quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16833: Os nossos seres, saberes e lazeres (190): De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 13 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Por vicissitudes que nem eu próprio sei esclarecer, voltei em menos de um ano ao interior das Ardenas. E voltei com imensa satisfação, se gosto da floresta à volta de Pedrógão Pequeno, aquela imensidade florestal que começa na região de Avelar, passa por Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, atravessa o Zêzere e interna-se por uma Beira em progressivo abandono até Castelo Branco. Vive cada vez menos gente, mas despontam sobreiros, pinheiros, castanheiros, eucaliptos e acácias, daí o poder da indústria madeireira, não posso ficar insensível à floresta das Ardenas que apanha uma vasta área que vai da Lorena ao Luxemburgo.
Férias de descoberta e de redescoberta. Com diz Saramago, o que se vê na Primavera não é o que se vê no Outono, e há dias ensolarados e há dias nebulados e há momentos em que o nosso coração colhe e recolhe, misteriosamente permeável às coisas do húmus. E houve aquela circunstância de dormir numa casa que ela própria é fronteira entre a França e Bélgica.
Podem ver as imagens.

Um abraço do
Mário


De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (3)

Beja Santos

Há diferentes vias de atingir as Ardenas a partir da capital. O itinerário escolhido é de seguir, na região de Namur, junto ao belíssimo rio Meuse, foi sugerido uma paragem na Abadia de Hastière, nunca ouvi falar em tal, e a verdade é que por ali andarei de boca à banda, com a grandeza e a espiritualidade. Ao que parece, por aqui andaram no século XI, monges irlandeses e instalaram-se. A abadia foi construída no estilo arquitetónico românico mosan, e construções e destruições foram a regra: escavacaram a abside romana, aumentaram com um coro gótico e abóbada de cruzeiro. Depois vieram os Huguenotes no século XVI e os revolucionários em 1793, as destruições do costume. Impressiona pelas dimensões, as pedras tumulares, uma estatuária excecional. E a cripta também tem muito que se diga, com os seus sarcófagos merovíngios. Abençoado condutor que escolheu este trilho. Vamos então até ao fundo das Ardenas!



Quem é que não quer ter uma experiência turística excecional? Entenda-se por excecional dormir numa casa que faz fronteira entre a Bélgica e a França, não é figura retórica, esta casa, até ao dia em que apareceram as Comunidades Europeias tinha para aqui um posto alfandegário, marcos, policiamento, caça aos contrabandistas, foi edifício da maior importância para o mercado negro, nos anos trágicos da guerra e da ocupação. A casa foi café, no passado servia de mala-posta e de albergaria. Um casal adquiriu o edifício, refê-lo integralmente, desapareceram os estábulos, a zona de taberna, emergiu uma casa com dois andares e o visitante se já vinha arrelampado com o que vira em Hastière sentiu-se lisonjeado pelo convite de aqui pernoitar e percorrer uma casa insólita, com vistas desafogadas com divisões interiores de traça arrojada. Bendita fronteira, parabéns a quem aformoseou um antigo lugar de pouca permanência, associado a contrabandos, fugas de resistentes, passagem de informadores. E o viandante adormeceu a ficcionar uma novela passada nesses tempos convulsos de escapadelas pela fronteira, qualquer guerra servia.




Hoje vamos calcorrear veneranda terra belga, o viandante regressa à Abadia de Orval, quem lhe diria quando em anos pretéritos saboreava uma cerveja de Orval que visitaria a unidade fabril duas vezes em menos de um ano? Pois foi exatamente o que aconteceu, Orval é a poucos quilómetros desta bela casa de fronteira e tem muito para ver e até uma comparação radical a fazer. A abadia medieval foi destruída pelos revolucionários, deixou-se a brutalidade à vista, é uma testemunha muda a quanto leva o fanatismo. É impossível visitar Orval sem sentir uma espiritualidade ambiente, são essas as impressões que procuro deixar ao leitor, registo do que foi Orval e como se manteve até ao século XVIII, aqui se vivia sobre o lema beneditino de trabalhar e rezar, buscando a autossuficiência, tal como aconteceu, tal como acontece. A cerveja da abadia tem fama internacional, e justificada.



