terça-feira, 29 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15176: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (14): Uma "visita de solidariedade" à Escola Piloto do PAIGC, em Conacri, dos "amigos suecos" Göran Palm e Beril Malmström, em novembro de 1969... Aparentemente não há qualquer relação com o episódio de Sangonhá, em 6/1/1969


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá [, ou Sanconha], a sul de Gadamael-Porto > s/d > Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação, na altura em que estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, c. 1967/68.

Este destacamento, tal como o de Cacoca,  deverá ter sido abandonado pelas NT em meados  de 1968, na sequência de uma decisão do então brigadeiro Spínola, de maio/junho de 1968,  segundo o nosso grã-tabanqueiro António José Pereira da Costa.  Tratou-se de uma "retirada", ou de "retração do nosso dispostivo no terreno", por razões de optimização de defesa... Tal como aconteceu noutros pontos do território (de Mejo a Beli, de Ganturé à Ponta do Inglês)... o Pereira da Costa, na altura alf art QP da CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) diz que Sangonhá era sede de companhia e Cacoca destacamento:

(...)  "Em 1968, Cacoca era um daqueles lugares onde parecia não haver guerra. Dependente da Companhia sediada em Sangonhá, era um destacamento de nível Gr Comb, resumindo-se a uma pequena tabanca com pouco mais de duzentos habitantes." (...)

O Mário Gaspar confirma que foi no início de julho de 1969. tendo a população sido levada para Gadamael. [O Mário Gaspar foi fur mil art  MA, CART 1659, Zorba, Gadamael e Ganturé, 1967/68, tendo terminado a sua comissão em outubro de 1968; conheceu bem Sangonhá].

Os acontecimentos referidos no poste P2574,  pelo nosso grã-tabanqueiro José Barros Rocha [, ex-al mil  da CART 2410, Os Dráculas (Gadamael, Junho de 1969 a Março de 1970)], ocorreram em 6 de janeiro de 1969, portanto meio ano depois do "abandono" de Sangonhá pelas NT.

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).


1.  No "Arquivo Amílcar Cabral", alojado no portal "Casa Comum",  há um documento, em português, datilografado, de 16 pp., datado de novembro de 1969, com uma intervenção, não assinada, mas que se presume seja do Amílcar Cabral ("Uma visita de solidariedade"), "por ocasião da visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem (sic), à Escola Piloto do PAIGC" em Conacri"...

Há também um resumo da intervenção,  oral,  dos suecos, não sabendo nós quem foi o intérprete: o Göran Palm (conhecido escritor e ativista político de esquerda, nascido em  Uppsala em 1931, Prémio Selma Lagerlöf em 1998) e o Bertil Malmstöm (jovem professor, ativista do Comité da África do Sul, de Uppsala) falam do que "viram" e "sentiram" na sua visita às "regiões libertadas"... Dizem que estiveram no sul e no leste... 

Em referência ao sul, fala-se de uma tabanca T... que não é identificada pelo autor do documento (que só pode ser o próprio Amílcar Cabral, pela qualidade e estilo da escrita)... Presume-se que ele, Amílcar Cabral,  não tenha querido identificar a tabanca por razões de segurança, já que o documento, com o logo do PAIGC, deveria ter um destino externo... 


Capa do relatório, de 16 pp., datilografadas,  com 
a "intervenção   proferida por ocasião  da visita 
da delegação da Suécia,   constituída por Göran 
Palm e Bertil Malmstroem [sic],  à Escola Piloto 
do PAIGC". 

O Amílcar Cabral é subtil (e sedutor...) quando fala da Suécia, dos amigos suecos, da história recente da Suécia e das contradições da sociedade sueca, que estava longe de ser, em 1969,  uma utópica sociedade sem classes... 

O Amílcar Cabral  trata estes dois suecos como velhos amigos ou conhecidos... O que eu não sei é a que título estavam lá eles, em novembro de 1969, em Conacri? Se era "uma delegação da Suécia",  estavam em representação de quem? Do governo sueco? Do partido social-democrata? De alguma associação de amizade?  A título pessoal? (***)

Nessa altura, e desde 14 de outubro de 1969, o Olof Palm (1927-1986) já era primeiro-ministro.

Outra questão: será que a "delegação sueca" terá feito algum documentário (em 8mm, por exemplo)? Por que razão Luís Cabral lhes chama "cineastas"? (*)

Repare-se na data do documento: novembro de 1969... A história de Sangonhá é de 6 de janeiro de 1969. Estes dois suecos estiveram 3 semanas entre o PAIGC, em outubro e novembro de 1969. Göran Palm dirá depois que foi recebido "principescamente" pelo PAIGC, entusiasmado com a perspetiva de vir a receber ajuda (com substancial expressão monetária...) por parte de um país da Europa ocidental, com o prestígio e o peso da Suécia. Para Amílcar Cabral, era muito importante diversificar os seus apoios internacionais, não ficando apenas dependente da Rússia, China, Cuba e outros países comunistas. Nessa altura, Göran Palm fez um relatório sobre as "necessidades humanitárias" do PAIGC. Não há referência a qualquer filme deste escritor e ativista, no livro de Tor Selltröm, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, 2008, tradução portuguesa)(**).

