da reunião de Comandos realizada, em Bissau, em 15MAI73

Em 15MAI73, teve lugar no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, sob a presidência do Sr. General António de Spínola, uma reunião de Comandos, na qual participaram os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Amadas - Exército, Marinha e Força Aérea, o Sr. Comandante Adjunto Operacional. o Sr. Chefe de Estado-Maior do Comando-Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Informações (REP/INFO) e de Operações (REP/OPER).

A acta dessa importante reunião, com 63 páginas encontra-se no Arquivo Histórico Militar e já foi difundida no nosso blogue.

Dessa acta, transcrevo, a seguir, algumas declarações

O Sr. Comandante Adjunto Operacional - Sr. Brigadeiro Leitão Marques, afirmou:

"..............
No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o IN está a preparar as necessárias condições de destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica - isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.
Quanto às vantagens para a manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa.
..............
Assisti ao pressionamento psicológico ao povo americano, por causa dos seus prisioneiros no Vietnam do Norte durante quatro anos e senti em toda a sua profundidade o efeito desmobilizador desse pressionamento, o qual, em larga medida, juntamente com o elemento económico, levou à agitação interna das massas e à capitulação, apesar de todo o poderio militar americano.
O que acontecerá se tivermos de enfrentar situação semelhante?
................."

Nota - Os sublinhados são meus.

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/INFO ( Sr. Ten Cor. de Inf.ª Artur Baptista Beirão), transcreve-se:

"...........
No imediato, julga-se que o IN:
..........
intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra GADAMAEL. GUILEJE e/ou BURUNTUMA, tirando partido da vulnerabilidade destes pontos a este tipo de acções e visando o aniquilamento ou captura das guarnições;
..........
Num futuro próximo, prevê-se que o IN, partindo do clima de denso agravamento que a sua actividade imediata proporcionará:
_ tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções isoladas de tipo convencional;…
...........
Resta referir, a finalizar, ...não permitem, como desejaria, uma melhor adjectivação das zonas preferenciais de esforço do IN...
...e apenas pode concluir-se por uma situação na qual todo o TO, sem qualquer exclusão, acaba por constituir uma vasta área de preocupação, na qual dificilmente se podem, no momento, visualizar priorizações.
..........."

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/OPER (Sr.TCor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida), transcreve-se:

"............. 
Se não forem concedidos os reforços solicitados as armas que permitam às NF enfrentar o IN actual
.........
julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se considerem essenciais e que permitam, à luz de outras concepções de manobra, desencadear mais tarde acções ofensivas de grande envergadura para recuperação das posições enfraquecidas, ou estruturar uma manobra de feição caracterizadamente defensiva baseada na implantação de um certo número de pontos de apoio a sustentar a todo o custo. Mas neste caso, as missões actualmente dadas às NF, em termos de protecção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contra- subversão centrado na manobra sócio-económica, teriam de ser revistas.
...........
A ameaça de utilização, pelo IN, de carros de combate, em golpes de mão sobre as guarnições de fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permitam a sua defesa anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça."

Lembra-se que, na data (15MAI73), em que se realizou a Reunião de Comandos, já estava em curso, desde 08MAI, o ataque do PAIGC a GUIDAGE: É bastante estranho que, na acta da referida reunião não apareça nenhuma alusão a tal acontecimento.

As transcrições atrás indicadas, merecem-me os comentários seguintes.

Acerca da intervenção do Sr. Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional que, em 22MAI73, foi nomeado, pelo Sr. General Comandante-Chefe para proceder a auto de corpo de delito contra mim. Se eu tivesse conhecimento desta acta de Reunião de Comandos, quando fui por ele ouvido, em 31MAI73, perante a última pergunta:

"Quando decidiu retirar tinha ponderado os altos prejuízos para a Nação resultantes desse procedimento?

Certamente, ter-lhe-ia respondido com a pergunta seguinte:

Pensou bem na hipocrisia desta pergunta, face às suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73?

Acerca das declarações do Sr. TCor. de Inf.ª Artur Baptista Beirão, Chefe da Repartição de Informações, teria formulado as seguintes perguntas:

- Quais as diligências que mandou efectuar, relativamente ao Relatório de Interrogatório, feito em 27DEZ72, ao nativo Mário Mamadu Baldé, tendo em vista a verosimilhança e fiabilidade desse relatório e a que conclusões chegou?

