segunda-feira, 20 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16219: Nota de leitura (849): “A Estrela de Ganturé”, conto de Natal inserido na Revista Liber 25 de Dezembro de 1981 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,

Há surpresas impagáveis e uma delas é um sujeito ficar especado na Feira da Ladra a olhar a capa de uma revista que lhe diz qualquer coisa, não sabe bem o quê, a memória dá as suas mordidelas e, confuso, o sujeito remexe na publicação e encontra uma historieta da sua autoria escrita um pouco às três pancadas em 1981, a lembrança estava totalmente esvaída. O curioso disse tudo a que havia para ali torções e distorções em datas e lugares. Mas aquela criança, que foi possível rever cerca de 20 anos depois, fora mesmo uma estrela, iluminara a vida de um jovem alferes que vivia nos meandros do Cuor disfarçado de sentinela no Geba.

Coisas que aconteceram e assim se demonstra mais uma vez que a realidade supera em toda a linha a ficção.

Um abraço do
Mário


A estrela de Canturé 

Beja Santos

Desta feita, a surpresa deixou-me boquiaberto, folheava aquela publicação que me dizia algo, mas o inesperado de encontrar ali uma historieta minha era demasiado forte para memória tão curta. Comprei a revista e fui revendo todos aqueles acontecimentos que engendraram a minha colaboração. “A estrela de Canturé” terá sido redigida algures em Outubro de 1981.

Carlos Cruz Oliveira telefonara-me para me informar de um projeto sobre cadernos da guerra colonial, fora criada uma editora para tal efeito, Andrómeda. Que eu escolhesse os temas, se quisesse eu podia dar primazia ao consumo, falar das coisas da minha profissão, mas bom seria que escrevesse de vez em quando sobre as minhas memórias da participação da guerra da Guiné. A tudo foi dizendo sim, ao quem dera, logo que tivesse disponibilidade fazia o gosto ao dedo.

Passaram as semanas e os meses, e um dia o Carlos Cruz Oliveira lançou-me um ultimato suave, havia um número praticamente pronto para o fim do ano, insistiam num texto meu. Imprevidentemente, prometi entregar nas próximas 48 horas e dei comigo a pensar: numa revista militar para civis, simultaneamente revista civil para militares, era esta a consigna da “Liber 25”, porque não puxar pelos escaninhos da memória, trouxe-mouxe, e parturejar umas recordações não remíveis, daquelas que latejam intermitentemente para demonstrar que há memórias que não se apagam?

Sentei-me à mesa, e sem papéis de consulta, de um jato nasceu “A estrela de Canturé”:

De Missirá a Gã Gémeos, a água dos arrozais desfez a estrada, estávamos em meados de Novembro. Um daqueles riachos que vai para o Geba empapou o desgastado trilho de Finete a Bambadinca. Ficámos incomunicáveis, os enfermos da doença do sono sem médico, o municiamento ainda mais difícil, estávamos sem farinha, entregues a todas as contingências da chuva, eram colunas pedestres, já que o Unimog não podia vencer o lamaçal. Colunas diárias supliciantes, fardos às costas, cunhetes de granadas em padiolas, os doentes bamboleando-se em cadeirinhas de braço humano. E não nos aliviava saber que muitos outros, noutros sítios, viviam a mesma azáfama dentro da lama.

Foram colunas que se repetiram até àquela véspera de Natal. Para falar verdade, tive a premonição logo ao chegar a Finete, também nosso cordão umbilical até Bambadinca. A Finete que eu recordo estava nas faldas de um outeiro rochoso, outeiro escalvado numa argila dura onde, como dedos gretados de sangue, se erguiam os palanques dos sentinelas, vigiando o mato denso, ouvindo o piar lúgubre dos pássaros negros que remavam em direção ao Corubal.

Condoía-me a resignação de Finete, a sua milícia sustentando aquela posição vital, porque sem aquela retaguarda nem Missirá seria um ponto difuso no mapa, sem Finete não seríamos o tal alfinete vermelho espetado no mapa da sala de operações. Finete era um ponto de passagem antes de nos metermos ao caminho, no trilho enlameado até Bambadinca e regresso, e ajoujados de comida, munições e doentes na caixa do Unimog 404, rumávamos para Missirá.

Vamos então falar daquele menino que me aquecia o ânimo, que me encorajava a prosseguir, Abudu. Abudu era um menino deformado, um rosto lindo, no seu corpo explodira uma granada incendiária. Um dia, Malã Cassamá despiu as vestes de Abudu: dos braços esquálidos prendiam-se enoveladas cordas de pele, impedindo o crescimento natural do corpinho; nas costas, outras camadas de pele, uma teia de costuras descendo até às coxas, pele que se colava à cintura pélvica, dando o recorte ao abdómen disforme, a inchar a pletora, onde caíam regos de costura e carne arrepanhada. Mas é este Abudu o meu companheiro de trilhos alagados, é ele quem me sustenta a náusea da solidão e me incita a vida dentro da circunferência de horrores de que se faz a minha guerra, onde tenho os meus inimigos absurdos e onde há corpos desfeitos que enterramos à enxada. É Abudu quem me persigna dos irãs vingativos, é Abudu o meu último fio de música que me embala, numa véspera de Natal, por quatro quilómetros de lama com vermes, vamos apressados para organizar o dia de Natal.

É a estrela de Finete, o menino dilacerado por uma granada incendiária, que me acompanha no regatear de alimentos, nas idas às transmissões, ao depósito da engenharia, às viaturas, às munições. Abudu é este incêndio nas mãos e aquelas duas pupilas que atravessam o sol quente, saltitando ao meu lado enquanto eu desdobro morosas listas de víveres, munições, ligaduras, cimento, alicates, lençóis e fronha.

