terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16856: (De)Caras (59): Na despedida de Clara Schwarz da Silva (1915-2016), a decana da Tabanca Grande: um adeus da família e amigos, e um trecho de música klezmer, por João Graça


Vídeo (1' 41'').- Alojado em You Tube > Luís Graça

São Martinho do Porto > "Casa do Cruzeiro" na estrada do Facho >  Almoço-convívio. 7 de Agosto de 2008.> Anfiriões  Clara Schwarz da Silva (1915-2016) e seu filho  Carlos Schwarz  da Silva, "Pepito" (1949-2014)...   Violinista: João Graça, executando um, "freylach".  Homenagem às raízes judaicas, polacas e russas, da anfitriã (que nasceu em Lisboa, em 1915)... Tratou-se de um trecho de música klzemer, a música tradicional dos judeus da Europa de leste, os asquenazes. Na imagem,  o Pepito aparece à esquerda, de pé, e a sua mãe, então com 93 anos, à direita, sentada.

Vídeo carregado no You Tube em 07/08/2008, com a devida autorização ao artista...que é membro da nossa Tabanca Grande desde pelo menos 2011 (, tendo, cerca de uma centena de referências no nosso blogue). É cofundador e membro, desde 2006, do grupo Melech Mechaya.

O João Graça,  que por razões profissionais não pôde despedir-se da sua amiga, por quem tinha grande estima e admiração, pede-nos para publicar este vídeo, mesmo antigo e gravado ao ar livre, em condições precárias,  como homenagem derradeira,  por sua parte, à dona Clara que, também ela cursara, como ele,   o Conservatório Nacional de Música de Lisboa e tocava violino, o seu instrumento preferido.  (LG)



Foto nº 1


Foto nº 1A> > Crematório de Barcarena, Oeiras > 14 de dezembro de 2016 > 15h32 > Funeral de Clara Schwarz (1915-2016) > O arco-íris e o seu forte simbolismo para os seres humanos: na foto nº 1, é difícil distinguir a sequência das 7  cores do espectro solar, mas aqui (foto nº 1A) pode identificar-se melhor ou pior o vermelho, o   laranja, o amarelo, o verde, o azul, o índigo (ou anil) e o violeta (ou roxo).

É um arco-íris de homenagem à nossa amiga e decana da Tabanca Grande, uma homenagem a um vida que atravessou dois séculos e que, por onde passou, deixou luz, amor, humor, felicidade, beleza, conhecimento, simpatia, tolerância, amizade...


Foto nº 2 > Crematório de Barcarena, Oeiras > 14 de dezembro de 2016 > Funeral de Clara Schwarz (1915-2016) > A urna, os cravos, a caixinha para as cinzas...Uma imagem que nos vem lembrar a nossa condição humana: "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" [Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te tornarás. Fonte: Antigo Testamento, Génesis, 3, 19].


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foi uma cerimómia singela: não éramos mais de meia centena, mas os familiares e amigos vieram de vários pontos, de Bissau, de Paris, de Lisboa (*)...

O João Schwarz da Silva foi o "mestre de cerimónias", discreto, comedido, num ambiente que ainda é estranho para muitos de nós, a antecmara do forno crematório (neste caso, o de Barcarena, Oeiras).

Por vontade expressa da nossa decana, Clara Schwarz, foi uma cerimónia simples, em cima da urna, vários ramos de cravos vermelhos (como a Clara gostava), além da caixa de madeira para guardar as cinzas... Houve depois quatro ou cinco intervenções de familiares e amigos, que quiseram tomar a palavra: 

(i) o filho João, e a seu lado, o Henrique; 

(ii) a neta Mariana (filha do João, que vive em Paris e que estava emocionadíssima, era também uma neta muito ligada à avó); 

(iii) uma afilhada da Clara, cujo nome não retive; 

(iv) o antigo primeiro ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, velho amigo do Pepito, conhecido por Cadogo Júnior (enquanto o pai, Carlos Domingos Gomes é conhecido como Cadogo Pai, e é nosso grã-tabanqueiro); no fim, o político e empresário guineense deu-me um cartão de visita, seu; 

e por fim (v) o editor do nosso blogue, amigo da família...

Alguém fez questão de passar, muito apropriadamente, dois trechos de música, sinfónica e klezmer, de que a Clara muito gostava... E no final depois batemos palmas... à nossa heroína (que ultrapassou a fasquia dos 100 anos),  à vida, à saudade, à amizade, ao amor, ao futuro (representado pelas novas gerações a quem compete pegar no "testemunho" dos que partem...)

A família, que não é numerosa, estava lá: os filhos João e Henrique, os netos (a Pepas, o Ivan, a Catarina, do lado do Pepito e da Isabel), a Marina e o Martin (?), do lado do João... Até a última bisneta, a Lara, com escassos meses, filha da Catarina... e a avó Isabel Levy Ribeiro (que regressa, coma a filha e a neta, a Bissau, no princípio de janeiro... porque "a vida continua"!)...

Do lado da Tabanca Grande, além de mim e da Alice, vi (e estive com) o Carlos Silva, o António Estácio, o Eduardo Costa Dias... Conheci mais algumas camaradas, nascidos ou crescidos na Guiné, e que foram alunos da prof Clara Schwarz, no liceu Honório Barrreto (um dos que fixei o nome tem por calcunha o "Manuel Balanta" e é hoje colega, na EDP,  do nosso colega Eduardo Magalhães Ribeiro) (**).

A prof Clara Schwarz tinha fama de disciplinadora e os alunos respeitavam-na e temiam-na, mas todos asseguram que foi graças a ela que aprenderam a dominar o francês. Todos me têm falado dela com saudade. Por ocasião do seu 100º aniversário, o nosso camarada Manuel Amante da Rosa, então  embaixador de Cabo Verde em Roma,  evocava-a nestes termos:

(...) "Cincoenta anos passados e ainda me lembro de como entrou pela primeira vez, altiva e austera, no nosso 1º ano B, com o Bonjour da ordem, pasta em cima da mesa, livro de ponto aberto e caderneta nova, com as nossas fotos, ainda por preencher nos recantos das notas e chamadas orais. Iniciar ela própria a chamada da praxe para nos ir identificando pelo primeiro nome, um sorriso e olhar maternal ocasional para os mais amedrontados dissiparem o respeito que nos incutia.

