domingo, 5 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17023: Blogpoesia (492): "Diviso as galáxias..."; "Da sombria madrugada..." e "Horas magnéticas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Diviso as galáxias…

Através das folhas do arvoredo,
As galáxias luminosas
Que fogem do infinito
Em fogosas cavalgadas.

Me embriago com as nuvens,
Aquelas vareiras lassas
Que despejam chuva com fartura.

Vejo fadas cirandando,
Escrevendo cartas lúdicas
Às sereias abandonadas.

Há carros, cavalgadas,
Em sinuosas espirais,
Escrevem elipses sinuosas,
Ora feias ora belas,
Deslumbrantes,
São varandas donde pendem
Ramagens verdes, majestosas
Ressumando a eternidade.

Me debruço e oiço lendas
Nunca ouvidas.
Me espraio, praia infinda,
Num regaço embalador.

Aí recolhi minhas memórias,
Folhas soltas,
Que o vento insidioso
Espalhou em tão loucas cavalgadas…

Berlim, 5 de Fevereiro de 2017
9h42m
Jlmg

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Da sombria madrugada…

Da sombria madrugada,
Espero que mais um dia nasça.
Não se augura luminoso,
Tal a escuridão tão baça.

Uma cidade imensa e um mundo
Acordam.
Mais um passo na caminhada.
Suas surpresas. Em variada escala.
As domésticas e as terrenas.
A saga humana.
Com seus negrumes e clarões.

Esta marcha infinda e enigmática,
Quer no seu começo
Quer no termo, se o tiver.

Os três elementos em movimento
Com os três estados,
Numa incerta sintonia.

De vez em quando há choque,
O mais normal,
Em harmonia esplendorosa.

E nela impera a humanidade…

Berlim, 5 de Fevereiro de 2017
7h14m
Está escuro ainda
Jlmg

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Horas magnéticas...

No nosso dia-a-dia,
No festim das nossas passadas,
Há horas atróficas,
Toldadas de aridez
E horas magnéticas
Onde corre a exaltação.

Horas de inquietude.
Apoplécticas.
De negrume e solidão.
Onde a fome e a sede,
Vindas de onde,
Assentam arraiais.

Chovem ondas enigmáticas,
Das galáxias mais longínquas.
Nos perpassam, implacáveis,
Nos dominam e manietam.
São ascórbicas.

De tão cegas, tão astrais,
Nos devoram, são assépticas,
Dominantes,
Quase matam.
Imortais.

São furtivas.
Como a chuva,
Vão e voltam.
São banais.

De repente, o sol incandescente,
Como um milagre,
As derrete.
E, voláteis, se desprendem,
Se esvaem.

De novo o verde e a cor da luz,
O tom dos sons
Tudo reveste.

Refulge a esperança
E brilha o sonho.
Viver é festa.
A vida é assim...

Berlim, 3 de Fevereiro de 2017
10h20m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17001: Blogpoesia (491): "Horas pacíficas..."; "Me embalo no sonho..." e "Pedras adormecidas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17022: Lembrete (20): O lançamento do livro de João Freire, "A Colonização Portuguesa da Guiné: 1880-1960", é na Biblioteca Central da Marinha, em Belém (com entrada pela portal principal do mosteiro dos Jerónimos), nesta 4ª feira, dia 8, às 18h. Apresentadores: cmdt Luís Costa Correia e antropólogo Eduardo Costa Dias




1. Lembrete de João Freire, meu antigo colega do ISCTE-IUL,  e antigo oficial da marinha, autor de "A colonização portuguesa da Guiné: 1880-1960" (*):

Data: quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2017 23:30

Assunto: livro Guiné

Teria gosto na vossa presença na sessão de lançamento do meu livro A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960 que terá lugar na 

Biblioteca Central de Marinha (com entrada pela porta principal do mosteiro dos Jerónimos).

Serão apresentadores da obra: (i)  o comandante Luís Costa Correia; e (ii)  o antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE-IUL.(**)

João Freire
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17009: Agenda cultural (539): Lançamento do livro "A Colonização Portuguesa da Guiné", do prof João Freire, sociólogo (Lisboa, Comissão Cultural de Marinha, 2017), em Belém, na Biblioteca Central da Marinha, no próximo dia 8, 4ª feira, às 18h.

(**) Último poste da série > 6 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16806: Lembrete (19): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau - Da luta de libertação aos nossos dias", da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos, hoje, pelas 18 horas, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias, em Lisboa

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17021: Inquérito 'online' (104): "Estás reformado? E sentes-te bem?"... As primeiras 54 respostas até hoje de manhã: mais de 90% do pessoal está reformado... 4 em cada 5 sente-se bem ou muito bem...


Os nossos veteranos da guerra da Guiné... estão bem e recomendam-se!



A. Inquérito 'on line' (vd. canto superior direito)::

"Estás reformado ? E sentes-te bem ?"


Respostas preliminares (até hoje de manhã) >54 (100%)



1. Estou reformado e sinto-me muito bem  > 16 (29%)

2. Estou reformado e sinto-me bem  > 27 (50%)

3. Estou reformado e sinto-me assim-assim, 
nem bem nem mal  > 3 (5%)

4. Estou reformado e sinto-me mal  3 (5%)

5. Estou reformado e sinto-me muito mal  > 1 (1%)

6. Ainda não estou reformado > 4 (7 %)



Responder ao inquérito até 5ª feira, dia 9, às 7h52



B. Comentário do editor:

54  respostas até hoje de manhã. é muito bom...  E os resultados apontam já tendências: mais de 90%  dos respondentes já está reformado... E 80% sente-se bem ou muito bem...

