sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé


Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Há operações que ficaram na nossa memória,por uma razão ou outra, boa ou má...  A Op Mabecos Bravios (retirada do aquartelamento de Madina do Boé, sector L3, de 2 a 6 de fevereiro de 1969) é daquelas que nos marcaram para sempre, pela tragédia que ocorreu na travessia do rio Corubal, em Cheche (ou Ché Ché).  O descritor, Op Mabecos Bravios,  tem já 30 referências no nosso blogue (*). 

Mas faltam aqui ainda outras versões. Como se sabe, continua ainda a haver controvérsia sobre a etilogia do acidente que provocar 47 vítimas mortais. Encontrámos esta versão no livro da CECA (2014), com o valioso testemunho do ex-comandante da infortunada CCAÇ 1790,  o então cap inf José Aparício, hoje cor inf ref.

Corrigimos as datas, que não estão corretas. Mantemos o topónimo Ché Che, usada pela CECA (Comissão para Estudo das Campanhas de África), embora na carta de Jábia o topónimo grafado seja Ché Ché. No nosso blogue temos usado a grafia Cheche (que tem mais de 7 dezenas de referências).

Faz-nos falta ainda, aqui,  um importante testemunho, o do ex-alf mil José Luís Dumas Diniz,  da CART 2338, responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. 

Com a história da pandemia, está por realizar o prometido encontro do nosso editor Luís Graça com ele. Como há tempos escrevemos aqui, uma peça fundamental neste feliz encontro foi (e vai ser) o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz. Enfim, dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer esse encontro a três. O Dumas Diniz vive, a maior parte do tempo, em Coruche, se não erro.


Operação "Mabecos Bravios" , de 2 a 7 de fevereiro de 1968

Forças envolvidas:

CCaç 1790
CArt 2338 (-)
CCaç 2383 
CCAÇ 2403
CCAÇ 2405
CCAÇ 2436
CArt 2440,
CCaç 5 (1 Gr Comb)
Pel Mil 161
Pel Rec Daimler 1258 (-)
Pel Sap /  BCaç 2835

Estas forças, com APAR [, apoio aéreo], efectuaram uma escolta no itinerário Nova Lamego - Madina do Boé - Nova Lamego, pertencente à Zona Leste, Sector L3 [, BCAÇ 2835].

Foi accionada mina A/C no cruzamento de Beli, sem consequências; e foram detectadas e destruídas 2 minas A/C entre Ché Che e Canjadude. Durante a operação, Madina foi flagelada 4 vezes sem consequências.

No regresso, na travessia do rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de 47 militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias).


Guiné > Região de Gabu > Madina do Boé > CCaç 1790 > 5 [?] de fevereiro de 1969 > Missa celebrada pelo Bispo de Madarsuma e Capelão-Mor das Forças Armadas, Brig António Reis Rodrigues (1918-2009) (e também procurador à Câmara Corporativa, na VIII Legislatura, 1961/65, como representante da Igreja Católica).

Foto: Cortesia de CECA (2014), p. 353. (Com a devida vénia)



NOTA:  Acidente no rio Corubal em 6 [e não 8] de Fevereiro de 1969 - Dados fornecidos pelo Tenente-Coronel José Ponces de Carvalho Aparício, à época Cmdt da CCaç 1790 aquartelada em Madina do Boé.

"Na Guiné-Bissau nos anos 60 a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita, como hoje, junto à povoação do Ché Che onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros de 81 mm.

Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portugueses estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de 6 meses) ficavam completamente isoladas.

Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente 2 colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente.

Cada coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.

A travessia do rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo. 

Como segurança do movimento, uma embarcação "Sintex" com motor fora de bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer emergência.

Em Fevereiro de 1969 após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé [,  
Directivas n° 1/68 de 1 Jun, 20/68 de 25 Jul e 59/68 de 26 Dez do Cmdt-Chefe] - sendo que  Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas - foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o comando do agrupamento n" 2957 [, cmdt: cor inf Hélio Felgas]. 

Uma enorme coluna com cerca de 50 viaturas pesadas escoltadas por 2 Companhias de Caçadores, e dois pelotões de autometralhadoras, e com apoio aéreo permanente, chegou a Madina do Boé na tarde de 07  de Fevereiro de 1969.

A esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo.

Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com as toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente; na manhã de 5 [, e não 7,]  de Fevereiro iniciou-se o movimento para o Ché Che, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia. 