Aqui se glorificou Deus, aqui houve hossanas, preces, aqui se sepultaram monges depois de uma vida na obscuridade, ao serviço da misericórdia e da compaixão. Alguém bem sensível misturou ruínas com a intemporalidade de valores religiosos e grandes arquétipos morais. O viandante para em recolhimento, sabe bem como são transitórias as glórias inventadas pelos homens, a olhar estas estátuas depuradas e estas ruínas de templos de paz lembra a guerra que viveu, os seus mortos e os seus vivos. E agradece do fundo do coração ter podido voltar a Orval, revê-la com outros olhos, mas sempre atónito de admiração.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16809: Os nossos seres, saberes e lazeres (189): De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16832: Parabéns a você (1175): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 733 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16826: Parabéns a você (1174): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 (Guiné, 1971/74)

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16831: Estórias cabralianas (92): Natal de 1970 em Missirá...E os Três Reis Magos Foram Adorar o Menino Braima! (Jorge Cabral)




Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç NAT 63 > 1971 > O António Branquinho (simulando tocar um instrumento tradicional,talvez um "nhanheiro"...) com  uma bajuda e o Amaral (sentado). [Segundo aoportuna observação do nosso amigo e consultor permanente para as questões étnico-linguísticas,  Cherno Baldé, "o instrumento, na lingua fula, chama-se 'Hoddu', é mais antigo e, provavelmente, serviu de inspiração para a criacão do Kora dos Mandingas.]

Foto: © António Branquinho / Jorge Cabral (2007). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Estórias cabralianas (92) > Natal de 1970


por Jorge Cabral

[Foto à direita, o ex-alf mil art, cmdt, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71; jurista e professor universitário reformado; contador de estórias do antigamente e que, todos os anos,  pelo Natal,  nos surpreende com mais uma das suas jóias literárias; são "short stories", que já há muito mereciam estar editadas em papel; pode ser que haja por aí um Pai Natal, amigo da Tabanca Grande, que queira  dar uma boa  ajuda para o início de um "crowdfunding", permitindo em 2017 editar finalmente o tão desejado livrinho com as 100 estórias cabralianas que o alfero Cabral se comprometeu a escrever antes da decisão heróica de entrar, vestido de fato de amianto, no formo crematório, à procura dos Antepassados.]


Bacalhau ensaboado e os Três Reis Magos. Poucos são os Natais de que me lembro. E no entanto, já passei mais de setenta. Mas este, Missirá 1970, nunca esqueci. Tínhamos bacalhau. Tínhamos batatas, Fomos tarde para a mesa, a mesma de todos os dias, engordurada, sem toalha. Chegou o panelão fumegante e começámos.
–  Caraças!, o bacalhau sabe a sabão! – disse o Branquinho. 

E eu para o cozinheiro Teixeirinha:
–  Quanto tempo esteve de molho?
 – Esqueci-me,  meu Alferes, mas o Pechincha, disse que na terra dele, costumavam lavá-lo com sabão e que ficava bom.
– Porra,  Teixeirinha! Se não fosse Natal, estavas lixado! Assim, vais à cantina buscar cervejas para a malta toda e pagas a meias com o Pechincha… 

Batatas, umas latas de conserva e cerveja morna, pois a arca frigorífica tinha explodido na semana anterior, foi a nossa ceia de Natal.

Meia hora depois apareceu o soldado Alfa Baldé aos gritos:
Alfero! Alfero! Já nasceu! É macho! É macho!
– Eu não te tinha dito?! 

A alegria do Alfa era legítima. Já tinha três filhas e duas mulheres, mas há uns meses fora à sua Tabanca buscar outra mulher, herdada do irmão que havia morrido. Mas não trouxera só a viúva, mas também uma velha, muito velha, a bisavó, que se chamava Maimuna, mas que o Alfero alcunhou logo de a Antepassada. Meia cega passava os dias à porta da morança, dormitando de boca aberta…Nunca falou comigo, mas quando eu passava, sorria mostrando o único dente que conservava:
– Vou ver o teu filho, Alfa! Não lhe vais chamar Alfero Cabral. Vai ser Jesus! 
– Desculpa,  Alfero! Tem que ser Braima! 