- Porque não me foi dado conhecimento desse relatório, depois de eu ter sido nomeado, em 08JAN73, Comandante do COP 5?

- Porque julgava que o IN, intentasse, no imediato, "uma acção tipo convencional, com carros de combate, contra GADAMAEL, GUILEJE,...", quando esta comunicação da Companhia de EMPADA, em 9 MAI 73, foi rectificada por outra mensagem da mesma Companhia?

- Porque não foi enviada ao COP 5, em 15 MAI 73, a mensagem 586/C da Companhia de BEDANDA, informando a chegada em 10 MAI, de 4 grupos vindos da REP. GUINÉ e a chegada a KANDIAFARA de cerca de 50 cubanos.

- As mensagens das Companhias de EMPADA e BEDANDA, associadas a outras eventuais informações que a REP/INFO tinha, não eram suficientes para prever, com grande probabilidade um ataque do IN a GUILEJE?

Acerca das declarações do Sr. Ten. Cor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida Chefe da Repartição de Operações, teria feito as seguintes perguntas:

- Nas suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73, quando referiu que era necessário reforçar guarnições... que se considerassem essenciais, estava a pensar na guarnição de GUILEJE? Se a resposta for SIM, que propostas fez para que esta guarnição fosse reforçada?

- Tendo afirmado que era necessário dotar com meios de defesa anti-carro, as guarnições que a REP/INFO considerasse mais susceptíveis de ataques desse tipo e tendo esta Repartição indicado GUILEJE como uma das mais ameaçadas, no imediato, que propostas fez para que GUILEJE fosse dotada de meios de defesa anti-carro.

Da análise das transcrições anteriores da Acta da Reunião de Comandos de 15MAI73 dificilmente se pode entender que não tenha saído dessa reunião a necessidade urgente de reforçar Guileje.

Infelizmente não se conhece como o Sr. Chefe da REP/OPER (o primeiro responsável pela condução das operações, por parte das NT), pretendia resolver a situação de Guileje, após o início da acção In, em 18MAI73, porque tal não lhe foi perguntado pelo Sr. Brigadeiro Leitão Marques, no âmbito do processo, nem aquele teve a iniciativa de abordar este assunto, vá lá saber-se porquê.

Conhece-se, no entanto, como o Sr. General Spínola, via o problema. Para isso, transcrevo parte do depoimento do Sr. Coronel Para Rafael Durão, no processo:

“… No dia 21 recebi directamente de Sua Excelência o General Comandante-Chefe, ordem para manter a todo o custo o destacamento de GUILEJE, naquele local, para o que devia verificar as necessidades em meios para lá colocar os abastecimentos de toda a ordem.”

É de salientar a maneira redutora como o Sr. Comandante-Chefe analisava a situação, limitando-se a referir o problema dos abastecimentos. Muito mais importante era a neutralização da bases de fogos do In, para aliviar a pressão sobre Guileje.
A manutenção “a todo o custo”, é a missão que implica a resistência até ao último homem.
Numa altura em que nem o próprio Sr. General Spínola acreditava na solução militar para a guerra, é caso para nos interrogarmos se a Missão que atribuiu ao Sr. Coronel Durão, nas circunstâncias concretas vividas em Guileje, era aceitável e, se pelo contrário, não era um sacrifício injustificável a que ficavam sujeitas a guarnição e a população de Guileje.

Para terminar a análise ao artigo do Sr. Ten. Cor. Pil. Av. Ref. Brandão Ferreira, devo dizer que em tempos, tivemos o ARNALDO MATOS, o EDUCADOR DO POVO.
Qualquer dia vamos ter BRANDÃO FERREIRA, o REGENERADOR DO REINO. Para começar e por uma questão de coerência, para responder a uma “duvida existencial”, deve procurar regenerar os programas de ensino “dos cadetes e comandantes das actuais Forças Nacionais destacadas".

Com os meus cumprimentos
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Cor. de Artª. Ref.- Comte do COP 5, em Guileje)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13942: (Ex)citações (251): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (3) (Coutinho e Lima)

Guiné 63/74 - P13944: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVIII: jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; (iii) pemetração na mítica mata do Fiofioli.