Não me lembro nunca de ter visto algum aluno a ser expulso das suas aulas ou levar falta de material. Ela teria o dom da disciplina sem ter que castigar. Uma admoestação verbal dela caía fundo porque era dada de frente para o aluno, olhando-lhe bem nos olhos. Muito preocupada sempre com aqueles que sabia serem os mais carenciados e carentes de locais para estudo. Poucos olhares se mantinham fixos nela quando por detrás das lentes procurava um de nós para as chamadas orais.

Durante quatro anos tive o privilégio de a ter como minha Professora de Francês e ao mesmo tempo educadora. Como eram os Professores antigamente. Fui expulso algumas vezes de outras aulas. Éramos irrequietos, jovens e sempre à procura de algo diferente mas nas classes da Clara Silva e mais um ou outro Professor imperava a atenção e a disciplina." (...)

Reencontrei o Rui Miranda e a esposa Isabel Miranda, que trabalham na AD, e que eu conheci em 2008, em Bissau... (Desejo ao Rui boa continuação do tratamento hospitalar a que está a ser sujeito e Lisboa!... Lembro-me do Pepito sempre o tratar, com graça, por "furriel Miranda", já que ele havia servido o... exército colonial!...Também ele foi aluno da prof Clara Schwarz).

Estranha coincidência ou não, foi o mesmo crematório, o de Barcarena, onde o nosso Pepito foi incinerado. N a altura, estranhei, eu e a Alice,  ninguém quer dizer uma palavar de despedida, antes da entrada da urna no forno crematório... Provavelmente a família não estava, ali, preparada para dar a palavra a quem que fosse... Aliás, a morte, repentina, do Pepito tinha-nos deixado a todos consternados e sem palavra... Fiquei agora a saber que as suas cinzas foram levadas para Bissau onde o pai, Artur Augusto Silva, morrera, em 1983 e onde fora sepultado.

Transmiti aos presentes, e nomeadamente à família Schwarz, os votos de pesar de toda a Tabanca Grande, pela morte da nossa decana, uma grande senhora que soube viver e morrer com toda a dignidade. E relembrei dois ou três (quadras populares) das que publicámos no nosso blogue por ocasião dos seus aniversários:

(...) Fazer anos, que maçada,
Já não tenho, p’ra isso, idade,
Mas estou-vos muito obrigada,
P'los votos… de eternidade!

Decana, eu ? Ah, pois sou,
Com muita honra e prazer!
E ao blogue ainda vou,
Mesmo sem poder escrever.

Nesta terra querida,
Tive mundo, e tive amor,
Não me posso queixar da vida,
Tive tudo, e também dor. (...)

(...) Há festa no Tabancal,
Os seus anos celebramos
De Lisboa ao Corubal,
Nossa decana saudamos.

Fez da vida maratona,
A nossa grã-tabanqueira,
Clara, senhora e dona,
É atleta de primeira.

É um mix de culturas
A nossa aniversariante,
Passou por muitas agruras,
Mas foi sempre adiante.

De polaco pai e russa mãe,
Tem alma rubra e verde,
Apaixonou-se também
Por um filho de Cabo Verde.

Artur foi o seu 'cretcheu',
Que lhe deu três belos filhos,
Pepito é o guinéu,
Sempre metido… em sarilhos!

Quem anda, tropeça e cai,
Parte braço, mas recomeça,
Mais vale dizer ai!,
Do que perder… a cabeça! (...)


 PS - Ah!, esqueci-me de mencionar a presença da na nossa querida e amiga tabanqueira Júlia Neto, a viúva do nosso saudoso capitão Zé Neto (1929-2007), que me deu notícias das filhas e dos netos...  Reencontrei-os na Tabanca de São Martinho do Porto, depois de os ter conhecido no funeral do pai e avô. Fiquei a saber que a Júlia é bisavó... Lembram-se da conversa, aqui, do Zé Neto, o capitão José Neto, o primeiro dos nossos grã-tabanqueiros a deixar-nos  ?

Na altura, em 2006, ele era o "patriarca" da nossa tertúlia (ainda não dizíamos Tabanca Grande...). Chegou ao nosso blogue com a seguinte mensagem, que eu adorei, porque vi logo que era um homem de palavra e com sentido de humor, um excelente camarada, para além de amigo do Pepito:

(...) "Meu caro Luis: depois de muito meditar cheguei à conclusão de que, pelo menos tu, mereces a minha confiança para partillhar contigo uma parte 'muito significativa' das memórias da minha vida militar. São trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265 que fui escrevendo ao correr da pena para responder a milhentas perguntas que o meu neto Afonso, um jovem de 17 anos, que pensava que o avô materno andou em África só 'a matar pretos' enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo). Coisas de família" (...).

Pois é, o nosso Afonso é hoje um respeitável chefe de família e já deu à Júlia um bisneto... A nossa querida, Leonor, a mana do Afonso, por sua vez, tirou comunicação social, trabalhou na TVI, está agora fazer outras coisas e faz companhia à avó...

Uma bela família,  também... Gostei de rever a Júlia, mesmo que o sítio e a ocasião não fossem os mais adequados...A Júlia soube da notícia da morte da Clara através do Facebook da Tabanca Grande.

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

14 de dezenbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16834: In Memoriam (273): Clara Schwarz da Silva (1915-2016): hoje, 4ª feira, dia 14 de dezembro de 2016, às 15h30, vamos despedir-nos, no crematório de Barcarena, Oeiras, da nossa querida amiga, a decana da Tabanca Grande

11 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16825: In Memoriam (272): dra. Clara Schwarz da Silva (1915-2016), mãe dos nossos amigos Henrique, João e Pepito (1949-2014), cofundadora e professora do Liceu Honório Barreto, em Bissau, decana da Tabanca Grande. Dia 14, 4ª feira, haverá uma 
pequena cerimónia de despedida, no crematório de Barcarena, Oeiras

(**) Último poste da série > 10 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16820:(De)Caras (66): Fotos da sessão de lançamento, em Lisboa, no passado dia 6, do novo livro de Mário Beja Santos, "História(s) da Guiné-Bissau"

Guiné 63/74 - P16855: Parabéns a você (1179): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8351 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16847: Parabéns a você (1178): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16854: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (8): António Carvalho (ex-fur mil enf, CART 6250/72, Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250, "Os Unidos de Mampatá" (1972/74) > Um foto aérea de povoação e aquartelamento...  A esquerda o heliporto. Era uma tabanca fula, ,logo muçulmana.

Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados.  /Edição e legenbdagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Um Natal Feliz

Para todos os meus amigos 
e para todas as pessoas do mundo. 
Mesmo para aqueles 
para quem o Menino Jesus 
não é Deus feito homem. 

É que eu tenho amigos das mais diversas religiões, 
nomeadamente amigos Muçulmanos, 
e não quero ferir a susceptibilidade religiosa de nenhum deles. 

Na verdade, ninguém tem que acreditar que Jesus é Deus, 
essa é uma crença dos Cristãos. 
Facto historicamente provado 
é que Jesus anunciou uma nova religião 
em dissidência com o Judaísmo, 
e mais está provado que Jesus difundiu uma doutrina 
baseada no bem, na bondade e no perdão absoluto 
e isso, se não o deifica, no mínimo, confere-lhe heroicidade. 

Pois, no dia em que se comemora o nascimento de Jesus, 
meditemos todos no que podemos contribuir 
para que a paz tome o lugar 
nos estúpidos conflitos 
que grassam no mundo.

António Carvalho 
[ex-Fur Mil Enf.
CART 6250/72, Os Unidos de Mampatá,
Mampatá, 1972/74; 
é natural de (e vive em) Gondomar]
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Guiné 63/74 - P16853: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (7): José Martins (ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)



Original foto de Canjude, região de Gabu, com votos de Boas Festas, enviada pelo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)


Foto: © José Martins (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Para todos os camaradas

Votos de Feliz Natal 

e prosperidades no Novo Ano de 2017

José Marcelino Martins




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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16852: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (6): Benjamim Durães [ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)]

Guiné 63/74 - P16852: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (6): Benjamim Durães [ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)]


Cartão de boas festas do nosso amigo, camarada e grã-tabanquieiro Benjamim Durãe [ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); DFA, sempre voluntarioso e generoso, é um homem de causas, tendo sido até há uns anos  presidente da direção do Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes].



Guiné >  Zona letse > regiãod e Bafatá > Bambadinca (Setor L1) >  CCS/BART 2917 (1970/72) > Época das chuivas, 1970  > O Benjamim Durães no meio do capim da Bolanha de Bambadinca (?)


Foto: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...


Guiné > Região de Quínara > Tite > Julho de 1965 > O Santos Oliveira, em pacato  passeio pela tabanca


Guiné > Região de Quínara > Tite > Agosto/setembro de 1965 > Uma cena de caça


Guiné > Região de Quínara > Tite > Julho de 1965 > Uma DO27 (Dornier) na pista de reabastecimento.

Fotos do álbum do nosso camarada, grã-tabanquerio da primeira hora, de Santos Oliveira, ex-2.º  sgrt mil armas pesadas inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Esteve em Tite ao tempo do BCAÇ 1860 (Tite, abril de 1965/abril de 1967)

Fotos (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O Zé Teixeira, em 2008, em Iemberém,
com  população local. Foto de Luís Graça (2008)
O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...



1. Preâmbulo

Todos nós, os que passamos pela guerra (e em particular pelo TO da Guiné), temos vindo com o tempo, a tentar passar aos vindouros as situações vividas (, "com sangue, suor e lágrimas"...)  num  ambiente hostil e agressivo, próprio dos confrontos militares . É o nosso ponto de vista. Com mais ou menos romantismo; com mais ou menos realismo, vamos escrevendo o que a nossa memória registou.

É comum ouvirmos camaradas nossos contar testemunhos de situações que vivemos em conjunto e encontrarmos diferenças, às vezes pormenores que nos escaparam ou a que não demos atenção. Foram situações (ataques, flagelações, emboscadas, explosões de minas e armadilhas, etc.) vividas em comum, mas analisadas por outro ponto de vista. Alguém com outra base académica ou cultural, ou até com outra visão politica e militar da situação, é capaz de "ver" e "narrar" os acontecimentos de outra maneira... O local e ângulo de onde se está a vivenciar o acontecimento, afeta a informação registada na memória (e depois a narrativa, a reconstituição, o depouimento...).

Neste caso concreto, estamos a tomar conhecimento de um testemunho de alguém que vivenciou o ataque a Tite, de 22 para 23 de janeiro de 1963, data (polémica) do in´´iio "oficial" da guerra colonial (ou de "libertação", para os nacionalistas). Foi o seu comandante, mas do outro lado da barricada, logo, o relato dos acontecimentos que viveu e a visão global do ataque são à partida diferentes da "narrativa" daqueles que,  na altura, defendiam a bandeira verde e rubra. Pontos de vista diferentes, mas tespeitáveis, já que tal como a moeda, a "verdade" tem um verso e um reverso.  São estes conjuntos de ponto de vista, diferentes entre si, dos acontecimentos que vão permitir escrever a História.

Estranhamente pouco ou nada se tem escrito, oficialmente,  sobre este acontecimento tão marcante, (seria?) para o desenvolvimento da guerra na Guiné.

Na parte da entrevista que se segue, o entrevistado assume que o ataque a Tite foi uma aventura, a qual serviu de alerta para as tropas portuguesas. Na realidade, podia ter sido uma grande catástrofe para os guineenses envolvidos pela sua ingenuidade de fazer avançar cerca de 150 africanos (!) – diz ele – com reduzido armamento e nenhuma formação nem prática de combate, contra uma instituição militar devidamente apetrechada e homens bem trenados no manuseamento de armas. Valeu-lhes o ato de surpresa e creio mesmo que a população local envolvida fugiu a sete pés, mal se iniciou o tiroteio.