 E fui com o Branquinho e com o Amaral. Só lá estavam mulheres e o  Bebé, todo enfaixado. Logo que entrámos, o Amaral, que estava um pouco tocado, exclamou:
– Nós somos os Três Reis Magos e viemos adorar o Menino Braima! 

 Vai fazer 46 anos! Dos Três Reis Magos,  um morreu e os outros dois estão velhos…Como a Maimuna, já parecem Antepassados… 

 Jorge Cabral

Lisboa, 7/12/2016




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 63 > c. 1970/71 > O "alfero Cabral" mais o seu pequeno amigo Malan. "Regressado de uma operação, tinha sempre à minha espera o meu amigo Malan".


Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/71) > O fur mil at inf Arlando Roda, fotografado no presépio montado em Bambadinca, possivelmente no Natal de 1969, no primeiro ano da CCAÇ 12 (que, de julho de 1969 a agosto  de 1974, esteve ao serviço de 4 batalhões, sediados no setor L1:  BCAÇ 2852 (1968/70),  BART 2917 (1970/72), BART 3873 (1972/74) e BCAÇ 4616/73 (1974). O "alfero Cabral" é contemporâneo da "primeira geração" de graduados da CCAÇ 12.

Foto: © Arlindo Roda (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Ùltimos cinco postes da série > 

9 de janeiro de  2016 >  Guiné 63/74 - P15598: Estórias cabralianas (91): Alfero Obstetra, mas também Dentista de Balantas... (Jorge Cabral)

(...) Numa noite, aí pelas três horas, fui acordado pelas Mulheres Grandes, que me pediram para levar uma parturiente a Bambadinca.

Embora a bolanha de Finete estivesse transitável, seria impossível atravessar o rio, acordando o barqueiro. Claro que os partos eram assunto de mulheres e foi com muita relutância que me deixaram observar a situação. Não só observei, como colaborei activamente no nascimento de uma menina. (...) 



22 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15526: Estórias cabralianas (90): A Pátria é um Natal, e o Natal é uma Pátria (Jorge Cabral)


(...) Foi no dia 25 de Dezembro de 1970.

Talvez porque o Spinola nos havia visitado há pouco,  o Sitafá, o puto que vivia connosco, interrogou-me:
– Alfero, o que é a Pátria? (...)


3 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15070: Estórias cabralianas (89): Os filhos do sonho (Jorge Cabral)

(...) Grande escândalo em Missirá. A bela bajuda Mariama, apareceu grávida. Sobrinha do Régulo e há muito prometida a um importante Daaba de Bambadinca, era preciso averiguar..,

Reuni com o Régulo e chamámos a rapariga, Após um interrogatório cerrado, ela, muito a medo, esclareceu:
– O pai era o Alfero…
– Mas quando e onde?
– É que uma noite sonhei com ele. (...)



29 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15054: Estórias cabralianas (88): A bebé de Missirá (Jorge Cabral)

(...) Só no início de julho de 1969, quando o Pelotão se preparava para ir para Fá é que descobri que além dos vinte e quatro soldados africanos, contava com as respectivas mulheres, filhos, cabras e galinhas… Instalados, o quartel virou tabanca, animada com as brincadeiras das crianças e os risos das mulheres. Todos os soldados fulas eram casados e alguns com mais de uma mulher, pelo que existiam sempre grávidas e partos. (...)


18 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14761: Estórias cabralianas (87): O Espanhol, o alferes Sá de Miranda e a Borboleta que sonhava que era rapariga (Jorge Cabral)



(...) Em Missirá, jantávamos cedo. Éramos apenas onze brancos e rápidamente despachávamos o pé de porco com arroz ou a cavala com batatas. Depois ficávamos à mesa conversando. Alguns mais resistentes permaneciam noite dentro. Um deles era o novo cozinheiro, o Espanhol, soldado básico, que mancava. (...)



Outras estórias cabralianas de temática natalícia:


16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14037: Estórias cabralianas (85): uma floresta de árvores de Natal... (Jorge Cabral)

(...)  A 24 de Dezembro pela manhã, fomos a Bambadinca. Trouxemos bacalhau e o correio.  Para mim chegou uma carta dos meus sobrinhos, escrita pela minha irmã. Dentro dela, um desenho do Pai Natal. Barba branca e uns óculos na ponta o nariz. Tal e qual eu ,agora…

À noite consoámos. Nem tristes, nem alegres. (...)