Os nossos leitores podem consultar e ler o supracitado documento do PAIGC, página a página,  aqui, no portal Casa Comum:

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04602.051
Título: Uma visita de solidariedade
Assunto: Intervenção proferida por ocasião da visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem, à Escola Piloto do PAIGC.
Data: Novembro de 1969
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos



2. Há também, no Arquivo Amílcar Cabral, uma foto de grupo, a preto e branco, disponível aqui [em formato normal]

Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 05247.000.101
Título: Lilica Boal, Aristides Pereira, Domingos Brito e Hugo dos Reis Borges com uma delegação estrangeira
Assunto: Maria da Luz Boal (Lilica Boal), Aristides Pereira, Domingos Brito, Hugo dos Reis Borges com uma delegação estrangeira, em Conakry [visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem, à Escola Piloto do PAIGC].
Data: c. 1969
Observações: Cfr. Amílcar Cabral, documento 04602.051.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias


Legenda de LG:

da esquerda para a direita, na foto acima, temos: Göran Palm, Maria da Luz Boal (Lilica Boal),  Bertil Malmström, Aristides Pereira, Domingos Brito, Hugo dos Reis Borges.
Ao fundo, vê-se parte de um automóvel ligeiro de passageiros, um Volkswagen, provavelmente o célebre "carocha" do Amílcar Cabral.

Recorde-se que a Lilica Boal (Maria da Luz Boal) era a mulher do dr. Manuel Boal - outro natural de Angola, que saiu em 1961 para se juntar aos movimentos nacionalistas, A Lilica Boal nasceu em Tarrafal, Santiago, Cabo Verde.
Era ela, a Lilica Boal, quem dirigia a Escola Piloto do PAIGC em Conacri, sendo também ela a responsável pelos conteúdos nos manuais escolares (, publicados na Suécia). (**)

___________________


(...) No seu livro “Crónica da Libertação”, Luís Cabral menciona o "Afrika Group" como aglutinador da solidariedade da sociedade civil sueca ao PAIGC, talvez referência sintética ao “Grupo de África” de Upsala e ao “Grupo de África” de Lund, que se distinguiram na sua ajuda e a enviar os seus mentores e intelectuais de visita às “áreas libertadas” … na República da Guiné-Conacri. E aquele corifeu escreve, na pag. 335: “Os cineastas Goran Palm e Bertil Malmstron apresentaram na Suécia o primeiro documentário cinematográfico sobre a nossa luta, como resultado de uma visita ao interior da Guiné”.

Esse documentário terá a ver com a peripécia de Sangonhá?


Dado que os cineastas eram o maior bem a preservar nessa temeridade que teve Sagonhá como "palco", o experiente e felino Nino Vieira (?) terá providenciado imediatamente a sua segurança. A primeira ameaça dos FIAT precedera mais de uma hora o lançamento das “bilhas” pela malta de Bissalanca.

Alguém já visionou esse documentário? Terá registado o aludido aparato bélico do PAIGC e os “destroços” da sua “conquista” de Sangonhá? (...) 

(**)  Sobre o papel e o estatuto do escritor Göran Palm,  no desenvolvimento das relações externas da Suécia com o PAIGC,  vd. (em especial pp. 74-76, 146, 163-164) SELLTRÖM, Tor - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, 2008. [Em português; tradução: Júlios Monteiros; revisão; António Lourenço e Dulce Aberg], 290 pp. [Disponível aqui, em formato pdf:  http://nai.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf

Guiné 63/74 - P15175: Convívios (711): Divagações e recordações de um dia de verão em Paços de Sousa (Francisco Baptista)

1. Em mensagem de 20 de Setembro de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos um texto que intitulou Divagações e recordações de um dia de verão em Paços de Sousa.


Divagações e recordações de um dia de verão em Paços de Sousa


Sobra-me o tempo, faltam-me as palavras, na minha cabeça semi-adormecida haverá prazeres e desgostos sem comédias, farsas ou dramas, e há esta música que me embala e me transporta num vaivém que com suavidade, leveza e beleza me cobre o corpo e o espírito como um lençol de linho macio.
Continuarei a viver como quem cumpre um calendário com dias bons e dias maus, os antigos romanos, com mais sabedoria do que eu, tinham os dias fastos e os dias nefastos que eu somente sei distinguir depois de os viver. A alegria de viver está no contraste dos dias e no realce que os melhores momentos vividos atingem. A felicidade contínua não existe na terra e eu confesso que tenho dificuldade em imaginá-la para além da morte. A nostalgia do nada, a melancolia sem razão, o olhar perdido no tempo que passa, a forma de viver pelas sensações mais primárias, que recebemos através dos sentidos, o frio, o calor, a música, o cheiro da terra , a chuva.

Foi desta forma que vivi dois anos na Guiné, bastante indiferente à razão, à dor e ao perigo, ao ódio, ao amor. Os nossos cientistas em antropologia dizem que o nosso antepassado, o homo sapiens nasceu em África. Na África voltei a ser um animal mais bípede do que sábio, e a viver segundo essas emoções primordiais.
Tudo me convidava a viver dessa forma, desde as razões e sem-razões, que se combatiam em mim, por lá ter ido parar, ao paraíso bíblico, dessa terra de bolanhas, florestas, rios e mares, que tinha o cheiro forte e quente do início do mundo quando os nossos antepassados, por serem negros ou não terem pecados, andavam nus, sem frio ou calor, sem vergonha ou pudor.

A acrescentar a tudo isso, a água não era recomendável, podia causar cólera, diarreias e outras doenças, mas arranjava-se cerveja e whisky por bom preço. Um camarada que esteve na Guiné, no meu tempo e não muito longe de mim, contou-me este ano, que o capitão da companhia dele mandava retirar umas pequenas barras de chocolate das rações de combate e as punha à venda no bar dos soldados. Conheci-o lá, sem saber dessa vigarice, por outras razões nunca gostei dele, sei que ainda hoje consegue congregar uma grande parte da companhia em almoços anuais.
Será que se arrependeu e agora anda a devolver os chocolates roubados? Será que os portugueses gostam de ladrões bem-falantes?

Sobre os capitães que comandaram as duas companhias onde estive, não me pronuncio, um já morreu há muitos anos e o outro penso que era um homem honesto. Ainda hoje tenho raiva a esses ladrões, sobretudo graduados de várias patentes, que roubaram tanto alimento essencial às dietas dos soldados. A somar aos trabalhos, sacrifícios e perigos que diariamente sofriam, ainda tinham que ser roubados por quem os devia proteger, do pão necessário e essencial à vida.