Com este "ato de loucura", o PAIGC terá ganhado mais alguns aderentes e talvez notícias de primeira página nos jornais, por esse mundo fora, vacinado contra o colonialismo via URSS e EUA, as grandes potências em conflito latente, empenhadas em “abocanhar” a África e a afirmar a sua hegemonia geopolítica,,,. Claro que foi um ato que deu “gás” aos militantes do PAIGC, fazendo sentir que era possível lutar contra os "tugas" (sic), de "armas na mão", bastante para isso terem armas, pois que vontade não lhes  faltava.

Mas,  como acontecimento de guerra, o ataque a Tite não passou de um fracasso, para ambos os lados da barricada. Desgraçadamente, foi o início de uma escalada que só parou 11 anos depois... e que nos envolveu a todos.

A três anos de morrer, Arafam Mané faz também o balanço de uma vida:  "filho de camponês", com passagem pela escola do maoismo, e tendo conhecido as misérias e as grandezas da luta de libertação nacional, da independência, do exercício da governação e das lutas fratricidas no seio do PAIGC, Arafam Mané termina a entrevista em tom "politicamente correto", mas nem por isso menos "coerente" e "humano" e até com uma ponta de "amargura":

Isso para mim, é um grande orgulho. Vejo que, de facto fiz algo de importante para este país a Guiné-Bissau. Mesmo, se morrer hoje não ficarei arrependido. Cada um de nós conhece bem o que é a vida de um camponês. O filho do camponês é sempre condenado na sociedade dos intelectuais mesmo nos países mais desenvolvidos do mundo. Somente nos países socialistas é que vimos que o filho do camponês tem valor. Eis as recordações palpáveis que tenho sobre o ataque de Tite.

Em todo o caso, convirá dizer que esta versão dos acontecimentos de 23 de janeiro de 1963 não é consensual entre os próprios protagonistas (***)... Como sói dizer-se, quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto... Por exemplo, não fica esclarecido quem é que "comandou" a operação, se fosse o Malam Sanhá ou so seu adjunto, o Arafam Mané...Como os dois já morreram, nunca mais irão esclarecer esta minha pequena dúvida...



II. Sinopse da entrevista – Parte Final
Arafam Mané com uma "costureirinha", c. 1963. Foto
do Arquivo Amílcar Cabral / Casa Counm.
Com a devida vénia......


No texto anterior o entrevistado dizia, continuando a responder à pergunta, " Mas como é que conseguiram penetrar facilmente no interior do quartel?"

“A nossa missão podia ter maior sucesso se um dos nossos companheiros não tivesse falhado no cumprimento da ordem. Não obstante tudo, a operação planeada para esse dia não podia ser adiada custe o que custasse. Considero que o acto foi uma aventura que serviu de alerta para os tugas; porque queríamos que soubessem que voltamos com força para a zona. Foi uma guerra psicológica porque, na realidade, nós não tínhamos uma força palpável. Mas essa acção desorientou as tropas coloniais que a partir daquele momento receavam sair do quartel para fazer patrulhas.”

E continuava:

"No entretanto, após esta corajosa operação, mais de 300 jovens voluntários aderiram ao movimento de guerrilheiros para, do nosso lado, lutar contra os colonialistas portugueses. Não havia armas nem tão pouco baionetas mas esta realidade não desanimou os jovens cujo número de aderentes crescia constantemente na minha barraca [acampamento temporário]."

Publicamos a seguir a resposta de Arafam Mané às duas questões finais.


III. Entrevista com o coronel Arafam Mané - Parte IV ( e última)

Esta entrevista foi concedida em 2001 ao jornal “O Defensor”, órgão, de periodicidade mensal, das FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo, Guiné-Bissau, no quadro da recolha de depoimentos dos Combatentes da Liberdade da Pátria sobre os acontecimentos históricos que marcaram a luta armada de libertação nacional, entrevista essa reproduzida no sítio das FARP, em novembro de 2015.

Excertos transcritos com a devida vénia.(A entrevista completa pode ser lida aqui. no sítio das FARP, Guiné-Bissau.)

(Continuação)

O Defensor – Coronel, o que pensa que poderia acontecer durante a operação 
se o vosso comando inexperiente
 tivesse armas de fogo suficientes?


Malan Sanhá, c. 1963.
Foto do Arquivo  Amílcar Canral
/ Casa Comum

Com a devida vénia...
Coronel ADM - Penso que a falta de armas ou a sua insuficiência na altura da operação de Tite foi uma coisa positiva, porque se houvesse muitas armas, isso teria talvez constituído um golpe fatal para o nosso próprio comando que, certamente, devido a falta de experiência sobre o uso de armas poderia provocar vítimas nas nossas fileiras mesmo, como referiu o célebre cantor guineense José Carlos Schwarz,“caçador desconhecido falhou e virou a sua arma contra a aldeia”.

Se não fosse a falta de experiência, teríamos ocupado Tite naquele dia, porque as tropas coloniais,  surpreendidas pela operação,  tinham já fugido. Do nosso lado, a única baixa do assalto foi o meu guarda costa Wagna Bomba, natural de Gambala, que sucumbiu atingido por balas do inimigo. Do lado do inimigo, não posso avançar um número preciso de vítimas mas deve ter sido considerável, porque o camarada Malam Sanhá conseguiu lançar uma granada dentro da caserna onde dormiam soldados. Foi um sucesso, camarada jornalista.

Portanto, depois da operação em Tite, os ataques da guerrilha se multiplicaram, alastrando-se para os diferentes pontos do sul.

A notícia sobre o início da luta armada contra os colonialistas portugueses, como já disse anteriormente,  foi tornada pública por Amílcar Cabral em Londres (Inglaterra), numa Conferencia de Imprensa. Em África, a notícia foi imediatamente publicitada pelas Rádios de Conacri, Rádio Nacional do Senegal e mais tarde pela “Rádio Libertação” do PAIGC.

A divulgação dessa notícia nos órgãos de comunicação social levantou o moral no seio dos camaradas e a vontade de lutar fortemente para libertar o nosso povo. Enquanto para os "tugas", a divulgação da notícia constituiu uma dor de cabeça.

