quinta-feira, 18 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17371: "Revista Militar", nº 2577, de outubro de 2016: um artigo muito interessante do prof doutor Orlando J. B. Almeida Pereira (IST/UL): "Análise comparativa dos rácios entre tropas e populações nas campanhas de África (1961-1974)"... Sugestão de leitura do José Matos.



Revista Militar nº 2577, outubro de 2016. Todos os números desde  janeiro de 2004 disponíveis aqui.


1. Mensagem Jose Matos com data de 14 do corrente


Olá,  Luís

Gostaria que divulgasses no blogue um artigo que saiu há pouco tempo na Revista Militar do Orlando Pereira, que possui uma análise comparativa dos rácios entre tropas e populações, que suscita uma reflexão interessante, principalmente no caso do teatro de operações da Guiné. Aqui fica o link para ler e comentar.


Um grande abraço
José Matos

 [formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), o José Matos, membro da nossa Tabanca Grande, é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992; faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro; tem, artigos publuicados na "Revista Militar" e outras publicações periódicas; filho de um antigo combatente, nosso camarada da Guiné, já falecido;  é investigador independente em história militar ]


2. Comentário do editor LG:

Obrigado ao José Matos, pela referência e pela deferência. Pedi-lhe que contactasse o autor para nos dar a devida autorização. O José comunicou-nos ontem o seguinte: "Já falei com ele,  não há problema...". Aqui vão os nossos especiais agradecimentos ao autor e ao editor, a prestigiada "Revista Militar" (que se publica desde 1849).

Para efeitos de publicação no blogue, foi feita a fixação do texto pelo nosso editor. O realce a amarelo e os negritos são da sua responsabilidade.






[O Prof Doutor Orlando J. B. Almeida Pereira é professor auxiliar no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa; Doutorado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico. ]


A julgar pelo conteúdo do processo “Comparação do potencial militar em relação à extensão territorial e às populações das províncias ultramarinas” do Fundo da 1ª Repartição – Operações – do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, no Arquivo da Defesa Nacional[1], só em 1971 é que essa comparação terá começado a ser realizada em Portugal-

Apesar de os dados sobre os efectivos do Exército em cada um dos teatros de operações (TO) se encontrarem publicados desde 1988[2], não é do conhecimento do autor qualquer análise comparativa dos rácios entre tropas e populações.

Na análise que se segue, utilizaram-se, para as populações, os dados dos censos de 1960 e 1970 e assumiu-se uma taxa de crescimento constante durante todo o período. À população da Guiné, segundo o censo de 1970, adicionou-se 16%, a estimativa das autoridades militares portuguesas, em 1971, tanto para a população sob controlo do PAIGC no interior da Guiné como para o número total de refugiados guineenses nos países vizinhos[3].

Na figura 1, comparam-se os rácios entre o efectivo total do Exército em cada TO e a população do respectivo teatro. Na figura 2, comparam-se os rácios entre o efectivo de recrutamento local em cada TO e a população do respectivo teatro e também o rácio entre o efectivo de recrutamento metropolitano no conjunto dos três TO e a população da Metrópole.



Figura 1 – Efectivo total do Exército em cada TO, por cada 1000 habitantes do mesmo.


Figura 2 – Efectivo do Exército, colocado em África, recrutado por cada 1000 habitantes do local de origem.



O autor não dispõe de séries cronológicas tão completas para as forças policiais e milícias, as quais dependiam das autoridades administrativas, nem para os outros ramos das Forças Armadas. No entanto, os dados disponíveis não levam a pensar que a inclusão dos efectivos destas forças atenuasse as diferenças entre TO evidenciadas nas figuras.

Do conjunto das duas figuras, podem retirar-se as seguintes conclusões:


• Em Moçambique, tanto o esforço como o aproveitamento do potencial humano local foram sempre os menores dos três TO[4];


• No final de 1973, mais de nove anos após o início da guerra neste TO, o rácio do efectivo total do Exército em Moçambique era apenas 52% do rácio em Angola e ainda inferior ao deste TO no final de 1961, ano do início da guerra, neste TO;


• Quer em Angola quer em Moçambique, os rácios do efectivo total nunca atingiram valores que não pudessem ser sustentados indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local;


• Na Guiné, o aproveitamento do potencial humano local estava a atingir, no final da guerra, o limite do que poderia ser sustentado indefinidamente[5];


• Na Guiné, no final de 1973 [1963 no texto original, trata-se de uma gralha] , o rácio do efectivo total excedeu o que poderia ser sustentado indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local[6];


• Na Guiné, no final de 1971, o rácio do efectivo total tinha ultrapassado 50:1000, valor do índice de recrutamento que, em 1970, nas páginas da Revista Militar, se admitia ter grave perigo para todas as actividades civis, na Metrópole, e estar muito além do que seria possível obter, em Angola e em Moçambique[7].