Com comandantes destes, qualquer guerra estaria perdida pois um soldado mal alimentado é um soldado desmotivado. Penso que depois do 25 de Abril de 1974, com o fim da guerra, muitos desses heróis, com o registo criminal limpo e com uma folha de serviços gloriosa, arranjaram bons lugares no aparelho do estado e nas autarquias para continuarem a fazer o que bem sabiam, roubar e enganar o povo.

Para que ninguém diga que eu entre queixumes, lamurias e acusações só uso o blogue para lavar a alma do lixo que vai acumulando entre rugas pronunciadas que já não consegue disfarçar, vou enviar algumas fotos dum dia alegre e memorável de sol radioso, que passei, já há quase dois meses com alguns camaradas da Guiné e de outras guerras, num ambiente bucólico, debaixo de uma ramada, com boa comida, bom vinho e boa música popular portuguesa, bem cantada e tocada por camaradas e amigos.

O convívio passou-se na casa da mãe do camarada Vitorino, uma senhora idosa mas alegre e jovial. Tenho encontrado bons camaradas e amigos na Tabanca Grande. Na Tabanca de Matosinhos, o tipo de contacto mais físico, já que almoçamos frequentemente juntos proporciona conversas mais privadas e pessoais entre todos e uma amizade mais personalizada. Foi pelo Vitorino e outros camaradas músicos, que encontrei ocasionalmente num convívio em casa de um amigo comum, que tive conhecimento da Tabanca Pequena ONGD e fui convidado a entrar para sócio e frequentar os almoços semanais.

O Vitorino quase não perde um dos almoços da Tabanca. Eu que nem sempre posso ir (tenho outros amigos para almoçar no mesmo dia) gosto sempre de o encontrar lá. Sou muito amigo dele e ele dá-me a honra de ser também meu. Sou um entre os muitos amigos que ele tem, pois é consensual entre todos os que o conhecem, que ele consegue distribuir a sua simpatia natural e a amizade, entre muitos e consegue estar sempre bem disposto mesmo quando a vida lhe corre menos bem. A casa situada em Paços de Sousa, perto de Penafiel, está isolada numa zona de pinhal com vinha e horta contíguas.

Depois do almoço houve uma grande sessão de música popular portuguesa cantada e tocada pelo Vitorino e 9 ou 10 amigos, uns camaradas da Guiné, outros só amigos.
Dentre os amigos que pertencem à Tabanca Grande estava o José Teixeira, o Xico Allen, o João Rebola, o Barbosa, o coronel Coutinho Lima. O José Teixeira que se sabe distinguir tanto na prosa como na poesia, como muitos sabem, que tem por cá muitos amigos e muitos amigos na Guiné. Amizades obtidas e consolidadas nas deslocações que tem feito lá regularmente.
O Xico Allen que mais do que todos tem feito deslocações à Guiné, por terra, por ar e por mar, um camarada popular conhecido em todas as tabancas de Portugal e da Guiné. A haver cônsul da Guiné no Porto devia ser escolhido entre estes dois camaradas pois conhecem bem as realidades e a história recente da Guiné e sabem estabelecer laços de amizade entre os dois países.
O João Rebola, esse alentejano dum raio, que penso que já regressou à Guiné depois do susto que passou em Bissorã quando o inimigo emboscado o deixou passar a correr na motoreta dele.
O coronel Coutinho e Lima, um camarada sempre bem disposto, que eu não conhecia pessoalmente, um comandante famoso, que sem autorização do general Spínola ordenou e comandou a retirada de Guileje, essa praça forte mais flagelada do que todos os quartéis da Guiné, para poupar a vida dos homens sob o seu comando e a da população. Sobre isso escreveu um livro, que eu vi oferecer aos dois irmãos da casa. Disse-nos ainda que estava a escrever outro sobre as outras duas comissões que fez também na Guiné. Comandante ficamos a aguardar e que os ares de Vila Fria te dêem saúde e te inspirem!

Havia outros que só pertencem à Tabanca de Matosinhos, o Jorge Cruz, o Luís, o Ferreira, o Júlio, o Manuel Galvão que fizeram tropa na Guiné em variados lugares e diferentes especialidades. Todos estes camaradas penso que todos ou quase todos, já voltaram em visita à Guiné.
Seriamos cerca de 23 entre diferentes amigos, tendo ainda faltado alguns que não puderam ir.
Dentre os músicos, lembro-me agora de um deles que canta tão bem como toca, o Arménio, que se safou das guerras por ser mais novo do que a maioria presente.

Graças ao Vitorino e à sua família, passámos um dia muito agradável, com boa comida, bom vinho e boa música. Um grande dia só possível porque o Vitorino é um homem que tem um grande coração e gosta de organizar estas festas alargadas em que se celebra a amizade. Na amizade vivem-se as virtudes mais nobres entre os homens; a confiança, o respeito, a honestidade, a lealdade, a tolerância, a solidariedade.

"Dos sentimentos humanos, o menos egoísta o mais puro e desinteressado é a amizade" 
Cícero

P.S.  
- Agradeço ao Vitorino e ao irmão Emílio, bem como às simpáticas cozinheiras (a comida estava óptima) as esposas deles e à esposa do Carlos Teixeira, pelo grande convívio que nos proporcionaram, sem esquecer a animação feita pelos músicos.
- Agradeço ao Chico Allen pelas muitas fotos que me remeteu e pela boleia que me deu e ao João Rebola pelas fotos que me enviou também.

