segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16503: Notas de leitura (881): “Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,

Tenho vindo a acumular provas de que a guerrilha se manifestou de forma acesa e contundente pelo menos a partir do segundo semestre de 1962. Destruir vias de comunicação, incendiar tabancas, o recurso ao assassínio de comerciantes, passou a ser moeda corrente no Sul da Guiné. Os sublevados ainda vêm mal equipados mas o seu poder intimidador irá revelar-se tão forte que as populações ou fogem para o mato ou para pontos do litoral, onde julgam encontrar defesa.
O relato de José Leiras é nesse aspeto eloquente: o que ele viu em Fulacunda, enquanto Cabo da CCAÇ 153, enquanto Chefe de Posto em Encheia, de 1963 a 1964.
Os historiadores não podem prescindir de consultar as histórias destas unidades para preencher as lacunas existentes. Fala-se sempre em 20 de Janeiro de 1963 como o início da guerra de guerrilhas, hoje sabe-se que não é verdade. Valia a pena pôr branco no preto.

Um abraço do
Mário


De Cabo do Exército a Chefe de Posto: na Guiné, entre 1961 e 1964

Beja Santos

“Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003, é um contributo precioso para conhecer melhor a Guiné a fermentar a luta armada, e sentir os sinais da primeira fase da guerrilha. (*)

José Leiras, do Alto Minho, escreve memórias da sua vida, vamos cingirmo-nos aos preparativos para a Guiné, o durante e o logo depois. Assentou praça em Março de 1960 na RAP 2 na Serra do Pilar, dali saiu imediatamente para o antigo Metralhadoras 3, segue para Coimbra, para o RI 12 e daqui arrancou para o Depósito Geral de Adidos, no Largo da Graça, em Lisboa. Anda muito à boleia entre Lisboa e o Porto, o namorico assim o obriga. Em 27 de Maio de 1961 chega a Bissau, vem num contingente de três aviões militares. O comandante de companhia é o Capitão Curto. Vão para Santa Luzia, a caserna ainda tem o chão em terra, as janelas ainda não tinham vidros, nem porta havia. De Bissau seguem para Fulacunda, que ele vai apresentado conforme sabe. A viagem que fazem é demonstrativa da paz existente. Vão por terra de Bissau para Fulacunda em viatura, passam pelo Biombo, prosseguem por Mansabá, depois Bafatá, Saltinho, Xitole e Bambadinca, e daqui a Fulacunda, região de Beafadas, mas onde não faltam Balantas, Mandingas, Mancanhas e alguns cabo-verdianos. Começam a desmatar em volta do acampamento para fazer um quartel novo. Escreve:

“Passámos 15 dias com machado e serra na mão a cortar árvores e a limpar cerca de 1500 cajueiros e mangueiros. Uma vez o terreno limpo, começámos a fabricar os blocos de terra amassada com palha brava, e que depois de secar ao sol umas semanas são maus duros que betão armado. Tempos depois, o capitão empregou alguns pretos e começou-se a construir uma caserna nova, entretanto já tínhamos ocupado o celeiro da vila e mais três pequenas casas de telha à europeia e aí instalámos dormitórios, enfermaria e depósito de munições. Para a cozinha montámos um grande barracão em troncos e ramos de palmeira e assim ficou para sempre em provisório”.
Tentou fazer negócios com a criação de porcos. Tudo correu mal.

Nem tudo é o sétimo céu, começam a chegar notícias de que a subversão passara a rondar Fulacunda. Pela primeira vez refere a sua unidade, a CCAÇ 153 (**), acabara-se o sossego, todos os dias e todas as noites saíam patrulhas de reconhecimento. Declara que houve uma emboscada quando iam buscar água, morreu o soldado 224/60, António Vilares. Vão à tabanca de Dada e trazem alguns prisioneiros, terá havido represália do PAIGC que incendiou e destruiu completamente a tabanca levando para o mato toda a população válida. A seguir é dinamitada uma ponte que atravessava um pequeno afluente do rio Fulacunda, ficaram cortadas as comunicações com Buba, onde se encontrava a CCAÇ 152.
Refere que Buba era muito bonita e airosa, tinha bom clima e boa água, e um importante cruzamento de estradas para Empada, Catió e a fronteira da Guiné-Conacri. Reconstruiu-se a ponte que dois meses mais tarde foi novamente destruída, o que levou a enviar um pelotão para Empada e uma Secção para Aldeia Formosa. O desassossego continua, foi descoberta uma casa de mato cerca de Buba-Tambó, montou-se emboscada, houve mortos, feridos e prisioneiros, o Soldado António Ribas morreu em combate. Com a tropa desmoralizada, o Capitão Curto manda-os descansar em Bolama, um pelotão de cada vez. E observa, acerca de Bolama:

“Apesar de pequena e desprezada é ainda hoje a cidade da Guiné mais tipicamente portuguesa, com as suas ruas estreitas e calcetadas em pedra ou paralelos”.~

Estavam em férias e tiveram que ir a S. João, os guerrilheiros tinham incendiado e destruído aquele ponto de passagem no ponto extremo do Setor de Fulacunda. Sucederam-se combates em Nova Sintra, as populações dispersam-se. O pelotão é destacado para Catió, os ataques são constantes. Começam a aparecer também comerciantes assassinados. Em Março de 1962, casa-se por procuração. Em 1963, já está em Bissau, a mulher acompanha-o. Logo a seguir a CCAÇ 153 embarca para Lisboa, José Leiras foi ao palácio falar com o Governador Peixoto Correia que já lhe tinha destinado o comando do Posto Administrativo de Encheia. Aplica-se ao trabalho e faz o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobrou impostos, mandou efetuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal, reparou-se o posto sanitário. E escreve:

“Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista para que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efetuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou”.

A mulher está grávida e a sofrer de paludismo, tem de regressar a Portugal. Na coluna para Bissau, entre Encheia e Binar há uma emboscada, um camião civil carregado de arroz e mancarra saltou pelos ares com o rebentamento de uma mina. Mais um soldado morto. No regresso a Encheia, e pela estrada de Bissorã, via Mansoa, depara-se um camião civil a arder. 10 quilómetros à frente, duas árvores atravessadas e mais adiante uma grande vala cortando por completo a estrada.

A guerra é indisfarçável, os fuzileiros chegam a Encheia. José Leiras vai a Bissorã falar com o administrador e pedir reforços, tudo lhe é recusado. No regresso, escapa por um triz a uma saraivada de balas. Em Encheia, há alvoroço todos os dias, gente a fugir para o mato. É nisto que se dá um ataque à povoação, muitas moranças destruídas pelo fogo, o comércio saqueado, todo o gado roubado e pessoas levadas para o mato. O comerciante Francisco Beira Mar é assassinado. José Leiras consegue chegar ao posto e resiste ao fogo dos guerrilheiros, apesar de ferido, pois no jipe foi atingido por várias balas numa perna. Na manhã seguinte, toca-se o clarim para a formatura e hasteia-se a bandeira portuguesa. A situação de Encheia é de uma enorme desolação. José Leiras arranja um voluntário para ir a Bissorã avisar a tropa, esta levou cinco horas para fazer 24 km pois na estrada havia dezenas de árvores atravessadas para além das valas. Ferido, é levado para o hospital, nessa altura as cuidadoras são religiosas. São-lhe extraídas as balas e dias depois vai de avioneta até Bissorã. Passa a noite de Natal de 1963 em Bissorã, no dia seguinte parte para Encheia, já lá está um pelotão. Caminhamos para o fim das vicissitudes do Chefe de Posto em Encheia. No fim do mês de Março de 1964, é mandado apresentar ao novo Governador, Contra-Almirante Vasco Rodrigues. Põe-se ao caminho e apresenta-se ao Governador. Vinha coberto de poeira vermelha, apresentou-se de arma às costas e duas granadas no bolso da camisa. O Governador não escondeu a sua indignação, repreende-o com aspereza, pois devia apresentar-se de farda branca e boné de pala. Convocara-o para lhe dar um louvor, como já não merecia, ia transferi-lo de castigo para o Posto de Cacine. E ele escreve:

“Senhor Governador, o meu louvor pode guardá-lo para V. Exa. como recordação minha, eu queria era aumento de salário e com respeito a ir para Cacine de castigo, vá para lá você que tem tiroteio de dia e de noite para se distrair mas não leve o fato branco porque está sujeito a manchá-lo de sangue e desde já apresento a minha demissão”.

Demorou alguns meses a regressar, os transportes vêm pejados de gente em retirada para a metrópole, andou alguns meses a trabalhar como motorista de camião da Tecnil, em Bissalanca. Em Junho desse ano chega a Lisboa.