A Guiné era o TO com uma geografia mais favorável para movimentos subversivos que dispusessem de santuários externos; excluindo o Arquipélago dos Bijagós, nenhum ponto estava a mais de 100 km de uma fronteira terrestre; cerca de um terço da superfície total estava a não mais de 20 km de uma fronteira terrestre[8].  Dado o ambiente político internacional da época, era previsível que ambos os vizinhos da Guiné se tornassem santuários para movimentos de libertação[9]. 

Era, portanto, o TO onde os Estados patrocinadores de movimentos de libertação podiam obter uma maior rentabilidade para o seu investimento, em termos de solicitação do potencial humano da Metrópole. Deste modo, não era expectável que fosse possível obter, no interior da Guiné, uma vitória que justificasse a redução do efectivo nesse teatro.

Esta poderá ter sido uma das razões pelas quais o Subsecretário de Estado da Aeronáutica recomendou, na reunião de 13 de Abril de 1959, do Conselho Superior de Defesa Nacional, uma defesa militar “capaz” da Guiné e uma defesa militar “a todo o custo” de Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe[10].

Excedido o rácio que podia ser sustentado indefinidamente recorrendo exclusivamente ao recrutamento local, reforçar a Guiné tornava-a ainda mais atractiva para os Estados patrocinadores dos movimentos de libertação.

Assim, em 1971, os rácios entre os efectivos militares dos movimentos de libertação e as populações dos respectivos TO eram estimados em: 1:1000 para a Frente Nacional de Libertação de Angola; 1:1000 para o Movimento Popular de Libertação de Angola; 0,1:1000 para a União Nacional para a Independência Total de Angola; 13:1000 para o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde; 1:1000 para a Frente de Libertação de Moçambique[11]. 

Esta desproporção só era possível devido à desproporção na ajuda internacional a cada movimento. Como fez o Comandante-Adjunto Operacional, na reunião de Comandos em Bissau, a 15 de Maio de 1973, é possível afirmar, em relação aos Estados patrocinadores, “haver forçosamente um conceito estratégico global [...] estar o esforço a ser desenvolvido no TO da Guiné”[12].

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Notas:

[1] No processo, existe um Quadro Comparativo, referido a Março de 1973, escrito a lápis, e outro sem data mas não anterior a 1971 (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 02/01, Caixa 225, Processo 25).

[2] Os dados relativos a 1961-1973 podem ser encontrados nas páginas 259-261 de Estado-Maior do Exército, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África – 1º Volume – Enquadramento Geral (Lisboa, 1988). Para 1960, utilizaram-se os dados nas páginas 132, 134 e 135, de Sérgio Augusto Margarido Lima Bacelar, A Guerra em África 1961-1974: Estratégias adoptadas pelas Forças Armadas (Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 2000).

[3] De acordo com a página 94 de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Guerra Colonial – Angola – Guiné – Moçambique (Diário de Notícias, 1998). Ao tornar-se independente, tomou o nome de Guiné-Bissau.

[4] Apesar de, a partir de 1961, a proporção do recrutamento local no efectivo total ter sido sempre a maior dos três TO, de acordo com a página 261 de Estado-Maior do Exército, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África – 1º Volume – Enquadramento Geral.

[5] Em 1970, a proposta mais ambiciosa apresentada para a Guarnição Normal da Guiné correspondia a um rácio de 11:1000, de acordo com Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Guiné – Estudo sobre a Guarnição Normal (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 03, Caixa 36, Processo 31).

[6] Em Março de 1974, o rácio entre o efectivo recrutado na metrópole para todos os ramos das Forças Armadas e a população da metrópole era de 18:1000, para os dados na página 57 de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, Os Anos da Guerra Colonial – Volume 15 (QuidNovi, 2009). Acerca do início da guerra na Guiné, veja-se José Matos, “O início da guerra na Guiné (1961-1964)”, Revista Militar, n.º 2566 (2015), 937-950.

[7] Francisco Maria Rocha Simões, “Portugal como Nação Pluricontinental e Multirracial realizado e em Paz dentro de 5 anos”, Revista Militar, vol. 22, n.º 8/9 (1970), 613-639.

[8] Para uma descrição da vulnerabilidade decorrente destas particularidades da Guiné e uma comparação com Angola, vejam-se as páginas 91 e 92 de António S. O. Soares Carneiro “As transformações operadas nas Forças Armadas para responderem às exigências do conflito em África” in As Campanhas de África e a Estratégia Nacional (Lisboa: Instituto de Altos Estudos Militares, 1996). A carta das densidades de população na Guiné pode ser encontrada entre as páginas 192 e 193 de A. Teixeira da Mota, Guiné Portuguesa – Volume I (Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1954); para a comparação com Angola e Moçambique, vejam-se as páginas 61 e 63 de João Soares, Novo Atlas Escolar Português (Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1971).

[9] Quanto aos países vizinhos, a situação de Moçambique era claramente mais favorável a Portugal e a de Angola ainda o era mais, dado que alguns se comportavam como aliados e Portugal podia dificultar o acesso ao mar de alguns dos restantes. Sobre o ambiente político internacional e os vizinhos de Angola, veja-se John P. Cann, “Securing the Borders of Angola – 1961-1974”, Revista Militar, n.º 2495 (2009), 1677-1696.

