sexta-feira, 16 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18423: Notas de leitura (1049): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,

Permito-me destacar, em primeiro lugar, o notável contributo da Drª Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, pelo documento que generosamente nos ofereceu, bem como as imagens que são da sua propriedade. Nunca ouvi qualquer referência a este monumento comemorativo do V Centenário do Descobrimento da Guiné, ainda mais em Chão Felupe. Não se pode deixar de ler o documento que a estudiosa elaborou, é um documento surpreendente. Bolama declina mas recebe de 30 para 31 de Maio de 1942 D. Duarte Nuno de Bragança que chegou num Clipper, seguirá depois para o Rio de Janeiro, irá casar-se com uma princesa brasileira.

Atenda-se, por último, aos pormenores do relatório sobre o mercado em tempo de guerra.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26)

Beja Santos

A mudança da capital para Bissau e os acontecimentos relacionados com a II Guerra Mundial merecem acento tónico nos relatórios da agência de Bissau, em 1941. Falando da filial de Bolama, escreve o gerente de Bissau:

“À data que fazemos este relatório ainda Bolama não nos enviou cópia do seu relatório semestral, motivo porque nenhuma análise se lhe pode fazer. A praça de Bolama continua no seu natural declínio, e este irá acentuar-se, em Setembro futuro, logo que passem para Bissau as direções dos serviços que ainda ali estão e o próprio governo da colónia. Tirando um ou dois estabelecimentos comerciais que se equilibram, o resto do comércio não vale nada. Vegeta e prejudica, talvez, os que estão equilibrados.

Passados os serviços do Tesouro para Bissau, não há razão para que não se reorganize o serviço da filial da Bolama, de modo a que esta deixa de ser o pesadíssimo encargo que é, há tanto ano, isto se não se considerar melhor que feche totalmente.

Não podemos deixar de registar a falta de educação, de disciplina e de correcção que tem manifestado o encarregado, senhor Baptista, para com a gerência geral, da qual, nunca recebeu o menor agrado pessoal. Verifica-se um propósito firme de magoar e desrespeitar, rasando insolência no modo de escrever e até no modo propositado de fazer com que as suas incorrecções sejam conhecidas dos nossos subordinados. É de notar que o senhor Baptista, incorrecto em extremo, no procedimento e correspondência, é perfeitamente subserviente – sem necessidade nenhuma de o ser – quando está na nossa frente e isto atribuímos à duplicidade de carácter”.

E regista-se a situação da praça, nada lisonjeira:

“Como consequência da guerra, parte das casas estrangeiras têm afrouxado os seus negócios e estão impossibilitadas de despertar. Por esta última razão, têm reduzido as suas compras de produtos. A casa alemã Ringel, impossibilitada de trabalhar, visto não poder importar nem exportar, fechou os estabelecimentos que tinha na colónia. Como é excepção, as casas sírias têm desenvolvido uma actividade notável em que devem ter ganho imenso dinheiro. Movimentam-se com uma considerável actividade, quanto à aquisição de produtos da colónia e têm-nos vendido bem. Encheram-se de mercadorias estrangeiras, enquanto puderam e depois de mercadorias nacionais, compradas ainda a bons preços. A maior parte desta mercadoria tem sido passada para o território francês que é paga por todo o preço, não se importando as casas sírias de receber o pagamento em francos senegaleses pois deles carecem para o giro, ou de casas próprias que têm no Senegal ou para o encontro das suas compras com outras casas sírias estabelecidas em território francês.

Não se têm estas firmas importado com as sanções inglesas, visto que estão a trabalhar de um modo que não foi afectado pela vigilância. A única maneira desta vigilância os poder prejudicar seria proibindo-lhes as importações. Mas estas vêm de intermediários que só entregam as mercadorias depois de, em seu nome, as levantarem da Alfândega. Se não nos enganarmos, é de esperar que, para não saírem mercadorias para o território francês, os ingleses lancem mão de uma medida de violência extrema, tal seja a de tolher toda a importação de fazendas, mesmo das nacionais, para esta colónia. Os negócios referentes à mancarra têm mostrado certa actividade e os preços têm subido bastante, embora haja grande incerteza na exportação e colocação do produto. No final, é provável que venha a ser a Casa Gouveia a ficar com a quase totalidade da produção.

Quanto a negócios de borracha, têm-se registado uma actividade fora de vulgar. Negócio quase abandonado, ainda há dois anos activou-se de tal modo que, no fim do ano, existia na colónia um depósito aproximado a 600 toneladas deste produto cuja exportação tem sido dificultada pelo regime de contingentes imposto pelos ingleses. Os negócios de arroz seguem sem alteração sensível, a não ser quanto aos preços, elevados a demasiada altura pelo sócio da Sociedade Arrozeira da Guiné, Sr. Mário Lima, cujas intenções não se percebem, ao registar-se a concorrência deslealíssima e desinteligente que vem fazendo à Sociedade Comercial Ultramarina e de que resulta, principalmente, a alta que prejudica todos. 

 Os negócios de coconote e azeite de palma seguem com certa fraqueza de preços, o que resulta das dificuldades de exportação. Neste negócio, como no da mancarra, deve ficar em campo a Casa Gouveia. Criou-se um organismo especial para fiscalização de preços, mas estes têm sofrido aumento verdadeiramente criminosos, sem a menor sanção exemplar, por parte da autoridade administrativa, positivamente falha de autoridade moral para agir. Uma vergonha.

Deste modo, torna-se incomportável, relativamente aos ordenados, a vida de quem por aqui moureja e aqueles, dentro em pouco serão insuficientes se é que o não são já, na maioria dos casos”.

Recorde-se que nenhumas operações militares atingiram esta região da África Ocidental. Neste ano de 1941, a suceder Carvalho Viegas apresentou-se em Bolama o major de artilharia Ricardo Vaz Monteiro. Traz a incumbência, sem mais tergiversações, transferir a sede do governo para Bissau. A decadência de Bolama acentua-se. Em termos de orgânica militar, a Guiné tinha um chefe de Estado Maior, agora surge uma nova figura, a do comandante militar da Guiné. Como vimos atrás, o transporte aéreo veio acompanhado de uma enorme expectativa e, entretanto, chega a radiodifusão.

Em 1942, um acontecimento inédito ocorre em Bolama: D. Duarte Nuno de Bragança, a caminho do Brasil, onde se vai consorciar com uma princesa brasileira, é acolhido nas instalações do BNU, com muita afabilidade e discrição. O ministério das Colónias não podia envolver-se directamente. Deram-se horas confidenciais para que o gerente da agência de Bissau e sua mulher fossem receber D. Duarte Nuno na casa do BNU em Bolama. D. Duarte Nuno viajava com D. Filipa de Bragança, sua irmã, e uma comitiva composta pelos condes de Almada e de Castro e o Dr. João do Amaral. A missão discreta era de os receber, alojar e alimentar durante a sua estadia em Bolama, oferecendo-lhes inteiramente a casa, na qual não ficaria mais ninguém.

O Clipper chegou na manhã de 30 de Maio. Escreve o gerente para Lisboa em 9 de Junho:

“Fomos a bordo receber os ilustres hóspedes e conduzi-los à casa do banco, transmitindo ao Senhor Dom Duarte Nuno as instruções que tínhamos quanto ao seu alojamento e recepção.

Convidou então o gerente desta agência, sua esposa e filha a não mais os deixarmos, acompanhando-os nas refeições.

Para que nada faltasse, tivemos que nos instalar numa das dependências do rés-do-chão, deixando totalmente livre aos hóspedes o primeiro andar.

O governo da colónia forneceu louças, roupas, talheres e criados e a Pan-Am emprestou camas.
Os ilustres hóspedes almoçaram e jantaram no dia 30 e tomaram o pequeno-almoço no dia 31.
No dia 30 estava projectada uma caçada no continente, que foi substituída por um passeio a Fulacunda.