Como é evidente, é indispensável ler a história da CCAÇ 153 (**) para procurar averiguar o que há de fidedigno nestes episódios. Parece mais que demonstrado que houve guerrilha acesa a partir de 1962, a data ícone de 20 de Janeiro de 1963 só pode significar que é o ponto de partida para flagelações, mas durante largos meses de 1962 acumulam-se as provas de fugas e raptos de população, assassinatos de comerciantes, atos de destruição de pontes e telégrafos, as comunicações foram sendo anuladas e os civis aproximando-se das povoações do litoral. Isto no Sul. O testemunho parte de Fulacunda. Em Encheia, assistimos, já em 1963 a formas de destruição coincidentes com as que se perpetraram no Sul. E em 1964 disseminara-se a luta armada. Testemunhos como o de José Leiras abonam a intensidade de uma guerrilha que foi recrudescendo até encontrar formas de contenção com nomes próprios: o terror do helicóptero lobo-mau, as operações das forças especiais, os bombardeamentos intensos no interior das matas de difícil acesso. Curioso seria perceber o que é que José Leiras esperava, depois de ter experimentado a guerra no Sul, de seguir em terreno tão atribulado, uma carreira de funcionário colonial.
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Notas do editor

(*) Último poste da série de 16 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16495: Notas de leitura (880): Os Cus de Judas, por António Lobo Antunes (2) (Mário Beja Santos)

(**) Sobre a CCAÇ 153, temos no nosso blogue dezena e meia de referencias. Clicar aqui. Temos também meia dúzia de referências ao cap Curto, José Curto ou José Carreto Curto, hoje tenente general reformado. As suas memórias escritas seriam importantes para se perceber melhor este período de terror e contra-terror dos anos de 1962/63.

Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...


Projeto de capa para o livro, profusamente ilustrado, e a ser publicado em breve, "Buruntuma: algum dia serás grande. Guiné, Gabu, 1961-63", da autoria de Jorge Ferreira, que foi alf mil da 3ª CCAÇ, tendo estado em Buruntuma com o seu pelotão (20 metropolitanos e 20 guinenses) entre  novembro de 1961 e julho de 1962. A 3ª CCAÇ estava sediada em Nova Lamego.

Aqui na foto, o Jorge Ferreira aparece com o régulo de Buruntuma, que era tenente de 2ª linha, junto ao marco fronteiriço ("República Portuguesa: Província da Guiné"). O seu próximo livro tem inegável interesse documental e etnográfico.

Buruntuma, sendo uma localidade fronteiriça, tinha posto da PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado. O Jorge Ferreira conheceu outras localidades do leste da Guiné, como Pirada e o célebre comerciante Mário Soares. O Jorge, na 3ª CCAÇ, em Nova Lamego, lembra-se ainda do  ten mil médico António  Sancho, mais tarde conhecido cirurgião plástico.



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira, fotografado junto ao armazém da mancarra (que ainda hoje existe, em ruinas).



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira, junto à incipiente rede de arame farpado do destacamento... Para alguns de nós, Buruntuma era o "cú de Judas" da Guiné... Hoje temos mais de 70 referências a Buruntuma no nosso blogue... Com a entrada do Jorge Ferreira temos ter seguramente mais e enriquecer o nosso espólio fotográfico...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira


Fotos: © Jorge Ferreira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Jorge Ferreira, com data de 15 do corrente:

Caro Prof. Luis Graça e Companheiro:

Muito sensibilizado pelo caloroso acolhimento que me dispensou, envio-lhe como combinado a mini versão da "maquete" do meu livro.

O CV e as minhas fotos serão enviadas oportunamente.

Com consideração e grato pela atenção.

Jorge Ferreira


2. Mensagem do Jorge Ferreira de 16 de junho passado:

Boa noite.  Prof. Luís Graça

Os meus agradecimentos pela gentileza do seu acolhimento ao meu contacto telefónico de hoje.

Como lhe referi, tenho em fase de conclusão um Livro de Fotografias sobre Buruntuma (1961/62) que tenciono publicar no último trimestre deste ano. Entretanto estou dialogando com duas entidades prestigiadas o seu parocínio. Porém, com ou sem patrocínio, o Livro será publicado.

No fim do corrente mês a "maquete" para entregar na Gráfica estará concluída e depois seguir-se-á o necessário diálogo sobre as provas gráficas.

Como na 1ª quinzena de Julho estarei ausente no estrangeiro, gostaria de após o meu regresso conhecê-lo pessoalmente e abordar o tema do Livro, de acordo com as suas disponibilidades de tempo.

Grato pela atenção, apresento-lhe os meus melhores cumprimentos.

Jorge Ferreira




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Posição relativa de Buruntuma, junto à fronteira coma  Guiné-Conacri > Carta de Buruntuma > Escala 1/50 mil (1957)


3.  Comentário do editor L.G. :

Jorge: Como combinado, aqui vai o link com a carta / mapa de Buruntuma, escala 1/50 mil de 1957...

Foi um prazer conhecer-te, camarada... Como mandam as boas regras do blogue, tratamo-nos doravante por tu, como camaradas que fomos no passado e que continuamos a ser, no presente. E deixa de títulos, postos, idade ou outras barrreiras à nossa comunicação.  São as regras do blogue (*).

Camaradas da Tabanca Grande: o Jorge, veteraníssimo camarada que esteve um ano em Buruntuma, entre  novembro de 1961 e julho de 1962,  quando ainda a guerra não tinha começado oficialmenmte, tem um livro lindíssimo sobre aquela terra e as suas gentes que ficaram no nosso coração... Prometi dar a notícia, em primeira mão, no nosso blogue... Conhecemo-nos há dias, pessoalmente, embora já desde meados de junho que temos vindo a falar ao telefone. Pedimos, há tempos, amizade na página do Facebook da Tabanca Grande, mas falta apresentá-lo formal e condignamente no nosso blogue. 

Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum: a frequência do ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde ele se licenciou depois de ter vindo da Guiné, (e onde eu frequentei o 1º ano da licenciatura em ciências sociais, em 1975/76, na mesma alturta em que lá esteve o cap cav Salgueiro Maia); vários amigos do Instituto de Informática do Ministério das Finanças e da DGOA - Direção Geral de Organização Administrativa); a paixão pela fotografia, etc...  Trabalhou, depois do regresso, em maio de 1963,  da Guiné , nos serviços mecanográficos do exército até 1972 onde teve, entre outros, como colega o Manuel Barão da Cunha, conhecido escritor da guerra de África, be, como o seu irmão Francisco.

O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 (**), tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido.  É um homem culto e viajado. e que cultiva a memória. No seu blogue, diz com modéstia que não é  "um fotógrafo profissional nem mesmo um amador". Descreve-se  apenas como um" caçador de imagens" (...) "que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do [seu] quotidiano". Retomou a fotografia depois de enviuvar há 5 anos, fazendo do seu blogue também uma tocante homenagem à sua companheira de uma vida,  Gabriela, e mãe do seu filho (que, se não erro, vive nos EUA).

Sobre a sua comissão de serviço na Guiné, para onde foi mobilizado em 1961, escreveu:

(...) "A minha experiência de comando de um pelotão integrando militares portugueses e nativos, em igual número, foi extremamente enriquecedora e, embora em clima de guerra, moldou-me fortemente o carácter e levou-me a acreditar que a multirracialidade é um dos pilares em que deve assentar a sã e pacífica convivência entre os diferentes povos e raças da Humanidade.

"Durante os 25 meses em que permaneci neste pedaço de solo africano foi minha companheira inseparável, nos bons e maus momentos, uma câmara KONIKA S que me permitiu captar a diversidade étnica e religiosa do “chão” que corresponde à actual Guiné Bissau, verdadeiro 'moisaco humano polícromo', e o convívio harmonioso de brancos e negros ainda que em cenário de conflito armado.

"Estas imagens pela importância que revestem para mim, encontram-se agrupadas autonomamente em 'MEMÓRIAS' tal como foram captadas há cerca de 50 anos sem qualquer manipulação e por isso com as deficiências resultantes da sua 'velhice'.

"Finda a Comissão, regressei a Portugal. Entretanto conclui os 2 anos que faltavam para obter a minha licenciatura [em ciências sociais e políticas], abracei a carreira profissional na Área das TI [Tecnologias da Informação], concretamente como Técnico e posteriormente como Gestor de Sistemas de Informação, e constitui FAMíLIA, tornando-me exclusivamente Repórter fotográfico da Vida familiar, registando os seus momentos mais marcantes, férias, nascimento do filho e dos netos, convívio com os Amigos e viagens por Portugal e pelo Mundo". (...)


Feita esta breve apresentação (, complementada com um resumo do seu CV profissional, abaixo reproduzido), desejamos-lhe o melhor sucesso para o seu livro e uma agradável e frutuosa estadia na nossa Tabanca Grande, à sombra do nosso mágico e fraterno poilão.