Guiné >  Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Rio Geba > c. 1968 >  Passagem de um barco civil, a caminho de Bambadinca, através do Rio Geba Estreito.  Fotos Falantes II, álbum do Torcato Mendonca. alf mil art, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Foto: ©  Torcato Mendonça  (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir e cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente  indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de julho de 1973 (pp. 61/63) vai para:

(i)  o ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à embarcação "Manuel Barbosa" (, ligada a uma comercial de Bissau, se não erro); o barco, civil,conseguiu chegar a Bambadinca com um ferido;

(ii) a colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2; era inteiramente composta por quadros e praças do recrutamento local, sendo comandada pelo cap cmd graduado Jamanca;

(iii) a CCAÇ 21 entra na zona de Mina / Fiofioli.


Jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a  "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; e (iii) as NT penetram na mítica mata do Fiofioli

Guiné 63/74 - P13943: Parabéns a você (821): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13935: Parabéns a você (820): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13942: (Ex)citações (251): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (3) (Coutinho e Lima)

1. Segunda parte do comentário feito pelo nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado no Blogue "O Adamastor":


2.ª Parte do Comentário ao artigo
"Guiné, Guileje e o desnorte do reino" (1)

Continuando o comentário(*) ao artigo em epígrafe, do Sr. Ten. Cor. (TC) Brandão Ferreira (BD), vou agora analisar o que escreveu sobre as actuações do PAIGC em Guidage e Gadamael, bem como comparar o comportamento do Comando Chefe (COMCHEFE) no reforço a estas duas localidades e a Guileje. Indicarei ainda documentos que comprovam que o COMCHEFE soube, com antecedência, as intenções do PAIGC, relativamente a Guileje. Analisarei também, através de alguns extractos, a Acta da Reunião de Comandos realizada, m Bissau, em 15MAI73.

Sobre Guidage, o Sr. TC BD afirma:

“Guidage começou a ser atacada em 8 de Maio e esteve cercada e debaixo de fogo, constante, durante um mês.
Foram organizadas várias colunas de reabastecimento que foram duramente atacadas e, finalmente conseguiu-se reforçar a guarnição com uma companhia de paraquedistas. No entretanto montou-se uma grande operação que envolveu a totalidade dos efectivos do Batalhão de Comandos Africanos, sobre a base de Cumbamori, que apoiava as forças do PAIGC.
Durante este período as NT sofreram 47 mortos e mais de uma centena de feridos.”

Tal como sucedeu, no que respeita a Guileje, esta narrativa está muito incompleta.
Porque não estive em Guidage, nem tão pouco conheci aquela guarnição, socorro-me de um documento elaborado pela Repartição de Operações (REP/OPER) do COMCHE-FE, com o título:

“SITUAÇÃOEM GUIDAGE NO PERÍODO DE 08MAI73 A 13JUN73”.

Da análise desse documento, salienta-se:

"A hora tardia a que foi iniciada, em 08MAI73 (15 horas), a coluna de reabastecimento FARIM-GUIDAGE, o que teve como consequência a retenção da coluna, em virtude do accionamento de uma mina anti-carro, obrigando o pessoal a pernoitar no local.

O forte ataque à coluna, na noite de 08/09MAI 73.
O regresso da coluna a BINTA (tinha partido de FARIM), deixando no local 4 viaturas que, a pedido, foram destruídas pela Força Aérea; as Nossas Tropas sofreram, nestes incidentes, 4 Mortos e 30 Feridos, tendo provocado ao Inimigo 13 Mortos e elevado número de Feridos.

A realização em 10MAI73 (início às 05h00 horas) de uma nova coluna de reabastecimento BINTA-GUIDAGE, sob o Comando do Comandante do BCAÇ 4512 (FARIM).
Relativamente a colunas de reabastecimento, foram iniciadas 7 e atingiram Guidage 5, tendo as Nossas Tropas sofrido 22 Mortos e 70 Feridos; foram destruídas ou danificadas 6 viaturas. Quanto aos efectivos presentes em Guidage, no período indicado (08MAI/13JUN73), no primeiro dia (08MAI) a guarnição foi reforçada com 2 grupos de combate da CCAÇ 3 e depois com os Destacamentos de Fuzileiros 1 e 4, Companhia de Para-quedistas 121 e outras forças.

A operação, iniciada em 290530MAI73, de abertura do itinerário BINTA-GUIDAGE, reabastecimento e apoio da guarnição de GUIDAGE, envolvendo grandes efectivos, incluindo, entre outros, a 38.ª Companhia de Comandos, a Companhia de Para-quedistas 121 e os Destacamentos de Fuzileiros 1 e 4.