Abudu quer ir passar o Natal a Missirá, a mãe consente. E lá vamos no Unimog em direção àquela paliçada em frente a capitosas matas onde, não muito longe, se acoitam os guerrilheiros. Sento-me ao lado do condutor, Abudu por ali perto, o anjo emudecido, o meu rei de presépio, para esta noite. Sacode-me a segunda premonição, é aquele silêncio opressivo na mata, e a segunda premonição vai ser consumada: Manuel Guerreiro Jorge, natural do Monte da Cabrita, Santana da Serra, concelho de Ourique, uma criança de olhos mansos, talvez um futuro seareiro, enconcha as suas mãos azeitonadas para acender o seu último cigarro. Porque logo a seguir se desfecha o enredo inextrincável, a picada abre uma garganta de dragão, fazendo estoirar naquele lusco-fusco, na curva de Canturé, um Unimog em fagulhas, corpos em estilhaços, braços dilacerantes, era um embriagado corno da morte, e eu a pensar em Abudu, meu presuntivo rei de um presépio. Quantos minutos ou segundos para eu ficar com Manuel Guerreiro Jorge transformado em tocha ardente.

Quantos minutos, segundos, que castigo para ver e sentir que uns se ferem e outros ferem, que aquele caminho aprazível para antílopes em viagem, ali se frecham irmãos e arroxeiam os corpos? Aos tombos, lá retomámos o caminho para Missirá, deixámos para trás o Unimog agonizante, somos agora uma coluna fantasmagórica, acobertados pela noite tropical num céu estrelado, a razão de ser de uma viagem ficou naquela curva de Canturé. Transportamos um moribundo e sete feridos graves, o arado desta guerra. Tarde e a más horas suplica-se um helicóptero, procura-se amenizar as dores dos feridos. Não há ânimo para a passagem de Natal, cada um recolhe-se à sua alfurja, uma casamata fria. É então que se dá o sonho ou o delírio. Inventa-se uma meia-noite de palha emplumada. A tremelicar, vai avançando para mim uma piroga festiva, Abudu acena-me, é uma estrela candente, e nesse preciso instante fecham-se para todo o sempre os olhos de Manuel Guerreiro Jorge. O que morre nasce, o que me faz estremecer alteia e eu pergunto-me, cheio de mágoa: qual o teu desígnio, Abudu, ao que vens neste teu repasto de consolação?


2. As coisas não se passaram assim, conforme as escrevi nesta historieta. Houve mina anticarro naquela curva de Canturé, mas tudo se passou no fim de tarde de 16 de Outubro. Abudu Cassamá existe, visitou-me em 1991, quando fui cooperante na Guiné. Sempre que via amigos ou conhecidos de Missirá e Finete pedia insistentemente para me trazerem notícias de Abudu. Eu vivia nas instalações da Cicer, e foi aí que ele me bateu à porta, às punhadas. Abri de repelão e dei-me com um desconhecido de cabelo hirsuto, parecia uma juba. Perguntei ao que vinha: “Sou o Abudu de Finete, quero saco de arroz, um rádio e um relógio, a vida está muito difícil na Guiné, tu tens que ser o meu paizinho”.



Pedi-lhe para passearmos, fomos a pé até Bissau, queria saber dos seus estudos, como lidava com o seu sofrimento, o que fazia, onde vivia. Ele ia respondendo aos solavancos, com respostas evasivas, insistia que eu era o seu paizinho, tinha obrigação de o trazer para Portugal, fora uma granada incendiária abandonada num reboque em Finete, em 1966, que lhe trouxera aquela maldição.

Contei-lhe que ele fora o personagem do meu primeiro auto de averiguações, que enviei deprecadas para Portugal continental e ilhas, instei um capitão, dois alferes, não sei quantos furriéis e primeiros-cabos a responder aos meus quesitos, nada se apurou, aquela criança tinha direito a uma compensação. E no grande incêndio de Missirá todo aquele volumoso processo ficou reduzido a cinzas. Recomeçou-se com menos ânimo, transferi o dossiê para o meu sucessor. Abudu Cassamá foi seguramente mais uma das grandes vítimas da guerra. Mas naquela noite, pressionado pelo Carlos Cruz Oliveira, deu-me para transformar Abudu em estrela, fi-lo rei de um presépio, dei-lhe o pleno poder de ser a minha paz navegante. E consegui-o.

Já me tinha esquecido desta estrela de Canturé, nos termos em que a alumiei para a revista Liber 25. Abudu Cassamá está seguro no meu coração, é uma das imagens do horror da guerra, da falta de sentido que premeia um ato negligente de deixar uma granada incendiária dentro de um reboque, numa povoação cheia de crianças.

Regresso da Feira da Ladra a olhar a capa da Liber, há qualquer coisa de familiar naquele desenho, intrigado vou ver a ficha para saber quem é o seu autor: nem mais nem menos de que Rolando Sá Nogueira, de quem fui muito amigo e nos deixou em 2002. Há estrelas que nos aproximam, depois disfarçam-se de cometas que esvoaçam no tempo e depois, inopinadamente, prantam-se diante dos olhos, iluminando passado, presente e futuro. Mal sabia eu em 1981 que 25 anos depois iria pôr em ordem toda aquela escrita e publicar o poema que dediquei a Abudu, a minha estrela de Canturé.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16212: Nota de leitura (848): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16218: Dossiê Guileje / Gadamael (28): A situação de Gadamel, ao tempo da CCÇ 2796 (1970/72), que teve dois grandes comandantes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e Cap Art António Carlos Morais Silva (Vasco Pires, (ex-Alf Mil Art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem de 4 do corrente do nosso camarada da diáspora, Vasco Pires (ex-Alf Mil Art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72):

Assunto - Tempo de antena

Boa tarde Padrinho, Carlos Vinhal, Cordiais saudações. 
Tendo lido os rasgados (e acredito merecidos) elogios ao Senhor Tenente-General  [António Martins de Matos] (*), escrevo este, para dar uma modesta sugestão: publicar como post os meus últimos comentários sobre o Senhor Coronel Morais Silva, até para os Camaradas que não o conheceram, saberem que não se trata de qualquer um que andou passeando os galões pelos trópicos, mas sim de um Oficial com "obra feita" como Comandante operacional, e se isso não fosse suficiente, Professor da Academia Militar e Capitão de Abril. 
Esse é o meu pedido, que submeto à avalizada decisão dos editores.