A todos um abraço.
Francisco Baptista

O Xico Allen em acção

Quase pronto a ser servido


João Rebola, Cor Coutinho e Lima, José Teixeira e Francisco Baptista


Vitorino, o nosso anfitrião, dedilhando a viola

Emílio, irmão do nosso camarada Vitorino, durante um pezinho de dança

A Matriarca, senhora D. Eva Salgado, com uns bonitos 88 anos, feitos há dias, mãe de 9 filhos, entre os quais o Vitorino e o Emílio.

Para ouvir "Videira que dá uvas azuis e brancas" na interpretação dos Musikotas, clicar aqui



Centro de operações


Francisco Baptista, António Barbosa e Xico Allen

  António Barbosa ataca o tacho

Francisco Baptista e Coronel Coutinho e Lima

Fotos: © Xico Allen e João Rebola
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15142: Convívios (710): XVII Encontro do pessoal da CCAÇ 4544, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro de 2015, em Alcobaça (António Agreira)

Guiné 63/74 - P15174: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (22): De 09 a 23 de Outubro de 1973

1. Em mensagem do dia 26 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 22.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

22 - De 09 a 23 de Outubro de 1973

Das minhas memórias:

O mês de Outubro de 1973 iniciou-se com a melhoria do tempo e a perspectiva de diversificação da nossa actividade operacional, devido à abertura da nova estrada Aldeia Formosa – Buba. Isso deu-nos, naquela altura, algum ânimo, mesmo sabendo que essa construção implicaria um redobrar de esforços para todos. Mas era o efeito “novidade” que nos animava por certo, esperando que esta estrada não desse as amarguras sentidas na de Mampatá – Cumbijã, que fora traçada para entrar pelos terrenos do inimigo adentro.

Outubro ficaria ainda marcado pelo incontável número de colunas de A. Formosa a Buba com os inevitáveis patrulhamentos e picagens, seguidos da instalação nas matas o dia todo: foram os reabastecimentos do costume, foram os equipamentos e o pessoal da Engenharia, foi a deslocação para Buba do pessoal do BCAÇ 4516 e foram as várias que se fizeram para transportar a população para a festa do Ramadão e para a eleição do sucessor do Cherno Rachid. Se atendermos a que a picada estava muito danificada, nalguns pontos quase intransitável, dá para perceber o esforço exigido a quem fazia a protecção e a quem, de viatura, aos balanços e aos saltos, “navegava” naquele pesadelo. Os troços aproveitáveis da picada, menos sujeitos às correntes diluvianas, ficaram agora devastados pela passagem das máquinas pesadas e de lagarta da Engenharia.

Acrescia ainda a actividade dos patrulhamentos cada vez para mais longe. Como nota positiva, o facto de não termos sido incomodados pelo inimigo, mais preocupado em continuar a flagelar Cumbijã. “A actividade do IN continuou a ser fraca, sendo de salientar a flagelação a CUMBIJÃ, não só pelo grande número de granadas utilizadas, como pela precisão do seu fogo”. (da “Situação Geral” da H. U. do BCAÇ 4513, 01 a 31 Out73)


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

OUT73/09Pelas 1730 GR IN não estimado flagelou o Destacamento de CUMBIJÃ durante 45 minutos, com 100 granadas de CAN S/R e 5 granadas de MORT 82, sem consequências. As NT reagiram com fogo de ART e MORT. [Sublinhados meus a negrito]

- Esteve presente no Comando do Batalhão, a apresentar os seus cumprimentos de despedida, o CHERNO ALIU CHAM da REP SENEGAL, e que agradeceu todo o apoio prestado quando do falecimento do CHERNO RACHID e todo o apoio sanitário que se continua a ser dado em todos os pontos da fronteiriça da REP SENEGAL.~

- Chegaram a BUBA os Dest. ENG N.º 1 e 2 e a Brigada de Estudos e Construção de Estradas.

OUT73/10 – Realizou-se uma coluna de reabastecimento a BUBA a fim de transportar p/ A. FORMOSA os elementos do DEST ENG N.º 1, assim como algumas máquinas e materiais do mesmo.


Foto 1: Nhala, 1973 – Coluna de viaturas e máquinas da Engenharia rumo a Buba, numa pausa em Nhala. Se estavam a caminho de Buba estavam de saída: calculo que sejam as máquinas que construíram a estrada Mampatá-Nhacobá. Revelo-as só pelo aparato semelhante e sempre “festivo” que originavam e porque não tenho imagens da coluna com a Eng.ª N.º1 que por aqui passou rumo a A. Formosa. 


Foto 2: Nhala, 1973 – Saudosa, esta imagem de Nhala com a mata ao fundo ainda integral. Não faltaria muito tempo para que fosse dilacerada para fazer o troço que ligaria, lá muito por trás dela, à estrada nova A. Formosa – Buba. 

OUT73/11 – Forças da 2.ª CCAÇ/4513 durante a acção “OSÍRIS” executam patrulhamento na região do R. UUGUIUOL sem contacto. [relacionado com histórias marginais (3)].
- Forças da 3.ª CCAÇ/4516, accionaram na região de NHACOBÁ uma MAPESS (mina antipessoal) IN, sofrendo dois feridos graves.

[Em carta de 19-10-73 para a Metrópole refiro mais esta flagelação a Cumbijã (dia 9), e o caso do soldado do novo Batalhão (BCAÇ 4516) que ficou sem uma perna ao pisar uma mina entre Cumbijã e Nhacobá. Depois interrogo-me: seria este o soldado que veio a falecer por falta de evacuação atempada? Nunca soube. Mas era a informação que corria.

Outras notas dessa carta: Um pelotão de Buba teve (em 17-10-73) um contacto no mato sem baixas, mas parece que causaram mortos e feridos. Pela rádio pediram tiros de obus a Buba e durante toda a tarde ouviram-se aqui em Nhala tremendos rebentamentos das granadas a baterem a zona; Continuam a chegar as máquinas para a construção da nova estrada. Supõe-se que o PAIGC esteja ao corrente e comece a concentrar as suas forças na área. Pela nossa parte estamo-nos também a preparar].