O Apoio Aéreo efectuado em 8, 9, 10, 13, 14, 18 e 19MAI73.

A realização da Operação AMETISTA REAL, levada a efeito pelo Batalhão de Comandos Africanos, com forte apoio da Força Aérea, que praticamente nela empenhou todos os seus meios: 4 helicópteros (para evacuações) e um helicóptero armado; aviões de ataque FIAT G-91, 4 Aviões DORNIER de Comando e Controlo da Operação; esta realizou-se de 17 a 21 MAI73 e a missão consistia em aniquilar ou, no mínimo, desarticular os elementos Inimigos na zona, nomeadamente a base inimiga de CUMBAMORY (Rep. do Senegal). Os resultados globais da Operação foram os seguintes: causados 67 Mortos ao Inimigo, bem como bastantes baixas prováveis provocadas pelo bombardeamento da Força Aérea; destruição de uma enorme quantidade de material e capturado diverso armamento; as Nossas Tropas sofreram 10 Mortos, 22 Feridos e 3 Desaparecidos.”

A transcrição do documento da REP/OPER, merece-me o seguinte comentário:
- A hora tardia a que foi iniciada (15 horas) a coluna do dia 08MAI73; não sei a razão por que tal aconteceu; em Guileje, tal não teria sucedido.
- O reforço efectuado à guarnição de Guidage, logo no primeiro dia (08MAI73) refere-se que as guarnições de Binta e Ganturé (onde se encontravam os Destacamentos dos Fuzileiros), pertenciam ao Comando do COP 3 (com sede em Bigene); por esse facto o Comte do COP 3 fez a manobra de meios que entendeu.

- A realização da coluna de 08MAI73, a partir de Farim, sede do BCAÇ 4512 (portanto não pertencente ao COP 3).
- A coluna do dia 10MAI73 (Binta- Guidage), foi comandada pelo Comte. do BCAÇ 4512, por determinação do COMCHEFE (mensagem RELÂMPAGO da REP/OPER do dia 9 MAI 73, às 21H30).
- O empenhamento de praticamente todos os meios da Força Aérea (sabendo o COMCHEFE, a partir de 18MAI73, que Guileje estava também sujeito à acção do IN), no apoio à Operação Ametista Real (17/21MAI73); penso que foi por este facto que o pedido de apoio aéreo, após a emboscada da manhã do dia 18MAI73, em Guileje, não foi satisfeito; a justificação que nos foi dada referiu que as condições atmosféricas não o permitiram; no entanto, não foi isso que constatámos, em Guileje. E não falo nas evacuações, pedidas e não satisfeitas, nesse mesmo dia 08MAI, que de qualquer maneira, nunca seriam feitas. Este assunto das evacuações já foi referido na 1.ª Parte.

“Guidage começou… e esteve cercada e debaixo de fogo constante, durante um mês.”

Repito que não estive em Guidage; dos elementos de que disponho (seguramente são mais do que os do Sr. TC BF), considero que é muitíssimo exagerada a afirmação de que esteve “debaixo de fogo constante, durante um mês”.

Consultando o Google, pode ler-se, sob o título “Guiné – O inferno dos três Gs: Guidage, Guileje e Gadamael” da autoria de Aniceto Afonso, com a data de 26 de Maio de 2012:

“Nos cerca de 20 dias que ficou cercada esteve sujeita a 43 ataques de foguetões de 122mm, artilharia e morteiros.”

Ora entre 43 ataques em 20 dias e “debaixo de fogo constante, durante um mês”, é uma enormíssima diferença. Guileje sofreu 37 flagelações, (com grande predominância de Morteiro 120 mm), em 80 horas. Não quero, de maneira nenhuma, menorizar a acção do PAIGC sobre Guidage, que, seguramente, foi muito intensa e prolongada.

Outra interrogação do Sr. TC BD:

“Que se terá passado então, para que o Comandante de Guileje tivesse apenas resistido quatro dias - com mais meios do que o seu camarada de Guidage - o TCor Correia de Campos, que se veio a revelar um valoroso Comte. - que chegou a estar no limite das munições e dos víveres?”

Vamos por partes.