Forte abraço.
VP


2. Segunda mensagem com data de 12 do corrente:

Assunto - Situação de Gadamael 1970/72
Bom dia Carlos /Luís,
Cordiais saudações,

Nestes tempos de comunicação em rede, quando alguém publica uma informação, verdadeira ou falsa, logo uma "multidão" a repete, muitas vezes, sem qualquer verificação.

Quando alguém fez o relato dos acontecimentos de 73, ajuntou a afirmação de que raramente Gadamael era atacada, provavelmente comparando. Então, quando alguém quer discorrer sobre Gadamael, repete a mesma afirmação.

É direito e obrigação dos intervenientes, restaurarem a realidade dos factos. Foi o que fez recentemente o senhor Coronel A. C. Morais Silva, à época Comandante Operacional do aquartelamento de Gadamael, que passo a citar:  

"...em dezembro 70, a CCAÇ Ind 2796 (em início de comissão) foi flagelada em 16, atacado o aquartelamento em 20 (uma hora), e flagelada no dia 30. ~

"Destas ações resultaram 2 baixas nas NT e 16 na POP. Em janeiro de 71, ataques em 8, 10, 11 e 28. Combate próximo em 5 e 24 ( morte do cmdt comp.capitão inf. Assunção Silva). (**)

Em 6/7 de fevereiro de 71 o aquartelamento é flagelado durante 3 (três!) horas repetindo em 28 de fev. Neste período a companhia teve 9 baixas (ver no P7756 o estado da companhia em fins de janeiro de 71...).(**)

"Nos treze meses de estadia em Gadamael, a CCaç 2796, teve 5 mortos e 26 feridos, foi flagelada 25 vezes e teve 5 contactos com o IN."

"Reafirmo que a pressão exercida pelo PAIGC de Dez de 70 a Mar 71, buscava a queda de Gadamael e a consequente queda de Guileje. Não o conseguiu, porque a guarnição de Gadamael, apesar dos momentos difíceis que viveu, manteve a posse da posição, a segurança da população, o apoio logístico a Guileje, e a liberdade de movimentos do setor. "

Solicito publiquem, para que fiquem registados os factos; assim, qualquer um pode fazer as comparações que lhe aprouver!!!

Forte abraço
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia
Gadamael (***)
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Guiné 63/74 - P16217: Parabéns a você (1097): Cherno Baldé, Engenheiro e Gestor de Projectos, Amigo Grã-Tabanqueiro da Guiné-Bissau

____________

Nota do editor

Último poste a série > 19 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16214: Parabéns a você (1097): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)

domingo, 19 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16216: Agenda cultural (491): lançamento da obra "A presença portuguesa na Guiné: história política e militar: 1878-1926", de Armando Tavares da Silva, 5ª feira, 23 de junho, às 18h00, em Lisboa, no Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11



Convite para o lançamento da obra "A presença portuguesa na Guiné: história política e militar: 1878-1926", de Armando Tavares da Silva, na próxima 5ª feira, 23 de junho, às 18, em Lisboa, no  Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, telefone 213 241 470. 

A Edição é da Editora Caminhos Romanos, com sede no Porto. 

A apresentação está a cargo do alm Nuno Vieira Matias (n. 1939, combateu na Guiné, como comandante do Destacamento n.º 13 de Fuzileiros Especiais, de 1968 a 1970; e Presidente da Academia de Marinha, vice-presidente da Direcção da Sociedade de Geografia de Lisboa, membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, membro de mérito da Academia Portuguesa da História, entre ourtros cargos).

Não temos informação sobre o autor, Armando Tavares da Silva, mas julgamos tratar-se do professor catedrático reformado, do departamenmto de química, da Universidade de Coimbra, nascido em 1939, autor de "D. Manuel II e Aveiro: uma visita histórica  (27 de novembro de 1908) [S.l. : s.n.], 2007 ( Mafra : -- Rolo & Filhos).


1. Mensagem de 18 do corrente, enviada por Artmando Tavares da Silva:

Ex.mo Senhor,

Visto poder ser do seu interesse, venho trazer ao seu conhecimento que no próximo dia 23 de Junho, 5ª-feira, no Palácio da Independência, pela 18 horas, terá lugar o lançamento do livro
"A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)".

Ao mesmo tempo peço e agradeço divulgação entre amigos e conhecidos eventualmente interessados.

Anexo Convite e Sinopse do livro.

Com os meus melhores cumprimentos,

Armando Tavares da Silva



2. Sinopse da obra > "A Presença Portuguesa na Guiné – História Política e Militar (1878-1926)”


"Este livro é o resultado de um extenso e rigoroso estudo sobre a antiga Guiné portuguesa – hoje a Guiné-Bissau – e nele se relata a acção governativa portuguesa durante o importante período de quase 50 anos que se seguiu à separação administrativa da Guiné do governo-geral em Cabo Verde, até aos anos em que a existência de uma administração portuguesa mais solidamente implantada no território ia permitindo o seu mais firme desenvolvimento.

É uma história até hoje não contada que nos revela as vicissitudes que condicionaram aquela acção e, em particular, as circunstâncias que determinaram e em que ocorreram as várias operações militares que naquele período se foram sucedendo no território. O livro patenteia-nos ainda a presença e acção de muitos régulos, alguns com marcada projecção, e torna clara a existência de dois grupos que disputavam o domínio da sua vida comercial e administrativa.