No dia 31 de manhã cedo, o Senhor Dom Duarte Nuno solicitou-nos que déssemos um passeio por Bolama, a pé a sós com ele, o que fizemos mostrando-lhe toda a cidade. Partiu no mesmo dia, pelas 10h30, com destino ao Brasil.

Estamos totalmente convencidos que cumprimos a missão de que fomos encarregados, tão bem quando era possível cumprir-se e de modo a ter em pleno cumprimento as ordens que vieram para a colónia e a ficarem satisfeitas as pessoas que hospedámos. De todos ouvimos palavras de agradecimento pelo modo como tinham sido recebidos.

Em 2 do corrente, dirigido pessoalmente ao gerente desta agência, chegou um telegrama do Senhor Dom Duarte Nuno, expedido do Rio de Janeiro, dizendo: ‘Muitos gratos generosa hospitalidade enviamos lembranças sua mulher e filha’ Duarte.

O governo da colónia, alheio oficialmente à recepção do Senhor Dom Duarte Nuno pôs já Sua Excelência o Ministro das Colónias com o detalhe desejado e telegraficamente, a par de tudo o que se passou e como tudo correu e que, na verdade foi o melhor que se podia arranjar.

Não telegrafamos a pedir instruções a V. Exa. sobre todo este assunto, porque pensámos que tudo que nos foi solicitado foi aí conhecido de V. Exa. por intermédio do ministério das colónias.

A despesa que fizemos foi de 732$00, que a filial adiantou sob a nossa responsabilidade pessoal, e que vamos receber do governo da colónia, ao qual já prestámos a respectiva conta”.

(Continua)


D. Duarte Nuno de Bragança e a sua mulher


“Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa da tradição” 

Estas são as palavras inscritas num marco implantado no chão Felupe para comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau.

Desde que, em 1446, Álvaro Fernandes desembarcou na praia de Varela e pela primeira vez contactou com os felupes, que estes são conhecidos pelo seu espírito guerreiro e aversão a qualquer tipo de poder externo. Nos primeiros séculos, eram temidos pelos seus ataques aos navios portugueses e pelas suas setas venenosas, aivadas nas palavras dos cronistas.

No século XVI, dizia Valentim Fernandes que os felupes tinham impedido a entrada dos portugueses na foz do rio Casamansa durante 25 anos. Uns séculos depois, em 1878, infligiram uma desastrosa derrota ao exército português, um episódio que ficou conhecido como “desastre de Bolol”. Na década seguinte, com as fronteiras delimitadas iniciam-se as campanhas de pacificação que se prolongam pelo século XX.

São várias as acções militares portuguesas efectuadas no chão felupe. René Pélissier, no 2.º volume da História da Guiné, portugueses e africanos na senegâmbia 1841-1936, descreve as várias campanhas, mostrando como foi difícil “pacificar” os felupes. O último grande confronto deveu-se ao desaparecimento do avião francês Potez-Salmson, em 30 de Junho de 1933. Este incidente, denominado Affaire Gaté, vai provocar, de 1933 a 1935, diversos e violentos confrontos entre portugueses e felupes.

Depois desta data, os felupes “sossegam”. Compreendendo que não serão capazes de impedir que outros, neste caso Portugal, dominem o seu chão, mudam de táctica adoptando “aquela resistência passiva mais difícil de vencer que a rebeldia”, como bem referiu Amadeu Nogueira (1947:716).

A mais brilhante acção dessa resistência passiva acontece quando a administração colonial decide comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau. Para isso, a administração colonial decide implantar um marco comemorativo no local onde, segundo o mito fundador dos felupes de Suzana, Emit-ai (Deus) deitou à terra um casal felupe, que construiu a primeira casa felupe e deu origem à primeira tabanca felupe, denominada Sabotul. Situada perto de Suzana, Sabotul terá sido destruída, provavelmente no século XIX, por Ambona, o herói felupe que fundou Suzana.

Conhecendo esta história, a administração colonial decidiu homenagear o mito felupe, quem sabe, provavelmente acreditando que a instalação do marco em Sabotul poderia ajudar a apaziguar a resistência felupe. Engano!

Mandou então arrebanhar um grupo de homens para desbravarem a floresta até ao local onde se teria situado Sabotul. Durante alguns dias os felupes abriram caminho pela mata até que um dia, cansados do trabalho e irredutíveis na sua resistência, disseram que já tinham chegado ao local e o marco foi aí instalado. Daquilo que se sabe as cerimónias decorreram pacificamente. No entanto, esta celebração foi mais uma derrota infligida pelos felupes, pois o marco não foi colocado em Sabotul, mas a alguns, muito poucos, quilómetros de distância, na estrada que liga Suzana ao porto de Buadje, onde os jovens suzanenses pescam deliciosas ostras.


Hoje, quase tapado pela floresta, o marco passa despercebido servindo apenas para provocar sorrisos nos felupes quando desperta a curiosidade de algum estrangeiro mais atento.

Lúcia Bayan
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Notas do editor

Poste anterior de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18395: Notas de leitura (1047): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (25) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18406: Notas de leitura (1048): “A History of Postcolonial Lusophone Africa”, autor principal Patrick Chabal, com participações de David Birmingham, Joshua Forrest, Malyn Newitt, Gerhard Seibert e Elisa Silva Andrade, Hurst & Company; Londres, 2002 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha ?


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > Sector L3 > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fevereiro de 1968 > O alferes mil Azevedo, alentejano de Évora, com o seu boné, à porta da sua Tabanca (a que eu chamava a Tabanca dos Morteiros), e eu a conduzir o seu jipe, pois ele tinha direito a essa mordomia: Era ‘El Comandante’!... Também tive umas lições de condução neste jipe... A rua chamava-se General Arnaldo Schulz. O Azevedo era o comandante do Pel Mort 1200 ou 1200 e qualquer coisa, já não posso precisar. Tivemos lá cinco meses juntos e fizemos uma bela amizade. Depois eu segui para São Domingos, na região do Cacheu.

[Segundo o nosso editor Jorge Araújo, o pelotão de morteiros que esteve em Nova Lamego no período de maio de 1966 a maio de 1967 foi o n.º 1029. Foi substituído pelo Pel Mort 1191, que esteve em Nova Lamego entre abril de 1967 e março de 1969, às ordens do Batalhão de Cavalaria 1915. O alf mil Azevedo deveria, pois, ser o comandante do Pel Mort 1191.]


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário ao poste P18417 (*),  do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Luís, sobre a ajuda para a nossa pequena Adelise Azevedo em França, é preciso um poder de síntese para ela poder fazer algo sobre a história deste terrível período da guerra na Guiné. Eu não tenho esse poder, e não sei quase nada, ou muito pouco, mas gostava de ajudar, pelo menos não ando a perder tempo e sim a ajudar a construir a verdadeira história da nossa guerra que muitos teimam em não acreditar.

Aqui eu posso entrar com alguma ajuda, o avô dela - digo com emoção, uma neta de 14 anos a fazer um trabalho destes, quando nem os meus filhos e netos se preocupam com isto, é obra e merece tudo o que eu possa contribuir para a ajudá-la na sua obra - esteve,  segundo parece,  no meu sector L3 de Nova Lamego, Canquelifá, Piche, onde eu estou um pouco à vontade para dar algum contributo.

Já ando há muitos dias a fazer um trabalho sobre precisamente o Sector L3 de Nova Lamego, mas estou a andar devagar, porque estava à espera ainda de mais 200 fotos digitalizadas, que não chegam tão rápido. Então eu já tinha pensado em fazer este trabalho em duas partes, NL1 e NL2, e vou avançar com a NL1, já.