O Defensor  - Mas no fundo 
qual foi a reacção de Amílcar Cabral 
logo que foi informado do ataque 
contra o quartel de Tite?


Coronel ADM - Foi positiva. Fui logo promovido ao posto de Comandante Regional. E, antes da minha ida para a República Popular da China, que ocorreu em Abril de 1963, consegui mobilizar um número considerável de camaradas para a luta. Tive inclusive contactos com Bissau na pessoa de Rafael Barbosa que na altura era grande membro do Comité Central do PAIGC.


FACTOS HISTÓRICOS INESQUECÍVEIS 

São recordações de encorajamento, isso porque depois da operação as nossas populações chegaram a conclusão de que, afinal, nós naquela altura não podíamos fazer nada porque não tínhamos armas. Reconheceram, por outro lado, que nós podíamos ser bons soldados se tivéssemos armamento. Depois dessa acção, passamos a receber géneros da população e recebemos também medicamentos.

Houve igualmente o congresso de Cassacá que deu o acento tónico que a população esperava do grande partido. O congresso permitiu acabar com as barbaridades praticadas por alguns camaradas, reorganizar a nossa luta armada, entre outros. O povo voltou a ganhar a confiança no partido, nos seus dirigentes e no destino da Luta de Libertação Nacional.

Mas a maior satisfação que tenho é, precisamente, o facto de ver hoje os camaradas que ontem eram camponeses analfabetos que tinham como vestuários “lopé” (tanga), panos rodeados no corpo com os pés descalços, tornarem-se agora grandes oficiais das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), outros são Engenheiros, Aviadores (Pilotos), Médicos, Deputados, Condutores, pilotos de barcos...

Isso para mim, é um grande orgulho. Vejo que, de facto fiz algo de importante para este país a Guiné-Bissau. Mesmo, se morrer hoje não ficarei arrependido. Cada um de nós conhece bem o que é a vida de um camponês. O filho do camponês é sempre condenado na sociedade dos intelectuais mesmo nos países mais desenvolvidos do mundo. Somente nos países socialistas é que vimos que o filho do camponês tem valor. Eis as recordações palpáveis que tenho sobre o ataque de Tite.


IV. Comentário final

Vejo nesta entrevista um documento histórico de relevante interesse, pois acaba por desmistifica um acontecimento propalado aos quatro ventos como um verdadeiro ato de guerra, heróico e grandiloquente... Afinal não passou de uma "aventura", uma ação, tosca,  que escapou à própria direção política do PAIGC, quase sem consequências imediatas, a não ser a de alertar as tropas portuguesas...

Em todo  caso, e usando a terminologia dos historiadores da guerra colonial Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, mal ou bem o "ataque a Tite" marca o fim da "fase pré-insurreccional e de doutrinação políticia (in; Afonso, A, e Matos Gomes, C. - Guerra colonial; Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d, p. 421),

O PAIGC estava em fase de mentalização e mobilização das populações, e de organização das suas estruturas enquanto  a tropa portuguesa ainda “dormia na forma”. Por outro lado, está bem patente o medo que os militares portugueses impunham sobre as populações através de atos violentos na tentativa de travar o avanço do movimento independentista.

Hesitei em por o texto no nosso blogue, com receio de que iria abrir "velhas feridas mal curadas". Por outro lado o seu valor histórico impunha que fosse dado a público, mas para meu sossego passou incólume, sem o mais pequeno contraditório, o que me preocupa, confesso.


[Introdução, seleção, notas, incluindo parênteses retos, revisão e fixação de texto: Zé Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf]
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Notas do editor:

(*) Postes anteriores da série:

3 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16794: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte I (José Teixeira)

8 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16812: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte II (José Teixeira)

11 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16823: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte III (José Teixeira)

(**) Vd. portal noticioso > Guiné-Bissau > 24/1/2013 >23 de janeiro, dia de início da luta armada de libertação nacional, celebrado no país

(...) Bissau (Rádio Bombolom-FM, 23 de Janeiro de 2013) – A Guiné Bissau marcou ontem, quarta-feira, cinquenta anos do início da luta armada de libertação nacional a 23 de janeiro de 1963 no quartel de Tite, região de Quínara, no sul da capital, Bissau.

Em homenagem a esse acontecimento histórico do país, o Estado-Maior General das Forças Armadas, através da Divisão para os Assuntos Cívicos e Sociais e Relações Públicas, promoveu uma palestra subordinada “Início da Luta Armada pela Independência da Guiné e Cabo Verde”.

Um dos participantes nesse primeiro ataque com armas de fogo contra um reduto militar português na então Província Ultramarina da Guiné, Daúda Bangura (Comissário Político), lembra ainda dos nomes de heróis que haviam constitudo o grupo de assalto, entre eles, Arafam Mané (na altura Adjunto de Comandante), Malam Sanhã (na altura Comandante Geral da Operação) e Tchambu Mané, que era Comandante de Grupo.

Apesar de o assalto ter sido de surpresa para as tropas portuguesas, Daúda Bangura lembra que na operação, o grupo sofreu duas baixas, nas pessoas dos guerrilheiros NFamará Dabó e Malam Dabó. (...)

Guiné 63/74 - P16850: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (5): Miguel e Giselda Pessoa... nos altos voos dos céus da vida...

1. Sempre bem humorado, bonacheirão, irreverente, prestável, sempre surpreendente,  o nosso Miguel,  amigo do seu amigo, camarada do sue camarada, grã-tabanqueiro de longa data, cartunista talentoso e, claro, histórico sobrevivente da guerra colonial, o único coronel pilav '(e)strelado' que eu conheço em todo o mundo e arredores... (É, além disso, o diretor da Karas de Monte Real. )

Mandou-nos este divertido, belíssimo, festivo e original  'cartanito' de Boas Festas, como votos de Feliz Natal e Ano Novo para toda a Tabanca Grande, o mesmo é dizer todos os amigos e camaradas da Guiné...