4. Informação sobre a 3ª CCAÇ (José Martins, nosso colaborador permanente, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70):

3ª Companhia de Caçadores Indígenas:

 (i) esta unidade foi constituída em 1 de Fevereiro de 1961, como unidade da guarnição normal do CTIG;

(ii) era formada por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local;

(iii) iniciou a sua formação adstrita à 1ª CCAÇ I;

(iv) em 1 de agosto de 1961, com a constituição de dois pelotões, substitui a 1ª CCAÇ I na guarnição de Nova Lamego;

(v) desloca elementos para guarnição de várias localidades do Setor Leste, por períodos e constituição variáveis, sendo de destacar as localidades de Che-Che, Béli e Madina do Boé;

(vi) passou a guarnecer, em permanência,  as localidades de Béli e Madina do Boé instalando, em 6 de maio de 1963, um pelotão em cada localidade;

(vii) em 1 de abril de 1967 passa a designar-se por Companhia de Caçadores nº 5, com sede em Canjadude.
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Notas do editor:


(**) Vd. postes da série O Nosso Livro de Estilo:

22 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8588: O Nosso Livro de Estilo (1): Política editorial do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

12 de agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8662: O Nosso Livro de Estilo (2): Comentar (nem sempre) é fácil)...

7 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10770: O Nosso livro de estilo (7): Cerca de 400 abreviaturas, siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, gíria, calão, crioulo... Para rever, aumentar, melhorar...

domingo, 18 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16501: Blogpoesia (469): "O alpendre"; "Vou abrir minhas janelas" e "Melro na gaiola", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas de sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


O alpendre

Aquelas caravelas expostas ao sol,
Batidas pelo vento, de madeirame carcomido,
Metade frestas, metade ar,
Conservam secas,
Mesmo com chuva,
As espigas que a terra deu.

Pululam pelas encostas minhotas,
Junto das eiras,
São tantas quantas as casas
Dos lavradores.

Me lembro delas
E das tardes calmas,
De abrigo à chuva,
Jogando as cartas,
Devorando fruta
E outras façanhas,
Nossos segredos,
Quando era pura a liberdade…

Mafra, 16 de Setembro de 2016
Ouvindo Chopin

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Vou abrir minhas janelas...

Raiou o sol. Vou abrir-lhe as janelas,
de par em par.
Preciso do seu calor e sua luz.
A humidade não traz saúde.
E a escuridão esconde o mal.

Exulam os meus olhos de alegria.
Abraço a vida que me sustém.
Esconjuro para longe a tristeza de outras eras.
É quase o tempo de Natal.

Abraço as nuvens em alvoroço
Como um perdido.
Bendigo e oro pelas almas minhas que Deus levou.

Bar "setemomentos" em Mafra, 18 de Setembro de 2016
9h37m

Jlmg

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Melro na gaiola

Pareço um melro na gaiola,
Tentando forçar a porta,
Em busca da liberdade.

Nela, não me vem a sapiência
Que faz cantar poemas
Na cadência que eu desejo.

Ninguém num cárcere se sente capaz
De elevar a voz
Ou de ouvir a poesia.

Só com paz e em plena liberdade
Se expande a alma rumo ao bom e belo
Que a vida dá...

Mafra, 13 de Setembro de 2016
19h29m

Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16474: Blogpoesia (468): "Magnos mistérios"; "O meu quintal esquadrinhado" e "O não crente", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16500: (Ex)citações (317): Porto Balana era uma designação da Força Aérea, julgo que o Exército nunca lá terá ido (Miguel Pessoa, Coronel PilAv Reformado)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016:

Caros editores

Dou-vos esta informação por mail pois pretendo incluir uma imagem alusiva, o que não seria possível através de um comentário no Poste.

Apareceu no Poste 16494 (I Parte do texto sobre a ejecção do TCor. Costa Gomes em Gandembel) um comentário do nosso camarada Alberto Branquinho que diz que deve haver um engano e o Porto Balana deverá ser o destacamento de Ponte Balana.

Não é bem assim, eram duas coisas diferentes. Acredito que o pessoal do Exército nunca se tenha apercebido da existência do Porto Balana.

O que acontece é que quando o corredor do Guilege chegava ao Rio Balana havia um embarcadouro onde se avistavam com frequência pirogas. Nesse ponto os guerrilheiros transferiam alguma da carga que vinha pelo trilho para as pirogas e essa carga seguia depois "via fluvial" pelo Rio Balana acima em direcção à área de Salancaur.

A Força Aérea andava sempre a tentar detectar alguma actividade neste ponto e chegámos a partir algumas caixas com o helicóptero armado.~

No meu tempo (fins de 1973?) eu próprio estive envolvido em algumas missões a esse local com os Fiat G-91.

Julgo que o Exército nunca lá terá ido. A designação "Porto Balana" é da Força Aérea.

Junto uma imagem que mostra os dois pontos nas imediações do aquartelamento de Gandembel.

Abraço
Miguel Pessoa

Zona do aquartelamento de Gandembel
Infogravura: Miguel Pessoa (2016)
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 Nota do editor

Último poste da série de 1 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16436: (Ex)citações (316): Em Fá Mandinga e Missirá, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, 1969/71)

Guiné 63/74 - P16499: Memória dos lugares (347): Samba Juli, Sansancuta e Demba Tacobá, tabancas fulas em autodefesa, a sudeste de Bambadinca, para as quais foi destacado por mês e meio, em 20/7/1969, o 3º pelotão da CPM [, Companhia de Polícia Militar,] 2537 (Bissau, 1969/71), a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa, hoje secretário geral do PCP


Foto nº 1 > Samba Juli


Foto nº 2 > Samba Juli


Foto nº 2 A  Samba Juli > Canto superior esquerdo


Foto nº 2 B > Samba Juli > Canto superior direito


Foto nº 2 C  > Samba Juli > Canto inferior esquerdo


Foto nº 2 D > Samba Juli > Canto inferior direito


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > c. 1969/70 > Samba Juli, tabanca fula em autodefesa, do regulado de Badora... A tabanca era já guarnecida por valas, em todo o seu perímetro (linha a verde), e por duas fiadas de arame farpado (linhas a amarelo)... Havia ainda abrigos, construídos ou em construção, em cada em dos cantos do perímetro e eventualmente no eixo central (retângulo a vermelho). A tabanca de Demba Tacobá não deveria ser muito diferente.

Sabemos que em fevereiro de 1969, aquando o desastre do Cheche, a CCAÇ 2405 estava sediada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. Samba Juli fazia parte de um conjunto de tabancas fulas, em autodefesa no regulado do Corubal, ao longo da estrada Bambadinca-Xitole, onde se incluía Dembataco e Moricanhe (a oeste da estrada), Samba Culi, Sinchã Mamajã, Sare Adé, Afiá, Candamã, entre outras (a leste)...

Tudo nomes que ainda ressoam estranhamente nas nossas cabeças: em muitas delas contávamos as estrelas à noite e esperávamos o alvorecer,  não sem alguma ansiedade... Nós e os nossos nharros da CCAÇ 12... Em dezembro de 1969, Beja Santos também veio, e Bambadinca, a Samba Juli, fazer um transporte de doentes, com o seu Pel Caç Nat 52, quando já tinha deixado Missirá e foi para a sede do BCAÇ 2852... A lealdade dos fulas (ou a sua aliança política com os tugas contra o PAIGC) era paga com estes e outros serviços: transporte de doentes, transporte da mancarra, reforço da autodefesa... Eles confiavam em nós, nós confiávamos deles.. Foi por isso que não os deixámos à mercê do terrível Mamadu Indjai...

Foto do álbum do Humberto Reis, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné]



1. Em 10 de julho de 1969, a CPM; [, Companhia de Polícia Militar,] 2537, a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa (hoje secretário-geral do Partido Comunista Português), tendo chegado ao CTIG em finais de maio de 1969, "cedeu um pelotão para reforço do BCaç 2856, que se instalou em Bafatá", sede do Comando de Agrupamento 2957, comandado pelo cor inf Hélio Felgas...

O pelotão terá ido de Dakota de Bissau para Bafatá.  Dez dias depois, em  20 de julho de 1969, este pelotão, comandado por um alferes, "seguiu para o setor do BCaç 2852 [, Bambadinca, Setor L1], para organizar a autodefesa de Samba Juli, Sansacuta e Demba Tacobá"...  

Segundo entrevista dada por Jerónimo de Sousa à revista "Visão" (edição nº, 1216, de 22/6/2016), esta missão ter-se -á prolongado por 47 dias,  "após o que recolheu para Bissau" [, portanto, em princípios de setembro de 1969].

Não era "normal" uma companhia de polícia militar (CPM) "alinhar no mato",  e para mais logo no início da comissão...  Já em 7 de julho de 1969,   esta CPM 2537 (Bissau, junho de 1969 / fevereiro de 1971; comandante: cap cav Hernâni Anjos Moás, hoje cor cav ref) tinha destacado  efetivos para reforço temporário (mês e meio) dos destacamentos de Rossum, Uaque, Jugudul e Infandre, no setor do BCaç 2885 (Mansoa, 1969/71).

Em ambos os casos eram missões para as quais as CPM  não se encontravam preparadas nem dispunham do material necessário: CPM 2537, mais concretamentem, foram confiadas "missões  de reforço às tropas de quadrícula e montagem da autodefesa de algumas tabancas" (nas região do Oio e de Bafatá).