18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)


(...) Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada, os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais. Dizia um:
– Na minha terra…

E acrescentava outro:
– A minha Mãe fazia… (...)



16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque. Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50(...).

21 de Dezembro de 2007 >. Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)

(..) Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho (...).

13 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P605: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá


(...) Poucos dias faltavam para o Natal, e a tarde estava quente. Todo nu no meu abrigo, fazia a sesta, quando sou despertado por enorme algazarra misturada com os ruídos do helicóptero.

– Alfero, Alfero, é Spínola! –  gritam os meus soldados (...).

Guiné 63/74 - P16830: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte V: Anexos A água: o(s) suplício(s), de Sísifo e de Tântalo (1)


















Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



História da “feitoria” de Mansambo, com foral a partir de 21 de abril de 1968







1. Quinta parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens" (*), realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)


Sísifo ...foi condenado pelos deuses, por toda a eternidade (!), a empurrar  uma enorme pedra,  com suas próprias mãos até ao cume de uma montanha. Chegado lá, a pedra rolava novamente montanha abaixo, e o suplício continuava, uma, duas, três, infinitas vezes, inútil e estúpidamente...

"O trabalho de Sísifo" exprime o absurdo de muitas vidas humanas, como a dos Viriatos da CART 2339, em Mansambo.

Tântalo, por sua vez,  por ter tentado enganar os deuses,  foi lançado, por castigo ao rio Tártaro, nunca pondo saciar a sua sede (... nem matar a sua fome),  já que, ao aproximar-se da superfície da água esta se escoava...

O suplício de Tântalo refere-se, assim, ao sofrimento daqueles que desejam ansiosamente algo que está aparentemente ao alcance da mão mas a que esta nunca poderá chegar...A água foi um dos bens essenciais que escasseava em Mansambo e  que os Viriatos aprenderam muito cedo a respeitar como algo de vital e de  sagrado... (LG)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16829: Facebook...ando (42): Almoço de Natal do Bando... Em Crestuma e apresentação do livro "MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA" do Bandalho Zé Ferreira (Jorge Teixeira)



ALMOÇO DE NATAL DO BANDO... EM CRESTUMA

E APRESENTAÇÃO DO LIVRO "MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA" DO BANDALHO ZÉ FERREIRA

Vai acontecer no próximo dia 17, sábado. em Crestuma o nosso "Almoço de Natal", precedido da apresentação do livro do Zé Ferreira. 

Era bom que os Bandalhos se apresentassem em número significativo a fim de provocar a bandalheira habitual nestas circunstâncias, não só em homenagem ao Zé, mas também... e porque é Natal dia de paz, amor e... bandalheira. 

Há um autocarro no Parque das Camélias que sai às 10:00 horas
Façam as vossas inscrições rapidamente porque o Zé quer saber quem vai, para matar a mesa e marcar o porco!... 

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Nota do editor

Esta é uma organização do Bando do Café Progresso, mais conhecido pelos Bandalhos, que tem como Bandalho Presidente o nosso camarada Jorge Teixeira. Deste Grupo fazem ainda parte, entre outros: José Ferreira, Jorge Portojo, António Tavares, Joaquim Carlos Peixoto, Eduardo Campos e José Manuel Cancela.

De salientar o espírito de amizade reinante neste grupo que vai levar a efeito o seu Almoço de Natal em Crestuma, aproveitando para ali apresentar o livro "Memórias Boas da Minha Guerra", e homenagear assim o autor, José Ferreira, na sua própria terra.

A apresentação do livro será às 11 horas da manhã, seguindo-se a operação "Leitão".
As inscrições estão abertas, tendo como limite a lotação da sala.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > O bando mais famoso do Porto,  "O Bando do Café Progresso". Da esquerda para a direita: o (i) Jorge Teixeira, o chefe do bando; (ii)  o senhor escritor José Ferreira (também conhecido como o Zé Ferreira de Catió), o Jorge Teixeira (Portojo) e o David Guimarães, todos em primeiro plano. Atrás o Jorge Peixoto.

