sexta-feira, 16 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22107: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (10): a nossa insólita, brejeira e alegre Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas (Mário Gaspar)


Lisboa > Freguesia de São Vicente > 2021 > Topónimos lisboetas > O Jardim / Largo das Pichas Murchas fica junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé,  

Fotos e texto: cortesia de Valter Leandro (2021)


1. Estamos a escassos dias de completar 17 (dezassete!) anos de existência, em 23/4/2021... Mas não temos (, eu não tenho,  para além do facto de estarmos vivos), grandes motivos para celebrar a  efeméride (o 17º aniversário do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné): 

(i) ainda não nos livrámos da trágica pandemia de Covid-19, com todas as funestas consequências que está a ter em termos individuais e coletivos: já morreram  mais portugueses, no espaço de 12 meses, do que em toda a guerra colonial /guerra do ultramar (falando só de militares portugueses): 

morrreram,de Covid,  até à data, cerca de 17 mil portugueses, contra 9 mil vítimas mortais na guerra colonial (e nesses 17 mil estão membros da Tabanca Grande, estão muitos outros antigos combatentes cuja identidade desconhecemos, estão familiares, amigos, vizinhos...);

(ii) a geração dos antigos combatentes está só agora a ser vacinada, esperando-se em breve a imunização dos grupos estários da população de maior risco (os de 60 e mais anos) que contribuiram para mais de 95% da mortalidade por Covid-19 até à data;

(iii) estamos ainda confinados e privados do convívio, seguro e saudável, com os nossos "mais queridos": família, amigos, camaradas, tabanqueiros;

(iv) enfim, mantém-se a perspetiva de termos, em 2021, mais um "annus horribilis", como o de 2020, embora com uma luzinha ao fundo do túnel...

Alimentar o blogue todos os dias é quase tão difícil como  alimentar uma casa de família em época de crise... E nós fazêmo-lo, a nossa pequena equipa,  há 17 anos... com pandemia ou sem pandemia, com crise ou sem crise, com vacina ou sem vacina, quer faça sol, quer faça chuva...

No princípio deste ano criámos esta nova série, "Usados & Achados", apelando ao sentido de "humor de caserna" da nossa velha guarda, com o intuito de nos ajudar, a todos, a  carregar as baterias da resiliência e da esperança de modo a podermos (a começar pela nossa Tabanca Grande)  a resistir e sobreviver, com inteligência, arte e engenho. 

Este ano de 2021 marca também os  60 anos do início da guerra colonial, ou guerra do ultramar, ou guerra de África (como cada um quiser chamar-lhe).

Os nossos camaradas mais velhos, que foram para Angola, logo em abril de 1961, "rapidamente e em força", estão agora já na casa dos 80...E os "periquitos", os "checas", os "maçaricos", os que fecharam as portas do império, em 1974 e 1975, também já não são "Sexas", estão todos a entrar nos Setentas,. são pois Septuas...

Com o peso de tantos anos (e das "medalhas da guerra e da vida") e com as apreensões que nos batem à porta (a começar pelas mazelas do corpo e da alma...), temos que saber aprender a "sorrir com meia cara", já que a parte inferior anda tapada, há muito, com a máscara sanitária...


2. Esta série , "Usados & Achados", não teve, contudo, o sucesso esperado, tínhamos a expectativa de conseguir maior colaboração dos nossos autores com talento humorístico... 

Hoje chega-nos o contributo do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com cerca de 125 referências no nosso blogue).

O Mário contnua a mandar-nos imenso correio, com mensagens que cabem dentro do seu vasto e eclético leque de interessses, extravasando naturalmente o "core business" do nosso blogue... É de destacar, por exemplo,  a sua colaboração regular no boletim "O Olhar do Mocho", da Associação Cultural e Social de Seniores de Lisboa. No último número,o 68, de abril de 2021, tem um artigo sobre o pensador Agostinho da Silva.


Mas é sobre outro tema, que vamos falar, e que queremos enquadrar na série "Usados & Achados". O Mário Gaspar mandou-nos uma cópia de um artigo deveras curioso sobre a Lisboa que muitos desconhecem, mesmo os lisboetas... Aqui vão alguns excertos, selecionados por ele, e que reproduzimoa com a devida vénia ao autor (do texto e das fotos):

Lisboa Secreta > 24 de fevereiro  de 2021 > Sítios insólitos em Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas, by Valter Leandro


(...) Muitos sorrisos e gargalhadas já arrancou a placa do Jardim das Pichas Murchas, ali para os lados do Castelo, junto à Rua de São Tomé.

(...) O jardim foi batizado por um calceteiro da autarquia, chamado Carlos Vinagre, que adorava fazer troça dos muitos idosos que ali se juntavam. Os mais puritanos ainda tentaram mudar o nome ao jardim que também é largo, mas o povo uniu-se e acabou por ficar assim até aos dias de hoje.

(...) Junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé, este Jardim/Largo das Pichas Murchas pertence à Freguesia de São Vicente, a caminho do castelo, e atualmente todos os que por lá passam, novos e velhos, homens e mulheres, gostam desta designação. Como é uma zona onde se costumam juntar muitas pessoas para beber uns copos ao final da tarde, ou durante a hora da bucha, para quem está a trabalhar pelas redondezas, mas também onde muitas vezes se reuniam pessoas mais velhas, para dois dedos de conversa ou para jogar às “sueca”.