[10] Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Acta da reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional de 13 de Abril de 1959 (Paço de Arcos: Arquivo da Defesa Nacional, Fundo 01, Caixa 91, Processo 11).

[11] De acordo com os dados nas páginas 134, 139, 141, 155 e 162 de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Guerra Colonial – Angola – Guiné – Moçambique.

[12] De acordo com a página 17 da Acta da reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973, Bissau (AHM/DIV/2/4/314/2). Sobre as recomendações feitas na reunião de 8 de Junho, veja-se Matthew M. Hurley e José Matos, “A arma que mudou a guerra”, Revista Militar, n.º 2553 (2014), 893-907.

Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


1. O Luís Branquinho Crespo é o novo membro da nossa Tabanca Grande. Passa a sentar-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 744. 

Formalizamos deste modo a sua entrada nesta comunidade virtual de camaradas e amigos da Guiné (*). Tínhamos prometido apresentá-lo no dia 11 do corrente. Ele, por sua vez, ficou de nos enviar duas coisas: (i) as duas fotos da praxe, uma atual e outra do tempo da tropa; e (ii) o texto da apresentção do seu livro, que esteve a cargo do nosso camarada António Graça de Abreu.

O nosso grã-tabanqueiro é do tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), esteve no sector L1, na zona leste, no Xitole e Saltinho, como alferes miliciano, na CART 2413.

Sobre esta subunidade temos poucas (13) referências no nosso blogue... Os elementos a seguir discriminados foram-nos fornecidos pelo nosso colaborador permanente José Martins. Muito sumariamente diremos então que a CART 2413:

(i) foi mobilizada Eegimento de Artilharia Pesada nº 2, instalado na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia;

(ii) foi inicialmente comandada pelo cap art Raul Alberto Laranjeira Henriques, sendo substituido,
pelo cap inf José Medina Ramos;

(iii) tinha como divisa “Nova Onda”;

(iv) embarcou para a Guiné em 11 de agosto de 1968, chegando a Bissau no dia 16 desse mês;

(v)  fez em  Fá Mandinga, a IAO (Intrução de Aperfeiçoamento Operacional), ainda ao tempo do BART 1904;
(vi) participou em m operações nas zonas de Nova Lamego e Cabuca;

(vii) a 12 de setembro de 1968 desloca-se para o sector Xitole, para sobreposição com a CART 1646, tendo assumido a responsabilidade desse subector em 18 de setembro;

(viii)  desloca um pelotão para o Saltinho, ao mesmo tempo que fica integrada no dispositivo de manobra do BCAÇ 2852;

(ix) em 25 de eevereiro de 1969,  com a criação do subsector do Saltinho, foi o pelotão, da CART 2413, substituido pela CCAÇ 2406;

(x) durante alguns períodos e por tempo variável, deslocou pelotões para guarnecer os destacamentos de Quirafo, Sinchã Maunde Buco, Cambassé, Sinchã Madiú e Tangali;

(xi) nos finais de abril de 1969, passou a deslocar um pelotão para a ponte do rio Pulon, também conhecida como como Ponte do Fulas (não sabemos a razão da designação);

(xii) ter,minada a comissão, foi rendida pela CART 2716, em 7 de junho de 1970, tendo recolhido a Bissau, de onde embarca para a metrópole em 18 de junho.

Portanto, a  CART 2413 estava adida ao BCAÇ 2852. Sabemos que foi rendida pela CART 2716 / BART 2917 (1970/72), a que pertenceu, entre outros, o nosso David Guimarães. Mais tarde, hão de passar pelo Xitole os nossos camaradas Francisco Silva, Joaquim Mexia Alves, entre outros, da CART 3492... E ainda temos o José Zeferino, alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), que fechou a guerra, com 2 mortos, 15 de maio de 1974, se não erro...
De qualquer modo, os "periquitos" da CCAÇ 12 [ou CCAÇ 2590] cruzaram-se com os "velhinhos" da CART 2413...Fizemos colunas loucas, no 2º semestre de 1969 para levar a "bianda" aos camaradas de Mansambo, Xitole, Saltinho... E operações no mato... Foram anos loucos, os de 1969 e 1970. Estou-me a lembrar da Op Bodião em fevereiro de 1970. Não sei se o Luís Branquinho Crespo participou nessa operação ou se, nessa altura, estava destacado.


2. Sobre  Luís Branquinho Crespo podemos repetir aqui o que já dissemos sobre ele e que vem, de resto, na sua página no Facebook;  

(i) nasceu em Leiria, na freguesia das Cortes; (ii) andou na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo (Leiria); (iii) estudou em Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo completado o curso em Lisboa; (iv) pelo meio, fez a triopa e a guerra colonial na Guiné, com o poste de alf mil, (v) vive em Coimbra e é advogado em Leiria.

É, além disso, autor do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017), lançado recentemente (**).