“…com mais meios do que o seu camarada de Guidage…”

Quando me despedi do Sr. Comandante-Chefe, antes de seguir para Guileje, este disse-me que qualquer dia me ia fazer uma visita, que não pedisse reforços e que fizesse a manobra de meios que entendesse.
Porque o Subsector de Guileje era aquele em que devia ser feito o esforço principal, conforme decorria da MISSÃO, havia que proceder ao reforço da guarnição, o que fiz no dia em que lá cheguei - 22JAN73, tendo determinado que fossem deslocados para Guileje:
- 1 Grupo de Combate da CCAÇ 3520 (a Companhia tinha a sede em Cacine e um destacamento em Cameconde).
- Pelotão de Reconhecimento Fox (incompleto), que estava em Gadamael.
- Pelotão de Milícia 236, de Gadamael.

Foi esta a manobra de meios que entendi fazer.

O Sr. TCor Correia de Campos, que eu muito admirava e que antes de comandar o COP 3, em Guidage, já tinha dado provas de um valoroso combatente (não foi lá que se revelou), ao decidir não reforçar Guidage, teve as suas razões, talvez porque em caso de necessidade, tinha a certeza de poder contar com o apoio incondicional do COMCHEFE, como se veio a verificar.
Foi esta a única razão porque em Guileje havia mais meios que em Guidage; ainda bem que eu tinha reforçado a guarnição, em devido tempo, porque se estivesse à espera de reforços promovidos pelo Escalão Superior, bem podia “esperar sentado”.

“…chegou a estar no limite das munições e dos víveres.”

Relativamente à escassez de munições, o Comte do COP 3 (Sr. TC Correia de Campos), enviou, em 08MAI73, às 15h25, a seguinte mensagem RELÂMPAGO:

“GUIDAGE ENCONTRA-SE SEM MUNIÇÕES OBUS 10,5 MORT 81 E POUCAS 7,62. SOLICITO ENVIO MUITO URGENTE REFERIDAS MUNIÇÕES:”

O reabastecimento foi feito, na tarde desse mesmo dia, por 5 helicópteros para Bigene, transportando 150 granadas de Morteiro 81 e 30.000 cartuchos de 7,62 e por um avião NORD ATLAS para Farim, levando 92 granadas de Obus 10,5 cm e 12.000 cartu-chos 7,62.

No que diz respeito à escassez de víveres, não tenho nenhum conhecimento, nem vi nada escrito sobre o assunto.

Reportando-me à falta de munições, não se compreende muito bem que, no primeiro dia do ataque inimigo, tal tenha acontecido, mas certamente que houve motivo para que isso se verificasse. Talvez o facto de, maioritariamente, a guarnição ser constituída por pessoal nativo, seja uma eventual explicação.
Mais uma vez constato que, a verificar-se uma situação análoga em Guileje (o que era muitíssimo difícil acontecer), igualmente poderíamos “esperar sentados”, porque ninguém nos socorreria.

“Que se terá passado então, para que o Comandante de Guileje tivesse apenas resistido quatro dias…”

Chegámos ao cerne da questão.
Depois das diligências que entendi promover, amplamente descritas na 1.ª Parte deste comentário, que culminaram com o meu encontro, em Bissau, com o Sr. General Comandante Chefe, cuja decisão também já foi divulgada, regressei a Guileje, “com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”, como sói dizer-se.

Quando cheguei a Guileje, no final da tarde do dia 21MAI73, a situação encontrada foi a seguinte:

- Destruição total do Centro de Comunicações, incluindo todas as antenas.
- Existência de 1 Morto (Furriel Miliciano), provocado na flagelação dessa tarde.
- Estavam destruídas, como consequência das variadíssimas flagelações: cozinha, dois depósitos de géneros, depósito de artigos de cantina, forno, celeiros de arroz (ainda ardiam) e grande parte das palhotas da população.
- Muitos impactos nas valas.
- Varadíssimos rebentamentos (da ordem das centenas) dentro do aquartelamento.
- Falta de água potável, já referida.
- Escassez de munições de Artilharia, já descrita.
- Presença do In, do lado de Mejo (Este), com a primeira actuação nessa tarde.
- Toda a população estava recolhida nos abrigos da tropa, desde a primeira flagelação; a lotação dos abrigos tinha triplicado, o que, além de dificultar o movimento dos militares, fazia com que a habitabilidade fosse praticamente insuportável.
- Desde o dia 19, inclusive, a alimentação passou a ser ração de combate.
- Todo o pessoal estava arrasadíssimo, quer física, quer psicologicamente, pois as flagelações mantinham-se durante 3 dias e noites.