Histórias marginais (3) – Inimigos poderosos: formigas e mosquitos... 


Foi mais um patrulhamento para a região do Rio Uuguiuol mas, desta vez, com o meu grupo a solo. Ia o grupo em passo lesto e com muito ânimo a atravessar uma zona de savana ensolarada, depois da longa e monótona mata. Pára o grupo e chego-me à frente para ver o que se passava, mas não foi preciso andar muito para ver os três ou quatro homens da frente aos saltos, cinturões e armas para o chão, calças para baixo, palavrões, de repente em cuecas e a esfregarem as pernas, esgares de dor, enfim, parecia uma macacada mas percebi logo que era sério: pisaram formigas. Tenho a ideia vaga de que eram as temíveis formigas vermelhas [1], mas também podiam ser as formigas pretas de grandes mandíbulas [2] que eu cheguei a ver, noutra ocasião, a irem agarradas aos pneus das viaturas que tinham pisado um largo carreiro delas na picada. A verdade é que a ignorância sobre a enorme diversidade animal, que se nos deparava no dia-a-dia, era quase total.

Depois de socorridos os homens, cheios de vermelhões e ainda a arrancar cabeças de formiga cravadas nas pernas, tentei no local avaliar a extensão da área coberta pelas formigas, em total desordem, e concluí que o resto do grupo não podia passar por ali. Tinha que encontrar uma zona em que as formigas ainda estivessem a passar de forma organizada, e tínhamos que sair dali rapidamente. A dez ou vinte metros do local do incidente elas continuavam a sua marcha ordeiramente, sempre no mesmo sentido e alheias ao que se passara lá à frente. Mas não era um carreiro de formigas, era uma torrente delas com, talvez, meio metro de largura. Um pequeno salto era o suficiente para ultrapassá-las. Se não as calcássemos. Para não correr riscos, cortámos duas estacas que eu cravei no solo, sinalizando as “margens” daquele caudal ameaçador e todos passámos sem problemas, com uma pequena corrida e um salto na primeira estaca, até os pés baterem para além da segunda estaca.

Pode parecer caricato um grupo de combate ser travado assim, por uma espécie que mal se vê nas ervas do chão, e caricato também tanto empenho na prevenção de novo incidente e, até, esta relevância que agora dou ao assunto. Mas quem passou por algo semelhante, não vai achar nada de brejeiro neste relato. Muito menos os meus soldados, que diziam que aquelas picadas eram piores que as das abelhas, e que saíram dali com marcas que não esqueceriam tão depressa, sem saberem, ainda, as consequências delas e, muito menos, o que os esperava ainda antes de acabar o dia.

Cumprida a missão do patrulhamento, no regresso já pelo fim da tarde, lá estavam as estacas mas nem sinal das formigas. Só que, como se não tivesse bastado, mais adiante e antes de penetrarmos na mata, durante uma pequena pausa para descanso, fomos atacados por mosquitos. Não daqueles mosquitos que em massa nos atacavam à noite na mata e nos deixavam ardor e comichão, mas cujo incómodo maior era o seu enervante zumbido. Estes eram mosquitos grandes [3] e com um aspecto que eu desconhecia ou de que nunca tinha dado conta: as suas longas pernas eram manchadas de preto e branco. Recordo que, o que primeiro me ocorreu foram as antigas bengalas dos cegos e nunca mais esqueci esta alusão. Tinham também uma fúria a atacar que me pareceu superior aos restantes mosquitos, indiferentes ao espanejar de camisas e quicos. 

Mas o pior era que a sua picada, logo aos primeiros instantes, deixava marcas nos mais sensíveis que inspirava apreensão e requeria cuidados imediatos. Recordo bem as costas de alguns com autênticos caroços tumefactos logo após a picada e, não muito mais tarde, viam-se erupções purulentas. Fiquei impressionado e preocupado mas não por mim, pois as picadelas que sofri, para além da dor e do incómodo, não provocaram efeito nenhum. Só muitos anos depois associei este mosquito à malária, lendo artigos sobre o assunto. A verdade é que recentemente, creio que em 2013 ou 2014, por duas vezes, identifiquei esse mosquito junto da minha casa.

Tudo isto se passou em curto espaço de tempo, pois urgia sair dali rapidamente para evitar consequências mais graves, e foi o que fizemos, em correria, alguns ainda em troco nu e a sacudirem-se mutuamente. Nos dias seguintes acompanhei os casos mais graves e verifiquei como era demorada a cicatrização daqueles autênticos furúnculos purulentos. Mas já estava habituado a que um ou outro não comparecesse à chamada por estar com paludismo. Por tudo isto e por muitas outras ocorrências, embora seja quase imune à picada dos mosquitos, ainda hoje, se descubro um único mosquito no quarto, só adormeço quando estou certo de o matei.

[1]Marabunta (Cheliomyrmex andicola): é uma formiga-correição que vive principalmente debaixo da terra nas selvas tropicais da América. (Outras fontes referem América e África), são de cor avermelhada, tamanho médio.

As suas mandíbulas são em forma de garra e armadas com grandes espinhos, semelhantes a dentes, que permitem que elas se prendam às suas presas durante o ataque. As suas picadas são extremamente dolorosas, irritantes e paralisantes. A dor que provocam assemelha-se com a da picada das "formigas de fogo".

São a única espécie que remove e consome carne de vertebrados, como lagartos, serpentes e pássaros, inclusive de animais de maior porte, bem como do homem. (Todos os dados parecem corresponder às formigas que referi. A recolha é da Wikipédia com a devida vénia).