Foto: © Juvenal Amado (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16606: Facebook...ando (41): No lançamento do livro "Memórias boas da minha guerra", do camarada José Ferreira da Silva, no passado dia 14, no quartel da Serra do Pilar (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II


Foto nº 1 > Metralhadora Breda m/938, de calibre 12.7 [De origem italiana, foi adotada como metralhadora pesada padrão do Exército Português em 1938; usava carregadores ("lâminas") de 20 munições, em vez de  fita; tinha um alcance efetivo de 400 metros; no chão vê-se a "capa" que protegia a metralhadora, feita de fibra de amianto, um material comprovadamente cancerígeno...].



Foto nº 2 >  O precário  e tosco "abrigo" da Breda.... De resto, tudo aqui era tosco e precário: pro exemplo, não havia instalações sanitárias...



Foto nº 2 A > Junto ao arame farpado, os "tugas" jogam à bola... O destacamento não estava armadilhado à volta, assegura-nos o comandante.. Mas, ao fundo, à direita,  depois de amplaida a foto, parece-nos ver, reconhecer ou adivinhar uma tabuleta com triângulo vermelho e os conhecidos dizeres "Perigo Minas!"... (Devia tratar-se de um placa quialquer, humorística, uma brincadeira da rapaziada, diz-me o  Luís Mourato Oliveira, ao telefone)...



Foto nº 3 > O impacto de uma granada de morteiro do IN no capim, nas imediações do destacamento. (A partir de janeiro, o capim começava a abater e a secar, e tanto as NT como o IN procediam a queimadas...).


Foto nº 4 >  Marcas, numa árvores, de uma flagelação ao destacamento, com morteiro 82. [Não sabemos em que data: aqui o capim ainda está verde; sabe-se que em 9/1/1974, às 16h45, houve uma flagelação, de 5 minutos,  sem consequências. O Pel Caç Nat 52 respondeu com o morteiro 81. Em fevereiro de 1974, no dia 25, às 13h55 houve outra fllagelação, de 12 m, por um grupo de 20 elementos, usando 3 bases de fogos, também sem consequências. O 20º Pel Art, do Xime (obus 10.5) deu apoio ao destacamento, o GEMIL do Enxalé foi no encalce dos atacantes].



Foto nº 5 > O furriel mil Santos


Fotop nº  6 > Os cozinheiros improvisados


Foto nº 7 > O Unimog 411, o popular "burrinho"


Foto nº 8 > Uma aula de condução


Foto nº 9 > Um aspeto geral do destacamento, visto de norte para sul


Foto nº 10 > O destacamento visto do ângulo oposto (de sul para norte)


Foto nº 11 > Uma embarcação , ao serviço das NT, vinda de Bissau, a caminho de Bambadinca, carregada de munições, foi destruída pelo PAIGC num ataque, no Rio Geba Estreito, possivelmente já em data posterior a março de 1974, quando o BCAÇ 4616/73 rendeu o BART 3873, no setor L1. Em geral, e depois que foi cionstruído o destacamento do Mato Cão, os ataques às embarcações eram efetuados mais a montante, em São Belchior, entre o Mato Cão e Finete. (O Luís Mourato Oliveira diz que este ataque terá sido logo no início de 1974,. mas nós não encontrámos qualquer referência a esta ação do IN na história do BART 3873, que termina em março,,,

Na foto, vê-se, de perfil, à esquerda, inspecionando os restos do barco, o comandante do Pel Caç Nat 52. Esta foto não foi, portanto, tirada por ele, e apesar da sua má qualidade tem interesse documental.

Foto nº 12 > Um patrulhamento ofensivo na véspera do Natal de 73, antes de emboscada (1) (Não sabemos a que emboscada se refere o autor das fotos).


Foto nº 13 > Um patrulhamento ofensivo na véspera do Natal de 73, antes de emboscada (2). O  alf mil Luís Mourato Olievira está no meio do grupo de gorro castanho, na cabeça.O grupo não chega a etr 30 elementos, que era composição nornal de um Gr Comb.


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > O nosso destacamento


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico
 do Luis Mourato Oliveira, nosso grãtabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

O Luís Mourato Oliveira era de rendição individual... Veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, para fazer formação antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá. 