Depois de me inteirar das circunstâncias encontradas, fiz um estudo mental da situação, considerando os seguintes factores:

1 - Forte pressão do Inimigo, que se iria manter e, com grande probabilidade, seria cada vez maior. A Repartição de Informações do COMCHEFE tinha enviada no dia 20MAI (19H00), uma mensagem, com o seguinte texto: “NOT A2 REFERE EFECTIVOS 3.º CE MATA MEJO. AMMITE-SE POSSIBILIDADE MESMOS VIREM ACTUAR SOBRE ESSA.”
2 - Não atribuição de reforços
Com a decisão do Sr. Comandante-Chefe de me negar qualquer reforço, considerei insustentável permanecer em Guileje.
3 - Não evacuação de feridos
4 - Escassez de munições, especialmente de Artilharia
5 - Falta de água no aquartelamento
6 - Defesa da população

Na Missão atribuída ao COP 5, consta:

“Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT…”

Nas circunstâncias presentes, não tinha condições para garantir “a defesa eficiente” da população.

7 - Destruição do Centro de Comunicações
8 - Novo Comandante do COP 5

Não me foi comunicado quando o novo Comandante do COP 5 - Sr. Coronel Durão, assumiria as suas funções. Mesmo quando isso se verificasse, a situação não melhora-ria muito, porque: - não viria acompanhado de reforços;
- não solucionaria o problema da água;
- não faria chegar a Guileje as munições de Artilharia;
- não garantiria a evacuação de feridos.

9 - Previsão do futuro, a muito curto prazo

A minha previsão era que o In, no dia seguinte - 22MAI, tivesse completado o cerco ao quartel, do lado de Mejo, com os efectivo do seu 3.º Corpo de Exército, que tinham sido deslocados para o efeito, no dia 20MAI.

Conjugando todos estes factores e ainda o facto de que a existência de um ferido, não impedia a retirada (se tivéssemos mais feridos, seria incomportável o seu transporte), decidi efectuar a retirada às primeiras horas do dia 22MAI, tirando partido do efeito de SURPRESA.
Estou absolutamente convencido, pela razão apontada atrás, que a retirada foi efectuada na altura correcta; passado mais um dia, o PAIGC teria impedido a nossa saída.

Posso agora responder à questão do Sr. TC BF, qual foi a que só tivesse resistido 4 dias.

A razão determinante foi a não atribuição de REFORÇOS, sem os quais, além dos factores indicados, não tínhamos condições para resistir mais tempo.

E não se argumente que, com a chegada do novo Comandante, os reforços também viriam. Havia forte probabilidade de o Sr. Coronel Durão, na sua deslocação de Gadamael para Guileje, ser interceptado pelo In, impedindo-o de chegar ao seu destino.
Não cabe no âmbito deste comentário fazer uma reflexão sobre o que teria acontecido se não tivesse acontecido a retirada. Não deixarei de a fazer, quando considerar oportuno.

Vou agora analisar a situação de GADAMAEL, começando por transcrever o que o Sr. TC BF escreveu:

“…e nada justificava o seu abandono tão prematuro, que veio a causar algum pânico em Gadamael Porto e poderia colapsar - por efeito de dominó - todo o dispositivo junto à fronteira.
As forças do PAIGC reagruparam-se então em torno de Gadamael e atacaram-na fortemente, tendo a situação sido resolvida rapidamente por tropas paraquedistas, enviadas de reforço.”

Antes de mais nada, não me considero, directa ou indirectamente, minimamente responsável pelo que aconteceu em Gadamael.
Quando a coluna retirada de Guileje, no início da tarde do dia 22MAI, chegou a Gadamael, já lá se encontrava o Sr. Coronel Durão (chegara nessa manhã de helicóptero), que passou a ser o novo Comandante do COP 5.

Importa agora referir parte das declarações do Sr. Coronel Durão, quando ouvido como testemunha, no âmbito do processo que me foi instaurado.

“4ª. Pergunta
Dada a sua experiência de combate, o moral das unidades que abandonaram Guileje, dada a sequência dos factos ocorridos de 18 a 21MAI73 e a decisão final adoptada, podia ter afectado estas profundamente e prejudicá-las quando empenhadas em futuras operações?