Talvez os camaradas, mais velhos,  do tempo do BCAÇ 2852, tal como o Jaime Machado, o Torcato Mendonça ou o Beja Santos... se lembrem do Luís Branquinho Crespo...Se não erro, será o primeiro camarada da CART 2413 a integrar a nossa Tabanca Grande. 

Sobre o Xitole temos 196 referências, menos do que sobre Mansambo (332), Xime (367) ou Bambadinca (574) mas mais do que sobre o Saltinho (108).

O Luís é, naturalmente, bem, vindo à nossa Tabanca Grande.  E fazemos votos para o seu livro seja um sucesso, Aguardemos mais notícias suas e, naturalmente, também histórias do seu/nosso tempo.

Guiné 61/74 - P17369: Parabéns a você (1254): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de maio de  2017 >  Guiné 61/74 - P17364: Parabéns a você (1253): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17368: Efemérides (251): ... em abril de 2017: o 13º aniversário do nosso blogue, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, os 43 anos do regresso da minha CART 3494, o 25 de Abril e o fim da guerra, o meu batismo de fogo há 45 anos em emboscada comandada pelo Mário Mendes (que viria a ser abatido um mês depois)...enfim, os nossos encontros e desencontros (Jorge Araújo)












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Nota do editor:

Último poste da série > 12  de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17349: Efemérides (250): No passado dia 30 de Abril de 2017, os Combatentes da Guerra do Ultramar de S. Bartolomeu do Mar foram homenageados pelo seu Núcleo. A Junta da União de Freguesias de Belinho e Mar aproveitou a cerimónia para ofercer uma Bandeira ao Núcleo de Combatentes de Mar (Fernando Cepa)

Guiné 61/74 - P17367: Convívios (802): XXXII Encontro do pessoal da CART 3494/BART 3873, a realizar-se no próximo dia 11 de Junho, em Tondela, Viseu (Sousa de Castro)

 

 1. Em mensagem do dia 11 de Maio de 2017, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação o anúncio do Encontro/Convívio do pessoal da Companhia, a levar a efeito no próximo dia 11 de Junho, em Tondela - Viseu.







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Nota do editor

Último poste da série de 14 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17357: Convívios (801): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte II (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17366: Os nossos seres, saberes e lazeres (212): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (2) (Mário Beja Santos)




1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Fevereiro de 2017:
Queridos amigos,
Prossegue a viagem, andou-se por alguns dos lugares emblemáticos da costa Sul, pena foi ter chegado às Capelas já com o véu da noite, o viajante guarda no olhar aquele porto em declive de onde foram içadas tantas baleias, num passado não muito remoto.
E há Porto Formoso, paradisíaco com os seus campos de chá. Mas o primeiro destino não é só para pernoitar é para estadia, e por mais dois dias, o maravilhoso Vale das Furnas, que desde as primeiras viagens suscitou a atenção dos escritores: as águas sulfúreas, uma grande montanha cheia de fogo, as lagoas de água que fervem, as furnas de enxofre, as nascentes apropriadas para banhos, o cheiro e o sabor a enxofre expelido do solo, estando os terrenos em volta completamente crestados e queimados. Só que o vale tem outros atrativos que convergem para a sua designação de lugar mágico.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (2)

Beja Santos

Cinquenta anos é tempo suficiente para comparar o tem sido a evolução desta ilha, acresce que o viajante aqui vem frequentemente, não se limita a recordar as crianças cheias de fome que conheceu em 1967, de lata na mão, na Porta de Armas do quartel dos Arrifes, por múltiplas e variadas razões aqui aterrou e descolou nas cinco décadas inúmeras vezes e o juízo que faz do desenvolvimento socioeconómico, o embelezamento do património, a construção de redes diárias, os progressos assombrosos na saúde, na educação, no agroalimentar é mais do que positivo, a região ultraperiférica tem bons indicadores de desenvolvimento humano, não perdeu a identidade e os turistas chegam em todas as estações. Os Açores estão no mapa e a minha ilha de São Miguel não perdeu enverdecimento. Em Outubro de 1967, os meus soldados micaelenses estavam entusiasmados com a vida de quartel, o admirável mundo da recruta: comiam carne todos os dias, havia água quente para o banho, por ali passava a porta da civilização e do estômago aconchegado. O destino encarregou-se de trazer profundo bem-estar às gentes das ilhas.




A primeira etapa é o Vale das Furnas. Mas o cicerone tem as suas exigências e surpresas, primeiro percorre-se a costa Sul envolvendo Mosteiros, João Bom, Ajuda da Bretanha, Remédios, edifícios antigos primorosamente restaurados e mantidos, a despeito das inclemências dos ventos e humidades, mostram-se caldeiras que servem para apurar deliciosos cozidos e outras refeições, chama-se a atenção para um revés miguelista, os liberais não foram meigos, atiraram os absolutistas para o abismo e há depois a graciosidade da costa até aquele ponto que nos indica que passámos da costa Sul para a costa Norte.