Por decisão do comandante da operação, o número de dias previsto para a sua realização foi reduzido de vários dias, para libertar os meios aéreos empenhados; e a travessia do rio Corubal iniciou-se logo de seguida, com inúmeras travessias efectuadas durante a noite com muitas dificuldades e problemas no embarque na jangada das viaturas carregadas ao limite.

Para a realização da operação de evacuação do Boé, foi construída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre 3 canoas. 

Em vez da corda inicial, o movimento da embarcação era garantido pelo "Sintex" com motor fora de bordo amarrado à jangada, do lado de jusante do rio, e operado por um sargento de Marinha requisitado para o efeito. 

A velha jangada esteve sempre acostada na margem direita.

Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados. 

No início da manhã de 6 [e não na tarde de 9]  de Fevereiro de 1969, na última e fatídica viagem, embarcaram a parte que restava dos militares das CCaç 2405 e da CCaç 1790, cerca de 80 a 90 militares. 

A meio do rio, uma aceleração brusca do motor do "Sintex" fez erguer a frente de bombordo da jangada; tendo sido dada logo ordem para reduzir a velocidade, a jangada fez o movimento pendular inverso, desta vez mergulhando ligeiramente no rio a frente de estibordo, as canoas ficaram cheias de água mas o tabuleiro ficou flutuando, com os militares a bordo com água pelos tornozelos.

Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de 47 militares das duas Companhias.

O Comandante da Operação {, cor inf Hélio Felgas,] não permitiu que as duas Companhias [, CCAÇ 1790 e CCAÇ 2405] permanecessem no Ché Che para tentarem recuperar o maior número de corpos possíveis, seguindo por isso logo para Nova Lamego.

O acidente em causa deu origem de imediato a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa no 3.° Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché Che [, pertencente à CART 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Buruntuma, Pirada, 1968/69]
 ".

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Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné -  Livro I  (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 353-355. 
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Nota do editor:

(*) Vd. alguns dos muitos postes sobre este doloroso dossiê:

1 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na
retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)

6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)

13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)

Guiné 61/74 - P21948: Parabéns a você (1937): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21944: Parabéns a você (1936): Gumerzindo Gomes da Silva, ex-Soldaddo CAR da CART 3331 (Cuntima, 1970/72)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21947: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (11): "O Mendes" e "A independência"


1. E assim damos por finda a publicação desta série de memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74) enviadas ao nosso Blogue no dia 29 de Janeiro de 2021:


30 - O MENDES

Era o furriel miliciano enfermeiro da nossa Companhia. Mais do que um camarada, mais do que um camarigo (camarada e amigo) era um camarigueiro (camarada, amigo e companheiro).

A sua ambição civil era estudar medicina mas, circunstâncias da vida, obrigaram-no a adiar o sonho que, todavia, manteve sempre.

Tirada a especialidade foi colocado em Tomar e veio connosco para a Guiné.

A sua competência, calma e humanismo no tratamento dos doentes, civis ou militares, era excecional e, ser tratado pelo Mendes, era cura rápida e certa.

Homem afável, falava baixo e sempre com muita seriedade, sem nunca perder a calma, em particular com os seus subordinados a quem tratava como iguais e que muito o respeitavam.

Já na vida civil, encontrámo-nos casualmente duas ou três vezes e falava-me sempre na possibilidade de se organizar um convívio para rever a rapaziada de que ele tinha saudades. Levou esse convívio 30 longos anos a acontecer e, entretanto, o Mendes tinha-nos deixado.

Lá, onde estiver, saberá com certeza a estima e gratidão que todos nós lhe temos.


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31 - A INDEPENDÊNCIA

Após o 25 de abril, foram estabelecidos acordos com o PAIGC para a transferência dos poderes territoriais.

Em Bissau, antes da independência, só pontualmente se via pessoal do PAIGC, nomeadamente à noite no edifício dos CTT.

As coisas foram sendo feitas gradualmente e com grande descrição até à independência da Guiné-Bissau que, creio, se processou a 10 de setembro de 1974.

Regressei à Metrópole, evacuado, no dia 5 de setembro de 1974 e a minha companhia no dia seguinte.

Nos meses que passei em Bissau, depois do 25 de abril e antes do regresso, assisti a várias manifestações da população, a propósito de tudo e de mais alguma coisa, que normalmente decorriam sob um manto de preocupação ou tristeza o que colidia com o que devia ser a alegria de um povo acabado de ser libertado.

As pessoas acomodavam-se de pé, em camionetas de caixa aberta, deslocando-se em marcha lenta, e recitavam uma ladainha qualquer que não entendia, estando ausente aquela alegria espontânea própria do povo africano, mais parecendo um velório.