Resposta
Em minha opinião, por tê-las contactado em GADAMAEL durante cerca de 10 dias, aquelas tropas estão afectadas de tal modo que só dificilmente poderão ser mentalizadas ou recuperadas para acções de combate em que o Inimigo se mostre forte e determinado; verifiquei que no contacto com o Inimigo à distância de quilómetros do aquartelamento de GADAMAEL, os postos de armas ligeiras, de vigilância, disparavam as armas e a maioria dos militares metia-se dentro das trincheiras e abrigos; o estado psicológico do pessoal da Companhia de GUILEJE parece ter transtornado, no mesmo sentido, o pessoal de GADAMAEL; mas que, no aspecto de contactos no exterior do aquartelamento, a conduta dos mesmos parecia quase normal em relação às restantes unidades não especiais.”

No processo foi também ouvido o Sr. Alf. Mil. Médico Antunes Ferreira. Transcrevem-se as suas declarações:

“1ª. Pergunta
Estava em serviço na guarnição de Gadamael, em 22MAI73?

Resposta
Estava.

2ª. Pergunta 
Na sua qualidade de médico, pode descrever todos os factos e observações que permitam conhecer o estado moral e físico do pessoal da guarnição de Guileje, após a retirada, na noite de 21/22 MAI? 

Resposta
O que observei no pessoal da guarnição de Guileje consistia, fundamentalmente, em síndromas de esgotamento físico e psíquico em cerca de 100 indivíduos, sendo os mesmos extremamente marcados na maioria; epigastralgias em várias dezenas de indivíduos, podendo estimar-se em 50% da guarnição, relatando a maioria ingestão alimentar deficientíssima nos dias imediatamente anteriores; síndromas disentéricos em cerca de quatro dezenas de indivíduos; otalgias em várias dezenas, feridas e flictemas dos pés na quase totalidade do pessoal, assim como cãibras dos membros inferiores, em cerca de quatro dezenas de indivíduos. Analisando os síndromas observados em todo o pessoal da guarnição de Guileje, pude verificar que os oficiais e sargentos tinham uma vivência mais profunda e intelectualizada dos acontecimentos; não observei em nenhum momento qualquer situação que pudesse ser diagnosticada como reacção de pânico. Julgo ainda referir que, tentando averiguar, no desempenho das minhas atribuições, a etiologia de grande número de situações psíquicas observadas, me foi referido pela maior parte dos indivíduos que, entre as vicissitudes sofridas nos últimos dias, havia um factor de insegurança decorrente da quase certeza de inexistência de evacuação rápida, em caso de ferimentos graves.”

(Continua)
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Notas do editor

(*) Vd. postes de

27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13804: (Ex)citações (243): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (1) (Coutinho e Lima)
e
27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13808: (Ex)citações (244): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (2) (Coutinho e Lima)

Último poste da série de 21 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13924: (Ex)citações (250): a autogrua Galion e o cais de Bambadinca, quatro anos depois, em novembro de 1973

Guiné 63/74 - P13941: Manuscrito(s) (Luís Graça) (51) O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante!



Vídeo (1' 28''). Alojado em You Tube > Nhabijoes

Portugal Agro, Feira Internacional das Regiões, da Agricultura e do Agroalimentar, FIL - Feira Internacional de Lisboa,. Parque das Nações, Lisboa, 20-23 nov 2014 > Atuação, sábado, 22, do Grupo Coral e Etnográfico "Os Camponeses de Pias", de Pias, Serpa. Vídeo Luís Graça (2014)


1. Parece ser já amanhã, em Paris, que o cante alentejano poderá vir a figurar, de pleno direito, na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade.

No passado mês, no dia 27, foi entregue o parecer favorável de uma comissão internacional de especialistas da UNESCO. Tratava.se de um reunião prévia aos trabalhos do Comité do Património Imaterial da Humanidade, que está reunido em Paris, entre 24 e 27 deste mês,  e donde sairá a decisão final. A candidatura portuguesa foi considerada exemplar. As expetativas são muito altas.

Eu, pessoalmente, torço para que tudo corra bem na reta final. Amanhã serei alentejano e português. Não por chauvinismo, mas porque gosto do cante alentejano e me emociono a ouvi-lo, onde quer seja. O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande!

E a propósito do Cante, fico a saber que há 150 grupos corais e 3 mil cantantes, entre homens (mairotariamente) e mulheres, do Cante Alentejano.

O que é o cante ?