É aí que ele irá terminar a sua comissão e extinguir o pelotão, em agosto de 1974, mas já em Missirá, depois do Pel Caç Nat 63 (ou o 54 ?) substituir o Pel Caç Nat 52 no Mato Cão. Em julho de 1973, era ainda o Pel Caç Nat 54 que estava a guarnecer o destacamento de Mato Cão, de acordo com a história da unidade (BART 3873, Bambadinca, 1972774).

Eis algumas fotos do tempo em que o alf mil Luís Mourato Oliveira passou no destacamento de Mato Cão, cuja principal missão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Além do morteiro 81, o destacamento possu+ia uma metralhadora pesada Breda, e tinha a cobertura de artilharia, o 20º Pel Art do Xime (obus 10.5).

Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos cerca de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime. Por lá passaram diversos camaradas nossos, membros da Tabanca Grande... O Oliveira não foi o último... Foi, sim, o último comandante do Pel Caç Nat 52.

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Guiné 63/74 - P16827: Notas de leitura (910): “Guiné-Bissau: Nação Africana Forjada na Luta", por Amílcar Cabral, Publicações Nova Aurora, 1974 (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
Não é de mais realçar que ao longo de 1974, pós 25 de Abril, o pensamento de Cabral foi alvo de antologias em catadupa, vê-se claramente que era este o líder revolucionário que grupos oposicionistas e anticoloniais melhor conheciam, Cabral era a referência. Escapara-me esta edição das Publicações Nova Aurora que organizou um conjunto de textos onde eram obrigatórios o discurso de Havana, os primeiros diagnósticos que ele apresentou na arena internacional, incluindo a ONU, até se chegar à sua alocução conhecida pelo seu testamento político. É curioso como ao estudarmos hoje todos estes discursos, intervenções, conferências, textos improvisados e mensagens, ressalta em permanência a coesão entre o pensador e o homem de ação, com uma capacidade organizativa sem paralelo. Mas estudando todo este pensamento também avulta o que nele era frágil, a pouca convicção como ele impunha o conceito de unidade Guiné-Cabo Verde. E o que era muitíssimo forte, a aliança entre os combatentes guineenses e os quadros cabo-verdianos acabou no colapso, e quem perdeu foi a Guiné-Bissau, conforme está à vista de todos.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: nação africana forjada na luta, por Amílcar Cabral

Beja Santos

Julgava ter compendiado todas as edições surgidas depois do 25 de Abril acerca do pensamento de Cabral, não deixa de impressionar tudo quanto se publicou e como o seu pensamento não teve concorrência com qualquer outro líder revolucionário de qualquer outro movimento de libertação, só dele se aproximou, no escopo teórico, o angolano Mário de Andrade. Mas acabo de descobrir uma nova edição de textos de Cabral, desta feita nas Publicações Nova Aurora, seguramente uma editora que estava ligada aos maoistas.

Encontramos, como nas outras antologias, estratos com significado sobre a luta anticolonial, a análise de Cabral sobre a estrutura social da Guiné Portuguesa, o famoso discurso proferido em Havana e conhecido por “A Arma da Teoria”, que tanta celeuma provocou. Julgarão alguns que todo este pensamento já perdeu sentido. Enganam-se. Quanto se pretende estudar onde o pensamento de Cabral se foi arredando da ação dos seus seguidores, é indispensável voltar aos seus textos para entender como aquela força revolucionária se veio a acomodar e a distanciar das formulações teóricas e da capacidade organizativa de Cabral.

Veja-se, a título exemplificativo, o que ele respondeu à Revista Tricontinental, em 1969, quando foi questionado sobre o exercício da direção político-militar da luta:

“A direção político-militar da luta é única: é a direção política da luta. Nós, na nossa luta, evitamos criar o que quer que seja de militar. Somos políticos e o nosso Partido, que é uma organização política, dirige a luta no plano civil, político, administrativo, técnico e portanto militar. Os nossos combatentes definem-se como militantes armados. É o Bureau Político do Partido que dirige a luta armada e a vida, tanto nas regiões libertadas como nas que o não são, e onde temos os nossos militantes. Ao nível de cada frente existe um comando de frente. Ao nível de cada setor, existe um comando de setor e cada unidade do nosso exército regular tem também o seu comando”.