É um dos locais mais procurados do Vale das Furnas, a Poça de Dona Beija, banho em permanência a 39 graus. Olha-se para este escorrimento fumegante, chamemos-lhe água férrea, e sabe-se lá porquê vem à lembrança Alexandre Herculano que em 1832 passou meses em São Miguel e escreveu “por esses anos assentei-me rodeado de tristes saudades sobre os outeiros vulcânicos dos Açores”. E dirá na sua poesia Tristezas do Desterro: “Eu já vi numa ilha arremessada / Às solidões do mar, entre os dois mundos, / Vestígios de vulcões, que hão sido extintos…”. Uma das figuras proeminentes da cultura do século XIX, o historiador luso-brasileiro Sena de Freitas viajou até ao Vale das Furnas, e maravilhou-se: “Que variadas e ricas cenas se oferecem no Vale das Furnas ao homem contemplativo! Perspetiva encantadora e maravilhosa, onde em admirável contraste se exibe o assombro ao lado do aprazível!”. Vejam as duas imagens abaixo, azáleas que parecem pintadas à mão e um campo de inhames. Logo o viajante pensou num prato saboroso de inhame com linguiça frita e ovo a cavalo.



Depois de um bom banho na Poça da Dona Beija, toca a vadiar pelo jardim Terra Nostra, aqui se conservam exemplares das principais plantas endémicas da ilha, são impressionantes a sua coleção de fetos, o jardim de Vireyas (rododendros da Malásia), canteiros de azáleas, coleção de cycadales, camélias, e muito mais. Como quem sabe é como quem não vê, o turista perguntou inofensivamente a um funcionário do parque que palmeira era esta, ao que ele respondeu com bonomia: é estrelícia, senhor, é uma estrelícia gigante, venha aqui ver as flores que caíram lá do cimo. E o viajante confirmou, embasbacado.


Há espécies arbóreas que ajudam a teatralizar aquilo que se chamam os lugares mágicos, é o caso do metrosídero e a sua farta cabeleira, a fazer coar os raios de luz até ao solo. É verdade que a ilha tem muito mais do que estes jardins encantados, o próprio Vale das Furnas abre-se em amplos cenários. Ferreira de Castro que por aqui andou nos anos 1930, não resistiu ao uso das expressões mais luxuriantes para descrever todo este espetáculo de um vale gracioso com caldeiras, lagoa e uma cercadura monumental de vegetação a perder de vista: “São as ribas escuras, rendilhadas, caprichosas, onde vem morrer, em branca espuma, o azul do Atlântico, e são as encostas cheias de acidentes, de relevos imprevistos, heranças de vulcões que, um dia, abriram as fauces e jorraram fogo e lava perante a imensidade do mar, subitamente emudecido. Há, nas vertentes das serrilharias, famílias de árvores, tão frescas e sussurrantes, de tanto enlevo e melodia que junto delas os parques célebres que sentiram humilhados. E flores. Flores nos imensos jardins, flores em redores das casas, que sarapintam o verde ondeante da paisagem, flores nos velhos muros que correm à beira da estrada”.


Amanhã o viandante está indeciso entre o banho de água férrea, calcorrear pela lagoa ou pelas caldeiras. O importante é o aprazimento, poder aproveitar esta dádiva de Fevereiro, beber em longos haustos a saborosa viagem e lembrar uma frase de José Tolentino Mendonça: “A verdadeira viagem é aquela que dura tanto que já não se sabe porque se veio ou porque se está”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17339: Os nossos seres, saberes e lazeres (211): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17365: Notas de leitura (957): está no prelo o II volume das "Memórias Boas da Minha Guerra", do José Ferreira da Silva (Lisboa, Chiado Editora, 2017).... Reproduz-se aqui um excerto do microconto "Promessas", que tem a ver com Fátima e os pagadores de promessas durante a guerra colonial

1. Está no prelo o Volume II das Memórias Boas da Minha Guerra, do José Ferreira da Silva, sob a chancela da Chiado Editora

Escrevemos-lhe, a seu pedido e com muito gosto, o prefácio a este segundo volume. E o título do prefácio está alinhado com o do livro: "Aqueles que souberam fazer a guerra e a paz, com 'sangue, suor e lágrimas'… e uma boa pitada de humor de caserna"...

Pelo índice, provisório, que o autor nos mandou por email, sabemos que um dos contos inseridos tem por título "Promessas".

Este segundo volume é uma seleção, feita pelo próprio, dos melhores textos ("short stories" ou microcontos) publicados no nosso blogue sob a série "Outras memórias da minha guerra", que se seguiu à série "Memórias boas da minha guerra".

A pretexto do centenário do  santuário de Fátima (1917-2017), e a propósito do inquérito sobre Fátima que termina hoje no nosso blogue (*), achamos oportuno reproduzir uma excerto desse história, "Promessas", justamente a última parte (**). Com a devida vénia ao autor... e votos de bom sucesso de vendas para este segundo volume. (***)


José Ferreira da Silva.
Foto: Chiado Editora
2. José Ferreira da Silva:  Memórias Boas da Minha Guerra, vol II, Lisboa, Chiado Editora,  2017 (no prelo) > 
Promessas (excerto)

(...) Quando se aproximou o 13 de Maio de 1969, já os dois filhos mais velhos da Ti Ana haviam chegado sãos e salvos [, o mais velho, de Angola, e o outro, o Mário, da Guiné] . Agora era preciso pagar as promessas.