Eu suspeito que os antigos combatentes têm formas, mais ou menos engenhosas, de "sobreviver" à pancadona da reforma e à crise que também levou à quebra do poder de compra... Antigamente, os nossos pais, avós e bisavós (que não chegávamos a conhecer) diziam: "Teme a velhice, que ela nunca vem só"... Leia-se: com a velhice, vem a solidão, vem a doença vem o abandono, vem a demenência, vem a morte

O que faz hoje a maior parte dos antigos combatentes que andaram por bolanhas e matas da Guiné ?. Encontram-se, convivem, recordam, escrevem, animam blogues, vão ao Facebook.. O nº de "tabancas" têm proliferado por esse país fora, e organizam-se dezenas e dezenas de convívios anusus... 

O convívio, saudável, regular, é importante para todos nós... Bem como o exercício físico, todas as semanas, duas vezes por semana: não é preciso gastar muita guita, apenas "solas"... E, claro, a alimentação frugal, a dieta mediterrânica...

E depois há as viagens, cá dentro,  mais do que lá fora, que as reformas não permitem grandes luxos... Há ainda tanta coisa para ver, aprender, saborear, conhecer, fotografar, partilhar... Este país é como a sardinha, é lindo...

E há ainda os filhos e os netos e os bisnetos, o voluntariado, a solidariedade para com os outros que precisam de nós... Sem esquecer o Facebook e o Blogue... Escrever faz muito bem aos neurónios... Mas não basta  carregar na tecla "gosto/não gosto" do Facebook... De qualquer modo, é uma geração que está a ultrapassar, com sucesso,  a barreira da iliteracia informática...

Camaradas, amigos, respondam ao nosso inquérito e escrevam- nos, digam lá o é que é andar por essas picadas fora a partir dos 70, "fintando" as minas e as armadilhas da vida e do mundo... Digam lá como se sentem... E qual é vosso segredo para um envelhecimento ativo, produtivo e saudável... Vamos chegar às 100 respostas, até 5ª feira, dia 9. E não se esqueçam: até aos 100 anos é sempre em frente!
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17020: Parabéns a você (1204): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17014: Parabéns a você (1203): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17019: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (40): 4 - O amigo Mohammed de Santa Maria da Feira

Vista aérea de Santa Maria da Feira
Com a devida vénia a Cultura Norte


1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", dá por fim à sua mini-série "O meu amigo Mohammed", com o envio da quarta história: o seu amigo Mohammede de Santa Maria da Feira.

Caro amigo
Aí vai a história do 4.º Mohammed, o de Sta Maria da Feira.
Grato pela colaboração e apoio.
Abraço
JFSilva


Memórias boas da minha guerra

40 - O amigo Mohammed

4 - De Santa Maria da Feira

O Neca do Souto era mais um dos jovens do meu tempo, oriundos de família humilde, condenados ao trabalho precoce. Ainda experimentou o trabalho de moço no fabrico de calçado junto do pai, mas logo optou pelo sector corticeiro. Lembro-me dele jovem, com fama de “trabalhador desenvolvido”, o que lhe dava oportunidade de ganhar “mais que a tabela”. Conversámos em Bissau (1968), quando ele já estava de regresso (eu chegava das férias). Contou-me que tinha juntado umas “coroas” antes de ir para a tropa, pois não contava com o apoio familiar, para aquele período. Todavia, não queria continuar no mesmo trabalho, pelo que pensava emigrar, logo que chegasse à terra.

Pilha de cortiça no campo

Quando regressei ao sector da cortiça (1987), já o Neca se tinha estabelecido no negócio da venda de cortiça em prancha. Com o dinheiro amealhado como emigrante na Alemanha, e, ainda, conhecedor do ramo corticeiro, havia aproveitado o bom momento que esse sector atravessava e lançou-se. Desta forma, veio a ocupar uma certa importância social que antes nunca obtivera. Além disso, pusera cá o filho Américo, a estudar no Colégio dos Carvalhos, a quem esperava dar outro nível de formação escolar.
Porém, o Américo não aproveitou bem o tempo de estudo. Contrariamente, era bem conhecido pelo seu corpanzil dolente, pela sua sornice e pelas faltas às aulas. Quando o pai se apercebeu de que ele já não ia longe nos estudos, chamou-o para o integrar na empresa ainda antes de ele ter ido fazer 4 meses de serviço militar.

Regressado da tropa, o Américo passou a sócio do pai e encheu-se de voluntarismo no negócio. Remodelou a empresa que, agora, além da venda da cortiça, passara à produção de rolhas. Ora, esta evolução, coincidindo com a entrada do jovem naquele meio empresarial, deu-lhe um estatuto de admiração e respeito. Por sua vez, o Américo aproveitava o momento e retribuía com simpatia, aprumo, bons carros e melhor vida. Tivemos, então, uma ligação mais próxima, mesmo para além do negócio. Confesso que o rapaz me despertou alguma simpatia.