O texto é acompanhado de variadíssimas fotografias e de mais de duas dezenas de elementos cartográficos inéditos." (Fonte: autor)

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2016 >Guiné 63/74 - P16204: Agenda cultural (483): Livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Edições Colibri, 2016): apresentação por A. Marques Lopes, 5.ª feira, dia 16, pelas 18,00 horas, Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos

Guiné 63/74 - P16215: Convívios (755): AVECO- Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste , nas festas do concelho da Lourinhã (23 a 26 de junho de 2016)... Mas também a banda de música Melech Mechaya (a 25, sábado, 23h30)


Cartaz promocional da Tasca do Combatente, da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhã, no âmbito das Festas do Concelho da Lourinhã (de 23 a 26 de junho de 2016)

Parabéns à nossa AVECO
E à Tasca do Combatente,
´Tá bem giro o boneco,
Vamos lá todos dar ao dente!

(refrão)

Vamos lá todos dar ao dente,
Sejas cabo ou general,
Branco ou tinto, p'ra toda a gente,
Que o Santo  não te leva  a mal.

Que o Santo  não te leva  a mal,
Lourinhã é sua terra,
Deu a volta a Portugal,
Veio cansado da guerra.

Veio cansado da guerra,
D' África ou colonial,
Deixou de estar na berra,
Só quer a paz... celestial.

Só quer a paz celestial,
O nosso são Joãozinho,
Mas aqui tem um rival,
Que é um tal santo Antoninho.

Que é um tal santo Antoninho,
Brejeiro e folgazão,
Depois de morto foi soldadinho,
Santo protetor da Nação.

Santo protetor da Nação,
E dos nossos veteranos,
A quem desejo, do coração,
Muita saúde, muitos anos.

Parabéns à nossa AVECO
E à Tasca do Combatente,
´Tá bem giro o boneco,
Vamos lá todos dar ao dente!

(refrão)

Letra: Luís Graça (2016)


2. Destaque, no âmbito das Festas do Concelho da Lourinhã (de 23 a 26 de junho de 2016), para a atuação da banda musical Melech Mechaya, dia 25, sábado, às 23h30.  (Ver aqui página no grupo no Facebook.)

O recinto das festas é no Estádio do Sporting Clube Lourinhanense. A entrada é livre. Que não falta a alegria e a sã camaradagem aos nossos veteranos do Oeste e seus amigos e familiares. Boas festas populares para todos os nossos leitores!
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 16 de junho de  2016 > Guiné 63/74 - P16209: Convívios (755): Grande ronco no 31ºConvívio Anual da CART 3494 em Arcozelo – Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P16214: Parabéns a você (1097): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16210: Parabéns a você (1096): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/73)

sábado, 18 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16213: Os nossos camaradas guineenses (44): Criada, em Bissau, a Associação dos Filhos e Viúvas dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas (AFVCFAP): presidente Suleimane Camará (Idrissa Iafa, jornalista, Rádio Pindjiguiti)


Guiné-Bissau, Bissau > 2016 > Suleimane Camará,  presidente da Associação dos Filhos e Viúvas dos ex-Combatente das Forças Armadas Portuguesas. Cortesia da página do Facebook de Idrissa Iafa.



1. Mensagem de Idrissa Iafa, jornalista da Rádio Pindjiguiti, Bissau, com data de ontem:


Bom dia. 

Foi legalizada na semana passada a Associação dos Filhos e Viúvas dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas, denominada AFVCFAP, [com sede] em Bissau.


Neste âmbito queremos uma parceria convosco, afim de se unirem [connosco], para que aos nossos pais sejam pagos os seus direitos pelo Governo português, como faziam os outros países das [antigas] colónia portuguesas.

Em anexo esta uma reportagem sobre a legalização do referido associação. [

Obrigado e boa compreensão

Idrissa Iafa.


2. Comentário de LG:

Idrissa, infelizmente não conseguimos abrir o ficheiro (áudio ?)  que acompanhava a  tua mensagem, a qual temos todo o gosto em divulgar. Não temos, na Internet, qualquer informação sobre esta  nova associação. De qualquer modo, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são, costumamos nós dizer aqui, entre nós, neste blogue... e não é uma mera figura de retórica. 

Isto é válido para os nossos camaradas guineenses que integraram as Forças Armadas Portuguesas. Mesmo tardia, há alguma justiça que pode ser feita a esses nossos camaradas, que na sua grande maioria já morreram.  E, pelo menos, alguma da nossa ajuda humanitária pode doravante ser  encaminhada para a nova Associação.

Temos um série sobre Os Nossos Camaradas Guineenses. Queremo ser úteis e solidários. Mas precisamos de saber quais são os vossos objetivos. O Suleimane Camará, que nos contacte por email. Pomos desde o nosso blogue à vossa disposição. Mantenhas
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15284: Os nossos camaradas guineenses (43): Quem se lembra do Madjo Baldé, natural de Mampatá, nascido em 1936, sold at inf, Madjo Baldé. que serviu o exército português desde 1961 a 1966, incluindo a 1ª Companhia de Caçadores (Umaro Baldé, filho, a viver na ilha do Sal, Cabo Verde)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16212: Nota de leitura (848): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Não é um ensaio historiográfico, porém e doravante não se poderá prescindir para quem estudar Bolama e a Guiné-Bissau de ler este relato apaixonado e íntimo.
É um retorno à juventude, uma homenagem aos seus amigos, há uma descrição que António Estácio faz de Bolama que nos arrasta, viajamos com ele por ruas, praças e jardins, entramos em festas e piqueniques, visitamos amigos conhecidos, comemos fruta e vamos à praia.
Retrato de um mundo que se desvaneceu para todo o sempre e que mereceu um registo empolgante, tão empolgante que os guineenses são merecedores de o conhecer, cabem ali bolamenses e portugueses que fazem parte da sua história.
Que feliz ideia teve o António Estácio ao coligir estas memórias, repartindo connosco a sua infância.