No início da estação das chuvas do ano de 1969, as tabancas dos regulados de Padada (como Madina Xaquili), Corubal (Afiá, Candamã), Cossé e Badora, ficaram seriamente ameaçadas pela   ofensiva do IN, e nomeadamente pelo  bigrupo comandado por Mamadu Indjai, um grande chefe de guerrilha (que comandava o setor do Xime/Xitole). Spínola cometera um grave erro ao desguarnecer, com a retirada de Beli, Madina do Boé e Cheche, a defesa da margem direita do Rio Corubal... tornando mais vulneráveis os regulados de Padada, Cossé, Corubal e Badora...

No mês de Julho de 1969, a actividade do IN no Sector L1 (Bambadinca) foi intensíssima com ataques ou flagelações a diversas subunidades e tabancas, ou emboscadas nas imediações (indicam-se a seguir as localidades e entre parênteses o dia)... Grande parte destas ações têm a assinatura do comandante do PAIGC, na região, o temível Mamadu Indjai. Aqui vai uma listagem das ações do IN, no setor L1 (dia do mês de julho entre parênteses):

Dulombi (1),
Paia Numba (10),
Padada 2E4 (14),
Missirá (15),
Cansamba (15),
Madina Alage (15),
Cansamba (20),
Dulombi (24),
Mansambbo (24),
Xime (24),
Madina Xaquili (24),
Quirafo (25),
Xime (26),
Mansambo (27),
Madina Xaquili (28),
Dulombi (29),
Mansambo (30)
e Candamã (30)...

Demba Taco, Samba Juli e Sansancuta foram as 3 tabancas por onde o 3º pelotão da CPM 2537, o do Jerónimo de Sousa,  foi dividido. O pelotão era comandado por um alferes que acabou de ser evacuado, de Bambadinca para o HM 241 e, mais tarde, para a metrópole.

Um mês antes tinha  siodo enviado à pressa o alf mil  pel rec info Fernando Gouveia para Madina Xaquili, setor de Galomaro... Era um "homem de secretaria", não era um operacional, colaborador direto do cor inf Hélio Felgas,  comandante do Cmd Agr 2957 (Bafata, 1968/70)...  É preciso perceber que, na época, Spínola mobilizou toda a malta disponível para defender o chão fula, no seu flanco sul, face à ameaça do Mamadu Indjai... 

Jerónimo de Sousa e o seu pelotão não foram, pois, vítimas de nenhuma ação disciplinar, como se poderia deduzir, erradamente, do texto da "Visão", assinado pelo jornalista Filipe Luís.

Segundo Jerónimo de Sousa, Demba Tacobá (vd. carta de Duas Fontes) (nâo confundir com  Dembataco, no subsetor do Xime)  , foi a tabanca que lhe coube em sorte... Na altura nem arame farpado tinha... Os PM tiveram de abrir valas e  viver em condições precárias nas  moranças (palhotas) que lhe foram destinadas. 


Guiné > Carta da província (1961) > Escala 1/500 mil... Posição relativa das tabancas de Samba Juli e Demba Tacobá a sudeste de Bambadinca. Sansancuta ficava entre as duas.

sábado, 17 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16498: Tabanca Grande (494): Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), 727.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Grã-Tabanqueiro Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138, (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), com data de 15 de Setembro de 2016:

Caro Luís Graça, boa noite.

Eu sou o Oliveira, Soldado Apontador de Morteiro NM 06364668.
Fiz a minha Comissão na Guiné, no período de 1969/1971, tendo o meu Pelotão de Morteiros 2138 sido desmembrado pelos Aquartelamentos de Buba (sede), Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada.

 Pel Mort 2138 - "SEMPRE EXCELENTES E VALOROSOS"

Embora eu já vos acompanhe há alguns anos, só agora tomei a iniciativa de pedir o meu Registo. Já sou conhecido em algumas das vossas páginas, no que diz respeito ao nosso Pelotão, embora com a Alcunha de “Brasinha”.


Meu nome completo é Manuel Fernando Dias Oliveira, natural da Freguesia de Fajozes, Concelho de Vila do Conde, Distrito do Porto.
Vivo em Braga há quase trinta anos e sou membro ativo da Liga dos Combatentes, Delegação de Braga.

Com isto peço com muito gosto o reconhecimento como Tabanqueiro.
Fernando Oliveira (Brasinha)


2. Comentário do editor

Caro Oliveira, bem vindo à nossa Tabanca Grande. És o primeiro camarada do Pel Mort 2138 que quer fazer parte da nossa tertúlia, o que te traz responsabilidade acrescida, fazeres uma apresentação mais ou menos exaustiva da tua Unidade. Até hoje não tínhamos nenhuma entrada com o Pel Mort 2138.

Falando em termos mais pessoais, ambos somos do mesmo Concelho de Vila do Conde, embora eu só fosse nascer a Azurara, voltando ao fim de 15 dias para a minha terra de coração, Matosinhos. Também sou membro dos Corpos Directivos do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com o cargo de 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral.

Posto isto, só me resta, em nome da tertúlia e dos editores, deixar-te um abraço de boas-vindas e votos de que colabores mandando-nos as tuas histórias e as tuas fotos.

O camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)

Guiné 63/74 - P16497: Memória dos lugares (346): Em abril de 1963, eu fui, com uma secção, de Taibatá (subsetor do Xime) até Satecuta (subsetor do Xitole), atravessando a mata do Fiofioli, e falei com o chefe e a população da tabanca de Satecuta, espantados por nos ver... Regressei pelo mesmo caminho, a tempo de almoçar a Taibatá... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

1. Comentário de Alcídio [José Gonçalves] Marinho,  ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65); vive no Porto; é membro da nossa Tabanca Grande desde 23/9/2011 (*)


A MATA DO FIOFIOLI (*)

Em fim de abril de 1963, o nosso pelotão (3º), com apenas duas Secção, a 2ª (Fernando Condez) e a 3ª (a minha), estando a 1ª destacada em Paunca (Victor Lezaola), e comandados pelo alferes mil Cardoso Pires, fizemos vários patrulhamentos abaixo do Xime, um a dois por semana. 

Ora, num desses primeiros patrulhamentos,  foi-nos destinado deslocarmo-nos à mata do Fiofioli. Eu já tinha ouvido falar da referida mata, na 3º  classe da escola primária, quando estudámos a geografia das colónias. 

Aliás,  já em Santa Margarida,  quando esperávamos o embarque para o Ultramar, tinha explicado, aos militares do nosso pelotão, vários aspectos (fauna, flora, tempo, etc) sobre África, pois havia lido o livro "África",  do Henrique Galvão.

Assim, partimos de Bafatá, paramos em Bambadinca, em Amadelai, no Xime, e quando chegamos ao entroncamento para a Ponte do Inglês, junto ao rio Corubal, viramos á esquerda para Taibatá. Aí o Alferes chamou-me e disse:
- Ò Marinho, você é capaz de ir até Satecuta, que nós ficamos aqui e preparamos o almoço ?!
Respondi: 
- Ok,  eu vou, não há problema.

Para esclarecer, eu no primeiro patrulhamento, com apenas três dias da Guiné, tinha comprado numa loja de Bafatá  (Casa Correia ou casa Barbosa), na Avenida Principal, logo abaixo da Transmontana, uma panela de alumínio,  com capacidade para alimentar cerca de 20 homens, para não comermos ração de combate, como queria o furriel vagomestre (Ramiro Gomes)... Comprávamos batatas ou arroz e requisitava-se atum (lata de 2.5 kg)  ou polvo seco (cesto).... Ou até uma granada no rio e tínhamos peixe. Pedi na Mecânica, para me fazerem uma trempe, para assentar a panela e,  com uns gravetos,  toca a cozinhar.

Lá avançamos então  para a mata do Fiofioli. A primeira impressão, á época, foi que era uma mata diferente das outras, que já conhecíamos, pois as árvores eram muito altas (20 ou 30 metros ou mais), a luz coava-se através das folhas, muito ténue, tudo escuro, e o chão em muitos locais era liso ou tinha tufos de ervas e arbustos rasteiros.


Com cautela redobrada e atentos, lá seguimos pela picada até Satecuta. Ao chegarmos à tabanca, o pessoal (homens, mulheres e crianças) ficaram espantados, por nos ver. Falei com o chefe da tabanca, através do cabo Mamadu Baldé (fula-forro), que nos recebeu muito bem.

Regressámos pelo mesmo caminho, onde nos esperava o resto do pessoal,onde almoçámos.
De tarde, fomos à Ponte Varela, à confluência do Corubal e do Geba, em frente à bolanha do Enxalé.

Mais tarde, tocou-nos a atravessar o Fiofioli, quando estivemos destacados no Xitole (fim de maio, junho, julho e meio de agosto de 1963).
Ab
Alcídio Marinho
CCaç 412 - Abril/1963-Maio/1965



Mapa (esboço) do Sector L1, ao tempo do BCAÇ 2851 (1968/70), do BART 2917 (1970/72) e da CCAÇ 12 (1969/71)... Vd. posição relativa de Taibatá, Fiofioli e Satecuta... De Taibatá a Satecuta, em linha reta, deveriam ser uns 25 km.