Na minha opinião, este comportamento indiciava a consciência de que o caminho da liberdade tinha muitos perigos e incertezas, em particular para aqueles que viviam nas cidades e que de alguma forma beneficiavam com a estadia dos militares portugueses na Guiné, assegurando com alguma facilidade a sua subsistência e a da família, objetivo prioritário em qualquer sociedade.

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21937: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (10): "A evacuação" e "A vida no Hospital Militar de Bissau"

Guiné 61/74 - P21946: Da Suécia com saudade (87): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte I: o grande romancista John dos Passos, com costela madeirense (1896-1970) (José Belo)





John [Rodrigo] Dos Passos, o grande escritor norte-americano, com costela madeirense (1896 - 1970), autor da clássica trilogua "USA", escrita entre 1930 e 1936 (, mais tarde,traduzida para português por Hélder de Macedo, e publicada, em Portugal, pela Portugal Editora em 1946: Paralelo 42 (413 pp.),1919 (463 pp) e Dinheiro Graúdo (574 pp.)... A trilogia "USA" foi consuderada como um dos 100 melhores romances, escritos em inglês, do séc. XX. (LG)

Imagens cedidas por José Belo (2021)


1. Mensagem de José Belo (, o  representante da Tabanca Grandenno Círculo Polar Ártico):

Data:  19 feb. 2021 kl 13:29
Assunto: Filhos de portugueses mas...desconhecidos em Portugal!
 

Quando estudei nos States fui surpreendido pelo desconhecimento em Portugal de alguns descendentes de portugueses por lá famosos.

A um nível intelectual muito elevado existiu, por exemplo ,o JOHN RODRIGO DOS PASSOS, conhecido nos meios culturais Norte-Americanos como John D'os Passos.

Nasceu em 14 Janeiro de 1896 em Chicago/Illinois e faleceu a 28 de Setembro de 1970 em Baltimore/Maryland.

Filho de um rico advogado,  de origem portuguesa,graduou-se na Universidade de Harvard em 1916.

Serviu como condutor de ambulâncias na Primeira Guerra Mundial e, em resultado das suas experiências,  escreveu em 1921 um amargo romance contra a guerra intitulado"Os 3 Soldados".

No pós-guerra viajou,como correspondente de imprensa. Esteve em Espanha e outros países europeus adquirindo entäo um forte sentido histórico de observacäo social. Foi um período que acentuou algumas das suas simpatias radicais.

Com o passar dos anos, gradualmente,o seu subjectivismo tornou-se num realismo objectivo mais vasto e abrangedor.

Considerado um dos maiores novelistas da "Geracäo Perdida" do pós guerra norte-americano, a sua reputacäo como historiador social e crítico da "qualidade da vida" americana surge com o best-seller que foi a sua trilogia -"U.S.A".

Nesta trilogia é posto em destaque a imagem dos Estados Unidos como sendo realmente duas nacöes. Uma de ricos e privilegiados, e outra ,a dos pobres, sem qualquer poder e representacäo política.

Foi uma muito importante e divulgada obra literária que espelhava toda uma época.

Depois de alguns outros romances e intervencöes em acontecimentos políticos da época,  escreveu uma nova trilogia em 1939, 1943 e 1949  "District of Columbia",ainda que menos ambiciosa que a anterior.

Nesta verifica-se a sua desilusäo com os movimentos laborais norte-americanos, com as políticas radicais na generalidade, e o liberalismo característico do modelo político do "New Deal".

Näo será de estranhar que o governo da ditadura portuguesa não se sentísse "confortável" em divulgar este intelectual que era um forte crítico das ditaduras Ibéricas.

É, no entanto, de lamentar que o Portugal democrático posterior não tenha divulgado a trilogia "USA", como seria merecido.
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Notas do editor:

Último poste da série > 18 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21917: Da Suécia com saudade (86): Portugueses ilustres que aqui viveram...antes de mim: 1º Visconde Soto Maior (Rio de Janeiro, 1813 -Estocolmo, 1893) (José Belo)

Guiné 61/74 - P21945: Fotos à procura de... uma legenda (144): Era uma vez um macaco do Cantanhez... Dão-se... "alvíssaras" a quem acertar no nome...


Foto nº 1


Foto nº 1A

Era uma vez, um macaco do Cantanhez...