Um abraço do
Mário


Bolama, um indefetível amor do António Estácio (2)

Beja Santos

Em “Bolama, a saudosa…”, o nosso confrade António Júlio Emerenciano Estácio surpreende-nos com uma pesquisa em torno das suas memórias bolamenses, edição de autor, 2016. Não se trata de uma pesquisa histórica, um levantamento minucioso sobre essa Bolama que deu querela internacional, foi capital da colónia quando no terceiro quartel do século XIX se deu a desafetação de Cabo Verde, uma Bolama que teve a Imprensa Nacional, uma unidade militar que formou o contingente local e em cuja baía aterravam e levantavam os Clippers da Pan American. Este livro é um contrato pessoal com um tempo, uma infância, muitos amigos. Mas não deixa de ser um levantamento apaixonante. Logo em 1935, quando havia sérios indícios da transição da capital de Bolama para Bissau, a associação comercial de Bolama move-se, segue uma carta para um deputado, é literatura modelar da época, pintalgada de romantismo:
“Bolama, Senhor Deputado, com a sua atmosfera de trabalho, calma e sadia, sem aquele marulhar de movimento que distrai e cansa aqueles que, pelo cérebro, têm que produzir; onde o Estado possui boas instalações valorizadas em alguns milhões de escudos e a vida dos seus servidores decorre graduada pelo sossego espiritual e por um ambiente materialmente saudável que com pouco mais se completará; Bolama, Senhor Deputado, em nada desmerece para que deva ser abandonado ao triste destino das inutilidades, a uma ruína completa que arrastará a uma vida de necessidades dezenas de contribuintes do Estado, que são hoje detentores de muitos milhares de contos que valorizam o património nacional precipitando tantos outros – a maior parte, na mais negra miséria”.
A decisão estava tomada, Bissau era o centro nervoso dos negócios, a partir de então todos mostraram compunção com a sorte de Bolama, mas a decadência tornou-se inexorável.

A recolha de António Estácio engrandece a história da colónia e há um poderoso ponto de reflexão para quem quer ver a Guiné-Bissau no mapa. Colige depoimentos de quem por lá passou, juízes, sacerdotes como o eminente Vigário Geral da Guiné, Marcelino Marques de Barros, junta efemérides, presta elementar justiça e Fausto Duarte, cabo-verdiano de nascimento, grande servidor da cultura guineense, foi responsável pelos anuários de 1946 e 1948, colaborador do boletim cultural da Guiné Portuguesa, romancista premiado, precocemente desaparecido. Estampa no seu livro imagem de magnificência e de ternura; homenageia gente absolutamente esquecida como António Augusto Cardoso, nascido em Freixo de Espada-à-Cinta, trazido pelo Governador Sarmento Rodrigues com o intuito de ensinar a construir carros de bois, foi ativo na Granja de Pessubé, e ficamos a saber que foram utilizadas madeiras como Bissilão, Pau-Sangue, Pau-Veludo, Pau-Conta, Pau-Bicho Rijo, Macete, Fára, Pau-Miséria e Farroba de Lala. Anota impressões de viagem incluindo estudantes de Coimbra que cantaram o fado em Bissau. Há inclusivamente o relato com o desastre de aviação que sofreu o Governador Vaz Monteiro em 1944. A notícia do jornal Arauto tem tensão e emoção, a descrever o desaparecimento e o reaparecimento de governador e filho:
“Afinal o que acontecera? Foi o caso que Sua Excelência o governador, tendo urgência de vir a Bolama, saiu de Bissau às 16,35 na avioneta pilotada pelo seu filho Fernando. Mas no caminho o vento redobrou de fúria, como é usual neste período, e o pequeno avião viu-se forçado a aterrar precipitadamente, vindo a cair em cima do tarrafo da costa do continente, próxima da Ilha das Cobras, visto não conseguir alcançar uma lala que ficava próxima. Na queda foram cuspidos fora do avião, tendo ficado sem sentidos. Quando voltaram a si e viram que não havia ferimentos graves, graças à perícia e serenidade do piloto, tentaram sair daquele lugar e procurar refúgio, mas com a névoa não conseguiram desemaranhar-se do tarrafo altíssimo e ali passaram a noite ao frio e à chuva. Logo porém, que romperam os primeiros clarões do dia, puseram-se a caminho, e ao fim de três horas de acidentada viagem conseguiram alcançar a praia; dali fizeram sinal cujo ruído ouviam há muito mas sem o poder ver. Foi nesta altura que a própria vedeta divulgou a feliz notícia”. Houve regozijo geral, realizou-se um solene “Te Deum” a que assistiram funcionários, comércio e numerosíssimo público.

Fala-se da viagem de um dos maiores dos jornalistas portugueses à Guiné, Norberto Lopes, da inauguração da estátua de Ulysses Grant, que muito mais tarde o Comandante Alpoim Calvão comprou parte do busto por cinco milhões de francos CFA. Há também memórias de Alexandre Barbosa e Hélder Proença e depois António Estácio lança-se num relato empolgante na descrição de Bolama, descreve os seus diferentes setores, toca-nos o coração, até porque há impressões pessoais:  
“Não posso deixar de realçar que, certo dia do mês de Maio de 1957, a minha mãe atarefada com a esgotante tarefa de dar aula a duas classes em simultâneo, ralhava para nós nos alhearmos da barulheira que se ouvia na sala de aulas. Nós desconhecíamos o que se passava, procuravam apedrejar uma cobra que tentava esconder-se em qualquer canto. Mas, aos poucos, o barulho aumentava cada vez mais e eis que vemos entrar na sala uma cobra escura e que se apresentava já ferida. Os alunos da 4.ª classe pegaram em mapas que estavam dependurados nas paredes, enrolaram-nos bem, acertando com boas cacetadas, imobilizando a cobra”.


Craveiro Lopes, em Maio de 1955, visitou Bolama e António Estácio conta-nos como foi.

Estamos num ponto crucial da obra, fala-se das grandes famílias de Bolama, sucedem-se os testemunhos como o de Elisé Turpin, um dos fundadores do PAIGC, fala-se de Armando Victor Estácio, momentos há em que Estácio volta à sua juventude, as imagens são indeléveis:  
“Bolama, no tempo da fruta madura, fosse mango, caju, jaca, laranja, goiaba, fruta-pão, tudo era bom. Cada um trazia por hábito no bolso uma embalagem de sal e malagueta, para comerem a manga verde quando iam tomar banho no ‘Pinto’, Fonte de Polícia, Tambacumba grande e Tambacumba pequena, que ficava na zona de Oncalé. Também íamos buscar cocos à Casa Nova, propriedade da Casa Gouveia”.
Não fica esquecido Francisco Valoura, de cuja obra já se fez menção no blogue. O autor dá uma especial atenção a avisos, anúncios, agradecimentos, notícias infaustas, menções comerciais, exibe mesmo um despacho datado de 1972 que é um texto primoroso e aqui se reproduz.