O editor, infante, terráqueo, que não está habituados às alturas, retribui, em nome da tropa toda (de ar, terre a mar),  com o desejo de boa continuação  dos altos voos nos céus da vida, para a Giselda e o seu 'asa' Miguel (e viceversa, já que ele e ela fazém tandém...). LG

PS - Se eu fosse o Chefe Supremo das Forças Armadas Portuguesas, teria que lhes dar a nota máxima, na escala de 0 a 20, por esta exibição acrobática (que, felizmente não põe em risco o ptrimónio nacional nem muito menos a soberania e independêncioa da Pátria) ... Mas, como não sou o chefe dos chefes, mas ainda sou prof, dou-lhes um Excelente nesta "prova de vida" (que é isso que conta para o nosso blogue)...

Quanto ao cartune ("cartum", no Braisl...), acho que não tem preço!... Adorei!..

2. Em tempo... (Nota do Miguel Pessoa, com data de hoje, posterior à edição deste poste)

Como não contava que fosse dado tanto relevo ao meu "cartanito" não me preocupei em mencionar a autoria dos "bonecos" nele contidos. É certo que o cartoon foi ideia minha, mas os "bonecos" foram uma oferta do Paulo Moreno, o "benjamim" da Tabanca do Centro que muito nos tem apoiado nas nossas iniciativas - são da sua autoria as T-Shirts, aventais, bolsas, bonés, canecas e outros projectos que têm saído da sua loja com motivos alusivos à Tabanca do Centro. Aqui fica a informação, pois não gosto de brilhar com o trabalho dos outros...

Um abraço
Miguel Pessoa
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Nota do editor:


Guiné 63/74 - P16849: Notas de leitura (912): Reflexão sobre os 30 anos de independência da Guiné-Bissau, por Leopoldo Amado, na revista Africana Studia, n.º 8, 2005, publicação do Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
O historiador e nosso confrade Leopoldo Amado deu à estampa em 2005 uma importante reflexão sobre os 30 anos da independência da Guiné-Bissau. Preambula cuidadosamente sobre a singularidade ideológica do PAIGC, enquanto entidade subordinada ao pensamento e ação de Cabral e aprecia a ingenuidade e cegueira dos dirigentes do novo Estado que pretendiam a todo o vapor projetos financiados pela ajuda internacional de grande envergadura sem disporem de gestores à altura.
De 1974 a 1980 passou-se do sonho e do reconhecimento de muitos pela índole do movimento revolucionário para a queda aparatosa de todos os sonhos, incluindo a cisão irreversível na unidade Guiné-Cabo Verde.
A época de Nino Vieira é também cuidadosamente estudada, incluindo a deriva de Kumba Yalá. Nino Vieira regressou e o depauperamento não conheceu melhores dias, chegou a praga do narcotráfico e o aviltamento das instituições.
Para ler e tirar lições.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, 30 anos de independência, por Leopoldo Amado

Beja Santos

A revista Africana Studia, n.º 8, 2005, publicação do Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é essencialmente dedicada aos 30 anos de independência das antigas colónias portuguesas. Coube ao historiador Leopoldo Amado, nosso confrade, a reflexão sobre a Guiné-Bissau. Começa por nos dizer que o PAIGC que chegou a Bissau em Outubro de 1974 exibia com todo o garbo a sua matriz revolucionária anticapitalista e autocrática. O novo Estado viria a ser formalmente influenciado por dois fatores: os princípios fundamentais do PAIGC e pelo sistema de países que durante essa luta o auxiliaram. O processo de reconstrução nacional contava nesta fase com a cooperação dos países na órbita de Moscovo, e de Moscovo, claramente. O PAIGC teimava em apresentar-se como partido marxista mas não como partido marxista-leninista e publicitava os seus princípios numa direção coletiva, no centralismo democrático (tal como ela era praticado pelos países comunistas) e na democracia revolucionária.

Esta fase medeia entre 1974 e 1980: o sonho de grandes projetos, uma tensão permanente entre a visão de um país profundamente atrasado e agrário e a expetativa de alguns dirigentes para que o país avançasse a galope para a industrialização. O saldo deste período foi profundamente negativo, exauriu o país, cavou tensões entre a cidade e o campo, exacerbou ódios indevidos na ausência de um plano seguro e fiável de reconciliação nacional.

Por estas razões e pela crescente crispação entre o grupo militar guineense e a elite dirigente cabo-verdiana, Nino Vieira encabeça a 14 de Novembro um golpe de Estado que era apresentado como “Movimento Reajustador”. Para Amado, o golpe oculta inúmeras contradições mal resolvidas durante o período de libertação nacional, a par de uma questão militar, política e moral que continuava sem solução, a definição de estatuto para os Combatentes da Liberdade da Pátria, que aguardavam um pouco de justiça e o prémio devido para os deficientes, incapacitados e severamente doentes. Luís Cabral, atulhado em projetos verdadeiramente faraónicos para a dimensão do país, para os quais não havia gestores à altura, teve de recorrer a ajudas financeiras. Nino Vieira seguiu, é no seu tempo que vão ser aplicados programas de estabilização e ajustamento estrutural.

A atmosfera política guineense assumia duas faces: a direção política dura e pura e as garantias que Nino dava à comunidade internacional de que ia encaminhar o país para a democratização. Nino Vieira, ao adotar o PAE (Programa de Ajustamento Estrutural) negociado com o FMI e o Banco Mundial, tentou implementar um plano de desenvolvimento que acabou por originar, na prática, a rutura com o anterior modelo de planificação marxista. E de rutura se tratou, na pior aceção da palavra, pois todos os projetos da época de Cabral foram escandalosamente deixados ao abandono.

Colapsado o modelo de planificação, nasceu a tentação da Guiné avançar para uma ideologia liberal mantendo o partido monolítico na direção. A Carta dos “121” foi o primeiro sinal de exigência à abertura. Mas o PAIGC parecia apostado na inviabilidade da abertura política a conta-gotas. Afinal, a liberalização não foi uma escolha assumida do poder político, este entrou contrafeito no processo, sob a égide de uma intensa pressão económica internacional. Em sequência, surgiu o anteprojeto da Plataforma Programática de Transição, que previa um governo baseado na separação de poderes, na consagração do sufrágio universal direto, mantendo o sistema de governo presidencial mas declarando abertura para a formação de partidos políticos. É nesta atmosfera que se chegou ao II Congresso Extraordinário do PAIGC onde foram votadas novas medidas: despartidarização das forças de defesa e de segurança e privilegiando-se um sistema semipresidencialista de governo.