(...) E, além de tudo, são agora os turistas, que sabendo o que este nome significa, fazem as mais
variadas poses fotográficas para mostrar, nos seus países, esta característica placa toponímica.

É também neste pequeno largo que, por altura dos Santos Populares, se costuma montar um daqueles restaurantes improvisados, devidamente preparados para a maior festa popular de Lisboa. (...)

(...) Muito perto do Jardim das Pichas Murchas, na Rua de São Tomé, uma das mais pisadas por visitantes de todas as partes do globo, fica ainda uma homenagem de Vhils à nossa maior fadista Amália Rodrigues. Este mural fica numa pequena praceta junto à Calçada do Menino Deus e foi todo desenvolvido com as típicas pedras da calçada portuguesa.  (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2021 > Gué 61/74 - P22006: Usados & achados (9): pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (9): Morra o Eça (de Queiroz)!, viva o Caldo (Verde)!

Postes anteriores:

21 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21926: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (8): O casqueiro nosso de cada dia... ou a feliz história do Jobo Baldé, o improvável padeiro do Mato Cão, que nos matou... a malvada (Luís Mourato Oliveira,ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21866: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (7): Receita caseira de Bourbon County, Kentucky, USA... Enquanto se aguarda a vacinação contra a Covid-19... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

4 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21851: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (6): A web câmera, em tempo real, de Karesuando, a localidade mais ao Norte da Suécia e na área da minha casa, município de Kiruana: o pior confimamento... é o da noite escura de 24 horas (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

28 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)

21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21791: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (4) A 'descoberta' da Índia

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21785: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (3) O luso-lapão

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21783: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (1) O leite; (2) A cura

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22106: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte I: A variável "clima" (Jorge Araújo)


Foto 1 > Frente Leste (?) > Citação: (1973), "II Congresso do PAIGC, na Frente Leste", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44167, com a devida vénia.


Foto 2 > Frente Leste (?) > Citação: (1973), "II Congresso do PAIGC, na Frente Leste", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44248, com a devida vénia.


Foto 3 > Madina do Boé (?) > Citação: (1973), "Lucette Cabral, Aristides Pereira, Victor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43272, com a devida vénia.



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem cerca de 290 referências no nosso blogue.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

UM OUTRO OLHAR SOBRE O 'BOÉ': LOCAL "MISTERIOSO" DA PROCLAMAÇÃO SOLENE DO ESTADO DA GUINÉ-BISSAU, EM 24 DE SETEMBRO DE 1973, EM PLENA ÉPOCA DAS CHUVAS


PARTE I

- A VARIÁVEL "CLIMA" COMO "QUESTÃO DE PARTIDA" - 


1.   – INTRODUÇÃO


Estão prestes a completar quarenta e oito anos os dois acontecimentos planeados pelo PAIGC que, do ponto de vista histórico e da dinâmica política da época, acabaram por influenciar as duas dimensões do conflito: a militar e a diplomática, ambas dependentes de diferentes apoios internacionais [OUA e ONU, enquanto decisores supremos], com o propósito de pôr um ponto final no "Império Colonial" de Portugal, através do reconhecimento da independência, neste caso, da dita Província Ultramarina da Guiné.   


O sucesso da estratégia supra, concebida pelo ideólogo Amílcar Cabral (1924-1973) antes do seu assassinato em Conacri, ocorrido em 20 de Janeiro de 1973, sábado, passava pela organização de um «Congresso (II)», evento que serviria para legitimar a realização da «I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau», durante a qual seria, de modo unilateral, proclamado o nascimento de uma nova Nação / Estado: a República da Guiné-Bissau.


Os dois exemplos identificados acima ficaram registados na Cronologia da História do conflito como tendo sido organizados, o primeiro, entre 18 e 23 de Julho de 1973; o segundo, em 23 e 24 de Setembro do mesmo ano. 


Quanto aos locais da sua realização, a literatura refere que o «II Congresso» teve lugar algures na "Frente Leste" [fotos 1 e 2], enquanto o da «I Assembleia Nacional Popular» é mais preciso, indicando "Madina do Boé" [foto 3], complementado com o conceito "região libertada".


Decorridas quase cinco décadas, os dois eventos continuam envoltos em "grande mistério", nomeadamente o último, pela ausência de factos, credíveis e seguros, que possam certificar cada uma das narrativas… e são muitas! (vd. P21956 e P15790).


Para clarificação desses "factos" da História, uma vez que se aceita 'a versão' de estarem mal contados (por fazerem parte duma estratégia de/da propaganda), seria interessante, e importante, ter respostas a questões tão básicas como, por exemplo, as referentes a: 


(i) - Logística: a) alimentação; b) dormidas; c) higiene; d) transportes; e) energia eléctrica; f) comunicação; g) segurança; 


(ii) - nome dos observadores; 


(iii) - instituições representadas; 


(iv) - convidados; 


(v) - repórteres de imagens; 


e outras, e, em particular, a relacionada com o (vi) - "clima", pois os dois encontros aconteceram em "plena época das chuvas".


Para contextualização desta última questão, objecto de análise da "Parte I" (questão de partida), socorremo-nos de depoimentos escritos na primeira pessoa, por elementos de ambos os «lados do combate», insuspeitos, como são os casos do Cap Mil Inf Jorge Monteiro, Cmdt da CCAÇ 1416, e Umaro Djaló, Cmdt militar do PAIGC na região do Boé.