A Ti Ana vivia dias felizes, de bem com Deus e com todos os santos, a quem prometera sacrifícios até ao fim da sua vida. De sua casa partiram em conjunto mais de 20 pessoas, com destino a Fátima, a pé. Entre elas, seguiam vários jovens vestidos de camuflado como o faziam lá na guerra, nas Operações Militares. Um deles, estava numa cadeira de rodas. O Mário, que cumpria a sua promessa pela negativa, abeirou-se do rapaz e perguntou:
– Também vais até Fátima?

Ele respondeu:
– Sim, com ajuda da malta e da N.ª S.ª de Fátima que, graças a ela, aqui estou salvo, lá chegarei. E tu, não vais?
– Eu, não. Não fiz promessas e tive sorte. Pelo contrário, tive amigos que lá ficaram e tinham prometido ir a Fátima, Arcozelo, Peneda e Sameiro.
– Pois, tiveste sorte, é porque alguém pediu muito por ti. – respondeu o rapaz

Vinte e cinco anos depois, a Ti Ana, já com uns 70 e tal anos, deixou de poder cumprir a promessa, indo a pé. Confessou a sua impossibilidade ao padre das Missões, onde passou a colaborar, e “renegociou” as suas Promessas: passaria a organizar 2 excursões anuais, em autocarro, mobilizando mais de meia centena de seguidores de N.ª S.ª de Fátima.

Com a mãe a aproximar-se dos 90 anos, o Mário resolveu dar-lhe a alegria de ir a Fátima numa dessas excursões, que era, agora, ajudada na organização, pela filha mais nova. Ele gostou imenso daquele ambiente popular e alegre e prometeu ir lá mais vezes.

Quando, estavam em Fátima, o Armindo interpelou a Ti Ana, na frente do Mário:
 – Como é que conseguiu que este herege viesse a Fátima?
 – Olha, menino, quanto mais velha, mais feliz me sinto. Hoje estou a cumprir a minha promessa mais difícil. Há mais de 40 anos que a estava a dever à N.ª S.ª de Fátima!
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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 16 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17363: Inquérito 'on line' (115): Fátima... Com 70 respostas no início da tarde, e a menos de 24 horas para o fim do prazo, conclui-se que todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes, durante ou depois da tropa... mais como turistas (58%) do que como peregrinos (18%)

(**) Vd. poste de 24 de março de  2012 > Guiné 63/74 - P9650: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (15): Promessas

(***) Último poste da série >  15 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17359: Notas de leitura (956): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17364: Parabéns a você (1253): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17361: Parabéns a você (1252): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 16 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17363: Inquérito 'on line' (115): Fátima... Com 70 respostas no início da tarde, e a menos de 24 horas para o fim do prazo, conclui-se que todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes, durante ou depois da tropa... mais como turistas (58%) do que como peregrinos (18%)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > O ex-cap mil Abílio Delgado, que comandou a CCAÇ 3477 (sediada em Guileje de novembro de 1971 a dezembro de 1972; também conhecida por "Os Gringos de Guileje);

O Abílio Delgado foi, aos 21 anos (!), o capitão miliciano mais novo do CTIG. Membro da nossa Tabanca Grande, residente na Ericeira, foi fotografado pelo nosso editor Luís Graça, em Iemberém, com a estatueta, em metal, da Nossa Senhora dos Milagres de Guileje, a santa protectora dos Gringos de Guileje, "miraculosamente" encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje em 2008, por Domingos Fonseca. Julgamos que esta estatueta estava na capela, construída pela CART 1613 (1967/68).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/72) > Oráculo, com duas  imagens: (i) a  de Nossa Senhora de Fátima (à direita);  e (ii) a do Santo Cristo dos Milagres  (numa redoma de vidro ou relicário).

Na foto, vê-se ainda o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro,   à civil, de óculos escuros. A foto foi-nos disponibilizada, sem legenda,  pelo Pepito, o histórico dirigente da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

No oráculo ao Santo Cristo dos Milagres, pode ler-se a oração em verso, inscrita na base do monumento: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos".

 A companhia era maioritariamente constituída por pessoal dos Açores.  Guileje, por seu turno, sempre foi um dos locais de culto mariano, no TO da Guiné. Recorde-se a capelinha de Guileje, construída sob a invocação de N. Sra. Fátima pela CART 1613 (1967/68).  O culto do Santo Cristo dos Milagres bem como o de Nossa Senhora dos Milagres é muito mais antigo do que o de N. Sra. de Fátima, e ambos são de grande devoção nos Açores.