Foi nessa altura que ele começou a aproximar-se da Mari Carmen do senhor Fontes, que havia chegado recentemente da Venezuela, onde a vida lhe correra favoravelmente. Ela completara os 18 anos mas mantinha a sua inexperiência amorosa e um comportamento bastante introvertido. Loira e muito atraente, mostrava bem que não é por acaso que as venezuelanas vencem tantos concursos de beleza. Foi um casamento de arromba. Já há muito tempo que não se via uma grandeza daquelas. Tudo que era importante, foi convidado para o evento.

Agora, o Neca já não tinha controlo em tanto investimento. Aquele negócio simples de comprar por 10 e vender por 11, melhorado, ainda, com alguma percentagem de pronto pagamento, foi cilindrado pelas despesas ou inovações criadas pelo filho. Por outro lado, a vida folgada que levava, nada favorecia o necessário maneio financeiro para aquele negócio. Foi fácil a obtenção de crédito baseado nas boas contas do pai. Porém, agora já não era possível comprar matéria-prima com as mesmas vantagens de outrora. Se antes se beneficiava de descontos de pronto-pagamento, agora teria que se pagar os juros das letras ou dos créditos solicitados.
Os juros correm noite e dia e as receitas necessárias não chegavam para tantos compromissos. É nesta fase, que o Neca do Souto, habituado às compras no Alentejo e Estremadura espanhola, se aventurou na aquisição de cortiça em Marrocos, onde era de preço mais acessível.

Nessa altura, o Neca, sabendo da minha facilidade na exportação de rolhas aglomeradas, falou-me da possibilidade da aquisição de um bom stock disponível de bastões desse material, próximo de Rabat. Por várias vezes encontrei lá o Neca acompanhado de um empregado que o ajudava na preparação das cargas e na vigilância da cortiça adquirida. O filho Américo também lá ia e até chegou a levar a mulher.
Um dia fui convidado para o serão no Hotel Kasbah, onde aparecem os melhores artistas musicais. Embora a música me parecesse quase sempre igual, a verdade é que ela excitava a assistência, especialmente quando acompanhada de bailarinas rebolando os seios e remexendo o umbigo e o baixo-ventre.
https://www.youtube.com/watch?v=6W3krLcMwJ8

Ali encontrámos o Neca do Souto e o seu amigo Sousa de Lourosa, acompanhados de duas belas jovens. Segundo o meu amigo Takirene (futuro sócio), este tipo de comportamento era normal. Explicou que as miúdas se apegam ao “seu homem” e o respeitam integralmente enquanto a relação se mantivesse. Ora isso já vinha acontecendo com o Neca do Souto, uma vez que passava lá grande parte do tempo. Quanto ao seu amigo Sousa, o caso era diferente. Gostava de ir a Marrocos e quando levava a mulher fechava-a no quarto, “por segurança”, enquanto saía para tratar dos negócios. “Preocupado”, dizia-lhe para não abrir a porta a ninguém. Constava que, nos habituais engates, chegou a servir-se de um quarto encostado ao da sua mulher.

Hotel em Temara

Eram lindíssimas as raparigas que proliferavam por ali, pela zona de Temara. Como essa zona balnear era bastante frequentada pelo turismo de qualidade, elas disputavam-se pela sua formosura, beleza e juventude. Apareciam pelo hall de recepção nos vários hotéis locais. Quando o número delas se excedia, lá vinha a “ramona”, que as levava por uns tempos, dando lugar à aproximação de outras. Dizia-se que a prostituição era proibida e era preciso salvaguardar essa boa imagem.

LaPlage Sable D’or

Normalmente a história dessas miúdas passava pela mesma causa: fuga da família. Eram criadas como um bem material para ser vendido em casamento. Porém, perdiam todo o seu valor em caso de perda da virgindade. E quando elas, ao casar, escondiam a realidade, enfrentavam perigo de morte. Falava-se que elas chegavam a desaparecer devido a crime perpetrado pelos próprios familiares.
Como profissionais do sexo, manifestam-se muito mais amorosas que prostitutas. Fazem tudo para prolongar as ligações amorosas que conseguirem. Vivem no sonho de vir a ter um só homem (amante/companheiro).

Como era espectável, a empresa do Neca passou a ter dificuldades financeiras. A produção de rolha foi-se reduzindo, tal como o número de trabalhadores ao serviço. A aposta em Marrocos acentuava-se de tal maneira que o Neca já passava lá a maior parte do tempo e o filho Américo também parecia “fugir” para lá, sempre que podia, na esperança de alcançar algum negócio fácil e rentável.

Como a Mari Carmen se recusava a voltar a Marrocos, o Américo também aparece por ali numa situação tentadora, possivelmente estimulada pelo exemplo do pai. E quando ele apareceu exuberante e descontraído a marcar quarto (suite) no hotel, apercebeu-se logo do interesse de Fátima Fakih, que o estava a mirar por perto. A miúda era muito gira e parecia ser a preferida naquele tipo de conquistas. Ele pareceu ficar hipnotizado. Dali, ao convite para um passeio, foi um repente.