Foto: Mikko Pyhälä (c. dez 1970 / jan 1971), "Estudantes da escola Areolino Cruz",



1. Caros/as leitores/as: O desafio é simples: de que espécie é este macaco que aparece na foto de um grupo de miúdos da "Escola Areolino Cruz" ?

A única dica que vos damos é sobre o seu habitat, na Guiné-Bissau: o Cantanhez, na região de Tombali, no chão dos nalus...

Dão-se... "alvíssaras", a quem acertar. Na legenda original, o fotógrafo chamou-lhe "vervet monkey", em inglês, mas a nós fica-nos a dúvida... Pela cor da pelagem, não nos parece que seja  um "macaco verde"... Mas o fotógrafo, finlandês, deve ter anotado a designação dada pela população local...

Estamos mais inclinados para outra espécie, de pelagem laranja avermelhada a laranja esbranquiçada... É pena estar de perfil, não se vendo bem a cara e a cabeça... Era fundamental ver-se a cara do nosso parente afastado, mas tão primata como nós... Vê-se que a cauda é longa, escura, cor vermelho ferruginosa...

Há uma outra foto (nº 2), em que se vê melhor a cara do animal... E pela imagem vê-se que não é macaco-cão nem fatango (que era a nossa primeira hipótese)...

Quem sabe como se chama a espécie ? Nome em português e em crioulo? E o nome científico? 

Pode ser que algum/a primatólogo/a nos ajude... Para saber mais, procurar aqui, está cá a resposta:

Guis dos Mamíferos do Parque Nacional do Cantanhez, da autoria de Nicolas Bout e Andrea Ghiurghi (2018, 189 pp., AD - AIN - IBAP - IUCN, ISBN: 9788890894923).



Foto nº 2

Foto: Mikko Pyhälä (c. dez 1970 / jan 1971), "Estudantes da escola Areolino Cruz"... Trata-se de um macaco verde, diz o fotógrafo



"Escola Areolino Cruz" > c. dez 1970/ jan 1971 > Pormenor da foto nº 1 (acima):
um dos miúdos segura uma brochura ou revista cuja capa ostenta o título "Les Etudiants Arabes Révolutionnaires" [Os estudantes árabes revolucionários]... É seguramente uma oferta da delegação da União dos Estudantes Internacionais, de que faziam parte, além do finlandês Mikko Pyhälä, um representante polaco e um um outro, venezuelano. À consideração do Jorge Araújo, e para uma eventual análise crítica detalhada do seu conteúdo: há um vídeo a cores, feito pelo finlandês, sobre essa visita. Disponível aqui. A cores. Infelizmente,  sem som  (26' 12'').


2. A foto [nº 1], acima, é de Mikko Pyhälä, hoje um conhecido diplomata finlandês, reformado, e grande admirador de Amílcar Cabral, da sua vida e obra.  Nascido em 1945, fez uma visita, a convite do PAIGC, a Conacri e ao Cantanhez, integrando uma missão da União Internacional de Estudantes [UIE], em finais de 1970 e princípios de 1971. 

Teve depois um papel importante na organização da visita de Amílcar Cabral à Finlândia em 1971, evento que contribuiu para um mudança da política externa do seu país em relação a Portugal. Seguindo o exemplo dos seus vizinhos escandinavos, a Suécia e a Noruega, a Finlândia passou também por dar "apoio humanitário", a partir de 1972, aos movimentos de libertação africanos, incluindo o PAIGC.

Em 1972, o  Mikko Pyhälä entrou na carreira diplomática.

Guiné 61/74 - P21944: Parabéns a você (1936): Gumerzindo Gomes da Silva, ex-Soldaddo CAR da CART 3331 (Cuntima, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série: 23 de fevereiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21936: Parabéns a você (1935): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21943: (D)o outro lado do combate (65): a morte de Areolino Cruz (Bafatá, 1944-Cubucaré, 1965), professor do ensino básico no Cantanhez (Jorge Araújo)

Citação: Mikko Pyhälä (1970-1971), "Estudantes da escola Areolino Cruz",

(com a devida vénia)

 

 


Citação: Mikko Pyhälä (1970-1971), "Dormitório da escola Areolino Cruz",




O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

A MORTE DE AREOLINO CRUZ OCORREU EM DEZEMBRO DE 1965, DURANTE A «OPERAÇÃO RESGATE» DA FORÇA AÉREA REALIZADA NA REGIÃO DE TOMBALI (CANTANHEZ)

- ERA PROFESSOR DO ENSINO PRIMÁRIO NA BASE DE CUBUCARÉ -

 

1. – INTRODUÇÃO


Promessa feita; promessa cumprida, conforme deixei expresso no P21000 (23.05.2020) - «PAIGC - Quem foi quem: Areolino Cruz, professor do ensino primário, que alegadamente terá perdido a vida ao tentar salvar os seus alunos durante um bombardeamento, em Cubucaré, em 17 de Fevereiro de 1964 (Cherno Baldé / Jorge Araújo)».(*)


De facto, a data acima não poderia estar correcta, fazendo fé em documentos rubricados pelo próprio Areolino Cruz, encontrados com datas posteriores, relativos ao desempenho da sua actividade de professor, em Cubucaré, razão para ter suscitado este "mistério".