2.   – O CLIMA E A GEOGRAFIA NA REGIÃO DO BOÉ EM 1966

    - A NARRATIVA DO CAP MIL INF JORGE MONTEIRO - CCAÇ 1416


No livro «Uma Campanha na Guiné, 1965/1967», da autoria de Manuel Domingues, encontramos um depoimento do Cap Mil Inf Jorge Monteiro, Cmdt da CCAÇ 1416 (Nova Lamego; Madina do Boé; Béli e Ché-Che - 1965/1967), unidade que esteve aquartelada em Madina do Boé, entre 4 de Maio de 1966 e 10 de Abril de 1967 (onze meses), sobre a pergunta: "AFINAL O QUE É MADINA DO BOÉ?". A resposta encontramo-la no poste abaixo, da qual retirámos alguns excertos.

 


(i) - O BOÉ, a zona mais pobre de toda a Província, sofre a inclemência impiedosa do tempo que vai de Maio a Setembro, com chuvas torrenciais continuas que alagam por completo a região vedando portanto qualquer tipo de plantio para a agricultura mesmo arcaica. Só lá havia a minha companhia [CCAÇ 1416], completamente isolada nessas alturas do mundo circundante, a tal ponto que só podíamos ser abastecidos de paraquedas." (…)


(ii) - "Eu, que vivi em MADINA [do Boé] durante onze meses [de 4 de Maio de 1966 a 10 de Abril de 1967], que constatei a inutilidade daquele chão, o clima inóspito, a desolação desértica, sei que Madina não vale sequer a chuva que lá cai. E eu que me apercebi duma certa coerência por parte de quem norteava a táctica das guerrilhas do PAIGC, não posso sequer admitir que até eles apregoem Madina, uma autêntica fossa, como capital do seu orgulhoso desiderato. Se isso for verdade, se de facto eles dizem isso, então nem sequer é um grito de liberdade, mas apenas um facto ridículo, caricato até, mesmo para os olhos de quem confere as guias de despacho do armamento que eles utilizam." (…)

(iii) - "O Boé tem solo muito pouco permeável, sem elevações consideráveis e consequentes declives escoatórios causando portanto a estagnação da água… São dezenas e dezenas de quilómetros de área inundada charco imenso de que apenas as rãs parece acharem uma justificativa. Quando tínhamos uma operação, fosse de que tipo fosse, andávamos com água pela cintura. Há por lá muitos riachos e rios pequenos, mas quando a chuva cai, tanto faz caminhar pela estrada, pelo capim ou pelo leito dos rios: o "boal" imenso é raso, e a água nem sequer é mais alta aqui ou acolá. O nível é sempre igual, como se a Natureza caprichasse em transferir para ali toda a inutilidade que a chuva possa querer significar na Guiné." (…)


(iv) - "Acontece, contudo, que tínhamos uma vantagem: a exemplo do sol, a chuva quando vem também é para todos e assim os elementos do PAIGC tinham precisamente os mesmos problemas. " (…)


(v) - "Concluiu-se, portanto, que o bombardeamento sobre Madina era contínuo e eles próprios lá iam esburacando as casas, já por si a cair de podres. Pouco ficou, e se implantaram lá a Independência, então meteram água pela certa, pois não há qualquer tecto que os proteja da chuva… Madina do Boé, cinco casas esventradas, pântano perpéctuo, chão inútil. A capital do PAIGC."



3.   – O CLIMA E A GEOGRAFIA NA REGIÃO DO BOÉ EM 1965

    - A NARRATIVA DE UMARO DJALÓ - CMDT DO PAIGC NA REGIÃO



Em segundo lugar, foi seleccionado o depoimento de Umaro Djaló, cmdt militar da guerrilha na região do Boé, recuperado do comunicado remetido, por si, à Direcção do Partido em Agosto de 1965, onde refere as difíceis condições da sua missão, em razão do clima observado na "época das chuvas", cujo teor passo a citar:

▬ Madina do Boé, 14-8-1965 (sábado)

Secretariado-Geral do PAGC

Comunico à Direcção Geral do nosso Partido que na noite do dia 09 de Agosto, 2.ª feira, foi sabotado o quartel de Madina [do Boé] com três morteiros e bazucas.

Depois de estudadas concretamente todas as condições favoráveis e desfavoráveis do terreno que encontrámos, decido tomar todas as medidas preventivas para explicar à Direcção do nosso Partido que a condição para fazer qualquer trabalho de sabotagem ou ataques é completamente impossível.

● 1 – Todo o rio [Corubal] está completamente cheio de água e corre a uma velocidade que não permite passar nem um objecto que não seja levado pela água.

● 2 – Não temos uma base onde podemos passar pelo menos a chuva a não ser na fronteira da República da Guiné (-Conacri); torna-se impossível passarmos somente dois dias no interior do país para preparar ao menos uma sabotagem de três dias, devido a ordem dada pelo Secretário-Geral de não construir bases nenhuma para o exército.

● 3 – Não temos onde preparar a comida debaixo da chuva.

● 4 – Não há um meio que pode garantir o socorro urgente dos feridos; as estradas são impraticáveis nesta altura.

● 5 – O arroz que temos aqui não será suficiente para o período de um mês; o mesmo problema se põe em relação às munições.