Deixei de o ver por cá. Encontrei-o em Skirat. Vestia um balandrau cinzento claro e cobria a cabeça com aquele chapéu avermelhado em forma de vaso - um marroquino a rigor. Perguntei-lhe:
-Como é rapaz, estás a emigrar?
Ele, que não contava comigo, respondeu-me:
- Olhe, não é bem isso, mas estou bastante entusiasmado por uma mudança.
- Mas não podes fugir. És um homem casado e tens também os compromissos empresariais de muita responsabilidade.
- Não estou a fugir Sr. José. Claro que estou a procurar forma de pagar os meus encargos e vou conseguir.
E continuou:
- Também espero resolver o problema da mulher. Eu não a quero abandonar. Ela compreenderá o esforço que estou a fazer. Alá é grande!

Falámos do negócio e das implicações sentidas com as dificuldades financeiras. Claro que ele se mostrou ciente e capaz de controlar a situação.
Por fim, abriu-se um pouco mais e confessou que estava convicto de ter encontrado o amor da sua vida. Inicialmente fora atraído pela beleza e pela entrega amorosa que a Fátima Fakih lhe proporcionara mas, à medida que o tempo passava, maior era a paixão que sentia por ela.
É evidente que para além do sucesso nas relações sexuais, ele lhe descobriu outros valores que o prenderam.

Nunca mais o vi. Soube mais tarde, pelo próprio pai que o Américo fizera um retiro para aprofundamento do conhecimento da religião islamita, à qual se convertera e que até mudara de nome. Agora chama-se Mohammed Adib e vai casar com a Fátima Fakih, de Casablanca.

Em forma de comentário, o Neca acrescentou:
- Estas miúdas parecem que têm feitiço. São tão giras e tão meigas, que derretem qualquer gajo.

A empresa do Neca abriu falência e foi liquidada por vários credores. Deixei de os ver e, como eu precisava de acertar uma questão financeira pendente, fui procurar o contacto deles, através do Sr. Fontes, pai da Mari Carmen. Mal referi o nome do genro, ele reagiu:
- Nem me fale nesse filho da puta. Olhe que ele teve a coragem de vir falar com a minha filha para a convencer a ir viver com ele, porque, na sua nova religião, ele pode ter as duas mulheres.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16983: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (39): 3 - O amigo Mohammed de Marrocos

Guiné 61/74 - P17018: Notas de leitura (926): "Diálogos Interditos, A Política Externa Portuguesa e a Guerra de África", II Volume, por Franco Nogueira, Editorial Intervenção, 1979 (Mário Beja Santos)

Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2015:

Queridos amigos,
Durante mais de oito anos, o ministro Franco Nogueira procurou, raramente com sucesso, defender a ideia imperial junto de aliados, como os EUA, a Grã-Bretanha, o Brasil e a França. Neste volume vemos como os EUA queriam fazer bons negócios a propósito de matérias-primas vitais como a tantalite, e Franco Nogueira diz que a China e a URSS pagam melhor; a tensão com a Santa Sé, que terá o seu pico alto com a audiência que Paulo VI concederá aos líderes dos movimentos independentistas, em pleno Vaticano; estes diálogos deixam bem claro como nos íamos aproximando e aprofundando relações com a África do Sul, como a NATO e os próprios Estados Unidos exigiram e conseguiram a retirada dos F 86 da Guiné.
Prosa magnífica, ficamos com a imagem de um lutador incansável que tem poucas ilusões quanto aos apoios dos países ocidentais perante a progressão inabalável da luta armada na África Portuguesa. Não poucas vezes nestas conversas vários diplomatas observam que aquele esforço de guerra não era eterno, haveria que encontrar outras soluções.

Um abraço do
Mário


A política externa portuguesa e a guerra de África: Franco Nogueira

Beja Santos

Não há ida à Feira da Ladra em que não traga uma novidade com incidências colaterais guineenses. Remexia livros numa larga bancada quando me chamou à atenção o título: "Diálogos Interditos, A política externa portuguesa e a guerra de África", II Volume, por Franco Nogueira, Editorial Intervenção, 1979. Franco Nogueira foi ministro dos Negócios Estrangeiros desde 4 de Maio de 1961 a 6 de Outubro de 1969, o mesmo é dizer que viveu os anos cruciais da evolução da guerra, depois afastou-se de Marcello Caetano. Este volume comporta os anos de 1964 a 1969, nele estão reunidos diálogos com embaixadores acreditados em Lisboa, desde o Núncio Apostólico até aos diplomatas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, mas também com grandes do mundo, como Dean Rusk e até Nixon. Franco Nogueira escreve primorosamente, foi aliás um promissor crítico literário antes e depois de iniciar a sua carreira diplomática. Um volume desta natureza, por definição, não tem contraditório, são conversas em privado em que os diplomatas tomam notas que podem dar origem a relatórios canalizados para as vias competentes. Mas o que releva destas conversas, em que Franco Nogueira obviamente brilha, é a demonstração de que estamos perante um diplomata muito bem equipado e muito bem documentado. Os temas dominantes passam pela guerra de África, pelos negócios que certos aliados do Estado Novo pretendiam fazer em Angola e Moçambique, temos também a reação da política portuguesa ao progressivo isolamento internacional, ao protesto da diplomacia portuguesa pelo que se passava fundamentalmente em Londres, Washington e Nova Iorque, mas há largas referências ao azedume de Salazar face às mudanças políticas no Vaticano. E deposita-se muita esperança no Malawi e África do Sul, Salazar passava por cima do apartheid, queria aliados fortes na África Austral.