Daí que, com a presente narrativa pretendemos esclarecer, em definitivo, este enigma, onde fazemos questão de cumprir o que havíamos prometido: (sic) "logo que saiba da verdadeira data e factos relacionados com a sua morte, faremos um texto com uma pequena biografia… para memória futura". (**)


Areolino Cruz, de nome completo: Areolino Lopes da Cruz Júnior, filho de Augusto Lopes da Cruz e de Domingas da Rocha Cruz, nasceu em 14 de Janeiro de 1944 (6.ª feira), em Bafatá. Morreu, como se infere da nossa investigação, em Cubucaré, na Região de Tombali (Cantanhez), entre 17 e 20 de Dezembro de 1965, de acordo com as circunstâncias relatadas no ponto 3 deste texto.


Eis, então, o que conseguimos apurar.


2. – DIVULGAÇÃO OFICIAL DA OCORRÊNCIA


A notícia da morte de Areolino Cruz foi divulgada no Boletim mensal «LIBERTAÇÃO», Órgão de informação oficial do PAIGC, edição n.º 62, Janeiro de 1966, classificado de "número especial". O texto que abaixo citamos foi retirado da página 11.

 



O CAMARADA AREOLINO CRUZ MORREU NO SEU POSTO


Atingido gravemente durante um assalto colonialista às regiões libertadas do sul, caiu no seu posto o camarada Areolino Cruz, responsável da Educação e do Estado Civil no Comité Regional de Catió.


O camarada Areolino, que teve perante o inimigo um comportamento exemplar, impondo-se a todos os companheiros pela sua coragem e pelo seu sacrifício, foi ferido quando tinha passado o momento mais crítico da batalha, morrendo poucos instantes depois.


Tendo feito estudos liceais em Bissau e Portugal, o camarada Areolino, que contava apenas 22 anos de idade [incompletos], participou, logo após a sua admissão no Partido, nas primeiras missões de reconhecimento no nordeste do país, integrado numa formação de guerrilha. Tendo beneficiado posteriormente de uma bolsa de estudos, o nosso camarada foi durante algum tempo estudante da Universidade de Leninegrado.

 

 


A morte do camarada Areolino Cruz é uma grande perda para a nossa luta. O nosso camarada, que compreendeu progressivamente a razão do nosso Partido, tornou-se num dos melhores e mais dinâmicos militantes do sul do país, onde a sua acção muito contribuiu para o desenvolvimento da instrução. O seu nome fica, de resto, estreitamente ligado à acção do nosso Partido nesse domínio, pois foi o camarada Areolino que fundou, em Cubucaré (Chão dos Nalus) a primeira escola do Partido.


O nome do camarada Areolino Cruz ficará registado, para sempre, na memória de todos nós, inspirando a nossa coragem e determinação e reforçando a nossa dedicação ao Partido e à gloriosa luta de libertação do nosso povo.

 




Citação: (1966), "Libertação", n.º 62, Ano 1966, Janeiro de 1966,

Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Vasco Cabral
 

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44415 (com a devida vénia).


2.1 - CARTA DE CONDOLÊNCIAS ENVIADA POR LUÍS CABRAL A NINO VIEIRA, CMDT DA FRENTE SUL, EM 05JAN66


Luís Cabral (1939-2009), ao ser informado das diferentes ocorrências que envolveram a estrutura militar acantonada na região de Tombali (Cantanhez), e em substituição do Secretário-Geral, Amílcar Cabral (1924-1973), que à data se encontrava em Cuba, a fim de participar na «Primeira Conferência Tricontinental - Havana 1966», agendada para decorrer entre 3 e 15 de Janeiro, tomou a iniciativa de escrever uma carta a Nino Vieira, responsável pela Frente Sul, lamentando todas as más notícias, em particular as perdas humanas, onde, de entre elas, estava incluído o Areolino Cruz.


Do documento de duas páginas, citamos apenas os primeiros quatro parágrafos, precisamente aqueles que se relacionam com o presente objectivo.


Conacri, 5 de Janeiro de 1966 (4.ª feira)


Caro camarada NINO,


"Fazemos votos para que tu e os camaradas estejam gozando óptima saúde e prontos para darem mais um passo em frente na luta gloriosa pela libertação do nosso povo.


Lamentamos profundamente a morte dos camaradas e elementos do povo, durante os bombardeamentos que vocês sofreram na semana de 16 a 23 de Dezembro [p.p.]. Era de esperar que esta teria de ser forçosamente a reacção do inimigo, depois das perdas que sofreu durante a época das chuvas, em todos os pontos da nossa terra.


Estamos certos de que os bombardeamentos que vocês fizeram aos quarteis inimigos tiveram resultados positivos e que com os meios de que dispomos agora, vocês poderão intensificar essa acção, de grande interesse para a insegurança e desmoralização do inimigo.

Os camaradas de Cubisseco têm de reforçar o cerco ao inimigo e a vigilância para evitar que façam vitimas nos momentos de desespero." (…)

 


Citação: (1966), Sem Título, 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35063 (com a devida vénia).

 

3. – A «OPERAÇÃO RESGATE» DA FAP E OS SEUS FUNDAMENTOS

Como suporte documental, e bibliográfico, socorremo-nos do trabalho de investigação de José Matos. «A guerra das antiaéreas na Guiné (1965/1970), divulgado no P16968, cujo original está publicado na Revista Militar n.º 2601, de Outubro de 2018, citando, na íntegra, o texto que está relacionado com o histórico sobre este ponto:

 


Os primeiros ataques à antiaérea do PAIGC

Decisão:


A Força Aérea apercebe-se do problema em finais de 1965 e, rapidamente, o Comando da Zona Aérea de Cavo Verde e Guiné (ZACVG) lança uma operação de ataque para eliminar a ameaça. Em Dezembro de 1965, são mobilizados vários meios aéreos para a execução da «Operação Resgate». Dois aviões de patrulhamento marítimo P2V5 Neptune vindos da Ilha do Sal juntam-se, em Bissalanca, na Base Aérea n.º 12 (BA12), a um C-47 Dakota adaptado para bombardeamentos nocturnos, doze T-6G, um Dornier Do-27 e a um Alouette III.


A operação começa na noite de 17 de Dezembro de 1965 (6.ª feira), com o sobrevoo das posições da guerrilha na zona de Cafine pelo C-47 e o lançamento de granadas iluminantes. A guerrilha responde de imediato com fogo antiaéreo, sendo então bombardeada pelos P2V5 equipados com bombas de 750 libras (325 kg). Os bombardeamentos continuam ao longo da noite em mais três vagas de ataque e prolongam-se na noite de 19 de Dezembro (domingo), embora aí já sem resposta da guerrilha, tendo a operação terminado no dia seguinte (2.ª feira). Embora a reacção antiaérea tenha sido significativa, há apenas a registar, durante a operação, dois impactos em dois T-6G e um impacto num P2VC5, em ambos os casos sem consequências. (…)


4. – SÍNTESE BIOGRÁFICA DE AREOLINO CRUZ (19 / 22 ANOS)

       - FACTOS NARRADOS NO TEXTO OFICIAL


4.1 - EM 05JAN63 > INSCRITO NO ESTÁGIO DE JORNALISMO NO SENEGAL E BOLSA DE ESTUDOS PARA CURSAR MEDICINA


Dakar, 05 de Janeiro de 1963 (sábado)


Relatório sobre o trabalho do Bureau do PAIGC em Dakar, assinado por José E. Araújo

 



Citação: (1963), "Relatório sobre o trabalho do Bureau do PAIGC em Dakar", 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41403 (com a devida vénia).

 

4.2 - EM 10JUL63 > NA GUERRILHA COM NORBERTO ALVES (PIRADA)


 Pirada, 10 de Julho de 1963 (4.ª feira)

Caro [Pedro] Pires,


Saúde em primeiro lugar e acima de tudo. Nós vamos indo bem graças a Deus. O portador desta carta é um camarada que se encontra doente talvez por causa da frieza. Ele costuma ter dores na região lombar (?). É preciso tratá-lo bem para que ele possa voltar depressa porque é um elemento precioso para a nossa zona e é adjunto do nosso responsável. Ontem quando voltámos da sabotagem que fomos fazer em Pirada ele foi atacado fortemente por tal doença que só muito dificilmente pôde marchar em braços. Fomos obrigados a sair do mato essa noite e entregá-lo numa tabanca vizinha pois que chovia torrencialmente e ele não podia de modo nenhum estar exposto à intempérie… (P20994).

 


Citação: (1963), Sem Título, 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_36865 (com a devida vénia).

 

4.3 - EM 30SET63 > COMO ESTUDANTE EM LENINGRADO - CHEGADA

Leningrado, 30 de Setembro de 1963 (2.ª feira)


Caro Luís [Cabral]


Faço votos ardentes que esta lhe encontre desfrutando duma óptima saúde, bem como todos os camaradas. Eu vou indo bem graças a Deus, após uma boa viagem. Começo por lhe apresentar as minhas desculpas por não ter escrito há mais tempo a dar notícias mas devo-lhe dizer que estive durante uma semana em Moscovo, sem saber o enderenço que havia de enviar, uma vez que me encontrava provisoriamente sem saber o tempo limite. Actualmente como já deve ter notado, encontro-me em Leninegrado [São Petersburgo após 1991] na Faculdade Preparatória de Línguas. (…)

 


Citação: (1963), Sem Título, 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral
 

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_36462 (com a devida vénia).


4.4 - EM 17JUN64 > COM "GUIA DE MARCHA" PARA A "ZONA 11" A/C DE NINO VIEIRA


Conacri, 17 de Junho de 1964


"Vai o camarada Areolino Cruz apresentar-se ao camarada João Bernardino Vieira (Nino) na zona 11, para ser integrado nos serviços de instrução (ensino) no chão dos Nalus. O camarada Areolindo Cruz, que era estudante e tomou parte activa no complô contra o Partido, está sujeito a uma sanção suspensa de expulsão do Partido. Por isso, não tem quaisquer direitos de membro do Partido e deve ser rigorosamente controlado pelos responsáveis. Deve ser enviado um relatório mensal sobre a sua conduta, ao Secretário-Geral."

 


Citação: (1964), "Guia de Marcha", 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, 

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_36462 (com a devida vénia).


4.5 - EM 22JUL64 > COMO PROFESSOR DO ENSINO PRIMÁRIO NA BASE DE CUBUCARÉ


Zona Sul [Cubucaré?], 22 de Julho de 1964 (4.ª feira)


Requisição de material escolar rubricada por Areolino Cruz

 


Citação: (1964), "Requisição de material de ensino", 
Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral,  

Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40014 (com a devida vénia).

Sem mais…

► Fontes consultadas:

(1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07177.062. Título: Libertação. Número: 62. Ano: 1966. Data: Janeiro de 1966. Directores: Amílcar Cabral, Luís Cabral, Vasco Cabral e Dulce Almada. Observações: Órgão do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabra – Vasco Cabral. Tipo Documental: IMPRENSA.


 

Ø  (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04618.082.008. Título: Lamenta a morte de camaradas e elementos do povo durante os bombardeamentos. Remetente: Luís Cabral. Destinatário: Nino Vieira. Data: Quarta, 5 de Janeiro de 1966. Observações: Doc incluído no dossier intitulado correspondência dactilografada (de Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  (3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07075.147.014. Assunto: Relatório sobre o trabalho do Bureau do PAIGC em Dakar. Assunto: Relatório assinado por José Eduardo Araújo, remetido ao Secretariado Geral em Conacri, sobre o trabalho do Bureau de Dakar. Contactos oficiais, tentativa de conseguir audiências junto das autoridades do Senegal. Publicações do Bureau, nota de imprensa, discursos de Amílcar Cabral, declaração de Dezembro de 1960, dois últimos comunicados, etc.; vinda da Dulce [Almada] para o Boletim e programa de rádio. Enfermeiro de Ziguinchor. Inscrição de Areolino da Cruz no estágio de jornalismo. Questões dos ex-militares do exército colonialista. Oportunistas, regresso do Labery, Có e Mendy em Marselha; Barre, "Union des Forces Progressistes Capverdiennes". Lourenço [Gomes], requisição de fundos para missão. José Eduardo Araújo, bolsa de estudos. Data: Sábado, 5 de Janeiro de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Relatórios XI 1961-1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04611.061.015. Assunto: Informações sobre doença do portador da carta. Sabotagem em Pirada. Pedido de ajuda financeira para alimentos e munições. Borges, Bebiano, Konko. Remetente: Areolino Cruz, Kanfrandi Ká. Destinatário: Pedro Pires. Data: Quarta, 10 de Julho de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Correspondência manuscrita 1961-1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  (5) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04619.102.034. Remetente: Areolino Lopes da Cruz. Destinatário: Luís [Cabral]. Data: Segunda, 30 de Setembro de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Correspondência 2.º semestre 1963 (interna PAIGC). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  (6) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04606.045.074. Título: Guia de Marcha. Assunto: Guia assinada por Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, fazendo seguir Areolino Cruz para se apresentar a João Bernardo Vieira (Nino), na Zona 11. Data: Quarta, 17 de Junho de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografados enviados por Amílcar Cabral 1960-1967. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (7) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07065.084.016. Título: Requisição de material de ensino. Assunto. Requisição de material de ensino, assinada por Areolino Cruz, para a zona Sul. Data: Quarta, 22 de Julho de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Material militar 1964-1965. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

 

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

08Fev2021
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Guiné 61/74 - P21942: Projecto de livro autobiográfico, de António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) (8): O valor da seringa

1. Do projecto de livro autobiográfico do nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74) a lançar oportunamente, publicamos hoje a última estória desta série enviada a 7 de Fevereiro de 2021 ao nosso Blogue.


8 - O VALOR DA SERINGA

Faltava sempre alguma coisa, na hora da rendição, fossem os atacadores de umas botas, o testo de uma panela, uma cavilha da G3, ou até a culatra de um obus. Quando havia um ataque a um aquartelamento era relativamente fácil, no respetivo auto, incluir a perda de parte de um produto, de um elemento de um qualquer equipamento ou mesmo considerar a sua destruição integral. Na tropa chamava-se a isso o desenrascanço, umas vezes seria uma forma expedita de alguém se livrar da injustiça de pagar por algo de que não tinha sido responsável, mas, nalguns casos não era senão uma vigarice para encobrir furtos.

Quando cheguei a Mampatá tive que acusar a receção de uma série de equipamentos onde se incluía um atrelado sanitário, material para pequenas cirurgias, seringas e outras miudezas. O meu antecessor queria que eu assinasse tudo, quase sem ver e, não sei se propositadamente, deixou tudo para o último dia, o dia de todos as pressas. Fui muito claro e franco:
- Venho avisado para o comportamento costumeiro das rendições, sei que vão faltar algumas pequenas coisas, aliás de pouca monta, como já confirmei, também não sou pessoa para estragar a vida a ninguém, quero por isso que me apresentes uma relação escrita do que falta, só para meu uso pessoal.
Assinei então o auto de receção, confirmando a existência da carga sem qualquer falta, permitindo que o meu camarada regressasse a Lisboa sem problemas. Ele dizia-me que já assim tinha acontecido aquando, dois anos antes, da rendição, entre ele e o seu antecessor.

Nenhum prejuízo resultou da falta daqueles objetos, alguns deles já em desuso, razão pela qual não fazia sentido adotar outra atitude eventualmente mais rígida. Mais tarde, pensava eu, logo se veria a volta a dar ao problema. Os meses foram lentamente passando sem que eu me quisesse sujeitar a pedinchar ao Sargento e ao Capitão da Companhia a colaboração na elaboração de um auto de destruição de forma a que o material em falta fosse abatido à carga. Fui empurrando com a barriga, porque, naquelas circunstâncias, quanto mais tarde melhor, e eu até podia, com o meu dinheiro, comprar o material em falta, quando julgasse oportuno, que não era nenhuma fortuna.

A inesperada chegada do 25 de Abril, quase concomitante com o fim da comissão, veio, num primeiro momento, facilitar-me a vida, porque, julgava eu, que acabada a guerra, já não me teria que submeter à operação da transmissão dos materiais a nova companhia, mas, simplesmente, seria feita a doação de todo o equipamento e medicamentos remanescentes aos representantes do novo governo. Enganara-me, o material seria ainda entregue a uma companhia recém-chegada ao território. De pronto, evitando a sujeição aos trâmites burocráticos da tropa, encarreguei o meu amigo 1.º Cabo Enfermeiro Celso Mendes, de, na sua ida a Bissau para uma consulta, adquirir com o meu dinheiro, o material em falta, livrando-me de qualquer problema, aquando da rendição da nossa companhia ou de fazer a outrem o que não gostaria que a mim me fizessem. Por outras palavras: quando o dinheiro puder resolver não devemos, por causa dele, arranjar problemas de consciência ou outros.

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21935: Projecto de livro autobiográfico, de António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) (7): O milagre de Nhacobá