Entrara-se concretamente na transição democrática. Em 1994, realizaram-se as primeiras eleições democráticas e presidenciais, o PAIGC foi vencedor. Passado cinco anos da realização das primeiras eleições, o país foi de novo a votar, depois de uma guerra civil que teve o condão de abalar praticamente todas as infraestruturas do país. Nesse clima, o PAIGC foi punido, perdeu as eleições a favor do PRS e de Kumba Yalá. Por inoperância do sucessor de Nino, iniciou-se um processo de claro desequilíbrio étnico na representação social do poder, a etnia Balanta apresentava-se ao mais alto nível da hierarquia: Presidente da República, Primeiro-ministro, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e Presidente do Tribunal de Contas. Embora o termo não seja verdadeiramente justo, assistiu-se a uma balantização do regime, o mesmo é dizer assistiu-se ao definhamento do Estado, à incapacidade técnica e política dos titulares dos cargos públicos, à mais despudorada perversão das regras democráticas que apressaram a queda de Kumba e o regresso de Nino. É indubitável que a guerra civil clivou a sociedade guineense, pôs a nu a fragilidade da democracia a despeito do comportamento heróico dos velhos militares guineenses que puseram senegaleses e guineenses de Conacri em fuga.

Nino Vieira não soube acalmar os conflitos, até com o próprio PAIGC, exonerando arbitrariamente o Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, o que se seguiu era irrelevante pela falta de coesão política. Chegava-se à triste realidade de haver uma completa indefinição ou mesmo ausência da presença do Estado na maior parte do território, isto a par da extrema indefinição do papel das autoridades tradicionais.

O enfraquecimento do Estado e das instituições democráticas figuram na Guiné-Bissau como a principal causa da incapacidade do Estado em usar as suas atribuições.

E Leopoldo Amado termina o seu ensaio observando que quando se fala da Guiné-Bissau como um Estado falhado, “é imprescindível que se proceda a uma profunda normalização da vida pública e à modernização do aparelho de Estado que devem ser os antídotos à corrupção reinante e à necessidade inadiável de se conferir credibilidade interna e externa ao Estado”.

Ensaio premonitório, toda esta deriva foi desaguar no golpe militar de 2012, mais um manifesto sinal que os militares, depois de 1980, contrariavam a lógica de Amílcar Cabral que confinava os militares ao poder político.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16839: Notas de leitura (911): “Revolução na Guiné”, edição e tradução de Richard Handyside, 1969 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16848: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (4): Alberto Branquinho / António Gedeão (com o poema "Dia de Natal")


Lourinhã > 10 de dezembro de 2016 > "Boneco" de Natal > Há muito que a economia "mercantilizou" o Natal dos cristãos... Não há terra nem terrinha que escape à ideologia do consumo e e à compulsão do "shopping" natalício...

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário, ao poste P16841 (*), pelo nosso camarada, 
gã-tabanqueiro e escritor Alberto Branquinho [ex-alf mil op esp, CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69); ver aqui algumas das suas obras publicadas]

Pois é, Zé Teixeira!

Ou, melhor, FOI.


E veio, também, essa espécie de "coisa" a que chamam "árvore de Natal". E anda toda a gente excitada neste tempo de Natal, não pela ideia de "nascer" qualquer coisa de novo (ou renovada), mas por causa das compras, compras, compras... prendinhas, prendas e prendonas...

No poema "Dia de Natal" do António Gedeão está lá isso TUDO! Só tem que se substituir o "relógio de pulso anti-magnético" pelos mais recentes "gadgets" das novas tecnologias (?) inúteis ou fúteis.

Abraços
Alberto Branquinho


P.S. - Isto lido por muita gente que a gente sabe, será seguido por um pensamento ou uma afirmação:- Velhada!Cotas! (**)



2. Dia de Natal


por António Gedeão [1910-1997]

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.


A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

M
as a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

[O poema «Dia de Natal» é publicado, em 1967, num jornal de estudantes do Liceu Camões, Lisboa,  que é apreendido pelo reitor. Fonte: Cronologia :: Rómulo de Carvalho :: Biblioteca Nacional]
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Notas do editor:

(**) Poste anterior da série:

18 de dezembro 2016 > Guiné 63/74 - P16843: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (3): Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes (...um núcleo, formidável, ativo e solidário, mas também com preocupações culturais, seguramente um dos melhores que integram a Liga; um alfabravo também para eles, seus associados e dirigentes, por parte da nossa Tabanca Grande)

Guiné 63/74 - P16847: Parabéns a você (1178): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16838: Parabéns a você (1177): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)

domingo, 18 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16846: Manuscrito(s) (Luís Graça) (105): Natal de 1955 (... quando ainda o Pai Natal não tinha sequestrado e morto o Menino Jesus)


Portugal > Estremadura > A8 > Torres Vedras-Lisboa > 17 de dezembro de 2016 > O pôr do sol... Onde estão os moinhos de vento da minha infância e dos meus Natais ? E o vento soprando nas velas e nas cabaças  dos moinhos ? E o mar? E os heróis do mar ?


Foto (e legenda): © Luís Graça  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]



Natal de 1955

por Luís Graça



Em 1955,
soletrava-se à noite,
à luz do candeeiro a petróleo,
a lição do livro da primeira classe
onde terra rimava com chão.
Ainda não havia televisão,
havia o hino nacional, 
na rádio, que era um luxo,
havia Deus, 

havia a Pátria,
havia a Família,
e pouco mais,
e chegava,
essa tríade sagrada.
Afinal, o mundo acabava ao fundo
da rua grande da tua aldeia.