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas do antigo aquartelamento das NT... Associado aos trabalhos de capela e ao núcleo museológico de Guileje, esteve incontornavelmente o nome do dedicado e incansável Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora foram encontradas por ele,  Por essa razão passou na altura a integrar a nossa Tabanca Grande.

Segundo informação do Samúdio,  o monumento, o oráculo da foto acima,  foi contruído pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de junho de 1972. O oráculo e a capela foram reconstruídos pela ONG AD, com sede em Bissau, com o apoio da nossa Tabanca Grande, e nomeadamente o Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.

Foto: © Amaro Samúdio (2006) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...


As 70 primeiras respostas (até ao início da tarde de hoje):




1. Fui lá ainda em miúdo ou ainda antes de ir para a tropa  > 28 (40%)



2. Fui lá, como militar, antes de ir para o ultramar  > 4 (5%)



3. Fui lá logo depois de vir do ultramar  > 11 (15%)



4. Só fui lá muitos anos depois (de vir do ultramar)  > 13 (18%)



5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente  > 13 (18%)


6. Fui lá como simples turista ou em passeio  > 41 (58%)

7. Nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir  > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir  > 0 (0%)



II. Prazo de resposta: 



até amanhã, dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17352: Inquérito 'on line' (114): Fátima... As 50 primeiras respostas: todos lá fomos, mas a maioria de nós (60%) como "simples turistas ou em passeio"... Prazo para responder termina 4ª feira, dia 17, às 16h53

Guiné 61/74 - P17362: In Memoriam (298): Agostinho Valentim Sousa Jesus (1950-2016), ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74


Agostinho Jesus (1950-2016)

1. O nosso grã-tabanqueiro Agostinho Jesus [, ex-1.º cabo mecânico auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74] iria fazer 67 anos no passado dia 15 de maio. Não chegou a fazer, morreu em 22 de novembro de 2016, na sequência de um intervenção cirúrgica ao coração.

A triste notícia chegou-nos através dos seus camaradas de batalhão, Carlos Pauleta, Ângelo Gago e Jorge Canhão

O primeiro mensageiro da notícia  foi o  Carlos Pauleta, do pelotão de sapadores, integrado na CCS / BCAÇ 4612/72, com sede em Mansoa (1972/73) e passagem por Porto Gole, Bissá, Mansabá, "tendo regressado mais cedo a Portugal por ter sido ferido perto de Mansabá quando se encontrava com o coronel, na reforma, Pereira da Costa (na altura Capitão) numa operação de manutenção de um campo de minas":

"Caríssimo Luís Graça: ao abrir o blogue da Guiné reparei na mensagem de parabéns pelo aniversário do camarada Agostinho de Jesus, que integrou a CCS, do Batalhão 4612/72. Não é certamente do teu conhecimento que o camarada Agostinho faleceu há meses sem que eu te possa informar, neste momento, a data da triste ocorrência."

Agostinho Valentim Sousa Jesus (1950-2016)
O Carlos Pauleta remeteu-nos para o  Ângelo Gago, amigo íntimo e vizinho do Agostinho Jesus, ambos algarvios. Pelo telemóvel, confirmou  a triste notícia dada pelo Carlos Pauleta, a da morte do Agostinho Jesus, não  podendo precisar a data ("talvez no passado mês de outubro de 2016").

Confirmou-nos o ano de nascimento, 1950. Acrescentou, além disso, que o Agostinho Jesus, "amigo do seu amigo"; (i) sofria de vários problemas de coração, (ii) estaria a  precisar de um transplante cardíaco, (iii) era já viúvo há um ou dois anos, (iv) trabalhava em seguros, por conta própria, (v) e morava perto de Faro.

O Ângelo e ele eram bons e velhos amigos desde o tempo de Guiné. Ambos pertenciam, tal como o Carlos Pauleta, à CCS / BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74). Os dois iam sempre juntos aos convívios anuais do batalhão.

O António José Pereira da Costa mandou-nos, a propósito, a seguinte mensagem:

 "Não conheci o Agostinho de Jesus. O Carlos Pauleta sim. Não tenho qualquer informação a dar sobre esta questão, uma vez que o BCaç 4612 entrou em sector em Nov / Dez 72 e a CART  3567 era mais antiga. Era a 4.ª companhia do batalhão."

O Jorge Canhão, da 3ª C/BCAÇ 4612/72, também confirmou, em telefonema ao nosso editor Carlos Vinhal, a forte do Agostinho Jesus, "em 22 de Novembro, ainda no hospital, depois de ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica".

2. Embora tardiamente, só nos resta dar a triste notícia a todos os demais membros da Tabanca Grande. Infelizmente, não estamos (nem podemos estar) em permanente contacto com todos os membros da nossa Tabanca Grande. Boa parte deles deixaram de estar em contacto connosco, o que é normal. 

Fomos, pois, surpreendidos pelo desaparecimento de mais um camarada, que havia entrado para a Tabanca Grande em 23 de abril de 2013 (**).