Para mais concretizar estas informações, pode perguntar ao camarada chofer do camião.

Feito em Madina do Boé; o comandante; Umaro Djaló.

  





Citação:
(1965), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39170, com a devida vénia.

 

4.   – O MAU TEMPO NO XIME EM 16 SETEMBRO DE 1972

    - A NARRATIVA DE JORGE ARAÚJO - CART 3494


Ainda sobre a "época das chuvas", aproveito para referir uma experiência pessoal (16Set72) que faz parte das minhas "memórias" da Guiné, já narrada no poste abaixo.




(…) O sábado, 16 de Setembro de 1972, estava a ser um dia normal, em que cada um de nós fez o que tinha a fazer, cumprindo as diferentes tarefas no quadro da organização militar – internas e externas – com destaque para a segurança à Ponta Coli, às embarcações civis que sulcavam o rio Geba e à vigilância do aquartelamento feita a partir dos postos colocados em locais estratégicos.

Por outro lado, a Guiné tem um clima tropical o que significa que tem duas estações distintas – a "estação das chuvas" e a "estação seca". A primeira inicia-se em meados de Maio e a segunda em meados de Novembro, pelo que cada estação completa um ciclo de seis meses. Daí que Setembro é um mês que faz parte da primeira estação – a das chuvas – em que as precipitações são geralmente abundantes. (…)

A noite tinha chegado e os ventos fortes transportavam cada vez mais nuvens, dando origem à queda de
água com grande abundância. Estava uma noite verdadeiramente tropical. O contacto directo com este fenómeno da natureza metia respeito a qualquer um de nós, e como diz o povo: "era de meter medo ao susto". Os trovões eram cada vez mais fortes, fazendo abanar os telhados de chapa dos edifícios ali à volta, enquanto os raios rasgavam, à nossa frente, o céu do Xime, iluminando todo o espaço físico do Aquartelamento. Ainda assim a experiência estava a ser pedagogicamente interessante e daí a termos gravado na memória de longo prazo, e agora passada a escrito. (…)


5.   – O MAU TEMPO NA GUINÉ-BISSAU EM SETEMBRO DE 2020

    - A NARRATIVA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL - RISPITO


Depois de três relatos datados de 1966, 1965 e 1972, respectivamente, os valores de precipitação pluvial na Guiné-Bissau, em Setembro, continuam a ser elevados, como provam as notícias divulgadas na Comunicação Social, estas alusivas ao ano de 2020. 

 




(continuação da notícia acima).


Cherno Mendes, dos serviços da meteorologia e responsável pela divisão da previsão disse à Lusa que "o pior ainda pode estar para vir", salientando que as autoridades esperam um "ano húmido" em que 

deve chover na Guiné-Bissau como só se viu há 30 anos. Normalmente, na Guiné-Bissau a chuva começa a perder a intensidade a partir do mês de Agosto, mas este ano, a meteorologia avisou que Setembro e Outubro poderão ter muita precipitação.

A Lusa percorreu várias zonas do centro de Bissau e dos subúrbios onde constatou a população desesperada, a repetir gritos de socorro pelos campos de cultivo do arroz completamente inundados, casas caídas ou quase a cair, dada à intensidade de chuvas.

Nos bairros de Cuntum Madina, Plubá e Djogoró, subúrbios de Bissau, onde a população vive da agricultura, as 'bolanhas' (campos de cultivo do arroz) têm mais água que o cereal plantado em Maio, logo com a chegada da época das chuvas, na esperança de colher agora em Setembro.

Em Djogoró, além das 'bolanhas' inundadas, a água cobriu por completo as minas de sal, outra fonte do sustento das mulheres.

As duas faixas das "bolanhas" de Djogoró, que têm uma estrada asfaltada pelo meio e que ainda resiste à força das chuvas, agora só servem para as crianças tomarem banho ou pesca à linha, dada a quantidade de água cor de barro que aí se encontra parada. As crianças divertem-se naquelas águas, sem se preocuparem que ali ao lado, a escassos 100 metros, esteja um cemitério municipal.


A população do novo bairro de Cabo Verde, construído sobretudo por pessoas recém-chegadas a Bissau vindas do interior ou de países vizinhos, é que não têm mesmo motivos para se divertirem com a quantidade de chuva que cai naquela zona sudeste de Bissau.

No centro de Bissau, os automobilistas disputam cada palmo de estrada que ainda não está coberto de poças de água. O cenário só é aproveitado por grupos de jovens para arrecadar moedas que pedem, quase exigem, a cada condutor que passe por uma estrada que foi alvo de um remendo com pedregulhos.

O responsável de previsão dos serviços da meteorologia disse que a população "há muito que é avisada" sobre os perigos de construção de casas em zonas húmidas e que as próprias autoridades já têm em mãos os avisos de que este ano vai cair muita chuva.

Cherno Mendes também afirmou que sem um ordenamento hidroagrícola do país e sem que a população deixe de atirar lixo doméstico nos canais de drenagem de águas das chuvas, a destruição não vai parar na Guiné-Bissau.


A ministra da Solidariedade tem um fundo de 100 milhões de francos CFA (6,5 milhões de euros), instituído pelo Governo para socorrer as vítimas do mau tempo, para já identificados em Bissau, Boé (leste) Cacine (sul) e toda a região de Cacheu (norte).