Observações:

NT= Nossas Tropas;
Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados;
RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal;
N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este;
IN= Inimigo;
1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros);
2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros);
A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
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Notas do editor:


(**) Último poste da série >  14 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16496: FAP (98): Pedaços das nossas vidas (2): "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel", por TGeneral PilAv José Nico - II Parte (José Nico / Miguel Pessoa)



1. Segunda parte do trabalho intitulado "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!", da autoria do TGeneral PilAv José Nico, relatando o abate, em 28 de Julho de 1968, do avião pilotado pelo então TCor PilAv Costa Gomes, Comandante do Grupo Operacional 1201, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74)




PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS[1]

Cumpri muitas missões durante a minha carreira na Força Aérea Portuguesa. A comissão na Guiné, porém, sobrepôs-se a todas as outras e marcou-me indelevelmente para o resto da vida. A mim e certamente a todos os que, de algum modo, partilharam a mesma experiência. É dela ou de acontecimentos com ela relacionados, que vos irei dando conta… 


VII – “Marte[2], saia a Força Aérea, o Pirata[3] ejectou-se em Gandembel!”

Por TGeneral José Nico

II Parte

Gandembel 

Gandembel era um aquartelamento que tinha sido montado com o propósito de servir de base a uma companhia do Exército cuja missão era interditar o caminho de infiltração/exfiltração do PAIGC, conhecido como corredor do Guilege. Existiu desde princípios de Abril de 1968 até Fevereiro de 1969.

A ideia do Brigadeiro Arnaldo Schulz, na altura Governador e Comandante-Chefe, era boa mas o conceito operacional revelou-se um desastre e nunca foi corrigido satisfatoriamente. Participei na Operação Bola de Fogo com que se deu início à construção do aquartelamento e posteriormente efectuei numerosas missões de reconhecimento e de ataque na zona de Gandembel e no corredor do Guilege. Corredor que nas memórias de muitos ex-militares tem sido promovido ao estatuto de “corredor da morte”, certamente para enfatizar o sofrimento de quem serviu de alvo aos guerrilheiros em Gandembel ou ainda, para outros que insistem em vitimizar-se e, em última análise, a vitimizar-nos a todos nós perante os nossos inimigos da altura e que é uma qualificação da qual discordo completamente. Decorre do politicamente correcto com que os vencedores do 25A nos vacinaram e que ensombra a dignidade desse esforço sublime que foi a defesa do Portugal pluricontinental e multirracial cujos benefícios civilizacionais poderiam ter trazido muito mais vantagens a todos os povos envolvidos do que o que temos testemunhado nos últimos quarenta anos com as independências.


O aquartelamento da CCaç 2317 em Gandembel

Foi sempre muito difícil descobrir vulnerabilidades que pudessem ser exploradas para quebrar a capacidade militar do PAIGC. Tal como os outros movimentos que nos combateram, o PAIGC era apenas a ponta da lança de um vasto sistema adversário, de natureza quase global. Sistema que entroncava no programa de descolonização da ONU mas que era potenciado por diversos interesses, uns de natureza ideológica, outros económica, outros pura e simplesmente de afirmação no concerto das nações. Neste âmbito, refiro por exemplo o papel do que na altura acreditava ingenuamente ser um país irmão, o Brasil e, no fim de contas, de todos os países das Américas. Nenhum deles foi descolonizado nos moldes em que a descolonização foi imposta a Portugal visto que a administração dos respectivos territórios passou para as populações colonizadoras em vez de ter sido transferida para os autóctones. Tornaram-se independentes das metrópoles mas não foram descolonizados segundo os princípios do programa da ONU. Todavia foram activamente solidários com os movimentos de libertação anti-Portugal como se se tratasse de uma obrigação entre pares: apoiamos a vossa luta porque sabemos o que isso é, também fomos colonizados!

No sistema adversário que enfrentámos na Guiné tínhamos no terreno o PAIGC e os cubanos mas o determinante foi que a sua liberdade de acção para nos atacar foi sempre promovida por uma amálgama de entidades em que pontuavam as oposições internas, a URSS, a China, Cuba, os países do Norte da Europa, Senegal, Guiné-Conacri, Republica do Congo, Republica Democrática do Congo, Zâmbia, Tanzania, movimento dos não alinhados, Organização de Unidade Africana, Organização das Nações Unidas, etc.. Se não fossem estes apoios os movimentos de libertação, por si sós, nunca teriam sido capazes de lançar e manter operações de guerrilha sustentadas durante um período tão longo nem alcançar os seus objectivos como de facto aconteceu. No caso do PAIGC uma capacidade relevante foi a concessão de santuários nos territórios envolventes onde se reabasteciam, treinavam e organizavam para lançar ataques às posições portuguesas e para onde depois retiravam para se furtarem a eventuais perseguições.

Ao invés, do lado português não havia santuários de refúgio. Todo o território da Guiné-Bissau era uma responsabilidade nacional, as posições ocupadas eram bem conhecidas e por isso podiam ser atacadas sempre que o PAIGC quisesse e quando quisesse. Pudéssemos nós fazer o mesmo e a guerra certamente teria sido diferente embora nunca pudesse ser ganha dado o potencial estratégico do sistema adversário.

Neste quadro, as vulnerabilidades do PAIGC não eram muitas nem significativas. Tudo jogava a seu favor. Todavia, as linhas de infiltração para dentro do território nacional, apesar dos percursos relativamente curtos, ainda assim eram uma vulnerabilidade e ofereciam-nos algumas oportunidades. Se tivéssemos sido capazes de montar operações eficazes contra os movimentos de infiltração e exfiltração, portanto quando a guerrilha era vulnerável, podíamos ter desequilibrado pontualmente o inimigo. Foi essa a ideia que presidiu à construção de Gandembel que foi instalado a cerca de 4 Kms em linha recta do corredor do Guilege. O corredor do Guilege podia por isso ter sido um corredor da morte para o PAIGC mas não foi e, certamente, também não foi para nós. Para as guarnições do Exército, na área a haver um corredor da morte, só poderá ter sido a picada que unia Gadamael, Guilege, Gandembel e Aldeia Formosa. Foi nesses caminhos, onde transitavam as colunas de reabastecimento, que tivemos mortos e feridos em consequência das minas e das emboscadas. Não na linha de infiltração do PAIGC, conhecida por corredor do Guilege, como muitos parecem querer dar a entender.

Coube à Companhia de Caçadores 2317 guarnecer Gandembel mas, em vez de se constituir como ponto de apoio para o lançamento de operações de interdição no corredor do Guilege, a capacidade da unidade esgotou-se na defesa imediata do aquartelamento e na protecção das colunas logísticas vindas de Gadamael ou de Aldeia Formosa. Na prática oferecemos de bandeja um alvo vulnerável ao PAIGC que imediatamente concentrou numerosos efectivos na área e ficou a sitiar o aquartelamento até ser abandonado, menos de um ano depois. Apenas o reforço com grupos de combate do batalhão de pára-quedistas permitiu aliviar a pressão a partir de Agosto de 1968.

No dia 28 de Julho de 1968, quando o Tenente-Coronel Costa Gomes se ejectou, o aquartelamento de Gandembel estava praticamente deserto. Os grupos de combate da CCaç 2317 estavam na estrada para Aldeia Formosa, em apoio a uma coluna de reabastecimento que se aproximava. Alguns dos militares que estavam fora ouviram os disparos das AA e chegaram a ver o avião em chamas. No aquartelamento apenas se encontrava pessoal dos serviços, as guarnições dos dois obuses de 10,5, que eram negros do recrutamento local[21], e o Comandante da Companhia, o Capitão Barroso de Moura. O comandante da companhia também foi alertado pelo fogo AA e viu o avião libertando inicialmente fumo negro que foi evoluindo para um rastro de fogo. O mesmo aconteceu com o pessoal dos obuses e todos foram seguindo a trajectória até à ejecção que se dá para sudeste, acabando o pára-quedas por desaparecer por entre as árvores, a muito curta distância[22]. A reacção deste pessoal foi muito rápida. Barroso de Moura dá ordem para fazer soar as buzinas das viaturas e para serem lançadas granadas de fumo e sai com um pequeno grupo, em que sobressaíam os homens da artilharia, em direcção ao local da aterragem. Embora progridam com cautela demoraram apenas cerca de dez minutos até encontrarem o pára-quedas pendurado numa árvore e, apesar do comandante da companhia ir gritando repetidamente “piloto, somos nós, nossas tropas!”, não conseguiram dar com o piloto.