(...) "É um canto coral, em que alternam um ponto a sós e um coro, havendo um alto preenchendo as pausas e rematando as estrofes. O canto começa invariavelmente com um ponto dando a deixa, cedendo o lugar ao alto e logo intervindo o coro em que participam também o ponto e oalto. Terminadas as estrofes, pode o ponto recomeçar com um nova deixa, seguindo-se o mesmo conjunto de estrofes. Este ciclo repete-se o número de vezes que os participantes desejarem. Esta característica repetitiva, assim como o andamento lento e a abundância de pausas contribuem para a natureza monótona do cante."  (...) (Fonte: Wikipédia).

A sua origem histórica não é consensual.

(...) "Curiosamente, apesar de o cante alentejano ser uma expressão de mais arreigada implantação no Baixo Alentejo, o antropólogo Paulo Lima, director da Casa do Cante de Serpa e primeiro responsável pela candidatura desta forma musical a Património Cultural Imaterial da Humanidade atribuído pela UNESCO, conta-nos que "a referência mais antiga data de cerca de 1880 e encontra-se nas posturas da Câmara Municipal de Portel" (no Alto Alentejo). Curiosidade número dois: trata-se de "uma proibição de cantar nas tabernas em coro". Lima refere ainda outros registos pioneiros, como a fundação, em 1907, de um orfeão em Serpa e, igualmente na mesma cidade, a existência dos mais antigos registos sonoros, "em disco e em bobine", datados da década de 1930. (..:)

Quanto à origem, seguramente remota do cante...

(...) "As teorias dividem-se entre a sua génese na música gregoriana e nos cantos polifónicos sacros medievais, e aquelas que defendem como ponto de partida a música árabe. Ou, possivelmente, um encontro destes mundos, moldado pelo povo. Este é um dos pontos em que a catalogação e disponibilização do muito material publicado disperso que a Casa do Cante de Serpa está a coligir poderá ajudar a apontar caminhos." (...) (Fonte: Público).

Caros leitores, se tiverem oportunidade de ver não percam o documentário “Alentejo, Alentejo” , do português Sérgio Tréfaut, (que é de origem alentejana, do lado do pai, e francesa, do lado do pai, tendo nascido em São Paulo, Brasil, em 1965). O filme  foi distinguido como a Melhor Longa-metragem Portuguesa pelo IndieLisboa 2014. "O filme que também se inseriu na candidatura do cante alentejano a património da humanidade, mostrou a qualidade deste processo, disse na altura à Voz da Planície Paulo Lima, presidente da Casa do Cante e um dos elementos envolvidos na candidatura." (Fonte: Voz da Planície).


2. Portugal aderiu à UNESCO em 1965, retirou-se desta organização internacional em 1972 (por causa da questão colonial) e reingressou em 11 de setembro de 1974. Criou a sua Comissão Nacional em 1979 (Decreto-Lei Nº218/79 de 17 de julho),  sob a égide do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde se encontra sedeada. Portugal foi membro do Conselho Executivo de 2007 a 2009. Integrou em 1999/2005 e integra hoje (2013 - 2017) o comité do Património Mundial.

Algumas datas relevantes para o nosso país: (i) em 2008, Maria de Medeiros foi designada Artista da UNESCO para a Paz;  (ii) o dr. Mário Soares preside ao Prémio UNESCO Houphouët-Boigny para a Cultura da Paz;  (iii) em 2012, Jorge Molder doou a fotografia "A interpretação dos sonhos" à UNESCO;  (iv) todos os anos, no mês de maio, é celebrado o Dia da Língua Portuguesa; (v) em 2011, o fado foi classificado pela UNESCO como "património imaterial da humanidade"...



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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13922: Manuscrito(s) (Luís Graça) (50): O tempo que faz em Imbecilburgo

Guiné 63/74 - P13940: Lembrete (9): Convívo de Novembro, e de Natal, da Tabanca do Centro, dia 28 de Novembro de 2014 em Monte Real

1. Lembrete para o Convívo de Novembro, e simultaneamente de Natal, da Tabanca do Centro, a realizar já no próximo dia 28 de Novembro em Monte Real.


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13809: Lembrete (8): A apresentação do livro "O Corredor da Morte", de autoria do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar é já amanhã, pelas 15h00, no Auditório Jorge Maurício da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), no Edifício ADFA, na Avenida Padre Cruz, em Lisboa