Eu estou a fazer uma recolha de alguns dados que retiro da História da Unidade do meu Batalhão, comentários, factos, coisas que se passaram e estão escritas, e muitas vividas também por mim.
Neste trabalho vou incluir umas páginas que retirei do meu livro, escritas já há uns 6 anos ou mais, e não altero nada, preciso que leias e ver se interessa para alguma coisa, é a minha história e mais nada.
Já tenho neste tema mais de 300 fotos, mas ainda faltam muitas, e as que faltam são as preto e branco que são dos primeiros 6 meses de Guiné, por isso coincidem com NL [Nova Lamego].

Vou pegar numas 30 a 50 fotos, tenho de as selecionar, datar, localizar, legendar e escrever algo sobre as mesmas, incluindo algumas histórias. 

Para teres uma ideia é uma coisa do tipo que fiz para São Domingos I Parte - que ainda não foi nada editado, mas tem tempo - mas esta já está mais elaborada, também se trata de um sector com outra dimensão e história.

Podes contar com esta ajuda, e para a nossa Adelise, que seja muito feliz com o seu trabalho, e aqui lhe envio as minhas mais sinceras e humanas felicitações por esta ideia de louvar.

Diz-me alguma coisa.
Virgilio Teixeira


Localização de Wattrelos, Hauts-de-France. Fonte: Wikipedia
2. Mensagem envaida à Adelise Azevedo, neta do nosso camarada  José Alves Pereira (CCAÇ 727, Canquelifá, Nova Lamego, Piche, 1964/66), e que vive em Wattrelos, junto à fronteira com a Bélgica, na região de Hauts-de-France.

Adelise, há aqui um camarada nosso, que esteve também em Nova Lamego, como o teu avô Pereira, mas já em 1967/68 (durante cinco meses), é economista, está reformado, é do Porto, vive em Vila do Conde, tem também netos, ficou muito sensibilizado com o teu pedido de ajuda, e quer mesmo ajudar-te a tirar uma boa nota... Ele tem um excelente álbum de fotografias, que temos vindo a publicar no nosso blogue.

Como a gente diz, na nossa comunidade de antigos combatentes, a que chamamos Tabanca Grande ("tabanca" é aldeia, em crioulo da Guiné), os filhos e os netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são... Tu já és nossa neta...

Vê, com ele, com é que  e em quê), ele te pode ajudar: por exemplo, arranjar-te fotografias de Bissau, de Nova Laemgo, etc. O seu nome é Virgílio Ferreira. Vou-lhe dar conhecimento desta mensagem e do teu endereço de email (que é o da tua mãe Isabel).

Já agora toma boa nota da história terrível da companhia de caçadores do teu avô, a CCAÇ 727, que teve 18 mortos em campanha, andou por sítios terríveis como Madina do Boé. 

Podes usar eles elementos para falares do teu avô e preparar a entrevista com ele... Podes gravar, por exemplo, no teu telemóvel uma entrevista com ele. É um registo que também fica para memória futura... Preparas umas tantas perguntas... E ele vai-te respondendo e tu estás a gravar...

O telemóvel tem um bom  gravador de som. Mas primeiro faz o teste, a ver se o teu gravador de som funciona bem e tem carga... Eu uso muito o gravador de som e o vídeo... Sabes, sou professor e investigador, na área da saúde pública e da sociologia da saúde... Entrevisto pessoas e depois transcrevo o que foi gravado... Claro que é um trabalho moroso, e tu agora não tens tempo... Mas podes, para já, e para o teu trabalho de EPI fazer um resumo da entrevista com o teu avô... Daqui a uns largos anos, quando ele já não estiver cá, voltas a emocionar-te ao ouvir a voz dele e a sua história de vida na tropa e na guerra...

Também fiz muitos pequenos vídeos do meu pai que já morreu, com quase 92 anos: também foi militar, em Cabo Verde, entre 1941 e 1943, durante a II Guerra Mundial...

Aqui tens o link com a história da CCAÇ 727:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2018/03/guine-6174-p18420-consultorio-militar.html

Dá-a a ler ao teu avô para ele refrescar a memória. Tem os nomes todos dos camaradas que morreram em campanha, na Guiné, uns por doença e acidente mas a maior parte em combate. O capitão dele, Joaquim Evónio Vasconcelos, já faleceu em 2012. Era também poeta e escritor.

Temos aqui um contacto de um camarada do teu avô, natural de Barcelos: vou ligar-lhe um dia destes, talvez amanhã. Organizou um dos encontros anuais do pessoal da companhia. Toma nota:

Joaquim Esteves Ferreira, vive em  Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telemov + 351 963 306 491

Um beijinho. O editor Luís Graça
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de março de 2018 >  Guiné 61/74 - P18417: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (50): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) agradece a nossa ajuda para a realização de um trabalho escolar sobre a história do conflito que opôs o PAIGC e as Forças Armadas Portuguesas entre 1963 e 1974

Vd. também poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

Guiné 61/74 - P18421: Parabéns a você (1404): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Março de 2018 > Guiné 61/74 - P18412: Parabéns a você (1403): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

quinta-feira, 15 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços


Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938- Lisboa, 2012): antigo comandante da CCAÇ 727 (Canquelifá, out 1964/ ago 66), subunidade que teve 18 baixas em campanha.

Seria gravemente ferido em combate em 1969, na área de Mejo/Guileje, no decurso da Op Bola de Fogo, quando comandava a CCaç 2316. Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia e  à escrita. Era um grande cultor da língua portuguesa. Reformou-se como coronel de infantaria.

Imagem da sua página pessoal, www.joaquimevonio.com, alojada no Sapo, e que já não está disponível.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


Aveiro > Gafanha da Encarnação > 11 de outubro de 2008 > Foto de família: XV Encontro da CCAÇ 727 (Guiné, 1964/66), enviada pelo ex-1º cabo Carmelindo Guerreiro, através do Miguel Oliveira, ex-combatente em Angola. Ao centro, de barbas brancas, aparece o cor inf ref Joaquim Evónio Vasconcelos. Na primeira fila, à esquerda, há um camarada que segura a bandeira da companhia.

Foto (e legenda): © Miguel Oliveira (2008) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Elementos recolhidos nosso camarada e colaborador permanente José Marcelino Martins (ex-fur mil trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):

Companhia de Caçadores n.º 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66 (*)


Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do capitão de infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, falecido 2012, no posto de coronel, reformado] (**), embarca para a Guiné em 6 de outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.

Permanece no sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de novembro um pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.

Segue em 5 de dezembro de 1964 para Nova Lamego, como unidade de intervenção e reserva do sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá,  e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.

Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche.

Tomou parte em operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também houve a lamentar sete mortos nas NT.

Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de fevereiro de 1965.

Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do subsector de Canquelifá, criado em 25 de fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente,  no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.

Entre 25 de fevereiro e 20 de maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de maio e 22 de agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.

Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.

A 5 de agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à metrópole em 7 de agosto de 1966.



Bravos da CCAÇ 727 que tombaram em campanha
 
(i) Por doença (difteria)

António Caeiro Combadão, soldado apontador de metralhadora, n.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 24,  de Bissau, em 08DEZ64. Foi inumado no cemitério de Évora.

António Henriques Oliveira Marques, fur mil at inf, n.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241, em 13DEZ64 -  Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1270.

Anastácio Vieira Domingos, soldado apontador de metralhadora, n.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau, em 13DEZ64. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.

(ii) Em combate:

No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512, sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha,  é montada por um pelotão daquela CCaç 727 acantonado desde 18Nov64 em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:

António Angelino Teixeira Xavier, alf mil inf, nº 60-I-3064, comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no cemitério de Carrazeda de Montenegro. Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.

António Joaquim da Graça Viegas, soldado atirador, n.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu, Guiné

Avelino António Martins, 1.º cabo atirador, n.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canano, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego região de  Gabu, Guiné.

Domingos Moreira Leite, f
ur mil op esp, n.º 1714/63, comandante de secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.

Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3.ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.

José Maximiano Duarte, soldado atirador, n.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.

José Pires da Cruz, soldado condutor auto rodas, n.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu,  Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:

António Custódio Coelho, 1.º cabo apontador de morteiro, n.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.

António Dias Martins, 1.º cabo atirador, n.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.

No domingo 04Jul65, no subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:

Adelino Castanheira Dias, soldado atirador, n.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Filipe Rosa Camacho, soldado atirador, n.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º cabo de armas pesadas, n.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

(iii) Em acidentes:

No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:

Mamadu Said Jaló
, soldado atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1884.

Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º cabo atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.

Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Joaquim de Sousa Martins, soldado condutor auto rodas, n.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.

Ver aqui, no portal Ultramar TerraWeb, a lista dos bravos da CCAÇ 727, mortos em campanha (18 no total)


Sabemos que o pessoal da companhia se reúne, todos os anos. Em 2010, por exemplo, realizou o seu XVII encontro, em Barcelos (***)

Contactos:

(i) Joaquim Esteves Ferreira, Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telem + 351 963 306 491

(ii) 1.º cabo escriturário (, de que se desconhece o nome)  Telem + 351 914101833

(iii) Virgílio João dos Santos, Setúbal (, sem nº de telefone / telemóvel).

(iv) 1º cabo Carmelindo Guerreiro, Aveiro (?)  (, sem nº de telefone / telemóvel).
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Notas do editor:



(...) Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (...).

Comandou a CCaç 727 (Canquelifá, out 64 / ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.

Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.

Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.

Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia. (...)


Guiné 61/74 - P18419: Agenda cultural (633): Colóquio: Refugiados em Portugal - História e Atualidade | Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Telheiras, Lumiar, Lisboa, hoje, das 14h às 18h




1. Chegou-nos, "just in time", a notícia deste evento que se divulga.  A iniciativa é de um grupo de moradores de Telheiras,  com o apoio da Junta de Freguesia do Lumiar. Entrada Livre. Inscrição prévia em vidaculturaarte@gmail.com

Obrigado à nossa amiga Luísa Tiago de Oliveira e ao Gabinete de Comunicação e Planeamento do CIES - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) / ISCTE - IUL













Avenida das Forças Armadas,
Edifício Sedas Nunes, Sala 2W10,
1649-026 LISBOA Portugal

Tel.: 210 464 018 / 210 464 192 (ext. 291802)

www.cies.iscte-iul.pt | www.mundossociais.com

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18394: Agenda cultual (632): Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, 10 de março, às 14h30: comemorando o Dia Internacional da Mulher, com vozes no feminino, plurais e lusófonas, na arte e na música

Guiné 61/74 - P18418: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (49): O "Senhor Badalhoco" foi à Escola

Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)


1. Em mensagem do dia 1 de Março de 2018, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma memória boa da sua guerra, desta vez uma incursão na Escola Básica da Bandeira para recriar o seu "Bife à Dunane".


MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA

49 - O “Senhor Badalhoco” foi à Escola

- “Avô” Zé, tem de ir à Escola. – dizia-me o meu genro Abel, há uns dias.
- Fazer o quê? Sou “burro velho” e já não aprendo mais nada.
- Não. É para ir contar uma das suas histórias boas da guerra lá, na “Escola da Bandeira”, está a decorrer um programa de “Leitura em Família” e já descobriram que o “Bô-Zé” é escritor. Escolha a história mais adequada para a nossa família não ficar mal.

A verdade é que me esforcei, esforcei… a rever, de entre as 86 histórias já publicadas, qual seria adequada. Certo é que, atendendo ao público a que se destinava, eu me sentia muitíssimo… limitado.

- Só se for o “Bife à Dunane”, porque não estou a ver-me a contar as outras histórias. E mesmo essa… tem que levar uma volta.
- Não se preocupe, “Bô Zé”. Vai correr tudo bem.

E foi desta maneira que o dia 27 de Fevereiro de 2018, também vai ficar ligado às “Memórias boas da minha guerra”. E estou ciente de que este singelo acontecimento é merecedor de ficar registado na memória colectiva da Guerra do Ultramar…

FOI ASSIM:

No dia anterior gastei a tarde no Porto a tentar “apanhar” o Magalhães Ribeiro, para que me emprestasse alguns “adereços guerreiros” para eu criar na Escola um ambiente adequado à minha intervenção. Mas, mal experimentei o “dólmen” XL, verifiquei que seria difícil apertar os botões. Pensei que tirando mais duas camisolas poderia “emagrecer” o suficiente para o vestir. Todavia, à cautela, ainda em viagem, informei a minha mulher telefonicamente de que eu ia aproveitar para fazer uma caminhada e que ela deveria preparar um jantar frugal, bem como o almoço do dia seguinte, uma vez que eu teria que perder um bocadinho de barriga, para caber dentro da roupa militar emprestada.

Coberto pelo meu tradicional chapéu de abas largas (que, já em cena, trocaria por uma boina militar) e encoberto por uma avantajada casaca (que cobria o tal dólmen), apresentei-me na “Escola da Bandeira”, acompanhado pela minha mulher. Ali, tive a prestimosa colaboração profissional do Pai-Bel e da Professora Lara Lima.


Quando me apresentei fardado (de camuflado e boina) dentro da sala de aula, dei dois passos em frente e me apresentei à Professora (incluindo continência e “batedura” de tacões), foi o delírio dos seus alunos. Pedi-lhe então licença, para ler uma das histórias das “Memórias boas da minha guerra”, o que ela aceitou com satisfação.

Tive cuidado na aproximação ao assunto da guerra, que não foi referido na descrição e caracterização do ambiente militar em que a história decorre.
Por isso, avancei para a questão do “Bife à Dunane” sob o ponto de vista da “logística” que implicava a sua confecção, bem como da exigência profissional que seria compatível. E quando descrevi a figura do cozinheiro Madeirense, também conhecido como Senhor Badalhoco, foi um fartote de gargalhadas. A partir daqui, tivemos que dar algum tempo para ”recuperar o auditório”, no sentido de tentar controlar a risota, que era contínua.

O maior problema foi a sensibilidade de alguns alunos que insistiam em saber o que acontecera aos pintainhos que caíam na improvisada frigideira. Outros manifestavam-se muito mais interessados em ouvir as frases que eu pronunciava com sotaque madeirense, tentando imitar o cozinheiro.
Se não estivéssemos limitados pelo tempo, ainda agora lá estaríamos a responder aos mais entusiasmados.


Foi uma tarde inesquecível! Certamente que todas as crianças presentes falarão durante muitos anos desta sua experiência. E eu, que pouco tempo mais vou andar por aqui, não esquecerei jamais os momentos invulgares e belos que vivi.


********************

Nota:
Não poderia deixar de referir que, em determinado momento, me senti bastante comovido quando:
- A Mafalda se lamentou que o seu avô morrera na guerra e
- A Leonor contou que a sua avó, durante dois anos, só recebeu uma carta do avô, que não voltou da guerra.

JFSilva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18313: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (48): Clube de Cabuca

Guiné 61/74 - P18417: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (50): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) agradece a nossa ajuda para a realização de um trabalho escolar sobre a história do conflito que opôs o PAIGC e as Forças Armadas Portuguesas entre 1963 e 1974



França > Wattrelos > Colégio "Saint Joseph  La Salle" > Proposta de trabalho escolar para efeitos de avaliação em EPI  [Ensinamentos Práticos Interdisciplinares] "Passeurs de Memoire", apresentada a (e aceite por) os professores das disciplinas de Geografia e História. Nome da aluna: Adelise Azevedo [, 14 anos]. Ano/turma: 3D

Título do projeto: "A guerrilha na Guiné-Bissau (1963-1974)". 