Afinal o inimigo não era ou “à noite todos os gatos são pardos”… 

Durante a descida em pára-quedas o Tenente-Coronel Costa Gomes memorizou a posição do aquartelamento de Gandembel em relação ao sol e à picada que passava a menos de 100 metros a este. Por isso, quando chegou ao chão, não tinha dúvidas que se caminhasse em linha recta paralelamente à picada Gadamael Porto-Aldeia Formosa, mantendo o sol à sua esquerda, iria literalmente chocar com o aquartelamento. A aterragem também tinha corrido bem apesar de ter caído em cima de uma árvore alta e ficado suspenso pelos cordões do pára-quedas a cerca de um metro acima do solo. Não teve porém muita dificuldade em desembaraçar-se do arnês e deixar-se escorregar para o chão.

Logo a seguir procurou orientar-se para determinar a direcção a seguir. Ao pesquisar o local onde se encontrava vislumbrou, por entre a vegetação, a picada e todas as dúvidas sobre a direcção a tomar se desvaneceram. Começou a andar o mais rapidamente possível mas passado pouco tempo sentiu vozes à sua frente. Parou imediatamente e manteve-se imóvel perscrutando nessa direcção e logo a seguir reparou na oscilação de alguns arbustos. Agachou-se e procurou a pistola Walter que trazia no cinturão sobre o fato anti-G mas o coldre estava vazio[23]. A cerca de trinta metros de distância descortinou então um preto de tronco nu, em calções, com uma fita de munições a tiracolo. Avançava cuidadosamente afastando a vegetação com as mãos. Atrás deste apareceu outro homem também preto e foi aí que o Tenente-Coronel pensou que estava perdido. Praticamente ficou deitado no chão e manteve-se assim, imóvel, durante alguns minutos. Depois, quando pensou que o “inimigo” tinha passado, começou a progredir a quatro, em direcção ao aquartelamento. Foi um esforço desgastante debaixo de enorme tensão. O Tenente-Coronel Costa Gomes, embora tivesse estado por diversas vezes em Gandembel, não sonhava que os obuses 10,5 cm eram operados por pessoal do recrutamento local. Ficou por isso convencido que os pretos armados que tinha avistado só poderiam ser guerrilheiros. Por acaso não eram, eram os homens do Capitão Barroso de Moura[24] que, apesar de ir gritando: “piloto, somos nós!”, nunca foi ouvido. Inicialmente a distância e a vegetação e depois talvez alguma desorientação induzida pela situação em que se encontrava terão impedido que o Tenente-Coronel se apercebesse dos chamamentos. Ele ouviu qualquer coisa e foi isso que permitiu detectá-los mas não entendeu o que era e depois de ter avistado aqueles dois homens armados só pensava em afastar-se deles, o que é lógico. Diz ele, com toda a razão que, mesmo que soubesse que existiam militares pretos em Gandembel, nunca podia ter corrido o risco de se revelar. Então e se eles não fossem dos bons?

Por precaução arrancou os galões e o nome que tinha cosidos no fato de voo.

Entretanto tinham começado a chegar os aviões que se encontravam mais próximo. Uma parelha de T-6 que se preparava para bombardear um alvo, possivelmente em Salancaur, cerca de 12 km para oeste de Gandembel, abortou o ataque quando ouviu a comunicação do Tubarão. Olhando na direcção de Gandembel o Alferes Miliciano Marinho de Moura[25] ainda viu o pára-quedas do Tenente-Coronel Costa Gomes penetrar na floresta e desaparecer. Demorou cerca de 5 minutos a atingir esse ponto e ao circular na zona acabou por detectar o piloto no chão muito próximo da picada, do lado oeste. Foi esta informação que passou a outro piloto que também se aproximava no DO-27 3333 e que, por isso, tinha melhores condições para manter contacto visual com o alvo, coisa que não era fácil de fazer com o T-6. Vindo de sudoeste, quando se encontrava a efectuar o “sector” de Buba, o Furriel Miliciano Graciano Gomes da Silva apanhou a estrada para Gandembel no cruzamento para o Guilege e terá chegado à zona cerca de cinco minutos depois dos T-6. Recorda-se que a informação que o Melro lhe passou foi que o Pirata se encontrava do lado esquerdo da estrada, relativamente perto desta e a sul de Gandembel. Desceu então para uma altitude adequada para melhor detectar os detalhes do terreno por entre o arvoredo que deslizava por baixo e, por sorte, avistou-o logo, de relance, numa pequena clareira, a cerca de 30/40 metros da estrada e a não mais de 200 da cerca exterior do aquartelamento. Lá em baixo, o Tenente-Coronel Costa Gomes sentira a aproximação do avião e procurara rapidamente um espaço com pouca vegetação, onde pudesse ser avistado do ar, no que foi bem sucedido. A seguir, o piloto do DO-27 iniciou imediatamente uma volta e preparou-se para passar novamente na clareira, desta vez a baixa velocidade. Foi assim que o ex-Furriel Gomes da Silva me relatou essa manobra:
“Dei início à segunda passagem, com tudo o que tinha para garantir o contacto: 
- Altitude quanto baste, flaps, baixa velocidade, janelinha de ventilação aberta e toda a carga emocional para visualizar e tentar ajudar o Pirata. 
- À vertical passei com o braço esquerdo fora da janelinha a apontar ferozmente a direcção do quartel. 
- Foi de tal forma convincente a informação que o Pirata, de braços erguidos na vertical a pedir ajuda, partiu sem hesitar, sensivelmente para norte, a corta mato na direcção do quartel. 
- Nesse momento o Pirata estava só e não avistei mais ninguém.” 

No solo, o Tenente-Coronel Costa Gomes percebeu claramente a sinalética do piloto do DO-27 que coincidia com a direcção que estava a seguir. Tendo-se desembaraçado dos presumíveis guerrilheiros, e agora sentindo o apoio do DO-27, o nível de confiança aumentou. Apressou então o passo mas entrou numa zona de mato cerrado e o Furriel Gomes da Silva deixou de o ver. Estava nessa altura já muito próximo do aquartelamento e poucos minutos depois desembocou na envolvente desmatada e ficou com o aquartelamento à vista. Ao aproximar-se deu depois com o caminho que ligava a “porta de armas” à picada Gandamael-Aldeia Formosa. Seguiu então por esse caminho e entrou sozinho na “parada” do aquartelamento que, à primeira vista, lhe pareceu deserta. Reparou depois num pequeno grupo de militares que olhavam para o exterior e um deles quando deu com ele ali especado terá exclamado para os outros: “Olha, o piloto está ali!”

Neste espaço de tempo o Furriel Gomes da Silva tinha iniciado uma volta mais larga no DO-27 para não denunciar a posição do Pirata e, quando pensa estar novamente a vê-lo, a cerca de 50 metros da clareira inicial, diz “que o vê a caminhar devagar já acompanhado de alguns “militares”, cerca de quatro, todos com andamento calmo, ligeiramente afastados uns dos outros.”

Confessa que não detectou o encontro do Pirata com o grupo porque isso deu-se numa zona arborizada mas recorda-se de os ver “semi-fardados”, alguns em calções e apenas com a arma, em campo aberto na zona desmatada e à vista, a caminhar em direcção ao quartel e que por isso não poderiam ser inimigos. Acrescenta que quando confirmou via rádio que tinha o Pirata à vista, o Melro avisou que se retirava da zona, e nos minutos seguintes, por se encontrar a baixa altitude e fixado naquele grupo, deixou de avistar os T6. Lembra-se também que ainda viu alguns elementos da guarnição fora do arame e na zona compreendida entre a estrada e o aquartelamento a caminharem ao encontro do grupo que rodeava o Pirata, tendo todos entrado para o interior do arame farpado, sem incidentes.

O que aconteceu na realidade foi que o Alferes “Chico” Trindade[26], que comandava um dos grupos de combate da CCaç 2317, tinha entretanto chegado ao aquartelamento, vindo da direcção da Ponte Balana, e foi ele que avisou, por rádio, o Capitão Barroso de Moura de que o piloto já lá estava. Como já referi, Barroso de Moura e os artilheiros tinham encontrado o pára-quedas em parte suspenso de uma árvore, mas não deram com o piloto. Ainda lhe seguiram o rastro durante algumas dezenas de metros mas depois perderam-no e já vinham a regressar quando receberam essa comunicação. É, portanto, o grupo do Capitão Barroso de Moura que o Furriel Gomes da Silva vê a aproximar-se do aquartelamento. Por essa altura o Tenente-Coronel Costa Gomes, completamente desgastado pela intensidade da odisseia que o acabara de atropelar bebia uma água “Perrier” que os militares lhe tinham oferecido e tentava recuperar o ânimo deitado num colchão de espuma de borracha, na caserna para onde o Alferes Trindade o levara.

Diz o ex-Capitão Barroso de Moura que talvez 20-25 minutos[27] após de ter saído do quartel entrou nessa caserna onde estava o Tenente-Coronel na companhia do Alferes Trindade e talvez de mais um ou dois militares. Diz que o viu visivelmente perturbado – o que é natural – e que procurou falar com ele, ao que ele repetia “não sei como foi isto (ou como isto aconteceu…).”