E, no Natal,
quando ainda o Pai Natal
não tinha sequestrado e morto o Menino Jesus,
ia-se à missa do Galo,
à meia noite em ponto,
na igreja do Castelo,
e só depois,
a tiritar de frio,
de regresso a casa,
pela rua escura e medonha dos Valados,
rente ao muro branco do cemitério,
é que se bebia o cacau quente
e se comiam os coscorões,
o arroz doce
e as filhós de sangue de galinha!

De manhã, junto ao fogão a petróleo
ou ao fogareiro a carvão,
a mãe tinha alinhado os sapatinhos
onde por um golpe de magia haviam florido
meias e lenços,
e uma ou outra, rara, guloseima...
e, com sorte, talvez um carrinho de lata para ti
ou  uma boneca de cartão para a mana,
comprados às escondidas na feira de setembro.

Havia uma noite do ano
em que os meninos da tua rua
eram inconscientemente felizes,
os mais inconscientemente felizes do mundo!


Havia o ouro, a mirra,
os três reis magos,
e um deles era o pretinho da Guiné,
havia o presépio,
o burro, 
a vaca, 
a esterqueira, 
havia o incenso,
ligeiramente enjoativo das missas,
havia, enfim, o sagrado
e o pagão,
e a tudo isto, ou a só isto,
se resumia o acanhado palco da vida
que te coubera em sorte.

E, claro, havia o mar,
os moinhos nos cabeços,
e o vento uivando nas velas e nas cabaças dos moinhos,
e, por detrás dos cabeços e dos moinhos,
e das velas e das cabaças dos moinhos,
havia o mar,
o grande oceano.
e o apelo irresistível 
do(s) que estava(m) para além do mar.


Excerto de:

Luís Graça - Autobiografia: com Brughel domingo à tarde
(poema, inédito, 2005, c. 40 pp)
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16848: Manuscrito(s) (Luís Graça) (104): uma boa oferta de Natal o livro do José Ferreira da Silva, "Memórias Boas da Minha Guerra" (Chiado Editora, 2016, 216 pp.)... Um bom antídoto contra o stress natalício e a tristeza que nos invade ao cair da última folha do calendário...

Guiné 63/74 - P16845: Blogpoesia (485): "Um lema para toda a vida"; "Arrosto o mar das emoções" e "Salão do café", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Um lema para toda a vida

Dócil.
Submisso.
Atento e compassivo.
Grato.
Combatente.
Aberto e acessível.
Reservado,
Mas risonho e circunspecto.

Misericordioso e penitente.
Religioso a cem por cento,
Sem dar nas vistas.

Constante,
Fiel e apaixonado.
Interveniente e positivo.
Carinhoso e apaixonado.

De tudo um pouco,
Com peso e com medida.

Seja o lema para uma vida cheia...

Berlim, 12 de Dezembro de 2016
8h49m
Jlmg

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Arrosto o mar das emoções

Como um barco afoito,
No rebentar das ondas,
Em mar irado, me lanço e arrosto,
Sem olhar para trás.

As domino e venço.
E o mar largo e imenso,
Se abre em frente.

Cumpro a minha rota
Até alcançar o cais.
É ao largo que é alto e fundo
O céu.

Só o cintilar das estrelas
Me ofusca e inunda os olhos
E, por eles a alma.

Como astronauta,
A voar na altura,
É do mar que a nitidez da Terra avulta…

Ouvindo Susan Boyle

Berlim, 11 de Dezembro de 2016
18h0m
JLMG

************

Salão do café

Adoro presenciar os casais sentados à mesa,
frente a frente num café.
As horas correm e eles, indiferentes,
conversam, sorriem, olhos nos olhos,
segredam-se os sonhos,
prometem amores sem favor.

Tempo sadio. Banhado de amor.
Flashes raiados de cor.

Adoro ver os casais em meninos,
se descobrindo por sendas, ignotas,
onde moram
O desejo e a fome
Do corpo e da alma.

Morrem temores em abraços, quentes,
Fervem os corpos trementes.
Lampejam os ossos.
A pele se arrepia em frémitos
E jorram dos olhos
Desejos escondidos...

Lá fora, caídas no chão,
Jazem amarelas, molhadas,
As folhas.
É Dezembro sem neve...

Bar dos Motocas., arredores de Berlim, 9 de Dezembro de 2016
11h. 52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16822: Blogpoesia (484): "Travo seco e amargo..."; "Chamam pelo sol..." e "Como embondeiros...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16844: Agenda cultural (531): O novo palácio do Nicolau: espetáculo de multimédia: Lisboa, Terreiro do Paço, fachada do Arco da Rua Augusto, todas as noites até 23 de dezembro, às 19h00, 19h45 e 20h30... O tema das alterações climáticas no planeta... Levem os netos e os bisnetos... porque a terra não é nossa, é deles...


Fonte: Agenda Cultural de Lisboa, com a devida vénia


E também com a devida vénia, citamos aqui a jornalista Susana Lopes Faustino, da "Visão", que acrescenta: 

"O enredo pode parecer estranho para uma história de Natal, mas, como o espetáculo de vídeo mapping O Novo Palácio do Nicolau pretende chamar a atenção para temas como o meio ambiente e as consequências das alterações climáticas, são personagens como a ilha de plástico, o monstro do petróleo ou a desflorestação que fazem de maus da fita. 

"A iniciativa, quase a alcançar o estatuto de tradição, começa esta quarta-feira, 14, e prolonga-se até dia 23, na Praça do Terreiro do Paço, em Lisboa, o mesmo local onde já é possível admirar a árvore de Natal gigante (tem uma altura de cerca de dez andares). A servir de tela para o espetáculo de vídeo mapping, produzido pela Bridge em parceria com a Grandpa's Lab, está mais uma vez a fachada do Arco da Rua Augusta, que se encherá de cor, luz e espírito natalício."
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Nota do editor:

Último poste da série > 11  de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16824: Agenda cultural (530): Colóquio "A Cidade, o Mosteiro, os Afetos" e Lançamento do livro "Arco de Memórias", de José Eduardo Oliveira (JERO), Luci Pais e Rui Rasquilho, dia 18 de Dezembro de 2016, pelas 16 horas, na Cooperativa Agrícola - Alcobaça (José Eduardo Oliveira)