Paz à sua alma!...
As nossas condolências à família, aos amigos e aos camaradas da "grande família" do BCAÇ 4612/72.
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Guiné 61/74 - P17361: Parabéns a você (1252): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17338: Parabéns a você (1251): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17360: (De) caras (64): Quando o Papa era outro, italiano, e se chamava Paulo VI... Em 1/7/1970 recebia, no Vaticano, 3 católicos africanos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos que, por acaso, eram dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO, respetivamente... Este acontecimento provocou na altura uma grave crise diplomática entre a Santa Sé e o Portugal de Marcelo Caetano (Recortes do "Diário de Lisboa", de 5/7/1970)

















 Recorte do Diário de Lisboa, nº  17075 Ano: 50  domingo, 5 de julho  de 1970, 1ª edição  (Director: Ruella Ramos)
Fonte; Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares >  Pasta: 06615.153.24906 >  Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos

Fonte; (1970), "Diário de Lisboa", nº 17075, Ano 50, Domingo, 5 de Julho de 1970, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6990 (2017-5-11)


1. No dia 1 de julho de 1970, um dia de semana, quarta-feira, o então Papa Paulo VI  recebeu Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e Amílcar Cabral, na qualidade de dirigentes do MPLA, FRELIMO e PAIGC, respetivamente, reunidos em Roma por ocasião  da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas". 

No final da audiência, o Papa deu a cada um deles uma cópia em português da carta encíclica "Populorum Progressio" (1968) [Do esenvolvimento dos Povos], documento  que continha o pensamento da Igreja sobre a descolonização, a autodeterminação e o desenvolvimento dos povos.

Este acontecimento foi um série revés para a diplomacia portuguesa, embora a Santa Sé tenha procurado depois minizar o significado político da audiência, face aos protestos diplomáticos de Portugal, alegando que os três dirigentes nacionalistas africanos teriam sido recebidos, a título privado e na sua qualidade de católicos... 

O acontecimento desencadeou, na altura, uma crise nas relações entre o Governo português e o Vaticano. Anos mais tarde, a Rádio Vaticano vem falar de uma "histórica audiência" que tem que ser vista à luz do Concílio Vaticano II (concluído em 1965) e da Encíclica “Populorum Progressio”, publicada em 1967…

Submetidos à censura, os jornais portugueses da época, tais como o  "Diário de Lisboa" ou o "Diário de Notícias" (**), só deram a notícia quatro dias depois.

A Rádio Vaticano recordaria, em 2012,  34 anos depois da morte de Paulo VI, as palavras do cardeal Achile Silvestrini, que em 1970 colaborava com o então Secretário de Estado, o cardeal Agostinho Casaroli, e que, nessa qualidade, acompanhou de perto o processo que levou ao referido encontro do Papa com os três líderes africanos de língua portuguesa. Essas palavras foram proferidas num congresso sobre a figura e obra de Amílcar Cabral, realizado em Roma, na Rádio Vaticano, em 31/12/1999. Nele participaram, além do Cardeal Achile Silvestrini, outras personalides, "nomeadamente, Luís Cabral, primeiro Presidente da Guiné-Bissau independente e irmão do herói guineense" (sic)...  (O PAIGC, muito em particular, sempre teve na Itália fortes grupos de apoio à sua luta, incluindo comunidades e personalidades da Igreja Católica).

Achile Silvestrini ajuda-nos a perceber melhor o contexto em que se realizou o encontro do Papa com os 3 dirigentes nacionalitas lusófonos  (***):

"Tinha terminado não há muito o Concílio Vaticano e esta Encíclica veio como uma espécie de grande mensagem do interesse e do apoio da Igreja à promoção de todos os povos da África, da Ásia, e também da América Latina, que de algum modo estavam em condições de sujeição: ou de colonialismo, ou de subdesenvolvimento, ou de uma coisa e outra. Uma grande Encíclica que ainda hoje se lê com enorme admiração, porque foi um passo enorme. 

"Na minha experiência, que tive, se tivesse que dizer quais são os dois grandes acontecimentos da vida da Igreja nos últimos 50 anos, diria sem dúvida: o Concílio Vaticano II (sobre o qual estamos todos de acordo), mas o outro acontecimento paralelo é a descolonização.”

O Papa Paulo VI, o primeiro a vir a Portugal, em 1967, no 50º aniversário das aparições de Fátima,  não era das simpatias de Salazar, nomeadamente desde a sua visita a Bombaím, em 1963. Recorde-que em em finais de 1961 forças da União Indiana tinham invadido e ocupado os territórios de Goa, Damão e Diu.  A visita de Paulo VI a um congresso eucarístico a Bombaím foi vista pelo regime de Salazar, e o próprio Salazar, como uma grave ofensa a Portugal e ao catolicismo português. (****)

Para Amílcar Cabral, este terá sido um dos seus momentos de glória. Numa carta para Carmen Pereira, datada de Conacri, 13 de julho de 1970, comenta os sucessos da diplomacia do PAIGC nestes termos: "No plano internacional, acabamos de ter uma grande vitória contra o inimigo, com a conferência de Roma e com a entrevista com o Papa".
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Notas do editor: