segunda-feira, 28 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18689: Bibliografia de uma guerra (91): "A GUERRA VISTA DE BAFATÁ – 1968-1970", livro da autoria de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf); edição de autor, 2018



1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), que publicou recentemente um livro intitulado "A Guerra Vista de Bafatá 1968-1970", com data de 22 de Maio de 2018:

Carlos: 
Como já te havia dito, publiquei um livro com tudo o que escrevi para o blogue. Aí, os postes são colocados por ordem cronológica, tendo feito pequenas correções ortográficas e de forma de apresentação. 

O título, como não podia deixar de ser, é: "A GUERRA VISTA DE BAFATÁ – 1968-1970", título que como é sabido era o atribuído a todos os escritos, por mim enviados para publicação no blogue. 

Mandei imprimir “meia dúzia” de livros tendo como destino praticamente a “família”. Segue em anexo a capa e contra-capa do mesmo.

Trata-se de um livro com 280 páginas e mais de trezentas fotografias a cores. Se algum camarada tiver interesse em adquiri-lo, a preço de custo (14 euros), fará o favor de entrar em contacto. 

Com um abraço 
Fernando Gouveia

********************

2. Mensagem do editor:

Caro Fernando
Muito obrigado pelo envio do teu livro cuja qualidade gráfica é digna de nota.
As capa e contracapa estão apelativas, e mesmo para quem conhece o conteúdo dos "Postes", porque publicados no Blogue, tê-los em papel é outra sensação e estão mais à mão para consulta, porque a tua série no Blogue, "A Guerra Vista de Bafatá", também título deste teu livro, é um espólio invulgar e de especial interesse, de fotos e narrativas.

É de salientar que assumiste totalmente a edição do livro pelo que mereces por inteiro os meus parabéns pela obra feita.
Dedicaste-o aos teus netos, para como dizes: "levar, longe quanto possível, as memórias duma guerra que marcou de forma indelével muitos milhares de portugueses".

Os camaradas que quiserem adquirir o teu livro poderão contactar-te directamente ou deixar nos comentários o seu interesse que logo encaminharemos para ti.
Lembra-se que o preço a pagar, é o de custo para ti, 14,00€, já que a tua iniciativa não foi para fins comerciais mas sentimentais.

Renovados parabéns, e que os teus netos sejam futuramente os porta-vozes, ou transmissores, das tuas memórias de Bafatá nos já longínquos anos de 1968 a 1970.

Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18668: Bibliografia de uma guerra (90): Um Barco Fardado, por Eduardo Brito Aranha; Roma Editora, 2005 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18688: Notas de leitura (1070): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
A história da evangelização/missionação dos Rios de Guiné do Cabo Verde não é o que se possa chamar uma história feliz ou com desfecho cor-de-rosa. Era a extensão da costa, entre o rio Senegal e a Serra Leoa, as zonas de resgate tinha forte concorrência estrangeira; era o clima mortífero e a natural incapacidade dos missionários se afoitarem pelas florestas adentro.
O bispo de Cabo Verde e da Guiné também não dispunha de recursos; a figura do Visitador era pouco menos do que inútil em termos de ação missionária. Por ali calcorrearam várias ordens religiosas, entramos agora, depois da Restauração numa nova leva missionária com os Franciscanos à cabeça.
É desse tempo que temos um relato espantoso, o de frei André de Faro, um quase romance de aventuras.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (2)

Beja Santos

Escreveu-se no número anterior que foram magros os frutos da evangelização colhidos na Guiné durante o primeiro século da sua descoberta, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador em 1434, até 1533, ano da criação da diocese de Cabo Verde e Guiné.

Vejamos agora o que Henrique Pinto Rema escreve sobre as primeiras missões da Costa da Guiné no período correspondente entre 1533 e 1640.

O território para cima do rio Senegal pertencia à arquidiocese do Funchal, fixado por Bula Papal, em Agosto de 1536, pelo que não se fará nenhuma menção a este espaço. A presença de um homem branco na Costa da Guiné, insista-se, foi sempre diminuta. A Costa da Guiné era escolhida como lugar de castigo para grandes delinquentes. A partir de certa altura, o Cabido da Diocese de Cabo Verde enviava durante a Quaresma um sacerdote às feitorias dos europeus radicados na costa. Este sacerdote era conhecido pela designação de “Visitador”.

Pouco menos do que inútil foi a ação missionária destes visitadores. No entanto, temos que ter em conta as missões que ocorreram, de um modo geral com saltos de fracasso. Consideram-se os Jesuítas os primeiros missionários da Guiné, não pelo trabalho realizado, mas pela orgânica impressa à sua ação. Na verdade, de acordo com a documentação existente, esforçaram-se por planear a fixação de missões, estudando a sua logística e o seu acompanhamento. Tiveram discrepâncias com o Bispo de Cabo Verde até que abandonaram definitivamente a missão da Guiné em 1617; desta forma, do interregno político dos Filipes sobrepôs-se o interregno religioso. Em 1657, virão os franciscanos portugueses que ainda encontraram na região restos de frades capuchos espanhóis.