De momento, Conceição Évora tenta dar material de construção e víveres aos sinistrados, mas, dados os pedidos, tenciona lançar uma campanha de solidariedade para pedir apoios de empresários e pessoas singulares. (…)


Fonte: http://www.rispito.com/2020/09/chuvas-provocam-estragos-um-pouco-por.html, com a devida vénia.

 


Foto 4 > Bissau > (Set'2020), https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2020-09-08-chuvas-provocam-estragos-um-pouco-por-toda-a-guine-bissau-governo-pensa-lancar-campanha/

 

6.   – A PRECIPITAÇÃO PLUVIAL NA GUINÉ-BISSAU

    - ESTUDO CIENTÍFICO DE 2009/2010



Para concluir a estrutura deste trabalho de pesquisa, aproveito para dar conta, no Fórum, de um estudo académico publicado na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, titulado «Distribuição espacial de valores prováveis de precipitação pluvial para períodos quinzenais, em Guiné-Bissau», disponível na Biblioteca Electrónica Scielo, 

link: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-43662011000100010.

Em face dos resultados abaixo divulgados e das competentes explicações, que certamente não deixam margens para dúvidas, uma nova questão se coloca: "como foram organizadas as diferentes sessões dos trabalhos de cada um dos encontros (o 1.º de cinco dias e o 2.º de dois dias), perante a forte probabilidade de terem ocorrido várias intempéries climáticas (chuva e vento)?" É que naqueles dias, muito provavelmente, o "mau tempo" não deixou de passar pelo Boé… e a necessidade de corrigir esta parte da história… continua a ser um imperativo da própria HISTÓRIA.





Figura 1 – Distribuição da probabilidade diária e mensal de precipitação pluvial durante um ano na Guiné-Bissau, assinalando-se a vermelho os meses em que foram organizados os dois eventos identificados na introdução.


Figura 2 – Distribuição do resumo meteorológico durante um ano na Guiné-Bissau, assinalando-se a vermelho os meses em que foram organizados os dois eventos identificados na introdução.

(Continua… com análises de outras variáveis)

► Fontes consultadas:


Ø  (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05222.000.211. Título: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste (?). Assunto: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste: Aristides Pereira, Luís Cabral, José Araújo, Carmen Pereira, João Bernardo Vieira [Nino], Tiago Aleluia Lopes, Vasco Cabral e Silvino da Luz. Data: Quarta, 18 de Julho de 1973 – Domingo, 22 de Julho de 1973. Observações: Durante o II Congresso do PAIGC Aristides Pereira é eleito por unanimidade Secretário-Geral, sucedendo assim a Amílcar Cabral, assassinado em 20 de Maio de 1973 [erro; é Janeiro]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05222.000.050. Título: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste (?). Assunto: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste: Francisco Mendes [Chico Té], João Bernardo Vieira [Nino], Aristides Pereira, Luís Cabral, Pedro Pires e Vasco Cabral. Data: Quarta, 18 de Julho de 1973 – Domingo, 22 de Julho de 1973. Observações: Durante o II Congresso do PAIGC Aristides Pereira é eleito por unanimidade Secretário-Geral, sucedendo assim a Amílcar Cabral, assassinado em 20 de Maio de 1973 [erro; é Janeiro]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

(3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05247.000.137. Título: Lucette Cabral, Aristides Pereira, Víctor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau. Assunto: Lucette Cabral, Aristides Pereira, Víctor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau na região libertada de Madina de Boé (?). Data: Domingo, 23 de Setembro de 1973 - Segunda, 24 de Setembro de 1973. Observações: A I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, presidida por Luís Cabral, aprova a Constituição da República e elege o Conselho de Estado. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04613.065.144. Assunto: Operação do PAIGC no quartel de Madina do Boé. Expõe à direcção do partido as dificuldades encontradas no terreno que não permitem a continuação dos ataques naquela zona. Remetente. [Umaro] Djaló, Madina do Boé. Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC. Data: Sábado, 14 de Agosto de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

 

 

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

01ABR2021

Guiné 61/74 - P22105: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (28): sável frito com açorda de ovas, à moda da "chef" Alice, inspirando-se na gastronomia de Vila Franca de Xira

Foto nº 1 > Sável frito, crocante...


Foto nº 2 >  A açorda de ovas (de sável)...


Foto nº 3 > Lourinhã, Praia do Porto das Barcas... Ao fundo, a Praia do Porto Dinheiro...


Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 11 de abril de 2021 > Fechou a época do sável...Este (Foto nº 1)  ainda foi pescado em março... Mas só agora comido... A receita foi à moda da"chef" Alice Carneiro, inspirando-se na cozinha  de Vila Franca de Xira, onde o sável vai à mesa do rei... Já os "colonialistas" dos romanos gostavam do sável lusitano...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não vou discutir se o melhor sável é o do rio Minho, ou do rio Douro ou do rio Mondego ou do Rio Tejo...Estupidamente as barragens mataram o sável do Douro... Tal como a lampreia e outras espécies. Mas isso é outra história. Triste. As barragens, a poluição, a sobrepesca... A verdade é que a população de savel (nome científico, Alosa alosa) está a diminuir drasticamente em Portugal.

Também não vou discutir onde se come o melhor sável do mundo e qual a melhor receita... Este ano tive o privilégio de comer sável por três vezes, e sempre na melhor companhia de alguns amigos e camaradas, e salvaguardando sempre as regras de saúde e segurança em vigor na pandemia de Covid-19.