Em 1964, Franco Nogueira protesta porque Washington tem conversações com Holden Roberto, o embaixador dos EUA em Lisboa também protesta com as incursões das tropas portuguesas do Congo. As conversas com o Núncio Apostólico são pouco amáveis: o bispo do Porto não aceita lugares em qualquer parte do mundo, o que incomoda Salazar; o bispo da Beira, D. Sebastião Soares Resende é outro incómodo, Monsenhor Furstenberg, o Núncio, procura descansar o ministro, argumentando que a igreja portuguesa aceita o regime político português e aproveita a circunstância para dizer que há uma lacuna no Episcopado, não existe uma grande figura filosófica e doutrinal. Ficamos a saber que Monsenhor Furstenberg não gostava do General De Gaulle e perguntava-se se na realidade a política dos EUA não era já orientada por uma profunda embora disfarçada infiltração comunista na Administração norte-americana. O Estado Novo torcia o nariz ao trabalho apostólico de João XXIII e estava em rota de colisão com Paulo VI: “Falando de infiltração comunista, dirige a conversa sobre política de João XIII, e as suas encíclicas, e perguntei se Sua Santidade Paulo VI não estaria tentando travar os perigos sobrevindos”. Segue-se uma conversa de mercearia política e de negócios chorudos entre Franco Nogueira e o Almirante Anderson, embaixador dos EUA: “Alusão de Anderson ao caso da tantalite de Moçambique. Aleguei de novo as nossas razões e sublinhei a diferença de preços: os americanos pagam cerca de 4.500 dólares, os chineses e os russos cerca de 9.000. Anderson vincou a questão de princípio. Comentei que os princípios pareciam jogar sempre contra nós. Anderson falou de auxílios à metrópole, que poderiam ser anulados. Repliquei vivamente que não sabia de nenhuns, e além disso não podia admitir que o governo americano considerasse Moçambique parte integrante da nação portuguesa só quando lhe convinha”. Este ano de 1964 revela tensões agudíssimas entre o Estado Novo e a Santa Sé. A ser verdade tudo quanto Franco Nogueira escreve o regime manifesta permanentemente hostilidade ou desconfiança à política da Cúria.


Estamos em 1985, Franco Nogueira é recebido em Washington por Dean Rusk, está presente Robert MacNamara, Secretário da Defesa. Obviamente que é o continente africano que interessa ao todo poderoso Dean Rusk, questiona longamente Franco Nogueira, este replica queixando-se das pressões para retirada dos aviões F86 da Guiné, o ministro português fala da defesa do Ocidente e da política ambígua dos EUA que consente auxílios aos inimigos de Portugal e depois deseja instalações em Cabo Verde para o auxílio em voos especiais.

E no fim do ano começa o problema rodesiano, a Grã-Bretanha insiste no embargo de petróleo para a Rodésia. Nova queixa de Franco Nogueira, depois de apontar para a destruição do regime de Ian Smith, que seria muito vantajoso para os interesses portugueses: “Comentei que já estávamos um pouco fatigados com uma visão dos nossos interesses que consistia sempre em satisfazer os interesses ou as conveniências do atual governo britânico. Nós não aprovávamos nem reprovávamos o governo de Ian Smith: mas não estávamos convencidos de que Ian Smith fosse para nós um perigo. Dizia-lhe francamente o seguinte: em todo este problema da Rodésia nunca escutáramos do governo de Londres uma só palavra de preocupação, de salvaguarda dos interesses portugueses”. Começa aqui um formidável jogo do gato e do rato, vale a pena ler toda esta prosa para perceber como a diplomacia é também arte da dissimulação, era patente que o regime português apoiava aquele aliado racista que constituía um tampão contra infiltrações da guerrilha, anda tudo à volta do Porto da Beira, em Abril de 1966 a pressão vai crescer com a vinda de Lord Walston que pretende receber garantias formais do governo português de que não cede combustível a Ian Smith. São dezenas e dezenas de páginas e argumentos e contra-argumentos, é um prazer ler toda esta encenação da esgrima entre diplomatas.

Em 1967, Franco Nogueira recebe Botha, ministro da defesa da África do Sul, discute-se o bloqueio da Beira, a política soviética, o apoio incondicional da África do Sul à presença portuguesa. Nesse mesmo ano, Nogueira desloca-se a Pretória o primeiro-ministro é bem claro: “O combate que Angola e Moçambique travavam era parte do conjunto, e este era constituído por toda a África meridional. Não tinha a menor dúvida em o confessar e em o afirmar: a luta de Portugal em Angola e Moçambique era absolutamente vital para a República da África do Sul. A África do Sul não poderia permitir-se uma derrota portuguesa naqueles territórios. A África do Sul estava pronta a auxiliar-nos com quanto pudesse, logo e na medida que o solicitássemos. E mais: a África do Sul estava preparada a intervir militarmente, com forças sul-africanas, para restabelecer a situação, se esta se tornasse grave e nós o pedíssemos”. Franco Nogueira, na resposta, diz ser-nos desnecessário firmar uma aliança militar formal entre os dois governos.

Documento da maior importância para conhecer os bastidores da diplomacia portuguesa no momento em que a guerra de África era a prioridade das prioridades.
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Notas do editor

Último poste da série de 30 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17004: Notas de leitura (925): "Os Alferes", por Mário de Carvalho, Editorial Caminho, 1989; e Editores Reunidos, 1994 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17017: Inquérito 'online' (103): Um novo desafio aos nossos leitores: "Estás reformado? E sentes-te bem?"... Resposta até ao dia 9, às 7h52.. Precisamos de, pelo menos, 100 respostas... É para o nosso Livro Branco sobre a Reforma dos Ex-Combatentes....