Para não cansar o leitor, vejamos em primeiro lugar uma panorâmica das missões religiosas na segunda metade do século XVI. Sabe-se pelo Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde, do Capitão André Álvares de Almada, que era flagrante o desamparo espiritual dos portugueses europeus. Escreve textualmente: “E à míngua de não haver quem pregue a palavra de Deus se não se salvem muitos gentios destes, e estão muitos dos nossos lançados vivendo em pecado mortal sem se apartarem dele, morrendo nele por falta de médicos da alma”.

A instituição do Visitador, faça-se notar, continuará até ao século XIX. Os Visitadores acumulavam muitas vezes as suas funções com as de vigários das praças, sobretudo da de Cacheu. Na segunda metade do século XVI, o mais notável empório comercial português na terra firme da Guiné situava-se no rio Grande de Buba. A maior povoação era no Porto da Cruz, em Guinala. Por aqui andaram em 1584 uns frades carmelitas descalços, mas foi uma falhada tentativa de fixar uma missão carmelita na Guiné. Frei Cipriano, carmelita, escreveu de Cacheu ao Bispo de Cabo Verde acerca da visita de um rei de Caió, D. Bernardo, juntamente com 300 súbitos, a pedir o batismo e uma igreja no seu reino. André Álvares de Almada, refere no seu Tratado a pessoa de João Pinto, padre preto, natural da Guiné, evangelizando em região hoje pertencente ao Senegal. Almada fala dos negros Jalofos “que começam no rio Senegal”: “Esta nação dos Jalofos é mais dificultosa em receber a fé de Jesus Cristo Nosso Senhor que todas as outras nações dos negros da Guiné, porque quase todos seguem a seita de Mafoma. E no ano de 1589 foi um clérigo preto por nome João Pinto àquele reino para os fazer cristãos e não fez fruto algum neles, e por isso se foi para outras nações”.

Numa relação acerca da vida comercial, social e religiosa do arquipélago de Cabo Verde e da Costa da Guiné, com data de Janeiro de 1582 e assinado pelo Sargento-Mor Francisco de Andrade ficamos a saber que havia dez resgates incluindo Cabo Verde, rio da Gâmbia, rio de S. Domingos, rio Grande, ilhas dos Bijagós, rio Nuno e Serra Leoa. Mas os franceses já possuíam uma porção preponderante em vários resgates.

Vejamos agora as missões dos Jesuítas nos anos 1600 a 1609. Há uma narrativa do padre Barreira que é um documento de grande importância intitulada considerações sobre a terra firme da Guiné e Serra Leoa e alguns ritos e costumes da gente dela. Para ele, a Guiné começava no rio Senegal e acabava na Serra Leoa. Nessas viagens o padre Barreira era acompanhado por outra figura de relevo a quem devemos um relato importante, o padre Manuel Álvares. Referiu-se atrás as grandes questiúnculas entre o Bispo de Cabo Verde e o Provincial dos Jesuítas, estes consideraram não haver condições mínimas para o seu trabalho evangélico.

Em finais de 1652, o padre António Vieira passa pelo arquipélago de Cabo Verde a caminho do Brasil. Nas suas cartas procura mover influências, pois sente grande dor das “infinitas almas remidas com o sangue de Cristo que não há quem as alumie com a luz da fé”. E regista numa carta a André Fernandes, bispo eleito do Japão: “Há aqui clérigos e cónegos tão negros como azeviche, mas tão compostos, tão autorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e morigerados, que podem fazer inveja aos que lá vemos nas nossas catedrais”.

Com a saída dos Jesuítas de uma vez para sempre da Guiné, irão tomar-lhes o lugar os Franciscanos. Vejamos agora a primeira missão Franciscana na Guiné, entre os séculos XVII e XVIII.

No final do domínio Filipino, dá-se pela presença de frades capuchinhos que foram encarados como ingerência francesa na região, viram-se muito hostilizados e retiraram-se em meados de 1638, alegando o clima mortífero.

Com a Restauração chegou a missão dos capuchinhos espanhóis que vingará durante cerca de 40 anos, terminado porém de forma pouco inglória. É um período de enormes tensões, com muitas queixas contra os religiosos estrangeiros, logo a seguir à restauração falava-se me espionagem dos missionários espanhóis a viver na região. Veio a comprovar-se serem boatos totalmente infundados.

A história da nova leva missionária franciscana portuguesa é contada com todo o pormenor (e que sedutor pormenor!) por frei André de Faro em Peregrinação de André de Faro à Terra dos Gentios, saboreia-se o prazer de um romance de aventuras. É uma época turbulenta, são anos cheios de tensão aqueles em que André de Faro parte de Lisboa e se oferece aos perigos da Guiné. Recorde-se que D. João de Áustria invade o Alentejo, parecia que os Bragança estavam perdidos, o Conde de Castelo Melhor, graças a um golpe de Estado, passou a governar o país, resolveram-se os combates de Ameixial e Castelo Rodrigo, no Oriente os holandeses apoderam-se de Ceilão, Cananor, Cochim, entre outras possessões.

Vejamos então a épica contada por André de Faro.

(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior de 21 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18676: Notas de leitura (1069): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (36) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18687: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXII: As minhas estadias por Bissau (vi): resto do ano de 1968


Foto nº 67 > Bissau > Edifício dos CTT > Março de 1968 > A primeira máquina automática de pesar, metia-se a moeda e saía um cartão com o peso da pessoa e a data.


Foto nº 55 > Bissau > Abril de 1968 > Escrevendo para a namorada, na esplanada da piscina do Clube de oficiais do QG em Santa Luzia.


Foto nº 65 > Bissau > Abril de 1968 > No Clube de Oficiais do QG, numa mesa da esplanada a escrever... para a namorada. 


Foto nº 42 > Bissau > Abril de 1968  > Na esplanada do  café  Bento, o  sítio mais emblemático da cidade...


Foto nº 66 > Bissau > Junho de 1968 > No café Bento – a 5ª Rep – com mais alguns camaradas numa noite quente e húmida. Sou o segundo a contar da direita, de óculos escuros, a acender um cigarro.


Foto nº 43 > Bissau > Agosto de 1968 > No restaurante Tropical


Foto nº 52 > Bissau > Abril de 1968 > Novo aeroporto civil de Bissalanca. Ao fundo um Boeing 727-100 da TAP.


Foto nº 61 > Bissau > 1968 > Cais  da Mariha, eu junto às LFG - Lanchas de Fiscalização Grande


Foto nº 61A Bissau > 1968 > Cais  da Marinha, eu junto  às LFG - Lanchas de Fiscalização Grande


Foto nº 48 > Bissau > Novembro de 1968 > Avenida do Império e ao cimo o Palácio do Governador. Foto tirada perto do café Bento.


Foto nº 57 > Bissau > Abril de 1968 > Um dos meus primeios "slides". Uma rua de terra batida, toda esburacada, feia, velha e suja, com algumas casas na mesma situação.


Foto nº 58 > Bissau > 1968 > Cais > Uma das primeiras fotos a cores

Guiné > Bissau >  CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) |

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem 56 referências no nosso blogue

Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T031 – Bissau - Parte 1 > (vi) Abril , Junho, Agosto e Novembro de 1968 > Legendagem

[Devido à suas funções como chefe  do conselho administrativo (CA) do comando do batalhão, o Virgílio Teixeira deslocava-se, em serviço,  com relativa frequência,  à capital Bissau onde ficava o QG...]

F42 – Na esplanada café do Bento (a 5ª Rep),  o local mais emblemático em Bissau, para encontrar quem chegava ou quem partia, local de passagem obrigatória. Tomava-se café, além das habituais bebidas alcoólicas, e serviam tremoços, por vezes havia camarão, mas o mais certo era a mancarra (amendoim, torrado e descascado que era uma delicia). Bissau, Abr68.

F43 – No restaurante Tropical em Bissau, jantando com o furriel Riquito (que é o fotografo) e o irmão dele à minha frente. Bom vinho branco gelado, e garrafa de aguardente para depois do café. Eu estava com pensos nos braços, devido a uma grande cambalhota que dei com a minha motorizada, à entrada do Clube de Oficiais, quando regressava de Safim com alguns copos a mais, uns dias antes. Bissau, 10Ago68.

F48 - Avenida do Império e ao cimo o Palácio do Governador. Foto tirada perto do café Bento, mais à frente do mesmo lado, na esquina fica a Pensão da Dona Berta, onde ficavam hospedadas algumas esposas de militares que se encontravam fora de Bissau. Fui lá muitas vezes, tinha lá amigos e as mulheres, um deles passou lá a sua lua-de-mel, foi o Alberto, também colega do Cenáculo, era alferes da Engenharia, tinha uma panca qualquer, veio evacuado mais cedo pela psiquiatria juntamente com o Fontão. Curiosamente ambos se divorciaram mais tarde. O Alberto passou a ser professor universitário, e teve um azar muito grave, pois um filho já com mais de 20 anos viria a falecer de acidente.

Enfim, vamos ao que interessa agora. Mais à frente, ficava a bomba de gasolina da Sacor, depois vários prédios e o UDIB, o cinema. Depois a Praça do Império. Descendo, ou se quisermos, subindo pelo lado esquerdo, ficavam uma série de esplanadas onde se podia saborear as ostras, camarão, mancarra, cerveja gelada e o que havia. Mais tarde, em 1984 não havia um único local desses. Hoje não sei o que existe, mas parece que não tem nada. As viaturas são poucas, a maioria são de militares. Bissau, Nov68.

F52 – Novo aeroporto civil de Bissalanca. Ao fundo um Boeing 727-100 da TAP. Pela data da foto, julgo ter ido esperar alguém ao aeroporto, mas pode ser também uma deslocação para a Base Aérea 12, ao lado, na chegada ou partida de um avião militar, de/ou para São Domingos, onde já estava o Batalhão. Bissau, Abril 68.

F55 – Escrevendo para a namorada, na esplanada da piscina do Clube de oficiais do QG em Santa Luzia. Eu tinha de escrever todos os dias, eram muitas páginas, algumas com 20 a 30 folhas, e mandava diariamente para o correio para minha namorada. Bissau 01Abr68.

F57 – Este deve ser um dos primeiros "slides" a cores tirados na Guiné. Foi nesta altura que apareceram os rolos a cores. Uma rua de terra batida, toda esburacada, feia, velha e suja, com algumas casas na mesma situação. Bissau, Abr68.

F58 – No porto de Bissau, parece o paquete Funchal atracado no cais e ao largo um navio de guerra para montar a segurança, na visita do Presidente Tomaz à Guiné, mas não estou certo, pois em Fevereiro, penso que ainda não tinha rolos a cores. Não consigo identificar a pessoa ao meu lado, é das primeiras fotos a cores. Bissau 1968.

F61 – Sentado junto aos estaleiros navais da Marinha em Bissau. Não sei se foi neste dia em que tive o prazer de ser convidado com outro amigo, para um lauto almoço num desses navios patrulhas, que era, as LFG, não se vê o nº nem o nome, eu tenho ideia de ter estado na LFG Lira, mas não tenho a certeza, só sei que era tudo um luxo, comparado com a tropa básica, claro. Bissau, 1968.

F65 – No Clube de Oficiais do QG, numa mesa da esplanada a escrever, para quem havia de ser, para a namorada. Parece-me que é uma auto fotografia, eu fazia muito isso, a máquina tinha um temporizador, eu colocava a máquina na ponta de uma mesa ou outra coisa, focava e depois carregava no botão e dava tempo a colocar-me na posição. Bissau, Abril68.

F66 – No café Bento – a 5ªRep – junto de camaradas numa noite quente e húmida. Na ponta esquerda o furriel Américo Veiga, nosso Enfermeiro (formou-se em Medicina mais tarde, mas já faleceu há algum tempo), a seguir um furriel dos Sapadores do qual não me lembro o nome, o soldado é o irmão do furriel Riquito, a seguir eu a acender um cigarro, e depois um cabo da secretaria da CART1744 que estava em São Domingos com o nosso Batalhão.

Este camarada viria a encontrá-lo muitos anos depois, por duas vezes em aviões, ele tinha uma empresa que negociava em madeiras por África e outros países do mundo. Ficou rico. Depois voltámos a ver-nos algumas vezes no Restaurante D. Manoel no Porto, o mais badalado da época, que acolheu a [VIII] Cimeira Ibero-Americana com todos os chefes de Estado e  presidentes de giverno, entre eles, o Fidel Castro, teria sido nos anos 90, não sei bem o ano, foi a única vez que aconteceu no Porto. Bissau, Junho68. [Foi em 1998, em 17 e 18 de outubro, esteve também o rei Don Juan Carlos, de Espanha].

F67 – A primeira máquina automática de pesar [cartas], metia-se a moeda e saia um cartão com o peso e a data, tenho isso por aí, mas é preciso procurar. Ficava na porta dos CTT de Bissau, e estão algumas pessoas a apreciar a novidade. De costas,  o alferes Verde do BCAÇ 1932. Bissau, Mar68.
_______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18660: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: as colunas logísticas até Madina do Boé

Vd. também poste de 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18646 Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXII: As minhas estadias por Bissau (v): março de 1968

Guiné 61/74 - P18686: Parabéns a você (1443): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 17 (Guiné, 1973/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18682: Parabéns a você (1442): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

domingo, 27 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18685: Agenda cultural (638): Lançamento do novo livro de Catarina Gomes, "Furriel Não É Nome de Pai: Os filhos que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial" (Tinta da China, 2018, 224 pp.): Em Lisboa, na Feira do Livro, domingo, 3 de junho, 16h00; no Porto, Mira - Artes Performtivas, sábado, dia 2 de junho, 15h00






1. Mensagem da nossa amiga, jornalista e escritora, Catarina Gomes (, que tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue), com data de 21 do corrente:

Caro professor Luís Graça,

Como está?

Venho convidá-lo para o lançamento do meu novo livro "Furriel não é nome de pai-Os filhos que os militares deixaram na Guerra Colonial", que vai ter lugar na Feira do Livro de Lisboa dia 3 de Junho às 16h00 (o convite segue em anexo) e no Porto a 2 de Junho na Mira Artes Performativas (na zona de Campanhã), o convite também segue em anexo. Ambos os eventos são abertos e todos são bem-vindos.

Venho também pedir-lhe divulgue no blogue o livro que começa a ser vendida nas livrarias dia 25 de Junho (envio em baixo o comunicado de imprensa), mas que pode também ser comprado à distância através do portal da editora Tinta da China com portes gratuitos: 
Tudo começou no vosso blogue.

Faz este ano cinco anos que fui à Guiné-Bissau para escrever pela primeira vez sobre “os filhos do vento”, como lhes começou a chamar o José Saúde no vosso blogue. Não imaginam a quantidade de emails que recebi desde então, de filhos africanos em busca de pais, de alguns portugueses em busca dos seus irmãos africanos. 

Depois dessa primeira reportagem senti que a história tinha ficado incompleta. Que era preciso voltar sozinha à Guiné e continuar a contar as suas histórias. Chamo-lhe um livro de pós-reportagem porque trata do que aconteceu depois da reportagem e por causa dela:

por causa da reportagem Fernando Hedgar da Silva - um homem que um dia pensou que “furriel” era nome de pai e a quem este livro é dedicado - conheceu dezenas de outros “filhos de tuga” como ele e decidiu criar a associação “Filho de Tuga”;

por causa da reportagem Filomena decidiu trazer o sobrinho desconhecido para Lisboa e obrigar o irmão, ex-militar, a fazer um teste de DNA;

por causa da reportagem Emília descobriu os seus dois irmãos gémeos guineenses, Celestino e Celestina.

Ao último capítulo chamei “Pais Procuráveis”. Aqui volto à reportagem que fiz em Angola, em que acompanhei António Bento ao encontro do seu filho angolano desconhecido, e explico também o que aconteceu antes e depois.

Muito obrigada por tudo. Não poderia deixar de estar, juntamente com o José Saúde, nos agradecimentos.

Um abraço,

Catarina




_____________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18684: Blogues da nossa blogosfera (94): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (13): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
 
PALAVRAS E POESIA

ADÃO CRUZ


Madrugada sempre mortal
Regresso obscuro de além dos sonhos
Jogo imaginário de sabor amargo
Sempre que os pés pousam na terra.

Procuro as palavras que são chaves de si mesmas
E com elas tento abrir o pensamento
No silêncio que as transforma em poesia.

Tudo em vão!

Por elas vivi e me transformei a vida inteira
Em rosas de orvalho e cheiro a alecrim
Por elas rasguei as trevas
E aliviei a dor que há dentro de mim.

Mas a poesia é mentirosa irrealista
E o bálsamo que suaviza o sofrimento
Não passa de vãs palavras e cacofonias
Ilusões a pagar no fim da vida
Com um rosário de angústias e agonias.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18657: Blogues da nossa blogosfera (93): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (12): "Céu Azul"

Guiné 61/74 - P18683: Blogpoesia (568): "Bom senso...", "Este sol da manhã...", "Minha pena é de oiro..." e "Ruminar o nevoeiro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Bom senso…

Entre o doce e o ácido mora o bom senso.
Gosta das encostas abrigadas e soalheiras.
Se abriga do sol nas tardes de Verão.
Deita-se com as galinhas e chama por tu ao sono.
Pensa duas vezes antes de sorrir.
Faz-se caro.
Nunca responde à primeira se o chamam.
Não gosta de ser o último nem o primeiro.
Lava sempre a fruta antes de a comer.
Nunca gasta o último tostão. Prefere esperar que venha o segundo.
Nunca adormece sem rezar ao Criador.
E, se se esquece, agradece o acordar…

Ouvindo o barítono Kaufmann
Mafra, 26 de Maio de 2018
20h42m
Jlmg

********************

Este sol da manhã…

Brindou-nos este sol da manhã,
Com pezinhos de lã,
Com seus raios de luz.
Tudo ficou doutra cor.
As copas das árvores derramam sombra no chão.
Os prados reluzem brandindo humidade.
As ruas secaram.
A lama das bermas enrugou tolhida de medo.
Pairam quietas as nuvens no céu, a ver no que dá.
Os cavalos preferem a palha seca à erva molhada.
Os chinelos da praia de olhos despertos já me fizeram sinal.
Vou esperar para ver como diz o freguês.
Assim, com este sol,
Já apetece sonhar…

Mafra, 25 de Maio de 2018
7h37m
Jlmg

********************

Minha pena é de oiro…

A minha pena solidária mantém a cadência certa de há vinte anos.
A tinta que consome em cada carga, dá e sobra para os devaneios de cada dia.
Seu bico é de oiro.
Seu traço é fino.
Se a querem ver contente, é pôr-lhe à frente um tema, por mais simples,
O devassa, da popa à ré e sua, sua como um pintor cansado que quer ver na tela sua ideia na forma exacta.
Me espera atenta.
Dorme comigo à cabeceira.
Quanta vez me chama pela madrugada
Porque pressentiu cardume.
Sinto medo de a perder um dia.
Que seria eu sem ela?...

Mafra, 21 de Maio de 2018
18h50m
Jlmg

********************

Ruminar o nevoeiro…

Amanheceu.
Sonolentas, as árvores, com porte e garbo,
Ruminam a manta do nevoeiro sem fim.
Apático, o prado verde aguarda que o sol o desperte do sono.
O silêncio que toda a noite dormiu,
Espreguiça as asas, prontinho a ir.
O cuco da praxe acabou agora a única ladainha que sabe.
Deserta a rua, desperta faminta dos rodados que a sobem e descem com pressa.
Entretanto, alheios às horas, os cavalos vizinhos que a fome acordou,
Rapam a erva fresquinha, com a boca no chão.

Mafra, 20 de Maio de 2018
8h35m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18656: Blogpoesia (567): "Altos andores...", "Partilhar...", e "Cirurgia dos mistérios...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18682: Parabéns a você (1442): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor:

Último poste da série de 26 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18677: Parabéns a você (1441): Carlos Alberto Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 617 (Guiné, 1964/66); Carlos Nery, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70); Gabriel Gonçalves, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71); Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista de MMA da BA 12 (Guiné, 1970/72) e João Santiago, Amigo Grã-Tabanqueiro

sábado, 26 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18681: Em busca de... (288): Helga dos Reis, nascida há 46 anos, em 6 de janeiro de 1971, em Ponta Consolação (Nhinte), que fica entre Bula e Binar, e a cujo parto assisti eu e o 1.º cabo enf Afonso Henriques, já falecido... Faço um apelo à Rádio Viva de Bula... (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Bula)





Guiné > Região Cacheu > Bula >  Ponta Consolação (Nhinte) > CCAV 2639 (1969/71) > Helga Reis, nascida em 6 de janeiro de 1970, e a sua mãe. Se for viva, terá hoje 46 anos.

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem de António Ramalho (ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Bula, Binar e Capunga, 1969/71), para a Rádio Viva de Bula, região do Cacheu, Guiné-Bissau:

Data: 26 mai 2018 10:48

Assunto: Será possível saber da Helga?

Exmos. Senhores, bom dia.

Apresento os meus melhores cumprimentos.
Solicito-vos que dentro das vossas possibilidades e empenho o seguinte.

Uma data memorável.

No dia 6 de Janeiro de 1971 preparava-me para ir almoçar quando surge repentinamente um cidadão nativo de Ponta Consolação (Nhinte), na região entre Bula e Binar, informando-nos (e pedindo-nos auxílio) que a sua mulher estava a parir. (*)

Eu e o 1.º Cabo Enf Afonso Henriques [, já falecido...], apressámo-nos a ir à morança  onde nos deparámos já com a criança no mundo, demos-lhe o nome de Helga dos Reis, já que era dia de Reis, assistimos mãe e filha enquanto sua avó aquecia água para lhe dar banho, a mesma que lhe cortou o cordão umbilical com uma navalha entre dois cacos!

Enquanto lá estivemos [, em Ponta Consolação], éramos visitas habituais ao acampamento com sua mãe. Não tive oportunidade de me despedir dela, ironias do destino!

O Homem Grande da Tabanca chamava-se Eusébio.
Que será feito desta menina hoje com 46 anos? (**)
Aguardo o favor das vossas notícias.

Melhores cumprimentos
António Fernando Rouqueiro Ramalho
[, Vila Franca de Xira, Portugal]


2. Solicitada a colaboração do Carlos Fortunato, presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga, nosso grã-tabanqueiroex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros (Bissorã, 1969/71), respondeu-nos o seguinte em 24 do corrente:

Camaradas amigos

Infelizmente a Helga não é pessoa que eu conheça e o local onde nasceu (Ponta Consolação - Nhinte) está longe de Bissorã, pois é mais para a zona de Bula e fora dos meus contactos.

De qualquer modo, aqui fica uma sugestão para o camarada António Ramalho: contactar a Rádio Viva de Bula e pedir para transmitirem uma mensagem na rádio, perguntando pela Helga. E se ele deixar o seu contacto telefónico, ela ou um familiar poderão contactá-lo.

O contacto da rádio é:
radioviva radiovivabula <radiovivadebula@yahoo.com.br>

Um alfa bravo para todos.

Carlos Fortunato
_______________

Guiné 61/74 - P18680: (D)outro lado do combate (30): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - III (e última) Parte (Jorge Araújo)


Foto 1 – Guiné-Bissau >  Formatura após a chamada militar numa manhã de 1974 na base de Hermangono, na Frente Norte, onde estacionavam os Corpos de Exército do PAIGC. Foto: Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Nota do editor LG: temos dificuldade em localizar no mapa este topónimo, "Hermangono", tanto no Senegal como na Guiné-Bissau; e não há nenhuma referência a este topónimo no Arquivo Amílcar Cabral, disponível no portal Casa Comum / Fundação Mário Soares; pode tratar-se de um erro de transliteração, por parte do fotógrafo e médico holandês Roel Coutinho]


Foto 2 - Guiné-Bissau > Escolta armada transportando uma pessoa ferida para a fronteira do Senegal, onde se encontrava uma ambulância. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)


Foto 3 - Guiné-Bissau > Primeira ambulância do hospital de Ziguinchor (Senegal) com motorista. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Fotos da série PAIGC Military, Guinea-Bissau, Coutinho Collection 1973-1974.  Fonte: Wikimedia Commons. O fotógrafo, Roel Coutinho é um  prestigiado médico, epidemiologista  e professor, hoje jubilado,  de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis;  holandês, nasceu em 1946, licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74,  especializou-se em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas; pelo apelido, pode ter ascendência portuguesa, e inclusive ter antepassados judeus sefarditas, marranos ou cristãos-novos, idos de Portugal para Amsterdão no séc. XVII; era uma comunidade prestigiada, pela cultura,  o dinheiro e o poder: a Grande Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, chegou a ter 3 mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a 350 pessoas; espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa",  do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amasterdão] [LG]
©O titular dos direitos de autor destes ficheiros, Roel Coutinho, autoriza o seu uso por qualquer pessoa para qualquer finalidade, com a condição de que a sua autoria seja devidamente atribuída. A redistribuição, obras derivadas, uso comercial e todos os demais usos são permitidos.
Atribuição: Roel Coutinho





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM  >BAIXAS E ESTUDO SOCIODEMOGRÁFICO DO BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971) DO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70  (III Parte)
 

1.  INTRODUÇÃO

Com o presente texto, o último de três fragmentos (*), concluímos o balanço resumido dos combates entre as NT e o PAIGC no Sector de Farim, tendo por protagonistas, de um lado, a Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533] e a Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14] e, do outro, o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), um dos quatro bigrupos de infantaria do Corpo de Exército 199-B-70, este liderado pelos Cmdts  Braima Bangura, Joaquim N'Top e Benjamim Mendes.

Para além das duas unidades anteriormente referidas, houve necessidade de identificar, agora, mais algumas, em particular aquelas que estiveram envolvidas nas missões operacionais das NT de contra-penetração dos diferentes bigrupos do Corpo de Exército 199-B-70 do PAIGC, em trânsito das bases existentes na zona de fronteira com a República do Senegal, na Frente Norte, nomeadamente ao longo dos "corredores" de Lamel e Sitató, e que, numa relação causa/efeito, ficaram ligadas, historicamente, às ocorrências relacionadas com as baixas constantes no relatório do Cmdt Braima Bangura, documento que está na origem deste trabalho de investigação - (vidé P18551 e P18638).

Para finalizar esta introdução, recorda-se que é a partir da segunda metade do ano de 1970 que o PAIGC evolui para um novo modelo de organização militar, adaptando as suas estruturas a uma nova visão da sua luta armada. Partindo do conceito "bigrupo" e da união com mais unidades deste tipo, de infantaria e artilharia, são criados os "Corpos de Exército" identificados com o "n.º 199", ao qual lhe

foi adicionada uma letra do alfabeto latino (A, B, C, D) e o ano da sua criação.


2. MISSÕES, BAIXAS E UNIDADES ENVOLVIDAS (NOVAS)

Os episódios já referidos nas narrativas anteriores visaram contextualizar a questão de partida da investigação, tendo por base, no início, as missões levadas à prática por duas Companhias de Caçadores – a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 – em particular nas situações de combate com os elementos do PAIGC que actuavam no Sector de Farim, no caso particular o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan. As primeiras ocorrências (emboscadas) tiveram por cenário o território situado no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro caso envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo caso a CCAÇ 14 (30Dez1970).



No mapa acima [Frente Norte], indicam-se os aquartelamentos das NT alvo dos vários ataques, umas vezes de infantaria, outras com recurso a artilharia pesada com "GRAD", e outros ainda à participação das duas armas, envolvendo a participação do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, durante um ano: de Dez'70 a Dez'71. Na esmagadora maioria dos casos, os ataques iniciavam-se depois das 18h30.



Citação: (1971), "Comunicado - Cumbangor [Frente Norte]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40606 (2018-5-03) [prova do envolvimento do Cmdt Ansú Bodjan nos ataques aos aquartelamentos supra]

Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquyivo Amílcar Cabral (om a devida vénia...)

Quanto a baixas do lado do PAIGC, nos fragmentos anteriores já demos conta de nomes e respectivas datas em que tombaram alguns dos guerrilheiros. Para não nos alongarmos muito, apenas iremos fazer referência a mais dois casos.

1.º  caso:   Lamine Suana.

Este elemento do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 7 de Abril de 1971, 4.ª feira, na sequência dos ataques a Guidage e Bigene, ao tempo da CCAÇ 19 e CCAV 2721, respectivamente.

2.º caso: Ansú Bodjan, Cmdt do bigrupo do CE 199-B-70

O Cmdt do bigrupo do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 14 de Novembro de 1971, domingo, na sequência da «Operação Dura Espera», projectada pelo BART 3844 (1971/1973) sediado em Farim. Foi levada a efeito no "corredor de Sitató" durante três dias – de 14 a 16 de Novembro de 1971 – nela tendo participado forças das seguintes Unidades: CCAÇ 2753, CART 3358, CART 3359, CCAÇ 14, CCAÇ 2681, 27.ª CCmds, C Mil Cuntima, CART 2732 e CCAÇ 3476 [HU; CAP II, p3, da CCAÇ 3476].

3. ANSÚ BODJAN, CMDT DE BIGRUPO DO CORPO DE EXÉRCITO

Aproveitando o acesso e posterior consulta a mais uma lista [mapa] elaborada pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra, esta relacionada com a composição do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, elaborada em finais de 1970, avançámos para a realização de mais um estudo sociodemográfico, o primeiro a um bigrupo considerado de «grupo especial» ou de «elite» no contexto da estrutura militar do PAIGC. Trata-se de um colectivo criado a partir de guerrilheiros já experientes no contexto da guerra, com provas dadas e com um mínimo de quatro anos de combatente [igual a duas comissões das NT].

Quanto ao Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), este nasceu no Morés, região do Oio, em 1944. Era casado. Só durante o segundo ano do conflito armado é que "aderiu" à guerrilha. Tinha, então, vinte anos e a 2.ª classe, como habilitação escolar. Morreu aos vinte e sete anos no "corredor de Sitató".

No seu bigrupo, três em cada quatro elementos (n-23=76.7%) eram naturais da sua região (Oio), 10% (n-3) da região do Cacheu e 13.3% (n-4) de Tombali, a região mais a Sul, conforme dá-se conta no Quadro 1.



Quadro 1 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-30)

4. ESULTADOS DO ESTUDO

Partindo dos dados contidos na lista apresentada na "Parte II" (*), que consideramos como os casos da investigação ou a "amostra de conveniência", procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do "bigrupo de Ansú Bodjan" sobre os quais se pretende retirar conclusões.

Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de "adesão" ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de "adesão" ao PAIGC, idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito e estado civil).


Quadro 2 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 2, verifica-se que os anos de nascimento com maior percentagem são dois; 1941 e 1943 (13.8%) com 4 casos, seguido de 1942, 1944, 1945 e 1946 (10.4%) com 3 casos. Em terceiro, com 2 casos (6.9%), 1935 e 1940.

Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-14) estão nos nascidos entre 1943 e 1947 (48.3%) (grupo central), entre 1935 e 1942 (n-12= 41.4%) (grupo dos mais velhos), e entre 1949 e 1951 (n-3=10.3%) (grupo dos mais novos).


Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior "adesão" ao PAIGC foi 1963 com 17 casos (58.6%), seguido de 1964, com 7 casos (um dos quais Ansú Bodjan) (24.2%). Os anos de 1964 e 1965 registaram 2 casos cada (6.9%).

Quando analisados os anos antes e após o início do conflito, a percentagem está próxima da totalidade em relação à segunda premissa (n-28=96.6%), ou seja, existe um só caso onde a "adesão" aconteceu antes.


Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 4, verifica-se que a idade com maior percentagem de "adesão" ao Partido é 18 anos, com 5 casos (17.3%), seguida dos 20 e 21 anos, com 4 casos cada (13.8%). As idades de 14 e 19, com 3 casos, valem 10.4% cada.

Quando analisada a "adesão" ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre as idades de 18 e 21 anos (55.2%), seguido pelos grupos de idade, entre os 22 e 28 anos (mais velhos), com 8 casos (27.6%). Os mais novos, entre 14 e 16 anos, representam 17.2% (n-5).

Analisada a "adesão" ao Partido entre os 18 e 23 anos, os valores apontam para uma maioria absoluta com 19 casos (65.6%), seguida por 5 casos (17.25) cada nas idades inferiores e superiores às anteriores.


Quadro 5 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a "adesão" individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 5, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a idade mais alta era de 35 anos (n-2) e a mais baixa de 19 anos (n-1). O Cmdt Ansú Bodjan tinha 26 anos, vindo a falecer com 27 anos. À morte do seu líder os restantes elementos teriam a idade assinalada com sombreado azul.


Quadro 6 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a "adesão" ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 6, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a maioria dos combatentes do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-24=82.8%) tinham entre 6 e 7 anos de experiência, enquanto os mais novos de idade (n-4=13.8%) tinham já entre 4 e 5 anos de experiência.


Quadro 7 – distribuição de frequências em relação ao "estado civil" de cada bigrupo

Da análise ao Quadro 7, verifica-se que o número entre "casados" e "solteiros" do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan é favorável aos segundos com mais um caso. Do grupo dos "sorteiros" nascidos após 1946 (n-7=46.7%), mantiveram esse estado civil, pelo menos até final de 1971.

5. CONCLUSÕES


Chegado a este ponto, e partindo da análise aos resultados apurados e apresentados nos quadros acima, é possível concluir que a maioria dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan:

(i) Eram originários da sua região (Oio);

(ii) Nasceram em 1941 e 1943;

(iii) A participação na luta armada iniciou-se em 1963;

(iv) Tinham 18 anos;

(v) Aquando da constituição do CE [, Corpo do Exército,] a idade mais alta era de 35 e a mais baixa de 19 anos;

(vi) Aquando da constituição do CE, o número de anos de experiência na guerrilha variava entre os 7 e os 4 anos;

(vii) Quanto ao estado civil, a diferença entre "casados" e "solteiros" era apenas de uma unidade favorável aos segundos.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
18MAI2018.
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2018 >  Guiné 61/74 - P18638: (D)outro lado do combate (29): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte II (Jorge Araújo)