Com 2 kg de sável, fêmea, que custaram cerca de 15 euros, a"chef" Alice deu de comer a cinco tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar... Num sítio paradisíaco, secreto, longe das vistas dos mirones (e onde a ASAE não mete o bedelho...).

Desta vez a "chef" Alice não o fez à moda duriense, o sável frito com arroz, mas sim o sável frito com açorda de ovas... Porque o peixe que arranjou era fêmea e tinha ovas. (Fazer com ovas de pescada é batota.). E fez *a moda das gentes ribeirinhas do Tejo, dos vilafranquenses. 
Há aqui um vídeo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, com a receita do "chef" José Maria Lino. 

Os convivas adoraram, as postas fininhas do sável estavam bem fritas e crocantes. E a açorda, se lhe chorar por mais!... 

Para o ano haverá mais, se o sável vier desovar aos nossos rios...Espantoso, é um peixe que pode viver 8 anos, atingindo a maturidade sexual aos 4/6 anos...É nesta altura que inicia a migração para o rio onde nasceu!... E para morrer, em geral, após a desova. Há espécies altruistas...

Sabe-se que os "colonialistas" dos romanos adoravam o "sável" lusitano... E se calhar foram eles que nos passaram o gosto... Se sim, o "colonialismo" não tem  só coisas más... Mas a palavra "sável" não parece vir do latim. Se calhar até é bom que seja de etimologia duvidosa. (**)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22091: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (26): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte III: cozido à portuguesa, para despedida do inverno; frutos do mar, como saudação à primavera

(**) Vd. poste de 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14434: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): A sagração da primavera, em louvor do sável

A sagração da primavera

por Luís Graça

Come-se o sável da tradição
que transborda as margens dos rios da nossa memória,
na semana santa em que o pecado era a carne
ou a tentação da carne ou a falta dela.

Frita-se o sável no azeite dos pobres,
supremo luxo, na sexta feira santa
em que Cristo morreu por todos nós,
os inocentes, os pecadores
e todos os que nunca tomam partido
entre a veemência do mal e a urgência do bem.
E quem não tem sável, come savelha,
que de sáveis por São Marcos enchiam-se os barcos.

Vem o sável apanhado nas redes
das pesqueiras do Douro quando o sável e a lampreia
chegavam a Porto Antigo e daqui à tua aldeia,
e os barcos rabelos eram endiabrados brinquedos
que caíam no buraco negro dos cachões,
carregados do vinho fino
que não matava a fome á pobreza.

Boa era a truta, bom o salmão,
e melhor o sável quando sazão,
diziam o fidalgo e o abade
que eram mais carneiros do que peixeiros.
E quem tem bula, que coma carne.

Comia-se o sável um vez por ano,
na cozinha gourmet dos camponeses
de entre Douro e Minho.
Aleluia, aleluia, Cristo ressuscitou!,
traz a boa nova o compasso
que bate a todas as portas dos cristãos.

E estalam foguetes no ar,
e rebentam em flor as cerejeiras
(aqui chamam-se cerdeiras),
e as videiras dão gamões,
e o verde é mais verde
sob o azul do céu das serras
que estrangulam os vales e os lameiros
e o rio Douro quando era selvagem e livre.

É a primavera que chega,
e há de ser o solstício do verão,
regulando a vida circadiana dos adoradores do sol
e dos comedores de sável.

É vida que triunfa sobre a morte.
é a Páscoa aqui no Norte,
é a festa da brava gente
que sempre teve engenho e arte,
quer na paz quer na guerra.

Pois que seja boa e santa e feliz a Páscoa,
para todos,
em toda a terra,
por toda a parte.

Tabanca de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses,
4 de abril de 2015
v2

Guiné 61/74 - P22104: Parabéns a você (1951): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22093: Parabéns a você (1950): Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 e da CART 2732 (Mansoa, Mansabá e Teixeira Pinto no CAOP 1, 1970/72)

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22103: Consultório militar do José Martins (61): Implementação do Estatuto do Antigo Combatente - Últimos desenvolvimentos


O nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 13 de Abril de 2021, mandou-nos os últimos desenvolvimento sobre a implementação do Estatuto do Antigo Combatente.


Últimos desenvolvimentos

Permito-me fazer notar que, pelo que podemos observar, que houve um “avanço” na implementação do Estatuto do Antigo Combatente, com a regulamentação da Lei 46/2020 de 20 de Agosto que, entrou de facto, mas não se jure, em vigor a 1 de Setembro de 2020.

Sem que houvesse a regulamentação de alguns dos artigos, de forma a do citado Estatuto, nomeadamente nos que envolvem outros ministérios e/ou entidades, além do da Defesa Nacional.

Só com a nomeação da Unidade técnica para os antigos combatentes, penso que foi possível iniciar o desbloqueio e a entrada em vigor do Estatuto. Essa Unidade Técnica foi criada pelo Despacho n.º 11935/2020, publicado no Diário da República n.º 237/2020, Série II de 2020-12-07, que envolveu sete ministérios.

Vejamos o que já está em execução:

1 - Cartão do Antigo Combatente ou Cartão de Viúva (o)
Após a aprovação, Pelo Tribunal de Contas, do contrato apresentado pelo MDN com a Casa da Moeda, para execução e emissão dos cartões, previsto no Artº 4º do Estatuto, creio que não será de execução imediata, pelo menos com a celeridade que todos gostaríamos.