Destes momentos o ex-Tenente-Coronel Costa Gomes já não se recorda muito bem do que se passou, nem com quem falou, mas lembra-se perfeitamente[28] que, às tantas, ficou só na caserna deitado no colchão e apercebeu-se de uns militares atrás de si tendo ouvido um deles a sussurrar para outro: “- Eh pá, estás a ver, o gajo é velho!”.

Esta apreciação, numa altura em que ainda se sentia muito abalado, foi muito desconfortável e o Tenente-Coronel Costa Gomes nunca mais a esqueceu. De facto, como se não bastasse ter sido derrubado pela AAA do PAIGC, ainda por cima era visto como “um velho” pelos soldados. Hoje tudo me corre mal, pensou o comandante do grupo que fazia uma avaliação muito mais favorável da sua figura. Todavia a realidade é sempre inexorável e, naquele ambiente em que reinava a juventude, um homem de quarenta anos, cansado, suado e coberto de pó, perante jovens com metade da idade, seria sempre considerado um “velho”.

Dos aviões que convergiram para Gandembel eu seria o último a chegar à zona porque estava a uma distância maior. Ao fim de vinte minutos, e já muito próximo, percebi pelas comunicações do Furriel Gomes da Silva que o problema estava resolvido e voltei à minha missão inicial.

A zona desmatada, sobre a fronteira, onde estiveram instaladas as armas antiaéreas


Como reagiu o Grupo Operacional 1201

Houve outros aviões que estavam no ar na altura em que o Tenente-Coronel Costa Gomes se ejectou mas que não puderam dar apoio. Foi o caso de uma parelha de G-91 formada pelos tenentes Vasconcelos e Sá e Firmino Neves que tinha ido atacar um alvo na mata central do Como. Os pilotos estavam a regressar à Base quando ouviram a comunicação rádio do Capitão Vasquez mas não podiam fazer nada. Tinham que aterrar porque estavam com pouco combustível. Assim que chegaram ao estacionamento surgiu o Tenente Balacó Moreira, o único piloto de G-91 disponível na Base, a dar indicações aos mecânicos para aprontarem rapidamente outra parelha. Foi por isso que o Tenente Firmino Neves desceu de um avião e entrou noutro logo a seguir e depois descolou atrás do Tenente Balacó Moreira em direcção a Gandembel. A meio do caminho ouviram a comunicação que finalmente nos sossegou informando que o Comandante do Grupo tinha entrado no aquartelamento e estava a salvo.

Na Base, quando o oficial de dia ao CCAA tomou conhecimento da ejecção em Gandembel, não havia ninguém com autoridade para decidir a nível do Grupo. Os dois oficiais que detinham esse estatuto eram o Comandante do Grupo e, informalmente, o Comandante da Esquadra 121. Um tinha-se ejectado e o outro tinha dado a única ordem que podia naquelas circunstâncias: “Saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!”

O oficial de dia ao CCAA chamou então os pilotos que estavam disponíveis para os inteirar do que tinha acontecido. Na Esquadra 121 só havia um piloto no chão, o Tenente Balacó Moreira, que decidiu o que acabei de relatar. O Comandante da Esquadra 122[29] era corredor de fundo e ainda estava em forma. Quando foi informado do que se passava deu instruções para saírem dois helicópteros, um deles armado para apoio de fogo. Depois, foi a correr para a linha da frente dos ALIII que distava uns 200 metros do Grupo Operacional. Quando lá chegou deu ordem a um Primeiro Cabo Mecânico para retirar as seguranças de um dos helicópteros que estava pronto e já se tinha sentado e amarrado quando se lembrou que não tinha nenhuma carta consigo. Libertou-se dos cintos rapidamente e, embora nunca se tenha descortinado o que o motivou, virou-se para o mecânico e disse-lhe:
-Venha daí! – e começou a correr novamente desta vez em direcção ao edifício do Grupo Operacional, seguido pelo mecânico que mal o conseguia acompanhar.

Quando chegou entrou no CCAA para recolher uma carta 1:50.000 do Guilege e depois iniciou nova corrida desenfreada, em sentido contrário, mas o Primeiro Cabo Mecânico que continuava a tentar segui-lo começou então a perder terreno e a distanciar-se cada vez mais. Tornou a subir para o helicóptero e amarrou-se novamente e, às tantas, reparou no mecânico que acabava de chegar completamente arrasado:
- O que é que você anda a fazer? – perguntou-lhe, não se lembrando já da ordem que lhe tinha dado.
- O meu Capitão disse-me para ir consigo e eu fui! - respondeu o mecânico.

Foram sem dúvida momentos de grande frenesim em que cada um procurou fazer o melhor que sabia e podia, o mais depressa possível. Tal como aconteceu com os G-91 também os pilotos dos ALIII tomaram conhecimento, a caminho de Gandembel, que o Tenente-Coronel Costa Gomes já se encontrava a salvo. Seguiram, por isso, directamente para o aquartelamento para recolher o Comandante do Grupo. O que podia ter sido um problema gravíssimo foi assim resolvido rapidamente e, apesar da perda do avião, ficámos todos aliviados.

A esquadra dos T-6 também reagiu tendo feito descolar uma parelha para dar protecção aos ALIII durante a busca mas que acabaram por fazer o mesmo durante o tempo em que os helicópteros estiveram aterrados em Gandembel.


Ao fim do dia no Comando-Chefe 

Como referi no princípio fazia parte da rotina diária uma reunião no Comando-Chefe, presidida pelo Brigadeiro Spínola, na qual se actualizava a situação operacional. Da parte da Força Aérea tinham assento nessa reunião o Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, Coronel PilAv Rui da Costa Cesário, e o Comandante do Grupo Operacional 1201. Uma outra presença em apoio do Comandante do GO 1201 era normalmente um dos oficiais de informações do CCAA. O Tenente José Soeiro Arada foi, por isso, uma testemunha privilegiada da reunião do dia 28 de Julho de 1968.

Nesse dia, depois de regressar à BA12 vindo de Gandembel, o Tenente-Coronel Costa Gomes teve tempo para recuperar do trauma e preparar-se para explicar no Comando-Chefe a odisseia que vivera. Apresentou-se rejuvenescido e bem disposto como que a tentar anular o comentário com que tinha sido mimoseado pelos soldados em Gandembel. Naturalmente que todos o queriam ouvir e o episódio foi pormenorizadamente descrito com graça e alguma ironia. No final foi efusivamente felicitado pelos presentes.


A tese da armadilha e a manipulação da DGS pelo PAIGC 

Para concluir devo acrescentar que o PAIGC retirou imediatamente as armas AA que derrubaram o Tenente-Coronel Costa Gomes sem que tivesse havido qualquer ataque na nossa parte. Por curiosidade, num dos dias seguintes, fui ver onde tinham estado montadas as armas e procurar os restos do G-91 5411. Levei comigo uma câmara fotográfica portátil para fazer algumas imagens.

O que descobri deixou-me intrigado. A área desmatada onde as armas tinham sido colocadas era mesmo na fronteira e talvez estivesse já dentro do território da Guiné-Conacri. O terreno era inclinado e estava voltado na direcção de Gandembel. Parecia o primeiro balcão de uma sala de cinema. O campo de visão na direcção de Gandembel era tão óbvio que fiquei convencido que as armas tinham sido ali colocadas de propósito para tentar abater um avião qualquer que surgisse na zona do aquartelamento, o que acontecia com muita frequência. Também nada indicava que as armas se destinavam a proteger a passagem da guerrilha no corredor do Guilege, como na altura se aventou. Aliás, com um raio de acção eficaz de 2000 metros apenas, as DShK[30], só no limite do seu raio de acção poderiam interferir com as acções aéreas numas escassas centenas de metros no início do corredor. Nesta ordem de ideias, as notícias sobre a construção de um túnel foram provavelmente um engodo para atrair um avião para aquela zona. Não conseguiram abater o DO-27 do Capitão Vasquez mas conseguiram abater no dia seguinte o G-91 do Tenente-Coronel Costa Gomes. Mais, tendo sido bem sucedidos uma vez seria natural que tentassem uma segunda oportunidade, mas não. Fiquei por isso convencido que a instalação daquelas AA teve apenas um objectivo: tentar abater um avião qualquer e retirar logo de seguida para se furtarem à inevitável retaliação.

Por tudo isto, não consigo também deixar de fazer uma ligação entre a história do túnel e o trágico acontecimento, ocorrido anos mais tarde, no dia 28 de Março de 1973. Nesse dia, foi recebida no COAT uma informação da DGS segundo a qual estaria em curso uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Embora se tenha suspeitado de uma armadilha o Comandante do Grupo, que na altura era o Tenente-Coronel Almeida Brito, decidiu efectuar um reconhecimento visual e levou como asa o Capitão Pinto Ferreira. É o seguinte, o relato do ex-Capitão Pinto Ferreira, testemunho fiável deste acontecimento:

“Encontrava-me no COAT, pelas 12h00 do dia 28 de Março de 1973, quando chegou uma mensagem da DGS dando conta de uma reunião de quadros do PAIGC em Madina do Boé. Fui imediatamente falar com o Comandante do GO 1201, Tenente-Coronel Almeida Brito, comentando na altura que aquela informação me parecia ser uma armadilha. No entanto, o Tenente-Coronel Brito optou por ir investigar com os aviões da parelha de alerta. Durante o briefing para a missão decidiu que iria sobrevoar, a baixa altitude, a picada que passa por Madina do Boé, no espaço entre o Che-Che e a base do PAIGC em Kambera, na Republica da Guiné. De facto, a haver uma reunião na zona de Madina do Boé, era provável que o caminho entre Kambera e Madina do Boé fosse utilizado, ou na ida, ou no regresso. 