Podemos imaginar o labor e amor que António Estácio imprimiu a um documento tão pessoal, tão cheio de pesquisa, a uma tão grande partilha de intimidade. Fez bem, a Guiné merece-o, oxalá que estas fartas memórias fiquem rapidamente ao alcance da terra onde nasceu.
____________

Nota do editor

Poste anterior de 13 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16196: Nota de leitura (847): “Bolama, a saudosa…”, autoria e edição de António Júlio Estácio (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16211: Banco do Afecto contra a Solidão (16): Destino marcado: camaradas, sucede que, tendo sido um combatente e depois um grande lapidador de diamantes, esgotei as minhas baterias... Estou doente... Aguardo a guia de marcha para o Lar de Runa!... (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem,  de 11 do corrente, enviada, por Mário Gaspar (ex-Fur Mil At Art,  Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68),  e que estranhamente nos soou a "despedida"...  

O Mário arranjou, ao fim de vários anos de espera, uma vaga no Lar dos Veteranos Militares de Runa, mais conhecido por Asilo de Inválidos Militares de Runa.no concelho de Torres Vedras: 

Caros Camaradas da Tabanca

Após a ter partido para aquelas terras, lá no fundo do horizonte, tive de caminhar para a outra linha. Com a mão estendida consigo alcançá-la. Mas é guerra, o único tremor de terra que me quebrou. Parti… Feito em cacos. Com arame e cola pensei vir a ficar... como era… Estúpido que fui.

No dia 6 de novembro de 1968, acendi um fósforo, outro de seguida e queimei os sonhos. A nuvem parecia inicialmente ser cor-de-rosa, ficou como alcatrão, e foi nessa escuridão que permaneci. Atravessei o mundo, de uma ponta a outra. Eu que lera bibliotecas, nem uma linha de escrita a uma amiga ou amigo. 1969… 70… 71… 72… 73, e… alegria das alegrias: – O meu filho Carlos Pedro já não vai para a guerra.

Nunca desistira da luta. Já em janeiro de 74 havia estado numa greve. Escrito no Caderno Reivindicativo: – Considerando que o preço das batatas é de 4$00, valor igual para a Empregada de Limpeza; para o Serralheiro; Escriturário; Lapidador de Diamantes ou mesmo Director da Empresa. Primeiro: 2.500$00 de aumento “per capita”!

Escrever; ler; ir ao Cinema e Teatro? Nada disso, estava dedicado somente ao trabalho. Não havia tempo a perder. Era o carrossel. “Olha aquela menina de amarelo… Mais uma volta, outra ainda”. Sem atropelos atinjo o topo da pirâmide em meros 2/3 anos. “Entrava mudo e saía calado. Parei quando o meu amigo Jorge Manuel Alves dos Santos, Presidente da Associação APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra – ambos fundadores, era eu Secretário da Direcção Nacional, me diz: – Vamos fundar um Jornal e vais ser o Director!
Respondi que não, como nunca fui pessoa de desistir, nem de oferecer como voluntário… Aceitei. E fui Director. Deixara de escrever “na queima dos sonhos – em novembro de 1968, estávamos em dezembro de 1995. Vinte e oito anos (28). E não parei de escrever… Até a exaustão e os leitores ficarem fartos… Fartos mas de mim.

E as frases que alguém escrevera: – “Se não fosse eu… Enfim, o que seria de mim” – “A guerra continua dentro de mim” ou, entre outras: – “Uso-me… Mas não sou para usar”!

Já entretanto comprara um novo traje… Não o de luzes, mas o mesmo que ainda visto. Com um sorriso no colarinho, com um nó da teia de aranha no lugar da gravata, aliás esse nojento bicharoco – animal de estimação do futuro – que em garoto me habituei a adorar. E as baratas? Um pontapé e o bicho virado ao contrário – não de avesso – esse é outro bicho. Mas a barata fica assim, dando à perna e…

Mas recordo também outro, o percevejo – para não falar do “chato”. O camarada coronel Matos Gomes deve recordar, julho de 1966 em Lamego, nos Rangers: – “É chato, é chato... Sambinha chato, mas é... chato o sambinha que é mesmo chato.

Não havia quem desse a volta, mesmo que Oficiais e Sargentos Milicianos, dessem com todas as botas e partissem todos os apetrechos que repeliam tais vómitos… Chamavam àquele barulho ensurdecedor de música.

Pois e os “corredores da morte”; “corredor de Guileje”; o outro “corredor que atravessava, também da morte, quando manuseava minas e armadilhas”; o “corredor da morte do meu coma” e este último “corredor da morte – o Lar de Runa”.
Este último não vou perdoar aos Dirigentes Associativos de Combatentes, por não ser local no País onde se coloque alguém, depois de tanto Quartel ao abandono, nunca pediram para acabarem com o Lar de Runa. Fica longe do nada… Mais perto Torres Vedras e são 6/7 quilómetros. Vou acabar por morrer num local bem semelhante a Gadamael Porto… E não há bajudas. Muito teria a acrescentar.

Não falo das condições, mas da localização.

Tinha tanto a acrescentar no Blogue àquele novo desafio que só tardiamente tive conhecimento, do tempo perdido naquela inglória zona de Cacine a Mejo e Guileje – julgo pertencerem ao Sector 2, com sede em Buba.

Não são horas para estar acordado. Estou no final de uma Operação… E estou deveras cansado. Como dizia o meu amigo Raul Solnado:
– “Senhor, estou farto”.
E outra dele: – “Sejam felizes”!