Uma amiga minha, e minha doutoranda, que eu muito estimo, e com quem já trabalhei num projeto de investigação, ofereceu-me por ocasião dos meus 70 anos, um livro de atas com a seguinte etiqueta: "Sociologia da reforma"... A Rosa P (omito o apelido, por razões óbvias...) não só define o conceito de reforma, como me propõe um plano de trabalho, incluindo a exaustiva revisão de literatura, desenho metodológica e trabalho de campo, que seguramente me vai dar água pelas barbas: vou estar ocupado pelo menos durante três anos, que é o prazo normal que a universadade  dá para se realizar uma tese de doutoramento... O livro só tem duas folhas escritas... o resto é para o sociólogo da (e não na...) reforma.

Por se tratar de uma prenda muito original, bem humorada, inteligente e  irreverente, não posso deixar de partilhá-la aqui, com os nossos leitores do blogue... Acho que só vou conseguir  escrever esta "tese" com o contributo..., empenhado, ativo, produtivo e saudável de todos vocês, a começar pelos mais velhos, os veteranos... Acabo de chegar aos 70, ainda sou "perito"... 

Para a Rosa P vai um beijinho fraterno: adorei o desafio, a prov(oc)a(ção)... Daqui a até ao fim do verão, quero a sua (dela) tese de doutoramento pronta para eu a poder ler, rever, criticar e eventualmente melhorar...Afinal, estou jubilado, mas trouxe TPC (trabalho para casa)... Ainda tenho doutorandas para acompanhar, o que farei com todo o gosto... E uma delas é a Rosa P... Boa sorte, Rosa. (LG)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


A.
Novo inquério 'on line', no nosso blogue 

(vd. canto superior direito)::

"Estás reformado ? E sentes-te bem ?"

6 hipóteses de resposta (escolher só uma)



1. Estou reformado e sinto-me muito bem 
2. Estou reformado e sinto-me bem
3. Estou reformado e sinto-me assim-assim,
nem bem nem mal
4. Estou reformado e sinto-me mal 
5. Estou reformado e sinto-me muito mal
6. Ainda não estou reformado

Resposta até ao dia 9, às 7h52



Agora aqui está uma pergunta a que toda gente, os nossos leitores (basicamente, os camaradas e amigos da Guiné), podem responder... Quase toda a gente, da nossa Tabanca Grande, pelo menos os ex-combatentes, já deve estar reformada, ou em vias de atingir  a idade da reforma...Também  quem que nos lê, está em condições de emitir a sua opinião sobre este tema (delicado)...

Precisamos, peço menos, de 100 (cem) respostas, nº redondo...


B. Reflexões/comentários sobre o tema da reforma



(i) Juvenal Amado (**):

Luís,  ninguém gosta de fazer 70 anos,  dizes a certa altura. Mas convirá que não os fazer será pior
Agora que os fizeste, estás melhor ou pior? Felizmente não somos como os iogurtes, que são retirados do consumo no dia que ultrapassam a data limite.


(ii) Joaquim Luís Mendes Gomes (**)

Luís, com muito gosto te dou as boas vindas ao meu clube de reformados. Acabaram-se as obrigações exógenas. As seguintes brotarão da tua vontade. Senhor total do teu tempo. Sei que não vais ter problema algum em gerir esta boa responsabilidade. Tens muitas capacidades. Nos diversos domínios. Agora é que vais poder chegar ao cume delas, conforme te aprouver. Quero desejar-te que os tempos que aí vêm sejam repletos de saúde e muita paz.

(iii) Jorge Picado (**)

Luís, com grande surpresa acabo de tomar conhecimento do teu aniversário, em que comemoraste a bonita soma de 70 anos e a consequente entrada para o Clube dos Aposentados. Espero que me perdoes esta falta, que não é de educação, mas apenas como refiro foi involuntária, já que desde uns certos tempos venho sendo um visitador menos assíduo da Nossa Tabanca. Não a abandonei, nem muito menos reneguei e não a esqueci, mas apenas outras ocupações diárias me roubaram algum tempo.

Desde que se me meteu na cabeça "conhecer as minhas origens", passo a maior parte do "tempo livre" a cansar a vista mergulhado nos registos paroquiais de Ílhavo existentes, referentes a baptismos,casamentos e óbitos, que anteriores a 31 de Março de 1911 já se encontram no Arquivo Distrital de Aveiro e a maioria de consulta até na Net. 

Esta a razão da minha passagem apenas, uma ou outra vez por semana, pelo Blogue. E assim me passou essa tua efeméride. Desejo-te as maiores felicidades nesta tua nova etapa da vida, mas sei que agora vais ter muito mais tempo para novos afazeres, sobre os quais até aqui não podias debruçar-te.

PS - Espero voltar a encontrarmo-nos primeiro em Monte Real. Quanto aos antepassados, já descobri até ao casamento do meu tetravô, mas isso agora já me obriga a deslocar-me ao Arquivo.

(iv) Luís Graça: 

(...) A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho.
Em contrapartida, ganha-se a ilusão
de se ser dono do tempo,
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos. (...)