2 - Insígnia de Antigo Combatente
Prevista no Art.º 5.º, para ser obtida, deve ser elaborado o formulário que se encontra no link seguinte:
https://www.defesa.gov.pt/pt/adefesaeeu/ac/direitos/iac/Documents/Antigos-Combatentes_Pedido-Insignia_Formulario.pdf e enviado para:
SGMDN/ DSCRP
Av. Ilha da Madeira n.º 1 - 3.º Piso
1400-204 Lisboa

O formulário pode ser enviado automaticamente, atravez do link:
https://www.defesa.gov.pt/pt/adefesaeeu/ac/direitos/iac

3 - Isenção de Taxas Moderadoras
Em 6 de Abril último, foi assinado o protocolo entre e MDN e o Ministério da Saúde. Já obtive a confirmação de que esse benefício já se encontra em vigor, uma vez que o SPMS – Serviço Partilhado do Ministério da Saúde, já fez a anotação nas fichas pessoais dos utentes. Como é válido para todos o SNS, presumo que a utilização dos actos nesse sistema, já estejam validados.

4 - Gratuitidade da entrada nos museus e monumentos nacionais
Em 7 de Abril corrente, foi assinado o protocolo entre o NDN e a Secretaria de Estado do Património Nacional, para o acesso gratuito aos museus e monumentos nacionais, isto é, aos museus que dependem do Estado, excluindo museus particulares mas abertos ao público. Para ter acesso basta apresentar o Cartão de Cidadão ou Bilhete de Identidade. É possível que haja, nestes serviços, uma base de dados dos titulares desse benefício.

5 - Honras fúnebres
Também em 7 do corrente mês foi assinado entre o MDN e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses transferindo, para os municípios, a entrega da Bandeira Nacional para as honras fúnebres a prestar aos antigos combatentes.
No momento não disponho de mais informações, pois aguardo informação de como proceder junto das edilidades e em que serviço, a entrega da Bandeira às famílias.
No caso de ser necessário, contactar com as entidades indicadas na parte final do poste Guiné 61/74 - P21915: Consultório militar do José Martins (60): Honras Fúnebres a que os Antigos Combatentes têm já direito, conforme o Art.º 19.º do Estatuto do Antigo Combatente

José Marcelino Martins
Odivelas, 13 de Abril de 2021
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Nota do editor

Último poste da série de18 DE FEVEREIRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P21915: Consultório militar do José Martins (60): Honras Fúnebres a que os Antigos Combatentes têm já direito, conforme o Art.º 19.º do Estatuto do Antigo Combatente

Guiné 61/74 - P22102: Historiografia da presença portuguesa em África (258): Diogo Gomes, um navegador e diplomata do século XV, na publicação "Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais", edição do Ministério das Colónias, Junta de Investigações Coloniais, 1950 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Quando qualquer um de nós chegava à cidade de Bissau era confrontado com umas estátuas de figuras seguramente muito importantes, mas que inteiramente desconhecíamos, ou quase. Nem Diogo Gomes ou Honório Pereira Barreto nos provocavam assombro. Chegada a independência, num ato de repúdio da presença colonial, removeram esta estatuária, por vezes aos pedaços, para o interior da fortaleza de Cacheu. Bem devem estar arrependidos, goste-se ou não fazem parte da identidade guineense, de algum modo simbolizam a navegação portuguesa até àquelas paragens, seguramente que hoje os guineenses já sabem que Honório Pereira Barreto foi o seu pai-fundador, não tivesse ele andado a comprar por conta própria e em nome da Coroa o que comprou e só por um bambúrrio da sorte é que na Convenção Luso-Francesa de maio de 1986 é que a superfície da Guiné ficou como está. Demorei muito tempo a aperceber-me da importância de Diogo Gomes e acho que ninguém perde em saber que ele tentou o expediente diplomático criar boas relações comerciais com o Mandé, o Império Mandinga, numa época tumultuosa de desmembramento de impérios.

Um abraço do
Mário


Diogo Gomes, um navegador e diplomata do século XV

Mário Beja Santos

O então Comandante Teixeira da Mota, no contexto da Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, edição do Ministério das Colónias, Junta de Investigações Coloniais, 1950, publicou a sua comunicação sobre Diogo Gomes, primeiro grande explorador da Gâmbia, 1456.

Observa o historiador que esta viagem de Diogo Gomes é apenas conhecida através do relato que o navegador, muitos anos mais tarde, fez a Martinho da Boémia, e que Valentim Fernandes registou na sua compilação de notícias acerca da África Ocidental.

Começaram a explorar o Canal do Geba, até perto da confluência Geba-Corubal e observaram os efeitos do macaréu. Regressaram até ao Atlântico e encetaram a exploração do Gâmbia, viajaram até Cantor. Estabeleceram relações pacíficas com o chefe local, o Niomimansa, além de outras relações comerciais. O objetivo de Diogo Gomes era procurar o Preste João e também procurar o Mandimansa com o objetivo político e económico de estabelecer comércio aurífero do Sudão, foram expetativas mal-sucedidas. Estabeleceram-se relações amistosas com os Mandingas do Baixo e Médio Gâmbia e do Baixo Geba – foi este o primeiro contato pacífico com súbditos do imperador do Mali, cuja fama lendária corria então na Europa. Em Cantor havia um grande mercado aurífero, esta rota continuou a ser seguida pelos tempos fora. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII os portugueses não deixaram de lá ir à procura sobretudo de ouro.