Um abraço para a Tabanca Grande.
Mário Vitorino Gaspar

PS - Ainda não estou em Runa. Aguardo a Guia de Marcha.

Envio um poema meu declamado pelo amigo João Moutinho Soares. [, ficheiro áudio em formato não compatível; terá que ser oportunamente convertido para vídeo;  optamos por reproduzir apenas a letra do poema, que o autor nos mandou, ontem, com uma explicação adicional,  de uma cruel lucidez, sobre as circunstâncias (dolorosas) em que decidiu aceitar a vaga que obteve no Lar de Runa],


Nu

por Mário Vitorino Gaspar

Se ficar nu… Despido.
Tirar a máscara.
Ser rosto esculpido
Na estátua… Que se encara;
Se for diamante polido
E jóia ou moeda rara,
Ser estátua ou diamante
Melhor seria… Amante.

E se for um livro perdido
E a página toda riscada,
A história não faz sentido
E acaba por não ser nada.
Se for sopro de ar vertido.
Vento ou sonora trovoada,
Se for o nu da lágrima só
Caída na gravata com pó
 

E se for o riso da criança
Ou mesmo se for… O choro
Será o sinal da confiança.
Se for lágrima? Eu decoro
Por acaso for… A fiança.
Nota musical solta do coro.
Criança e lágrima é riso,
E neste mundo é preciso
Bebés… 
Nus e choramos
Crescemos… E amamos.



Lar dos Veteranos Militares, Runa, Torres Vedras (foto gentilmente cedida por Mário Gaspar)
_____________

Nota do editor:

Útimo poste da série > 18 de outubro 2011  >  Guiné 63/74 - P8920: Banco do Afecto contra a Solidão (15): O caso do José António Almeida Rodrigues, ex-prisioneiro de guerra (entre Junho de de 1971 e Março de 1974): uma história de coragem e de abandono (José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P16210: Parabéns a você (1096): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/73)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16199: Parabéns a você (1095): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16209: Convívios (755): Grande ronco no 31º Convívio Anual da CART 3494 em Arcozelo – Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)



1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte trabalho sobre o convívio anual da sua Unidade:

GRANDE RONCO NO XXXI CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 EM ARCOZELO – VILA NOVA DE GAIA

No passado dia 11 de Junho de 2016, realizou-se na Vila de Arcozelo do concelho de Vila Nova de Gaia o XXXI encontro/convívio anual dos ex. combatentes da CART 3494 cujo lema é: “NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ”, que estiveram/prestaram ao serviço de Portugal na Guerra da Guiné, nomeadamente no XIME e em Mansambo nos anos de Dezembro e 1971 até Abril de 1974. 

Como sempre nestes casos, conforme o pessoal ia chegando, era uma azáfama de saber uns dos outros, os abraços o repetir as mesmas Estórias, a tristeza e as lamentações sobre a saúde precária de alguns, o desaparecimento de outros.

Convívio com uma boa adesão, diria até, que bateu o record em número de presenças, 104 dos quais 52 veteranos. 











Carlos Teixeira .....................Nelson Cardoso 

O repasto foi servido num restaurante local. Numa breve intervenção, o CMDT Pereira da Costa da CART 3494, para além de expressar o contentamento por estar connosco, sublinhou entre outras coisas não menos importantes, que estes encontros são um acto de cidadania, lembrou da importância das nossas esposas/companheiras, para que nunca se cansem de ouvir sempre as mesmas Estórias, porque se contam sempre as mesmas Estórias, quer dizer que é verdade, salientou da importância de passar esta mensagem aos nossos filhos e netos, para que nunca sejamos esquecidos. Houve muita animação onde não faltou a declamação de poemas, não faltando até quem se atrevesse a mostrar os seus dotes vocais e musicais.

Por fim, já no final da tarde, foi o destroçar, o regresso às suas casas com a promessa de voltar no próximo ano, será o XXXII encontro a realizar em Viseu. A organização está a cargo do Nelson Marques Cardoso e Carlos Duarte Teixeira.

Intervenção do Coronel de Artilharia na Reforma, ex, Cap. Da Cart 3494 no Xime e CART 3567 em Mansabá: 


Momento de descontração por Cmdt. Pereira da Costa:


Algumas fotos do convívio: 

  
O Pessoal da CART   


Da Esq./Drtª. António Gomes Azevedo, António Manuel Sousa de Castro, António de Sousa Bonito e Nelson Marques Cardoso


Da Esq./Drtª: Manuel Amorim do Alto, Lúcio Damiano Monteiro da Silva, Jorge Alves Araújo, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esq./Drtª: António Júlio Peixoto, Acácio Dias Correia e António Manuel Sousa de Castro


Da Esd./Drtª: Manuel Henrique Moreira Martins, Eduardo Augusto da Silva (CAÇ 4512 Farim), Sousa de Castro e João Domingos de Sousa Machado


Do lado Direito o CMDT Pereira da Costa e sua Esposa


Aspecto geral da sala

Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873 
Junho de 2016
___________
Nota de MR:

Último poste da série em:

Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20


Capa do livro "Corre-me um Rio no Peito", de Luís Jales de Oliveira, ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. Capa de Samara (João Campos). Dedicatória do poeta,  manuscrita, em baixo, ao nosso editor Luís Graça.



Oluveira (2010). p. 7


1. O Luís [Manuel] Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração",  a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão [, rio e monte referidos no poema abaixo] [, foto à esquerda]:

foi  fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).

O poema qie a seguir se reproduz, com a devida autorização do autor, é um dos mais belos que eu tenho lido. relacionados com a Guiné e a guerra colonial.

Descortino-lhe uma dupla fonte de inspiração:  (i) a biblíca, a do Salmo 137, Livro dos Salmos Antigo Testamento;  e (ii) as não menos célebres redondilhas de Babel e Sião, de Luís de Camões: Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me achei,« / Onde sentado chorei / As lembranças de Sião / E quanto nela passei. (...)