Descrição detalhada: criação de um livro ilustrado com fotos sobre o conflito que opôs o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde [PAIGC] e as forças armadas portuguesas; inclui o testemunho do meu avô que foi soldado na Guiné, então portuguesa, de 1964 a 1967".

Apresentação, oral, individual,marcada para 16 de maio de 2018.  Assinatura da aluna. Assinatura dos pais. Data: 19/11/2017



França > Wattrelos > Colégio "Saint Joseph  La Salle" > Informação para a aluna / estrutura da prova e critérios de avaliação. O trabalho,  a ser avaliado por  um júri de pelo menos 2 docentes, consiste numa prova oral de 15 minutos: apresentação (5 m) e discussão do trabalho (10 minutos). A avaliação (100 pontos) é assim distribuída: 50 pontos para o domínio da expressão oral (neste caso em francês)  + 50 pontos para o domínio do assunto.

Infografia: Adelise Azevedo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1. Resposta da nossa leitora Adelise Azevedo (*), com data de 11 do corrente:

Agradeço-lhe da atenção que você tem concedido ao meu pedido. Você não pode imaginar a alegria que senti quando eu vi que você respondeu a minha mensagem.

Eu queria agradecer também o seu camarada e critico literário, Senhor Mário Beja Santos. O livro que ele me enviou em pdf será um elemento de trabalho essencial para a realização do meu projeto de exame. Apenas lendo as primeiras frases do livro encontro o tema principal do exame « PASSEURS DE MEMOIRES » (« à memória de Ruy Cinatti, a quem prometi, logo em 1970, que trataria com carinho este dever de memória, incluindo os testemunhos literários de combatentes e estudiosos. »).

Quando ele evoca o amigo dele que possui uma biblioteca surpreendente em tesouros da história e da literatura guineenses, faz me lembrar quando eu era pequena e ainda hoje, que a minha mãe [, Isabel Pereira,] me dizia « Adelise, toma cuidado dos teus livros porque eles são tesouros. »

Eu vou seguir os seus preciosos conselhos, fazendo pesquisa no link que você me comunicou e no blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné.

Eu li a sua mensagem ao meu avô, ele ficou muito emocionado… e ele não era o único, toda a minha família ficou afetada por sua gentilidade [gentileza] e consideração…

O meu avô já me tem contando alguns episódios de momentos que ele passou na Guiné, são sempre momentos fortes em emoção… E com muita alegria que vamos lhe mandar, o meu avô e eu, uma foto de nós os dois.

Meus professores validaram a escolha do meu projeto (ver anexo) [, acima reproduzidos, com a devida vénia...]. Eu vou ter que passar uma prova oral na frente de um júri. Eu tenho que explicar como é que eu fiz para con[se]guir obter informações sobre o meu tema. Tenho que realizar a prova oralmente, com recurso a suporte. Minha professora de História Geografia (Madame Fourrier) está ansiosa de descobrir o conteúdo da minha realização, descobrir este período da história da Guiné, que não é muito conhecido dos meus professores na França.

Eu vou fazer um livro que incluirá toda a história da guerrilha na Guiné ilustrado com imagens e fotos…Vou também incluir uma parte, que se referirá a história da Guiné antes de ser uma colónia portuguesa. Este livro vai ser o meu suporte durante a minha prova.

Eu escrevo para você em português com a ajuda dos meus pais. eles dizem que às vezes eu falo e escrevo PORTUGNOL (meio português e meio espanhol). E você tem razão, falar e escrever português, é muito importante para o meu futuro e também é um grande tesouro.

Eu também devo no dia do meu exame dizer o que esse trabalho permitiu-me de aperfeiçoar no meu conhecimento e competência em certas disciplinas.

Eu percebi que a Língua portuguesa é muito importante na realização do meu projeto. Tem outras disciplinas como a Geografia, o Francês (escrito / oral) e a História.

Um grande beijinho para você e para as pessoas que você meteu em cópia da mensagem, principalmente para o senhor Mario Beja Santos.

Obrigado novamente por sua preciosa ajuda…

Adelise


2. Resposta do editor LG / Réponse de l'éditeur LG:

Parabéns, Adelise, a ti, à tua mãe Isabel Pereira, ao teu avô e nosso camarada da CCAÇ 727, José  Alves Pereira. Pela originalidade e o desafio do projeto.  Pelo teu entusiasmo. Pelo amor que tens aos teus pais, avós e às suas raízes, a velha nação que se chama Portugal. Parabéns também pelo teu português...

Vamos ver se te arranjamos mais materiais, nomeadamente mapas, fotos e resumos cronológicos.  Não queremos que te percas com tanta informação. E estamos certos de que vais tirar uma bela nota no exame de EPI (Ensinamentos Práticos Interdisciplinares). 

Um beijinho para ti, um "alfabravo" (ABraço) para o teu avô materno Pereira. Esperamos pelas vossas fotos...

Salut, Adelise, je te félicite, à toi, à ton collège, à tes enseignants, aussi à ta mère Isabel Pereira, à ton grand-père, José Alves Pereira, notre camarade de la compagnie de chasseurs de infanterie 727 (Guinée portugaise, 1964/66),

Je te félicite pour l'originalité et le défi de ton projet, l’enthousiasme, et surtou l'amour pour ta famillie qui n'oublie pas ses racines, c'est à dire, l'ancien et beaux pays qui s'appelle le Portugal. Félicitations aussi pour ton portugais écrit.

Nous irons trouver et t'envoyer d’autres supports d’information, utiles pour toi, y compris des cartes, des photos et des résumés chronologiques. Nous ne voulons pas que tu t' effondres avec d' autant d'information. Nous sommes sûrs que Madame Fourrier te donnera une belle note, le 16 mai prochain, à la suite de l'examen d’ EPI.

Bisou pour toi, un "alfabravo" [Abraço] pour ton grand-père maternel Pereira. Nous attenderons vos photos de famille.  Luís Graça,
_____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

quarta-feira, 14 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18416: O nosso livro de estilo (13): afinal para que serve e a quem serve o nosso blogue (Luís Graça / Virgílio Teixeira / Hélder Sousa)


Cabeçalho do nosso blogue, que tem como editores: Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Jorge Araújo. e que se publica, diariamente... A sua origem remonta a 23/4/2004.


1. Não podendo comunicar com toda a malta ao mesmo tempo, por email, por precaução (, não vai o nosso servidor Google, onde temos conta, pensar que andamos a mandar carradas de SPAM e correio indesejável, violando assim as regras do contrato...), o nosso editor Luís Graça enviou há dias, em 8 do corrente, uma mensagem para umas dezenas de grã-tabanqueiros, com destaque para os bedandenses, que dizia o mais ou menos o seguinte, com um link para o poste P18391 (*)

Assunto - Bedanda, a ferro e fogo...

Camaradas: ainda vai havendo, na nossa Tabanca Grande, gente com curiosidade intelectual e espírito crítico, que ainda não arrumou as botas, que acompanha com regularidade o nosso blogue, lê, comenta, faz prova de vida... Mas sinto que a malta, ao fim destes anos todos, está a perder o fôlego... E não é caso para menos: 14 anos a blogar, é mais do que a guerra toda, de 1961 a 1974...

Ainda é possível o blogue trazer material capaz de despertar a curiosidade e interesse da malta? Acho que sim, vejam os trabalhos do nosso novo editor, Jorge Araújo, um "periquito" ao pé da maior parte de nós... Ou o livro, em pré-publicação, com as surpreendentes memórias do Dino, o José Claudino da Silva... Ou o "Abre-te, Sésamo" do Virgílio Teixeira... mais outros dois "periquitos" que vieram enriquecer a nossa Tabanca Grande...

Enfim, faço apelo aos bedandenses, cujo endereço de email tenho aqui à mão... bem como outros amigos e camaradas que têm mostrado interesse por esta nova série, "(D)o outro lado do combate"... Peço-vos para verem, comentarem, divulgarem, darem a cara, aparecerem, fazerem, enfim, prova de vida...