Outro investigador, Carlos Manuel Valentim, publicou um seu trabalho intitulado Os Primeiros Contactos Diplomáticos entre a Europa e a África Subsariana, a viagem de Diogo Gomes em 1456 nos Anais do Clube Militar Naval, abril-junho 2007. Tem uma muito bem urdida introdução onde se contextualiza algumas das razões para a expansão portuguesa. Refere em concreto o esgotamento do modelo económico comercial europeu, as pestes e as guerras, sobretudo a Guerra dos Cem Anos, tudo vai convergir para que se estabeleça na Europa no final do século XIV o reconhecimento da importância do comércio marítimo e o afã em procurar novos mercados, havia uma grande procura de metais preciosos, assim nasce o projeto henriquino. Havia o mito do Preste João, detentor de um poderoso reino, com sede para oriente do rio Nilo, iria desde a Índia até ao Atlântico africano, era um soberano lendário que governaria um povo de cristãos, havia pois que o encontrar e estabelecer contactos.

As navegações portuguesas alcançaram a chamada África Negra em 1444, ultrapassara-se a Mauritânia. Nestas primeiras viagens para Sul da Costa Ocidental Atlântica, quando se avistou o rio Senegal, pôs-se logo a hipótese de estar em presença do rio Nilo, havia a ilusão de que se tinha achado um braço daquele grande rio. Graças às viagens, ia-se apurando as caraterísticas políticas e sociais da região. Transmitia-se pela documentação que nesta área vigorava uma federação de Estados liderada por um senhor poderoso, o Grão Jalofo. A chegada dos europeus vai ser contemporânea do desmoronamento da construção política desta área compreendida entre o vale do Senegal e o vale do Gâmbia, bem como o Futa-Toro. Os navegadores falam genericamente da Senegâmbia e transmitem a importância dos eixos comerciais aqui existentes. A etnia predominante é a Mandinga, é o reino Mandé, compreendendo os vales do Senegal e do Gâmbia, autónomo do Mandimansa.

Uma das primeiras descrições que temos desta grande via hidrográfica é-nos dada por Diogo Gomes, um homem da Casa Senhorial do Infante D. Henrique. É ele que estabelece uma aliança em nome do Infante D. Henrique com o rei do Niomi, estabelecerá acordos pacíficos com um conjunto de régulos e submeterá no Cabo Verde continental o Bezeguiche, inimigo tradicional dos portugueses. Diogo Gomes desempenhou um papel muito ativo na recolha de informações e no reconhecimento hidrográfico e etnográfico de toda a área a sul de Cabo Verde.

Na segunda viagem à região surge a primeira menção direta ao uso do quadrante: “Eu tinha um quadrante quando fui a essas paragens e escrevi na tábua do quadrante a altura do polo ártico, achando melhor do que uma carta. É verdade que numa carta se vê a rota de navegar, mas se alguma vez se introduz um erro, nunca se volta ao ponto primitivo”. Importa esclarecer que com este instrumento de medição Gomes obtinha as “alturas” da Polar, comparando os seus valores com base no local de referência (Lisboa, Lagos ou Madeira, por exemplo).

Continua em discussão se este relato foi transmitido por Diogo Gomes oralmente a Martinho da Boémia ou se foi escrito pelo seu próprio punho. Das viagens que efetuou, sabe-se que com Gil Eanes e Lançarote de Freitas participou na expedição militar de 1445 à ilha de Tider, não longe de Arguim. Dá pormenores valiosos da subida do rio Gâmbia até Cantor em busca de informações sobre o comércio do ouro e das vias que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas sarianas que desembocavam no litoral marroquino.

Os portugueses descobriram que não tinham condições para capturar escravos, era-lhes mais proveitoso obter acordos com os senhores locais para conseguir a mão-de-obra desejada. Foi graças a esses acordos que o resgate se manterá florescente. No litoral, os portugueses trocavam cavalos por escravos e subiam o rio Gâmbia até às feiras de Cantor para desenvolver um ativo comércio de ouro. No seu relato, Diogo Gomes que capitaneava uma esquadra de três navios lembra a sua ligação ao senhor Infante e as instruções que dele recebeu para ir mais além do que pudesse. Possivelmente, no regresso desta exploração, tocou o arquipélago de Cabo verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano Antonio de Noli. Falecido o infante, Diogo Gomes reforça a sua ligação à corte e será nomeado almoxarife de Sintra.

Teixeira da Mota e Carlos Valentim convergem quanto à importância de Diogo Gomes, um dos mais inteligentes e ativos obreiros do Infante D. Henrique e um dos maiores navegadores e exploradores da sua época.
O que resta da estátua de Diogo Gomes, na Fortaleza de Cacheu
Carta náutica de Fernão Vaz Dourado incluída num atlas desenhado em 1571, Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Américo Vespúcio numa gravura contemporânea
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MARÇO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22031: Historiografia da presença portuguesa em África (257): A "Expansão portuguesa na Guiné", por Maria Archer; em "O Mundo Português", revista de atualidades do Império, edição da Agência Geral das Colónias, abril de 1946 (Mário Beja Santos)