O Luís Jales disse-me que este poema foi "inspirado pelo Rio Cacine", mas com o Rio Tâmego no coração, quando, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocada a sua CCAÇ 20:

(...) Na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir. Já não conheci o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia. 


"Não participei na 'batalha de Gadamael' pois coincidiu com a nossa partida de Bolama e com a chegada a Cacine, onde fiquei acampado, na praia, vários dias a guardar os equipamentos da  Ccaç 20. 

"Vivi a fase posterior de incontáveis bombardeamentos e contactos de cada vez que se punha o nariz de fora do arame farpado. Prometo que hei-de desfiar, na nossa Tabanca, as estórias e aventuras relacionadas com o incrível Gadamael". (...)


Disse-lhe,  a ele, ao Albano de Matos e ao Valdemar Rocha, companheiros de aventura do "Poilão" (Bissau, dezembro de 1973 / fevereiro de 1974):

(...)" Foi pena a Margarida Calafate Ribeiro e o Roberto Vecchi,  'olheiros' dos poetas da guerra colonial,   não vos terem 'apanhado', desconhecendo muito provavelmenet a existência do 'Popilão' (que nem sequer consta da PorBase - Base Nacional de Dados Bibliográficos)... Eles organizaram uma extensa (e de qualidade desigual) antologia de textos poéticos sobre a nossa guerra" (Afrontamento, 2011)" (...).

Aqui fica o meu convite para os nossos leitores lerem  este poema em voz alta, pausadamente, num fim de tarde, à sombra de um choupo, na margem do rio da vossa aldeia. Ao poeta, tiro o quico, o chapéu, e rogo às musas dos rios Tâmega e Cacine que o protejam e que o continuem a inspirar!,,,  (Pequeníssimos detalhes como o "chão manjaco" posto pelo poeta na região de Tombali ou o míssil Strela mal grafado não rmancham em nada este poema quase perfeito, obrigatório numa futura antologia da poesia da guerra colonial, a  organizar um dia pela Tabanca Grande, se Deus, Alá e os bons irãs nos derem tempo de vida e saúde)... (LG)




(Oliveira, 2010, pp. 25/26)
Oliveira (2010). pp. 25-26


In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010,  72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito  Legal nº 307277/10-

________________


Nota do editor:


Último poste da série > 12 de junho 2016 > .Guiné 63/74 - P16195: Blogpoesia (452): E, se de repente..." e "Minhas articulações...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16207: Efemérides (231): Leça da Palmeira homenageia os seus Combatentes no Dia de Portugal (Carlos Vinhal)

Foto: Abel Santos

1. No passado dia 10 de Junho, dia de Portugal, em Leça da Palmeira fez-se a habitual romagem ao cemitério local, antecedida do hastear da Bandeira Nacional no edifício da Junta de Freguesia local e da Missa de Sufrágio pelos militares caídos em campanha.


Antes das 10h30 da manhã já alguns Combatentes, familiares e pessoas anónimas se juntavam em frente ao edifício da Junta de Freguesia para assistirem ao hastear de Bandeira de Portugal.

 Guarda de Honra formada com Combatentes

O Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC interpretou o Hino Nacional durante o hastear da Bandeira de Portugal

 A nossa Bandeira
Fotos: Dina Vinhal

 Retrato de família na escadaria do edifício da Junta de Freguesia

Seguiu-se a Missa de Sufrágio pelos Combatentes leceiros caídos em campanha, na Igreja Matriz de Leça da Palmeira, celebrada pelo senhor Pe. Marcelino.

 O Grupo Coral do Núcleo que, durante a Missa, interpretou os diversos cânticos religiosos

Na foto: Combatente Abel Santos; Ten-Cor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC; senhor Fernando Monteiro, em representação do Presidente da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; SAj Joaquim Oliveira, Secretário da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC; e Combatente José Oliveira, 1.º Vogal Suplente da Direcção.
 Fotos: Carlos Vinhal

O Estandarte do Núcleo de Matosinhos da LC
Por trás, a Imagem da Nossa Senhora da Conceição, em pedra de Ançã policromada, datada do Séc XV, com o Menino descansando a sua mão num dos seios de Sua Mãe. Autor: Diogo Pires o Velho.
Foto: José Trindade

O senhor Pe. Marcelino durante a celebração da Missa
Foto: Abel Santos

As celebrações do Dia de Portugal terminaram com a romagem ao Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, para a cerimónia de evocação dos Combatentes leceiros caídos em campanha, junto ao Talhão da Liga dos Combatentes, ali existente.

O combatente Ribeiro Agostinho, Presidente da Mesa da AG do Núcleo de Matosinhos da LC; o senhor Fernando Monteiro, da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira; e o Ten-Cor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, depositaram uma coroa de flores no Talhão da LC, homenageando desta forma os leceiros caídos em Combate.

Os toques estiveram a cargo do 2.º Cabo Músico, Pedro Monteiro, da Brigada Ligeira de Intervenção – Coimbra
Fotos: Abel Santos

O senhor Ten-Cor Armando Costa na sua alocução

O senhor Fernando Monteiro na sua breve alocução, dirige-se aos presentes
Fotos: Dina Vinhal

O Grupo Coral do Núcleo interpreta o Hino da Liga dos Combatentes...
Foto: Abel Santos

...acompanhado pelos presentes
Foto: Dina Vinhal

Findo o programa, a Autarquia ofereceu um Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia aos participantes nas cerimónias deste dia.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16192: Efemérides (230): O 10 de junho de 2016, em Belém: um herói vivo, cor inf cmd Raul Folques e um grupo de grã-tabanqueiros que não costumam faltar a este convívio de antigos combatentes, entre outros, António Fernando Marques, Arménio Estorninho, Carlos Silva, E. Magalhães Ribeiro, Fernando Jesus Sousa, Francisco Silva, João Carlos Silva, Joaquim Nunes Sequeira, José Nascimento, Mário Fitas, Miguel & Giselda Pessoa, e Silvério Lobo