(v) Tony Levezinho (***):

Quem assim ultrapassa o Km 70 só tem boas razões para continuar a viagem com aquele sorriso de quem sabe que não é viajante solitário.


(vi) Francisco Baptista (****);

Um abraço de parabéns, bem forte, grande camarada, e que a tua vida se prolongue por muitos e bons anos. Tu com a tua lucidez, a tua energia, a tua criatividade, a tua arte e a tua solidariedade nunca serás velho por muitos anos que vivas. Além da tua família próxima tens também esta grande família, fora de portas, de amigos e camaradas que tu criaste, a quem tens dado ânimo e voz que te estima muito e que não pode dispensar o calor da tua amizade e do teu incentivo. Ergo o meu copo à saúde do grande homem que tu és, Luís Graça!


(viii) Hélder Sousa (****)

Muitos comentários fazem referência à bondade da iniciativa que tiveste em criar condições para a existência e desenvolvimento do que chamamos a "Tabanca Grande". Com ela, e por ela, já milhares de fotos, de recordações, de memórias, de textos, de reconciliações, de conhecimentos foram feitos.
Dezenas, ou centenas, de amizades foram criadas. Reencontros foram possíveis. E isto não é de somenos. Isto é "obra"!


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17016: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte III: Fotos de Pedra Lume, Morro Curral e Espargos, na ilha do Sal



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9] [Acrescenta o nosso camarada Benjamim Durães: "Na 1ª e na 3ª fotografias [foto 9B] está o meu tio António Joaquim Durães, soldado atirador: é  o 5º militar a contar da esquerda da última fila"].



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da esquerda para a direita.[Foto 9B] [Acrescenta o nosso camarada Benjamim Durães: "Na 1ª e na 3ª fotografias [foto 9B] está o meu tio António Joaquim Durães, soldado atirador  : é  o 5º militar a contar da esquerda da última fila"].



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado na fila do meio, da direita para a esquerda.sentado, da esquerda para a direita.[Foto 10]




Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é  primeiro à esquerda [Foto 11A]



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é  primeiro à esquerda [Foto 11]



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, fardado. na fila de trás [Foto 12]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, fardado. na fila de trás [Foto 12A]


 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da direita para a esquerda. [Foto 13]


 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano é o segundo, sentado, da direita para a esquerda. [Foto 13A], ao lado de um menino da ilha, que devia ser a mascote da 1ª companhia



 Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942 > O Feliciano, de pé, na fila de trás, é o mais alto [Foto 14]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Morro Curral > 1942 > O Feliciano, de pé,segundo, da esquerda para a direita, com criança ao colo [Foto 15]



 Cabo Verde > Ilha do Sal > Espargos > 1942 > O Feliciano é o primeiro, da direita [Foto 16A]

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Cabo Verde > Ilha do Sal > Espargos > 1942 > O Feliciano é o primeiro, da direita [Foto 16]


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).


O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 [, foto à direita] (*).


Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. 

Estiveram praticamente todo o tempo na então inóspita e pouca habitada ilha do Sal, em missão de soberania, como se podem perceber por estas fotos. As instalações (barracas de madeira) eram em Pedra Lume, a nordeste da ilha. A capital era então Santa Maria, a sul. Espargos é hoje a capital, tendo-se desenvolvido à sombra do aeroporto internacional Amílcar Cabral, no centro da ilha.

Quem diria, em 1941, que a ilha do Sal viria a transformar-se na ilha mais turística do arquipélago, responsável por metade de todas as dormidas turísticas  em Cabo Verde ? De acordo com o censo de 2010, a ilha cerca de 25,8 mil habitantes. Em 2014, a revista "Visão" apresentava "dez razões para voar já para a ilha do Sal".

É em Pedra Lume (ou Pedra de Lume) que se localiza a mina de sal mineral que deu o nome à ilha descoberta em 1460 pelo navegador português António da Nola.

No final, o 1º batalhão do RI 11 ainda passou elas ilhas de Santo Antão e de São Vicente regressando a casa em dezembro de 1943. Duas dezenas de camaradas do batalhão morreram na ilha,  por doença,  e lá ficaram sepultados.
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

30 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943

29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17000: Meu pai, meu velho, meu camarada (50): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte I: A caminho da ilha do Sal, com chegada, a 23/6/1941, à Ilha de Santiago, no vapor "João Belo"...

 27 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16996: Meu pai, meu velho, meu camarada (49): O que conseguimos saber, até agora, do ex-1º cabo Armindo da Cruz Ferreira, companhia de acompanhamento do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11, Cabo Verde, Ilha do Sal (junho de 1941-dezembro de 1943) a pedido da sua neta, Albertina da Conceição Gomes, médica patologista na Noruega

Vd. também poste de:

29 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)

Guiné 61//74 - P17015: Efemérides (244): 29 de janeiro de 1947, no dia em que nasci: Na Guiné era inaugurado o sistema de abastecimento de água a Bissau bem como o bairro de Santa Luzia... e em Paris fazia um frio de rachar:- 13º (e -30º nos Alpes franceses)!...



1ª págima do Diário de Lisboa, nº 8683, ano 26, quarta-feira, 29 de janeiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fuindação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Rua Ramos > Pasta 05780.044.11034( (com a devida vénia...)