Tal como planeado, quando chegámos ao Boé, sobrevoámos para sul a estrada que vai de Che-Che até Kambera, o que me permitiu observar o cenário de várias viaturas militares destruídas, que por ali ficaram depois da retirada da guarnição de Madina do Boé, em Fevereiro de 1969. Não foi detectada qualquer reacção do inimigo, mesmo quando sobrevoámos Kambera. 

Depois deste ponto, iniciámos uma volta de 180º pela direita, novamente em direcção a Madina do Boé. À vertical daquela posição, quando voava a cerca de 500 pés sobre o terreno, fui surpreendido pela explosão do avião da frente, que seguia um pouco mais alto, cerca de mil pés, atingido por um Strela. O avião foi praticamente engolfado por uma bola de fogo, o piloto não se ejectou, e apenas um tanque externo de combustível se separou do conjunto. 

Como já tinha tido alguns encontros com Strelas, reagi de imediato, submetendo o avião a Gs elevados e picando para junto do solo, durante alguns segundos. Subi depois, voltando pela esquerda, para cerca de 8 mil pés, por forma a identificar o local do sinistro e informar as operações da Base do ocorrido. No entanto, devido à bruma existente, apenas me foi possível observar o fumo de um local, algures a norte de Madina, onde caíram os destroços do avião.” 

Do lado do inimigo, o comandante do PAIGC Manecas dos Santos, responsável pela operação dos Strela, contou uma história algo diferente não só quanto ao disparo do míssil mas também quanto ao local onde os destroços do avião ficaram.

Recorde-se que, por volta de 1996, o ex-Comandante da CCaç 1790[31], que foi a última unidade do exército que esteve destacada em Madina do Boé, colaborou na feitura de um documentário da SIC intitulado - "Madina do Boé - A Retirada".

Durante as filmagens desse documentário, o ex-Capitão Aparício viajou, acompanhado do Manecas dos Santos, até ao local onde este disse que o avião do Tenente-Coronel Brito caíra, a cerca de 18 Kms a nordeste de Madina do Boé, o que parece demasiado. O ex-Capitão Aparício teve então a oportunidade de fotografar o “quase nada” que restava do avião e ouviu da boca do Manecas dos Santos a seguinte descrição de como tudo se teria passado:
“Os aviões apareceram, um ficou mais alto e o outro desceu para observar um grupo de árvores mais altas que existiam no local. Foi disparado um míssil para esse avião que explodiu e se despenhou. Um segundo míssil foi disparado para o outro avião mas bateu no tronco de uma dessas árvores altas e perdeu-se.”

O Manecas dos Santos é certamente o melhor relator dos sucessos do PAIGC decorrentes do emprego daqueles mísseis. É óbvio, porém, que não pode ter assistido à maior parte dos disparos visto que ocorreram em diversos pontos do território[32]. E quanto aos abates, será que assistiu a algum? Acredito que aquilo que ele conta neste caso foi-lhe transmitido através de uma cadeia de informação por voz, tendo-lhe chegado com todas as distorções imagináveis. Nem sequer refere Madina do Boé como tendo sido o local do disparo[33] e que é um elemento central neste caso.

Quanto à tese da armadilha, não há dúvida que esta missão de reconhecimento foi originada por uma informação da DGS revelando a ocorrência de uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Ora, acontece que o PAIGC mantinha uma base, a curta distância, em território da Guiné-Conacri, equipada com infraestruturas para apoiar o treino da guerrilha e onde viviam assessores cubanos, entre outros. É pouco plausível que, sendo necessário fazer uma “reunião de quadros”, não a fizessem nesse local, em Kambera, e fossem para Madina do Boé onde não havia condições logísticas. O que temos a certeza é que, naquele dia, estava lá um grupo de mísseis, apesar das nossas forças não efectuarem operações no Boé há anos.

Nada disto faz sentido a não ser que se tratasse de um plano para atrair aviões. O argumento da reunião passado à DGS terá sido o engodo. Por sua vez a referência a Madina do Boé é um elemento fulcral porque como o míssil era de muito curto alcance os aviões teriam de passar muito próximo daquele ponto[34] para serem atacados com sucesso pelo grupo que lá tinha sido posicionado. Pela descrição do ex-Capitão Pinto Ferreira, penso que o grupo dos Strela estaria instalado no topo da colina adjacente ao antigo quartel, ou seja no Dongol Dandum. Era um ponto elevado e oferecia um campo de visão de 360º. Os outros pontos altos nas proximidades encontram-se todos a distâncias superiores a 2000 metros o que reduziria substancialmente as probabilidades de êxito.

Assim, tudo aponta para uma armadilha semelhante à da construção de um túnel à entrada do corredor do Guilege, em Julho de 1968. Neste caso, o Comandante do GO 1201 escapou com vida mas cinco anos depois, em Madina do Boé, o Tenente-Coronel Almeida Brito já não teve a mesma sorte.

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Notas:

[1] - Série de artigos inicialmente projectada para ser publicada na revista Mais Alto da Força Aérea.
[2] - Indicativo táctico do Centro Conjunto de Apoio Aéreo na Base Aérea 12 (CCAA). Anos mais tarde passou a ser designado Centro de Operações Aero-Tácticas (COAT)
[3] - Indicativo táctico do TCor Francisco Dias da Costa Gomes, na altura Comandante do Grupo Operacional 1201 21 - Informação do ex-capitão de Gandembel: Até Out68, todo o pessoal nativo que possuía pertencia ao Pelotão de Artilharia de Campanha (PelAC 55), de 10,5 cm, de recrutamento da província, comandado por um Alferes Miliciano.
[22] - O ex-capitão de Gandembel estima que o piloto terá caído entre 500 a 600 mts para Oeste do aquartelamente mas penso que terá sido a uma distância menor.
[23] - A pistola foi encontrada no dia seguinte pelos pára-quedistas e deve ter saltado durante a ejecção. Naquela altura, na Guiné, ainda não tínhamos um sistema adequado para o armamento individual problema que mais tarde foi resolvido com a adopção de um colete de sobrevivência.
[24] - Declaração do ex capitão de Gandembel: “O pessoal nativo que me acompanhou na tentativa imediata de resgate do piloto era apenas do PelAC. Tive de recorrer a este pessoal porque nesse dia quase toda a Companhia (inc. o Grupo do Alferes Reis) se encontrava em missão de segurança a uma importante coluna proveniente de Aldeia Formosa (Quebo). Pensei também que seria bom levá-los como pisteiros.”
[25] - Indicativo táctico: Melro
[26] - Conterrâneo e meu amigo que estava em Gandembel. Gravemente ferido em 26SET1968 e evacuado por ter pisado uma mina AP junto ao pontão de Changue-Iáiá
[27] - Este tempo de ida e volta naquelas circunstâncias indica que a aterragem do tenente-coronel Costa Gomes ocorreu necessariamente muito próximo do quartel.
[28] - Nos últimos trinta anos ouvi esta história inúmeras vezes contada sempre da mesma maneira.
[29] - Capitão PilAv António Figueiredo Rodrigues – indicativo táctico “Puskas”.
[30] - Metralhadora pesada 12,7mm fornecida pela URSS e satélites ao PAIGC.
[31] - TCor Infantaria Ref José Aparício
[32] - Entre 20 e 28 de Março de 1973 foram efectuados diversos disparos de Strellas em áreas tão distintas como Campada e Bigene no Norte, Guilege no Sul e Madina do Boé no Leste. Isto mostra que existiam diversos grupos de Strellas a operar ao mesmo tempo e o Manecas não pode ter estado em todos eles. Aliás, numa entrevista ao jornal Expresso, afirmou que estava no grupo que abateu o 1º avião, em 23 de Março de 1973, na zona de Cumbamori, portanto muito distante de Madina do Boé. Além disso, como é bem sabido, o 1º avião não foi abatido no dia 23 mas sim no dia 25 de Março, próximo do Guilege e não na zona de Cumbamori.
[33] - O testemunho do ex-capitão Pinto Ferreira é esclarecedor.
[34] - O míssil tinha um alcance máximo de 4.300 mts e voava a 440mts/s. No caso do G-91, se entrarmos em linha de conta com a velocidade normal durante o afastamento, que era sensivelmente de 154 m/s, então o míssil só seria eficaz se disparado com o alvo num raio de 2.800 metros.
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Nota do editor

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