Com um abraço do camarada Luís Graça, também ele " cansado da guerra", como vocês todos...

PS - Não se esqueçam, dia 22, há almoço-convívio da Tabanca da Linha... E a 5 de maio, o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, o Carlos Vinhal irá divulgar detalhes do evento, dentro em breve...



2. Dos vários comentários que recebemos, na caixa do correio, destacamos o do "periquito" Virgílio Teixeira, e o do "colaborador permanente", de longa data, o Hélder Sousa, que, apesar dos seus probleminhas de saúde, lá arranjou tempo e disposição (, dois recursos  preciosos para "jovens idosos" como nós...) para "consolar" o editor que, como todo o mundo, também tem os seus altos e baixos, os seus momentos de euforia e depressão...  

Estes dois comentários, já partilhados em grupo, merecem ser aqui reproduzidos, se não no todo, pelo menos em grande parte, nesta série "O Nosso Livro de Estilo", não para fazer "doutrina", mas para suscitar outros comentários, e sobretudo ajudar a reflectir sobre o passado, o presente e o futuro do nosso blogue, que é património de todos nós, ajudar enfim os nossos editores a "pilotar o barco" (**):


(i) Comentário do Virgílio Teixeira, com data de 8 do corrente:

Virgílio Teixeira, Bissau, 1969

Bom dia, Luís. Fiquei com a sensação que estavas desiludido e a pensar fechar o blogue, espero bem que não, ainda tenho muito material para divulgar.

Não são cenas como esta de Bedanda, que são uma coisa do outro mundo, isto sim é a guerra viva!
Nunca tinha visto um 'turra' além daquele morto, estas fotos do PAIGC são inéditas. Como é que os gajos carregavam aquilo tudo, um canhão às peças, e manga de 'ameixas' pesadas.

A discussão que deu já esta publicação, está para além dos meus conhecimentos, vou lendo e comentar pouco, eu estava do outro lado da guerra. Mas aprecio quem sabe, ou julga saber, de tantos pormenores que escaparam à maioria dos mortais!... Bem hajam os seus contributos.

E força, não vamos agora desistir, quando eu acabo de entrar. De qualquer modo, isto terá sempre um fim, penso eu, não vai haver gente com garra e disponibilidade para dar andamento num futuro a médio prazo, isto é, pessoal com os teus conhecimentos e cultura para responder a tudo e a todos, e o peso da idade vai carregando nas costas. Pelo menos a mim (...)



Luís Graça, Bambadinca, 1969
(ii) Resposta do editor Luís Graça, com data de 9 do corrente:

Obrigado, Virgílio, pelo teu apreço, alento, incentivo, verdadeira prova de camaradagem (,mesmo ainda não nos conhecendo pessoalmente)...

Não fiques em cuidado, é apenas um desabafo da minha parte... De resto, o blogue já não é meu, embora seja eu a pagar o alojamento no Google / Blogger... Estamos de pedra e cal, para dar e durar... Ainda não morremos todos, e os que infelizmente vão morrendo, não ficam na "vala comum do esquecimento"... É esta a nossa missão...

Temos um novo elemento na equipa editorial, o Jorge Araújo, que também é prof como eu, mas ainda no ativo... Temos muita gente que nos lê: só ontem foram 3100 visitas, durante o mês (últimos 30 dias) foram c.89 mil...

Temos766 membros na Tabanca Grande... Temos gente entusiástica como tu, com um fabuloso álbum fotográfico e uma memória de elefante!... Temos milhares de camaradas que já passaram por aqui, uns ficam, outros não voltam...

Claro que não podemos fechar a porta, fazer greve, encerrar para férias... É nosso timbre, de resto, publicar todos os dias do ano, nem que seja um único poste...
 (...) Para rematar a conversa, a nossa Tabanca Grande (, e em especial o nosso blogue) precisa de uma solução "institucional" que garanta que o nosso trabalho fica disponível, para os nossos filhos, netos e bisnetos, para os investigadores, para os portugueses e guineenses que queiram saber, em primeira mão, o que foi aquela guerra e aquela terra, "verde e vermelha", onde passámos os nossos 21, 22, 23, 24 anos, na maior parte dos casos...

Haveremos de encontrar essa solução, que essa sim é a minha preocupação no futuro próximo (...)


Hélder Sousa, Piche, 1970
(iii) Mensagem do Hélder Sousa, com data de 9 do corrente:

 (...) Vamos por partes... A primeira é que já estou habituado, de quando em vez, que o "nosso" Luís tenha estas palpitações sobre a utilidade do Blogue, sobre o interesse da sua continuidade, sobre se ainda consegue ser atractivo, sobre se ainda haverá quem se disponha a revelar mais e/ou novas fotos, histórias, relatos, lembranças, etc. daqueles tempos.

E, ao estar habituado, sei que isso será motivado por alguma indisposição momentânea e que depois passa. Eu também, em várias circunstâncias, e por diversos motivos e sobre vários temas ou situações, também passo por essas crises existenciais, daí que nestas alturas não dê muito relevo a isso, sei que pode "dar forte mas passa depressa"...

Também acho que todos nós, aqueles que de mais perto, há mais tempo ou que mais se interessam por este fenómeno, que é o Blogue, a sua temática e duração, sabe que o Blogue, mais do que do Luís, é "nosso" e por isso compete-nos, a todos, acarinhá-lo e desenvolvê-lo.

Um dos focos das angústias do Luís é facilmente anulado. Se nos seguem? Claro, basta ver as estatísticas com as visitas ou visualizações diárias! E até a composição, por país, dos visitantes nos mostra esse fenómeno, para mim inesperado, do número de visitas a partir de França, revelando claramente que os emigrantes, e/ou seus descendentes procuram (re)encontrar as suas raízes e acham o Blogue útil para esse fim.

As regras de conduta pelas quais o Blogue se rege são, de facto, muito justas e correctas. Foram elas que, em princípio, me cativaram. Achei que, com elas, se podia estar aqui em convívio com pessoas que não têm necessariamente de pensar como eu, ter os mesmos pontos de vista sobre a guerra que vivemos, as suas origens, os seus porquês, a sua justeza, ou não, as suas consequências e sobre a inevitabilidade de coisas que entretanto aconteceram. Aqui, com aquelas regras, considerei ser possível trocar opiniões, comentários, etc., com pessoas, camaradas da Guiné, em respeito mútuo, sem necessidade de "convencer" ninguém, apenas dar a opinião e que cada qual aproveite, ou não, o que quiser. E assim tem sido, de um modo geral.

Ainda sobre as "audiências" tive oportunidade de dizer ao Luís que o Blogue é seguido e não apenas de modo mitigado, por guineenses, na Guiné-Bissau e provavelmente não só. Em "conversa" com o nosso Cherno, em determinada altura percebi que ele próprio também estava a ter "angústias" sobre se devia ou não continuar a comentar no nosso Blogue. Não queria ser intrometido e tinha dúvidas se os seus comentários poderiam ser mal recebidos, como de alguém que estivesse a entrar em casa alheia... Disse-lhe que nem sequer pensasse isso, pois todas as suas contribuições têm sido valiosas no sentido de esclarecer melhor o que se vai mostrando ou dizendo sobre os povos, costumes e até de 'ambientes' da Guiné.

No seguimento disso ele, em certa altura revelou que, presumo que lá na Guiné, já lhe perguntaram "Mas, porque é que gostas tanto de perder tempo com esses...", referindo-se às suas intervenções no nosso Blogue. Ora bem, postas as coisas assim revela-se imediatamente que há lá quem nos siga, indiscutivelmente, pois se assim não fosse não lhe poderiam fazer a pergunta, embora, por um lado não se manifestem e por outro, aparentemente, discordem dessa 'colaboração'.