1. Mera curiosidade: sei que nasci, porque a minha mãe e o meu pai mo disseram, numa manhã fria de 4ª feira, do dia 29 de janeiro de 1947,  em casa dos meus avós maternos, no Nadrupe, Lourinhã... ainda o vespertino "Diário de Lisboa" não estava nas bancas...  Era rapaz e tinha a cabeça grande: o meu pai quando me viu profetizou logo o meu futuro: "só podia ser padre ou doutor"... Não fui padre, mas andei seis anos no seminário (em Santarém e Almada, entre 1958 e 1964),,, E depois da Guiné, licenciei-me em sociologia (, ISCTE-IUL, 1980) e doutorei-me em saúde pública (Universidade NOVA de Lisbboa, 2004):

Nesse dia, banal para o resto da humanidade, em Paris, as temperaturas chegavam aos 13 graus negativos, obrigando as autoridades municipais a encerrar metade das escolas, para manter as reservas de carvão (!)... Em Marselha, bloqueada pela neve, não aterravam aviões e os restantes portos de França os navios estavam paralisados pelo gelo. Nos Alpes franceses batiam-se recordes de temperaturas negativas: - 30 graus...

Sarmento Rodrigues (1899-1979).
 Cortesia da Revista Militar
Entretanto,  na nossa Guiné, e sendo  governador geral o futuro almirante Samento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 1899 - Lisboa, 1979) era dia de festa: o subsecretário de Estado das Colónias (só em 1951, é que se passa a chamara do Ultramar, com Sarmento Rodrigues a assumir a pasta), o engº Sá Nogueira,  prosseguia a sua visita àquele território, fazendo uma série de inaugurações, com destaque para o abastecimento de água a Bissau e o bairro de Santa Luzia.

O representante do governo da Metrópole e a sua comitiva visitava de manhá as obras do Museu,do Palácio do Governador e moradias dos funcionários "que transformarão radicalmente a fisionomia da cidade, dando-lhe o aspeto de um centro urbano moderno", lê-se na primeira página do "Diário de Lisboa" desse dia, segundo despacho da agência noticiosa Lusitânia... A residência do delegado do ministério público também foi objeto de visita, sendo considerada "a última palavra da nova arquitetura colonial" (sic).

Não faltaram os vivas e as  aclamações dos "indígenas de diversas tribos, que tocaram o hino nacioanal em instrumentos gentílicos", bem como dos "colonos"... Houve ainda visita aos depósitos de construção do Alto Crim, bem como às obras do porto do Pigiguiti (sic) (era assim que o topónimo era grafado: hoje há variantes para todos os gostos!),

Outro título de caixa alta era reservado para o feminismo, "avant la letrre": as mulheres do pós-guerra estavam a medir meças aos homens,  nomeadamente na América, donde vinham então todas as novidades e tendências  modernizadoras, das tecnologias aos costumes... O jornal publicava uma entrevista com Mrs. Crocker, a esposa do conselheiro da embaixada norte-americana em Lisboa, na sua casa no Lumiar...

É dado igualmente destaque à "entente cordiale" entre a França e a Inglaterra, duas grandes potências coloniais condenadas a entenderem-se,  ambas saídas vencedoras da trágica II Guerra Mundial... Por fim, dava-se a notícia da entrada, no dia seguinte, no Tejo, de um cruzador antiaéreo norte-americano...

Não foi preciso ir à bruxa para logo eu "pressentir", com escassas horas de vida, que o raio da Guiné iria atravessar-se, 22 anos depois, na vida minha... (LG).

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17008: Efemérides (243): Acontecimentos no mês de Janeiro, entre 1963 e 1974, na Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Guiné 61/74 - P17014: Parabéns a você (1203): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16999: Parabéns a você (1202): O fundador e editor do nosso Blogue, Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17013: Militares mortos na 1.ª Guerra Mundial e Guerra do Ultramar do concelho de Torre de Moncorvo (Armando Gonçalves) - Parte III: 1961, o "annus horribilis" de Salazar






Torre de Moncorvo: logo da câmara municipal (cortesia da página do município). 
O município erigiu, em 2013, um monumento aos combatentes da guerra do ultramar.





"O navio de passageiros português Santa Maria que largara do porto de Curaçao, nas Caraíbas, rumo a Miami, com 600 passageiros, foi tomado de assalto na madrugada de 22 de janeiro de 1961. Um punhado de 23 exilados políticos portugueses e espanhóis, comandados pelo famoso oposicionista capitão Henrique Galvão, pretendia um golpe político-militar (que no limite seria conquistar o poder em Angola). Falharam tudo, menos o golpe publicitário contra Salazar. (...) N
o tombadilho do Santa Maria uma faixa vai rebatizar o navio: Santa Liberdade, essa foto não será publicada em Portugal. "(...)

Cortesia de Diário de Notícias 150 anos > 13/9/2014


1. Continuação do trabalho de pesquisa do nosso amigo Armando Gonçalves, professor de História, do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado, em Torre de Moncorvo, e que aceitou integrar a nossa Tabanca Grande, passando a ser o nº 733 (*)


Parte III (pp. 12-15)










(Subtítulo da responsabilidade do editor. Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16992: Militares mortos na 1.ª Guerra Mundial e Guerra do Ultramar do concelho de Torre de Moncorvo (Armando Gonçalves) - Parte II: Portugal e a 2ª Guerra Mundial