A que se deve esta citação? Cabral tinha a perfeita noção de que o seu movimento revolucionário só podia progredir com a estrita dependência dos militares face ao poder político. O seu sucessor, Luís Cabral, ainda manteve as Forças Armadas na estrita dependência do poder político. Com o golpe de 1980, os militares entraram de roldão na arena política e conseguiram subverter a natureza do PAIGC.

Todas estas antologias deixam ressaltar como era frágil o conceito da unidade Guiné-Cabo Verde. Ao longo da luta, Cabral foi-se apercebendo de que havia tensões em aprofundamento entre os militares guineenses e os quadros cabo-verdianos, séculos de desconfiança, de ressentimento e mesmo de ódio pelo facto do cabo-verdiano administrar, ter o pulso forte, ser tão assimilado como o branco, entre outros fatores, engendrara um sentimento de tácita rejeição, estavam os dois povos no mesmo barco, mas havia que mostrar a distância. 

O pretexto foi a Constituição de Cabo Verde, a elite guineense incitou os militares à separação. Conhecedor desta realidade, e a pretexto de que havia planos para ele ser liquidado, Cabral compôs uma peça que ele julgava suscetível de emparedar a sublevação do lado guineense. Sobre o alegado plano português, ele escreveu:

“O objetivo principal do inimigo é destruir o nosso partido. Ele está convencido de que a prisão ou a morte do principal dirigente significaria o fim do Partido e da nossa luta. O plano inimigo far-se-á em três fases:

Primeira fase:

Atualmente, muitos compatriotas abandonam Bissau e outros centros urbanos para se juntarem às nossas fileiras. Nesta ocasião, Spínola espera poder introduzir agentes (antigos ou novos membros do Partido) nas nossas fileiras. A sua tarefa: estudar as fraquezas do nosso Partido e tentar provocações apoiando-se no racismo, no tribalismo, opondo os muçulmanos aos não-muçulmanos, etc.

Segunda fase:

1. Criar uma rede clandestina;
2. Criar uma direção paralela;
3. Desacreditar o secretário-geral;
4. Preparar a nova “direção” para fazer dela o verdadeiro organismo dirigente do PAIGC;
5. Paralelamente, lançar uma grande ofensiva para aterrorizar as populações dos territórios libertados.

Terceira fase:

a. No caso de falhar a segunda fase, tentar um golpe contra a direção do Partido, fazendo assassinar o seu secretário-geral;
b. Formar uma nova direção baseada no racismo e opondo guineenses e cabo-verdianos;
c. Impedir a luta no interior do país, liquidar os que permanecem fiéis à linha do partido;
d. Entrar em contacto com o governo português. Falsa negociação, autonomia interna, criação de um governo-fantoche na Guiné-Bissau, que faria parte da comunidade portuguesa;
e. Postos importantes estão prometidos pelo General Spínola a todos os que executarem o plano.

Conclusão – devemos reforçar a nossa vigilância para desmascarar e eliminar os agentes do inimigo, para defender o Partido e encorajar a luta armada. Assim poderemos frustrar todos os planos criminosos dos colonialistas portugueses.

O inimigo tentou corromper os nossos homens, mas a esmagadora maioria dos responsáveis contactados não aceitou vender-se, comportaram-se como dignos militantes do nosso partido e contribuíram mesmo para castigar severamente os portugueses que tentavam comprá-los, como foi o caso dos quatro oficiais, próximos colaboradores de Spínola”.

Argumentação mais genérica nas acusações subtis e apelos à vigilância não era possível fazer. O plano não se passou assim, só por puro delírio se pode imaginar Momo Turé a arregimentar sublevados às centenas em Conacri e mesmo em território guineense, liquidado Cabral foram presos exclusivamente cabo-verdianos e ameaçados de morte.

A fórmula mágica da unidade Guiné-Cabo Verde foi indispensável para alcançar a vitória da libertação mas era a taça envenenada para o futuro, como aconteceu.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16816: Notas de leitura (909): “Conhecimento do Inferno", por António Lobo Antunes, Editorial Vega - O Chão da Palavra, 1980 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16826: Parabéns a você (1174): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 (Guiné, 1971/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16819: Parabéns a você (1173): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)