Após a observação acima transcrita ele, Cherno Baldé,  acrescentou: "Mas, eles não podem entender que aquilo vem de longe, desde quando era ainda criança (aqui deduzo que seja o facto de interagir connosco) e, habituei-me à sua forma de ser e de pensar (presumo que se refira a nós,  portugueses de cá) quando, muitas vezes, não concordo."

Portanto, e definitivamente, o Blogue tem audiência. E muita! Até de pessoas que não se manifestam, ou raramente o fazem, e quando o fazem é para dar conta das suas discordâncias... "que isto é só para intelectuais"... "que o Blogue está 'bandeado' com o IN" (revelando a sua enorme incapacidade para viver e conviver)... "que é um roteiro de viagens"... "que está sempre a falar de livros e a promovê-los"... "que servia para dar protagonismo ao Graça" (esta é miserável, mas houve quem argumentasse assim...) e outras palermices do género.

Em suma, enquanto pudermos, isto é das melhores coisas que há sobre o nosso tempo e temos o dever de manter o Blogue vivo. Com ele dar testemunho dos tempos e dos modos que vivemos. Se os vindouros pegam nele ou se o desprezam isso já não será da nossa responsabilidade. Não podem é dizer que "não sabiam" (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18415: Bibliografia (47): “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance; Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Há muito que procurava um depoimento de como vivem os grupos sociais desfavorecidos nos EUA.
Este livro tece considerações perturbadoras sobre a perda do Sonho Americano para um largo espectro da população. Quem o escreve é um jovem que constitui um dos raros casos de ascensão social, ele saiu da comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem, o Ohio. Dá-nos, dada a sua análise pessoal e apaixonada, a oportunidade de conhecer a cultura dos norte-americanos brancos e pobres, de ficar a conhecer melhor o lento processo de desagregação que começou há cerca de 50 anos e parece imparável. É a história de uma família que vai de Kentucky para o Ohio, na esperança de escapar à miséria.
Um testemunho que nos insere numa comunidade caótica marcada pelo abuso, o alcoolismo, a pobreza e o trauma.
Uma outra América que raramente vemos nos filmes nem nas séries televisivas.

Um abraço do
Mário


Imperdível: Lamento de uma América em Ruínas

Beja Santos

É o testemunho de um jovem bem-sucedido diplomado em Direito pela Universidade de Yale, um caso bem raro de ascensão social entre a comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem. Relato de uma experiência de vida de quem viveu numa família e num grupo social disfuncionais, incapazes de aceder ao Sonho Americano. De múltipla leitura, pois é uma análise pessoal de uma cultura em crise – a dos norte-americanos brancos e pobres, na vertente da desintegração, que se iniciou nos anos 1970; e é um verdadeiro lamento, autobiográfico, íntimo e sentido; e uma viagem pela história, tudo começa pelos seus avós que se mudaram da região apalache do Kentucky para o Ohio, procuravam escapar à miséria generalizada da sua comunidade, obtiveram um relativo sucesso e formaram uma família da classe média, o símbolo desse sucesso é o autor deste documento de leitura obrigatória: “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance, Publicações Dom Quixote, 2017.

Famílias disfuncionais, é um grito que ele não reprime:  
“Uma das perguntas que eu odiava, e que os adultos me faziam constantemente, era se eu tinha irmãos ou irmãs. A menos que alguém seja um sociopata especialmente ardiloso, não é possível estar sempre a mentir. Eu tinha um meio-irmão e uma meia-irmã biológicos que nunca tinha visto porque o meu pai biológico me dera para adoção. Eu tinha muitos irmãos e irmãos não-biológicos segundo um terminado critério, mas apenas dois se limitasse o cálculo aos filhos do marido atual da minha mãe. E havia a esposa do meu pai biológico, e ela tinha pelo menos um filho, então talvez eu tivesse de contar com ele também. Às vezes pensava filosoficamente sobre o sentido da palavra irmão. Os filhos dos antigos maridos da minha mãe ainda eram meus parentes? Se sim, o que dizer dos futuros filhos dos antigos maridos das minha mãe?”.

Temos pois uma relação complexa com este meio familiar, avós amorosos e uma mãe toxicodependente. Destinado a ter um futuro sombrio pela frente, descreve a genealogia mais recente, os inumeráveis acidentes da sua infância, o meio operário e o sonho de ascender à classe média. Dá-nos um relato primoroso dos locais onde viveu, do sistema educativo público, do que é viver numa relíquia da glória industrial norte-americana. Comunicação violenta, o recurso às obscenidades, discussões de partir a loiça, intervenções da polícia e da assistência social. O autor irá listar-se nos Marines após completar o ensino secundário e combateu no Iraque. Amadureceu, frequenta o ensino universitário em Ohio e em Yale, é hoje diretor de uma destacada firma de investimentos de Silicone Valley. Um tremendo relato que nos prende pela lucidez e subtileza, onde se misturam todos os dramas da sua vida familiar e onde entram em cena, para nosso espanto, gente pobre completamente descrente do futuro. E nessas famílias disfuncionais todos os incidentes são imprevisíveis, como em dado passo ele observa:  
“Era assim o meu mundo: um mundo de comportamentos verdadeiramente irracionais.
Gastamos tudo até ficarmos pobres. Compramos televisões de ecrã gigante e Ipads. Os nossos filhos usam roupas boas graças a cartões de crédito com juros altos e empréstimos. Compramos casas de que não precisamos, refinanciando-as em troca de mais dinheiro para gastar, e depois declaramos falência e deixamo-las geralmente cheias de lixo. Poupar é para nós uma hostilidade. Gastamos para fingir que somos de uma classe superior. E quando a poeira assenta – quando a falência chega ou algum parente paga a fiança da nossa estupidez –, não sobra nada”. 

O ambiente familiar também não é poupado: 
“As nossas casas estão sempre numa desordem total. Gritamos e berramos uns com os outros como se fôssemos um bando de arruaceiros num jogo de futebol. Pelo menos um membro da nossa família consome drogas. Em momentos particularmente stressantes, batemos uns nos outros, e à frente do resto da família, inclusive das crianças pequenas. Um dia mau é quando os vizinhos chamam a polícia para acabar com a confusão. Os nossos filhos vão para um centro de acolhimento mas nunca ficam por muito tempo. Pedimos-lhes desculpa”.

A ignorância e a alarvice andam de mãos dadas: “Percentagens significativas de eleitores brancos conservadores acreditam que Barack Obama é muçulmano. Numa sondagem, 32% de votantes conservadores declararam que acreditam que Obama tinha nascido no estrangeiro. Ouço frequentemente conhecidos ou parentes distantes dizerem que Obama tem laços com extremistas islâmicos, ou é um traidor”. Conservador, está ciente da profunda debilidade ideológica deste pensamento: “Em vez de incentivarem o envolvimento, os conservadores cada vez mais fomentam o tipo de desapego que exauria a ambição de muitos dos meus amigos. A mensagem da direita é cada vez mais: você não tem culpa de ter fracassado; a culpa é do Governo”.

A todos os títulos, um relato corajoso no quotidiano de maus-tratos, de insultos, de depressões, dos traumas múltiplos que sofrem os membros da classe operária. E há esse rolo compressor que há um grau de instabilidade nunca visto em nenhum lugar do mundo: a miríade de figuras paternas, a elevada percentagem de crianças expostas a três ou mais parceiros das mães, o caos em casa. E testemunha o que viu: “Para muitas crianças, o primeiro impulso é fugir, mas as pessoas que correm para a saída raramente escolhem a porta certa. Foi assim que a minha tia se viu casada aos 16 anos com um marido abusivo. Foi assim que a minha mãe, a oradora da turma na escola secundária, no final da adolescência já tinha engravidado e depois divorciou-se, mas não chegou a terminar o secundário. Saem de uma situação má para uma pior. O caos gera mais caos”.