[2]Formiga legionária: é uma formiga semelhante à marabunta mas capaz de matar até galinhas e outros animais maiores devido ao seu ferrão muito venenoso. Matam e comem qualquer coisa que encontrem pela frente. O que principalmente a distingue da marabunta, é que não constroem ninhos permanentes e estão quase sempre em movimento. (Julgava ser esta a formiga que refiro no texto, mas agora tenho dúvidas, pois não encontrei informação desta espécie com a cor negra. A recolha é do site “comotudofunciona” com a devida vénia). 
Nota: Em África, todos os que encontraram estas espécies pela frente, ainda assim, podem-se considerar sortudos, pois aí não existe a formiga-bala que, como o nome indica, a sua picada é semelhante ao impacto duma bala. E o pior vem depois: é frequente as suas vítimas, ao fim de um dia ou dois, apelarem para que lhes amputem o membro picado por já não suportarem mais a dor. Só existe na América do sul).

[3] - Anopheles, mosquito transmissor da malária: A doença é transmitida pela fêmea do mosquito do género Anopheles. No Brasil, o principal parasita que causa a malária é o Plasmodium vivax. Ele é menos perigoso do que o Plasmodium falciparum, por exemplo, o mais predominante na África. (Recolha do site “VEJA”).


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:


(...)

OUT73/11 – Forças da 3.ª CCAÇ/4516, accionaram na região de Nhacobá uma MAPESS (mina antipessoal) IN, sofrendo dois feridos graves. [Relacionado com a minha nota anterior, com data de 19-10-73].

(...)

OUT73/16 – O Cmdt do Batalhão deslocou-se a Nhala e Buba.
- Por determinação superior o BCAÇ 4516 passa a ser força de intervenção do Comando-Chefe. [Ficou apenas a 3.ª CCAÇ em Colibuia].

OUT73/17 – Pelas 1530 forças da 1.ª CCAÇ/4513 interceptaram em Xitole (2 E 7-17) grupo inimigo de 120 elementos armados, deslocando-se no sentido S-N. NT sem consequências, o IN com prováveis feridos e mortos. Capturado 1 granada de RPG-7.

(...)

OUT73/23 – Durante a picagem do itinerário MAMPATÁ-UANE foi detectada uma mina A/P IN por forças da CART 6250.
- Seguiu para BUBA, com destino a BISSAU a 1.ª CCAÇ 4516.


Das minhas memórias:


23 de Outubro de 1973 – (terça-feira) – Carreiro de Uane.

Estive com o meu grupo, mais uma vez, na protecção à coluna para Buba – e retorno -, junto ao “carreiro” de Uane. Este “carreiro” era um corredor de passagem e reabastecimento da guerrilha que se cruzava com a nossa picada, mais ou menos a meio caminho entre Nhala e Mampatá. Daí que, para a protecção às colunas, saísse um grupo de Nhala e outro de Mampatá fazendo a picagem até ao “carreiro” onde nos encontrávamos e trocávamos informações sobre alguma anormalidade. Depois cada grupo se afastava umas centenas de metros na direcção dos respectivos aquartelamentos e instalava-se na mata junto à picada onde se passava o dia quase todo, até ao regresso da coluna a A. Formosa. Uma vez ou outra, instalávamos na zona de Samba Sabali. Se não tivesse ordens em contrário, eu preferia ficar com o grupo quase em cima do “carreiro”, onde emboscava para evitar surpresas vindas dali.

Neste dia (23), já no “carreiro” há algum tempo, estranhei a demora do alferes de Mampatá (CART 6250). Instalei logo ali o grupo na mata e fiquei na picada a aguardar. Por fim lá apareceu ele ao fundo na curva, sozinho por também já ter instalado o seu pessoal, (os grupos quase nunca se chegavam a ver), e com uma pequena caixa de madeira na mão. (Foi nesta ocasião que me avisou de que em Mampatá um milícia me tinha procurado para me matar... Seria só da bebedeira? Um dia talvez conte). Vinha então o alferes com uma caixa na mão. Era uma mina antipessoal artesanal que ele tinha levado tempo a levantar. Ainda nos rimos da mina quando a examinei e vi que estava quase podre. Parecia inofensiva, mas nunca fiando!...

Julgo ter sido neste dia que, enquanto esperava, penetrei no “carreiro” numa certa extensão a tentar descodificar sinais que me dessem uma ideia do número de elementos que ali passaram e em que direcção porque, à chegada, tínhamos visto o óbvio, mesmo no ponto onde o “carreiro” cruzava a picada: tinham ali passado muitas botas e muito recentemente. Não recordo a direcção. Passei essa informação ao camarada de Mampatá e, mais tarde, ao meu comandante em Nhala.

Era sobre este “carreiro” mas a muitos quilómetros dali na direcção do Rio Corubal, que tínhamos em permanência um pequeno campo de minas. Mesmo a partir de Nhala a corta-mato, para se interceptar o “carreiro” no sítio minado, caminhavam-se várias horas, já não recordo ao certo, e sempre com um guia à frente porque, sem a sua ajuda, ainda que chegasse perto, podia nunca localizar o campo de minas. Bastava que fosse lá, por exemplo, após a época das chuvas para as levantar, quando elas haviam sido implantadas em plena época seca. Foi o que me aconteceu num dia complicado e que mais tarde relatarei.

Seguem-se algumas imagens de um dos inúmeros patrulhamentos até ao “carreiro” de Uane, com o objectivo de fazer a picagem e depois montar segurança para a passagem de uma coluna auto de A. Formosa a Buba e regresso. Podem parecer monótonas estas imagens da picada Nhala-Mampatá, mas muitos reconhecerão com saudade alguns destes trechos. Até já davam saudades naqueles tempos, quando a deixámos de usar para passar a utilizar a estrada nova...


Imagens da picada Nhala - Mampatá 



Foto 3: À saída de Nhala rumo ao “carreiro” de Uane. A seguir ao denso nevoeiro, viria o braseiro do costume. De calções, vai o Abel cheio de micose, mas não pôde ser dispensado.



Foto 4: O homem da bazuca. Lá à frente vai uma parte do grupo e a equipa da picagem.


Foto 5: Não fora o motivo da caminhada, e quanto prazer nos daria passar aqui nesta paz, sem receio do que estivesse para além daquela curva...



Foto 6: O homem dos dilagramas.


Foto 7: Passagem na zona do palmeiral. Caminhamos em silêncio total. Estamos a passar num dos pontos mais bonitos do percurso, mas também dos que requeriam maior vigilância. Agora já está seca a picada mas, ali junto às palmeiras, na época das chuvas passava-se com água pelos joelhos.



Foto 8: Estou junto ao “carreiro” de Uane no ponto em que ele cruza a nossa picada. É evidente o vestígio de uma passagem recente. 


Fotografia (slide) tirada da borda da picada. Nas minhas costas o “carreiro” corre para Norte, para os lados do Corubal.


Foto 9: O Fur. Mil. José Maria Pastor e o Fur. Mil. Domingos Oliveira nas imediações do “carreiro”. O resto do grupo está instalado na mata do lado direito.



Foto 10: Estamos de regresso após as passagens da coluna. À direita o que resta do que foi a tabanca e destacamento das NT, Samba-Sabali.



Foto 11: Quase a chegar a casa. À direita fica o aquartelamento de Nhala.

Foto 12: Nhala à vista. A tabanca, mais à esquerda quase não é visível.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Poste anterior de 22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15139: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (21): De 2 a 25 de Setembro de 1973

Guiné 63/74 - P15173: O nosso querido mês de férias (10): Eu fui um dos que nunca teve férias...Razão: por ser o "eterno comandante interino"... No máximo, passei oito dias em Bissau a tratar de assuntos oficiais... e a descansar não ficar de todo "apanhado do clima"! (Manuel Vaz, ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67)


1. Mensagem de 22 do corrente, do Manuel Vaz [ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67]:

Verifico pela "amostra" (*), que fui dos poucos que nunca tive férias, durante a Comissão, não por razões económicas, mas de oportunidade. Passo a explicar:

A minha Companhia, organizada em três Grupos de Combate, chegou à Guiné em abril de 1965 e a Gadamael um mês depois, para guarnecer este aquartelamento e o destacamento em Ganturé. 

Passados 3/4 meses o Capitão foi para o Quartel General, tendo passado eu a comandar interinamente a Companhia.

Os meus planos, quanto a férias, eram de uma vinda à metrópole, sensivelmente a meio da Comissão. Entretanto em janeiro de 1966, o Grupo de Combate do Alf Pinheiro, sofre uma emboscada, juntamente om o Pel Rec Fox na estrada de Gandembel.(Corredor de Guileje) 

A coluna sofreu 5 mortos e 14 feridos, sendo um destes o Alf Pinheiro que nunca mais regressou à Companhia. Na sequência desta baixa e das férias que outro camarada gozava, ficamos anenas dois Alf:eres, eu na sede, outro no destacamento.

Demorou algum tempo até que a situação da falta de quadros fosse reposta. Mas quando tudo parecia normalizado o Cap Mil que veio comandar a Companhia, desentendeu,se com o PCA numa operação no "Corredor de Guileje" e foi transferido, tendo eu passado a comandar interinamente a Companhia, situação que se arrastou, até faltarem três meses para virmos embora

Foi então em que apareceu um Capitão a que faltavam também cerca de três meses para ser promovido a Major. (**)

Nesta altura, não valia a pena vir à metrópole, pensei. Fiquei-me oito dias por Bissau, onde vim tratar de uns assuntos oficiais e para "não ficar apanhado do clima"!... (***)

Um abraço a todos,
Manuel Vaz

(...) Ainda com o Cap. Vieira dos Santos que passados 3 ou 4 meses foi colocado no QG, a Companhia começou a operar no “corredor de Guiledje”. Era claro que, para além do patrulhamento e segurança do setor, a Companhia teria que dar apoio logístico no reabastecimento de Sangonha e Guiledje e intervir no “corredor de Guiledje”. (...)

(...) No entanto, a Companhia estava condenada a não ter Capitão. Passado algum tempo, depois do Cap. Vieira dos Santos sair, foi nomeado Comandante, o Cap. Mil. Anacoreta Soares que não se manteve até ao fim, acabando por ser transferido para o Norte. Quando faltavam três meses para a Companhia regressar à metrópole foi atribuído o Comando da mesma ao Cap. Vilas Boas a quem faltava sensivelmente o mesmo tempo para ser promovido a Major. A situação diminuiu a capacidade operacional da Companhia que só actuava como tal, quando tinha Comandante efectivo. (...)

Guiné 63/74 - P15172: Parabéns a você (967): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15158: Parabéns a você (966): António Medina, ex-Fur Mil Art da CART 527 (Guiné, 1963/65)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15171: O nosso querido mês de férias (9): Fui a Lisboa, a casa, com 6 meses, em outubro de 1969, conhecer a minha filha mais velha que tinha acabado de nascer em setembro (Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2590/ CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)



Guiné > Bissau> Outubro de 1969> Café Avenida> "Uma mesa cheia de criptos"... Do lado direito, o ex-1º cabo cripto da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuiboel e Ba,badinca, 10659/71), o Gabriel Gonçalves, mais conhecido por GG; do lado esquerdo, o autor da foto, o grã-tabanqueiro Luís Camões, 1º cabo op cripto da CCAÇ 2589 (Mansoa, 1969/71).

Foto: © Luís Camões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Texto do nosso querido amigo e camarada Gabriel Gonçalves (*):

Caros amigos editores da nossa Tabanca Grande:

A propósito da sondagem sobre as férias na metrópole, aí vai uma foto tirada em Bissau, em outubro de 1969, no conhecido Café Avenida, com o título "Uma mesa cheia de criptos".

Esta foto foi-me enviada  pelo nosso camarada e tertuliano Luís Camões, que pertencia à CCAÇ 2589 sediada em Mansoa, onde se encontrava o BCAÇ 2885.

Nesta foto, pode reconher-se, da esquerda para a direita;  

o (i) Camões;

 (ii) o nosso camarada a seguir não nos lembramos do nome, mas pertencia ao batalhão dos velhinhos de Mansoa e era das transmissões; 

(iii) a seguir o Brazão que também era operador cripto da companhia do Camões; 

(iv) depois o Gabriel Leal , op cripto de rendição individual, QG, Bissau;

e, por fim,  (v) eu, em primeiro plano, do lado direito.

Podem  ver, por baixo do meu banco, um saco da TAP [, assinalado na foto, com um retângulo a vernelho].. No dia seguinte [, já não posso precisar o dia em que a foto foi tirada, mas foi em outubro de 1969, quando eu já tinha cerca de seis meses de Guiné,], ia eu apanhar o avião para Lisboa, para ir conhecer a minha filha mais velha que tinha nascido no mês anterior (**).

Um abraço
GG

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Notas do editor:

(*) Sobre o GG, vd. postes de;


Guiné 63/74 - P15170: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte II)



Foto nº 1 > Marquês Sá da Bandeira (Santarém, 1795-Lisboa, 1876). Fundador e patrono da Academia Militar. Perdeu um braço no Alto da Bandeira, hoje Vila Nova de Gaia, durante o Cerco do Porto, a 8 de Setembro de 1832 quando as tropas os miguelistas procuraram, com um enérgico ataque, apoderar-se do reduto da Serra do Pilar. Quadro a óleo (pormenor)




Foto nº 2 > Lápide de homenagem ao patronbo da Academia Militar (, antiga Escola do Exército, fundada en 1837), o  general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira.  A história da Academia Militar remonta, pelo menos, à Restauração, em 1641.




Foto nº 3 > Academia Militar > Galeria dos comandantes > Quadros a óleo > Um deles, que serviu na Guiné, foi o gen João Almeida Bruno, ajudante de campo do gen Spínola e comandante do Batalhão de Comandos Africanos, Foi comandante da Academia Militar, entre 1989-1993 (primeiro de cima, do lado esquerdo).



Foto nº 4 > Academia Militar > Condecorações >  Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Ordem Militar de Avizm, Ordem do Infante D. Henrique e Ordem da Instrução Pública



 Foto nº 5 > Academia Militar > Biblioteca >   "A Biblioteca da Academia Militar, que atualmente alberga cerca de 36000 títulos, correspondendo a cerca de 150.000 volumes, é constituída por dois polos diferenciados. Um no Palácio da Bemposta, em Lisboa, onde se encontra a maior parte do acervo documental histórico e outro no aquartelamento da Amadora, onde são disponibilizadas as publicações mais recentes e de apoio aos alunos dos primeiros ciclos de estudos.

"A história da Biblioteca encontra-se em estreita ligação com a da própria Academia Militar. Constitui-se, inicialmente, de um fundo de obras que pertenciam à Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, fundada em 1790, no reinado de D. Maria I. Já com a designação de Escola do Exército, definida pelo Marquês Sá da Bandeira, é atribuída à Biblioteca, em 1839, um avultado nº de obras provenientes dos depósitos das livrarias dos conventos cujas ordens religiosas haviam sido extintas em 1834. Desta forma, o seu núcleo bibliográfico foi grandemente enriquecido, tanto em quantidade como no valor das obras do seu acervo. Até 1894 a Biblioteca esteve alojada em 4 pequenos compartimentos e um sótão. Nesta altura, sob a direção e planeamento do Coronel António Carlos Coelho de Vasconcellos Porto, procede-se a obras de restauro (...).

"Os fundos têm sido enriquecidos e atualizados, quer por compra quer por oferta, destacando-se algumas valiosas doações, como o acervo do Marquês Sá da bandeira, constituído pelas suas obras, mapas e escritos. Para além de diversos manuscritos, a Biblioteca guarda diversos tesouros bibliográficos, do século XVI ao XIX, como é o caso da obra de 1514 - Ars Arithmetica, de Juan Guijarro Siliceo, a História General de las Indias, de 1535 ou ainda a Arte militar dividida em três partes, de 1612. (..:)

Fonte: Academia Militar > Biblioteca (Reproduzido com a devida vénia...)



Foto nº 6 > Academia Militar > Núcleo museológico (1)


Foto nº 7 > Academia Militar > Núcleo museológico (2)


Foto nº 8 > Academia Militar > Núcleo museológico (3)



Foto nº 9 > Academia Militar > Núcleo museológico (4)


Foto nº 10 > Academia Militar > Núcleo museológico (5)


Foto nº 11 > Academia Militar > Núcleo museológico (6)




Foto nºm 12 > Capela do palácio da Bemposta (1): as armas reais


Foto nº 13 > Palácio da Bemposta (2) > Altar-mor

Lisboa > Academia Militar > Palácio da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha > Festival Todos , 7ª edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 > Visita guiada, pelo cor art Vitor Lourenço, professor da Academia Militar >


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.


1. Segunda e última parte da publicação das fotos da visita guiada à sede da Academia Militar, que incluiu o antigo  paço da rainha onde, entre outros, estão instalados diversos serviços como a biblioteca, o museu e a galeria dos comandantes...

Um sítio, seguramente, a merecer uma visita por parte dos amigos e camaradas da Guiné... Que tal fazermos um dia destes esse desafio à Tabanca Grande ?