É um livro inspirador, mais construtivo não pode ser, ajuda a compreender aqueles EUA conservadores que confiam nas vozes messiânicas, como nos ajuda a compreender que há vencedores que não se atolam no princípio da competição e que tanto lutam pela sua felicidade como pela solidariedade com os grupos sociais desfavorecidos que vivem no país mais rico do mundo.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18339: Bibliografia (46): “Lideranças na Guiné-Bissau, Avanços e recuos”, por Santos Fernandes, Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18414: Ser solidário (211): Concentração cívica (hoje, 4ª feira, às 18h00, no antigo Hospital Militar Principal, Estrela, Lisboa) e petição pública a favor do apoio social e clínico aos militares e seus agregados familiares, incluindo os antigos combatentes da Guerra em África


Lisboa > Estrela > Hospital Militar Principal, numa fotografia de Augusto Xavier Moreira (c. 1865). Imagem do domínio público.

Fonte: Wikimedia Commons.


1. Chegou-nos, pela  mão do nosso grã-tabanqueiro, Mário Gaspar, a notícia deste evento:

CONCENTRAÇÃO CÍVICA 

Quarta-Feira – 14/3/2018 às 18hOO

Ex- Hospital Militar Principal – Estrela, Lisboa

Petição Pública com mais de 4750 assinaturas

Considera-se importante chegada 15 minutos antes das 18h00, para cumprir horários e compromissos.

Presença da ADFA e de Militares Grandes Deficientes

Intervenções:

1. MGen Bargão dos Santos
2. TCor Cmd António Neves
3. Cor Cmd Carlos de Matos Gomes
4. Intervenções Livres (15’)

2. Petição Pública [assinar a petição aqui]

Apoio Social e Clínico aos Militares e seus agregados familiares

Para: Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia da República
Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia da República

Excelência

O que se expõe não corresponde a uma situação exclusiva dos militares e das suas famílias , uma vez que diz respeito e de algum modo, a parte igualmente significativa da nossa população.

É apenas dada ênfase aos militares e seus agregados familiares por admitir tratar-se de uma realidade que tem tanto de particular, se atentarmos sobretudo ao que se encontra legislado na Lei de Bases do Estatuto da Condição Militar ( LBGECM), como injusto e preocupante e neste sentido, trazer ao conhecimento de V. Exa, para os devidos efeitos, o seguinte:

Concretamente, a urgente necessidade do apoio a largas centenas de doentes, beneficiários do IASFA, I.P. (Instituto de Acção Social das Forças Armadas) que necessitam de acompanhamento de natureza hospitalar, fundamentalmente por doenças crónicas prolongadas ou situações resultantes de demências ou de acidentes cerebro-vasculares e que hoje se denominam de Unidades de Cuidados Continuados e Paliativos.

De facto, confrontamo-nos hoje com um envelhecimento muito alargado da população militar, com um quantitativo ainda muito significativo de combatentes da Guerra em África , com todas as suas sequelas, seja a nível físico ou psíquico.

Para que se possa ter uma ideia da complexidade e gravidade da actual situação e a título de mero exemplo, refere- se que em termos de Oficiais e Sargentos, apenas do Exército e na situação de reforma (Lista de Antiguidades, Set 2016), existem com mais de 80 anos, cerca de 3500 e com mais de 70 anos, perto de 6000, por sua vez, perante uma realidade de mais de 39.000 beneficiários com mais de 65 anos de idade.

Explicando melhor, a actual lista de espera de doentes beneficiários para internamento nas instalações de acolhimento do IASFA,I.P. para cuidados desta natureza ou afim, ronda os 1500 , sendo a capacidade deste Instituto no âmbito da denominada Acção Social Complementar (ASC), naturalmente diminuta e muito insuficiente para as reais necessidades.

Se recuarmos um pouco recordamos que a criação de um Hospital único para as Forças Armadas (HFAR), sempre desejada ao longo de décadas, como forma de racionalizar recursos materiais, equipamentos e efectivos, então dispersos por três Hospitais, dois do Exército ( Hospital Militar Principal e Hospital Militar de Belém ) e o Hospital da Marinha, levou à decisão política da cedência dos mesmos a outras Instituições, na circunstância à CVP [Cruz Vermelha Portuguesa] e à SCML [Santa Casa da  Misericórdia de Lisboa].

Com esta atitude, as Forças Armadas perderam cerca de 400 camas de internamento hospitalar, correspondente aos três Hospitais e foi desperdiçada de algum modo, uma considerável reserva estratégica nacional de apoio sanitário, perante eventuais situações de calamidade ou catástrofe.

Por sua vez os referidos Hospitais tinham uma taxa de ocupação da ordem de pouco mais de 90%, o que dá para avaliar e fazer-nos hoje reflectir, por onde andarão e em que condicões estarão a ser seguidos esses doentes.

Entretanto, o Hospital Militar de Belém que foi cedido à Instituição da Cruz Vermelha Portuguesa, por um período de vinte e cinco anos, para instalação de uma unidade de Cuidados Continuados e uma Residência Sénior (DR 189/2015 de 28/9/15), continua inactivo.

O Hospital Militar Principal, com capacidade para mais de 200 camas, fechou entretanto as suas portas em Dezembro de 2013 (há mais de três anos) e mantém -se igualmente encerrado, quando seria por inerência a solução mais económica , mais justa e racional para ser a retaguarda indispensável ao actual HFAR (Hospital das Forças Armadas).

Em 30/7/2015, este mesmo HMP, viu então ser formalizada a sua cedência (Pavilhão da Família Militar) à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através de um protocolo firmado entre o seu Provedor, Sr Dr Santana Lopes e o Sr Dr Aguiar Branco, Ministro da Defesa Nacional.

Visava-se então criar a maior Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos, do País, entre outras valências.

Não obstante o esforço da sua pronta divulgação local, em chamativo cartaz e placas identificativas, não chegou a abrir e desconhece- se inclusivamente uma data para a sua inauguração.

O Hospital da Marinha desafectado do Dominio Público Militar, para ser vendido em hasta pública (17/3/2016).

Em síntese, solicita-se:

1. Uma definição do Ministério da Defesa Nacional relativamente a uma previsão para a abertura das Unidades Hospitalares cedidas pelo Exército respectivamente à CVP e SCML, sendo de admitir como hipótese , perante a gravidade do exposto, a sua reconversão para a administração do Exército, caso se prolongue por mais tempo, a entrada em funcionamento dos mesmos.

2. Que sejam facultados ao IASFA,I.P. os recursos humanos e materiais indispensáveis que lhe permitam, seja por realização de protocolos de assistência médica e social ou por seus próprios meios, dar resposta adequada às necessidades de tratamento ou internamento dos seus beneficiários, em Unidades de Cuidados Continuados ou Paliativos ou de qualquer outra natureza médica e social, servindo em todo o País os seus Deficientes, militares e seus agregados familiares que o necessitem.
3. Que possa finalmente e em definitivo, ser dado o devido reconhecimento de integrar sempre que possível em Unidades de Cuidados desta natureza, os cidadãos hoje civis, mas ex- combatentes da Guerra em África, que delas tenham necessidade e que estão hoje bem identificados pelas diferentes Instituições( Liga dos Combatentes ou outras , que lhes são afins e representativas).

Lisboa, 17 de Março de 2017
João Gabriel Bargão dos Santos 
CC - 01080439
NIF- 108149536

[Fixação de texto, para efeitos de edição neste blogue, incluindo negritos e realce a amarelo: LG]
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevereiro de 2018  > Guiné 61/74 - P18351: Ser solidário (210): A ONGD Resgatar Sorrisos apresenta-se à Tabanca Grande e agradece desde já quaisquer apoios para poder construir a escola de Candamã (, no antigo subsetor de Masambo) (Luís Granquinho Crespo)